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PROPRIEDADES DA MADEIRA PARA PROJETOS ESTRUTURAIS As propriedades da madeira são grandemente influenciadas pelo arranjo de seus elementos anatômicos, que lhe conferem características ortotrópicas. Por conseguinte, há diferenças significativas entre os valores das propriedades de resistência e de rigidez da madeira nas direções paralela e normal às fibras. Por esta razão, é indispensável se proceder à caracterização mecânica das espécies a empregar na construção de estruturas, o que deve ser efetuado seguindo-se os procedimentos de ensaio especificados no Anexo B da NBR 7190/1997. Os valores das propriedades de resistência e de rigidez a serem utilizados na elaboração de projetos estruturais são os correspondentes à umidade de 12%, escolhida como referência. as propriedades de resistência (entendida como a aptidão da matéria suportar tensões) são determinadas convencionalmente pela máxima tensão que pode ser aplicada a corpos-de-prova isentos de defeitos, até que se manifestem fenômenos particulares de comportamento, como os de ruptura e de deformações excessivas, além dos quais existirá restrição para o emprego estrutural. Classe de umidade Umidade relativa do ambiente – Uamb Umidade de equilíbrio da madeira – Ueq 1 65% 12% 2 65% Uamb 75% 15% 3 75% Uamb 85% 18% 4 Uamb 85% por longos períodos 25% Como nem sempre se consegue condicionar os corpos-de- prova exatamente na umidade de 12%, os valores de resistência obtidos para peças no intervalo de 12 a 20%, deverão ser corrigidos pela expressão: 100 12%U3 1ff %U12 100 12%U2 1EE %U12 OBS.: Serão consideradas desprezíveis as variações de resistência e rigidez para umidades superiores a 20% e variações de temperaturas entre 10°C e 60°C. C,0,m,verde c0m,12 OBS.: Serão consideradas desprezíveis as variações de resistência e rigidez para umidades superiores a 20% e variações de temperaturas entre 10°C e 60°C. OBS.: fcm,90 =fcm,n A NBR 7190/1997 estabelece três alternativas para se proceder à caracterização da resistência e da rigidez das espécies de madeira a serem empregadas na construção de estruturas: caracterização completa (para espécies desconhecidas), caracterização mínima (para espécies pouco conhecidas) e caracterização simplificada (para espécies bem conhecidas). resistência à compressão paralela às fibras resistência à tração paralela às fibras resistência à compressão normal às fibras resistência à tração normal às fibras resistência ao cisalhamento paralelo às fibras resistência ao embutimento paralelo às fibras resistência ao embutimento normal às fibras densidade básica densidade aparente a 12% de umidade resistência à compressão paralela às fibras resistência à tração paralela às fibras resistência ao cisalhamento paralelo às fibras densidade básica densidade aparente a 12% de umidade Para lotes homogêneos, a investigação direta da resistência da madeira, cada lote não deve ter volume superior a 12 m³. Se a opção for a caracterização simplificada, deve ser extraída uma amostra de pelo menos seis exemplares, retirados de modo aleatório do lote, para a confecção de corpos-de-prova a serem ensaiados na compressão paralela às fibras. Para a caracterização mínima, de cada lote serão ensaiados pelo menos doze corpos-de- prova, para cada uma das resistências a serem determinadas. Na falta de experimentação específica para obtenção de valores de resistência mais precisos, podem ser usadas as relações entre resistência indicadas abaixo: 0,cf 77,0 f f k,0t k,0c 0,1 f f k,0t k,tM 25,0f f k,0c k,90c 0,1 f f k,0c k,0e 25,0 f f k,0c k,90e coníferas dicotiledôneas 15,0 f f k,0c k,0v 12,0 f f k,0c k,0v Em projetos de estruturas de madeira, visando à padronização das propriedades da madeira, a NBR 7190:1997 adota o conceito de classes de resistência, propiciando, assim, a utilização de várias espécies com propriedades similares em um mesmo projeto. Para isto, o lote de madeira deve ter sido classificado e o revendedor deve apresentar certificados de laboratórios idôneos, que comprovem as propriedades do lote dentro de uma das classes de resistência. CONÍFERAS – Valores da condição de referência U=12% Classes (MPa) (MPa) (MPa) (kg/m³) (kg/m³) C20 20 4 3.500 400 500 C25 25 5 8.500 450 550 C30 30 6 14.500 500 600 DICOTILEDÔNEAS – Valores da condição de referência U=12% Classes (MPa) (MPa) (MPa) (kg/m³) (kg/m³) C20 20 4 9.500 500 650 C30 30 5 14.500 650 800 C40 40 6 19.500 750 950 C60 60 8 24.500 800 1000 k,0cf k,0cf k,0vf k,0vf m,0cE m,0cE bás bás 12 12 CALIL, C. Jr.; et al (2006). Manual de projeto e construção de pontes de madeira. São Carlos: Suprema, 2006. 252p. ISBN: 85-98156-19-1. Valor médio ( ou ) de uma propriedade de resistência ou de rigidez da madeira, necessária na elaboração de projetos estruturais, é determinado pela média aritmética dos valores obtidos nos ensaios para a caracterização correspondente. Valor característico inferior ( ou ) é convencionalmente adotado como aquele que tem apenas 5% de probabilidade de não ser atingido em um dado lote do material. Valor característico superior ( ou ) é aquele que tem apenas 5% de probabilidade de ser ultrapassado em um dado lote de material. mf mE inf,kf inf,kE sup,kf sup,kE valor característico da resistência à tração paralela às fibras valor característico da resistência ao embutimento paralelo às fibras valor característico da resistência à compressão paralela às fibras valor característico da resistência ao cisalhamento paralelo às fibras valor médio do módulo de elasticidade na compressão paralela às fibras densidade básica densidade aparente à umidade de referência de 12% k,cf 0 k,0vf m,0cE bás 12 k,ef 0 k,tf 0 Para as espécies conhecidas, já investigadas por laboratórios idôneos, das quais tenham sido apresentados os valores médios das resistências admite-se a seguinte relação: 12,m12,k f7,0f OBS.: Válida para as resistências a solicitações normais paralelas às fibras. 12,m,v12,k,v f54,0f Coeficiente de minoração dos materiais Estados limites últimos Estados limites de utilização w 1,4 compressão paralela às fibras 1,8 tração paralela às fibras 1,8 cisalhamento paralelo às fibras w 1w Leva em consideração a variabilidade da resistência do material de um mesmo lote, diferenças em relação ao material de confecção da amostra e reduções decorrentes do modelo de cálculo. w k imod,d R kR w coeficiente de minoração (ou ponderação) das propriedades da madeira coeficientes de modificação, considerando influências não cobertas por . imod,k w O texto atual da NBR 7190/1997 adota três coeficientes de modificação para levar em conta a classe de carregamento da estrutura, a classe de umidade admitida e o eventual emprego de madeira não classificada como isenta de defeitos. 3mod,2mod,1mod,imod, kkkk A norma não considera ainda os efeitos da temperatura e dos processos de tratamento preservativo aplicados às peças estruturais, especialmente nos casos de espécies de reflorestamento com elevadas taxas de crescimento anuais. 1mod,k Classe de carregamento Tipos de produto Madeira serrada, madeira laminada colada, madeira compensada Madeira recompostaPermanente 0,60 0,30 Longa duração 0,70 0,45 Média duração 0,80 0,65 Curta duração 0,90 0,90 Instantânea 1,10 1,10 Classe Período acumulado de tempo de atuação da carga variável principal de uma combinação de ações Permanente Vida útil da construção Longa duração Mais de 6 meses Média duração 1 semana a 6 meses Curta duração Menos de 1 semana Instantânea Muito curta Ensaio é de curta duração (carga atua cerca de 5 minutos). Ruptura retardada: com carga inferior mantida alguns dias ou meses (fenômeno da acumulação de danos). Mas se a peça é rompida sob impacto a tensão resistente é maior que a obtida no ensaio de curta duração. Classe de umidade Tipos de produto Madeira serrada, madeira laminada colada, madeira compensada Madeira recomposta (1) e (2) 1,0 1,0 (3) e (4) 0,8 0,9 2mod,k Caso a madeira seja utilizada submersa, deve-se adotar o seguinte valor para o coeficiente de modificação: Kmod,2 = 0,65. 3mod,k Tipos de produto Tipos de madeira categoria Madeira serrada dicotiledôneas 1ª categoria 1,0 2ª categoria 0,8 coníferas 1ª ou 2ª categoria 0,8 Madeira laminada colada qualquer Peça curva (*) 1,0-2000(r/t)2 Peça reta 1,0 3mod,k (*) t é a espessura das lâminas e r é o menor raio de curvatura das lâminas A condição de madeira de primeira categoria somente pode ser admitida se todas as peças estruturais de um determinado lote forem classificadas como isentas de defeitos, por intermédio de método visual normalizado e submetidas a uma classificação mecânica que garanta a homogeneidade da rigidez das peças. Não é permitido classificar como de primeira categoria as peças de madeira submetidas apenas pelo método visual de classificação. No caso das coníferas, em quaisquer casos, =0,8. Isto se deve ao fato de que, nessas madeiras, é altamente significativo o risco da presença de nós no interior das peças estruturais, não detectáveis apenas pela inspeção visual. 3mod,k Presença de nós Presença de fibras reversas Presença de fendas Presença de manchas Abaulamento e arqueadura Porcentagem de madeira de verão na seção transversal (característica relacionada ao peso específico) Obs.: classificação mecânica através de ensaio de flexão, relações empíricas entre módulo de deformação e resistência. valor médio do módulo de elasticidade longitudinal obtido no ensaio de compressão paralela às fibras ( ). valor médio do módulo de elasticidade obtido no ensaio de compressão normal às fibras ( ). Consideram-se equivalentes os valores médios do módulo de elasticidade longitudinal obtidos nos ensaios de compressão paralela às fibras e de tração paralela às fibras ( = ). A caracterização simplificada permite a relação: m,0cE m,90cE m,0tE m,0cE 20 E E 090 Pode ser obtido através de ensaios específicos ou como parte do valor de E0, dado pela relação: EM= 0,85 E0 para as coníferas EM= 0,90 E0 para as dicotiledôneas Nas verificações dos estados limites últimos ou de utilização que dependem dos parâmetros de rigidez da madeira, o módulo de elasticidade longitudinal deve ser tomado com o valor efetivo: O módulo de elasticidade transversal pode ser estimado por: 0c3mod,2mod,1mod,ef,0c E.kkkE 20 E G ef,0c ef Determinar o valor de cálculo da resistência da madeira à compressão paralela às fibras da espécie Cupiúba (Goupia glabra). Dados: valor médio da resistência à compressão paralela às fibras da espécie, determinado em laboratório idôneo, igual a 54,4 MPa; carregamento de longa duração; peças estruturais de madeira serrada não classificada; classe de umidade 4. O valor de cálculo (projeto) da resistência à compressão paralela é dada pela expressão: w k,0c 3mod,2mod,1mod,d,0c f .kkkf No caso de compressão paralela às fibras, 4,1w Em se tratando de carregamento de longa duração e madeira serrada, tem-se 7,0k 1mod, Para classe de umidade 4 e madeira serrada, Como as peças estruturais não foram classificadas, 8,0k 2mod, 8,0k 3mod, O valor médio da resistência à compressão paralela foi determinado em laboratório idôneo. Assim: MPa38547,0f7,0f m,0ck,0c Portanto, substituindo-se esses valores tem-se: MPa12 4,1 38 8,08,070,0f d,0c O cálculo de estruturas contendo peças solicitadas em direção inclinada em relação às fibras, terá o valor da resistência calculado através da fórmula de Hankinson: Inclinações menores que 6° (arco tangente igual a 0,10) são considerados como paralelos às fibras, portanto não é necessário usar a fórmula de Hankinson. A madeira é um material viscoelástico, ou seja, sua deformação sob esforços depende do histórico de carregamento. Para uma carga constante aplicada em um intervalo de tempo, além da deformação elástica imediata, apresentará um acréscimo de deformação (deformação lenta, fluência) que depende do tempo em que a carga ficou aplicada. Para valores de cargas usuais da prática de projeto, além da deformação elástica, deve-se considerar a deformação de fluência que cresce assintoticamente, estabilizando-se em uma deformação total: As deflexões das peças de madeira, a longo prazo, podem ser estimadas com um módulo de elasticidade efetivo reduzido em relação ao valor médio E medido em ensaios rápidos: )1(imediatofluênciaimediatototal E. 1 1 E ef,c Para peças estruturais de madeira serrada de segunda qualidade e de madeira laminada colada submetidas a carregamentos de longa duração, na ausência de determinação experimental específica, permite-se a adoção de critérios simplificados para a determinação da resistência de cálculo em função da resistência de cálculo na compressão paralela às fibras. A resistência das ligações por pinos, segundo JOHANSEN(1949), depende da resistência da madeira ao embutimento do parafuso (fe) e da resistência do pino à flexão(fy). Os conceitos básicos de resistência ao embutimento foram apresentados por ALMEIDA (1987), no primeiro estudo sobre o embutimento de pinos metálicos em ligações de madeira realizado no Brasil, onde afirma que a pressão de contato aplicada pelo pino à parede do furo causa um estado múltiplo de tensões nesta região, que tende a embutir o pino na madeira. Segundo Almeida, as tensões de embutimento podem decorrer da própria cravação do pino no ato da construção ou de uma ação externa, induzida pelo comportamento solidário das peças de madeira. Segundo a NBR 7190/97, a resistência de embutimento (fwe ou fe) é definida pela razão entre a força Fe que causa a deformação específica residual de 2‰, e a área de embutimento do pino Ae=td, determinada no ensaio do corpo-de-prova mostrado na figura: OBS. Pfeil e Chico não mencionam esta tabela da norma. Atenção ftd=fcd (de cálculo) OBS.: αn leva em conta a maior rigidez da madeira para esforços aplicados em pequena área, devido á deformação local que solicita as fibras à tração. Item 6.3.3 NBR 7190:1997 Caracterização simplificada da resistência da madeira serrada Permite-se a caracterização simplificada das resistências da madeira de espécies usuais a partir dos ensaios de compressão paralela às fibras. Para as resistências a esforços normais, admite-se um coeficiente de variação de 18% e para as resistências a esforços tangenciais um coeficiente de variação de 28% . Para as espécies usuais, na falta da determinação experimental, permite-se adotar as seguintes relações para os valores característicos das resistências: CENTRO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS E DA MADEIRA -UFPR Departamento de Engenharia e Tecnologia Florestal PROPRIEDADES DA MADEIRA Prof. Dr. João Carlos Moreschi Fevereiro/ 2.005 , 4ª edição – novembro / 2.012 CENTRO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS E DA MADEIRA - UFPR Departamento de Engenharia e Tecnologia Florestal PROPRIEDADES DA MADEIRA Prof. Dr. João Carlos Moreschi Fevereiro/ 2.005 , 4ª edição – novembro / 2.012 CENTRO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS E DA MADEIRA - UFPR Departamento de Engenharia e Tecnologia Florestal PROPRIEDADES DA MADEIRA Prof. Dr. João Carlos Moreschi Fevereiro/ 2.005 , 4ª edição – novembro / 2.012 CENTRO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS E DA MADEIRA - UFPR Departamento de Engenharia e Tecnologia Florestal PROPRIEDADES DA MADEIRA Prof. Dr. João Carlos Moreschi Fevereiro/ 2.005 , 4ª edição – novembro / 2.012 CENTRO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS E DA MADEIRA - UFPR Departamento de Engenharia e Tecnologia Florestal PROPRIEDADES DA MADEIRA Prof. Dr. João Carlos Moreschi Fevereiro/ 2.005 , 4ª edição – novembro / 2.012 A resistência à fadiga de materiais fibrosos é em geral superior à dos materiais cristalinos como os metais. O efeito da fadiga não precisa, em geral, ser considerado nos cálculos de dimensionamento, pois as tensões de projeto são inferiores à resistência à fadiga.
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