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Valorizando o passado no presente Scientia

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1
Belém - Editora, 2012
Valorização do 
passado no presente:
 estudos arqueológicos e educação 
para o patrimônio na área de 
intervenção da LT Vila do Conde-
Santa Maria do Pará (PA)
Lilian Panachuk
2
Organização
Lilian Panachuk
Ilustração
Greyce Oliveira
Colaboração
Isabela Castro
Gisele Moreira
Rondelly Cavulla
Janice Farias
Ana Lucia Herberts
Consultoria
Eneida Malerbi
Solange Caldarelli
Revisão Ortográfica
Tatiane Lima Ferreira
Patrocínio
Empresa Regional de Transmissão de Energia – ERTE
Realização
Scientia Consultoria Científica
Projeto gráfico, diagramação e edição
Gisele Bochi Palma
Ficha catalográfica elaborada por Wagner de Araújo Silva – CRB 8/ 8960
P187i
 Panachuk, Lilian
 Introdução ao patrimônio cultural / Lilian Panachuk; ilustração, 
 Greyce Oliveira; revisão, Tatiane Lima Ferreira. – Belém : Editora, 
 2012.
 150 p.: Ilustrado
 1. Patrimônio Cultural. 2. Educação Patrimonial. 3. Patrimônio 
 Arqueológico. 4. Pesquisas Arqueológicas. I. Título.
CDD – 363.69
3
Apresentação
Palavra da Scientia Consultoria Científica........................................................................6
Palavra do empreendedor...................................................................................................7
Introdução............................................................................................................................8
Capítulo 1: Conhecimento tradicional e científico: reciprocidades.............. 10
O que é patrimônio?...........................................................................................................12
O que é memória?...............................................................................................................18
O que é cultura?..................................................................................................................22
O que é diversidade?..........................................................................................................26
Capítulo 2: Conhecimento legal: as leis e o patrimônio................................30
O patrimônio cultural brasileiro e as leis que o protegem...........................................32
Gestão e cuidado com o patrimônio brasileiro..............................................................34
Patrimônio Cultural: definição e particularidade...........................................................36
Pra que preservar o patrimônio cultural?.......................................................................40
Como, na prática, posso preservar o patrimônio?........................................................44
Patrimônio arqueológico e suas leis específicas.............................................................44
Diagnóstico arqueológico..................................................................................................46
Prospecção arqueológica...................................................................................................47
Resgate e análise arqueológica..........................................................................................48
Educação Patrimonial........................................................................................................50
Capítulo 3: Conhecendo a Arqueologia e seus interesses.............................52
O que é um objeto?............................................................................................................54
Materiais e construções arqueológicas: diversidade......................................................56
Material lítico.......................................................................................................................57
Material rupestre.................................................................................................................61
Material cerâmico................................................................................................................62
Material em louça................................................................................................................64
Outros materiais..................................................................................................................66
Construções e edificações mais antigas...........................................................................68
Construções e edificações mais recentes........................................................................71
O que é sítio arqueológico?...............................................................................................73
Como faz a arqueologia para relacionar os dados?.......................................................76
Sumário
4
Capítulo 4: Resultados da pesquisa arqueológica na área de intervenção da 
Linha de Transmissão Vila do Conde – Santa Maria do Pará......................78
A estratégia de pesquisa arqueológica.............................................................................80
Como o material é analisado em laboratório?...............................................................86
Os objetos do passado mais antigo.................................................................................89
O estudo do material cerâmico........................................................................................91
A perigosa transformação físico-química da argila à cerâmica..................................98
A arte da decoração cerâmica: além de útil, bela.......................................................101
Além dos fragmentos: potes e suas características.....................................................104
O material lítico: lâminas de machado..........................................................................109
Os objetos do passado mais recente.............................................................................110
A louça: registro de mesa e banho................................................................................112
O vidro e um pouco de sua história.............................................................................120
 
Capítulo 5: Atividades para a sala de aula...................................................127
Educação Infantil.............................................................................................................128
1 - Atividade: Objetos naturais, objetos culturais.......................................................128
2 - Atividade: Siga o mestre na lenda...........................................................................129
3 - Atividade: Galeria da moda.....................................................................................130
4 - Atividade: Teatro de papel........................................................................................131
5 - Atividade: A vida das formigas................................................................................132
6 - Atividade: A arte da olaria........................................................................................134
Ensino Fundamental I e II............................................................................................134
1 - Atividade: Trajetos do bairro...................................................................................135
2 - Atividade: Memórias do bairro................................................................................136
3 - Atividade: Carimbando a arte rupestre..................................................................137
4 - Atividade: Diversidade na cidade............................................................................138
5 - Atividade: Escrevendo o que se fala......................................................................139
6 - Atividade: O trabalho em arqueologia....................................................................143
Formação crítica e pesquisa: Ensino Médio................................................................145Saiba mais... .....................................................................................................................145
Exposições virtuais e filmes...........................................................................................145
Informações temáticas....................................................................................................145
Dicas pedagógicas............................................................................................................145
Bibliografia consultada...................................................................................................147
5
Apresentação
6
Palavra da Scientia Consultoria Científica
 As pesquisas arqueológicas que vêm 
sendo realizadas no Estado do Pará estimu-
lam o desenvolvimento de trabalhos educa-
tivos, dentro e fora das escolas, para a maior 
divulgação das pesquisas, bem como o en-
volvimento da população na preservação do 
patrimônio arqueológico e cultural, por meio 
da expansão do conhecimento do passado e 
da valorização da cultura local. A este amplo 
trabalho de estímulo à reflexão sobre a histó-
ria mais antiga, o respeito e a valorização dos 
mais distintos modos de vida, chamamos de 
educação patrimonial. Podemos afirmar, com 
base em experiências em outros projetos, que 
a educação desenvolvida dentro da perspecti-
va do patrimônio estimula comportamentos 
sociais mais tolerantes e influencia na forma-
ção de cidadãos mais envolvidos na conquista 
de uma sociedade mais equilibrada.
 Neste livro, vocês, professores e pro-
fessoras, terão contato com o conhecimento 
necessário para inserir em sala de aula a dis-
cussão sobre educação patrimonial. Nossa 
preocupação foi a de elaborar um material 
de apoio didático, dinâmico e com condi-
ções e ideias favoráveis ao envolvimento 
dos estudantes no mundo do aprendizado. 
Dentre os objetivos dos Parâmetros Curri-
culares Nacionais, podemos mencionar a 
formação ampla dos estudantes, direcionada 
para o desenvolvimento de capacidades cog-
nitivas, das relações interpessoais e sociais. 
Considerando tais assertivas, elaboramos 
um material com conteúdo consistente, vi-
sando atender à formação dos educadores e 
educadoras, bem como às propostas práticas 
para a realização do trabalho em sala de aula.
 Proporcionar a educadores, educa-
doras e estudantes a reflexão sobre a cultura 
presente e passada, que se refletem claramente 
nos municípios que compõem o nordeste do 
estado do Pará, permite que todos sejam es-
timulados a conhecer e respeitar a diversidade 
cultural, que é uma marca da cultura brasileira.
 Tivemos e ainda temos a oportuni-
dade de trabalhar com educação patrimonial 
em diversos municípios do estado do Pará e 
isso nos permite ter a percepção do quanto 
é rica e diversificada a cultura desse estado. 
Assim, a própria realidade local é um inte-
ressante recurso para a aproximação e o en-
volvimento do estudante que tem em seu dia 
a dia um largo campo para reflexão e apren-
dizado, sobre o qual pode estudar e com o 
qual pode interagir.
 Esperamos que as propostas por 
nós registradas neste livro contribuam para 
a sua prática educativa, lembrando que sua 
atuação, enquanto professor e professora 
são nosso maior catalisador, podendo levar 
o trabalho de educação patrimonial ao maior 
número de pessoas. Deste modo, por meio 
da educação seremos capazes de contribuir 
para a busca de uma sociedade mais respei-
tosa. Aproveite o livro, embarque em nosso 
barco, reme conosco e assim alcançaremos 
mais rápido nosso objetivo! Bom trabalho! É 
o que lhe deseja a Equipe de Educação Patri-
monial da Scientia Consultoria Científica.
7
Palavra do empreendedor
 A Empresa Regional de Trans-
missão de Energia S.A. dedicou aten-
ção especial à proteção, à conservação 
e ao conhecimento do passado brasi-
leiro durante a construção da Linha 
de Transmissão (LT) em 230 kV Vila 
do Conde – Santa Maria do Pará, loca-
lizada no estado do Pará, procurando 
acompanhar nas áreas que são direta e 
indiretamente afetadas pela implanta-
ção do empreendimento todas as ati-
vidades de engenharia envolvidas na 
implantação desta obra, visando pre-
servar os eventuais sítios arqueológi-
cos existentes. 
 Na primeira etapa, foram rea-
lizados os estudos de diagnóstico e 
prospecção arqueológica na área do 
empreendimento, que atravessou 
ambientes com características dis-
tintas, não se restringindo, somen-
te, à faixa de servidão, mas também 
dando especial atenção às áreas das 
subestações e aos acessos da linha 
de transmissão.
 Os trabalhos foram realizados 
logo após a locação do traçado da li-
nha e antes da abertura das estradas 
de acesso, resultando na localização 
de nove sítios arqueológicos, situados 
nos municípios de Barcarena, Moju e 
Bujaru, no qual, desses, apenas oito 
foram resgatados. O nono sítio não 
necessitou de resgate devido à sua 
localização, pois se encontra no vão 
entre as torres, onde não corre risco 
direto de sofrer impacto pelo em-
preendimento.
 Os materiais encontrados fo-
ram higienizados e separaram-se os 
fragmentos de forma refinada; aque-
les que remontavam foram objeto 
de colagem e restauração. A Funda-
ção Casa da Cultura de Marabá ficou 
com a responsabilidade deste acer-
vo.
 O trabalho apresentado a se-
guir, visa divulgar para a sociedade, 
de maneira compreensível, o conhe-
cimento gerado através dos estudos 
arqueológicos realizados na LT em 
230 kV Vila do Conde – Santa Maria 
do Pará.
 Esperamos ter contribuído de 
forma significativa para a geração do 
conhecimento sobre a nossa história, 
através dos achados arqueológicos, e 
que apreciem o trabalho.
8
Introdução
 Este livro é um dos resultados 
do Projeto “Resgate dos sítios arqueo-
lógicos localizados na área de inter-
venção da Linha de Transmissão em 
230 kV Vila do Conde – Santa Maria 
do Pará, PA”, realizado como parte do 
processo de licenciamento ambiental 
do empreendimento, de responsabili-
dade da Empresa Regional de Trans-
missão de Energia S.A. (ERTE). 
 O objetivo primeiro deste li-
vro é divulgar o conhecimento gerado 
por meio dos estudos arqueológicos 
realizados pela Scientia Consulto-
ria Científica na área de intervenção 
daquele empreendimento. Para isto, 
caminharemos através de conceitos 
construídos a partir do nosso dia a 
dia, discutindo questões relevantes so-
bre o patrimônio cultural. O interesse 
é compartilhar, com os habitantes de 
hoje, o conhecimento sobre as popu-
lações regionais do passado eviden-
ciado pelas pesquisas arqueológicas 
locais. O patrimônio cultural arqueo-
lógico é um recurso não renovável e 
pertence à União, conforme a Consti-
tuição Brasileira. Assim, é patrimônio 
de todos nós. 
 É também objetivo deste livro 
caminhar por vias não sectárias. As-
sim, almeja atingir públicos como o 
educador, o acadêmico e, em espe-
cial, aquela ou aquele que inicia suas 
pesquisas arqueológicas. Mas tam-
bém pretende atingir os arqueólogos 
já experientes na profissão e que se 
dedicam à educação. Como bem fri-
sou Paulo Freire em toda sua obra, o 
diálogo visando à difusão do conhe-
cimento sobre a história e o compor-
tamento humano e social, por vias 
democráticas, é essencial para a for-
mação cidadã. 
 Para nos acompanhar nesta cami-
nhada teremos uma presença muito ilus-
tre, a de uma adolescente chamada Maíra. 
 Maíra é uma personagem mui-
to querida, desenvolvida para instigar 
e provocar o professor, no sentido 
empregado por Paulo Freire, o de des-
pertar a curiosidade dos leitores sobre 
o patrimônio arqueológico da região 
de Barcarena, Pará.
 A construção desta persona-
gem permitiu à nossa equipe reunir 
elementos da nossa experiência com o 
conhecimento de mundo dos adoles-
centes com os quais trabalhamos, os 
elementosque expressam a reflexão 
sobre uma noção integrada de patri-
mônio que considere objetos, lendas, 
saberes tradicionais, modos de fazer 
as coisas e elementos da paisagem.
9
Maíra nasceu no dia 22 de agosto de 1995, no município de Lago da 
Pedra, bem próximo a São Luís, no Maranhão. Filha de mãe pro-
fessora e pai motorista de caminhão pesado. Atualmente tem 17 anos, 
mas mora desde bem pequena no Pará, pois a profissão do pai obrigou 
a família a fazer muitas viagens. Tais viagens permitiram que Maíra 
conhecesse diversos modos de vida, o que acrescentou muito em seu co-
nhecimento geral e na sua formação cidadã.
Maíra é um nome brasileiro de origem indígena, da língua tupi-guarani, 
e significa inteligente. Como bem veremos essa adolescente é perspicaz! 
Maíra
“inteligente”
10
Capítulo 1: 
Conhecimento tradicional 
e científico: reciprocidades
10
11
Neste capítulo, discutiremos 
algumas palavras utilizadas em 
nosso cotidiano: patrimônio, 
cultura, memória e diversidade. 
São palavras conhecidas em nos-
so dia a dia, que também são uti-
lizadas nas pesquisas científicas 
que objetivam entender o com-
portamento humano. Estes es-
tudos, realizados por diferentes 
disciplinas, como antropologia, 
sociologia, política, arqueologia, 
história, museologia, linguística, 
psicologia etc., buscam as seme-
lhanças e diferenças nas formas 
de expressão dos grupos huma-
nos de vários lugares e em varia-
dos períodos temporais.
O conhecimento tradicional e o 
científico se dedicam cada um 
patrimônio
cultura
memória
diversidade
à sua maneira, a conhecer, en-
tender e interpretar os hábitos 
e costumes dos seres humanos 
que observam. Para calibrar o 
diálogo, julgamos ser importante 
traçar semelhanças e diferenças 
entre o pensamento tradicional 
e o pensamento científico para 
essas noções acima anunciadas. 
11
12
O que é patrimônio?
O patrimônio pode ser definido, conforme 
o dicionário, como “herança paterna, bens 
de família, (...), quaisquer bens materiais ou 
morais, pertencentes a uma pessoa, institui-
ção ou coletividade”1. 
Em nosso cotidiano, podemos referir que 
“Sicrano é um homem de muitos patrimô-
nios, com casas, carros e embarcações”. 
Neste caso, estamos lidando com bens ma-
teriais e financeiros, muitas vezes uma he-
rança que é repassada entre os membros da 
família. Podemos, ainda, dizer que “o maior 
patrimônio de Beltrano é preparar pratos 
típicos”. Neste exemplo, estamos ressaltan-
do conhecimentos e saberes de um grupo, 
expressos pela habilidade individual. Já ao 
dizermos que “a região da foz do Amazonas 
tem um precioso patrimônio natural”, apon-
tamos para os aspectos ambientais, o espaço 
e a geografia. 
Por esses três exemplos de nosso dia a dia, é 
possível perceber a abrangência e a comple-
xidade que esta simples palavra, patrimônio, 
evoca. O patrimônio contempla diferenças 
de natureza da constituição de cada bem pa-
trimonial, que pode ser classificado como 
tangível ou material (como as “coisas” todas 
produzidas ou construídas e modificadas), 
intangível ou imaterial (como os saberes, 
crenças e festas, lendas e tudo mais que en-
volve conhecimento, emoção e sentimento) 
e, ainda, ambiental ou natural (referindo-se a 
todo o bioma).
O patrimônio pode ser individual ou fami-
liar. Isto nos permite dizer que “este anel, 
os segredos culinários e este pedaço de 
chão são todo o patrimônio que eu tenho, 
é herança de família”. O patrimônio pode 
ser também coletivo. Ele é local, por exem-
plo, quando dizemos que “no município 
de Juruti, extremo oeste do Pará, ocorre 
o Festribal, importante patrimônio da lo-
calidade”. Em Barcarena, temos o Festival 
do Abacaxi, e há ainda o Círio em Moju, 
por exemplo. Associamos o patrimônio a 
uma região e comentamos que “as danças 
– como o carimbó – e as lendas – como 
a da Matinta Pereira – são verdadeiros pa-
trimônios da região amazônica”. Outros 
bens causam uma comoção ainda maior 
e são considerados importantes para um 
país ou para o planeta. Então, podemos ler 
em um jornal imaginário, que “o samba e 
o futebol são patrimônios do Brasil”; este 
mesmo jornal, em outra página, trará a se-
guinte chamada: “Minas Gerais protege o 
patrimônio da humanidade, suas grutas e 
as antigas construções do século XVIII”. 
Portanto, os patrimônios apresentam dife-
rentes escalas de pertencimento territorial.
1 http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=patrim%F4nio
12
Para debater em grupo:
- Quais os nossos patrimônios individuais e familiares? 
- E os patrimônios coletivos, de nossa comunidade e região?
- Como nos relacionamos com eles, individual e coletivamente?
13
Acordeon: é um instrumento de origem chi-
nesa que, no Brasil, marca principalmente 
a região nordeste, tendo originado o forró. 
Também foi difundido no sul com o nome 
gaita e no centro-oeste. Heliana Barriga e 
“Menina”.
Círio de Nazaré: maior manifestação 
religiosa do Brasil, realiza-se no Pará há 
mais de 200 anos. No mês de outubro, a 
capital, Belém, recebe milhões de fiéis para 
a procissão.
São Luis, patrimônio da humanidade 
desde 1997: dentre alguns dos bens desse 
conjunto estão: os casarões azulejados, de 
influência europeia e adaptados ao clima 
local; comidas, como o arroz de cuxá com 
camarão seco; as festas de boi; as praias.
Teatro da Paz: é o maior teatro da região Norte 
e um dos mais luxuosos do Brasil. Foi constru-
ído, em estilo neoclássico, entre 1869 e 1874, 
período associado ao apogeu da exploração da 
borracha. Foi aberto ao público em 1878.
Comida típica: o peixe frito com açaí é 
tradicional na feira do Ver-o-Peso como al-
moço. Dentre outras comidas estão a mani-
çoba, o tacacá e o vatapá de camarão seco.
Dança típica: no Pará, diversas danças - como 
Marujada, Lundu, Carimbó, Pássaros, Boto, den-
tre outras - expressam a complexidade simbóli-
ca, conectando saberes e fazeres que resistem 
às mudanças do tempo, são valorizadas pela 
população local que conhece os passos destes 
bailados.
14
Observando atentamente nosso cotidiano, 
percebemos como estas duas facetas do 
patrimônio, sua natureza e sua escala, 
encontram-se integradas. Para este exercício 
mental é possível buscar um exemplo 
qualquer, como o açaí.
O açaí (Euterpe oleracea) é um recurso na-
tural e um bem patrimonial natural, já que 
é uma espécie de palmeira pertencente à 
flora amazônica, notadamente da várzea. 
Antropólogos e arqueólogos estão de-
monstrando, no entanto, como as florestas 
de açaí, castanha, babaçu, dentre outras, 
podem ser associadas ao manejo de es-
pécies nativas pelas populações humanas 
do passado, cerca de 3.000 anos atrás. Os 
estudos realizados pela Embrapa (Empre-
sa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) 
demonstram que essa espécie de palmeira 
é originária de cruzamentos e manejo de 
sementes. Algo que parece ser capricho da 
natureza vem se mostrando, ao longo do 
tempo, como resultado da relação entre o 
ser humano e o ambiente, a interação en-
tre o saber-fazer humano e as respostas da 
natureza local. 
Para manejo e processamento do açaí são ne-
cessários saberes e práticas específicas para 
o preparo do solo e das sementes, as mudas 
para o plantio, o cuidado com a planta e a 
coleta do alimento. A partir desses saberes 
práticos, os grupos humanos construíram os 
saberes imaginários como as lendas e histó-
rias, que fazem parte do conhecimento sobre 
a fruta. No entanto, em muitos locais, o açaí 
tem sido cada vez mais consumido, mesmo 
em regiões onde não há açaizais. E em cada 
local, a culinária se apropriou de uma forma 
Açaí
distinta deste patrimônio natural amazônico, 
fazendo dele também um bem cultural. Por 
exemplo, em Belém, no estado do Pará, o 
açaí pode ser consumido puro, apenascom 
o acréscimo de farinha ou acompanhado de 
um delicioso peixe frito. Já no estado de São 
Paulo, ele é encontrado em forma de vitami-
na, com cereais e mel. Podemos, ainda, citar 
outros exemplos do conhecimento tradicio-
nal popular, como o uso da raiz do açaizeiro 
como vermífugo, depois de uma preparação 
específica.
O açaí também se transforma em bem cul-
tural a partir do aproveitamento artesanal de 
suas sementes, da utilização de suas folhas 
e de seu tronco. Diferentes tipos de artes 
são realizados com a semente do açaí, como 
colares, pulseiras e outros objetos, tanto por 
populações indígenas, quanto pelas popula-
ções caboclas e ribeirinhas. A diferença na 
forma de produzir refletirá a particularida-
de e identidade de cada sociedade. Em um 
mesmo grupo indígena, há diferença entre 
os objetos feitos para a venda e aqueles 
adornos feitos para o próprio uso. As fo-
lhas do açaí também são utilizadas como 
matéria-prima para a cobertura de casas e 
seu tronco é bastante utilizado na constru-
ção de pontes. Todas essas formas de uso 
cultural do açaí são muito difundidas no co-
nhecimento dos povos ribeirinhos da região 
da várzea amazônica.
15
Sobre o açaí conhecemos ainda sua lenda, bem cultural imaterial, 
que narra o seguinte: 
Uma tribo indígena da Amazônia estava passando um período de grande es-
cassez e penúria, levando toda a aldeia para a morte. Diante desta situação tão 
grave, o cacique (que é o chefe dos índios) resolveu tomar uma medida drástica 
para minimizar a dor de seu povo. Ele resolveu sacrificar todas as crianças que 
iam nascendo para que assim houvesse menos gente a ser alimentada. Entretan-
to, sua filha Iaçá estava grávida e sentiu toda a dor de ver sua filhinha ser morta, 
e chorou muito por ela em sua maloca. Iaçá chorou por dias a fio, sem sair de 
sua casa. Um dia, no meio da noite, Iaçá acordou com o choro de uma criança 
e saiu de sua rede para ver o que era. Ao alcançar a porta de sua maloca viu sua 
filha abraçada ao tronco de uma palmeira. Maravilhada com sua visão correu 
em disparada para abraçar sua filha, que desapareceu. No dia seguinte Iaçá foi 
encontrada morta, mas com um grande sorriso, abraçada a palmeira, com olhos 
negros que fitavam um cacho cheio de frutinhas pretas. O cacique pediu que 
coletassem a fruta, e logo percebeu que poderia utilizá-la para alimentar seu 
povo. Em homenagem a sua filha nomeou a fruta de açaí, que é o nome de Iaçá 
ao contrário. Deste dia em diante, nenhuma criança precisou ser sacrificada, e o 
povo passou a utilizar o açaí como alimentação cotidiana.2 
2 http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/2782005 
PATRIMÔNIO MATERIAL PODE SE 
TRANSFORMAR EM ARTESANATO. 
VEJA O MEU COLAR E BRINCOS FEITOS DE 
SEMENTE DE AÇAÍ!
E...É...PATRIMÔNIO NATURAL!
COM A LENDA DO AÇAÍ 
TORNA-SE PATRIMÔNIO IMATERIAL E...
O AÇAÍ É TODINHO PATRIMÔNIO!
E É TÃO GITITO*!
*Gitito = pequeno
16
Vale narrar uma ocasião em que pre-senciei Maíra comentando sobre sua 
descoberta com alguns colegas, em uma 
agitação entusiasmada. Nas palavras dela: 
“Égua! Não sabia que tinham tanto signi-
ficado estes objetos! Fiquei pensando! Se 
o colar de açaí for um presente especial, 
como este meu colar que foi feito pela mi-
nha tia-avó, que já faleceu, o patrimônio 
fica como que misturado: é patrimônio ma-
terial e imaterial ao mesmo tempo! Como a 
matéria-prima é uma semente, ainda é pa-
trimônio natural. Vejam só como é interes-
sante este pequeno patrimônio que tenho! 
O açaí é todinho patrimônio!”. 
Como tão bem observou a jo-
vem, as classificações utiliza-
das para caracterizar o pa-
trimônio não têm caráter 
excludente, servem para 
descrever o bem quanto 
à sua natureza. Devemos 
ter atenção para entender 
o patrimônio de forma inte-
grada e integral.
O mesmo ocorre quando se observa 
qualquer tipo de patrimônio, como uma 
casa antiga, por exemplo. Trata-se de um 
bem patrimonial material, pois é um bem 
construído, uma edificação, porém, não se 
pode deixar de observar que sua implanta-
ção em um local implica em alteração do 
relevo, do ambiente. Além disso, os ma-
teriais utilizados na edificação requerem a 
presença de recursos naturais, o que mostra 
a relação entre o humano e o ambiente. Um 
exemplo simples está na produção de tijo-
los de adobe ou taipa: em ambos os casos 
são necessários diversos elementos naturais 
e elementos produzidos: argila, instrumen-
tos para mistura da massa, palha, madeira, 
e, no caso do adobe, molde para produção 
em série. A própria organização do espaço 
construído, a divisão dos cômodos e a al-
tura das paredes são aspectos que demons-
tram a maneira como a moradia era pensa-
da e vivenciada por gerações anteriores à 
nossa, e revelam sobre o pensamento e a 
forma de agir de um grupo em certo lugar 
e tempo. Tudo o que se relaciona à cons-
trução de uma casa pressupõe muitos co-
nhecimentos do meio, dos materiais e das 
técnicas – conhecimentos acumulados por 
várias gerações.
Ademais, o patrimônio, tanto de forma in-
dividual quanto coletiva, pode mudar e 
constantemente o faz, porque todo ser 
humano é dinâmico e está a todo 
instante fazendo sua história, 
que também é dinâmica.
Em nossa própria história 
de vida, por exemplo, ele-
gemos diferentes bens ma-
teriais para nos representar 
durante os anos. 
Nossa amiga Maíra, na infân-
cia, gostava de brincadeiras de roda, 
de pular corda; seu irmão gostava de outros 
brinquedos, como figurinhas e carrinhos. Na 
adolescência, Maíra prefere os jogos do ce-
lular novo, ir ao cinema e à praça, mas ainda 
brinca de cantigas de roda com seu irmão 
mais novo. Quem sabe o que vai querer na 
vida adulta? Talvez, uma casa e um meio 
de transporte, como carro, barco ou moto; 
como tantos de nós. Nossos gostos e cos-
tumes se modificam ao longo do tempo. Já 
não vivemos exatamente como viviam nos-
sos pais, muito menos como nossos avós, a 
tecnologia e o modo de vida mudaram a pai-
sagem, a mentalidade, o gosto e o comporta-
mento. Essa dinâmica faz parte da constru-
ção de nossa sociedade.
 
Devemos atentar 
para a sobreposição destas 
categorias do patrimônio, 
a diferença de natureza da 
constituição do bem e escala 
de pertencimento.
17
O ambiente também está em constante 
mudança: diferentes estações do ano; dife-
rentes movimentos do rio. Para a ocupação 
humana áreas são modificadas e paisagens 
são alteradas, desde pequenas comunidades 
até cidades e metrópoles. Manejamos plan-
tas em nossos jardins e as modificamos, e 
ao fazê-lo, por vezes alteramos nossos cos-
tumes culinários com novos procedimen-
tos alimentares. A todo instante, na relação 
entre os seres humanos e os ambientes, 
cada um deles vai se modificando de forma 
dinâmica e recíproca, criando um meio am-
biente cultural.
Esta é a complexidade do bem patrimonial: 
ele se refere à relação entre os objetos que 
podemos tocar; os conhecimentos que ad-
quirimos executando tarefas ou escutando 
uma história; e os bens naturais que mani-
pulamos e transformamos ao mesmo tem-
po em que, ao assim procedermos, estamos 
produzindo conhecimentos e novos sabe-
res, que também são patrimônio. 
Tudo isto ao mesmo tempo é patrimônio, 
está integrado e relacionado. A separa-
ção que se faz entre patrimônio natural, 
cultural imaterial e cultural material é 
somente para que a explicação seja mais 
didática, para que o entendimento seja 
mais fácil, mas podemos ver as muitas 
facetas dessa integração em cada bem 
patrimonial.
Na imagem: ruínas da construção jesuítica de Jaguarari, Barcarena - Pará. As fotos 
mostram revestimento externo com argamassa de areia, cal e barro; estrutura com téc-
nica mista de pedra, tijolo, cal e barro. Construção da primeira metade do século XVIII.
REVESTIMENTO EXTERNO DE PAREDE
ARGAMASSA DE AREIA, CALE BARRO.
ESTRUTURA 
DO VÃO EM 
TIJOLO 
MACIÇO.
VERGA EM 
TIJOLO.
CIMALHA DE 
ARREMATE
DOS BEIRAIS.
Fonte: MARQUES, Fernando L. T. Projeto Arqueologia e História de Engenhos Coloniais no Estuário Amazônico. Museu Paraense Emílio Goeldi, 2005.
ALVENARIA MISTA EM PEDRA, 
TIJOLO, CAL E BARRO.
18
O que é memória?
Em diferentes dicionários de língua por-
tuguesa encontramos diversas formas de 
definir a palavra memória, que vem do la-
tim e significa “faculdade de conservar ou 
readquirir ideias ou imagens; lembranças e 
reminiscências; capacidade dos organismos 
vivos de se aproveitarem da experiência pas-
sada, em virtude da qual passam a ter uma 
história; fundamento do aprendizado em 
geral, em qualquer de seus aspectos (motor, 
emocional, verbal, consciente, inconsciente); 
narrações de caráter pessoal escritas para 
servirem de subsídio histórico”3.
Esta palavra, memória, associa-se à constru-
ção de nossa vida cotidiana, pois a memória 
que temos de pessoas, locais e objetos é o 
que nos permite formar um enredo que nos 
localiza e nos posiciona no mundo. Os pa-
trimônios que elegemos e com os quais nos 
relacionamos, sejam objetos, saberes ou o 
ambiente, são mantidos em nossa vida atra-
vés da memória.
Nossa memória é formada tanto por ex-
periências vivenciadas por nós quanto por 
histórias contadas e confirmadas por outros 
viventes, que vão se projetando em nós. Re-
unimos fatos, histórias e, por vezes, recru-
tamos o outro, “alguém que não nos deixa 
mentir”, para revigorar nossa memória pes-
soal, como se a lembrança precisasse ser 
confirmada por outro para retirar as dúvidas 
de ilusão e invenção que a memória carrega. 
Quando reunimos a família ou os amigos 
para conversas e lembranças, logo se perce-
be como cada um de nós, por sermos in-
divíduos memorizadores, guardamos certos 
3 http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=mem%F3ria
fatos melhor que outros e criamos uma es-
pécie de seleção. Cada pessoa, de um gru-
po que vivenciou uma experiência, é capaz 
de detalhar algum ponto que outra, talvez, 
não tenha sequer observado. Isto porque o 
que somos capazes de observar e memorizar 
tem estreita relação com a forma como nos 
relacionamos com o mundo, com as pessoas 
e com os fatos envolvidos. Tal diversidade e 
particularidade nos permite ter, ao mesmo 
tempo, uma memória individual e uma me-
mória de grupo. 
A memória humana é frágil e finita, por isso, 
cada sociedade estabelece maneiras diferen-
tes de armazenar e preservar esta memória, 
que também se constitui de forma coletiva 
(JONES, 2007). Se, por um lado, é o ser hu-
mano quem recorda, por outro é necessário 
que se estabeleçam laços de convivência para 
preservar esta memória que sempre se dissi-
pa. Podemos preservar uma memória atra-
vés da tradição oral, recontando a história 
e, ainda, registrar pela escrita, pela imagem, 
além de que, atualmente, também podemos 
arquivá-la na memória de um computador, 
por exemplo.
A memória é dinâmica, pois reflete uma 
emoção, uma experiência. Mas, ao mesmo 
tempo, quando evocada, sempre é seletiva, 
é filtrada pelas relações sociais e pessoais. A 
memória, portanto, é ativa, refletindo, jus-
tamente, nossa experiência com as ideias e 
os objetos. Neste sentido, tanto a memória 
quanto o patrimônio se assemelham.
Podemos esquecer ou lembrar experiências 
que vivenciamos, sejam elas boas ou ruins. 
19
As lembranças podem ser estimuladas pelos 
sentidos (como cheiro, gosto, toque), por lo-
cais e ainda por objetos e pessoas, de modo 
que até uma frase pode nos estimular a lem-
brar, buscar algo que estava mais adormecido 
na memória. A memória é múltipla e profun-
da, é capaz de conectar milhares de informa-
ções ao mesmo tempo e é fundamental no 
processo individual de percepção da história, 
na medida em que guarda as informações do 
passado e as faz interagir com as vivências 
do presente, para o planejamento do futuro. 
Esta ligação entre a memória e o tempo é im-
portante para nossa reflexão. Com o passar do 
tempo, vamos colecionando lembranças dife-
rentes de nossa vida; lembranças das brincadei-
ras de rua, dos passeios na praça, do cheiro da 
casa da mãe, dentre outras. Tal como seleciona-
mos os patrimônios que nos representam.
É através da memória que temos noção de 
tempo e consciência histórica. Com as me-
mórias que temos podemos ver de forma re-
trospectiva o passado, somos, por exemplo, 
capazes de observar a passagem do tempo 
e dizer: “Na minha infância, as brincadei-
ras eram mais cooperativas, as construções 
eram menos numerosas e o ambiente não 
estava tão alterado”. 
Quando mergulhamos na memória dos an-
tigos somos conduzidos ao passado, aos 
eventos e aos locais por vezes já desapareci-
dos. Quando entramos em uma antiga cons-
trução e observamos atentamente, também 
podemos ser conduzidos à outra época, evo-
cada pela memória dos objetos, pela forma 
de construir, pelo material utilizado. Essas 
lembranças, essas memórias, conduzem-nos 
ao passado, auxiliando-nos a entender quem 
somos em nosso grupo e onde estamos tan-
to no espaço quanto no tempo. Com isto, 
podemos dizer que o patrimônio também 
tem memória. Mesmo Maíra não conhecen-
do o início das festas de boi, ela pode co-
nhecer esse patrimônio cultural através da 
memória de outros, como de sua mãe e de 
seu pai, que sempre lhe mostram as fotos da 
juventude deles. E, através das imagens e das 
narrativas, Maíra pode construir sua própria 
memória sobre patrimônios que, às vezes, já 
desapareceram da prática, mas ficam guarda-
dos nas lembranças dos viventes.
MEMÓRIA
MEMÓRIA
MEMÓRIA
20
A Memória
 Proibida 
(Eduardo G
aleano, 20
09)
O bispo Ju
an Gerard
i presidiu o
 grupo de 
tra-
balho que
 resgatou 
a história 
recente do
 ter-
ror na Gua
temala. 
Milhares d
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stemunhos
 recolhidos
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todo o pa
ís, foram 
juntando o
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 dor: 150 
mil 
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1 milhão d
e exilados 
e refugiado
s, 200 mil 
ór-
fãos, 40 m
il viúvas. 
Nove de ca
da dez vítim
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ioria indíge
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ta-feira de
 abril de 1
998. Dois 
dias depoi
s, o 
bispo Ger
ardi foi en
contrado m
orto, com 
o 
crânio esfa
celado a g
olpes de p
edra.
Por que alguns eventos e alguns patrimônios parecem mais lembrados e 
vivos do que outros? Por que algumas histórias parecem adormecer tão 
mais rapidamente? A memória coletiva está mergulhada em interesses 
de grupos dominantes, que se esforçam politicamente para que alguns 
pontos sejam mais lembrados do que outros. Outros esforços de ativar a 
memória, por vezes, são repreendidos de forma violenta, como o evento 
ocorrido em 1998, na Guatemala.
Vale perguntar:
21
A narrativa de Galeano (2009:214) mostra como na política da memó-
ria pode ocorrer, eventualmente, violência para garantir o silêncio sobre 
algum evento ou fato. A memória e o patrimônio compõem, então, o alvo 
de interesse de grupos humanos, como qualquer outro aspecto da vida 
social. Devemos estar atentos para agir de forma ativa em relação às me-
mórias e seus patrimônios, que não queremos ver silenciados. 
As ciências sociais como a antropologia, a sociologia e também a história, 
dentre outras, utilizam as memórias individuais e coletivas para entender 
o comportamento humano. A experiência humana é variada e contém, 
necessariamente, as memórias traumáticas e as prazerosas. Todas elas são 
igualmenteimportantes, pois é através dessas experiências adquiridas no 
passado que vivenciamos o presente e planejamos o futuro.
Cientistas, como Eric Kandel, também se preocupam em buscar a me-
mória, traçando suas bases biológicas, alicerçados no comportamento 
dos neurônios. O cientista mencionado foi Prêmio Nobel de Medicina 
e, juntamente com uma equipe de profissionais, têm demonstrado que 
a memória pode ser entendida como um híbrido biológico. A memória 
está localizada em alguns pontos específicos do cérebro, mas sua ação 
provoca alterações em toda a estrutura cerebral. Estas alterações cerebrais, 
chamadas sinapses, são produzidas através de estímulos, como no ensino-
-aprendizagem, e acessamos esse conhecimento no instante que precisa-
mos, sem ser necessário um esforço consciente. Por exemplo, depois que 
aprendemos a falar, a andar ou a ler, armazenamos centenas de informa-
ções nos nossos neurônios, a partir das quais construímos e interpretamos 
regras sociais e gramaticais, sem que pensemos sobre isto. Parece que so-
mente agimos. Esta mesma experiência ocorre ao aprender uma técnica; 
se, inicialmente, temos que refletir conscientemente sobre as regras (por 
exemplo, ao aprender a dirigir um veículo, temos que ligar o carro, soltar 
o freio de mão, pensar nas marchas e velocidade), posteriormente essas 
regras são acessadas sem que tenhamos que refletir conscientemente (isto 
é, passamos simplesmente a dirigir o veículo, aí incluindo todas as ações 
precisas); o corpo e a mente se organizam, graças à memória, para buscar 
a informação necessária.
Assim, a memória abriga tanto facetas individuais 
quanto coletivas, esferas culturais e biológicas. 
22
O que é cultura?
Retornando a qualquer dicionário de língua 
portuguesa, é possível constatar que a pala-
vra cultura pode ser entendida de diferentes 
maneiras. Para as ciências biológicas, cultura 
é um meio no qual se desenvolve um micro-
-organismo; para as ciências da terra, pode 
ser uma área de lavoura, como a cultura do 
café ou da soja; para as ciências sociais, diz 
o dicionário, cultura é um “sistema de ideias, 
conhecimentos, técnicas e artefatos, de pa-
drão de comportamento e atitudes, que ca-
racteriza uma determinada sociedade”4. 
Em nosso dia a dia, podemos nos lembrar 
de diferentes situações nas quais a palavra 
cultura aparece. 
Escutamos, por vezes, que “Sicrano não tem 
cultura, desconhece os fatos importantes 
pelos quais o Brasil e o Pará passaram ao 
longo de sua história”. Nesta frase, cultura 
tem o significado de escolaridade, domínio 
sobre os acontecimentos políticos e sociais, 
conhecimento e sabedoria, 
como se cultura fosse me-
dida pelo estudo e a grande 
quantidade de leitura, pelos 
títulos da universidade ou por 
cursos. Neste sentido, cultura 
é confundida com erudição 
ou mesmo com inteligência, 
que é a capacidade de reali-
zar operações mentais e lógicas, capacidade 
que todos os seres humanos compartilham. 
Então, cultura não é inteligência e não pode 
ser confundida com ela. Erudição, em nosso 
país, depende de contexto econômico e po-
lítico, e pouco se relaciona com qualidades 
individuais.
4 http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.
php?lingua=portugues-portugues&palavra=cultura
Diversas vezes observamos que a palavra 
cultura aparece para classificar pessoas ou 
grupos de uma sociedade, chegando a ser 
utilizada como arma discriminatória contra 
algum sexo (“os homens são menos cultos 
que as mulheres”), opção sexual (“a cultura 
gay é pervertida”), etnias (“os negros não têm 
cultura”) e localização geográfica (“os habi-
tantes da região nordeste brasileira são igno-
rantes, enquanto que os habitantes da região 
sul são cultos”). É, ainda, comum escutar a 
palavra cultura com significado associado 
a uma hierarquia em relação à humanidade. 
Por exemplo, os “indígenas têm uma cultura 
muito atrasada, primitiva, como a da Idade da 
Pedra”. Essa forma de utilizar a noção de cul-
tura, como sistema de classificação que hie-
rarquiza modos de vida, é preconceituosa e 
incorreta. É preconceituosa, pois desqualifica 
as formas particulares de viver e pensar no 
mundo. É incorreta por anular a contri-
buição de cada grupo 
humano para o con-
junto da humanidade. 
AH! INTERESSANTE! VEJAM COMO ESTE POTE À 
SUA ESQUERDA É TÃO PEQUENO E O OUTRO É 
BEM MAIOR E DE FORMA DIFERENTE. 
MAS ISSO NÃO QUER DIZER QUE UM É MELHOR 
QUE O OUTRO, ACHEI OS DOIS BONITOS, E 
DEVEM TER FUNÇÕES DIFERENTES.
23
Para que fique mais claro, tomaremos como 
exemplo para este aspecto da noção de cul-
tura, outra palavra de nosso cotidiano.
Quando utilizamos a palavra personalida-
de5 no nosso dia a dia, assim fazemos para 
reforçar características desejáveis ou inde-
sejáveis em uma pessoa, como na frase:
“Nair tem personalidade, enquanto seu ir-
mão não tem nenhuma”. 
No entanto, quando consultamos o signi-
ficado desse termo na psicologia, enten-
demos que personalidade é um conjunto 
de características, marcas e formas de ex-
pressão individual, que foi desenvolvido 
através das interações familiares e coleti-
vas deste indivíduo em seu meio. Com este 
significado, fica incongruente pensar em 
alguém como não tendo personalidade. 
Na frase anterior, a palavra personali-
dade é utilizada como sinônimo para 
presença, magnetismo. Ocorre é que 
desenvolvemos um conjunto próprio de 
maneiras de nos expressar, podemos não 
ter o mesmo carisma e beleza física que 
uma atriz da televisão, mas cada um de 
nós tem uma personalidade particular. 
5 A comparação entre cultura e personalidade foi e ainda é alvo de linhas de pesquisa na antropologia e na 
psicologia, são noções que podem ser relacionadas.
6 Esta frase tem sido muito utilizada nas campanhas de publicidade sobre inclusão de diferenças no Brasil.
Cultura ... Personalidade
Sejamos extrovertidos ou introverti-
dos, falastrões ou calados, impruden-
tes ou cautelosos, teremos um conjun-
to de traços que nos caracteriza, pois 
cada um de nós ocupa um lugar social, 
tem desejos e aspirações. E, em nos-
sa vida cotidiana, em nossas próprias 
famílias, sabemos como “é normal ser 
diferente6”. 
Em uma mesma família, cada um manifes-
ta, ao longo de sua vida, traços particulares 
e únicos, e, em geral, vemos isto com mui-
ta tranquilidade e normalidade.
A cultura apresenta aspectos semelhan-
tes à personalidade, pois também é um 
conjunto de características particulares 
desenvolvido por uma sociedade ou por 
parte dela e, por extensão, pelos indiví-
duos. 
Cada grupo humano, mesmo que seus 
membros apresentem comportamentos 
individuais às vezes opostos, comparti-
lha um conjunto de traços que expressa 
o modo socialmente apropriado de viver, 
pensar, relacionar-se e agir, para aquela co-
letividade. 
24
Para a reflexão e análise das sutilezas da 
noção de cultura, recorreremos à sociolin-
guística e à observação da linguagem. 
Quando nascemos, convivemos com pes-
soas mais velhas, que compartilham uma 
série de ideias e práticas, entre elas a forma 
de falar. Nos primeiros anos de vida, somos 
ensinados e repetimos palavras (“mamãe”, 
“papai”, “água”), que começam a adquirir 
significado, pois começamos a entender e 
a memorizar o que implica para o grupo. 
Logo depois, sem consciência de nossa 
descoberta, começamos a articular as regras 
gramaticais que escutamos e construímos 
frases (“eu quero ver a mamãe”, “eu me 
machuquei na brincadeira”). Aos poucos, 
desde pequenos, vamos observando e do-
minando grande conjunto de comporta-
mentos práticos e regras mentais, que orga-
nizamos em nossa memória, expressamos 
e compartilhamos como patrimônio, pois 
são diretrizes comuns ao grupo humano do 
qual fazemos parte, nossa cultura. 
Sabemos que cada lugar (cada região e loca-
lidade) tem sua forma específica de entona-
çãode uma palavra, expressões e gírias pró-
prias, um sotaque que particulariza cada lugar.
Cultura ... Linguagem
Ainda devemos observar que, com o pas-
sar das gerações, a forma de dizer algumas 
palavras, ou mesmo expressões e gírias, mo-
difica-se, pois a língua é dinâmica, como o 
patrimônio e a memória. Essas escolhas so-
ciais, que contam sobre uma época e sobre 
um lugar, formam também aspectos cultu-
rais. Formas de falar mostram histórias par-
ticulares e revelam aspectos do ambiente, 
da interação com outros grupos humanos, 
da forma de se relacionar com objetos.
Tanto a língua quanto os costumes são exte-
riores e anteriores a nós e, quando nascemos, 
vamos interiorizando essas práticas, da nossa 
maneira, dentro de nossa experiência, modi-
ficando a realidade, o meio e a nós mesmos 
ao longo de nossa existência. Desde a infân-
cia, aprendemos o modo de vida de nossa 
localidade, a forma de pensar, a maneira de 
fazer objetos e construções, a forma de gesti-
cular e contar histórias, a maneira de se vestir 
e de andar. Enfim, desde o nosso nascimento 
vamos conhecendo nosso patrimônio e nos-
sa cultura, o que inclui desde ações cotidianas 
como a forma de andar e as expressões da 
linguagem, até as grandes manifestações fol-
clóricas que estão em nosso entorno.
Existem muitas expressões típicas que representam 
sentimentos de surpresa, espanto, raiva, dúvida, 
admiração; dependendo da entonação da palavra. 
No Pará existe uma palavra para tudo isso, como: 
ÉGUA!
Lá em Minas Gerais a 
expressão é: UAI!
E o meu pai pernambucano 
falava: OXENTE!
25
O antropólogo Geertz nos conta 
como uma simples ação pode mos-
trar o caráter denso e profundo, 
mas também singelo da cultura. 
Em nosso exemplo usaremos as pisca-
delas, que são o movimento de fechar 
a pálpebra somente de um olho en-
quanto o outro fica aberto. A piscade-
la pode ser entendida como uma ação 
de paquera: um olho sedutor encara 
o alvo do amor enquanto o outro se 
fecha moroso. Mas pode ser um tique 
nervoso, um ato até involuntário para 
o indivíduo que contrai imperceptivel-
mente a pálpebra; pode, ainda, ser uti-
lizado para gracejar de alguém, sempre 
com auxílio de uma testemunha, alvo 
da piscadela zombeteira, que saberá de 
antemão que a futura narrativa é uma 
farsa. Ou seja, um mesmo evento para 
um mesmo grupo pode ter significa-
dos diferentes, dependendo do contex-
to. Para interpretar corretamente cada 
gesto cultural, por mais simples que 
pareça, devemos entender profunda-
mente seus significados. 
A cultura já foi comparada a uma rede 
de pesca, com amarrações demonstran-
do a organização de um todo comple-
xo. A cultura foi comparada também a 
uma peça teatral na qual vivenciamos 
diferentes papéis sociais: mães e pais, 
filhas e netos, esposas e maridos, per-
tencemos a diferentes grupos sociais, 
somos membros de associações fol-
clóricas, profissionais, religiosas e po-
líticas. A cultura foi comparada ainda 
a um jogo de futebol, do qual partici-
pamos, também com diferentes papéis, 
nos emocionamos, e sobre o qual atua-
mos, modificando regras.
Cultura é, enfim, tudo isto: 
modos particulares de viver em grupo. A 
cultura é duradoura sem ser eterna, é, ao 
mesmo tempo, interior e exterior a nós. 
Cada cultura expressa uma forma de or-
ganização, interpretação e entendimento 
do mundo, formula perguntas e respos-
tas diferentes, apresenta modo de pensar 
e agir que é sempre particular e concen-
tra conhecimentos, saberes, objetos e 
coisas que expressam a forma de viver 
de certo grupo em um local e épocas es-
pecíficos. Cada grupo humano tem uma 
cultura, seu patrimônio e sua memória, 
que são dinâmicos e particulares.
Esta forma de entender a cultura permi-
te dois raciocínios: primeiro não é pos-
sível haver ser humano sem cultura e, 
segundo, não é possível hierarquizar as 
culturas, colocando uma como superior 
e outra como inferior. 
A noção de cultura é um conceito cons-
tantemente discutido e repensado por 
cientistas sociais diversos (mas, funda-
mentalmente, pelos profissionais em 
antropologia e arqueologia), que têm 
notado o uso político deste conceito. A 
noção de cultura tem despertado uma 
maior consciência entre grupos, que têm 
percebido a importância da valorização 
de seu patrimônio, de sua memória, de 
sua cultura. Como os quilombolas e as 
populações indígenas, por exemplo, que 
têm se organizado em associações civis 
para preservar seus conhecimentos, suas 
formas de pensar e agir, seus objetos e 
construções peculiares. É clara para eles 
a importância de conhecer, valorizar e 
preservar os conhecimentos herdados 
dos antigos, ou seja, o próprio patrimô-
nio cultural, para que possam se expres-
sar através deste saber particular.
26
O que é diversidade?
Diversidade é uma palavra que vem do la-
tim e significa “qualidade daquele ou daqui-
lo que é diverso; diferença, dessemelhança; 
variedade”7.
No nosso cotidiano, assistimos em qualquer 
jornal televisivo de âmbito nacional, a uma en-
xurrada de informações contando sobre a vida 
em diferentes países e culturas. No aconchego 
de nosso lar, assistimos também a novelas que, 
de forma romanceada, mostram o modo de 
vida na Índia, no Marrocos, na Itália e em Is-
rael, e também reconstituem, por exemplo, di-
ferentes épocas. Através das novelas televisivas 
podemos notar a diversidade cultural através 
das roupas, dos objetos, das construções, das 
lendas, dos saberes, dos costumes, das festas, 
dos causos e contos, da culinária, da forma de 
ocupar a paisagem, dentre outras diferenças de 
pensamento e de formas de fazer. 
7 http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=diversidade
Assim, a diversidade é um fato: é normal ser 
diferente! A diferença está implícita em cada 
pessoa e em cada coletivo, pois elegemos pa-
trimônios particulares, expressamos culturas 
também específicas, temos memórias distin-
tas e identidades específicas. 
As diferenças nos mostram como o mun-
do pode ser visto sob diferentes pontos 
de vista, de diferentes posições. “As dife-
renças se atraem”, dizemos em nosso co-
tidiano. Elas nos colocam curiosos sobre 
o outro e, como em um jogo de espelhos, 
podemos ver a nós mesmos também; pos-
sibilitam trocas de experiências e de pontos 
de vista. Conhecemos casais que convivem 
harmonicamente porque suas diferenças 
de personalidade se complementam, por 
exemplo, um casal no qual um é agitado e o 
outro é mais calmo.
PAPAI SEMPRE DIZ O VELHO DITADO:
 “O QUE SERIA DO VERDE SE TODOS GOSTASSEM DO AZUL?”
27
Se observarmos as palmeiras, tão comuns na região da foz do 
Amazonas, perceberemos imediatamente grande variedade e 
diversidade dentro de um mesmo grupo. Na fauna e na flora estamos 
acostumados a perceber esta diversidade, como no exemplo de 
diferentes palmeiras conhecidas: açaí, miriti e tucumã. Embora 
existam semelhanças que podem reunir a todos esses exemplares em 
um mesmo grande conjunto de palmeiras, existem, ao mesmo tempo, 
outras características que as diferenciam dentro do grupo, como o 
caule, a folhagem, o fruto e os usos que damos a eles.
A diversidade pode ser encontrada não so-
mente no comportamento humano e nas 
expressões fenotípicas, como na cor de nos-
sos olhos ou no tom de nossa pele, mas em 
nosso código genético, como bem sabem os 
educadores de biologia. 
No nosso dia a dia também percebemos a 
diversidade, a diferença de ponto de vista, 
em muitas situações. Por vezes cobramos 
dos amigos: “ponha-se no meu lugar e me 
diga, o que você faria?”, para situações deli-
cadas de nossa vida. Isto significa que pode 
ser enriquecedor observar, de outro ponto 
de vista, o caminho a percorrer.
A diversidade nada mais é do que o resulta-
do de escolhas individuais e coletivas, que 
marcam uma forma de ver ese expressar 
sobre o mundo, que nos identifica neste 
mundo. 
Para exemplificar, apresentamos outro 
pequeno texto de Eduardo Galeano que 
expressa, de maneira humorística, a 
forma particular que temos de observar 
o nosso entorno, o ponto de vista.
Palmeira do Açaí Palmeira de Miriti Palmeira de Tucumã
28
Como mostra o poema, o ponto de vista varia 
de acordo com a pessoa e o contexto. Cada 
um de nós observa o outro com suas próprias 
lentes culturais, dentro de seu contexto espe-
cífico. Assim, é possível que tanto o nativo 
quanto o turista pareçam exóticos um para o 
outro. O ponto de vista que temos está estri-
tamente relacionado com nossas experiências 
de vida.
Não podemos deixar de discutir que as dife-
renças, quando dizem respeito aos humanos, 
podem parecer bastante indigestas e alguns 
grupos desenvolvem uma visão ou forma de 
pensamento que crê na supremacia do seu gru-
po étnico ou da sua nacionalidade sobre os de-
mais. A esta forma específica de ver o mundo 
chamamos etnocentrismo, palavra que descen-
de do grego, e talvez possa ser traduzida lite-
ralmente por centralizar em seu próprio povo.
A estranheza que a diversidade de procedi-
mentos e formas de pensar – que não com-
partilhamos – pode causar em nós, não ocorre 
somente em relação aos “outros”, mas se dá 
também dentro do seio de nosso grupo. Ou 
seja, há diversidade nos “outros”, mas tam-
bém “entre nós”. Por exemplo, em nossa 
sociedade, até a década de 1980, a prática de 
tatuar o corpo era rara e mal vista, chegando 
a dificultar o ingresso em algumas profissões. 
Hoje, as tatuagens são mais toleradas, embora 
possam causar desconforto em algumas pes-
soas de nossa própria sociedade. 
A antropologia – que pesquisa o comporta-
mento social dos seres humanos no presente 
–, em geral, tem se dedicado ao estudo des-
ta diversidade do comportamento no mun-
do atual. A arqueologia, por sua vez – que é 
o estudo de grupos humanos a partir de seus 
objetos, muitas vezes em culturas que já não 
existem – também investe em entender a di-
versidade que observa. 
Cabe dizer que essas ciências são inimigas do 
etnocentrismo e a favor do entendimento da 
diversidade cultural. O estudo da diversidade 
cultural não objetiva segregar grupos que de-
vam ou desejem preservar sua forma de pen-
sar, mas sim, focalizar o melhor entendimento 
das razões da diferença entre os grupos, para 
que o diálogo e as recompensas sejam possí-
veis. O que interessa é tornar visíveis o “ou-
tro” e “nós”, entender suas relações no mun-
do contemporâneo. Mundo este que está cada 
vez mais híbrido, como uma colagem, uma 
junção de diversidades.
Ponto de Vista
Do ponto de vista da coruja, do morcego, do boêmio e do ladrão, o crepúsculo é a hora do café da manhã.
A chuva é uma maldição para o turista e uma boa notícia para o camponês.
Do ponto de vista do nativo, pitoresco é o turista.
Do ponto de vista dos índios das ilhas do Mar do Caribe, Cristóvão Colombo, com seu chapéu de penas e sua capa de veludo encarnado, 
era um papagaio de dimensões nunca vistas.
Eduardo Galeano, 2009:31.
29
Diversidade brasileira
Na região do baixo curso do rio Amazonas, muitos migrantes ju-deus marcam presença desde meados do século XX. No sudes-
te paraense, ainda há muitos europeus vindos através de congrega-
ções religiosas da Europa. Grandes colônias de migrantes japoneses 
e indianos foram para a foz do Amazonas e para o nordeste brasilei-
ro. Áreas indígenas demarcadas na proximidade de sedes municipais 
possibilitam contato intenso entre indígenas e não indígenas. Cada 
um de nós é capaz de multiplicar estes exemplos de relação social 
entre grupos culturalmente distintos, partindo do próprio cotidiano. 
E é sabido que estas interações nem sempre são cordiais, como se o 
“outro” fosse de fato invisível, indiferente ou como se a dificulda-
de da comunicação fosse intransponível. Ou como se o outro fosse 
uma ameaça, ou implicasse na existência de conflitos.
Esta realidade múltipla, nunca dantes alcançada, pede uma visão 
renovada sobre a diversidade. É necessário, aponta o antropólogo 
Geertz, que possamos compreender o outro no sentido de percep-
ção e discernimento e não no sentido de concordância com suas 
ideias e opiniões. Para tanto, é igualmente importante que a pessoa 
possa se localizar no mundo e entenda de onde é e como se expressa: 
é preciso traçar sua própria identidade. 
Compreender, sem que isto implique em indiferença ao próximo, 
como no ditado popular “cada cabeça, uma sentença”. Sem também 
que isto se torne um deslumbre pelo “outro” exótico, a quem quere-
mos obstinadamente copiar, como fazemos ao absorver, sem refle-
tir, roupas, adornos, gírias e expressões que vemos em uma novela 
televisiva de locais diferentes.
Precisamos, nestes tempos modernos, perceber as particularidades 
no interior de nós mesmos e também apreciar as características e 
particularidades de outras formas de viver. Para alcançar esta lar-
gueza de ponto de vista é necessário que não nos fechemos em nós 
mesmos, em uma ação etnocêntrica, mas que trabalhemos para per-
ceber que, se há “outros” que nos causam estranheza, igualmente 
causamos esse sentimento em “outros”. O nosso jeito de fazer algo 
é somente um jeito possível, dentro de nosso próprio ponto de vis-
ta, mas existem outros. Por isso, devemos respeitar as diferenças e 
aprender a valorizá-las.
30
Capítulo 2: 
Conhecimento legal: as leis e o 
patrimônio
30
31
Neste capítulo apresentare-
mos um pouco da legislação bra-
sileira em relação ao patrimônio, 
entendendo quem cuida e fisca-
liza estes bens que pertencem a 
todos nós. 
O principal interesse é despertar 
a curiosidade cidadã e correspon-
sável, para que compartilhemos 
estes assuntos e como cidadãs 
e cidadãos brasileiros possamos 
ajudar os órgãos públicos na po-
lítica de proteção do patrimônio. 
Em outras palavras, entender o 
papel que cada um pode desem-
penhar para cuidar dos bens pa-
trimoniais.
proteção 
do 
patrimônio
31
32
O patrimônio cultural brasileiro e as leis 
que o protegem
Todas as sociedades humanas expressam 
a forma adequada de se comportar, indivi-
dual e coletivamente, através de narrativas, 
de causos e contos, provérbios e máximas, e, 
ainda, de outras formas que revelam manei-
ras apropriadas de pensar e agir. Refletem, 
portanto, aspectos morais e éticos. 
No mundo contemporâneo, dispomos de 
diferentes ferramentas para “guardar algo na 
memória”, como dissemos anteriormente. 
Além da escrita, contamos com fotografias 
e filmagens que permitem registrar os locais, 
as pessoas, os eventos. Quando observamos 
de forma mais profunda, percebemos que 
mesmo nestes registros, como a escrita ou a 
filmagem, não é possível guardar tudo o que 
ocorre, mas somente uma parte do conjunto 
e sob uma determinada ótica.
A escrita reflete um ponto de vista parcial 
e múltiplo ao mesmo tempo. Parcial porque 
tanto a memória quanto seu registro são fini-
tos e refletem determinado ponto de vista; e 
múltiplo, porque em uma mesma sociedade, 
existem várias memórias coletivas e existirão 
narrativas diferentes, até divergentes, sobre 
um mesmo fato. Durante a “Revolução Ca-
bana”, o Padre Sanches de Brito apontava 
os participantes como “malvados rebeldes”, 
a quem a milícia deveria deter. No mesmo 
período e época, o Cônego Batista Campos 
apoiava os revoltosos, apontando-os como a 
população cabocla que deveria ser atendida 
em suas reivindicações. Uma mesma época, 
pontos de vistas diferentes.
Cada sociedade organiza uma forma de pre-
servar suas memórias, que são periodica-
mente revisitadas pelas gerações sequentes, 
que avaliam, criticam, utilizam ou renegam a 
forma de pensar anterior do próprio grupo. 
A partir desta avaliação, algumas memórias 
se mantêm, outras se modificam e outras,ainda, são radicalmente transformadas e, 
por vezes, causam revoluções no comporta-
mento humano. 
Desde muito tempo a humanidade tem dis-
cutido e se preocupado com patrimônio, 
cultura, memória e diversidade. E, como se-
ria de se esperar, esta questão é encarada sob 
diferentes pontos de vista, como é comum 
no comportamento humano. Quanto mais o 
tempo passa, mais questões são inseridas e 
novos atores sociais participam das discus-
sões que incluem o patrimônio, entendido 
de forma integral e integrada.
32
33
Atualmente, podemos dizer que pessoas do mundo inteiro se in-
teressam pelo tema do patrimônio, pela diversidade cultural, pelas 
diferentes formas de registro e expressão da memória, pelas caracte-
rísticas humanas particulares que marcam a identidade dos grupos. 
Estas preocupações com a valorização e a preservação do patrimô-
nio se refletem em um conjunto de normas e questionamentos, em 
discussões e ações que visam cuidar da rica diversidade de produção 
humana. 
Tal questão não é uma preocupação recente e, como consequência, 
existem atualmente diversas organizações nacionais e internacio-
nais envolvidas em prol da preservação da memória da humanida-
de, tanto no âmbito local, quanto regional e global.
Assim, na sociedade a que pertencemos, existe um conjunto de leis 
que nos indicam como agir em relação ao patrimônio, que é um bem 
de todos. Estas leis existem tanto no Brasil quanto nos demais países 
do mundo, ao mesmo tempo em que existem regras que foram assi-
nadas por vários países ao mesmo tempo, e que valem para todos eles.
VOU GUARDAR COM CARINHO A 
FOTO DO PRÉDIO DO IPHAN EM 
BELÉM, POIS ESTÁ MUITO LINDO!
34
Gestão e cuidado com o patrimônio 
brasileiro
O Brasil estabeleceu estratégias para o con-
trole e cuidado do seu patrimônio através, 
principalmente, da criação do órgão federal 
conhecido atualmente como Instituto do 
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
(IPHAN). Esse órgão foi criado em 1937, 
como resultado do esforço de cidadãos e 
cidadãs preocupados com a valorização 
dos traços culturais e ambientais do Brasil. 
Desde então, essa instituição é responsável 
por planejar medidas e ações que visem à 
preservação do patrimônio cultural. No 
período do Governo de Getúlio Vargas, 
quando foi criado, esse instituto estava vin-
culado ao Ministério da Educação e Saúde e, 
atualmente, está associado ao Ministério da 
Cultura. Recentemente, a partir de 2009, o 
IBRAM, Instituto Brasileiro de Museus, se 
configurou como autarquia vinculada ao Mi-
nistério da Cultura, para gerenciar políticas 
públicas voltadas aos museus e instituições 
de memórias. 
A criação oficial de órgãos federais para re-
fletir e agir em prol do patrimônio natural 
é mais recente na história da legislação no 
Brasil. Os órgãos de fiscalização e contro-
le do patrimônio natural foram formatados 
em meados de 1980, com a criação do Mi-
nistério do Meio Ambiente. Atualmente, 
órgãos federais como o Instituto Brasileiro 
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais 
Renováveis (IBAMA) e o Instituto Chico 
Mendes para a Conservação da Biodiversi-
dade (ICMBio), ambos vinculados ao Minis-
tério do Meio Ambiente, atuam em parceria 
para defender o patrimônio natural.
Esta divisão administrativa é necessária, 
pois cada um dos órgãos federais encontra 
questões específicas que deve tratar, medi-
das particulares que deve observar e modos 
de fiscalizar para que todo este patrimônio 
seja protegido. Mas os diferentes órgãos – 
IPHAN, IBRAM, IBAMA, ICMBio – tra-
balham em conjunto, pois como já discu-
timos, os ambientes e os seres humanos 
formam um conjunto que se integram em 
diferentes ações, memórias e patrimônios. 
Cada um desses institutos é uma autarquia 
federal, ou seja, cada um deles tem autono-
mia ao mesmo tempo em que tem vínculo 
com os ministérios do governo. São órgãos 
executivos, que têm como missão imple-
mentar políticas públicas para preservar e 
conservar o patrimônio, exercendo o con-
trole e a fiscalização sobre o uso de recursos 
renováveis e não renováveis. Esses órgãos 
são também responsáveis por desenvolver 
estudos e conceder licenças ambientais para 
empreendimentos que geram impacto ambi-
ental.
E, como todos nós, cidadãos brasileiros, 
essas autarquias obedecem à Constituição 
Brasileira de 1988, que reforça a existência 
desses institutos federais na gestão do pa-
trimônio cultural e natural. Na Constituição 
Brasileira de 1988, no título VIII (Da ordem 
Social), capítulo III (Da Educação, Da Cul-
tura e do Desporto), secção II (Da Cultura), 
artigo 215, pode-se ler sobre os bens cultu-
rais que:
“O Estado garantirá a todos o pleno 
exercício dos direitos culturais e acesso 
às fontes da cultura nacional, e apoiará e 
incentivará a valorização e a difusão das 
manifestações culturais.”
35
Assim, pode-se perceber que, mesmo ha-
vendo conjuntos de regras específicas para 
cada tipo de patrimônio e órgãos federais 
também especiais, existe uma base jurídica 
que legisla e gerencia a forma geral de agir, 
em termos morais e éticos, que determina a 
visão e a missão que cada órgão deve cum-
prir para executar políticas públicas.
Ainda sobre gestão e fiscalização do patri-
mônio, é necessário que os institutos propo-
nham normas para evitar que o patrimônio 
seja danificado. 
Portanto, quando um empreendimento po-
tencialmente danoso ao patrimônio é plane-
jado, deve prever estudos sobre a região a 
fim de evitar ou diminuir o risco de impacto 
aos recursos renováveis e não renováveis. 
Por exemplo, no planejamento de constru-
ção da Linha de Transmissão Vila do Conde 
– Santa Maria do Pará foi necessário con-
vocar inúmeros pesquisadores para avaliar 
o impacto deste empreendimento sobre os 
bens naturais (água, ar, fauna, flora, dentre 
outros) e bens culturais (construções, festas, 
modo de vida, dentre outros).
O empresariado que atua no Brasil deve res-
ponder à legislação vigente, que especifica 
a forma de agir para que o patrimônio não 
seja prejudicado.
Com estas considerações, podem-se fo-
calizar pontos importantes sobre o patri-
mônio (de qualquer tipo) no Brasil:
• Como cidadãos, temos o direito de 
acesso ao patrimônio.
• Como cidadãos, temos corresponsabi-
lidade com o patrimônio.
• O patrimônio é integrado ao ambiente, 
à cultura e à sociedade.
 MAÍRA SONHA COM PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO!!
36
Patrimônio Cultural: definição e 
particularidade
A preocupação com a história e a memória do Brasil e sua diversidade patrimonial fez nas-
cerem, desde 1937, leis que definem o patrimônio, que organizam e protegem essa riqueza.
O Decreto-Lei no 25, de 30 de novembro de 1937, dispõe, no Capítulo 1 (Do patrimônio 
histórico e artístico nacional), a seguinte definição. 
Artigo 1o – Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto de 
bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse 
público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer 
por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.
Parágrafo 1o – os bens a que se refere o presente artigo só serão considerados 
parte integrante do patrimônio histórico e artístico nacional, depois de inscritos 
separada ou agrupadamente num dos quatro Livros do Tombo, (...).
Parágrafo 2o – Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são 
sujeitos a tombamentos os monumentos naturais, bem como os sítios e paisa-
gens que importe conservar e proteger, pela feição notável com que tenham sido 
dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana.
Podemos verificar que são considerados 
como patrimônio, por este decreto-lei, não 
somente os bens materiais e imateriais, mas 
também os bens naturais. Esta é à base da 
estruturação legal do patrimônioque ainda 
hoje é seguida:
• importância igualitária dos bens materiais, 
imateriais e naturais;
• necessidade de organizar os bens em ca-
tálogos (Livros de Tombo) que possam ser 
consultados.
Desde a década de 1930 até hoje, uma série 
de leis, portarias e medidas provisórias fo-
ram acrescentadas, retiradas ou modificadas 
para atualizar a nossa legislação. Ao mesmo 
tempo, problemas específicos de cada área 
vêm sendo observados e auxiliam na consti-
tuição de um conjunto de regras que sejam 
mais específicas e traduzam de forma mais 
autêntica as necessidades presentes.
A partir da década de 1980, uma série de 
leis foi reunida, criando uma política públi-
ca voltada para o Meio Ambiente. Desde 
então, diversos regulamentos definem as 
formas de uso desse patrimônio. A própria 
Constituição Federal do Brasil (1988) trata 
da proteção ao patrimônio natural e cultu-
ral do país.
No Capítulo II, o Artigo 20 detalha os re-
cursos naturais e os bens pertencentes à 
União, entre eles os sítios arqueológicos e 
pré-históricos. No Capítulo III, o Artigo 
216 define o patrimônio cultural brasileiro, 
formado por bens de natureza material e 
imaterial e, em seu inciso V, entre outros, 
cita especificamente os sítios de valor ar-
37
queológico. E, no Capítulo VI, o Artigo 
225 trata do dever de tanto o Poder Pú-
blico quanto a coletividade defenderem e 
preservarem o meio ambiente; o Inciso IV 
incumbe ao Poder Público exigir, para ins-
talação de obra ou atividade potencialmen-
te causadora de significativa degradação do 
meio ambiente, estudo prévio de impacto 
ambiental, a que se dará publicidade.
Posteriormente, como se verá adiante, a 
Portaria 230/2002 do IPHAN associou a 
necessidade de pesquisas arqueológicas aos 
estudos de impacto ambiental.
Recentemente, a partir do decreto nº 3.551, 
de 4 de agosto de 2000, o patrimônio imate-
rial vem sendo especificado através de uma 
legislação que se preocupa em detalhar e 
apresentar as particularidades dos saberes e 
expressões culturais como dança, festa, mú-
sica, lenda, dentre outros.
Diversas leis foram criadas ao longo do tem-
po, e são observadas para a gestão do patri-
mônio brasileiro, como se pode ver na tabela 
sequente. Leis são as normas da Constitui-
ção Federal, e devem ser aplicadas a todos 
os membros de nossa sociedade brasileira. 
Leis federais relativas ao patrimônio cultural
Lei no Data Título
3.924 26 de julho de 1961 Dispõe sobre monumentos arqueológicos.
4.717 29 de junho de 1965 Regula a ação popular.
4.845 19 de novembro de 1965 Proíbe a saída, para o exterior, de obras de arte e ofícios produzidos no 
País, até o fim do período monárquico.
5.471 09 de julho de 1968 Dispõe sobre a exportação de livros antigos, conjuntos bibliográficos 
brasileiros.
6.292 15 de dezembro de 1975 Dispõe sobre o tombamento de bens no Instituto do Patrimônio 
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)
7.347 24 de julho de 1985 Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados 
ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, 
estético, histórico, turístico e paisagístico (vetado) e dá outras providên-
cias.
7.542 26 de setembro de 1986 Dispõe sobre a pesquisa, exploração, remoção, demolição de coisas ou 
bens afundados, submersos, encalhados e perdidos em água sob a juris-
dição nacional, em terreno da marinha e seus acrescidos e em terrenos 
marginais, em decorrência de sinistro, alijamento ou fortuna do mar, e 
dá outras providências.
8.159 08 de janeiro de 1991 Dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados e dá 
outras providências.
9.605 12 de fevereiro de 1998 Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas 
e atividades lesivas ao meio ambiente e dá outras providências.
10.166 27 de dezembro de 2000 Altera a Lei no 7.542, de 26 de setembro de 1986, que dispõe sobre a 
pesquisa, exploração, remoção, demolição de coisas ou bens afundados, 
submersos, encalhados e perdidos em água sob a jurisdição nacional, 
em terreno da marinha e seus acrescidos e em terrenos marginais, em 
decorrência de sinistro, alijamento ou fortuna do mar, e dá outras provi-
dências.
10.413 12 de março de 2002 Determina o tombamento dos bens culturais das empresas incluídas no 
Programa Nacional de Desestatização.
A seguir, relação de leis, decretos, decretos-leis e portarias emitidas pelo governo federal 
no esforço de proteger o patrimônio cultural brasileiro.
38
Ainda existem, em termos jurídicos, os decretos que são instrumentos para regulamentar 
uma lei, e são utilizados exclusivamente pelo poder executivo (Presidente da República, Go-
vernador e Prefeito). Existem normas que regulam as leis que versam sobre o patrimônio, 
como na tabela abaixo.
Existem ainda os decretos-lei, que são atos normativos decretados pelo Poder Executivo em 
caso de urgência, que, no entanto, é substituído na Constituição Federal de 1988 pela Medida 
Provisória. Como podemos ver na lista abaixo, a urgência é em estabelecer os mecanismos 
para a construção do órgão de gestão e fiscalização do patrimônio cultural e artístico.
Decretos federais relativos ao patrimônio cultural
Decreto no Data Título
65.347 13 de outubro de 1969 Regula a Lei no 5.471, de 09 de junho de 1968, que dispõe sobre a exportação 
de livros antigos e conjuntos bibliográficos.
95.733 12 de fevereiro de 1988 Dispõe sobre a inclusão, no orçamento dos projetos e obras federais, de 
recursos destinados a prevenir ou corrigir os prejuízos de natureza ambiental, 
cultural e social decorrente da execução desses projetos e obras.
1.306 09 de novembro de 
1994
Regulamenta o Fundo de Defesa de Direitos Difusos, de que tratam os Arti-
gos 13 e 20 da Lei no 7.347, de julho de 1985, seu conselho gestor e dá outras 
providências.
3.179 21 de setembro de 1999 Dispõe sobre as especificações das sanções aplicáveis às condutas e atividades 
lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.
3.551 04 de agosto de 2000 Institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem pa-
trimônio cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, 
e dá outras providências.
3.912 10 de setembro de 2001 Regulamenta as disposições relativas ao processo administrativo para identifi-
cação dos remanescentes das comunidades dos quilombos e para o reconhe-
cimento, a delimitação, a demarcação, a titulação e o registro imobiliário das 
terras por eles ocupadas.
4.073 03 de janeiro de 2002 Regulamenta a Lei no 8.159, de 8 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a 
política nacional de arquivos públicos e privados.
Decretos-lei do Governo Federal relativos ao patrimônio cultural
Decreto-Lei no Data Título
25 30 de novembro de 1937 Organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico 
nacional.
2.848 07 de dezembro de 1940 Dos crimes contra o patrimônio.
3.866 29 de novembro de 1941 Dispõe sobre o tombamento de bens no Serviço do Patrimô-
nio Histórico e Artístico Nacional.
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A portaria é um instrumento jurídico para estabelecer os procedimentos administrativos 
cabíveis em assuntos específicos. Neste caso, os chefes de departamentos e diretores é que 
tratam estas medidas.
Existem ainda, na formatação jurídica, as “Resoluções”, que são atos do legislativo versando 
sobre ações próprias a cada área de atuação. No caso do patrimônio cultural é relevante des-
tacar a Resolução Conama no 001, de 23 de janeiro de 1986, do Conselho Nacional do Meio 
Ambiente, que define o que é dano ambiental e quando se aplica, estabelece os mecanismos 
para aquisição de licenças ambientais e seus estudos pertinentes em cada caso, por obra de 
engenharia. Estabelece ainda as normas técnicas mínimas para os estudos a serem obrigato-
riamente realizados em cada empreendimento, bem como institui as normas e procedimen-
tos de análise técnica.

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