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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ BUSCANDO AS MEMÓRIAS DE UM TEXTO: a história por trás das entrelinhas Projeto apresentado à disciplina Literaturas Africanas de Língua Portuguesa (LTA 574), como avaliação parcial, para II crédito da disciplina de Letras, 5º semestre, noturno, turma II. Área de concentração: Literaturas Africanas Orientador: Flávio Lourenço Peixôto Lima Aluna: Joelene Tavares Correia Ilhéus - Bahia 12 de julho 2016 BUSCANDO AS MEMÓRIAS DE UM TEXTO: a história por trás das entrelinhas RESUMO O presente projeto tem como objetivo despertar o interesse pela busca do resgate das memórias em algumas narrativas curtas de Mia Couto. Para isso, foram escolhidos os seguintes contos: “Isaura, para sempre dentro de mim”, “A benção”, “O amante do comandante”, “Prostituição auditiva” e “Ezequiela, a humanidade”, presentes no livro Na berma de nenhuma estrada de Mia Couto. A palavra literária foi o elemento norteador para uma melhor interpretação que, muitas vezes, está contida nas entrelinhas dessas narrativas. Para ampliação e fundamentação desse projeto utilizou-se teóricos que argumentam sobre a significação da linguagem utilizada pela literatura e a importância de levar em consideração alguns elementos relevantes na construção de uma melhor interpretação. Esses elementos são: as marcas de oralidade, transmissão de crenças e símbolos que representam o imaginário do povo moçambicano. Quanto ao o objetivo, utilizamos o método da pesquisa bibliográfica. Isto é, voltado para a leitura, fichamentos e levantamento de dados que facilitaram o desenvolvimento desse estudo. Palavras-chave: Literatura. Memória. Linguagem. Mia Couto. 1. TEMA Buscando as memórias de um texto: a história por trás das entrelinhas. 2. PROBLEMATIZAÇÃO A partir da leitura dos contos “Isaura, para sempre dentro de mim”, “A benção”, “O amante do comandante”, “Prostituição auditiva” e “Ezequiela, a humanidade”, presentes no livro Na berma de nenhuma estrada escrito por Mia Couto, percebe-se fortes marcas da memória negra comunicada pela palavra. Interessa aqui, destacar elementos que tragam a memória de um texto por trás das entrelinhas. Diante desses aspectos, problematiza-se a seguinte questão: como os elementos contidos nas entrelinhas de um texto e as memórias comunicadas pela palavra podem ajudar para uma melhor interpretação dos contos “Isaura, para sempre dentro de mim”, “A benção”, “O amante do comandante”, “Prostituição auditiva” e “Ezequiela, a humanidade”? 3. HIPÓTESE Os elementos contidos nas entrelinhas de um texto, como: marcas de oralidade, transmissão de crenças e costumes, símbolos que representam o imaginário e as memórias comunicadas pela palavra, contribuem na construção de uma melhor interpretação dos contos “Isaura, para sempre dentro de mim”, “A benção”, “O amante do comandante”, “Prostituição auditiva” e “Ezequiela, a humanidade”. Pois, a interpretação dessas narrativas não pode se restringir aos simples códigos das letras de cada palavra, mas sim, capturadas em um âmbito que transcende o habitual significado dos signos. A hipótese levantada é que podemos trabalhar a leitura dos contos de Mia Couto de maneira que as memórias presentes nessas narrativas possam levar o leitor a perceber uma história imbricada na literatura. Trabalhar a leitura dos textos “Isaura, para sempre dentro de mim”, “A benção”, “O amante do comandante”, “Prostituição auditiva” e “Ezequiela, a humanidade”, significa permitir que o leitor tenha contato com um vasto campo semântico. Essa linguagem utilizada por Mia Couto traz para o texto as memórias dos negros moçambicanos e revela fatos sociais dentro de um texto fictício. Portanto, a partir da leitura de narrativas como essas, que dialogam com a história dos negros de Moçambique, podemos despertar o interesse pela memória que o texto literário possibilita. De maneira que o leitor perceba a literatura como um meio capaz de contribuir na instituição da cultura de um povo. 4. OBJETIVOS 4.1 Geral a) Despertar o interesse pela memória que o texto literário dispõe, a partir dos contos de Mia Couto “Isaura, para sempre dentro de mim”, “A benção”, “O amante do comandante”, “Prostituição auditiva” e “Ezequiela, a humanidade”, presentes na obra Na berma de nenhuma estrada. 4.2 Específicos a) Estudar os aspectos sociais e históricos presentes nos contos “Isaura, para sempre dentro de mim”, “A benção”, “O amante do comandante”, “Prostituição auditiva” e “Ezequiela, a humanidade”, como proposta de interpretação desses textos; b) Mostrar que o campo semântico de algumas palavras dos contos nos possibilita buscar a memória de um texto, reconstruindo a história de um povo via ficção; c) Refletir sobre a vida dos personagens dos contos, de maneira que essa reflexão permita a retomada das memórias presentes nas narrativas. 5. JUSTIFICATIVA O presente trabalho visa despertar o interesse pelas memórias de um texto trazidas pelo campo semântico da palavra literária em Mia Couto. Para isso, partimos da leitura dos contos “Isaura, para sempre dentro de mim”, “A benção”, “O amante do comandante”, “Prostituição auditiva” e “Ezequiela, a humanidade”. Destacam-se, nesse estudo, alguns elementos contidos nas entrelinhas das narrativas, como: as marcas de oralidade, transmissão de crenças e costumes, símbolos representantes do imaginário e memória do povo moçambicano. O principal motivo pelo qual foi escolhido trabalhar a busca das memórias nas narrativas de Mia Couto, fundamenta-se na importância do leitor se tornar capaz em perceber que uma boa interpretação de um texto literário vai além de uma simples leitura. É necessário observar os elementos contidos nas entrelinhas que, muitas vezes, podem revelar uma história de um povo, sua cultura ou até mesmo suas chagas. Essa é a razão que nos leva a destacar a relevância de mostrar que os textos literários possuem uma linguagem própria, comunicada pela palavra. De acordo com o próprio Mia Couto (2009, p. 14), o que move a linguagem literária é a vocação divina da palavra. Uma linguagem inventiva e que produz encantamento, ou seja, a significação da palavra não pode ser percebida apenas na decodificação de suas letras, mas nas emoções e sentimentos que elas carregam. Em seus contos, o escritor moçambicano faz uso da oralidade e cria novas palavras, mostrando ao leitor todas as possibilidades que a linguagem da literatura permite e a importância desses elementos para a construção do sentido das narrativas. O conto “Isaura, para sempre dentro de mim” possui um enredo que gira em torno de dois personagens centrais: Raimundano e Isaura. Onde, relata a vida de duas crianças negras que eram empregados domésticos na casa dos brancos. Isaura sempre se encontrava com Raimundano às escondidas e lhe contava sobre os abusos sexuais que sofria do seu patrão. Raimundano ficava revoltado com os relatos, mas sabia que não poderia fazer nada para livrar Isaura daquele tormento, como podemos notar no fragmento a seguir: Não havia parede em que ela, de pé, não tivesse deitado. Tudo aquilo lhe dava nojeira, reviragem nas vísceras. Queixar para quem? Deus teria ouvidos para mim? Eu sonhava que me subiam coragens e enfrentava o patrão. Mas adormecia sem ousadia sequer de terminar o sonho. (COUTO, 2015, p. 42) Esse fragmento mostra a estreita relação entre a ficção do texto e as memórias dos africanos. Povo esse quesofria com a barbárie praticada pelos senhores brancos que abusavam das empregadas domésticas negras. O conto também mostra a cultura dos negros com relação ao uso do tabaco. Pois, Isaura levava cigarros da casa do patrão para fumar com Raimundano. Esse fato marcou de tal forma a vida do menino que, vinte anos depois, ele reencontra Isaura e remete suas lembranças para o cigarro que está entre os dedos dela. Vejamos o fragmento a seguir: Vinte anos depois, Isaura dessarumava a tarde, interrompendo o bar. Para mais, ela trazia entre os dedos um cigarro, fumejante. A mulher se sentou em minha mesa e, sem me olhar, desatou as falas. Desfiou memória, entre fumos e goles de cerveja. (COUTO, 2015, p. 43) A citação acima, além de permitir uma percepção da presença da memória na prática do fumo entre os negros de Moçambique, também possibilita entender o tempo em que acontece os fatos da narrativa. Pois, o conto se inicia enquanto os personagens ainda eram pequenos e é finalizado na fase adulta dos mesmos. A narrativa termina com Raimundano pedindo a Isaura que fume com ele pela última vez. A mulher atende ao seu pedido e, ao colar os lábios em Raimundano, ela converte-se em fumo e é tragada para dentro do peito do homem. A recorrente presença da palavra “fumo” no conto “Isaura, para sempre dentro de mim”, exemplifica bem uma memória contida nas entrelinhas da narrativa. Pois, esse é um elemento cultural de grande importância para os negros de Moçambique. O fumo era utilizado não apenas como uma prática para descontração ou relaxamento, mas também servia como uma valiosa moeda de troca entre eles. Por isso, as palavras literárias não podem ser lidas levando em consideração apenas o que está na narrativa, é essencial que o leitor possua a sensibilidade de captar outras imagens trazidas pela palavra. Outro conto que possibilita a relação entre literatura (ficção) e memórias (história) em Mia Couto é “A benção”. O enredo da narrativa se desenvolve em torno de quatro personagens principais: o casal de brancos Esteves, seu bebê com saúde debilitada e a criada negra Marcelinda. O casal português contrataram a negra para cuidar do seu bebê que chorava muito. Ao perceber que o menino é tomado de afeto por Marcelinda, a mãe do bebê a expulsa quando descobre que a negra utilizava uma espécie de amuleto amarrado na barriga da criança. Vejamos: Um dia, enquanto vestia o filho, dona Clementina encontrou um fio de algodão amarrando o ventre do menino. Chamou a empregada e exigiu saber as proveniências do achado. A negra Marcelinda gaguejou: - É remédio, senhora... - Remédio? - Para o menino não sofrer dessas tosses... Foram palavras, últimas. Quando Esteves chegou a casa já a sentença estava tomada. (COUTO, 2015, p. 61) O trecho acima deixa claro outra marca de memória contida nas entrelinhas do conto de Mia Couto: a prática de simpatias, que se trata de um elemento do imaginário dos negros moçambicanos. Após a expulsão da negra, a criança volta a chorar de maneira que nem mesmo a mãe consegue acalmar o filho. O pai traz de volta a criada para sua casa, o que acalma o bebê imediatamente. No dia seguinte, o casal português nota que a criada e o bebê não estão em casa. Tomados pelo pensamento de que a negra fugiu com o menino, os pais vão na casa de Marcelinda mais uma vez. Um homem fala ao casal sobre a possibilidade da negra ter levado o bebê para uma cerimônia com um curandeiro. Observe outra parte do conto que se segue: O magricelas sugeriu então que eles se dirigissem ao curandeiro, ali a dois quarteirões. Talvez Marcelinda estivesse lá a cerimoniar o miúdo. Esteves acatou a sugestão. Foi devagarinho, perdido, acompanhado só pelo silêncio da esposa. Encontrou Marcelinda saindo para a rua. A empregada trazia o menino dormindo em suas costas. Parecia esperar o patrão e entrou para a viatura sem dizer palavra. (COUTO, 2015, p. 65) O fragmento mostra mais uma vez um elemento do imaginário dos negros de Moçambique (cerimônias com curandeiros), permitindo construir o sentido do texto através da memória comunicada por meio da palavra. Esse elemento pode ser notado em “dirigissem ao curandeiro” e “cerimoniar o miúdo”. A narrativa chega ao fim quando o casal de brancos aceita a prática religiosa da negra. Pois, eles percebem que a crença de Marcelinda faz bem ao menino. O conto descrito acima evidencia a prática religiosa da negra Marcelinda. Para entender a significação dessa prática para a personagem, o leitor precisa compreender que o uso de amuletos e a busca por curandeiros é de extrema importância para os negros moçambicanos. Ou seja, mais uma vez, a interpretação dos contos de Mia Couto ocorre também por meio das entrelinhas. Por isso, essa leitura por trás das linhas e a percepção de outra semântica, que não seja a habitual, da palavra literária é tão relevante na construção do sentido do texto. O conto “O amante do comandante” é mais um exemplo de que Mia Couto utiliza uma linguagem onde as palavras carregam uma semantização capaz de comunicar a memória dos negros moçambicanos. A narrativa possui dois personagens principais: Josinda (uma mulher com traços e comportamento masculinos) e o comandante do navio de portugueses. O comandante manda os marinheiros à procura de um homem para um serviço de amor. Como é possível observar no seguinte trecho: Até que, dias passados, do grande barco saiu uma pequena canoa que se aproximou da costa. Nela vinham três portugueses, enroupados e barbalhudos. Com eles havia a mais um preto, como nós. Não era da nossa gente mas falava a nossa língua. Esse tipo escuro desceu e acenou um chamamento: - Quero falar com as humanas pessoas daqui - disse ele. (COUTO, 2015, p. 131) O trecho mostra que os negros da aldeia diferencia os três homens portugueses do homem preto que falava a língua deles. Assim, é possível entender que o conto “O amante do comandante”, também possui marcas capazes de comunicar a memória dos negros de Moçambique, contida nas entrelinhas do conto. A narrativa segue mostrando o espanto dos negros ao ouvir que o comandante precisa de um homem ao invés de uma mulher. Assim, decidem enviar Josinda, uma mulher que possuía traços e comportamentos masculinos. Porém, trocam seu nome por Jezequiel. Josinda retorna chorando e não conta para ninguém o ocorrido. O comandante manda seus homens em busca do seu amante, mas Jezequiel (que na verdade era Josinda) se recusa a retornar ao navio e se esconde. A narrativa chega ao fim quando o comandante manda os marinheiros embora. Apenas ele permanece à procura de Jezequiel. Antes de deixar a praia, o homem escreve com um pauzinho um nome no chão. Um soldado português que retorna à praia, admira-se ao ver que no chão estava escrito o nome de Josinda. Ainda observando os sentidos contidos nas entrelinhas, se faz necessário destacar outro conto da obra Na berma de nenhuma estrada: “Prostituição auditiva”. A narrativa traz a estória de um relacionamento bastante inusitado entre uma prostituta negra chamada Mariana e um militar que não aceitava revelar seu nome para negros. A estória se desenvolve em uma casa de prostituição frequentava pelo soldado. O mesmo possuía o hábito de pagar a prostituta Mariana apenas para ouvi-la falar. O homem alegava que as negras tinham um estilo próprio de falar, muito diferente das mulheres brancas e que não podia ter relações sexuais com ela porque a sua educação não permitia tocar em negros. Vejamos no fragmento a seguir: - É escusado, Mariana. Eu não toco em preta. Fui educado assim. - Ao menos, me espalheum creme, menzugo. - Um creme? - É que nós, pretas, secamos mais que lagartos. É nossa raça, assim. Me esfregue um creme, me faça um favor. Mas ele recusava, nem pele nem óleo. Alergia a gorduras, justificava já em antecipado arrepio. (COUTO, 2015, p. 78) O diálogo revela a distinção feita pelo homem entre sua raça e a dos negros. Essa diferença é tão grande que o soldado chega a acreditar que não pode tocar em pessoas negras. Assim, podemos perceber que a narrativa se constrói não apenas via ficção, ou seja, o conto possui uma relação com a memória dos negros moçambicanos. É necessário que o leitor seja capaz de perceber essa história que perpassa a literatura de Mia Couto, dessa forma, ele será capaz de fazer uma melhor interpretação do texto. O conto “Prostituição auditiva” chega ao fim com um desfecho surpreendente. Ao chegar na casa de prostituição e perceber que Mariana está triste por perder uma amiga que foi espancada até a morte, o soldado se mostra sensibilizado. Afinal, ele também já perdeu um amigo por causa da violência e sabia o significado daquela dor. Então, ele resolve cuidar da prostituta negra. O homem ignora a sua crença de que não pode tocar em negros e faz uma massagem na mulher. Os dois se relacionam sexualmente e após esse ato ele faz uma revelação: diz para a negra que seu nome é Raimundo. Assim, é possível perceber que a linguagem utilizada por Mia Couto em seus contos da obra Na berma de nenhuma estrada, contribuem não apenas para a reconstrução da memória de um povo via ficção, mas também é capaz de instituir essa cultura por meio da valorização da identidade do negros de Moçambique contada nas entrelinhas da narrativa. Essa valorização torna-se notória no desfecho dado ao conto “Prostituição auditiva”. O autor equipara os personagens de forma que o soldado branco e a prostituta negra passam por situações parecidas e sentem a mesma dor. Esse fato leva o homem a ultrapassar os preconceitos construídos por sua educação, percebendo que aquela prostituta negra era um ser humano igual a ele. Percebe-se no trecho a seguir: - Deixa, eu te esfrego, Mariana. Ela sobrancelhou uma surpresa. Ele aceitava tocar-lhe?! Voltou a sentar, oferecendo as costas. A mão dele sonhou, divagante e devagarosa. Os dedos recheados de óleo pareciam chuva escorrendo sobre água. Mariana sentia o aconchego dele. (COUTO, 2015, p. 80) O trecho acima nos permite refletir sobre a possibilidade de entender a literatura não apenas como um texto imaginativo e apenas com finalidade de divertimento. Pode-se pensar que ficção e história participam na construção de uma identidade, reafirma uma cultura e contribuem para a formação do imaginário de um povo. O entrelaçamento entre literatura e memória ocorre nas entrelinhas dessa narrativa, pois a distância existente entre a raça negra e a branca é descrita de forma que o leitor precisa ir além das palavras do conto. De outro modo, a interpretação torna-se limitada pela semântica prevista de cada palavra. Outro texto que nos leva a observar essas questões é o conto “Ezequiela, a humanidade”, presente também na obra Na berma de nenhuma estrada. O conto de Mia Couto “Ezequiela, a humanidade” narra o casamento entre dois negros: Ezequiela e Jerónimo. O fantástico se faz presente em todo o conto, pois Ezequiela possui a capacidade de se transformar em várias pessoas distintas. No início, o marido manifesta insatisfação. Porém, ao passar do tempo, ele aprende a conviver com sua esposa figurada em outras mulheres. A narrativa muda de rumo quando Jerónimo acorda ao lado de sua esposa transfigurada em homem. Assim, o marido resolve sair de casa, abandonando sua esposa: Mas o facto é que Jerónimo se desengendrou. A sua mulher: um homem? Já se vertera em branca e em preta, baixa em alta, tudo isso, sim. Mas sempre mulher. Ezequiela o tentava sossegar mas ele, de perna atrás. Até que espreitou a esposa na casa de banho. Seria ela, integralmente, um ele? E, estremecimento geral: era mesmo. Dormia em camas afastadas não fosse ele ceder. Após uma tarde em silêncio, Jerónimo veio às falas: - Desculpa, mas agora é de mais. Enquanto você for Ezequiel eu fico fora... (COUTO, 2015, p. 107) A decisão de Jerónimo descrita acima, se converte em uma lição para o personagem. O homem acaba adoecendo e em delírio de febre volta para a casa de sua esposa. A mulher, cuidadosamente, trata da doença de seu marido. O mesmo adormece envolvido nos beijos de Ezequiela, mesmo estranhando um raspar de barba em seu pescoço. No dia seguinte, o homem acorda e se surpreende ao se deparar com sua própria imagem. Ele percebe que não se trata de um espelho, mas sim de sua esposa convertida nele mesmo. O conto chega ao fim com o seguinte fragmento: Trémulo, Jerónimo avançou a pergunta: - Ezequiela? E a voz, proveniente do outro, se espantou, devolvendo outra inquirição: - Como Ezequiela!? Você, Ezequiela, não reconhece o seu marido? (COUTO, 2015, p. 108) Ao finalizar o conto “Ezequiela, a humanidade” com o trecho acima, Mia Couto traz uma reflexão sobre questões atinentes à memória de um povo que perpassa em sua ficção. O personagem que chega a abandonar sua esposa por não aceitar vê-la transfigurada na imagem de um homem, se depara com sua própria imagem refletida em Ezequiela. Ou seja, seu preconceito não permite perceber que na verdade todos os seres humanos são iguais. O próprio título do conto sugere essa igualdade entre os homens quando coloca uma única pessoa (Ezequiela), representando a humanidade. Essa fato nos permite pensar sobre a acepção feita entre negros e brancos, contribuindo de forma pertinente na construção da identidade dos negros de Moçambique. A obra de Mia Couto Na berma de nenhuma estrada, possui inúmeros contos que nos levam a pensar sobre a memória dos negros de Moçambique. Porém, esse projeto se apoia no estudo de apenas cinco contos: “Isaura, para sempre dentro de mim”, “A benção”, “O amante do comandante”, “Prostituição auditiva” e “Ezequiela, a humanidade”. Através da leitura desses textos literários, é possível perceber as marcas da memória que eles carregam. Porém, essa memória não está descrita apenas nas linhas dos contos, mas também retratada nas entrelinhas dessas narrativas. Ou seja, os contos dialogam com a vida do povo de Moçambique e contribuem na construção de uma identidade e reafirmação de uma cultura. Desse modo, levando em consideração os cincos contos descritos acima, o presente projeto destaca a importância de buscar os elementos contidos nas entrelinhas do texto literário como forma de construir uma melhor interpretação. Ao compreender a vocação divina da palavra, que estar além da simples decodificação de uma narrativa, o aluno do curso de Letras torna-se capacitado para construir as várias significações que a linguagem literária possibilita. Perante os argumentos citados anteriormente, é possível dizer que as marcas de oralidade, a transmissão de crenças e costumes comunicadas pela palavra literária e os símbolos que representam o imaginário do povo moçambicano contribuem na busca da memória dos contos de Mia Couto. Esses elementos possibilitam uma maior reflexão acerca de uma história imbricada na ficção. 6. REFERENCIAL TEÓRICO Esse trabalho pontua no referencial teórico, alguns elementos capazes de contribuir para uma melhor argumentação acerca dos textos literários e expõe a relevância de buscar as memórias contidas na ficção dos contos de Mia Couto. Segundo Nascimento, “O referencial teórico é que possibilita fundamentar, dar consistência a todo o estudo e tem a funçãode nortear a pesquisa” (NASCIMENTO, 2012, p. 28). Para isso, se faz necessário um referencial teórico com base em fundamentos que discorrem sobre memória, literatura, marcas de oralidade e linguagem literária. Onde, gostaria de ressaltar a relação entre literatura e memórias comunicada pela palavra literária e a interpretação construída por meio das entrelinhas dos contos de Mia Couto. Nesse sentido, o embasamento desse trabalho se deu pelos seguintes teóricos: Deleuze, Flávio Lima e o próprio Mia Couto. Os teóricos citados acima nos permitem dizer que a palavra literária pode trazer significativas contribuições para a construção da memória de um povo, neste caso, dos negros moçambicanos. Pois, ler não significa apenas decodificar a junção de letras e transformá-las em palavras, mas também se permitir nas várias possibilidades que essas palavras podem trazer dentro do seu campo semântico. Mia Couto discute os diversos campos semânticos da palavra quando afirma: Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer. (COUTO, 2009, p.12) De acordo com o fragmento acima, podemos observar que Mia Couto entende a palavra como algo incapaz de comportar os sonhos que os poetas e ficcionistas procuram traduzir. Ou seja, a semântica da palavra vai além de códigos escritos em um papel, tanto que o escritor chega a dizer, anteriormente, que os poetas e ficcionistas são “impossíveis tradutores de sonhos” (COUTO, 2009, p. 12). A literatura vem pela linguagem. Essa linguagem pode ser usada de forma libertadora, reinventada, reconstruída. Nesse sentido, podemos perceber a importância da semantização que cada palavra carrega. É dentro dessa semântica, buscada nas entrelinhas, que podemos descobrir outras histórias imbricadas no texto. Deleuze destaca: O que a literatura produz na língua já aparece melhor: como diz Proust, ela traça aí precisamente uma espécie de língua estrangeira, que não é uma outra língua, nem um dialeto regional redescoberto, mas um devir-outro da língua, uma minoração dessa língua maior, um delírio que a arrasta, uma linha de feitiçaria que foge ao sistema dominante. (DELEUZE, 1997, p. 15) Quando Deleuze trata a linguagem literária, como uma “espécie de língua estrangeira”, fica notório que é preciso ir além das palavras escritas em um papel, ou seja, a essência de um texto literário está por trás das linhas. Uma zona de deleite para o leitor. Um lugar onde, muitas vezes, podemos descobrir a história de um povo. Um exemplo textual de como ficção e memória muitas vezes se entrelaçam, pode ser observado a seguir: Foi no tempo colonial. Eu e Isaurinha éramos empregados domésticos na mesma casa. Ela empregada de dentro, eu de fora. Ambos miúdos, em idade mais de brincar. Aos fins da tarde, quando ela despegava me vinha contar as novidades, segredos da vida dos brancos. (COUTO, 2015, p. 41) Observa-se no trecho acima que Mia Couto utiliza uma linguagem com muitas marcas de oralidade, como podemos notar em “aos fins da tarde”, “ela despegava”, “segredos da vida dos brancos”. Essa oralidade nos permite construir o sentido do conto por meio das entrelinhas, pois a forma de falar dos negros de Moçambique revela uma memória expressiva desse povo. Dentro da perspectiva que considera as marcas de oralidade como um elemento que possibilita buscar as memórias de um texto, é importante destacar o pensamento de Débora Zanelato, que diz: O contador José Chico Simbe trabalha na rádio e tem um caderno com mais de 70 histórias. Ele diz que esses relatos são feitos para ensinar valores universais de convívio e de ética, além de ajudarem a resolver conflitos. “São histórias que não querem muito ser fixada na escrita, em um congelado folclore, porque nascem de um tecido vivo que é a existência humana”. Diz Christian. (ZENELATO, 2016, p. 33) Zanelato exemplifica muito bem a importância da oralidade como marca da cultura dos negros de Moçambique. Ao documentar mais de 70 histórias que não possuem interesse de se fixar em uma escrita estática, o contador José Chico coloca a língua como um elemento vivo, fluído, resultado de uma existência humana. Ao retratar a oralidade comunicada pela palavra literária, Mia Couto permite que sua escrita sirva como meio de instituir a cultura do povo moçambicano. Flávio Lima argumenta ainda com relação a esse ponto: Pensar nas questões atinentes à ficção e à memória é pensar no direito das nações de reaverem e instituírem a sua cultura, procurando fazer com que os indivíduos recuperem as raízes dessa memória e passem a coabitar com um permanente lastro imaginário, através da existência de um caminho que os leva a permanecer harmonizados em torno da sua unidade étnica. (LIMA, 2005, p. 139) Quando Lima ressalta a importância de recuperar a raiz de uma memória, relacionando- a com o imaginário, nos faz lembrar um fragmento do conto “Isaura, para sempre dentro de mim”, onde Couto (2015, p. 43) relata: “Ela gostava mesmo era de tabaco, pouco a pouco se adentrava no vício das fumagens”. Isso relata outro forte elemento da cultura dos negros moçambicanos, o tabaco. A presença do fumo no conto “Isaura, para sempre dentro de mim”, nos permite estabelecer uma ponte entre memória e ficção. Pois, o fumo é um elemento de grande importância na construção do imaginário dos negros de Moçambique. Dessa forma, Mia Couto nos faz buscar uma memória de grande relevância para os negros moçambicanos. Pois, eles usam o tabaco não apenas para relaxar, mas também como moeda de troca. Isso nos faz refletir sobre a semântica da palavra “fumo”, que é imbricada nos costumes do povo, terminando por ir além da habitual referência desse signo. Vejamos a seguir: Ela me olhou, os olhos tão longe que parecia nem terem focagem. Aspirou fundo o cigarro, refreou umas tosses e veio em minha renteza. Quando ela colou seus lábios em mim se fabulou o seguinte: a mulher se converteu em fumo e se desvaneceu primeiro no ar e, depois, lenta, na aspiração de meio peito. Nessa tarde, eu fumei Isaurinha. (COUTO, 2015, p. 44) Ao trazer para os contos os costumes do povo moçambicano, Couto viabiliza em seu texto passagens em direção ao resgate da memória. Logo, ele utiliza a linguagem literária para a reconstrução das raízes culturais por meio da ficção. Quando o personagem do fragmento acima diz: “Nessa tarde eu fumei Isaurinha”, percebe-se que o sentido do verbo “fumar” não pode ser percebido apenas nas letras do alfabeto que compõem essa palavra, é necessário entendê-la nas entrelinhas da narrativa. Pois, a excelência dessa palavra, dentro do conto, é superior a referência que temos do ato de fumar. Ao observar a presença de elementos que fazem parte dos costumes do povo moçambicano dentro dos contos de Mia Couto, se faz necessário destacar um trecho do conto “A benção”: O magricelas sugeriu então que eles se dirigissem ao curandeiro, ali a dois quarteirões. Talvez Marcelinda estivesse lá a cerimoniar o miúdo. Esteves acatou a sugestão. Foi devagarinho, perdido, acompanhado só pelo silêncio da esposa. Encontrou Marcelinda saindo para a rua. A empregada trazia o menino dormindo em suas costas. Parecia esperar o patrão e entrou para a viatura sem dizer palavra. (COUTO, 2015, p. 65) Ofragmento mostra que Mia Couto traz para a narrativa outro grande costume do povo de Moçambique: a prática de rituais religiosos. O autor comunica essa memória no texto através das palavras literárias “curandeiro” e “cerimoniar”, que ganham uma importante significação no desenvolvimento da narrativa. Desse modo, é importante destacar a importância de desenvolver uma leitura que possa ir além daquilo que está escrito nas linhas do texto. É necessário que o leitor se permita transcender os limites da semantização da palavra e perceba um texto fluído, vivo, capaz de comunicar uma verdade que nos faça refletir sobre a cultura de um povo marcado pelas chagas deixadas pela colonização portuguesa. Isso só é possível por meio de uma fabulação que permite várias visões. Deleuze ressalta: Não há literatura sem fabulação, mas, como Bergson soube vê-lo, a fabulação, a função fabuladora não consiste em imaginar nem proteger um eu. Ela atinge sobretudo essas visões, eleva-se até esses devires ou potências. (DELEUZE, 1997, p. 13) De acordo com as palavras de Deleuze acima, pode-se dizer que a fabulação é um elemento presente nos textos literários. Pois, sem o mesmo, é impossível haver ficção. Porém, essa escrita se eleva por meio de uma imaginação que não protege um eu, assim como fez o escritor Mia Couto. Ele deu voz a um povo que precisava reconstruir sua identidade e o fez por meio da linguagem literária, ressaltando uma memória construída através dos sentidos percebidos pela linguagem literária. Como vimos, ainda que brevemente, podemos constatar que os teóricos citados na fundamentação teórica proporcionaram uma ampliação das questões levantadas por esse projeto. Cada um, ao seu modo, argumentam sobre elementos relevantes para a relação entre literatura (ficção) e memória (história), ressaltando uma interpretação que acontece por meio da linguagem literária e também nas entrelinhas das narrativas de Mia Couto. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS De acordo com Nascimento, “A metodologia proporciona flexibilidade aos caminhos e alternativas na resolução dos problemas para os quais procuramos resultados em relação aos propósitos pretendidos” (NASCIMENTO, 2012, p. 11). Assim, alguns pontos serão descritos para que os objetivos desse projeto possam ser alcançados. Para alcançar esses objetivos, que serão descritas ao longo desse texto, o presente projeto utilizou-se de uma pesquisa bibliográfica. Para tal, foram feitas leituras sistemáticas e interpretativas de textos teóricos que dialogam com os objetivos desse trabalho. O ponto de partida para a realização dessa pesquisa é a obra Na berma de nenhuma estrada do autor moçambicano Mia Couto. A obra é constituída de vários contos que possibilitam perceber a memória dos negros de Moçambique entrelaçada nas entrelinhas da literatura. Tudo isso comunicado pela linguagem literária, que exige uma leitura capaz de transcender a simples significação das palavras. Esse projeto priorizou a leitura e releitura de cinco contos: “Isaura, para sempre dentro de mim”, “A benção”, “O amante do comandante”, “Prostituição auditiva” e “Ezequiela, a humanidade”. Nos quais, buscou-se destacar a relação entre literatura (ficção) e memória (história), presentes nas entrelinhas das narrativas de Mia Couto. Após a leitura e releitura de cada um dos cincos contos, foram retirados dos textos literários alguns fragmentos que comprovam a presença da memória do povo de Moçambique nas narrativas de Mia Couto. Para revalidar essa constatação, fez-se necessário a busca de textos teóricos que possibilitam uma melhor interpretação e análise dos contos escolhidos. A partir desses caminhos, procuraremos descrever de forma circunstanciada, as metas (objetivos) registrados no quarto item desse projeto. Com isso, nossos procedimentos serão descritos abaixo de forma a exemplificar melhor quais foram os meios escolhidos para chegar a um resultado satisfatório. Para cumprir o objetivo geral desse projeto, que é despertar o interesse pela memória que o texto literário dispõe, a partir dos contos de Mia Couto “Isaura, para sempre dentro de mim”, “A benção”, “O amante do comandante”, “Prostituição auditiva” e “Ezequiela, a humanidade”, presentes na obra Na berma de nenhuma estrada, o texto teórico escolhido como foco foi “Ficção e memória em Mia Couto” de Flávio Lourenço Peixôto Lima. Nesse, o autor exemplifica de maneira clara e objetiva a constatação de que Mia Couto utiliza uma linguagem que dialoga com as memórias dos negros de Moçambique. Para atingir o primeiro objetivo específico, que é estudar os aspectos sociais e históricos presentes nos contos “Isaura, para sempre dentro de mim”, “A benção”, “O amante do comandante”, “Prostituição auditiva” e “Ezequiela, a humanidade”, se fez necessário uma leitura com base no texto teórico “A literatura e a vida” de Deleuze. O autor ressalta a importância de escrever uma literatura que ultrapassa os limites do vivível ou não vivida. Podemos observar a seguir: Escrever não é certamente impor uma forma (de expressão) a uma matéria vivida. A literatura está antes do lado do informa, ou do inacabamento, como Gombrowicz o disse e fez. Escrever é um caso de devir, sempre inacabado, sempre em via de fazer-se, e que extravasa qualquer matéria vivível ou não vivida. É um processo, ou seja, uma passagem de Vida que atravessa o vivível e o vivido. (DELEUZE, 1997, p. 11) O pensamento de Deleuze revela que o devir da escrita literária é uma passagem de vida que atravessa o vivível. Ou seja, o foco da literatura não é descrever fatos históricos, se assim fosse, deixaria de ser literatura. Porém, o vivível perpassa na linguagem literária, deixando marcas que ajudam ao leitor a construir os sentidos do texto contidos nas entrelinhas. No caso de Mia Couto, ele escreve no devir dos negros de Moçambique, se colando como representante de um povo desfavorecido. Por isso, é possível perceber essas marcas da memória desse povo nos contos presentes na obra Na berma de nenhuma estrada. Para realizar o segundo objetivo específico, que é mostrar que o campo semântico de algumas palavras dos contos nos possibilita buscar a memória de um texto, reconstruindo a história de um povo via ficção através das entrelinhas, foi necessário a leitura e fichamento dos seguintes textos: “Línguas que não sabemos que sabíamos” do próprio Mia Couto e “História de um povo” de Débora Zanelato. Mia Couto descreve a importância de perceber a linguagem literária por um âmbito não habitual. Vejamos: Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos – são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. (COUTO, 2009, p. 14) É possível notar no fragmento acima, que Mia Couto entende a linguagem literária como algo capaz de ser interpretada de forma que transcende a simples relação entre signo e significado. Ou seja, a palavra literária é dotada de uma semantização que não pode ser percebida apenas na junção das letras que a constrói ou na simples leitura da narrativa, mas construída pelas diversas possibilidades que a linguagem da literatura permite e também por meio das entrelinhas. Zanelato também argumenta sobre a importância de se perceber uma linguagem literária. No texto “História de um povo”, a autora enfatiza a presença de oralidade nos contos que relatam a vida do povo moçambicano. E, para que seja atingido o terceiro e último objetivo específico, que érefletir sobre a vida dos personagens dos contos, de maneira que essa reflexão permita a retomada das memórias presentes nas narrativas. A leitura foi baseada principalmente nos contos: “Isaura, para sempre dentro de mim”, “A benção”, “O amante do comandante”, “Prostituição auditiva” e “Ezequiela, a humanidade”. De forma que, foi analisado as vivências dos personagens dos contos escolhidos, relacionando-os com a história dos negros de Moçambique. Diante do que foi visto, é possível dizer que a pesquisa bibliográfica baseado nos autores citados no sexto item desse projeto foram de grande relevância para argumentar a importância do tema proposto. A metodologia baseada na leitura sistemática dos textos teóricos e a leitura e releitura dos contos escolhidos, possibilitaram um resultado satisfatório em relação ao principal objetivo deste trabalho, que é despertar o interesse pela memória que o texto literário dispõe, a partir dos contos elencados anteriormente. 7. REFERÊNCIA COUTO, Mia. Na berma de nenhuma estrada. 1.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. COUTO, Mia. Línguas que não sabemos que sabíamos. In: E se Obama fosse africano? E outras interinvenções. 1.ed. Moçambique: Companhia das Letras, 2009. DELEUZE, Gilles. A literatura e a vida. In: Crítica e clínica. Trad. Peter Pál Pelbart. São Paulo: Ed. 34, 1997. (Coleção TRANS) LIMA, Flavio Lourenço Peixoto. Ficção e memória em Mia Couto. In: Itinerários: Revista de Literatura. (UNESP), p. 137-147. São Paulo: Brasil, 2005. NASCIMENTO, Luiz Paulo. Elaboração de projetos de pesquisa. 1ed. São Paulo. Cengage Learning, 2012. ZANELATO, Débora. Histórias de um povo. In: Vida simples. São Paulo, Editora CARAS, Edição 171, junho 2016. p. 30-35.
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