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PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL II Desenvolver a capacidade de construir o conhecimento é fundamental para qualquer profissional de nível superior, no mundo de hoje. Isto pressupõe um conjunto de habilidades que são trabalhadas nas disciplinas de Pesquisa em Serviço Social. Começamos no período anterior, e agora damos continuidade. As atividades de pesquisa já não funcionam apenas como atividade acessória ao bom desempenho das atividades de quem se forma em Serviço Social, pelo contrário, a intensa dinâmica da realidade social em que vivemos faz com que a pesquisa se mantenha como preocupação permanente, a fim de garantir a capacidade de um melhor aperfeiçoamento na formação do estudante. São objetivos dessa disciplina: 1. Continuar a construção do Projeto de Pesquisa, com vistas à futura elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso; 2. Trabalhar o processo de reflexão e produção textual das várias partes de que se compõe o Projeto, em todas as suas etapas; 3. Operacionalizar a aplicação de métodos de pesquisa de campo. AULA 1 - INTRODUÇÃO O Planejamento em nossa vidas Sempre que o ser humano se defronta com atividades que não façam parte de sua rotina diária, ou seja, que não estejam muito automatizadas, corre o risco de se defrontar com o questionamento básico: “E agora, como fazer?” Para encarar tais desafios da nossa vida, é muito útil planejar cada passo de nossas atividades. Assim, por exemplo, se um motorista pegar seu carro para ir ao trabalho, perfazendo todos os dias o mesmo trajeto, pode abrir mão do uso de um mapa. O caminho a ser seguido fará parte de sua bagagem de atividades memorizadas. Porém, se estiver em visita a um país estrangeiro, o simples ato de trafegar pelas ruas será algo que estará fora do universo de suas tarefas automatizadas. Neste caso, precisará de um mapa ou, no mínimo, de um roteiro para não se perder. Usamos esse exemplo para deixar claro que o planejamento, a elaboração de um roteiro, de um mapa, de um projeto vem a ser algo de muita importância para a condução de uma pesquisa científica. Em primeiro lugar porque você estará se iniciando nesse tipo de atividade e portanto ela não faz parte de sua rotina diária. E, em segundo, porque a condução de uma pesquisa é algo complexo o suficiente para justificar que tudo comece pela elaboração de um amplo planejamento. Somente cumprindo essa etapa prévia teremos segurança de que as diferentes tarefas que vierem estão bem coordenadas, seguindo uma sistemática adequada. PROJETO DE PESQUISA Pois bem, o projeto de pesquisa tem o propósito de sistematizar o curso da pesquisa, servir ao pesquisador como um roteiro de atividades a ser usado ao longo de toda a elaboração do trabalho. No caso dos estudantes de graduação, tal processo culminará com a redação, apresentação e defesa de um trabalho monográfico, uma etapa que a maioria dos estudantes cumpre em seu último período de curso. O objetivo principal desta aula é destacar a importância de um bom planejamento, a fim de que o trabalho de pesquisa chegue a resultados satisfatórios. O propósito inicial desta aula é destacar a importância do ato de planejar. Em seguida, começaremos a rever alguns itens que devem fazer parte de todo projeto de pesquisa bem elaborado. Um conteúdo já apresentado no período passado, mas que é importante rever para, em seguida, aprofundá-lo melhor. Não temos a pretensão de possuir nenhuma receita infalível, ou seja, propor um modelo infalível que, com certeza, levará você ao cumprimento satisfatório das metas da pesquisa. O projeto é só uma parte do trabalho. Um bom pesquisador se dedica com atenção e perseverança ao cumprimento, não somente desta, mas de todas as etapas necessárias para que a pesquisa seja concluída. Assim, o ato de planejar se aplica a outros aspectos da nossa vida, e para a condução de uma pesquisa é indispensável. Experimente, a partir de agora, colocar por escrito todos os grandes desafios da vida e verá que será possível dialogar com eles com mais facilidade, ou seja, buscar soluções. No começo, podemos fazer uma simples anotação de uma linha. Com o tempo, ela vai crescer e ganhar corpo. Transforma-se em um plano a ser posto em prática, com vistas a realizar a tarefa. É bem verdade que o projeto não deve servir como um roteiro obrigatório. Muito pelo contrário, é frequente que venha a ser superado, a sofrer alterações, tão logo a pesquisa comece a ganhar corpo. Contudo, mesmo que, mais tarde, no decorrer do processo de elaboração do trabalho, o planejamento inicial se revele insatisfatório, incompleto, assim mesmo terá cumprido seu papel fundamental de nortear nossos primeiros passos. Sim, nortear os primeiros passos. Eis a ideia-chave. Experimente, por exemplo, colocar para funcionar um aparelho eletrônico novo sem jamais abrir o manual de instruções. O resultado será bem mais custoso do que se você o fizer depois de ter manejado o texto que acompanha o produto. Assim ocorre com quem tenta ensaiar seus primeiros passos numa pesquisa sem o suporte de um bom plano. A grande diferença é que você mesmo, caro estudante, será o autor do seu manual de instruções. Mas tal aspecto não tira nem um pouco a importância desse instrumento. Ele é muito valioso, como teremos oportunidade de verificar ao longo do curso. O projeto de pesquisa funciona como um plano piloto para a realização do trabalho. A seguir, vamos nos ocupar de alguns aspectos fundamentais na elaboração de um projeto consistente, deixando outros para a próxima aula. Antes, porém, trataremos brevemente das principais modalidades de trabalhos acadêmicos e apresentaremos um panorama geral da estrutura de um projeto de pesquisa. MODALIDADES DE TRABALHO ACADÊMICO São várias as etapas da nossa vida acadêmica e a cada uma delas corresponde uma modalidade de trabalho. Na graduação ou na especialização, elaboramos trabalhos monográficos. No mestrado, o texto a ser elaborado a partir da pesquisa realizada tem o nome técnico de “dissertação”, ao passo que somente na etapa do doutoramento é que se aplica o termo “tese” ao trabalho final. Vale dizer que se pode pensar na elaboração de projetos de pesquisa relativos ao processo de construção de trabalhos de qualquer um desses tipos. Obviamente, haverá diferenças, a depender da finalidade a que se destina o projeto e a necessidade de planejar o caminho a ser trilhado existe sempre. Duas etapas iniciais, que podem ajudar muito, consistem em reservar um espaço em sua casa para o trabalho de produção intelectual, seja um quarto convertido em escritório, um canto do quarto de dormir ou mesmo da sala. Mas é primordial que seja um local onde você se encontre em comodidade e tenha paz para refletir, ler e escrever. Outra etapa é dedicar uma parcela do seu tempo exclusivamente a seu projeto. A quantidade de tempo pode não ser determinante, mas sim o aproveitamento que fazemos desse tempo. Agora, podemos tratar propriamente dos diferentes tipos de trabalho que o pesquisador produz, ao longo de sua vida acadêmica, desde o tempo em que ainda é estudante de graduação. Alguns deles podem vir a ser exigidos em todas as etapas de nossa trajetória. Esse é o caso das resenhas críticas, que são textos nos quais o estudante deve resumir e comentar uma obra estudada em alguma disciplina do curso. MODALIDADES DE TRABALHO ACADÊMICO Assim, ao fazer uma resenha, o estudante revela um grau de maturidade proporcional ao nível de maturidade alcançada por ele no período em que se encontra. Presume-se que um aluno que esteja por concluir seu curso de graduação está muito mais apto para elaborar boas resenhas do que um calouro. Mas vale ressaltar que na resenha o estudante apresenta comentários breves,o suficiente para demonstrar capacidade de aprofundamento na leitura do texto analisado. Antes de prosseguir, é preciso deixar bem claro que o conceito de “crítica” com que se trabalha aqui não tem relação direta com a necessidade de apresentar uma avaliação negativa sobre o tema estudado. Por este termo entendemos a capacidade de submeter o tema a uma apreciação racional, a um exame analítico, uma reflexão. Portanto, sua crítica sobre o tema pode chegar a resultados variados, inclusive a observações elogiosas sobre o texto alvo da análise. Outra modalidade são os artigos científicos, que não tem como objetivo avaliar uma obra, como as resenhas, mas expor um ponto de vista sobre um tema específico. Este também é um tipo de trabalho que o estudante de graduação pode vir a ser chamado a realizar. O artigo se caracteriza por suas dimensões modestas, não precisando ter mais do que algumas laudas, cinco por exemplo. Por este motivo, deve ter em questão um tema bem específico, dissertar acerca de um único assunto. Essa modalidade também é conhecida no meio científico como paper, vocábulo tomado de empréstimo do inglês. Chamamos o artigo de científico por razões de ordem metodológica. O texto deve ser elaborado segundo as regras gerais observadas para a elaboração de qualquer trabalho científico, ou seja, deve seguir uma sistemática, resultar de um planejamento. O mais importante é que o pesquisador tenha capacidade de análise e reflexão crítica, demonstre que é capaz de submeter o tema escolhido a um exame racional. Contudo, nosso TCC não será um artigo. Será um texto que vai se oferecer como um espaço de reflexão mais extenso, no qual o estudante poderá demonstrar com mais liberdade a sua capacidade de análise. O termo monografia é aplicado ao nosso caso, e o motivo para isso pode ser encontrado no estudo da própria origem da palavra: “grafia” é texto escrito e “mono” significa, literalmente, “único”. Ao final do curso, o aluno de graduação cumprirá duas exigências básicas: escolherá um único tema, e sobre este escreverá um texto em que os resultados de suas pesquisas sejam sintetizados de forma ampla e coerente. Mostrará, assim, que é capaz de pensar criticamente sobre o tema escolhido, apresentando um trabalho que não seja tão breve quanto um artigo, mas que não precisa ter a envergadura de uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado. Cada uma dessas modalidades requer um determinado nível de reflexão, certa dose de penetração crítica, de aprofundamento teórico. http://estacio.webaula.com.br/cursos/gon232/pdf/a01_t09.pdf Nesse tipo de trabalho, as apreciações de teor crítico já começam a revelar a capacidade do estudante perceber e avaliar a importância e o valor de uma obra, seguindo critérios que se baseiam no conteúdo estudado por ele ao longo do curso. Daí ser uma modalidade de trabalho adequada para ser proposta como tarefa em nível de graduação. Mas pós-graduandos também podem lidar com a elaboração de resenhas, a qualquer momento. EM PRIMEIRO LUGAR, É PRECISO LEVAR EM CONTA A FINALIDADE DE NOSSA PESQUISA. Temos em vista a elaboração de uma pesquisa que resultará na elaboração de uma monografia, a ser apresentada como trabalho de conclusão de curso de graduação. Esse ponto de partida é da maior importância para se pensar o alcance do nosso projeto. O estudante de graduação precisa demonstrar conhecimento sobre o tema escolhido, capacidade de manejar bem as informações e o instrumental teórico, mas não está submetido ao nível de exigência que se impõe ao mestrando ou doutorando no que diz respeito ao aprofundamento teórico. BASICAMENTE, TODO PROJETO DE PESQUISA SE COMPÕE DE Elementos pré-textuais, que antecedem o texto; Elementos textuais, o corpo de texto do projeto, em si, dos quais destacaremos alguns dos principais elementos para comentar agora, deixando outros para mais tarde; Elementos pós-textuais, que são anexos de diferentes tipos, como fotos, gráficos e outros documentos, nenhum deles de caráter obrigatório. No momento, nosso foco central de atenção são os elementos PROPRIAMENTE TEXTUAIS. Vamos a eles, então: - Título do projeto de pesquisa - Identificação - Apresentação e Justificativa - Objetivos - Problema, ou questão norteadora - Sumário - Proposição de hipóteses - Metodologia - Levantamento bibliográfico - Resultados esperados - Cronograma Resultados esperados e cronograma dizem respeito a projetos que obtém financiamento de alguma agência do governo ou entidade de fomento à pesquisa. Não precisamos nos deter neles por ora. Quanto aos demais, serão objeto de nossa atenção na presente aula e também na próxima. Mãos à obra! TÍTULO DO PROJETO A rigor, o título cumpre duas finalidades: conter alguma informação acerca do que é o trabalho e despertar o interesse dos futuros leitores. Vale destacar que o título não pode ser confundido com o tema do trabalho, mas precisa trazer nítidos esclarecimentos a respeito. Além de ser informativo, ele deve cumprir a contento a segunda finalidade, convidar os possíveis interessados a ler o conteúdo do texto. TÍTULO DO PROJETO Um exemplo tornará tudo mais claro. Se o seu projeto, por exemplo, traz como tema o levantamento e análise de tipos peculiares de organização familiar encontradas na população que vive nas ruas, você tem nisso um tema, mas será difícil fazer funcionar toda esta frase como título. Títulos excessivamente grandes devem ser evitados, ainda que isso não seja regra obrigatória. Agora, você já imaginou se o trabalho se intitulasse: “Família e fragilidade à margem dos viadutos”, ou algo assim. Um título como este despertaria nos possíveis leitores uma curiosidade acerca do teor do texto. Mas um cuidado deveria ser observado: não deixar o texto em termos muito vagos. Para o caso do título que propusemos ainda há pouco, sugerimos que seria bastante interessante acrescentar um subtítulo, sem que este também dissesse tudo a respeito do tema. O resultado poderia ser: Família e fragilidade à margem dos viadutos. Uma análise das formas de organização familiar das populações de rua. Analisando o caso do acima, podemos verificar que a função do título é sugestiva, despertando curiosidade nos leitores, cabendo ao subtítulo portar o mínimo de esclarecimento necessário para que o todo funcione bem. Contudo, mesmo trazendo mais esclarecimentos, o subtítulo não “entrega tudo de bandeja”. Veja que a palavra “levantamento” foi evitada, mesmo no subtítulo. Isso se explica pelo fato de que existe uma tendência, mesmo nos círculos acadêmicos, de se encarar levantamentos como exercícios de paciência acima de qualquer limite. Isso porque os levantamentos se caracterizam por buscar a minúcia, o detalhe. Por uma questão de estratégia, já que ninguém gosta que seu trabalho seja reputado como enfadonho antes mesmo de ser lido, buscamos um subtítulo que se expressa de outra forma. Além disso, como estamos tratando da elaboração de um projeto que motivará uma pesquisa em nível de graduação, não é adequado demonstrar a presunção de ser capaz de fazer um levantamento propriamente dito. Isso será alvo de pesquisas situadas em outros níveis. IDENTIFICAÇÃO Mais do que mera formalidade, esta etapa é indispensável. O que está em jogo é a criação de um desses hábitos que, de tão rotineiros, nem percebemos o quanto são importantes. O estudante que se inicia nas aventuras da pesquisa deve se habituar a autenticar cada passo da trajetória com sua assinatura. Nesta parte do projeto, devem ser destacadas algumas informações básicas, tais como o nome do aluno/pesquisador, sua matrícula, o localonde será desenvolvido o trabalho, o tipo de público que poderia vir a se interessar pela pesquisa. APRESENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA Nesta parte do trabalho, começa propriamente a parte discursiva, que deve se caracterizar pelo domínio de técnicas de dissertação expositiva, ou seja, deve colocar com clareza e concisão as informações iniciais, das quais derivam tudo no projeto. Não há necessidade, nesta etapa, de se propor e defender argumentos. Estes serão apresentados, mais tarde, sob a forma de hipóteses. Muitos estudantes se deparam com a questão básica de “como começar” e nisso perdem um tempo precioso. Temos, a esse respeito, várias histórias, que poderiam ser ilustrativas do quanto o problema é frequente. http://estacio.webaula.com.br/cursos/gon232/pdf/a01_t13_2.pdf A FORMULAÇÃO DOS OBJETIVOS qui, o que temos a fazer é colocar no papel em que ponto nos propusemos chegar com a realização da pesquisa. Essa etapa do trabalho possui ritos bem específicos, ligados à técnica de apresentação de cada objetivo por meio de uma frase clara e concisa, que se inicia por um verbo no infinitivo. Isso se justifica por se tratar de um procedimento de bons resultados quando se trata de buscar uma fórmula de expressar um pensamento. Portanto, já se coloca aqui outra questão: quando você expuser cada um de seus objetivos numa frase realmente curta e direta, tome cuidado para não se perder em detalhes. Estes poderão muito bem vir expressos em outras etapas do seu trabalho, como a apresentação e a justificativa, por exemplo. http://estacio.webaula.com.br/cursos/gon232/pdf/a01_t13_3.pdf Nesta aula, você: Teve a oportunidade de verificar a importância do um bom planejamento para o êxito na execução de qualquer tarefa na vida acadêmica; recordou alguns dos principais tópicos estudados em Pesquisa em Serviço Social I, referentes aos procedimentos que se devem seguir para a elaboração de um projeto de pesquisa. AULA 2 - A ESCOLHA DA DELIMITAÇÃO DO TEMA A finalidade desta disciplina é proporcionar a vocês, caros alunos, os instrumentos necessários para realizar pesquisas, oferecer diretrizes básicas de como se realiza um trabalho deste tipo, que métodos usamos para que nossa pesquisa tenha qualidade. Bem, questões metodológicas ocuparão boa parte de nosso trabalho, ao longo do curso. Porém, como caçadores de aventuras nas florestas do saber, antes de aprendermos como realizar nossas caçadas, devemos ter em mente o que pretendemos com a caçada. Ou seja, antes de estudar os métodos a serem usados na pesquisa, cumpre destinar um tempo para debater a escolha do tema. CADA UM DE VOCÊS FARÁ UMA ESCOLHA A PARTIR DESTA AULA. Depois de tomada esta decisão, o trabalho que virá a seguir será o de construção do Projeto de Pesquisa, e este será feito a partir desta escolha inicial. Chegou o momento de cada um parar tudo e se questionar: sobre que tema será a pesquisa a ser realizada? O caminho é pensar com calma, mas sem deixar para depois. Não tome uma decisão precipitada, nem use o recurso de protelar a escolha, deixá-la para a semana que vem. O objetivo central desta aula é apresentar e propor uma reflexão sobre os aspectos que você precisa levar em conta a fim de fazer uma boa escolha de tema para o Projeto de Pesquisa. Mesmo que você já tenha em mente sobre o que pretende desenvolver em seu trabalho, aguarde o fim da aula, leia atentamente todo o nosso conteúdo, antes de fechar uma posição a respeito. O Serviço Social é um campo de atuação profissional essencialmente prático. Disso, todos nós sabemos. A produção científica nesta área pode ser considerada como tendo uma vocação “natural” para a pesquisa prática, ou seja, para a produção de uma reflexão que tenha utilidade em alguma prática da lide dos profissionais da área. Ou, para a produção de pesquisas que proponham soluções para os graves problemas sociais que o país enfrenta na atualidade. http://www.portalsaofrancisco.com.br/calendario-comemorativo/dia-do-assistente-social Este é um dado que já ajuda a demarcar o terreno dentro do qual será feita a escolha do tema. Contudo, é preciso estar atento ao fato de que este caráter eminentemente prático não afasta a importância da reflexão teórica. Por este motivo, na presente aula, antes de entrarmos no mérito da questão principal, que é a escolha e delimitação do tema da pesquisa, por parte de cada aluno, consideramos importante abordar os conceitos de “teoria” e “prática”, com o objetivo de verificar o quanto são complementares e se enriquecem mutuamente. CONTEMPLAR E AGIR Vamos supor que, com o intuito de buscar esclarecimento acerca do conceito de “teoria”, o estudante fosse consultar um dicionário conceituado, o que leva a assinatura de Aurélio Buarque de Holanda. Vale lembrar que quase todas as palavras possuem mais de um significado, e os dicionários, em geral, se valem do recurso de apresentar um elenco de respostas, raramente uma só. Normalmente, tal sequência vem numerada, como acontece no “Aurélio”. Bem, ao buscar o verbete correspondente à palavra em questão, viriam como resposta os seguintes significados: 1 – Conhecimento especulativo meramente racional; 2 – Conjunto de princípios fundamentais duma arte ou ciência; 3– Doutrina ou sistema fundado nesses princípios; 4– Opiniões sistematizadas; 5– Noções gerais, generalidades; 6– Suposição, hipótese; 7– Utopia, quimera. Para nós, será suficiente nos valermos dos dois primeiros conceitos, apenas. Lendo e interpretando o que nos diz o dicionário, vamos construindo o conceito moderno de “teoria” e também vamos colocar em debate a maneira como este conceito se relaciona com o de “prática”. Quando a palavra “teoria” nasceu, na Antiga Grécia, ela ainda era bem o que sugere o nosso Aurélio, no primeiro conceito apresentado. Pedindo ajuda à etimologia, ciência que estuda a origem das palavras, podemos afirmar que, ao contrário do que possa parecer, o vocábulo não tem relação alguma com “Theo” (que é “Deus” em grego). Em vez disso, vem de “Thea” (algo a ser visto). Portanto, na origem da palavra, já se tinha claramente expresso o sentido de contemplação. A compreensão deste fato somente se esclarece quando consideramos que na Antiga Grécia, todo o trabalho pesado era feito pelos escravos, o que dava aos cidadãos, ou seja, aos senhores, a chance de se dedicar a práticas que não demandassem esforço dos músculos, desde a mera contemplação da natureza até a filosofia e a arte. Esta separação entre atividade braçal e intelectual foi deixada como incômoda herança pelos gregos e permeia a civilização ocidental até hoje. Está por trás de muitos preconceitos que causam tanto embaraço nos dias que vivemos. Algo que se manifesta de maneiras variadas e parece arraigado na mentalidade de grande parte da população. Por conta disso, ao ver um homem sem camisa e sujo de graxa entrar num ônibus, podemos perceber como as pessoas se encolhem em seus lugares, temerosas. Em contrapartida, não são raras as situações de bullyng sofridas por alunos que tiram notas altas nas escolas, qualificados como nerds. Pois bem, outra consequência, para nós, desta antiga separação, se faz presente quando pensamos a relação entre “teoria” e “prática”. Para muitos, não existe muita relação entre elas, sendo possível fazer ciência apenas com uma. Esta confusão está na base de outra separação, a que se estabelece entre ciência “pura” e “aplicada”. Não é por outro motivo que fizemos questão de esclarecer bem este ponto. No campo do Serviço Social, pode acontecer de muitos partirem do princípio que o importante é agir, ou seja, aplicar seus conhecimentos para mudar a realidade. De tal modo que não haveria necessidadealguma de “contemplar”, ou seja, preocupar-se com questões teóricas. No entanto, é possível e preciso pensar a “teoria” de outro modo, para aproveitar toda a contribuição que ela pode nos trazer no enriquecimento de nossa produção como cientistas sociais. A realidade não precisa de explicação para existir, mas a realidade “conhecida”, ou seja, a que é vivenciada pelo ser humano, acaba por ser interpretada, de um modo ou de outro. O papel da teoria é proporcionar aos homens instrumentos para seus exercícios de interpretação do real. Devido à própria complexidade dos fatos sociais é que se verifica a existência de diferentes correntes teóricas. O pesquisador deve conhecer a todas, por mais que se defina pela escolha de uma, preferencialmente. Como diz Pedro Demo, no interessante ensaio Pesquisa: princípio científico e educativo (São Paulo: Cortez, 2001), a teoria é a “retaguarda criativa do intérprete inspirado”, ou seja, é o conjunto de conhecimentos e explicações a que o cientista recorre para respaldar seus exercícios de interpretação e compreensão da realidade. Com isso, veja-se o quão distante estamos do velho conceito de teoria como atividade meramente contemplativa. A este respeito, é interessante levar em conta o que diz o mesmo Pedro Demo na p. 27 de seu texto: Teoria e prática detêm a mesma relevância científica e constituem no fundo um todo só. Uma não substitui a outra e cada qual tem sua lógica própria. Nos extremos, os vícios do teoricismo e do ativismo causam os mesmos males. Não se pode realizar prática criativa sem um retorno constante à teoria, bem como não se pode fecundar a teoria sem confronto com a prática. Neste sentido, não cabe mais a velha separação entre a teoria e a prática. No processo de construção de uma pesquisa em qualquer ciência, particularmente em ciências sociais, a teoria e a prática se alimentam constantemente. Sim, porque toda pesquisa é construção. Se usarmos a metáfora da construção de uma casa, a teoria seria o saber acumulado por engenheiros e mestres de obra. Sem este conhecimento, os elementos da vida prática, tijolos e cimento, seriam de pouca utilidade, e a construção não teria como ser feita. As teorias existem para ajudar, jamais para confundir. Elas se revelam instrumentos poderosos para uma compreensão mais clara do mundo ao redor, das contradições e desafios enfrentados pelos homens em seus processos de interação social. FUTUROS PROFISSIONAIS Somente assim teremos uma reflexão madura sobre o lugar dos futuros profissionais da área do Serviço Social no mundo em que vivemos. Somente modulando formação teórica com visão prática estaremos a salvo de ver a profissão como nada além de um conjunto de práticas assistencialistas, concebidas de modo acrítico e amadorístico. Ultrapassamos, assim, as limitações do primeiro significado registrado no dicionário e passamos a trabalhar somente com o segundo. Para que o trabalho na área do Serviço Social abandone o amadorismo e se enriqueça no diálogo com os desafios da sociedade, precisamos contar sempre com a reflexão teórica. O SERVIÇO SOCIAL Antes disso, mesmo, ajuda-nos a duvidar de certas “verdades” solidamente estabelecidas acerca de ciência. E a capacidade de duvidar pode vir a ser decisiva para que o aluno avance em sua pesquisa, alcançando níveis de compreensão mais elaborados sobre o tema que tem nas mãos. PESQUISA Uma das primeiras “verdades” a cair por terra é a divisão, já comentada, entre pesquisa “pura” e “participante”. Por um lado, como já vimos, pesquisa alguma pode ser apenas revestida de contornos práticos, sem o suporte de conceitos teóricos. Por outro, não existe nenhuma atividade científica capaz de se considerar neutra. Nem mesmo entre os físicos ou paleontólogos, que aparentemente lidam com aspectos da realidade que parecem bem distantes dos conflitos sociais. O mais notório exemplo disso se deu na primeira metade do século XX, quando os estudos, supostamente de ciência “pura”, desenvolvidos por Einstein em torno da relatividade vieram a resultar no desenvolvimento dos primeiros artefatos nucleares que, uma vez lançados sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, causaram a morte de mais de duzentas mil pessoas. Outro exemplo: até o começo do século XX, as ciências sociais se regulavam por uma corrente teórica do século anterior, o positivismo, que buscava alicerçar os estudos sobre os fatos sociais em critérios herdados das ciências da natureza. Portanto, um dos fundamentos da reflexão científica estava na separação entre o sujeito (que pesquisa) e o objeto (que é pesquisado). Porém, a entrada em cena de novas correntes de pensamento em ciências sociais, como a visão dialética desenvolvida pelos críticos sociais da Escola de Frankfurt, a partir dos idos de 1920, colocou em cheque o positivismo e levantou um véu de suspeitas sobre algumas certezas antes invioláveis. Particularmente, foi posta em dúvida a separação estanque entre sujeito e objeto. Afinal, o pesquisador também faz parte da sociedade que pesquisa. Neste caso, ele é ao mesmo tempo o sujeito e parte do objeto de seu esforço de reflexão teórica. Veja como é preciso realizar uma reflexão teórica atualizada para não incorrer em erros. No passado, os estudos realizados sobre as condições de vida da população de rua, por exemplo, eram feitos como se aquelas pessoas pertencessem a outra categoria de seres humanos. O pesquisador abstinha-se de perceber o quanto elas tinham em comum com ele, tendo em vista que as necessidades básicas de todos os seres humanos são as mesmas. Além disso, era incapaz de perceber que ele também estava envolvido na rede de injustiças sociais que obriga uma enorme parcela da população a viver sem teto. Não que cada um de nós deva se sentir culpado pelas mazelas da sociedade. De nada adiantaria cultivar o sentimento de culpa, além do que seria injusto para nós, que estamos justamente procurando ajudar. Mas o que se tem a fazer é perceber os mecanismos de funcionamento desta sociedade, capaz de dar somente a alguns de nós o privilégio de cursar uma Universidade, enquanto milhares vivem sem as mínimas condições de uma existência decente. Um pesquisador do passado deixaria de fora a reflexão sobre as contradições sobre o capitalismo globalizado. Em vez disso, buscaria explicações nos próprios indivíduos vitimados por esta ordem social injusta e desigual, ou senão no meio em que viviam estes indivíduos. Com efeito, as explicações mais correntes, naquela época, eram de que a pobreza advinha do clima, das misturas de raças, da indolência do povo (ou seja, as pessoas eram culpadas de sua própria pobreza, que era algo que resultava da preguiça), entre outras explicações. Bem, com um pouco de reflexão crítica, percebemos que este tipo de cientista social, felizmente superado, só fazia contribuir para que a ordem social não se alterasse. Naqueles tempos, não se concebia um Serviço Social motivado por ideais de construção de uma nova sociedade. Em vez disso, predominava a caridade, concebida como pura e simples esmola. Os assistentes sociais não se sentiam como seres humanos a quem o Estado ou entidades privadas pagavam para prestar auxílio a seres humanos que precisassem de auxílio. Em lugar disso, predominava a visão paternalista, que levava o profissional a se sentir um ser superior às pessoas a quem atendia. Conclui-se do que foi exposto que a prática profissional tem muito a ganhar com a reflexão teórica atualizada, que esteja sempre em busca de novas soluções para os problemas que vão surgindo. ESCOLHER E DELIMITAR: O NASCIMENTO DA REFLEXÃO SOBRE O TEMA Chegamos ao primeiro grande desafio do estudante que se encontra prestes a seiniciar nos caminhos da pesquisa: a escolha de um tema que ele possa assumir como seu, no sentido de merecer sua atenção e despertar seu interesse, a ponto de lhe motivar a elaborar um Projeto de Pesquisa. Ou seja, um tema que realmente desperte algo dentro de si. Em jogo, está muito mais do que simplesmente resolver sobre que assunto será o trabalho de conclusão de curso. O tema escolhido fica por merecer a dedicação que o futuro profissional da área de Serviço Social deve possuir para ter êxito em sua carreira. Vale dizer, desta forma, que todo o processo de elaboração do Projeto de Pesquisa é um treinamento para a vida. Até porque o bom profissional não é aquele que se julga “pronto” e nunca mais pega num livro depois que conclui a faculdade, mas sim o que reconhece a necessidade de se reciclar sempre. Bem, existe sempre certa liberdade de escolha quando o estudante chega a esta etapa de sua trajetória. E o que parece ser um bem, pode ser também um desafio. Isso porque muitas vezes o estudante se depara com a constatação de que ele não foi preparado para realizar escolhas. Com efeito, nossa rede escolar, desde as séries iniciais, não nos prepara para o exercício da liberdade consciente e responsável. Tanto isto é verdade que verificamos, nas escolas de fundamental, a desordem tomar conta de tudo sempre que um professor mais audacioso resolve conceder aos alunos um quinhão maior de liberdade. Aliás, aquilo que se convenciona chamar de “bagunça” nada mais é do que um termômetro da incapacidade de nossos jovens em lidar com a liberdade de forma consciente. E isto decorre da pouca intimidade que eles têm com o exercício de escolhas próprias e conscientes. Para nós, que já estamos na Universidade, vale dizer que a escolha é livre, dentro de alguns parâmetros que logo veremos, mas acarreta a necessidade de respondermos por ela. Ou seja, traz consigo a responsabilidade. Estamos diante do que Pedro Demo, em seu já referido ensaio, denomina “desafio de liberdade acadêmica”. No decorrer do curso, no contato com todas as outras matérias que compõem a grade curricular, o estudante teve a oportunidade de ter contato com uma gama extraordinária de informações. A busca do conhecimento foi sendo alimentada por vários semestres. Vários exercícios propostos nos fóruns, como oportunidades para enriquecer a vivência crítica e a reflexão sobre os mais variados temas da área de Serviço Social. Vários tópicos apresentados como oportunidade para aprimorar a capacidade de reflexão crítica. Um questionamento inicial se impõe: sobre qual tema trabalhar. Foram tantas as opções apresentadas que é algo normal que, num primeiro momento, o estudante fique indeciso. Mas a escolha não pode demorar, uma vez que há muito que fazer e não há tempo a perder. Proponho dois critérios básicos, para começo de conversa: Dentre os muitos assuntos estudados ao longo do curso, escolha um que mais lhe motiva e agrada. Jamais faça um trabalho sobre algo que não lhe interessa muito, desperdiçando a oportunidade de pesquisar sobre algo que vai realmente dar a necessária motivação para que o trabalho tenha um rendimento favorável. Desde o começo, é importante ter em mente que o tema escolhido vai exigir um certo nível de elaboração teórica, de modo a que o estudante-pesquisador se mostre capaz de caminhar com suas próprias pernas, ainda que se valha das contribuições de seu orientador. Como já vimos, no tópico anterior da presente aula, todos os temas, por mais que pareçam ligados apenas ao cotidiano, à realidade concreta, sempre possuem dimensões teóricas e práticas ao mesmo tempo. Tendo em vista o que foi exposto acima, tenha uma atenção especial para a questão do acesso ao material de pesquisa sobre o tema escolhido. Assim, algo que muito lhe interessa pode ser de difícil articulação, no plano do levantamento bibliográfico. Neste caso, pode se tratar de uma escolha que lhe trará problemas. Esteja atento à delimitação do tema, para evitar que ele seja formulado de modo vago e impreciso. Um exemplo: “O atendimento aos menores infratores no Brasil”. Ao escolher um tema como este, deve-se levar em conta se ele não está formulado de modo excessivamente amplo, se não carece de uma delimitação mais adequada, a fim de se obter um tema mais acessível, mais viável. Caso exista relativa abundância de material para pesquisa, esteja disposto a demonstrar a capacidade de trilhar um caminho próprio, ainda que supervisionado pelo professor/orientador. Um estudante prova estar preparado para a vida profissional na medida em que demonstra capacidade de construir uma compreensão sobre os assuntos estudados sem copiar, imitar, reproduzir. A aprendizagem se faz mais autêntica e plena quando resulta de esforço pessoal, do vivo interesse em conhecer. Acerca dos procedimentos de pesquisa, dos mecanismos a serem usados para se evitar a cópia, teremos oportunidade de falar em uma de nossas próximas aulas.[ Eis aí uma tarefa delicada e que precisa de muito cuidado, para que o caminho a seguir se revele mais viável. No momento de dar conta desta delimitação, caro aluno, seja bem sincero. Para dar conta de toda a tarefa a que está se propondo, você está disposto a entrevistar menores infratores em todo o país? Não é mais aceitável que sua proposta de trabalho se atenha aos limites da cidade em que você vive? Afinal, este é um problema social comum a todos os grandes centros urbanos do país. Eis aí como a sua delimitação já começa a ser feita, levando-se em conta uma questão simples de praticidade. Além do critério geográfico, a delimitação de um tema como este pode observar outros aspectos, tais como um recorte no tempo, ou a ênfase num determinado subgrupo. Assim, por exemplo, é possível imaginar uma pesquisa junto a menores infratores do Rio de Janeiro, dependentes de crack e, ainda, limitar a pesquisa ao ano de 2012. Disso resulta uma delimitação bem mais precisa, que já deixa mais claro os rumos a serem tomados no levantamento de dados para a pesquisa. Outro exemplo, muito simples, que revela o quanto é importante uma adequada delimitação do tema. Imagine que você se disponha a fazer uma pesquisa sobre gravidez na adolescência. Trata-se de um tema excessivamente impreciso, amplo demais, ainda mais se pensamos em termos de um trabalho de graduação. Neste caso, além dos recursos de ordem geográfica e cronológica, a delimitação pode se valer de outros recursos, como seria o caso de optar por um enfoque apenas sobre as jovens que tenham sido vítimas de abuso sexual. Ou, então, jovens que tenham sido rejeitadas por suas famílias em razão da gravidez. Ou algum outro fator que determine uma redução no corpus da pesquisa. Claro que você pode e deve considerar importante estudar o fenômeno da gravidez na adolescência, como um todo. Porém, não terá tempo de fazer uma pesquisa mais longa. Além disso, sem a delimitação terá que ler muito mais, dar conta de textos que comentem ou aprofundem a reflexão sobre os mais diversos desdobramentos do problema geral. Então, além da pesquisa tomar mais de seu tempo, ela também exigirá uma bagagem de conhecimentos bem maior. Enfim, cada um de nós pode desenvolver uma trajetória pessoal de construção do conhecimento, desenvolvendo o hábito de encontrar saídas para os desafios de sua própria pesquisa. Isso é praticar de modo efetivo a criatividade. Tendo em mente estes aspectos essenciais, as opções são muitas. O grande problema, para o estudante, passa a ser não ficar muito perdido na escolha De qualquer forma, em caso de dúvida, sempre existe a possibilidade de definir, como estratégia, que um tema será trabalhado agora, enquanto os outros ficarão guardados para mais adiante, como na pós-graduação, ou em algum artigo escrito para ser publicado numa revista especializada. Enfim, são tantas opções que o grande problema, para o estudante, passa a ser não ficar muito perdido na escolha. De qualquer forma, em caso de dúvida, sempre existe a possibilidade de definir, como estratégia, que um tema será trabalhado agora, enquanto os outros ficarão guardados para mais adiante, como na pós-graduação, ou em algum artigo escrito para ser publicado numa revista especializada. A PESQUISA COMO ATIVIDADE DE CRIAÇÃO Esta problemática se revela importante na própria realização da pesquisa, e isso já desde o momento da escolha do tema. Por um lado, temos aquela atitude, típica do estudante bem-intencionado, que escolheu este curso tendo em vista sua predisposição a ajudar os desfavorecidos pela sociedade. Bem, isso pode ser feito, sem dúvida, mas é preciso alertar tais estudantes para certas armadilhas que se fazem presentes na realidade. Por outro lado, existe todo um discurso dominante, de que a ciência é neutra, ou seja, as pesquisas realizadas nas Universidades nada têm com os conflitos em curso na sociedade. Bem, este discurso de neutralidade é mais visível em outros campos do saber, como as exatas, por exemplo. Mas não deixa de se fazer notar em certas posturas de autores que se debruçam sobre o estudo das técnicas de pesquisa. A vida social é um processo de permanente diálogo. As pessoas interagem socialmente, valendo- se dos mais variados discursos para se fazerem compreender, bem como para atingir mil outras finalidades: pedir, persuadir, contar, impor, testemunhar, entre outras. Fica claro que qualquer texto é uma tentativa de agir sobre os outros. Ou, melhor dizendo, qualquer texto é diálogo. Neste caso, podemos dizer que a nossa pesquisa é um diálogo que buscamos estabelecer com outras pessoas, tendo como temática os problemas da sociedade em que vivemos. Neste sentido, pesquisar é sempre dialogar. O que significa que o estudante ouve e lê muito sobre a realidade, estuda os teóricos, mas chega o momento em que ele vai responder, produzindo o seu texto. Esta produção de conhecimento, cada um faz para si mesmo, na medida em que aprende fazendo, mas também faz para os outros, já que seu trabalho ficará arquivado e poderá servir de instrumento de estudo para outros estudantes, no futuro. Sem falar das oportunidades que você mesmo pode vir a ter de usar todo o seu trabalho ou parte dele em congressos e colóquios. Mas existe outra dimensão do diálogo que é preciso comentar. Não se pode esquecer que nas relações sociais sempre se revelam presentes relações de poder. O profissional de Serviço Social precisa estar atento ao aspecto político que se apresenta em sua realidade, em seu trabalho cotidiano. Como, de resto, todos os demais estudantes, recém-saídos das Universidades, uma vez que todas as profissões têm algum tipo de inter-relação com os conflitos que se fazem presentes nas lutas pelo poder. Chegamos a um aspecto importante, de que todos precisam tomar consciência, ao fazer pesquisa. Trata-se da existência de interesses sociais em jogo em tudo o que fazemos. Temos que ter conhecimento, por exemplo, de que muitas pesquisas científicas são feitas, não para se pensar em soluções para a vida em sociedade, mas para atender a grupos de pressão específicos. Assim, os laboratórios de química das Universidades podem se ver sob o jugo de interesses da indústria petroquímica, por exemplo. Do mesmo modo como desenvolver novos medicamentos, não só é boa notícia para os doentes, como também para os interesses da indústria farmacêutica. Exemplos que damos para não recorrer a outros, mais sórdidos, como os voltados para a industrialização da morte e da destruição, que subjaz a toda pesquisa voltada para o enriquecimento da indústria bélica. Neste ponto de nossas reflexões, os estudantes de Serviço Social talvez pensem que podem se sentir aliviados, mas não é bem assim. Nem toda pesquisa em ciências sociais se volta para finalidades de melhorar o convívio entre os seres humanos. Também há grupos de interesse que agem no sentido de garantir lucros. Basta ver o que o avanço tecnológico fez aos empregos numa categoria como a dos bancários, por exemplo. Pois bem, há pesquisadores em áreas próximas à nossa, como a sociologia e a economia, cujos trabalhos contribuem para a formulação de políticas de substituição de mão de obra por engenhocas eletrônicas. Isso para não falar na atuação de psicólogos e dos próprios assistentes sociais em práticas de apaziguamento de conflitos, tendo como horizonte, quase sempre, o interesse dos poderosos, em detrimento dos desvalidos. Tendo em vista que vivemos numa sociedade extremamente desigual, fica claro que a escolha de um tema para a pesquisa dificilmente deixará de fora esta realidade. O estudante precisa, então, ter consciência de que não lhe cabe resolver os complexos problemas da sociedade brasileira deste início de século, mas existe sempre uma margem de participação. Afinal, elaborando a pesquisa, ele produz conhecimento, o que virá a permitir que esteja mais bem preparado para atuar socialmente, no futuro. E, a despeito das dificuldades e dos desafios, ele não deve desanimar. Como afirma Pedro Demo (op. cit., p. 40), “pesquisar é que não se perdeu o senso pela alternativa, que a esperança é sempre maior que qualquer fracasso, que é sempre possível recomeçar”. Concluímos esta aula com a constatação de que o simples ato de escolher um tema para uma pesquisa em Serviço Social, procedendo-se depois a um adequado processo de delimitação deste tema, já é um gesto social, no sentido de conter uma contribuição para o diálogo de que é feita a vida em sociedade. Gesto que se revela transformador na medida em que traz propostas concretas para a criação de uma sociedade ao menos mais suportável do que a atual. Nesta aula, você: Teve um contato inicial com critérios básicos que não podem ser ignorados quando se faz a escolha de um tema para a pesquisa; verificou o quanto é importante delimitar de modo adequado o tema para que a pesquisa tenha êxito; foi alertado para o papel da teoria como instrumento para fortalecer a reflexão sobre os temas em nossa disciplina, de tal modo que não será mais possível conduzir uma pesquisa separando a teoria da prática; recebeu orientações no sentido de estar alerta quanto ao fato de toda atividade do profissional de Serviço Social se oferecer como um esforço de participação num diálogo com a sociedade, devendo assim se alicerçar com firmeza seus propósitos diante das pressões sociais que possa vir a sofrer. AULA 3 – A DÚVIDA COMO FUNDAMENTO DA PESQUISA A DÚVIDA COMO FUNDAMENTO DA PESQUISA Uma das maneiras mais eficazes para um estudante verificar se já tem algum domínio sobre um tema é formular perguntas sobre ele. Pode fazer disso um exercício constante, uma atividade de ginástica mental que leva a alcançar uma percepção maior sobre qualquer assunto. Bem, mas fazer perguntas pode ter muitas outras utilidades, e nossa aula de hoje vai tratar de algumas delas. Nossa vida, afinal, acaba se tornando com um trabalho de aperfeiçoar constantemente a habilidade para lidar com questionamentos, mesmo que eles não venham por escrito. Nossa aula anterior terminou com algumas orientações para facilitar a escolha do tema e sua delimitação. Sabemos que não é fácil delimitar. O espaço dedicado a esta parte ficou muito restrito na aula passada, e existe uma razão forte para que tenha sido assim. A proposta agora é dar um passo adiante, por meio da problematização do tema. Se você já tem um tema pré-escolhido, uma técnica quepode ajudar um avanço no sentido da problematização é fazer perguntas a si mesmo sobre o tema. Aí, você verá como as técnicas que vamos propor de problematização podem ajudá-lo a delimitar com mais clareza o tema. Em suma, a principal finalidade da presente aula é demonstrar como a dúvida pode servir de alicerce para a busca do conhecimento. Se você pesquisar nos anais da História da Ciência, verá que todas as descobertas humanas nasceram de momentos de dúvida. E não somente as descobertas, como as grandes invenções e criações humanas, podem advir da dúvida. Diante do desafio de como enfrentar um problema sério, os homens criam saídas, buscam soluções e a trajetória da espécie neste planeta tem mostrado isso, desde eventos ocorridos em tempos distantes, como a descoberta de como fazer o fogo e a criação da roda. Pois então, se você aproveitar o espaço desta semana para levantar questionamentos sobre o tema de pesquisa que escolheu, saiba que estará se juntando a ilustres personagens de nossa história, que fizeram da dúvida um motor para o avanço na aventura do conhecimento. Fazer perguntas sobre o assunto que escolhemos para nossa pesquisa, a princípio, parece algo simples, mas depende de certo nível de conhecimento prévio. Mesmo que para apresentar soluções parciais, apontar caminhos para o surgimento de novos questionamentos, o certo é que todo pesquisador sempre busca respostas. Grande parte do problema está em como perguntar, ou para ser mais preciso, como expressar sua dúvida. Veremos nesta aula que ter dúvidas está entre as coisas mais preciosas que podem acontecer a um estudante, desde que ele se debruce sobre o estudo e aceite o desafio do questionamento. Se fizer isso, a dúvida o conduzirá adiante, funcionará como um agente impulsionador. A dúvida tanto pode deter o avanço de um estudante em seu processo de enriquecimento de aprendizado quanto pode servir como o fundamento mais essencial de suas pesquisas. Tudo depende da atitude que cada um terá diante dela. Por conta disso, grande parte do conteúdo da presente aula versará sobre a arte da dúvida, ou seja, de fazer perguntas, para delas extrair conhecimento. Veremos como este é um processo contínuo no desenvolvimento de qualquer pesquisa científica, de qualquer reflexão crítica sobre a realidade. Nesta aula, apontaremos alguns dos requisitos para a formulação de uma questão norteadora, que será a dúvida principal, a pergunta-chave, a qual o trabalho de pesquisa se propõe a responder. A esses requisitos daremos o nome de técnicas de problematização, mas por motivos que explicaremos adiante, não vamos usar a palavra “problema” como sinônimo de questão norteadora. Seguindo as recomendações aqui expressas, os alunos terão como elaborar sua pergunta-chave, cumprindo assim uma das etapas essenciais do seu Projeto de Pesquisa. Por último, ainda nesta aula, chamaremos atenção para o fato de que ler sobre o tema escolhido não pode ser deixado para depois. É uma tarefa que deve começar desde já. A importância disso decorre do fato de que é uma tarefa que exige do estudante/pesquisador certo grau de maturidade, visto que o questionamento já demonstra um certo nível de conhecimento sobre o tema. DUVIDAR PARA CRESCER Antes de prosseguir, vamos propor a você uma reflexão: Se tiver que escolher entre dois tipos de professores, um que traz sempre as respostas prontas e outro que é capaz de motivar a turma com questionamentos e dá tempo aos alunos para refletirem, antes de exigir respostas, que escolha faria? Podem contar que, com raras exceções, os mestres mais questionadores são melhores para o nosso próprio crescimento. O fato de propor questões valendo ponto ou não é um detalhe secundário. Muitos aprendizados podem ser feitos fora dos parâmetros pedagógicos consagrados. Será por demais ousado dizer que o professor ideal é o que provoca a reflexão? Ou aquele que não se contenta com seus alunos quietos nos lugares, mas os quer integrados no propósito de buscar o conhecimento? Então, essas perguntas levaram você a refletir sobre o assunto? Clique no ícone PDF e veja mais sobre o tema. DUVIDAR PARA CRESCER Deixar um aluno assim no ponto em que está, sem puxar mais dele, exigir mais dele, é permitir que demonstre somente que é capaz de resumir, quando não se reduz a reproduzir resumos já prontos. Afinal, a Internet está cheia deles, assim como os livros didáticos de Ensino Médio. Um estudante não fará jus ao seu diploma universitário se não ultrapassar essa etapa. O Serviço Social é uma disciplina que está inserida na dinâmica da sociedade. A formação profissional de quem vai atuar nesta área requer um preparo para se lidar a todo o momento com os mais diversos desafios do cotidiano. Então, o aluno não pode, agora, ter medo de ser questionado. Melhor fará se conseguir se transformar, ele próprio, em um questionador. Sim, o estudante sempre cresce quando adquire o hábito de fazer seus próprios questionamentos. Ao lidar com as demais disciplinas do curso, você deve ter tido oportunidade de verificar isso. Formular questões a serem postadas em um fórum de dúvidas para as provas, ou mesmo para sanar a curiosidade que tenha brotado do seu interesse pela matéria. Bem, a primeira modalidade de perguntas é importante, mas não tenha dúvida de que a segunda representa um avanço maior em sua capacidade de caminhar por si mesmo no longo caminho do conhecimento. Pensemos agora em nos valer da capacidade de nos questionarmos para aprimorar a delimitação de nosso tema. Sim, algumas perguntas podem ser formuladas com este fim. Não são ainda o seu questionamento central, a sua questão norteadora, mas podem ajudar muito no processo de aprimoramento da reflexão sobre o tema. Exemplo: se você fizer uma pesquisa sobre os menores infratores que reincidem no Rio de Janeiro, pode se perguntar sobre qual é a idade da maior parte deles. Como resposta a este questionamento, é bem possível que tenha acesso a um dado estatístico que virá a ter papel importante no seu trabalho. Portanto, esta será uma pergunta útil, mas obviamente não serve como questão norteadora, uma vez que a resposta a ela pode vir logo no começo da pesquisa. Trata-se de uma pergunta que puxa uma resposta bem simples e direta. Não se trata de um questionamento que tenha vigor para provocar toda uma reflexão sobre o tema em debate. E assim, virão muitas outras questões, todas secundárias, mas importantes. De qualquer forma, as perguntas então formuladas foram de importância central para que o pesquisador chegasse às suas primeiras conclusões, ainda provisórias, mas que forneceram material de pesquisa básico para o prosseguimento do trabalho. O mesmo se dá a qualquer um que inicie esta mesma seara. Pode ser que as primeiras respostas gerem novas perguntas. Não se exaspere. Ao contrário, desenvolva o hábito de tirar proveito disso. Estamos mesmo diante de algo que é uma das técnicas mais básicas para se ampliar o nosso domínio sobre qualquer tema. Então, faça sempre mais perguntas, a você mesmo, a seus professores, a seus colegas. Todos sairão ganhando com isso. A Universidade deve ser vivida como um espaço aberto a dúvidas sempre novas, que venham arejar o ambiente acadêmico com a busca pelo conhecimento das gerações mais novas. Agora, enquanto as dúvidas menores nascem para serem sanadas de imediato, fluem quase naturalmente da curiosidade do estudante, e precisam ser atendidas sem muita demora. A questão maior, a grande dúvida do trabalho, esta ficará em aberto. Trata-se de uma pergunta-chave para o seu trabalho como um todo. A ela daremos o nome de “questão norteadora”. Não serárespondida de imediato, por trazer um nível de complexidade maior, por ser um convite à reflexão. E não há mesmo pressa para se chegar a uma resposta, já que toda a pesquisa será um esforço no sentido de se buscar a resposta. A SEGUIR, APONTAREMOS ALGUNS CUIDADOS NECESSÁRIOS NA FORMULAÇÃO DE UMA QUESTÃO NORTEADORA. Contudo, devemos considerar que a palavra tem muitas outras aplicações, muitos significados e, por isso, acabará sendo necessária, em nosso trabalho, para lidar com outras situações. Por esse motivo, optamos por manter a nomenclatura apontada inicialmente, ou seja, chamar a nossa pergunta-chave de “questão norteadora”, ou seja, as técnicas a serem observadas, com vistas a obter um bom resultado na formulação da questão norteadora. Para tanto, vale adiantar que o processo de problematização do tema sempre é o ponto de partida, razão pela qual, muitas vezes, a questão norteadora também vem apresentada sob o nome de “problema”. Deixar um aluno assim no ponto em que está, sem puxar mais dele, exigir mais dele, é permitir que demonstre somente que é capaz de resumir, quando não se reduz a reproduzir resumos já prontos. Afinal, a Internet está cheia deles, assim como os livros didáticos de Ensino Médio. Um estudante não fará jus ao seu diploma universitário se não ultrapassar essa etapa. TÉCNICAS PARA A PROBLEMATIZAÇÃO De qualquer forma, as perguntas até então formuladas foram de importância central para que o pesquisador chegasse às suas primeiras conclusões, ainda provisórias, mas que forneceram material de pesquisa básico para o prosseguimento do trabalho. O mesmo se dá a qualquer um que se inicie nesta mesma seara. Pode ser que as primeiras respostas gerem novas perguntas. Não se exaspere. Ao contrário, desenvolva o hábito de tirar proveito disso. Veja, então, o quanto a problematização é importante como parte de um conjunto de procedimentos que levará o estudante à plena realização de sua tarefa. Assim, a técnica de fazer perguntas ao tema deve ser incorporada como parte do próprio trabalho. De tal sorte que o seu projeto de pesquisa deve trazer o problema, ou se possível, mais de um, todos formulados em questionamentos que venham depois facilitar o desdobramento das etapas seguintes da pesquisa. Assim, as perguntas formuladas foram de importância central para que o pesquisador chegasse às suas primeiras conclusões, ainda provisórias, mas que forneceram material de pesquisa básico para o prosseguimento do trabalho. O mesmo se dá a qualquer um que inicie esta mesma seara. Pode ser que as primeiras respostas gerem novas perguntas. Não se exaspere. Ao contrário, desenvolva o hábito de tirar proveito disso. Neste caso, com tudo anotado em rascunho, o estudante/pesquisador estará avançando em sua interação com o tema com o qual se comprometeu. Não tenha medo de ter dúvidas, busque as informações necessárias para sanar essas dúvidas. Elas podem se tornar a trilha que levará ao sucesso. O que propomos agora é que você dirija questionamentos ao seu tema, esteja ele em que ponto estiver do seu processo de delimitação. Não passe para a próxima aula sem cumprir essa tarefa. Tal procedimento é muito importante para o andamento do trabalho. E alguns desses questionamentos, os que vierem a se mostrar mais fecundos, devem ser destacados em seu projeto de pesquisa. Para efeito de um resultado mais adequado, a questão norteadora deve atender a alguns requisitos. Antonio Carlos Gil (2002), autor incluído em nosso material didático, sugere que se preste atenção aos seguintes aspectos: http://estacio.webaula.com.br/Cursos/gon232/pdf/a03_t14.pdf LER, DESDE JÁ, É PRECISO! Na aula anterior, observamos que um dos critérios para a escolha do tema é justamente verificar se existe quantidade suficiente de material acessível, justamente para evitarmos situações como a do estudante que escolhe um tema que o fascina, mas depois não encontra sobre o assunto mais do que textos de modesta capacidade de informação ou penetração crítica. Por outro lado, observamos também que um dos critérios para a escolha do tema é a motivação gerada pelo fato de estar o estudante em contato com um tema que o interessa, que desperta sua curiosidade, sua vontade de participar do debate. Isso deve ser usado como um recurso por meio do qual cada um se sentirá previamente estimulado a ler sobre o tema selecionado. Para o estudante de Serviço Social, como de resto para todos os que estudam a sociedade, nos mais diversos enfoques, a leitura diária de jornais é altamente recomendável. Neste caso, é sempre bom chamar a atenção do aluno quanto ao tratamento sensacionalista que muitos órgãos da imprensa dão aos temas. Entretanto, este ainda é um recurso indispensável para que o estudante se mantenha atualizado. No que diz respeito à busca de leituras capazes de enriquecer a reflexão sobre o tema escolhido para o projeto, vale considerar o que se pode ler em bibliotecas, o que se pode adquirir em livrarias e o que se pode pesquisar na Internet. Nenhum recurso deve ser excluído ou colocado em segundo plano. Mas, de um modo ou de outro, sempre é importante dedicar um tempo em sua agenda semanal para ler. Esta é uma condição que não pode ser negligenciada. Para tanto, vale considerar o acervo da Biblioteca Virtual da Estácio, que pode ser acessado por qualquer aluno, no SIA. Por meio deste recurso, é possível ter acesso a obras de editoras parceiras de nossa universidade, ou mesmo obter os livros, por encomenda, a preços acessíveis. LER, DESDE JÁ, É PRECISO! Wikipédia Sua proposta de “enciclopédia livre” é, para dizer o mínimo, questionável. Se fosse realmente uma enciclopédia, no sentido pleno da palavra, seus organizadores convidariam pessoas avalizadas para elaborar cada verbete. Haveria cuidado na preparação do conteúdo a ser disponibilizado na rede. Em vez disso, o site permite que qualquer pessoa se proponha a elaborar ou mesmo a refazer um verbete. Ou seja, sem exagerar no exemplo, se um Doutor em Serviço Social elabora um verbete qualquer da enciclopédia, com texto bem construído e rico de conteúdo, não há garantia alguma de que o texto vai permanecer, já que uma criança de primário pode se apresentar como apta e, em seguida, apagar e mudar tudo. Desta forma, o que se apresenta como uma democratização do saber é, na verdade, um engodo. Conteúdos surgidos desta maneira não podem ser confiáveis. Quem pesquisa neste material pode estar obtendo informações verídicas ou não, pode ter acesso a explicações adequadas ou não. Pode estar aprendendo ou não. Na dúvida, busque fontes mais confiáveis. Os sites de universidades são uma boa opção, ou então, refinar sua busca na internet procurando não no Google como um todo, mas numa seção específica, cujo nome em português é “Google Acadêmico”, mas tem endereço eletrônico com o nome em inglês: http://scholar.google.com.br/. Teremos oportunidade de retomar este assunto, com mais detalhes, em outra aula. TÉCNICAS DE LEITURA Agora, temos algumas recomendações sobre a maneira de se lidar com o material oriundo de leituras. Trata-se de um conjunto de técnicas sobre como obter o melhor rendimento possível do que se lê. Isso tem como pressuposto que a interação do aluno com os textos deve ser, na medida do possível, desprovida de qualquer pressa ou ansiedade. Assim, dispense a cada texto três momentos de leitura: a) Em um primeiro, preocupe-se em ter uma visão geral do que diz o texto, ou seja, leia o texto como um todo, sem necessariamente se preocupar com reter as informações. Muitas vezes, o sentido pleno de um texto se completa somente quando chegamos às últimas páginas, a suas considerações finais. Este também seráum momento em que você terá oportunidade de verificar em que medida o texto em questão merece atenção suficiente para ser submetido às etapas seguintes. b) Em seguida, em um segundo momento, deve-se fazer uma leitura mais atenta, com marcações e anotações. Esse é a hora em que você começará, de verdade, a dialogar com o texto. Claro está que os textos mais fracos e superficiais já terá sido descartados, após a primeira, ou mesmo antes. Mas nesta nova etapa, busque reter tudo o que julgar necessário, que possa aproveitar em seu trabalho. Para tanto, sempre leia com um caderno de notas ao lado. Por esse motivo, mesmo na era do computador, ainda existe espaço para o papel e o lápis. Você pode até preferir um bloco de notas no computador, mas terá que ficar minimizando, fechando e abrindo janelas o tempo todo. c) Finalmente, para aqueles textos especialmente relevantes, vale a pena retornar. Já não se trata mais apenas de tomar notas, mas de elaborar respostas aos questionamentos propostos por essas leituras. Assim, em seu caderno, virá à tona bem mais do que a simples paráfrase do que o texto diz, virão já fragmentos do que você poderá, mais tarde, usar em seu próprio texto. Nesta etapa, temos um avanço no processo de diálogo com as leituras escolhidas para enriquecer nossa reflexão. d) Agora, temos algumas recomendações sobre a maneira de se lidar com o material oriundo de leituras. Trata-se de um conjunto de técnicas sobre como obter o melhor rendimento possível do que se lê. Isso tem como pressuposto que a interação do aluno com os textos deve ser, na medida do possível, desprovida de qualquer pressa ou ansiedade. Assim, dispense a cada texto três momentos de leitura: e) É fácil perceber, em todo esse processo, a fecunda interconexão entre as práticas da leitura e da produção escrita, de tal modo que este momento de ler e refletir pela terceira vez sobre as obras mais importantes será também o momento de elaboração de grande parte do texto do seu trabalho. f) Assim, fica claro que o processo de elaboração de um Projeto de Pesquisa é um entregar-se continuamente à reflexão sobre o tema, de modo a avançar cada vez mais, movido pela curiosidade científica e pelo empenho em participar dos debates sociais, contribuindo para a criação de soluções que tornem mais aceitável o convívio entre as pessoas nos tempos em que vivemos. PARA ENTENDER MELHOR OS CONCEITOS ESTUDADOS NESTA AULA, VAMOS FIXAR O CONTEÚDO? Atividade Proposta Retome o seu tema, já devidamente delimitado, e proponha dois questionamentos secundários que possam ajudar no enriquecimento de sua reflexão sobre ele. Cada um deles deve ser apresentado na forma de uma pergunta que atenda aos critérios de clareza, precisão e coerência, estudados nesta aula. Em seguida, para cada uma dessas perguntas, elabore uma resposta de pelo menos dois parágrafos. A seguir, observe todas as técnicas de problematização que estudamos, com vistas a propor um questionamento principal, que virá a ser a Questão Norteadora do seu projeto. Por motivos óbvios, esta questão não deve ser respondida, ainda. Nesta aula, você: Reconheceu o quanto é importante fazer perguntas a cada momento da vida acadêmica. Somente aprendendo levantar questionamentos, pode um estudante aprimorar-se a ponto de tornar-se um profissional bem capacitado; conheceu técnicas de problematização, fazendo delas um valioso instrumento para aprimorar a reflexão sobre o tema escolhido para o projeto de pesquisa; verificou que a leitura do material informativo sobre o tema escolhido deve seguir procedimentos adequados, a fim de retirar delas o maior proveito possível. AULA 4 – A FORMULAÇÃO DOS OBJETIVOS Em tudo o que fazemos na vida, ter metas definidas, estabelecer parâmetros a serem alcançados ajuda na realização do trabalho. E quanto mais complexo for o que se tem a realizar, mais importante e crucial é a tarefa de se trabalhar com objetivos. Não se trata de apenas mais uma etapa. Ela pode fazer toda a diferença. Propor objetivos para um projeto de pesquisa implica em ter clareza quanto ao que se pretende alcançar. E este será nosso propósito aqui. Consideramos de muita utilidade começar esta aula com a mesma advertência com que encerramos a anterior. Pesquisar é um ato de entrega, ou seja, uma prática que exige persistência e capacidade de doação. Como nenhum trabalho nasce pronto, é importante estar em estado de constante reflexão sobre o tema, de modo a avançar cada vez mais, movido pela curiosidade científica e pelo empenho em participar dos debates sociais, contribuindo para a criação de soluções que tornem mais aceitável o convívio entre as pessoas nos tempos em que vivemos. A disposição de entregar-se à reflexão sobre um tema pode ser conduzida de maneiras diferentes. O estudante pode se sentir um pouco perdido, pode achar que está “perdendo tempo” demais. Para evitar esse tipo de situação é que se estabelecem os objetivos da pesquisa. Eles são instrumentos de grande utilidade para que você saiba exatamente aonde quer chegar. Aprenda a pensar um tema de modo objetivo e até mesmo a controlar o uso do seu tempo disponível dessa forma. Na presente aula, vamos tratar da importância de se estabelecer objetivos claros e bem definidos, como requisito para que o trabalho de pesquisa venha a ser bem-sucedido. Todos conhecem a famosa fórmula de objetivos propostos em frases curtas e sempre iniciadas por verbos no infinitivo. Na formatação final do trabalho, os objetivos vêm propostos em algumas frases-chave que contêm as indicações de quais finalidades logramos realizar com nossa pesquisa. Saber aonde se quer chegar com uma pesquisa é um requisito importante para o pleno êxito desta pesquisa. Veremos como tal modo de expor os objetivos é útil para a condução da pesquisa, mas não se pode reduzir o trabalho de pensar e elaborar objetivos a um exercício tão simples e mecânico. Em vez disso, conforme procuraremos demonstrar, elaborar objetivos é algo que vai muito além. Trata-se do terceiro passo importante na trajetória de se construir um projeto, vindo logo após a escolha e delimitação do tema e a problematização. Os critérios de clareza, concisão, coerência e autenticidade que vimos na aula 3 como fundamentais na problematização também estarão presentes aqui. Para pleno êxito em nossa exposição, começaremos por conceituar o próprio termo “objetividade”. Entre suas muitas utilidades, destacamos a vantagem em se cultivar uma atitude mais objetiva, não somente em nossos estudos, mas também em vários outros aspectos da nossa vida diária. A partir daí ficarão mais claros os caminhos a serem trilhados na proposição de objetivos para nossos projetos de pesquisa. Veremos como os objetivos possuem uma relação de complementaridade com cada uma dessas outras etapas. Para termos uma noção clara de onde pretendemos chegar com nossa pesquisa, precisamos já ter avançado mais nela, de modo a ter clareza quanto ao que é possível ou não realizar. O domínio sobre o tema escolhido já deve ter avançado, de modo que tenha avançado o discernimento a respeito de onde se pode chegar com a pesquisa. O QUE É OBJETIVIDADE? A vida cotidiana nos coloca diante de desafios constantes. A todo momento surgem situações que exigem de nós respostas claras e rápidas. Nessas situações, sem que tenhamos consciência disso, estamos sendo testados em nossa capacidade de desenvolver uma visão objetiva a respeito dos problemas que nos cercam. O senso comum atribui ao conceito de “objetividade” apenas uma parte de seu significado. Para a grande maioria, a palavra diz respeito somente à capacidade de lidar com os problemasde modo direto, sem perder tempo com detalhes insignificantes. Bem, isso é um aspecto importante, sem dúvida, mas não é tudo. Vamos começar com esta faceta do conceito, para em seguida desdobrá-lo em seus demais significados. Desenvolver técnicas adequadas para não perder tempo na condução de uma pesquisa é um fator de enriquecimento. Isso pode ser é um aspecto que pode trabalhado em vários momentos: quando estamos lendo os textos, em busca das informações básicas, o lastro teórico que sustentará nossa reflexão, quando buscamos estabelecer os procedimentos a serem usados na condução da pesquisa, como também no momento de escrever o texto que contenha nossas conclusões. Ter planejado com antecedência aonde se quer chegar é particularmente importante no momento de se ganhar tempo na produção de nosso texto. Para tanto, o pesquisador precisa estar consciente de seu papel de sujeito no processo de construção do conhecimento. Tomar para si a tarefa de construir o conhecimento é um passo importante, desenvolver a capacidade de observação crítica sobre a realidade. Esta será encarada como objeto de estudo. Ser objetivo é desenvolver esta consciência crítica diante do que estudamos. Para o caso das ciências humanas, a realidade que temos a estudar é a sociedade. O pesquisador em Serviço Social tem o desafio de se posicionar de modo crítico diante da sociedade, Sabe-se que, como seres humanos, fazemos parte de nosso objeto de estudo, ou seja, da sociedade. Mas o olhar que se pretende de um pesquisador é o de alguém que exercita a capacidade de olhar para a sociedade como se estivesse fora dela. Como resultado de tal atitude, nossas paixões, receios e preferências pessoais não podem interferir na análise que fazemos de nosso objeto de estudo. Aqui chegamos a outra dimensão contida no conceito de objetividade. Trata-se de lidar com os temas que nos desafiam, dentro e fora da universidade, de modo a não preconceber respostas. Estas virão, sem dúvida, mas somente mais tarde, como resultado de um processo de construção mental, de reflexão sobre o tema. Mas não se pode ter soluções para um problema antes de submeter o assunto a uma análise crítica. Para efeitos práticos, pode-se dizer que ter uma atitude objetiva diante da vida é encará-la de modo ponderado e livre de preconceitos. Este é justamente o significado que um dos mais conhecidos dicionários on-line da Língua Portuguesa nos dão para o termo “objetividade”: s.f. Qualidade do que é objetivo. Ausência de opinião preconcebida. (. Data do acesso: 9\3\2013). Desta forma, ser objetivo é, antes de tudo, tratar um problema sem formular opiniões prévias. Ao dizermos que é possível manter uma postura objetiva, não estamos dizendo que a pesquisa será neutra. Muito pelo contrário, a história humana já comprovou que não existe ciência neutra. Sempre que nos propomos a trabalhar em cima de um tema de pesquisa, temos em mente que nossas conclusões servirão a algum propósito. Para o nosso campo de atuação, é de se esperar que possamos contribuir para uma reflexão que ajude a sociedade a pensar seriamente seus problemas, em busca de soluções que aliviem a dor dos seres humanos. Mas é preciso reiterar que não se começa uma pesquisa com as respostas já prontas, estas virão depois, com o desenvolvimento da reflexão sobre o tema. Claro que teremos opiniões formadas sobre os tópicos em debate, mas estas devem se fundamentar em reflexão teórica, não em preferências pessoais. Num primeiro momento, ser objetivo implica em olhar desapaixonadamente para o nosso objeto de pesquisa. Um exemplo claro: imagine uma pesquisa que tenha como proposta debater o papel do profissional de Serviço Social no atendimento a mães adolescentes. Como em qualquer outra pesquisa, esta só tem condições de ter objetivos claramente formulados quando o pesquisador já domina com certa capacidade de penetração a questão em suas implicações sociais e históricas, já fez um levantamento da legislação específica, concernente à proteção ao menor, bem como já domina os documentos legais que versam sobre a atuação do profissional da área. Mas, o pesquisador não deve ser objetivo apenas neste ponto. A questão é mais ampla. Na condução da pesquisa, ele terá oportunidade de verificar que várias das jovens que estiver entrevistando já passaram pela mesma experiência mais de uma vez, tendo muitas delas buscado técnicas abortivas para se livrar do “problema”. Suponha que este pesquisador, por força de convicções religiosas, seja frontalmente contrário à prática do aborto. Neste momento, sua capacidade de lidar com o tema que escolheu estará em teste... Será objetivo o pesquisador que não fizer nenhuma diferença na maneira como tratar as jovens que tenham ou não feito aborto. Afinal, a lei é clara, quando determina que todas as adolescentes devem receber atendimento. O oposto da objetividade é uma postura que coloca nossos interesses pessoais em primeiro plano, o que pode ser reputado como atitude marcada pela subjetividade. Assim, o sujeito pensante deixa de estar diante de seu objeto de estudo e toma o lugar dele. O resultado pode ser desastroso. A pesquisa deixa de estar a serviço do progresso da ciência para estar atrelado a interesses outros, vindos de fora do universo acadêmico. A PROPOSIÇÃO DOS OBJETIVOS NO PROJETO DE PESQUISA Como vimos até aqui, a objetividade é uma atitude de vida e de pesquisa que tende a render bons frutos quando aplicada na condução de nosso trabalho. O desdobramento mais claro disso é quando formulamos objetivos para o nosso projeto. Em princípio, o que temos a fazer é colocar no papel qual ponto estamos nos propondo alcançar com a realização da pesquisa. Para tanto, contamos como etapas já realizadas a escolha e delimitação do tema, bem como a problematização. Em nossa aula passada, vimos que é importante ler muito sobre o tema para chegar à formulação de questionamentos bem construídos e coerentes. Pois então, agora, para elaborar bons objetivos, o domínio sobre o assunto terá aumentado ainda mais. O trabalho a ser feito agora consiste, basicamente, em dizer aonde se pretende chegar com a pesquisa, valendo-se de uma técnica de produção textual em que a apresentação de cada objetivo se realiza por meio de uma frase clara e concisa, que se inicia por um verbo no infinitivo. Veja os exemplos: “Avaliar a aplicação dos princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente nos casos de crianças vítimas de abandono.” “Debater os procedimentos necessários para um adequado atendimento aos portadores de HIV que moram nas ruas da cidade.” Tal modo de apresentar o objetivo obedece ao critério de deixar a frase exposta de modo impessoal, sem sujeito. Este procedimento obedece ao critério geral de se evitar o uso de tratamento em primeira pessoa. O nome técnico que se dá a esse tipo de construção sintática é “oração reduzida de infinitivo”. O adjetivo feminino “reduzida” não tem relação direta com as dimensões da oração, muito embora o resultado seja, quase sempre, uma frase curta, mesmo. Chamamos de “reduzida” porque nela não existe o sujeito, toda a construção se resume no predicado. Na prática, o exemplo 1 equivale a dizer “(Este trabalho se propõe a) avaliar a aplicação dos princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente nos casos de crianças vítimas de abandono.” A parte entre parênteses é omitida por estar evidente. A mesma lógica deve ser aplicada ao exemplo 2. Entretanto, deve-se estar atento ao fato de que um objetivo é bem diverso do outro, e isto fica patente na escolha dos verbos. No primeiro caso, o trabalho se propõe a fazer uma avaliação sobre o tema, enquanto no segundo a meta é menos ambiciosa: trata- se de levantar dados
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