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F u n d a m e n to s e M e to d o lo g ia d o E n s in o d e L ín g u a P o rt u g u e s a Veridiana Almeida 1Capa.indd 1 22/12/2009 18:07:25 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 3ª PROVA - 22/12/2009 APROVADO: _______________ 4Capa.indd 1 28/12/2009 18:19:49 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa Veridiana Almeida Curitiba 2010 Fund_met_ens_LP.indd 1 22/12/2009 18:02:52 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 5ª PROVA - 22/12/2009 APROVADO: _______________ Faculdade educacional da lapa diretor acadêmico Osíris Manne Bastos diretor administrativo-Financeiro Cássio da Silveira Carneiro diretor de expansão e Qualidade acadêmica Alfredo Angelo Pires diretor de expansão em ead Alex Rosenbrock Teixeira coordenadora do curso de pedagogia ead Vívian de Camargo Bastos Secretária Geral Dirlei Werle Fávaro SiStema educacional eadcon diretor executivo Julián Rizo diretores administrativo-Financeiros Ademilson Vitorino Júlio César Algeri diretora de operações Cristiane Andrea Strenske diretora de marketing Ana Cristina Gomes coordenadora Geral Dinamara Pereira Machado editora Fael coordenador editorial William Marlos da Costa edição Lisiane Marcele dos Santos revisão Jaqueline Nascimento projeto Gráfico e capa Denise Pires Pierin diagramação Bruna Maria Cantador Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Siderly Almeida CRB9/1022 Almeida, Veridiana A447f Fundamentos e metodologia do ensino de língua portuguesa / Veridiana Almeida. – Curitiba: Editora Fael, 2010 76 p.: il. Nota: conforme Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. 1. Língua portuguesa (Ensino fundamental). 2. Professores – Formação. I. Título. CDD 378 Direitos desta edição reservados à Faculdade Educacional da Lapa – Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. Fund_met_ens_LP.indd 2 22/12/2009 17:44:35 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 7ª PROVA - 22/12/2009 APROVADO: _______________ A justificativa principal e o argumento mais forte para o desenvolvi- mento da presente obra encontram-se na construção de subsídios para o processo de formação do professor que atua tanto na Educação Infantil quanto no Ensino Fundamental. Percebe-se nesse processo a necessida- de de orientar e colaborar para a construção de um caminho que, ao que parece, possui um campo fértil a ser estudado e teorizado. Este estudo tem por objetivo servir como aprofundamento teórico, fonte de reflexão e norteador de práticas conscientes e comprometidas do professor. É uma obra mediadora, que possibilita a articulação entre a linguística, o materialismo histórico e a Língua Portuguesa. As atuações éticas, sérias e metodologicamente fundamentadas da autora sedimen- tam as bases teóricas da área de conhecimento escolhida e preparam terreno para novos contatos e uma interlocução mais qualificada com outras áreas afins, vinculadas à própria natureza da linguagem. Pensar no poder da palavra como agente transformador, veículo e instrumento para circulação de pensamentos, ideias, desejos, anseios, projetos e valores, utilizando as diferentes linguagens, é pensar no ho- mem transpondo seus limites, sendo influenciado e influenciando inter- câmbios, obtendo resultados significativos para a realidade vivenciada no grupo a que pertence. É nesse contexto de mudanças, em que a comunicação é primordial, assumindo seu papel na construção das inter-relações, enredando os indiví- duos numa prática de intenções, ações e reações, que o professor orienta e conduz um trabalho coletivo, desenvolvendo e viabilizando atividades peda- gógicas para uma educação de qualidade contextualizada com a realidade. Os estudos e as considerações aqui enunciadas permitem uma re- flexão sobre o comportamento humano no seu contexto histórico, na forma de organizar a construção dos conhecimentos para satisfazer apresentação apresentação Fund_met_ens_LP.indd 3 18/12/2009 14:49:49 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 3 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ as condições de vida e o desenvolvimento da espécie, marcando sua existência pela busca e posse das informações galgadas em intenções, almejando a conquista do poder sobre outros indivíduos ou objetos en- volvidos nas relações estabelecidas. Vale ressaltar que a comunicação é uma necessidade intimamente ligada ao homem, pois, como ser social, atua e escolhe a ação que melhor conduz seu aperfeiçoamento e plenitude, e o poder que a comunicação exerce na vida de qualquer indivíduo beneficia os interesses individuais ou coletivos. Dentro desse contexto, destaca-se o trabalho do professor, que, nas relações construídas para a sociedade, subsidia saberes que integram e sistematizam os diferentes campos científicos, investigando, organi- zando ações de práticas educativas, formulando objetivos, viabilizando assim uma educação mais humana e um processo de aprendizagem mais significativo. Com essa contextualização teórica da palavra, a autora procurou ex- trair a importância que a expressão da linguagem possui na construção e reconstrução do pensamento, seus efeitos na organização e interpre- tação das significações que o ser faz quando interage com o mundo que o cerca. Não há dúvidas de que sua procura resultou em uma obra que considero de fundamental importância e será profícua para leitura, estu- do e análise, e norteadora para os que começam a caminhada de ensinar, ou seja, os acadêmicos de licenciatura. Regina Aparecida Milléo de Paula* * Possui Mestrado em Ciências da Linguagem pela Universidade do Sul de Santa Catarina (2004). Atualmente é coordenadora de Avaliação EaD e professora titular da Faculdade Educacional da Lapa, membro do corpo editorial da revista PesquisAção e professora da Rede Estadual de Ensino. apresentação apresentação Fund_met_ens_LP.indd 4 18/12/2009 14:49:49 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 4 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ sumário Prefácio ........................................................................................ 7 1 Conceitos e princípios básicos para o ensino da Língua Portuguesa .................................................... 9 2 Concepções de linguagem .......................................................... 19 3 Aquisição e desenvolvimento da linguagem .............................. 27 4 Letramento e práticas de leitura ............................................... 37 5 Letramento e práticas de escrita ............................................... 45 6 Trabalho com gêneros textuais .................................................. 55 7 Parâmetros Curriculares Nacionais e a Língua Portuguesa ...................................................................... 63 Referências ................................................................................ 71 sumário apresentação Fund_met_ens_LP.indd 5 18/12/2009 14:49:49 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 5 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ prefácio Fund_met_ens_LP.indd 6 18/12/2009 14:49:49 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 6 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Capítulo 7 prefácio prefácio Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave? Carlos Drummond de Andrade O fragmento do poema “Procura da Poesia”, de Carlos Drummond de Andrade (1945, p. 10), ajuda-nos a refletir sobre a palavra e sua carga significativa. Aconselha-nos aespreitar as palavras, escutá-las, seduzi-las, saboreá-las, as quais, “sob a face neutra”, escon- dem, cuidadosamente, tesouros esplêndidos e inesperados. Elas são ativas e nos interrogam, uma vez que podem ultrapassar seus limites de significação, conquistar novos espaços e mostrar novas possibilida- des de perceber a realidade. Em nossa proposta, o caminho que a linguagem percorre é este: uma forma específica de interagir e não simplesmente um conjun- to de informações sobre a língua, sendo o princípio estruturador, o equilíbrio entre tradição e modernidade, explícito, mais enfaticamen- te na reordenação de conteúdos tradicionais e na introdução de novos conteúdos que se pautam no universo contemporâneo da ciência da linguagem e nas suas produções acerca do ensino da língua materna. Por isso, os capítulos que se seguem propõem trabalhos com a exposição da teoria, para possibilitar a reflexão e o senso crítico, e situações que desafiem a prática, como a leitura, a produção oral e escrita, sem, no entanto, abstrair-se o papel da linguagem na criação Fund_met_ens_LP.indd 7 22/12/2009 13:48:49 06 PEDAG. – 5º PERÍODO – 5ª PROVA – 22/12/2009 APROVADO NÃO ( ) SIM ( ) ____________ 8 FAEL – Faculdade Educacional da Lapa estética, na construção de relações humanas significativas e no desenvol- vimento da compreensão das relações sociais. Assim, a língua é vista de forma integrada e dinâmica. Constitui-se e nos constitui, cria e recria, humaniza e nos projeta em direção ao outro, ao mundo e à vida. Sem a linguagem, seríamos incapazes de realizações que nos transcendem e nos distinguem, isto é, que nos tornam únicos. É com esse cuidado e com respeito que este material oferece subsí- dios aos Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa. No entanto, a “chave” que abre esse potencial expressivo da linguagem, para entrar no mundo das palavras com uma abordagem que lhes evi- dencia a especificidade, e, ao mesmo tempo, permite várias leituras, está com você, aluno(a)! Por isso, “trouxeste a chave”? A autora.* * Veridiana Almeida é doutoranda em Teoria Literária pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente é professora titular da Faculdade Educacional da Lapa, nas modalida- des presencial e Educação a Distância, níveis graduação e pós-graduação. prefácio prefácio Fund_met_ens_LP.indd 8 28/12/2009 10:29:30 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 6ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ 9 Os conceitos e princípios que serão abordados neste capítulo servirão de base para as demais explanações do discurso ao longo do presente material, uma vez que a maioria das pessoas utiliza as palavras “linguagem”, “língua” e “fala” para designar a mesma realidade. Porém, do ponto de vista linguístico, esses termos não devem ser confundidos. É evidente que a distinção que se faz entre “linguagem”, “língua” e “fala” tem caráter meramente metodológico, pois esses três concei- tos revelam aspectos diferentes de um processo amplo, a comunica- ção humana. Isso, provavelmente, explica o motivo por que as pessoas empregam essas palavras para designar a mesma realidade. O enfoque também será dado às variações linguísticas, já que no interior de uma mesma língua, há muitas variações. No entanto, tais assuntos não têm a intenção de se esgotar aqui. Sugere-se o trabalho expansivo a que o conhecimento está subordina- do: a pesquisa para complementar as leituras com textos variados sobre o conteúdo, tendo como objetivo proporcionar outras instigantes refle- xões acerca do ensino da língua materna no cotidiano escolar. Linguagem Atribui-se o nome de linguagem a todo sistema de sinais convencio- nais que permite a realização de atos de comunicação. É o meio pelo qual a expressão de sentimentos, ideias, desejos e pensamentos se concretiza, por isso ela está presente em todas as atividades humanas. A linguagem se origina da necessidade do homem comunicar-se com o outro e consigo mesmo, já que é impossível transmitir informações mente a mente. Conceitos e princípios básicos para o ensino da Língua Portuguesa 1prefácio Fund_met_ens_LP.indd 9 18/12/2009 14:49:49 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 9 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 10 A linguagem é um fenômeno natural equivalente para todos os ho- mens, ainda que se manifeste em línguas que se fizeram historicamen- te desiguais. Camara Jr. (1977, p. 159) propõe a seguinte definição: “Linguagem. Faculdade que tem o homem de exprimir seus estados mentais por meio de um sistema de sons vocais chamado língua, que os organiza numa representação compreensiva em face do mundo exterior objetivo e do mundo subjetivo interior”. Assim, observa-se que são bastante estreitos os laços entre pensa- mento e linguagem. O homem desenvolveu sua inteligência graças à linguagem e seu aperfeiçoamento. Enquanto o animal, sem linguagem, não evolui, o homem tem imensas possibilidades de transformações. Há inúmeras linguagens: a linguagem dos surdos, a linguagem dos sinais de trânsito, etc. De acordo com o sistema de sinais que o indiví- duo se utiliza, costuma-se dividir a linguagem em verbal e não verbal. Linguagem verbal ● : é aquela cujos sinais utilizados para atos de comunicação são as palavras. A língua utilizada para atos de co- municação é língua verbal. A palavra verbal provém do latim verbale, que, por sua vez, provém de verbu, que significa palavra. Linguagem não verbal ● : é aquela que utiliza para atos de comunicação outros sinais que não as palavras. Por exemplo: o conjunto de sinais de trânsito utilizado para orientar mo- toristas, as bandeiras que orientam os pilotos em corridas de automóveis, os gestos, mími- cas, desenhos, símbolos, etc. Língua Língua não se confunde, pois, com linguagem. A língua faz parte da linguagem. Segundo Saussure (1949, p. 25), “ela [a língua] é ao mes- mo tempo um produto social da faculdade da linguagem e um conjun- to de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos”. Semáforo, exemplo de uma lingua- gem não verbal. HA AP M ed ia L td . / P hi lip M ac Ke nz ie Fund_met_ens_LP.indd 10 28/12/2009 10:31:33 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 6ª PROVA - 28/12/2009 APROVADO: _______________ Capítulo 1 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 11 De modo geral, cada país tem sua língua. É o que se chama língua comum ou nacional. Assim, na França, fala-se francês e, no Japão, japo- nês. Há, porém, países com mais de uma língua nacional – a Suíça, por exemplo, tem três línguas nacionais. Por outro lado, uma língua pode ser comum a mais de um país – é o caso do Português, língua nacional de Portugal e do Brasil. De acordo com Terra (2002, p. 13), o caráter social da língua é facilmente percebido quando leva- mos em conta que ela existe antes mesmo de nós nascermos: cada um de nós já encontra a língua formada e em funciona- mento, pronta para ser usada. E mesmo quando deixarmos de existir, a língua subsistirá independente de nós. Dessa forma, observa-se que a língua é exterior aos indivíduos e, por isso, não pode ser criada ou modificada por apenas um deles. Ela só existe em decorrência de uma espécie de “contrato coletivo” que se estabeleceu entre as pessoas e ao qual todos aderiram. Segundo Barthes (1999, p. 10): Como instituição social, ela [a língua] não é absolutamente um ato, escapa a qualquer premeditação; é a parte social da linguagem; o indivíduo não pode, sozinho, nem criá-la nem modificá-la. Trata-se essencialmente de um contratocoletivo ao qual temos de submeter-nos em bloco se quisermos comu- nicar; além disso, este produto social é autônomo, à maneira de um jogo com suas regras, pois só se pode manejá-lo depois de uma aprendizagem. Nesse sentido, a língua é uma instituição social de caráter abstrato. É instituição porque é uma estrutura decorrente da necessidade de co- municação, com um conjunto de convenções necessárias para permitir o exercício da faculdade da linguagem aos indivíduos; é social porque, sendo exterior aos falantes, pertence à comunidade linguística como um todo; é abstrata porque só se realiza por meio da fala. Fala Como visto, a língua é um bem público, ou seja, pertence a toda comunidade de falantes, que pode utilizá-la como meio de comuni- cação. A utilização que cada indivíduo faz da língua, a fala, por outro lado, possui um caráter privado, pertencendo exclusivamente a cada indivíduo que a utiliza. É o aspecto individual da linguagem humana. Fund_met_ens_LP.indd 11 22/12/2009 13:49:20 06 PEDAG. – 5º PERÍODO – 5ª PROVA – 22/12/2009 APROVADO NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 12 De acordo com Dubois (1993, p. 261), A fala é uma função não instintiva, mas adquirida, uma função de cultura. Se o indivíduo fala, comunica sua experiência, suas ideias, suas emoções, ele deve esta faculdade ao fato de ter nasci- do no seio de uma sociedade. Eliminemos a sociedade, e o ho- mem terá todas as possibilidades de andar; ele jamais aprenderá a falar. [...] A fala é um ato individual de vontade e inteligência. Assim, Dubois confere que a fala é um ato de vontade e in- teligência no qual se distinguem as combinações pelas quais o fa- lante realiza o código da língua, com o objetivo de exprimir seu pensamento pessoal e o mecanis- mo psicofísico que lhe permite exteriorizar essas combinações. Variações linguísticas Os inúmeros atos de fala que se verificam numa comunidade são, indubitavelmente, variados. Pode-se afirmar que nenhuma língua se apresenta como entidade homogênea; ela é representada por um con- junto de variedades, que são, segundo Marote e Ferro, na obra Didática da Língua Portuguesa (1994): variedades espaciais ou dialetos geográficos. Ex: o dialeto gaúcho, a) carioca, paranaense, etc. variedades de classe social ou dialetos sociais. Ex: a língua especial b) dos médicos, dos diferentes tipos de gíria, etc. variedades de grupos de idades ou dialetos etários. Ex: a linguagem c) infantil, dos jovens, etc. variedades de sexo ou dialetos masculino e feminino. Ex: a lingua-d) gem específica das mulheres, etc. as variações de gerações ou variedades diacrônicas. Ex: o português e) arcaico, etc. De acordo com Brito (1989, p. 106), na escola é preciso salientar as variedades linguísticas, pois a sociolinguística argumenta que “nenhuma Psicofísico: correlação entre os fenômenos mentais e corporais. Linguística: estudo científico da linguagem. Em geral, define-se a linguística como a ciência da linguagem ou como estudo científico da linguagem (SAUSSURE, 1949). Saiba mais Fund_met_ens_LP.indd 12 18/12/2009 14:49:51 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 12 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Capítulo 1 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 13 variedade linguística é melhor ou pior que outra”. O que existe por trás dessa ideia é um equívoco acerca das noções de certo e errado, já que a escola de hoje não recebe apenas alunos provenientes das camadas mais beneficiadas da população. A democratização da escola, ainda que falsa, trouxe em seu interior outra clientela e com ela diferenças dialetais bastan- te acentuadas. Assim, os professores não ministram aulas só para aqueles que pertencem a um determinado grupo social. Representantes de outros grupos estão sentados nos bancos escolares e eles falam diferente. A língua culta ou padrão não deve ser considerada a única forma de expressão do nosso idioma, principalmente pelo motivo de nossa nação ter sido construída a partir da mistura entre diversos povos, com variadas lín- guas, como também pela imensa extensão territorial. A distância geográfica e a ausência ou dificuldade de comunicação entre os habitantes de regiões distintas faz com que, ao fim de um período, as falas das regiões estejam bem diferentes. Há casos em que a diferenciação regional chega a ser tanta que leva à mútua incompreensão. Um exemplo disso são os variados no- mes dados a certas coisas, de acordo com o estado do país em que se está. A abóbora (nos estados do sul do país) chama-se jerimum, no norte e nordes- te; do mesmo modo, a mandioca (em São Paulo) recebe o nome de aipim, no Rio de Janeiro, e de macaxeira, nos estados do norte e nordeste. O mapa linguístico de um país dá o aspecto de uma colcha de retalhos, como afirma Bizzocchi (2006, p. 56). É evidente, segundo Cagliari, na obra Alfabetização e linguística (1991), que a variação é, de fato, uma questão mais complexa. Ela não provém apenas da evolução histórica das línguas e de suas raízes locais, não é geograficamente delimitada, nem só aparece na sociedade estratificada à maneira das classes e grupos ét- nicos. Ela é encontrada também no comportamento linguístico de um indivíduo, em diferentes circunstâncias de sua vida, inde- pendentemente da classe social ou região a que pertença. Para ratificar tal afirmação, Faraco e Tezza (2003, p. 25) ex- põem que “cada um de nós, na Língua padrão: essa variedade é praticada pela classe social de prestígio, segue as regras da gramática normativa e é tida como parâmetro para as outras variedades. Foi eleita como o padrão em decorrência da necessidade de uniformiza- ção de uma linguagem na qual serão registra- dos os documentos e os fatos da sociedade. Saiba mais Fund_met_ens_LP.indd 13 18/12/2009 14:49:51 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 13 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 14 verdade, fala muitas línguas”. A conversa com os amigos de todo dia não tem a mesma gramática da conversa com os desconhecidos; o bate-papo de uma festa não tem a mesma estrutura do bate-papo em sala de aula, o vocabulário no campo de futebol é diferente do vocabulário pedindo um emprego, e assim por diante. Segundo os referidos autores, “cada indiví- duo é assim um processador de linguagens: de acordo com o momento, com as intenções, com a pessoa com quem se fala, muda-se a linguagem” (FARACO; TEZZA, 2003, p. 25). Diante dessa discussão, considera-se que os modos diferentes de falar acontecem porque a Língua Portuguesa, como qualquer outra lín- gua, tem caráter dinâmico, em outras palavras, está sempre em transfor- mação. Pelos usos diferenciados ao longo do tempo e nos mais diversos grupos sociais, as línguas passam a existir como um conjunto de falares diferentes ou dialetos, cada qual apresentando suas peculiaridades com relação a alguns aspectos linguísticos. Assim, para Possenti (1996, p. 10), “impor a um grupo social os valores de outro grupo, dado que a língua padrão é de fato o dialeto dos grupos sociais mais favorecidos, tornar seu ensino obrigatório para os grupos sociais menos favorecidos, como se fosse o único dialeto vá- lido, seria uma violência cultural”. Também Massini-Cagliari, na obra O texto na alfabetização (2001), coloca que o ensino da norma culta, por si só, não assume um caráter discriminador dos outros dialetos da língua. Entretanto, o desconhecimento da norma culta pode funcionar como um fator gerador de discriminação, pois esta nãoé somente um dialeto da língua, mas é um modo de falar prestigioso. Por esse motivo, é de fundamental importância que a norma culta seja apresentada aos falantes da língua, principalmente aos dialetos estigmatizados. É im- portante que ela seja mostrada como um dialeto real da língua, que tem estruturas e usos específicos, e não a partir de regras e exercícios que não ensinam nem descrevem a verdadeira estrutura linguística dessa varie- dade da língua, como ocorre na gramática normativa escolar. Na sala de aula, sugere-se que o professor trabalhe prioritariamente com atividades de linguagem em que o aluno possa fazer ações com a linguagem, jogando com interlocutores, levando o outro em consi- deração no momento de tecer o seu discurso, para adequá-lo a ele e à situação no processo de interlocução. É o domínio da linguagem que deve ser priorizado. Fund_met_ens_LP.indd 14 18/12/2009 14:49:51 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 14 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Capítulo 1 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 15 Uma sugestão de trabalho com a variação linguística em sala de aula é a comparação entre as linguagens, para uma busca de maior compreensão da natureza do processo de ensino da língua materna, visando especialmente chamar a atenção para a necessidade de a escola assumir a existência de tipos de língua falada e de contemplar estas variações levando em conta a linguagem apresentada pelo aluno. Um exemplo é o confronto das músicas Drama de Angélica e O divórcio vem aí, ambas da dupla sertaneja Alvarenga e Ranchinho (2000). A primeira apresenta a norma culta; já segunda, a variante caipira – exemplificando a questão abordada de que o uso das variedades ocorre em diferentes circunstâncias: O Drama de Angélica Ouve meu cântico quase sem ritmo Que a voz de um tísico magro esquelético... Poesia épica em forma esdrúxula Feita sem métrica com rima rápida... Amei Angélica mulher anêmica De cores pálidas e gestos tímidos... Era maligna e tinha ímpetos De fazer cócegas no meu esôfago... Em noite frígida fomos ao Lírico Ouvir o músico pianista célebre... Soprava o zéfiro ventinho úmido Então Angélica ficou asmática... Fomos ao médico de muita clínica Com muita prática e preço módico... Depois do inquérito descobre o clínico O mal atávico mal sifilítico... [...] Da teoria para a prática prática teoriapráticateoria Fund_met_ens_LP.indd 15 22/12/2009 13:49:36 06 PEDAG. – 5º PERÍODO – 5ª PROVA – 22/12/2009 APROVADO NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 16 O Divórcio Vem Aí Falado: “Êta mundo véio, hein, cumpadre? É... Violinha boa, essa, hein? Ah... Especiar memo, hein Especiar de boa, cumpadre Ô cumpadre, Ahn? Sabe de uma notícia? Ahn? Tão dizendo que o divórcio vem aí... Uai, o que é divórcio, cumpadre? Num sabe o que é divórcio, rapaz? Não! Divórcio é ansim mais ou menos, né, pre exempre Vancê casa cuma mulher, mais vancê vai, num gosta dessa mulher, né, então vancê larga dela e casa co outra, depois então vancê pre exempre num gostô mais dessa outra, vancê larga dessa e casa co outra E ansim por endiante [...] Resumo Resumo Resumo ResumoResumo Resumo Resumo Resumo A linguagem é uma característica humana universal, enquanto a língua é grupal, de um povo, usada para que haja interação entre os indivíduos. Já a fala é a realização concreta da língua feita por um indi- víduo em particular. Veja o esquema: Fund_met_ens_LP.indd 16 22/12/2009 13:49:49 06 PEDAG. – 5º PERÍODO – 5ª PROVA – 22/12/2009 APROVADO NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 1 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 17 Linguagem Língua Fala Qualquer língua falada por qualquer comunidade exibe sempre variação. Pode-se afirmar que nenhuma língua se apresenta como enti- dade homogênea. Língua e variação são inseparáveis, e essa diversidade da língua não deve ser encarada como um problema, mas como uma qualidade constitutiva do fenômeno linguístico. Os falantes adquirem as variedades linguísticas próprias da sua região, classe social, etc. Fund_met_ens_LP.indd 17 18/12/2009 14:49:51 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 17 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Fund_met_ens_LP.indd 18 18/12/2009 14:49:51 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 18 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ 19 É comum encontrar em referências teóricas três concepções que correspondem às três grandes correntes dos estudos linguísticos: a) gra- mática tradicional; b) estruturalismo; c) interacionismo. A discussão aqui proposta procurará se situar no interior da terceira concepção de linguagem, uma vez que esta implicará numa postura educacional dife- renciada, contemplando a linguagem como o lugar de constituição de relações sociais, em que os falantes se tornam sujeitos. Nesse sentido, a língua só tem existência no jogo que se faz na so- ciedade, na interação, e é no interior de seu funcionamento que se pode procurar estabelecer as regras de tal jogo. Um exemplo: considerando qualquer atividade conjunta numa sociedade simples – como trocar as aves abatidas em uma caça pelos frutos que o vizinho colheu –, é possível exercê-la sem linguagem? A reposta será sim, se por linguagem se entender apenas a fala e a escrita. Mas será não, se por linguagem se entender qualquer forma de comunicação. Essa resposta envolve tanto uma concepção de linguagem quanto uma postura relativa à educação; uma e outra se fazem presentes na arti- culação metodológica. Mediante a concepção adotada (tradicional, estru- turalista ou interacionista) é possível entender muitas coisas, por exem- plo, que costuma-se privilegiar algumas linguagens no uso do quotidiano escolar. Por que isso é feito? Preferência? Intuição? Fidelidade ao senso comum? Convém perscrutar um pouco em busca de uma resposta. Linguagem como expressão do pensamento Essa concepção representa, basicamente, os estudos tradicionais. Segundo Geraldi (1984, p. 43), “se concebermos a linguagem como Concepções de linguagem 2 Fund_met_ens_LP.indd 19 18/12/2009 14:49:51 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 19 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 20 tal, somos levados às afirmações – correntes – de que pessoas que não conseguem se expressar não pensam”. Quando se fala em gramática tradicional recorre-se, implacavel- mente, à eleição, à preocupação com uma única variedade linguística: a escrita, a formal, a erudita, a literária, a “melhor”, a única, com a conse- quente exclusão das demais variedades. Nela, ressalta-se a importância das regras a serem seguidas, em que o conceito de “certo” e “errado” é salientado – a obsessão pelo erro –, contemplando a língua não como um meio de interação, mas um conjunto de coisas certas e erradas. Essa exclusão das demais variedades vai gerar, automaticamente, o chamado “preconceito linguístico” (são atribuídos valores de certo, à fala de prestígio, e de errado, aos falares menos prestigiados) em relação à linguagem popular, à linguagem dos jovens, à linguagem dos nordes- tinos, à linguagem dos paranaenses, etc. Trata-se de um “irrealismo linguístico”, uma vez que a língua se transforma, isto é, muda através do tempo, já que é um organismo vivo. Contudo, os gramáticos alheios à evolução, aos fatos, aos usos, aos costumes, tentam manter a língua em conserva. Durante muitos anos, a escola apresentoua língua como um fato único e homogêneo, e, como já foi enfocado, a língua é um conjunto bastante heterogêneo de variedades linguísticas. Em síntese, essa concepção contempla um sistema fechado: o profes- sor como o único detentor de saberes e a gramática como centro do ensino. O professor ensina, o aluno aprende; ensinar língua é ensinar gramática. Linguagem como instrumento de comunicação Segundo Geraldi (1984, p. 43), “essa concepção está ligada à teoria da comunicação e vê a língua como código (conjunto de signos que se combinam segundo regras) capaz de transmitir ao receptador uma certa mensagem”. Em livros didáticos, esta é a concepção confessada nas ins- truções ao professor, nas introduções, nos títulos, etc. Corresponde ao estruturalismo, centrando o ensino da língua em listagens de palavras destinadas à memorização, em exercícios repetitivos, em pontos de gra- mática, concebendo a linguagem como um código a ser treinado e um comportamento a ser medido, por meio da contagem de erros. Fund_met_ens_LP.indd 20 18/12/2009 14:49:51 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 20 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Capítulo 2 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 21 O estudo da língua, apesar das propostas de inovações, ainda tende ao ensino gramatical, embora a leitura e a produção textual comecem a ganhar maior relevância na escola, ao lado dos elementos da teoria da co- municação. Com isso, não se quer dizer, é evidente, que a língua não seja instrumento de comunicação, mas, obviamente, não se resume a tal. Linguagem como forma de interação Para Geraldi (1984, p. 43), mais do que possibilitar uma transmis- são de informações de um emissor a um receptor, “a linguagem é vista como um lugar de interação humana: através dela o sujeito que fala pratica ações que não conseguiria praticar a não ser falando; com ela o falante age sobre o ouvinte, constituindo compromissos e vínculos que não pré-existiam antes da fala”. O interacionismo tem o ensino centrado no uso e na reflexão sobre a linguagem, na produção de textos e na proposta de atividades a partir do diagnóstico avaliativo do estado da linguagem do aluno, que sinaliza a direção a ser tomada. O objetivo que pretende ser alcançado no final do trabalho com a língua é que o aluno domine a linguagem em toda sua dimensão dis- cursiva, usando-a adequadamente, nas modalidades oral e escrita, nas mais diversas situações. Para isso, não basta apenas o domínio do código linguístico e das convenções ortográficas. É necessário muito mais. É preciso contem- plar a linguagem enquanto uso efetivo em situações reais e não apenas em simulações de exercícios escolares. Assim, percebendo a linguagem enquanto processo interlocutivo, e considerando a interação verbal como o lugar de produção da lingua- gem, assume-se que a língua não é apenas um código, um sistema pron- to. Seu todo significativo é obtido no uso da linguagem entre pessoas. Por isso, na perspectiva interacionista, considera-se que a lingua- gem é um trabalho social e histórico no qual as pessoas se constituem, e na constituição da linguagem os discursos operam com recursos lin- guísticos e da situação, sempre retomando experiências anteriores. Sendo assim, assume-se o pressuposto de que as relações entre mun- do e linguagem são convencionais, nascem da procura e necessidade Fund_met_ens_LP.indd 21 18/12/2009 14:49:51 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 21 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 22 das sociedades, dos seus grupos sociais e das transformações pelas quais elas passam. Daí a necessidade de conhecimentos elaborados, por formas de linguagem e atividades coletivas em que os sujeitos da prática mediam situações interativas com sujeitos participantes. Oferecer a contextualiza- ção de saberes para que haja uma significação ou (re)significação de senti- dos singulares para uma transformação histórica e social do estudante. Por outro lado, independentemente se o educando ingressará ou não no mundo do trabalho, a escola também deve oferecer a literatura para que o aluno se forme literariamente, situando-se em tempos e espaços próximos e remotos da sociedade ou de grupos de intelectuais. Esse con- tato com textos temáticos, paralelos e/ou individualizados de autores de literatura brasileira e estrangeira fará com que esse “leitor-mirim” torne-se um leitor-ledor que se apropria efetivamente de outras linguagens (estéti- cas ou não). Dessa forma, o ensino estará colaborando para que o aluno se aproprie realmente daquilo a que ele tem direito: o letramento. Letramento: “é o resultado da ação de ensinar e aprender as práticas so- ciais da leitura e da escrita; é também o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais” (SOARES, 1998, p. 38). Trata-se, segundo Costa Val (2006, p. 19), de um processo que tem início quando a criança começa a conviver com as diferentes manifestações da escrita na socie- dade (placas, rótulos, embalagens comerciais, revistas, etc.) e se prolonga por toda a vida, com a crescente possibilidade de participação nas práticas sociais que envolvem a língua escri- ta, como a leitura e redação de contratos, de livros científicos, de obras literárias, por exemplo. Kate M. Chong (apud SORES, 1998, p. 410), define o que é letramento no seguinte poema: O que é Letramento? Letramento não é um gancho em que se pendura cada som enunciado, não é treinamento repetitivo Fund_met_ens_LP.indd 22 18/12/2009 14:49:51 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 22 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Capítulo 2 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 23 de uma habilidade, nem um martelo quebrando blocos de gramática. Letramento é diversão é leitura à luz de vela ou lá fora, à luz do sol. São notícias sobre o presidente O tempo, os artistas da TV e mesmo Mônica e Cebolinha nos jornais de domingo. É uma receita de biscoito, uma lista de compras, recados colados na geladeira, um bilhete de amor, telegramas de parabéns e cartas de velhos amigos. É viajar para países desconhecidos, sem deixar sua cama, é rir e chorar com personagens, heróis e grandes amigos. É um atlas do mundo, sinais de trânsito, caças ao tesouro, manuais, instruções, guias, e orientações em bulas de remédios, para que você não fique perdido. Letramento é, sobretudo, um mapa do coração do homem, um mapa de quem você é, e de tudo que você pode ser. No decorrer do presente material, muitas vezes serão abordadas as práti- cas do letramento e algumas possibilidades de se desenvolver esse trabalho integrado em sala de aula. Fund_met_ens_LP.indd 23 18/12/2009 14:49:51 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 23 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 24 Alguns objetivos do interacionismo Representada no Brasil de modo intenso, essa concepção de lin- guagem, o interacionismo, tem entre seus seguidores mais representati- vos Preti (1991, 1993); Koch (1992); Marcuschi (1986, 1992, 1995), Kleiman (1995), Urbano (2000) e muitos outros. Essa perspectiva tem grande sensibilidade para as estratégias de organização textual-discursi- va preferencial nas modalidades falada e escrita. Nesse sentido, a partir do que foi desenvolvido por esses teóricos, é possível observar os seguintes objetivos: refletir sobre os textos produzidos, lidos ou ouvidos, de modo ● a atualizar o gênero e tipo de texto, assim como os elementosgramaticais empregados na sua organização; empregar a língua oral em diferentes situações de uso, saber ● adequá-la a cada contexto e interlocutor, reconhecer as in- tenções implícitas nos discursos do cotidiano e propiciar a possibilidade de um posicionamento diante deles; respeitar as variedades linguísticas do educando, mostrando ● que não há um único português; desenvolver o uso da língua escrita em situações discursivas ● por meio de práticas sociais que consideram os interlocutores, seus objetivos, o assunto tratado, os gêneros e suportes textu- ais, além do contexto de produção/leitura; aprimorar, pelo contato com os textos literários, a capacidade ● de pensamento crítico e a sensibilidade estética, bem como propiciar pela literatura a constituição de um espaço dialó- gico que permita a expansão lúdica da oralidade, da leitura e da escrita; reconhecer a importância da norma culta da língua, de ma- ● neira a propiciar acesso aos recursos de expressão e com- preensão de processos discursivos, como condição para tor- nar o aluno capaz de enfrentar as contradições sociais em que está inserido e para a afirmação da sua cidadania, como sujeito singular e coletivo. Fund_met_ens_LP.indd 24 18/12/2009 14:49:52 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 24 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Capítulo 2 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 25 Trabalhando com a língua No trabalho com a língua, o professor é o mediador entre dois sujeitos: aquele que escreve e aquele que lê. Deverá, portanto, incentivar a participação do aluno na construção de significados dos textos e reconhecer a natureza pluris- significativa dos textos e enunciados. Por meio da leitura de textos curtos e/ou longos ou de fragmentos textuais, o aluno perceberá que em todo texto há marcas ideológicas e é necessário que sejam desvendadas. Esse trabalho prático com textos e com a leitura signifi- cativa levará o educando a compreender o mundo que o cerca e a observá-lo. A simulação de situações incitativas conduz o estudante a sentir desejo de ler e aceitar ou refutar ideias contidas nos textos informativos e/ou literários de época e atuais. O aluno terá a oportunidade de interagir oralmente, por meio de questionamen- tos, relatos, exposições de experiências vivenciadas, dramatizações, debates, formulação de hipóteses, levantamento de dados, apresentação de trabalhos de pesquisa, entre outras formas que se fizerem necessárias para adequar-se à turma e à situação nova surgida em sala de aula, desde que não haja desvio do tema em questão. Da teoria para a prática prática teoriapráticateoria Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo São três as concepções de linguagem apresentadas por diversos teóricos. A linguagem é a expressão do pensamento – corresponde à ● gramática tradicional: ler: decodificar;• escrever: copiar.• A linguagem é instrumento de comunicação – corresponde ● ao estruturalismo: ler e escrever: repetir estruturas.• Fund_met_ens_LP.indd 25 22/12/2009 13:54:42 06 PEDAG. – 5º PERÍODO – 5ª PROVA – 22/12/2009 APROVADO NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 26 A linguagem é uma forma de interação – corresponde ao in- ● teracionismo: ler: atribuir sentidos;• escrever: intervir no mundo.• A última perspectiva citada – a concepção de linguagem intera- cionista – tem grande sensibilidade para as estratégias de organização textual-discursiva preferencial nas modalidades falada e escrita. Fund_met_ens_LP.indd 26 18/12/2009 14:49:52 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 26 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ 27 Segundo os apontamentos de João Teodoro D. Marote e Gláucia D. Marote Ferro, na obra Didática da Língua Portuguesa (1994), para que a criança se torne capaz de utilizar a sua primeira língua como meio de comunicação deverá passar, preliminarmente, por um processo cha- mado aquisição. Como a língua é o meio que lhe permitirá o exercício da linguagem, diz-se, indiferentemente, aquisição da língua ou aqui- sição da linguagem. A criança deverá vivenciar situações de uso da língua (algumas de suas variedades) atuando primeiro como mera ouvinte, depois, receptor e, finalmente, emissor de mensagens. Enquanto mera ouvinte, apenas receberá os enunciados produzidos pelas outras pessoas. Quando for receptora, ela não só receberá, mas também compreenderá enunciados. Quando passar a emissora, ela responderá às mensagens recebidas ou tomará a iniciativa de enviar suas mensagens. A aquisição e o desenvolvimento da linguagem ocorrem na criança por meio da interação com as pessoas que a cercam, os pais, os parentes e, mais tarde, os colegas de brincadeiras. A criança e sua primeira língua A língua portuguesa já é entendida e falada pela criança que se vai alfabetizar; ela, geralmente com sete anos, demonstra estar em pro- cesso de aquisição da linguagem. Já sabe falar, entende o que dizem, tem diversidade de ações dependendo de situações, executa alguns trabalhos e, se é preciso, devido a circunstâncias adversas, sobrevive com essa capacidade de encontrar soluções para atravessar estágios de fome ou miséria. Aquisição e desenvolvimento da linguagem 3 Fund_met_ens_LP.indd 27 18/12/2009 14:49:52 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 27 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 28 Para Luria (1995, p. 13), “muito antes de a criança entrar em con- tato formal com a escrita na escola ela já adquiriu um conjunto de pré-requisitos que possibilitam a aquisição da linguagem em um tempo relativamente rápido”. Essa criança demonstra, com essas competências, que tem condi- ções para que nela se deflagre o processo de aprendizagem sistemática, além do desenvolvimento consciente proporcionado pelo espaço esco- lar. O processo de aquisição de linguagem se dá, assim, por meio da linguagem enquanto ação sobre o outro e sobre o mundo. Diz-se que ela entrou no mundo da linguagem “lendo” o que esta- va à sua volta, fazendo transformações e utilizações permitidas e exigi- das nos espaços em que interagia antes de chegar à escola. A diferença do uso dessa linguagem do espaço escolar com a sua linguagem gerará desconforto, mesmo que a escola procure tornar esse conhecimento menos traumático. O desconforto é inevitável, pois seu modo de falar, vestir, agir será avaliado não só pelo alfabetizador, mas por colegas de sala. A criança se sentirá pressionada a agir, falar, sentar de maneira padronizada e, devido ao tempo predeterminado que passa na sala de aula, sentir-se-á cronometrada. O contato anterior com a linguagem diferencia-se de criança para criança. Algumas delas vêm de lares com livros, jornais, pais que contam histórias, mas há aquelas que possuem afinidade apenas com a lingua- gem usada na TV, isto é, raramente veem alguém lendo ou escrevendo. A forma como a escola vai processar essa heterogeneidade no contato com as linguagens será fundamental para as posteriores relações, atitudes e crenças da criança com relação ao conhecimento adquirido na escola. A criança e a linguagem Como já foi visto, a criança, quando inserida no espaço escolar a fim de ser alfabetizada, já tem capacidade de entender e falar a língua portuguesa, porém não escreve nem lê. A linguagem que ela utiliza não necessita dessas sistematizações, porém, em alguns casos, ela vai à escola já querendo aprendê-las para obter prestígio, porque sente a importância e o poder que elas represen- tam para a sociedadeem que vive. Fund_met_ens_LP.indd 28 18/12/2009 14:49:52 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 28 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Capítulo 3 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 29 Mesmo sem ter consciência, a criança já manipula, articula sobre sua língua, envolvida de ludicida- de, ela inventa palavras, segura o lápis passando-o displicentemente por folhas em branco, fala o que está escrevendo, embora sejam apenas garatujas incompreensíveis aos olhos do adulto; inventa rimas, mesmo sem saber o que significa este recurso poético, aprende rapidamente letras de músicas infantis ou populares com graus de relativa dificuldade. As crianças respondem a questionamentos de maneira profunda e surpreendente, fazendo comparações, relacionando informações, de- fendendo opiniões, expondo pontos de vista. Isso demonstra como elas já têm uma relação com recursos linguísticos nas mais variadas situa- ções de suas vidas. Infelizmente e inevitavelmente, essas afinidades citadas anterior- mente serão deturpadas com o choque ocasionado pelo contato siste- mático que a escrita ortográfica impõe. Desenvolvimento da linguagem Nos conceitos iniciais delineados sobre a linguagem, foi estabelecido que ela existe porque uma forma de expressão foi ligada ao pensamento ou, para acrescentar um caráter mais científico à presente exposição, um significante foi ligado a um significado – unidade de dupla face que, de acordo com Saussure (1949), é denominada signo linguístico. Por ser um princípio da própria linguagem, o signo lingüístico, apresentado de formas diferentes, pode ser utilizado nas atividades da fala, da escrita e da leitura. Quando se procura saber como uma língua funciona, notadamente, é necessário entender as relações en- tre significados e significantes. É ba- silar a necessidade do conhecimento de cada uma das atividades da lín- gua, suas especificidades e com- prometimentos. A possibilidade de Garatujas: desenho malfeito, rabisco. Saiba mais Em seu Curso de Linguística Geral (1949, p. 36), Ferdinand de Saussure descreveu um signo como uma combinação de um conceito com uma imagem sonora. Uma imagem sonora é algo mental, usado para produzir uma elocução. Saiba mais Fund_met_ens_LP.indd 29 18/12/2009 14:49:52 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 29 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 30 evitar esse acontecimento ocorrerá se o professor conseguir esclarecer e mos- trar ao aluno que cada um deles fala de forma diferente e que se cada um optasse por escrever de maneira própria, usando o sistema de escrita como quisesse, resultaria em confusão e desentendimento e faria com que a leitura fosse muito mais difícil de ser executada. Aquisição da linguagem escrita De acordo com Smolka (1991), não se pode reduzir o processo de aquisição da linguagem escrita a fases, mas deve-se compreendê-lo como uma progressão de ações e noções. No início, o gesto; movimento comunicativo das mãos, dos ● braços, das pernas, da cabeça, do rosto, do corpo todo. Movi- mento que se apura, torna-se mais complexo na interação com os outros; vai ganhando cada vez mais sentido na imitação, na repetição, no ritual, nos jogos cotidianos das relações sociais. Depois, o jogo simbólico, o faz de conta, o imaginário feito ges- ● to, feito palavra. A criança se movimenta, age, pensa, inventa; transforma as coisas, o mundo, cria e usa do simbólico. Uma coisa “vale” por outra. Um significado pode ter vários significan- tes, várias significações: uma pedra pode virar elefante ou avião. Depois, também, o gesto, o jogo, marcados na areia, na terra, ● no papel; são os primeiros rabiscos. É a produção de traçados, a exploração do movimento, a possibilidade de registro do gesto comunicativo. Aos poucos, o aperfeiçoamento desse registro: a representação ● pictórica e gráfica do mundo percebido e conhecido. A crian- ça desenha o que sabe, não o que percebe do mundo. Ao mesmo tempo, a diferenciação entre o desenho e a escrita. ● Novamente a força do gesto comunicativo na escrita imitati- va, e as observações das propriedades da escrita: direcionalida- de, quantidade e variedade de caracteres. Neste momento, também, a percepção de que a escrita repre- ● senta o nome das coisas; de que ler é diferente de olhar, mas, curiosamente, a criança pensa que o que está escrito pode ser Fund_met_ens_LP.indd 30 18/12/2009 14:49:52 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 30 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Capítulo 3 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 31 diferente do que é lido; a criança vê seu nome escrito e o nome de outras pessoas e coisas e acha que uma letra repre- senta a palavra: povo = papai maçã = mamãe dado = Daniela rico = Rodrigo A criança começa a conhecer as letras pelo nome e comparar ● a quantidade de elementos: mama = amam ovo = vov papa = Appa ovo = vovo (aumenta um elemento, mas mantém a simetria) A criança começa a perceber que, mudando as letras, muda o ● sentido das palavras: ovo – ovos = ovinhos ovo – vovo = muitos ovos ovo – povo = papai gosta de ovo (A criança começa a interpretar o que está escrito baseada no que já conhece). A criança começa a reconhecer nomes ou palavras no texto. ● Começa a perceber que aquilo que é falado pode ser escrito; mas acredita que só nomes podem estar escritos (verbos, arti- gos, preposições não se escrevem, ou fazem parte dos nomes). A criança confunde os termos: palavra, letra, sílaba, vogal, ● consoante, número, frase. Muitas vezes ela aprende os termos, mas não elabora os conceitos. A criança começa a perceber que tudo o que a gente fala pode ● ser escrito, inclusive as ações e as palavras que estabelecem relações: conjunções, advérbios, preposições, etc. A criança começa a estabelecer correspondências de partes da ● palavra falada e partes da palavra escrita (hipótese silábica); não corresponde, necessariamente, ao conceito convencional de sílaba. Ela pode escrever: B N CA I O A R A L Bo ne Ca Pi po Ca Ra fa El Fund_met_ens_LP.indd 31 18/12/2009 14:49:52 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 31 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 32 A ● criança aprende que uma letra vale por vários sons ou que um som pode ser representado por várias letras: Boneca/bode arara/rato/torrada Nessa fase, as crianças começam a analisar e a categorizar os sons da língua muito consistentemente. Pode-se aprender muito com elas. É preciso observar e atentar para suas inúmeras tentativas. A criança percebe e aprende o limite e a separação das palavras ● numa frase. É capaz de aprender a separar as palavras em síla- bas convencionais. (Mais importante do que separar sílabas é perceber a flexibilidade das inúmeras combinações das letras, de todas as letras do alfabeto, que são, na realidade, instru- mentos de comunicação e registro de qualquer coisa que se pensa e se quer escrever.) Analisando os métodos de alfabetização e ensino da linguagem es- crita, pode-se constatar que eles começam precisamente pelo fim do processo, sem levar em conta a construção das hipóteses infantis sobre a escrita, e pressupondo que todas as crianças tiveram ou têm as mesmas experiências e o mesmo conhecimento sobre esse tipo de linguagem. Essa progressão de noções sugere um processo de construção de conhecimento da criança em relação à linguagem escrita. Aponta para percepções e distinções que as crianças fazem e que não costuma-se consi- derar. Refere-sea processos de aprendizagem e não a métodos de ensino. No entanto, a partir destas noções, é possível viabilizar procedi- mentos de alfabetização e ensino da linguagem escrita mais significati- vos e agradáveis para as crianças. É certo que alfabetizar pressupõe também dar informações ao sis- tema alfabético, e isso é bastante diferente do que apresentam as tra- dicionais cartilhas de alfabetização, baseadas na silabação. Essa é outra reflexão importante, trazida pela linguística, que redirecionou o traba- lho do alfabetizador. A criança e a língua portuguesa Educador e educandos, entendendo a dinâmica própria do espaço escolar, a relação entre escrita da fala e escrita padrão ou nível coloquial Fund_met_ens_LP.indd 32 18/12/2009 14:49:52 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 32 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Capítulo 3 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 33 e nível culto (norma padrão), não acarretará necessariamente em textos destituídos dos chamados “erros”. Esses acontecimentos não devem receber por parte do educador atenção com caráter de repressão e supervalorização, já que a ação de escrever, neste momento, é a que deve receber atenção. Entretanto, é importante esclarecer que existe uma escrita convencional, que não só é usada como também cobrada pela sociedade. Essa reflexão acompanhará esse aluno em toda a vida escolar e, o que é mais importante, fora dela, na sua relação com atividades de leitura, fala, escrita, exercidas por ele no contexto social. O ensino da língua portuguesa, durante o processo de alfabetização, baseia-se no funcionamento da língua, porém diferencia-se da abordagem dada em outras séries, devido ao desconhecimento, característico do aluno de classes de alfabetização, quanto à escrita e à leitura. É prioritário lem- brar que esse aprendizado não termina na série destinada à alfabetização. O conhecimento linguístico refletirá na metodologia aplicada pelo alfabetizador, na valoração dada durante o processo de avaliação, na precisão de procura de explicações pertinentes às dúvidas e dificuldades apresentadas pelo aluno no contato com o aprendizado. O domínio do estudo linguístico do alfabetizador levará à percep- ção de que, como qualquer língua, quanto à estrutura, tem-se o certo e o errado; porém, atentando para a fala, percebe-se apenas o diferente. Contribuição da fonética Uma contribuição bastante enriquecedora para o estudo da fala seria dada pela fonética: “ciência esta, que estuda os sons da fala, espe- cialmente no que diz respeito à sua produção, transmissão e recepção” (DUBOIS, 1993, p. 327). Examinando mais a fundo os símbolos fonéticos, o aparelho fona- dor, a articulação e os modos de articulação e fonação, compreende-se que todos são relevantes para o alfabetizador. As vogais e consoantes são classificadas na efetivação da fala, de acordo com a descrição fonética e as diferenças de modos de articulação. Quanto ao uso de vogais e consoantes, na realização da escrita, sua função Fund_met_ens_LP.indd 33 18/12/2009 14:49:52 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 33 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 34 e significados são muito diferentes das formas utilizadas na fala. Cabe aqui ressaltar que esse equívoco, ocasionado pela deturpação dos conceitos de escrita da fala e escrita da norma, gerará outro equívoco quanto às apro- ximações errôneas entre ortografia e escrita. Por exemplo, é permitido a alguém, usando da escrita, escrever “xuva” e “véio”, porém a ortografia estabelece as formas “chuva” e “velho”; foi esse sistema, administrado pela ortografia, que estabeleceu esta ou aquela forma como norma. Estes são sistemas distintos, pois a ortografia é convencional, possi- bilitada pelo uso sistemático da escrita, pois cada palavra tem uma forma preestabelecida e convencionalizada de ser representada graficamente. As vogais – os fonemas vocálicos ● : segundo Dubois (1993, p. 145), os fonemas vocálicos caracterizam-se por um escoa- mento livre do ar através do aparelho vocal, as ondas sonoras provêm unicamente da vibração das cordas vocais. Os fone- mas vocálicos têm, portanto, uma só fonte periódica, a voz. As consoantes – os fonemas consonantais ● : para Dubois (1993, p. 145), som consonântico ou contoide é um som que apresenta as características essenciais das consoantes, um obstáculo na passagem do ar, determinando uma turbulência ou mesmo uma interrupção do fluxo de ar, que se traduz no aspecto acústico por uma redução da energia total. Faz-se necessário reiterar que, na fase da alfabetização, a criança faz uso da es- crita demonstrando erros na forma ortográfica por basear-se na forma foné- tica. Esses erros, ao contrário do que se pode pensar, não revelam imaturida- de ou falta de domínio por parte do educando. Pelo contrário, mostram uma reflexão sobre os usos linguísticos da escrita e da fala, indicam concentração, articulação por parte dele no processo de aprendizagem dessas atividades. Acento ● : a língua portuguesa é caracterizada por um ritmo acentual. A diferenciação de duração e tonicidade encontrada na expressão de cada palavra pode, na fala, revelar-se divergen- te, se a duração e a tonicidade forem observadas em contex- tos regionais ou sociais heterogêneos. As diferenças dialetais Fund_met_ens_LP.indd 34 18/12/2009 14:49:52 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 34 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Capítulo 3 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 35 podem se refletir também na escrita. Essa tonicidade diver- gente na fala, caracterizada pela expressão de sílabas tônicas e átonas, não se reflete na escrita. A tonicidade só é observada como unidade do sistema rítmico da fala quando esta se en- contra em ação. Todas as atividades de estimulação da linguagem escrita devem ser contem- pladas de forma lúdica, por meio de jogos e brincadeiras, para que a criança sinta prazer em ler e escrever. Em casa, pelos pais, o estímulo deve ser iniciado com a leitura de histórias infantis, com os jogos de rimas (que ajudam na consciência fonológica), jogos com letras e desenhos para que a criança se familiarize com a escrita, a leitura de rótulos e propagandas. Da teoria para a prática prática teoriapráticateoria Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo De acordo com o exposto, a criança deverá vivenciar situações de uso da língua (melhor dito, de algumas de suas variedades), atuando primeiro como mera ouvinte, depois, receptora e, finalmente, emis- sora de mensagens. Enquanto mera ouvinte, a criança apenas receberá os enunciados produzidos pelas outras pessoas. Quando for recep- tora, ela não só receberá, mas, também, compreenderá enunciados. Quando passar a emissora, ela responderá às mensagens recebidas ou tomará a iniciativa de enviar suas mensagens. É importante a referência de que a aquisição e o desenvolvimen- to da linguagem ocorrem na criança por meio da interação com as pessoas que a cercam, os pais, os parentes e, mais tarde, os colegas de brincadeiras. Fund_met_ens_LP.indd 35 18/12/2009 14:49:52 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 35 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Fund_met_ens_LP.indd 36 18/12/2009 14:49:52 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 36 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ 37 Torna-se imprescindível, já de início, distinguir os vários sen- tidos com que se toma a leitura. Para tanto, opta-se pelas ideias de Orlandi, contidas na obra Discurso e leitura (1988). Em sua acepção mais ampla, leitura pode ser entendida como “atribuiçãode sentidos”. Daí ser utilizada indiferentemente tanto para a escrita como para a oralidade. Diante de um exemplar de linguagem de qualquer natureza, tem-se a possibilidade da leitura. Pode-se falar, então, em leitura, tanto da fala cotidiana como do texto de Aristóteles. Por outro lado, pode significar concepção, e é nesse sentido que é usada quando se diz leitura de mundo. Segundo Freire (1988, p. 90), “a leitura de mundo precede sempre a leitura da palavra”. Essa maneira de se usar a palavra leitura reflete a relação com a noção de ideologia, de forma mais ou menos geral e diferenciada. Em um sentido mais restrito, leitura pode significar a constru- ção de um aparato teórico e metodológico de aproximação de um texto: são as várias leituras de Saussure, as possíveis leituras de um texto de Platão, etc. Em termos agora de escolaridade, em um sentido ainda mais restri- tivo, pode-se vincular leitura à alfabetização (aprender a ler e escrever), e ela pode adquirir, então, o caráter singular de aprendizagem formal. Conforme observado, é possível fazer uma longa enumeração de sentidos que se pode atribuir à própria noção de leitura. Contudo, é evidente que nem todos os sentidos poderão ser contemplados neste recorte. O que delimita esses sentidos é a ideia de interpretação e com- preensão. É esse recorte que será feito na perspectiva discursiva que norteará a reflexão acerca da leitura. Letramento e práticas de leitura 4 Fund_met_ens_LP.indd 37 18/12/2009 14:49:52 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 37 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 38 Ensino da leitura Somente o conhecimento pleno da língua que a escrita representa é capaz de oferecer ao leitor condições adequadas para uma leitura que englobe a decifração e a compreensão. Ou seja, para que o aluno leia um texto e compreenda o que está escrito, não basta decifrar os sons da escrita, nem é suficiente descobrir os significados individuais das palavras. Um texto é composto das relações entre as palavras e as frases em todos os níveis linguísticos. O adequado é uma leitura na qual o leitor decifra o que está es- crito, apropria-se das ideias que descobriu no texto, elabora todos esses conhecimentos como se fossem seus e, seguindo a lei da fidelidade ao literal do texto, passa a dizer o que leu, em uma fala que traduz o texto e revela seu modo de interpretá-lo. A leitura é ponto vital para a interpretação. Interpretar é, antes de mais nada, compreender. Em se tratando de um texto, interpretar significa ir às entrelinhas, aos detalhes, às sutilezas da mensagem. Inter- pretar é ir além da superfície, penetrar fundo no texto, sentir todas as emoções que ele pode despertar. A interpretação benfeita envolve uma leitura criteriosa. A interpretação, segundo Sordi (1991, p. 20), é o ponto culminan- te do ensino da língua, portanto exige bons textos, isto é, aqueles que atinjam, primeiramente, os interesses da criança, ou que se enquadrem aos objetivos que se deseja alcançar. A adequação do texto à turma é outro fator de grande impor- tância. Não adianta o professor apresentar belos textos, mas de conteúdo abstrato para uma turma de segunda série, por exemplo. Considera-se que a exploração do texto deve ser principalmente oral, porque desperta e desenvolve a atenção, o diálogo e o senso crítico. Nesse sentido, devem ser evitadas as perguntas que fazem da resposta uma cópia mecânica. Cabe ao professor, além da família, incentivar as crianças pelo gos- to da leitura, visando a desenvolver tal hábito. Deve-se indicar os livros aos alunos, oferecendo-lhes um repertório de títulos em que possam se movimentar, segundo suas preferências e interesses. Fund_met_ens_LP.indd 38 18/12/2009 14:49:52 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 38 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Capítulo 4 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 39 Formação do leitor Essa leitura de formação de leitor tem por objetivo desenvolver no aluno a familiaridade com a língua escrita mediante a leitura de vários gêneros textuais, numa quantidade tal que o faça gostar de ler e de perceber a importância da leitura para sua vida pessoal e social, trans- formando-a num hábito capaz de satisfazer o gosto e a necessidade. A inserção do aluno no universo da cultura letrada por meio da leitura desenvolve a sua habilidade de dialogar com os textos lidos, auxiliando-o na formação de sua cidadania, cultura e sensibilidade. Ensinar a ler é levar o aluno a reconhecer a necessidade de aprender a ler tudo o que já foi escrito, desde o letreiro do ônibus aos nomes das ruas, dos bancos e das casas comerciais – leituras fundamentais para a sobrevivência e orientação em uma civilização construída a partir da língua escrita. Ler o jornal que vai relacioná-lo minimamente com o mundo lá fora; ler os poemas que vão dar concretude, qualificar e expandir os limites de seus sentimentos; ler narrativas que vão organi- zar sua relação com a complexidade da sua vida social; ler as leis e os regulamentos que regem a sua cidadania; ler os ensaios que apelam à sua racionalidade e a desenvolvem. Ensinar a ler é também dar acesso aos meios expressivos necessários para que o aluno leia não apenas textos contemporâneos, dialogando com eles dentro de um universo comum de questões, problemas e des- cobertas, mas também textos antigos, para que ele possa perceber que a língua portuguesa que ele lê é produto do trabalho de pessoas como ele, que a tornaram capaz de expressar o que for necessário. Diante e atrás dos olhos De acordo com os apontamentos de Barbosa, na obra Alfabetiza- ção e leitura (1991), ler é uma atividade ideovisual. Pode-se afirmar que a leitura depende do que está diante e atrás dos nossos olhos. É uma atividade visual, porque para ler é necessário haver um texto diante dos olhos. No entanto, a leitura é mais que um exercício visual, pois se apoia, por um lado, no que o leitor recebe através do seu sistema de vi- são e, por outro, nas informações que ele tem disponíveis na sua mente, na sua estrutura cognitiva. Fund_met_ens_LP.indd 39 18/12/2009 14:49:53 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 39 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 40 Portanto, uma leitura se apoia em duas fontes de informações bem diferentes. Uma é fornecida pelo autor (registros gráficos sobre uma pá- gina), que é chamada de informação visual. A outra fonte de informação encontra-se no cérebro do leitor, que fornece informações não visuais, dis- poníveis e presentes mesmo quando os olhos estão fechados. Quanto mais utiliza uma informação não visual, disponível em sua estrutura cognitiva, menos ele necessita da informação visual, a que está na página impressa. Figura 1 Dois tipos de informação envolvidas no ato de ler. Informação visual Informação não visual Leitura (diante dos olhos) (atrás dos olhos) Fonte: adaptado de Barbosa (1991, p. 117). Previsões e inferências Segundo Kleiman (2004), a compreensão de textos é um processo complexo em que interagem diversos fatores, como conhecimentos linguís- ticos, conhecimento prévio a respeito do assunto do texto, conhecimento geral a respeito do mundo, motivação e interesse na leitura, entre outros. A compreensão de um texto é um processo que se caracteri- za pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de co- nhecimento, como o conhecimento linguístico, o textual, o conhecimento demundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. E porque o leitor utiliza justamente diversos níveis de conhecimento que interagem entre si, a leitura é con- siderada um processo interativo. Pode-se dizer com segurança que sem o engajamento do conhecimento prévio do leitor não haverá compreensão (KLEIMAN, 2004, p. 13). Fund_met_ens_LP.indd 40 22/12/2009 13:56:08 06 PEDAG. – 5º PERÍODO – 5ª PROVA – 22/12/2009 APROVADO NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Capítulo 4 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 41 Dessa forma, percebe-se que a compreensão é um verdadeiro jogo entre aquilo que está explícito no texto (que é em parte percebido, em parte previsto) e o que o leitor insere no texto por conta própria, a partir de previsões e inferências que faz baseado no seu conhecimento de mundo. Dentro desse conhecimento de mundo, insere-se o conhe- cimento linguístico. Diante do exposto, conclui-se que a informação e a compreensão estão ligadas ao indivíduo, à sua estrutura cognitiva e dependem tanto do que se conhece quanto do que se procura saber. Para exemplificar, expõe-se o texto a seguir: O nosso cérebro é versátil. De aorcdo com uma peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as Lteras de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que aq piremria e útmlia Lteras etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma bçguana ttaol, que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo. Sohw de bloa. A maioria dos falantes da língua consegue fazer a leitura e compreen- dê-la porque tem as informações linguísticas básicas que possibilitam fazer as previsões e inferências e utilizam o conhecimento de mundo, que ajuda na compreensão do texto. Poesia no varal Objetivos: estimular o gosto pela leitura de poemas; sensibilizar os alunos com relação à importância da poesia e da criação de novas sensibilidades; possibilitar a leitura de poemas pelo viés do lúdico. Número de participantes: 20 a 30. Tempo de duração: 1h30 min. Da teoria para a prática prática teoriapráticateoria Fund_met_ens_LP.indd 41 18/12/2009 14:49:53 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 41 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 42 Recursos necessários: diversos poemas, jornais, revistas, papel sulfite, cola, tesouras, cordão, grampeador, canetas, som, CD com músicas tranquilas. Passo a passo • Colocar diversos poemas estendidos num varal e solicitar aos participantes que os leiam silenciosamente. Enquanto eles passeiam os olhos pelos poe- mas, o professor colocará uma música tranquila. • Solicitar que cada aluno escolha um poema para que seja representado por figura, foto, ilustração e palavras, que serão retiradas dos jornais e/ou revistas. • Após a escolha do material, montar o trabalho na folha de papel sulfite e pendurar em outro varal. • Depois que os trabalhos forem expostos no varal, os alunos farão outro pas- seio com a finalidade de identificar qual poema está sendo representado por aquele material. Todos devem opinar. • Finalmente, socializar a experiência, pedindo a cada um que fale sobre o poema escolhido e como ele foi representado. Resumo Resumo Resumo ResumoResumo Resumo Resumo Resumo Uma leitura profícua é aquela que envolve a decifração e a compreen são. Ou seja, para que o aluno leia um texto e compreenda o que está escrito não basta decifrar os sons da escrita, nem é suficiente descobrir os significados individuais das palavras. Um texto é formado a partir das relações que se estabelecem entre as palavras e as frases em todos os níveis linguísticos. O leitor deve apropriar-se das ideias que descobriu no texto, ela- borar todos esses conhecimentos como se fossem seus e, seguindo a lei da fidelidade ao literal do texto, passar a dizer o que leu, numa fala que traduz o texto e revela seu modo de interpretá-lo. Fund_met_ens_LP.indd 42 18/12/2009 14:49:53 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 42 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Capítulo 4 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa 43 De acordo com várias pesquisas, a leitura depende do que está dian- te e atrás dos olhos do leitor. A leitura é uma atividade visual porque para ler é necessário haver um texto diante dos olhos. Mas, a leitura é mais que um exercício dos globos oculares, pois se apoia, por um lado, no que o leitor recebe através do seu sistema de visão e, por outro, nas informações que tem disponíveis na sua cabeça, na sua estrutura cognitiva. Fund_met_ens_LP.indd 43 18/12/2009 14:49:53 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 43 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Fund_met_ens_LP.indd 44 18/12/2009 14:49:53 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 44 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ 45 Escrever é expressar ideias. Em se tratando de alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental, a expressão escrita deve associar-se também ao desenho. A criança gosta, desde cedo, de desenhar e é como expressa seus sentimentos e emoções. Mesmo depois de alfabetizada, o desenho deve ser uma constante em suas atividades, pois é nele que ela poderá apoiar-se para expressar suas ideias. A criança não pode escrever sobre aquilo que não conhece. O professor deve, então, ampliar seus horizontes, fornecendo os elemen- tos necessários que a levará ao processo de criação. Nesse sentido, o professor não deve colocar no mesmo nível redação e aprendizado da escrita, isto é, deve valorizar as ideias do aluno ao invés de cobrar somente a ortografia. Aliás, isso costuma confundi-los. O fato de es- crever corretamente, apesar de muito importante, é apenas um dos aspectos da redação. A questão do texto O texto é a especificidade do ensino de língua. Deve ser visto como objeto de leitura e também como um produto da atividade escrita do aluno. Primeiramente, o professor deverá saber o que é um texto. O texto tem sido definido como uma passagem escrita que tem significa- do e não como um amontoado de sentenças desconexas. Geraldi (1991, p. 100) define texto como uma sequência verbal es- crita coerente formando um todo acabado, definitivo e publicado – não quer dizer lançado por uma editora, mas simplesmente dado a público, isto é, cumprindo sua finalidade de ser lido. A destinação de um texto é sua leitura pelo outro, imaginário ou real. Letramento e práticas de escrita 5 Fund_met_ens_LP.indd 45 18/12/2009 14:49:53 02 PEDAGOGIA - 5º PERÍODO - 4ª PROVA - 18/12/2009 - Page 45 of 74 APROVADO: NÃO_______ SIM_______ Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa FAEL – Faculdade Educacional da Lapa 46 Quanto à produção do texto na escola, Geraldi (2002) apresen- ta algumas condições necessárias. É preciso que o aluno tenha o que dizer, que tenha uma razão para dizer, que tenha para quem dizer, que se constitua como sujeito, assumindo a responsabilidade da pa- lavra e que sejam escolhidas estratégias adequadas, de acordo com o interlocutor. Para isso, é necessária a existência da relação interlocutiva no processo de produção de textos. É essa relação que orientará todo o processo da prática com a linguagem. É o professor que deve orientar o aluno para a definição de interlo- cutores, reais ou possíveis, para a reflexão mais profunda sobre os fatos abordados nos textos produzidos, fazendo sempre perguntas ao aluno a partir do seu texto para que seja enriquecido, ampliado. Ao mesmo tempo em que o educando reflete sobre o uso da linguagem
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