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RESUMO P2 Estrutura e dinâmica social

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Max Weber
A Teoria
Os valores, a cultura e a religião são o primeiro plano da análise de Weber para entender fatores como dominação, poder, interesses individuais e conflito (Weber se interessa pela superestrutura de Marx)
A Metodologia
A problemática entre valores e objetividade nas ciências sociais é central para Weber. 
É preciso distinguir entre julgamentos de valor e saber empírico. O saber empírico “nasce de necessidades e considerações práticas historicamente colocadas, na forma de problemas ao cientista cujo o propósito deve ser o de procurar selecionar e sugerir a adoção de medidas que tenham a finalidade de solucioná-los. Já os julgamentos de valor dizem respeito à definição do significado que se dá aos objetos ou aos problemas” (Quintaniero et al, 1995:108)
Os valores estão já no início da pesquisa, não temos como evita-los.
Neutralidade axiológica e referência a valores: “Os cientistas devem fazer esforços coletivos para diferenciar argumentos e conclusões de base empírica de argumentos e conclusões normativos baseados em valores, que devem ser reduzidos o máximo possível.” (Kalberg, 2020:39).
Os cientistas devem ser controlados através de “esquemas de explicação condicional” 
Os valores são um guia para a escolha de um certo objeto pelo cientista. A partir daí ele oferece uma direção para sua explicação e a cadeia causal que ela é capaz de estabelecer, também orientada por valores. As relações de causalidade são construídas na forma de hipóteses, que determinam um esquema lógico explicativo cuja objetividade é garantida pelo rigor e obediência aos cânones do pensamento científico. Assim se produz o que se chama de tipo ideal.
Veja que o objetivo da ciência é a verdade, e este seria uma determinação ética que se impõe ao cientista. 
Para Weber as ciências sociais visam a compreensão de eventos culturais enquanto singularidades. 
“[E]xiste uma grande diferença entre conferir significado à realidade histórica por meio de ideais de valor e conhecer suas leis e ordená-las de acordo com conceitos gerais e princípios lógicos genéricos” (Quintaneiro et al, 1995:110).
Weber era contra a tentativa de encontrar leis sociais gerais, para ele o cientista deve agrupar certa constelação de fatores que lhe permitam dar sentido a uma realidade particular. 
Quanto mais abstrato é um conceito mais afastado da realidade.
A expressão de regularidades é uma trabalho preliminar, útil para a pesquisa, mas não o seu fim. 
A tarefa do cientista social é muito diferente do cientista da natureza. O cientista social procura compreender uma individualidade sociocultural formada de componentes historicamente agrupados, nem sempre quantificáveis, a cujo passado se remonta para explica o presente, partindo então deste para avaliar perspectivas futuras.
Somente ações compreensíveis são objeto da Sociologia. As conexões causais da realidade social particular é avaliada através de um modelo de interpretação-investigação, chamado tipo ideal. 
 “Ao elaborar o tipo ideal, parte-se da escolha, numa realidade infinita, de alguns elementos do objeto a ser interpretado que são considerados pelo investigador os mais relevantes para a explicação. Esse processo de seleção acentua – necessariamente – certos traços e deixa de lado outros, o que confere unilateralidade ao modelo puro. Os Elementos causais são relacionados pelo cientista de modo racional, embora não haja dúvida sobre a influência, de fato, de incontáveis fatores irracionais no desenvolvimento do fenômeno real. No relativo à ênfase na racionalidade, o tipo ideal só existe como utopia e não é, nem pretende ser, um reflexo da realidade complexa, muito menos um modelo do que ela deveria ser. Um conceito típico ideal é um modelo simplificado do real, elaborado com base em traços considerados essenciais para a determinação da causalidade, segundo critérios de quem pretende explicar um fenômeno” (Quintaneiro et al, 1995: 112). 
O Tipo Ideal serve para auxiliar a pesquisa empírica e não para compreender diretamente o mundo exterior. “Uma vez construídos como conceitos claros que apreendem orientações regulares de ação, os tipos ideais alicerçam toda a sociologia causal de Max Weber, pois permitem elaborar definições precisas de orientações empíricas de ação.” (Kalberg, 2010:43).
O Tipo ideal estabelece parâmetros em função dos quais se pode comparar e medir regularidades de sentido subjetivo em um caso particular. A particularidade de um caso pode ser definida pelo grau de aproximação com o tipo teoricamente construído. 
Nesse sentido, Weber critica as abordagens que tratam as sociedades como unidades quase-orgânicas. A ação social não seria apenas uma expressão particularista da totalidade: “Percebendo as possibilidade de fragmentação, tensão, conflito aberto e manipulação do poder, rejeita a noção de que a melhor maneira de compreender as sociedades é tomá-las como totalidades unificadas.” (33). 
Weber entende que as pessoas não podem ser vistas como “produtos socializados de forças societárias”. 
Weber entende que “as pessoas são capazes de interpretar suas realidades sociais, de atribuir um “sentido subjetivo” a determinados aspectos delas e de empreender ações independentes” (Kalberg, 2010:33)
Para Weber existe uma esfera de liberdade de escolha, temos cultura e a capacidade de conferir sentido ao mundo. 
 Compreensão interpretativa e sentido subjetivo
As pessoas realizam uma “ação social” mas essa ação tem sentido subjetivo. Nós temos “uma orientação significativa para a conduta de outros” mas também temos a capacidade de interpretar ativamente situações, interações e relações referindo-as a valores, crenças, interesses, emoções, poder autoridade, leis, costumes..
“Ação”: sempre que um indivíduo vincula um sentido subjetivo ao seu comportamento
“Social”: quando seu sentido subjetivo leva em consideração a conduta de outros e por ela orienta seu curso.
Veja que este axioma permite que percebamos porque as pessoas fazem certas ações em certas situações, não estamos falando portanto do estimulo-resposta behaviorista. 
1. § Sociologia (na acepção do termo aqui empregada, com significados muito variados) quer dizer uma ciência que pretende compreender, ao interpretar, a ação social, e com isso explicá-la de forma causal em seu percurso e seus efeitos. “Ação”, nesse contexto, quer dizer um comportamento humano (não importando se se trata de um fazer exterior ou interior, de um deixar de fazer ou de um tolerar), quando e na medida em que aquele ou aqueles que agem vinculem a ele um sentido subjetivo. Ação “social”, porém, quer dizer uma ação para a qual o sentido tencionado por aquele ou aqueles que agem está relacionado ao comportamento de outros e tem seu percurso orientado por aquele comportamento. (Weber, 1910,11)
B) Os quatro tipos de ação social e o sentido subjetivo
	B1) Racional referente a fins: Quando fins, meios e consequências são ponderados racionalmente e comparados da mesma maneira. 
	B2) Racional referente a valores : Quando uma ações social é determinada por uma crença consciente no valor em si de uma conduta (ética, religiosa...), independentemente das perspectivas de sucesso. Há a suposição de “ordens” ou “demandas” compulsórias aos agentes. 
	B3) Ação Afetiva: Determinada por estados sentimentos atuais do agente, implica em um apego emocional. 
	B4) Ação Tradicional: Determinada por hábitos arraigados, e costumes seculares, é uma resposta rotineira, é a fronteira da ação dotada de sentido subjetivo.
Estes tipos de ações podem ser encontrados em todas as épocas e civilizações , contudo em certas épocas e sociedades há uma prevalência de certas ações. 
A ideia de Weber é que o sociólogo, ao familiarizar-se com certo contexto social, conseguiria compreender a significação subjetiva dos motivos que regem as ações, este procedimento seria a “sociologia compreensiva” de Weber.
Veja o que separa Weber de Marx e Durkheim: Para Weber uma mesma ação pode ter uma enorme variedade de motivos. “O sentido subjetivo da ação variaaté mesmo no contexto de uma sólida organização da estrutura política ou da seita religiosa” (Kalberg, 2010:37). 
A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo 
“Os protestantes, tanto como classe dirigente, quanto como classe dirigida, seja como maioria, seja como minoria, demonstram tendência específica para o racionalismo econômico, que não pode ser observada entre católicos em qualquer uma dessas situações. A razão dessas diferentes atitudes deve, portanto, ser procurada no caráter intrínseco permanente de suas crenças religiosas, e não apenas em suas temporárias situações externas na história e na política” (Weber, 1905:23)
 “O católico é mais tranquilo, tem menos impulso aquisitivo; prefere uma vida, a mais segura possível, mesmo que isto implique em uma renda menor, à uma vida arriscada e cheia de excitação, mesmo que essa torne possível a obtenção de honrarias e riquezas. Isso é comprovado pela maneira irônica pelo provérbio “coma e durma bem”. No presente caso, o protestante prefere saciar-se, e o católico dormir sem ser perturbado.” (Weber, 1905:23)
O que “diabos” é o Espírito do Capitalismo?
“A oportunidade de ganhar mais era menos atrativa do que a de trabalhar menos. Ele não perguntava: quanto posso ganhar por dia se trabalhar tanto quanto possível, mas, quanto devo trabalhar a fim de ganhar o salário, dois marcos e meio, que ganhara anteriormente e que era o suficiente para minhas necessidades tradicionais? Este era o exemplo daquilo que aqui denominamos “tradicionalismo”. O homem não deseja “por natureza” ganhar cada vez mais dinheiro, mas simplesmente viver como estava acostumado a viver, e ganhar o necessário para este fim. O capitalismo moderno, onde quer que tenha começado sua ação de incrementar a produtividade do trabalho humano através do incremento de sua intensidade, tem encontrado a infinitamente obstinada resistência deste traço orientador do trabalho pré-capitalista; e, ainda hoje, quanto mais atrasadas estejam, (do ponto de vista do capitalismo) as forças de trabalho tanto mais tem de lidar com ela” (Weber, 1905: 38)
 “O trabalho deve ser executado como um fim absoluto por si mesmo – como uma “vocação”. Tal atitude, todavia, não é absolutamente um produto da natureza. Ela não pode ser provocada por baixos salários ou apenas salários elevados, mas somente pode ser o produto de um longo e árduo processo de educação” (Webwe, 1905: 39).
 “O ganhar mais e mais dinheiro, combinado com o afastamento estrito de todo prazer espontâneo de viver é, acima de tudo, completamente isento de qualquer mistura eudemonista, para não dizer hedonista; é pensado tão puramente como um fim em si mesmo, que do ponto de vista da felicidade ou da utilidade para o indivíduo parece algo transcendental e completamente irracional . O homem é dominado pela geração de dinheiro, pela aquisição como propósito final da vida. A aquisição econômica não mais está subordinada ao homem como um meio para a satisfação de suas necessidades materiais. Essa inversão daquilo que chamamos de relação natural, tão irracional de um ponto de vista ingênuo, é evidentemente um princípio guia do capitalismo, tanto quanto soa estranha para todas as pessoas que não estão sob a influência capitalista. Ela expressa ao mesmo tempo um tipo de sentimento que está intimamente ligado com certas ideias religiosas.” (Weber, 1905:33)
 “O ganho de dinheiro na moderna ordem econômica é, desde que feito legalmente, o resultado e a expressão da virtude e da eficiência em certo caminho[...] Na verdade, essa ideia tão peculiar do dever do indivíduo em relação à carreira, que nos é familiar atualmente, mas na realidade tão pouco óbvia, é o que há de mais característico na ética social da cultura capitalista e, em certo sentido constitui sua base fundamental. É uma obrigação que se supõe que o indivíduo sinta, e de fato sente, em relação ao conteúdo de sua atividade profissional, não importa qual seja, particularmente se ela se manifesta como uma utilização de suas capacidades pessoais ou apenas de suas posses materiais (capital). Naturalmente, essa concepção não se manifestou apenas sob as condições capitalistas.” (Weber, 1905:33-34)
De onde vem a “vocação”?
O termo não vem da antiguidade clássica, nem dos povos clássicos. Ele vem da tradução da Bíblia feita por Lutero. A valorização do cumprimento do dever nos afazeres seculares como a mais alta forma que a atividade ética do indivíduo pudesse assumir. E foi o que trouxe inevitavelmente um significado religioso às atividades seculares do dia a dia e fixou de início o significado de vocação como tal. O conceito de vocação foi, pois, introduzido no dogma central de todas as denominações protestantes e descartado pela divisão católica de preceitos éticos em praecepta et consilia. O único modo de vida aceitável por Deus não era o superar a moralidade mundana pelo ascetismo monástico, mas unicamente o cumprimento das obrigações impostas ao indivíduo pela sua posição no mundo. Esta era sua vocação.” (Weber, 1905:53)
 “O efeito da Reforma, como tal, em contraste com a concepção católica, foi aumentar a ênfase moral e o prêmio religioso par o trabalho secular e profissional [...] A vocação era algo aceito como uma ordem divina, a qual cada um devia adaptar-se. Essa tendência domina o outro pensamento, também presente, de que o trabalho vocacional é uma, ou melhor, a tarefa ordenada por Deus” (Weber, 1905:57). 
Os Fundamentos do Ascetismo Laico
Def. Ascetismo: “doutrina de pensamento ou de fé que considera a ascese, isto é, a disciplina e o autocontrole estritos do corpo e do espírito, um caminho imprescindível em direção a Deus, à verdade ou à virtude.” 
Quatro tipos ideais: Calvinismo, Pietismo, Metodismo, Seitas derivadas do movimento Batista
A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1905)
-Calvinismo e a Predestinação
“Deus não existe para os homens, mas os homens existem por causa de Deus.” Toda a criação, até mesmo o fato, indubitável para Calvino, de que só uma pequena parcela dos homens seria escolhida para a Graça, só poderia ter significado como um meio para a glória e majestade de Deus. Aplicar os padrões mundanos de justiça a Seus soberanos decretos seria sem significado e até insultuoso para Sua Majestade,” uma vez que Ele, e só Ele é livre, isto é, não está sujeito à nenhuma lei. Seus desígnios só podem ser por nós entendidos, ou mesmo conhecidos, à medida que seja do Seu agrado revelá-los a nós.” (Weber, 1905:71)
 “Tudo o que é da carne está separado de Deus por um golfo intransponível, e merece dele apenas a morte eterna, a menos que Ele tenha deliberado diferentemente, para a glorificação de Sua Majestade. Sabemos apenas que uma parte da humanidade será salva, e o resto será condenado a supor que o mérito ou culpa humanos desempenham uma parte na determinação de seu destino, que seria considerar que os dedos divididos, absolutamente livres e estabelecidos para a eternidade fossem passíveis de mudanças pela influência humana, que é uma contradição impossível.” (Weber, 1971:71)
 “A racionalização do mundo e a eliminação da magia como um meio de salvação não foi levada tão longe pelos católicos como o foi pelos puritanos (e antes deles pelos judeus). Para o católico, a absolvição da sua Igreja era a compensação para as suas próprias imperfeições. O sacerdote era um mágico que fazia o milagre da transubstanciação e que tinha em suas mãos as chaves da vida eterna. Ás pessoas podiam a ele recorrer na aflição e penitência. Ele distribuía redenção, esperança de graça, certeza dê perdão, garantindo assim o relaxamento daquela tremenda tensão à qual o calvinista estava condenado por um destino inexorável que não admitia mitigação. Para ele não existiam tais confortos humanos e amigáveis. Ele não poderia esperar o perdão pela horas de fraqueza ou de descuido aumentando a boa vontade em outras horas, como o poderiam o católico e mesmo o luterano. O Deus do calvinismo exigia de seus crentes não boas ações isoladas, mas uma vida de boas ações combinadas em um sistemaunificado.” Não havia lugar para o ciclo, muito humano, dos católicos de pecado, arrependimento, reparação e liberação, seguido de um novo pecado. Nem havia balança alguma de mérito para uma vida como um todo que pudesse ser ajustada por punições temporais ou pelos meios da graça das Igrejas” (Weber, 1905:81)
Na Idade Média o homem que vivia uma vida racional era o monge. Na Reforma, todo o cristão passou a ser monge por toda sua vida. 
“O mundo existe para a glorificação de Deus, e somente para este fim. O cristão eleito está no mundo apenas para aumentar esta glória, cumprindo seus mandamentos ao máximo de suas possibilidades. Deus requer obras sociais de cristão, porque Ele deseja a vida social seja organizada segundo seus mandamentos, de acordo com aquela finalidade” (Weber, 1905:75)
As boas obras não são isoladas no Calvinista como no católico, elas forma um ideal de vida racional. 
-Pietismo
“Sem ir tão longe para se tornar uma seita separada, seus membros tentavam viver, em tais comunidades, uma vida livre de todas as tentações do mundo e dedicada, em todos seus pormenores, à vontade de Deus, e com isso obter a certeza de seu próprio renascimento, pelos sinais externos manifestados em sua conduta diária. Assim, a ecclesiola dos verdadeiros convertidos – e isso era comum a todos os grupos genuinamente pietistas – visava, por meio da intensificação do ascetismo, desfrutar a bem aventurança da comunhão com Deus ainda nesta vida.” (Weber, 1905: 91)
 “Porém, cada vez mais, à medida que o elemento ascético e racional do Pietismo contrabalançava o emocional, as ideias essenciais para a nossa tese mantiveram seu lugar.
São elas:
1) o desenvolvimento metódico do estado de graça do indivíduo para degraus sempre mais altos de certeza e perfeição em termos da lei era um sinal da graça;
2) “a Providência de Deus trabalha por meio daqueles que estão em tal estado de perfeição”, isto é, Ele lhes dá Seus sinais, se eles esperarem pacientemente e deliberarem metodicamente. Trabalhar na vocação era, para A.H. Francke, a atividade ascética por excelência; e o próprio Deus abençoava Seus eleitos por meio do sucesso de seu trabalho, coisa inegável para eles e como veremos mais adiante, também para os puritanos”
 “Comparada porém com o calvinismo, a racionalização da vida era necessariamente menos intensa por causa da pressão da preocupação com um estado de graça que tinha que ser continuamente comprovado, de interesse futura eternidade e direcionada para o estado emocional do presente. O lugar da autoconfiança, que o eleito buscava atingir e renovar continuamente com um trabalho ininterrupto e bem sucedido na sua vocação, foi preenchido por uma atitude de humildade e abnegação.” Por sua vez, isso foi o resultado, em parte, de um estimulo emocional dirigido unicamente para a experiência espiritual, em parte pela instituição luterana da confissão que; apesar de ter sido muitas vezes posta em dúvida pelo Pietismo, foi geralmente tolerada. Tudo isso mostra a influência da concepção peculiarmente luterana de salvação pelo perdão dos pecados e não pela santificação prática. No lugar da luta sistemática racional para obter e reter um conhecimento certeiro da futura salvação (no outro mundo), surge aqui a necessidade de sentir, no presente, a reconciliação e a comunhão com Deus.” (Weber, 1905: 97)
 “Se pudermos, ao menos provisoriamente, apontar alguma consequência prática das diferenças, poderemos dizer que as virtudes favorecidas pelo Pietismo foram mais aquelas, por um lado, do funcionário fervoroso, do escrevente, do trabalhador e empregado doméstico, e por outro lado, do empregador predominantemente patriarcal com sua condescendência piedosa (à maneira de Zinzendorf). Na comparação, o Calvinismo aparece bem mais estritamente relacionado do rigoroso legalismo e com a ativa empresa dos empreendedores “ capitalistas burgueses. Finalmente, a forma de Pietismo puramente emocional é, como apontou Ritschl, um diletantismo religioso para as classes desocupadas.” (Weber, 1905:98)
-O Metodismo
Tipo emocional, mas ainda ascético. Movimento anglo-americano.
“E a ênfase no sentimento, despertada em John Wesley pelas influências luteranas e moravianas, levou o Metodismo, que desde o início viu sua missão entre as massas assumir um caráter fortemente emocional, especialmente na América. A obtenção do arrependimento, em certas circunstâncias, envolvia uma luta emocional de tal intensidade que levava aos mais profundos êxtases que, na América, ocorriam com freqüência em reuniões públicas. Isso formou as bases de uma crença na posse não merecida da graça divina, e ao mesmo tempo, de uma consciência imediata de justificação e perdão (Weber, 1905:98)
 “Esta religião emocional entrou em uma aliança peculiar, com dificuldades inerentes de certa monta, com as éticas ascéticas que haviam sido marcadas definitivamente com a racionalidade pelo puritanismo. Em primeiro lugar, contrariamente ao calvinismo que tinha na conta de ilusório tudo o que fosse emocional, a única base sólida da certitudo salutis era o princípio mantido do puro sentimento de absoluta certeza do perdão, derivado imediatamente do testemunho do espírito, cuja vinda podia ser definitivamente colocada dentro dum horário. Junto a isso estava a doutrina da santificação de Wesley que, apesar do decisivo afastamento da doutrina ortodoxa, é um desenvolvimento lógico dela. De acordo com isso, o indivíduo renascido desta maneira poderia, em virtude da graça divina estar já operando nele, obter a santificação mesmo nesta vida – a consciência da perfeição no sentido de libertação do pecado, por uma ulterior transformação espiritual, geralmente separada é muitas vezes repentina” (Weber, 1905: 99)
Ao contrário do Calvinismo, aqui há uma “certituto salutis” da libertação do pecado, e do sentimento de estado de graça.
“O caráter fundamentalmente calvinista de seu sentimento religioso permaneceu decisivo. A excitação emocional assumia a forma de entusiasmo que era, só ocasionalmente e então poderosamente agitado, embora não destruísse de forma alguma o caráter racional da conduta. A regeneração do Metodismo criou pois apenas um complemento para a pura doutrina das obras, uma base religiosa para a conduta ascética depois que a doutrina da predestinação fora abandonada. Os sinais dados pela conduta, que constituíam um meio indispensável para a certeza da verdadeira conversão, mesmo que tais condições fossem, de fato, como Wesley ocasionalmente disse, as mesmas do calvinismo” (Weber, 1905:101).
-Seitas Batistas
A origem é distinta do calvinismo. A igreja não era meio para aumentar a glória de Deus (calvinistas) nem de prover meio de salvação aos humenos (Católica e Luterana), era “apreasn uma comunidade de pessoas crentes e redimidas, e somente destas.” Era uma seita e não uma igreja. 
A ideia de trabalho no mundo a serviço de Cristo não é uma justificativa da Fé como no protestantismo antigo. A salvação se dava pela revelação individual. Os humanos deveriam esperar pelo Espírito e não resistir!.
 “uma vez rejeitada a predestinação, o caráter peculiarmente racional da moral batista apoiou se psicologicamente sobretudo na ideia da atitude de espera pela descida do Espírito, que mesmo hoje é característica do encontro quaker, e é bem analisado por Barclay. A finalidade desta espera silenciosa é sobrepujar tudo o que é impulsivo e irracional, as paixões e os interesses subjetivos do homem natural. Ela é a de se aquietar, para criar aquele profundo repouso da alma, única condição em que a palavra de Deus pode ser ouvida.” (Weber, 1905: 105)
 “À medida que o batismo foi afetando a vida profissional secular a ideia de que Deus somente fala quando silencia a criatura, significou, evidentemente, uma educação para a tranquila ponderação dos negócios e para a orientação destes em termos de cuidados e justificação da consciência individual” (Weber, 1905:106).
A Ascese e o Espírito do Capitalismo
“Exemplos de condenação da procura de bens e dinheiro podem ser encontrados emquantidade nos escritos puritanos, e comparados com a literatura da baixa idade média, muito mais liberal a este respeito” (Weber, 1905: 111). 
 “A verdadeira objeção moral é quanto ao afrouxamento na segurança da posse, ao gozo da riqueza como ócio conseqüente e às tentações da carne e, acima de tudo, ao desvio da busca de uma vida de retidão. De fato, a posse é condenável apenas por envolver tais perigos de relaxamento. Pois o eterno repouso dos santos se encontra no outro mundo; o homem sobre a terra deve, para ter certeza deste estado de graça, “trabalhar naquilo que lhe foi destinado, ao longo de toda sua jornada”. Não são o ócio e o prazer, mas só a atividade que serve para, aumentar a glória de Deus, conforme a clara manifestação de Sua vontade. A perda de tempo é pois, em princípio, o mais funesto dos pecados. A duração da vida humana é por demais curta e preciosa para garantir a própria escolha. A perda de tempo na vida social, em conversas ociosas, em luxos” e mesmo em dormir mais que o necessário para a saúde, de seis até o máximo de oito oras, é merecedora de absoluta condenação moral.” Não se trata pois de reafirmar, com Franlkin, que tempo é dinheiro, mas a posição é verdadeira em certo sentido espiritual. Ela é infinitamente valiosa, pois que cada hora perdida é perdida para o trabalho de glorificação a Deus.” (Weber, 1905: 112)
“Mesmo o rico não deve comer sem trabalhar, pois mesmo que não precise disso para sustentar suas próprias necessidades, há o mandamento de Deus a que, tanto ele quanto o pobre deve obedecer. Para todos, sem exceção, a Providência. divina reservou uma vocação, que deve ser reconhecida e exercida. E esta vocação não é, como para os luteranos, – um destino ao qual deva se submeter e sair se o melhor possível, mas um mandamento de Deus ao indivíduo para que trabalhe para a glória divina. Esta diferença, aparentemente sutil, teve conseqüência psicológicas profundas e relação com o maior desenvolvimento desta interpretação providencial da ordem econômica que começara com a Escolástica (Weber, 1905: 114).
 “a riqueza seria eticamente má apenas na medida em que venha a ser uma tentação para um gozo da vida no ócio e no pecado, e sua aquisição seria ruim só quando obtida com o propósito posterior de uma vida folgada e despreocupada. Mas como desempenho do próprio dever na vocação, não só é permissível moralmente, como realmente recomendada [...] Querer ser pobre era, como foi mencionado várias vezes, o mesmo que querer ser doente;” era reprovável em relação à glorificação do trabalho e derrogatório quanto à glória de Deus.” (Weber, 1905: 116)
O Esporte, por exemplo, deveria servir apenas à eficiência física.
“O ascetismo secular protestante, como foi recapitulado até aqui, agiu poderosamente contra o desfrute espontâneo das riquezas; restringiu o consumo, em espécie supérfluo. Por outro lado, teve o efeito psicológico de liberação das inibições da ética tradicional. Quebrou as amarras do impulso para a aquisição, não apenas legalizando-as, no sentido exposto, enfocando o como desejado diretamente por Deus. A guerra contra as tentações da carne, e da dependência das coisas materiais era, entre os puritanos, como disse expressamente o grande apologista do quakerismo Barklay, não uma guerra contra a aquisição racional, mas contra o uso irracional da riqueza.” (Weber, 1905:122).
 “A avaliação religiosa do trabalho sistemático, incansável e contínuo na vocação secular como o mais elevado meio de ascetismo e, ao mesmo tempo, a mais segura e mais evidente prova de redenção e de genuína fé, deve ter sido a mais poderosa alavanca concebível para a expansão desta atitude diante da vida, que chamamos aqui de espírito do capitalismo” (weber, 1905: 123).
 “Combinando a restrição do consumo com a liberdade da procura de riqueza, é óbvio o resultado que daí decorre: a acumulação capitalista através compulsão ascética à poupança. As restrições importas ao uso da riqueza adquirida só poderia levar a seu uso produtivo como investimento de capital” (Weber, 1905:124).
Émile Durkheim
Momento Histórico
Virada do XIX para o XX
“desintegração dos laços sociais provocado pelo enfraquecimento dos princípios que cimentavam a homogeneidade da sociedade tradicional. Esses entram em contradição com a nova face apresentada pela ordem burguesa, caracterizada, entre outros, pelos seguintes fatores: a) substituição do capitalismo fabril pelo financeiro monopolista; b) progressos técnicos revolucionários; c) intensificação da especialização da divisão do trabalho; d) complexificação da sociedade industrial.” (Gusmão e Lemos, 2003: 76).
Há um interesse gigantesco pelas Ciências Sociais e Durkheim busca apresentar uma forma objetiva de compreender a sociedade
A perspectiva de Durkheim
“De acordo com o horizonte intelectual de sua época, acreditava Durkheim no aperfeiçoamento moral da humanidade, o que pressupunha conceber as transformações econômicas como insuficientes para regenerar os laços sociais esgarçados pelos conflitos característicos de uma sociedade em transição. Por partilhar de uma visão evolucionista da sociedade, Durkheim enxergou os conflitos de sua época como transitórios e não estruturais, vendo-os como o efeito passageiro de uma ruptura que prenunciava uma nova moral, onde os indivíduos seriam levados a aceitar as funções que lhes coubessem na hierarquia social” (Gusmão e Lemos, 2003: 77)- Afasta-se da noção de luta de classes
Da Divisão do Trabalho Social
A Divisão do trabalho não é apenas econômica em Durkheim: “é um fenômeno essencialmente social que pressupõe organização, cooperação e troca. Esta última compreendida como a própria solidariedade, o laço invisível que ligaria grupos e indivíduos em sociedade através de um princípio moral” (Gusmão e Lemos, 2003: 79)
“A divisão do trabalho tem como função principal “integrar a sociedade, estrutura-la, manter a coesão social, tornando interdependentes seus membros” (Gusmão, 1962:91)
O equilíbrio, a harmonia e a ordem sociais, obtidos pela divisão do trabalho tem como pressupostos duas tendências: a união e aproximação pela semelhança e pela diversidade. Estas tendências conformam um caráter moral e expressam a solidariedade social. A solidariedade então resulta da divisão do trabalho social. O seu símbolo visível seria o Direito. 
Haveriam dois tipos de divisão do trabalho e solidariedade : a mecânica e a orgânica.
Há uma tendência que, à medida que a sociedade cresça, avancemos em direção à divisão orgânica.
 “A solidariedade mecânica, típica da ordem tradicional, caracteriza-se por: a) forte vinculação ao grupo estabelecida com base na fusão dos indivíduos no todo social; b) funções sociais divididas de acordo com critérios religiosos; c) semelhança e homogeneidade de comportamento e consciência; d) autoridade moral baseada na precariedade da individualidade e na disciplina repressiva.” (Lemos e Gusmão, 2003: 79).
“A solidariedade orgânica, típica da sociedade moderna e entendida como o estágio mais avançado da evolução social, possui as seguintes características: a) indivíduo com maior autonomia tendendo a atribuir-se uma essência própria; b) funções sociais divididas de acordo com o mérito, trabalho e eficácia; c) pluralidade e diversificação de comportamento e consciência; d) vínculo do indivíduo com a consciência coletiva mediado pelos laços desenvolvidos com outros grupos.” (Lemos e Gusmão, 2003: 79).
 “À solidariedade mecânica corresponde uma estrutura constituída por um sistema de segmentos homogêneos e semelhantes entre si, enquanto à solidariedade orgânica, um sistema organizado de segmentos heterogêneos e dessemelhantes, ou melhor, um sistema de órgãos diferentes, cada um com uma função especial, formando partes diferenciadas” (Gusmão, 1962:101). 
Durkheim opera com o conceito de anomia por considerá-lo capaz de expressar as conseqüências da ruptura de equilíbrio de uma sociedade. O momento em que ocorre o fenômeno da anomia na sociedade é aquele em que as ações individuais deixam de ser reguladaspor normas claras e coercitivas; momento de crescimento da prosperidade e das necessidades, quando os desejos e apetites individuais são exaltados a ponto de não mais comportarem a velha ordem tradicional, que perde seu poder regulador cedendo lugar ao egoísmo individual. 
Anomia: ruptura/mudança de uma ordem social para outra-crise
Vê enxerga que a sociedade estaria passando por um momento de anomia na virada do XIX para o XX. Faltaria à divisão do trabalho em curso uma regulamentação clara.
Durkheim entende que a solução para a anomia estava no avanço futuro da moralidade liberal do individualismo e não no retorno da rigidez coercitiva da velha ordem tradicional.
Individualismo é diferente de egoísmo aqui. O individualismo é uma regra moral “sentimento de compaixão em relação ao sofrimento humano, no desejo de igualdade e justiça nos parâmetros burgueses.”
Sobre o Suicídio
O “ato aparentemente individual do suicídio estava diretamente relacionado ao grau maior ou menor de coesão/integração do indivíduo à sociedade. O esforço empreendido pelo autor foi o de encontrar uma unidade entre os suicídios registrados e, a partir daí, explica-los sociologicamente. Com isso, procurava afastar demais explicações de cunho psicológico/individual e centrar as explicações do suicídio nos desvios da própria sociedade.”
“na solidariedade orgânica, o indivíduo tende a atribuir-se uma essência própria e a sentir-se isolado do corpo social. Nesse sentido, o equilíbrio da personalidade – e a propensão maior ou menor ao suicídio - dependerá da intensidade dos laços entre o indivíduo e a sociedade”.
Se os laços forem muito grandes, o suicídio pode ser altruísta, se muito pequenos o suicídio pode ser egoísta.
 “O suicídio varia na razão inversa do grau de integração dos grupos sociais (religião, família, sociedade política) dos quais o indivíduo faz parte. Assim, por exemplo, notou que a baixa nas taxas médias de suicídio coincide com períodos de crise e revoluções, na medida em que nesses períodos há o envolvimento dos indivíduos em movimentos de cunho social mais amplo, o que faz diminuir as taxas de suicídio ...” Em religiões mais individualistas (protestantes) as taxas de suicídio são maiores que no catolicismo.
Tipos
Suicídio egoísta: É aquele no qual “o ego individual se afirma demasiadamente face ao ego social e à custa desse último”. É uma situação na qual há uma individualização desmesurada e os laços que ligam o indivíduo à sociedade se desatam, nada restando senão a busca voluntária da morte. 
Suicídio altruísta: O indivíduo se vê obrigado a cometer suicídio, é uma conduta determinada socialmente. Aqui temos mártires...
Suicídio anômico: O suicídio anômico estaria relacionado a momentos de crise ou transformações (dolorosas ou favoráveis), nas quais a sociedade perderia essa capacidade de frear as atitudes humanas.
Mas então o que é um “fato social”?
“Quando desempenho minha tarefa de irmão, de marido ou de cidadão, quando executo os compromissos que assumi, eu cumpro deveres que estão definidos, fora de mim e de meus atos, no direito e nos costumes. Ainda que eles estejam de acordo com meus sentimentos próprios e que eu sinta interiormente a realidade deles, estes não deixam de ser objetivos; pois não fui eu que os fiz, mas os recebi pela educação” (Durkheim, 1895).
“Maneiras de agir, de pensar e de sentir que apresentam essa notável propriedade de existir fora das consciências individuais [...] Esses tipos de conduta ou de pensamento não apenas são exteriores ao indivíduo como também são dotados de uma força imperativa e coercitiva em virtude da qual se impõem a ele, quer ele queira, quer não.” (Durkheim, 1895)
Podemos ter coerções mais explicitas, por exemplo aquelas contidas no Direito. Outras são menos violentas mas não deixam de existir. “Se não me submeto às convenções do mundo, se, ao vestir-me, não levo em conta os costumes observados em meu país e em minha classe, o riso que provoco, o afastamento em relação a mim produzem, embora de maneira mais atenuada, os mesmos efeitos que uma pena propriamente dita.” (Durkheim, 1895).
“não poderiam se confundir com os fenômenos orgânicos, já que consistem em representações e em ações; nem com os fenômenos psíquicos, os quais só têm existência na consciência individual e através dela. Esses fatos constituem portanto uma espécie nova, e é a eles que deve ser dada e reservada a qualificação de sociais.” (Durkheim, 1895)
Poderíamos pensar que só há fato social onde há organização definida (regras jurídicas, morais, dogmas religiosos...). Contudo ele tem a mesma ascendência e sobre o indivíduo mesmo se não estiverem sob essas formas cristalizadas. Veja por exemplo o comportamento em assembleias, torcidas de futebol, linchamentos públicos... 
“Mesmo que, de nossa parte, tenhamos colaborado espontaneamente para a emoção comum, a impressão que sentimos é muito diferente da que teríamos sentido se estivéssemos sozinhos. Assim, a partir do momento em que a assembleia se dissolve, em que essas influências cessam de agir sobre nós e nos vemos de novo a sós, os sentimentos vividos nos dão a impressão de algo estranho no qual não mais nos reconhecemos. Então nos damos conta de que sofremos esses sentimentos bem mais do que os produzimos. Pode acontecer até que nos causem horror, tanto eram contrários à nossa natureza. É assim que indivíduos perfeitamente inofensivos na maior parte do tempo podem ser levados a atos de atrocidade quando reunidos em multidão. Ora, o que dizemos dessas explosões passageiras aplica-se identicamente aos movimentos de opinião, mais duráveis, que se produzem a todo instante a nosso redor, seja em toda a extensão da sociedade, seja em círculos mais restritos, sobre assuntos religiosos, políticos, literários, artísticos etc.” (Durkheim, 1895).
A educação é forma mais importante de coerção e se com o tempo ela cessa de ser sentido, é que pouco a pouco ela vai dando origem a hábitos. 
Não basta ter repetição entre os indivíduos para que exista uma fato social. O que constitui estes fatos são as crenças, as tendências e as práticas do grupo quando tomado coletivamente. 
“Há certas correntes de opinião que nos impelem, com desigual intensidade, conforme os tempos e os lugares, uma
ao casamento, por exemplo, outra ao suicídio, ou a uma natalidade mais ou menos acentuada. Trata-se evidentemente de fatos sociais. À primeira vista, eles parecem inseparáveis das formas que assumem nos casos particulares. Mas a estatística nos fornece o meio de isolá-los.” (Dhurkhem, 1895)
Veja que Durkheim, através do conceito de fato social, busca desembaraçar os fenômenos sociais de qualquer natureza psíquica e orgânica. Ele quer isolar as manifestações privadas dos componentes sociais, sem negá-las.
“Um sentimento coletivo que irrompe numa assembleia não exprime simplesmente o que havia de comum entre todos os sentimentos individuais. Ele é algo completamente distinto, conforme mostramos. É uma resultante da vida comum, das ações e reações que se estabelecem entre as consciências individuais; e, se repercute em cada uma delas, é em virtude da energia social, que ele deve precisamente à sua origem coletiva. Se todos os corações vibram em uníssono não é por causa de uma concordância espontânea e preestabelecida; é que uma mesma força os move no mesmo sentido. Cada um é arrastado por todos.” (Durkheim, 1895).
 “Podemos assim representar-nos, de maneira precisa, o domínio da sociologia. Ele compreende apenas um grupo determinado de fenômenos. Um fato social se reconhece pelo poder de coerção externa que exerce ou é capaz de exercer sobre os indivíduos; e a presença desse poder se reconhece, por sua vez, seja pela existência de alguma sanção determinada, seja pela resistência que o fato opõe a toda tentativa individual de fazer-lhe violência. Contudo, pode-se defini-lo também pela difusão que apresenta no interior do grupo, contanto que, conforme as observações precedentes, tenha-se o cuidado de acrescentar como segunda e essencial característica queele existe independentemente das formas individuais que assume ao difundir-se. Este último critério, em certos casos, é inclusive mais fácil de aplicar que o precedente. De fato, a coerção é fácil de constatar quando se traduz exteriormente por alguma reação direta da sociedade, como é o caso em relação ao direito, à moral, às crenças, aos costumes, inclusive às modas. Mas, quando é apenas indireta, como a que exerce uma organização econômica, ela nem sempre se deixa perceber tão bem. A generalidade combinada com a objetividade pode então ser mais fácil de estabelecer. Aliás, essa segunda definição não é senão outra forma da primeira; pois, se uma maneira de se conduzir, que existe exteriormente às consciências individuais, se generaliza, ela só pode fazê-lo impondo-se.” (Durkheim, 1895). 
O Debate entre Tarde e Durkheim
Gabriel Tarde
Teoria da Imitação 
“A fim de entendermos o que o filósofo francês quer dizer quando pensa em imitação, precisamos ter em mente, antes de qualquer coisa, a essencialidade das descobertas e invenções sociais. Ao contrário do que a sociologia durkheimiana pensava, não são os fatos sociais, isto é, fenômenos gerais, exteriores e coercitivos. Na realidade, de acordo com Tarde, são aquelas ideias pequeninas, muitas vezes imperceptíveis, consideradas acidentais, pouco grandiosas e frequentemente anômicas que precisam ser analisadas pela ciência, pois elas representam o novo, cuja expressão abre margem para a imitação, que, por sua vez, pode irradiar-se atingindo uma existência tão ampla a ponto de tornar-se um fenômeno social” (Monzelli, 2003: 3)
 “Quando refletimos acerca da sociedade, segundo os pressupostos tardianos, encontramos um emaranhado articulado – na maioria das vezes pelas intempéries do acaso – de invenções e de suas irradiações por meio da imitação [...] Tarde nos chama a atenção para tudo àquilo que a ciência mais ignora: o trivial, o simples e o ínfimo. Aliás, somente a partir da análise profunda e rigorosa a esse respeito, poderemos trilhar um caminho seguro até aos fenômenos complexos e gerais” (Monzelli, 2003: 4)
 “[T]odo novo engendro humano parte primeiramente de uma iniciativa individual inovadora – contando sempre com a influência do acaso, tendo em vista que, geralmente dentre milhões de possibilidades, apenas uma se destaca e emerge na realidade – que, logo em seguida, acaba sendo imitada e se transforma na condição por excelência dos fenômenos sociais” (Monzelli, 2016:5)
Questões do Debate: O que é Sociologia
Durkheim entende que a Sociologia deve ser algo mais que uma literatura filosófica, que fala em termos de generalidade pouco palpáveis. “Que o sociólogo, em vez de se comprazer em meditações metafísicas a propósito das coisas sociais, tome como objetos de suas pesquisas grupos de fatos nitidamente circunscritos, que possam, de certo modo, ser apontados com o dedo, dos quais se possam dizer onde começam e onde terminam, e atenha-se firmemente a eles! Que ele tenha o cuidado de interrogar as disciplinas auxiliares – história, etnografia, estatística –, sem as quais a sociologia nada pode fazer! […] Se o sociólogo proceder desse modo, mesmo que seus inventários de fatos sejam incompletos e suas fórmulas muito restritas, ele pelo menos terá feito um trabalho útil a que o futuro dará continuidade” (31)
Tarde discorda, ele não aceita a separação da Sociologia das outras disciplinas: “Sabe-se da esterilidade destas pretensões que desconhecem a solidariedade das diversas ciências e, conseqüentemente, a unidade profunda da realidade universal [...] O fato social elementar é a comunicação ou a modificação de um estado de consciência pela ação de um ser consciente sobre outro [...] Mas falar com alguém, orar por um ídolo, esfaquear um inimigo, esculpir uma pedra, estes são atos sociais, pois apenas o homem em sociedade age desta maneira e, sem o exemplo de outros homens que ele copiou voluntariamente ou involuntariamente desde o berço, ele não agiria assim. A característica comum dos atos sociais, com efeito, é de serem imitativos. Sr. Durkheim, precisamente professa a necessidade de fundar a sociologia sobre considerações puramente objetivas e de, por assim dizer, exorcizar esta ciência expulsando para fora dela a psicologia (32)
Para Tarde “as ciências sociais não deveram seu progresso a certas regras de método objetivas, mas realizaram-no desenvolvendo-se no sentido [...] desta microscopia social que é a psicologia intermental” (33)
Durkheim discorda nesse sentido pois “Uma explicação puramente psicológica dos fatos sociais deixa escapar o que eles têm de específico, isto é, de social. […] Há entre a psicologia e a sociologia a mesma solução de continuidade que existe entre a biologia e as ciências físico-químicas. Conseqüentemente, todas as vezes que um fenômeno social é diretamente explicado por um fenômeno psíquico, podemos estar seguros de que a explicação é falsa[...] As tendências coletivas têm uma existência que lhes é própria; são forças tão reais quanto as forças cósmicas, embora sejam de outra natureza; também agem de fora sobre o indivíduo, embora por outros meios. (33) 
Tarde acusa Durkheim de falta de precisão: O fato social advém da sua generalidade ou da sua natureza coercitiva?
Durkheim responde: “Um fato social é reconhecido pelo poder de coerção externa que ele exerce ou é suscetível de exercer sobre os indivíduos; e a presença deste poder é reconhecida, por sua vez, seja pela existência de alguma sanção determinada, seja pela resistência que o fato opõe a toda iniciativa individual que tende a lhe violentar. Entretanto, pode-se defini-lo também [eu vos concedo] pela difusão que ele apresenta no interior do grupo, desde que, conforme as observações precedentes, se tenha o cuidado de acrescentar como segunda e essencial característica que ele existe independentemente das formas individuais que ele assume ao se difundir (Durkheim 1894: 11). Além disso, esta segunda definição não é mais do que uma forma da primeira; pois se uma maneira de se conduzir, que existe exteriormente às consciências individuais, se generaliza, isso só ocorre porque ela se impõe (Durkheim 1894: 12).” (35) 
Tarde ataca Durkheim: “[O Sr. Durkheim] nos diz: [...] dado que o fato social é essencialmente exterior ao indivíduo, “ele só pode entrar no indivíduo impondo-se”. Eu efetivamente não vejo o rigor desta dedução. O alimento também nos é exterior antes de ser absorvido. Quer dizer que a deglutição e a assimilação são constrangimentos exercidos pelo alimento sobre a célula que se apropria dele? Isto não se verifica nem mesmo com as aves que nós engordamos à força nas granjas, e que certamente preferem ser empanturradas que morrer de fome.” (36)
 “A [...] proposição [do Sr. Tarde] é totalmente arbitrária. [Ele] pode afirmar que, segundo sua impressão pessoal, não há nada de real na sociedade além do que vem do indivíduo, mas faltam provas para apoiar essa afirmação e sua discussão, portanto, é impossível” (36). 
Tarde continua o ataque: “de acordo [com o Sr.], não é permitido qualificar como sociais os atos do indivíduo onde o fato social se manifesta, por exemplo as palavras de um orador, manifestação da língua, ou o ajoelhar de um devoto, manifestação da religião [...] estes atos são espécies de híbridos, fatos sócio-psíquicos ou sócio-físicos com os quais não se deve mais manchar por muito tempo a pureza científica da nova sociologia (37). 
Durkheim responde: “Sem dúvida, esta dissociação [entre o social e o individual] não se apresenta sempre com a mesma nitidez. Mas basta que ela exista de uma maneira incontestável em casos importantes e numerosos […] para provar que o fato social é distinto de suas repercussões individuais [...] À primeira abordagem, parecem inseparáveis das formas que eles tomam nos casos particulares. Mas a estatística nos fornece o meio de isolá-los. (Durkheim 1894: 9)” (37). 
Tarde duvida da estatística: “[Oh!], se […] contamos com a estatística como fonte de informações essencialmente “objetiva”, nós nos iludimos.Os oráculos desta sibila são freqüentemente ambíguos e exigem interpretação. Em verdade, as estatísticas oficiais funcionam ainda muito imperfeitamente e há muito pouco tempo para fornecer elementos decisivos para o debate que nos ocupa” (37)
Questões do Debate: O papel da imitação
Para Tarde a imitação “é o agente socializante, é necessário que ela preexista à sociedade que ela prepara [...] começando a imitar um ser que é susceptível de vos imitar por sua vez [...], começa-se a estabelecer com ele relações socializantes, as quais se tornarão necessariamente relações sociais se os atos de imitação se multiplicam e se centralizam. (38).
Durkehim diz que a propagação imitativa não tem o poder de solidarizar os seres humanos, Mas tarde diz que a imitação que ele fala é de uma “propagação imitativa de fatos psicológicos”.
Para Durkheim a imitação “tem origem em certas propriedades de nossa vida representativa que não resultam de nenhuma influência coletiva. Portanto, se estivesse demonstrado que ele contribui para determinar taxas de suicídios, resultaria que esta última depende diretamente, seja em sua totalidade seja em parte, de causas individuais.” (40). “o que todos os mapas nos mostram é que o suicídio, longe de se dispor mais ou menos concentricamente em torno de alguns focos, a partir dos quais iria diminuindo gradualmente, apresenta-se, ao contrário, em grandes massas mais ou menos homogêneas (apenas mais ou menos, porém) e desprovidas de qualquer núcleo central. Uma tal configuração, nada tem que revele a influência da imitação. (Durkheim 1897b: 120-128).
Tarde responde: “a disposição em círculos concentricamente degradados ocorreria, conforme a teoria da imitação, se o suicídio fosse um fenômeno de origem recente; mas ele é muito antigo; e, do mesmo modo, por todo lugar onde a ação da imitação se acumulou durante muito tempo, produziu-se um nivelamento, um amontoado, uma classificação por assim dizer.” (43). 
Para Durkheim a explicação é outra: “suicídio depende essencialmente de certas condições do meio social. Pois este último geralmente mantém a mesma constituição em extensões bastante amplas de território. […] A prova de que essa explicação é fundada é que vemos a taxa de suicídios modificar-se bruscamente e por completo toda vez que o meio social muda bruscamente [...] embora seja certo que o suicídio é contagioso de individuo, nuca se vê a imitação propaga-lo de tal maneira que afete a taxa social de suicídios” (44).
Durkheim reafirma sua tese “O suicídio varia em razão inversa do grau de integração dos grupos sociais dos quais o indivíduo faz parte” (46).
Tarde não entede o que a palavra integração quer dizer: “A integração de que o Sr. Fala implica num constrangimento moral, chamar isso de integração é bastante bizarro” (46).
Durkheim diz que isso não é metáfora. Cada gurpo social tem uma inclinação a certos atos que lhe é própria e da qual derivam as inclinações individuais e não procede destas últimas. 
Tarde ataca o suicídio egoísta de Durkheim, dizendo que “[Ele] nos deixa apenas a escolha entre a tirania da regra, que mutila nossa natureza, que fere nossa liberdade, e o suicídio que suprime nossa existência. Enclausurar-se ou se matar, não há meio termo” (47). 
Tarde vai ao centro da questão: “Tenho muita dificuldade em compreender, confesso, como é possível que, “descartados os indivíduos, resta a sociedade”[...] Parece que se está em busca de um princípio social onde a psicologia absolutamente não entra, expressamente criado para a ciência que se fabrica, e que me parece bem mais quimérico ainda que o antigo princípio vital.” (48).
Questões do Debate: Individualismo ou Holismo
“Como a sociedade não é composta senão de indivíduos, o senso comum julga que a vida social não pode ter outro substrato que a consciência individual; sem isso, ela parece solta no ar e pairando no vazio. Entretanto, o que se julga tão facilmente inadmissível quando se trata dos fatos sociais é normalmente admitido nos outros reinos da natureza. Toda vez que ao se combinarem elementos quaisquer produzem, por sua combinação, fenômenos novos, cumpre conceber que esses fenômenos estão situados, não nos elementos, mas no todo formado por sua união. A célula viva nada contém senão partículas minerais, assim como a sociedade nada mais contém além dos indivíduos; no entanto, é evidentemente impossível que os fenômenos característicos da vida residam em átomos de hidrogênio, de oxigênio, de carbono e de azoto. […] Ela está no todo, não nas partes. […] Apliquemos esse princípio à sociologia. Se, como nos concedem, essa síntese sui generis que constitui toda sociedade produz fenômenos novos, diferentes dos que se passam nas consciências solitárias, cumpre admitir que esses fatos específicos residem na sociedade mesma que os produz, e não em suas partes, isto é, em seus membros.” (Durkheim 1901: 21-22)
Tarde responde “Como [uma coisa social] poderia se refratar antes de existir, e como ela poderia existir, falemos de modo inteligível, fora de todos os indivíduos? A verdade é que uma coisa social qualquer [...] se transmite e passa, não do grupo social considerado coletivamente para o indivíduo, mas sim de um indivíduo [...] a um outro indivíduo, e que, nesta passagem de um espírito para um outro espírito, ela se refrata.” (51). 
Durkheim assinala que “O único meio de contestar essa proposição seria admitir que um todo é qualitativamente idêntico à soma de suas partes, que um efeito é qualitativamente redutível à soma das causas que o engendraram, o que equivaleria a negar qualquer mudança ou a torná-la inexplicável.” (52). 
Homogenio:
Tarde- evento velho, teve tempo para se comportar assim
Durkheim- mesmo meio social, depende do grau de interação

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