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História idade média oriental RESUMO

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Professor (a) ALEX DA SILVEIRA DE OLIVEIRA
AULA 1 – A DESAGREGAÇÃO DO IMPÉRIO ROMANO
A Idade Média Oriental é uma disciplina que visa estudar as ocorrências históricas  circunscritas  à parte do  mundo  resultante  da  separação  do Império Romano  em duas  porções  e  de  áreas  não atingidas por ele ao longo de sua atividade expansionista nos continentes europeu, africano e asiático.
Estudaremos povos pouco citados pela historiografia tradicional como os mongóis e húngaros e alguns, cujas tradições influenciaram em maior ou menor medida, o mundo cristão, caso dos muçulmanos.
Para empreendermos essa jornada, serão necessários alguns recuos cronológicos. Relembraremos questões como a expansão macedônia, o Helenismo e os elementos que  contribuíram para a desagregação do Império Romano. Tais elementos são necessários para entendermos características assumidas em algumas áreas que são nosso objeto de estudo.
O conceito de Idade Média Oriental.
Como vimos na introdução, entendemos que Idade Média Oriental engloba os eventos e estruturas relacionados a toda a porção do mundo conhecido pelos romanos que não ficou à mercê da atuação e sucesso dos ocupantes germânicos, além de regiões nunca agregadas pelos “senhores“ da Antiguidade.
Para nós, historiadores, essa divisão é apenas ideológica, ou seja, refere-se a um contexto cronológico muito específico. Se aqueles que dedicam seu olhar à Geografia Física podem estabelecer limites rígidos para essa fronteira, nós procuramos não fazê-lo. Tal preocupação se deve ao uso pejorativo atribuído,  por vezes,  ao termo Oriente.
Para nós, historiadores, essa divisão é apenas ideológica, ou seja, refere-se a um contexto cronológico muito específico. Se aqueles que dedicam seu olhar à Geografia Física podem estabelecer limites rígidos para essa fronteira, nós procuramos não fazê-lo. Tal preocupação se deve ao uso pejorativo  atribuído,  por vezes,  ao termo Oriente.
Mais do que isso, para, veladamente, estabelecer uma hierarquia cultural, o que dificulta qualquer tentativa de aproximação.
Sua obra é engajada visto,  ter defendido por toda a vida, a causa Palestina, ou seja, a criação do Estado Palestino, nas fronteiras com o Estado de Israel. No entanto, sua reflexão pode ser maximizada e estendida para todos os povos que vivem além das fronteiras do dito mundo ocidental como: chineses, indianos, árabes, mongóis etc.
Por muito tempo foi criada uma falsa hierarquia de civilidade, destacando sempre a inferioridade desses indivíduos. Tal postura justificou as maiores atrocidades da História.
Mais uma prova de como esse conceito é ideológico, não real; ressaltamos o tópico de que essa disciplina está abordando o que os romanos e, mais tarde, a Igreja Católica, entenderam como Oriente. Os próprios romanos, assim como os gregos, acreditavam-se superiores a vários povos situados a leste.  A Igreja Católica defendeu a supremacia de sua fé, em detrimento das crenças judaicas e islâmicas.
Esclarecido esse ponto, vamos relembrar as relações estabelecidas ao longo da Antiguidade entre essas frações do mundo e criar o arcabouço para o entendimento de nosso curso.
HELENISMO
Como estudamos em Antiguidade Ocidental, os gregos, após uma série de lutas fratricidas (a Guerra do Peloponeso), ficaram tão fragilizados que se tornaram “presa fácil” para as incursões macedônias.
Mas no que consistia o Império Macedônio?
HELENISMO
Segundo o historiador Moses I. Finley: “No século V a.C, a Macedônia era ainda um conglomerado de tribos, vivendo da agricultura e da pastorícia, governados mais ou menos, firmemente por seus reis. Os círculos da corte, especialmente na  Macedônia, mantinham contatos militares e econômicos com o  mundo grego e as classes superiores cada vez mais se tornaram gregas na sua cultura”
O historiador norte-americano nos mostra que os macedônios, comparados aos habitantes da maioria das poleis gregas no mesmo período, estavam em certa desvantagem no que tange à organização sociocultural. No entanto, possuíam uma característica muito peculiar: a unidade territorial em torno de um monarca.
Lembre-se de que os gregos viviam em comunidades – poleis- fragmentadas politicamente e, por vezes, rivais.
Com a ascensão de Filipe II ao trono da Macedônia, esse reino ganhou mais poder: seu exército foi reorganizado, suas táticas militares revalidadas. Em suma, o descompasso dos macedônios em relação aos gregos no século V a.C foi suplantado no século seguinte por uma liderança com tendências expansionistas. Graças a esse fator e à já citada desunião das poleis gregas, Felipe II e seu sucessor Alexandre conseguem ampliar as fronteiras da Macedônia para essa região.
Após a morte de Alexandre, houve um “esfacelamento interno” do reino macedônio. Sem herdeiros possíveis, suas conquistas foram repartidas entre os generais que lhe assessoravam. Os três principais reinos surgidos foram: Macedônia – nas mãos dos Antigônidas; Ásia – Selêucidas e Egito – Lágidas e outros, de menor expressão.  Pouco tempo depois,  esses reinos começaram a lutar para expandir territórios, por vezes, às expensas dos antigos aliados.
  Nas palavras de Finley: “No começo do século II a.C, todos se encontravam muito enfraquecidos e nessa altura, Roma os invadiu, complementando assim, o processo de controle do Mediterrâneo.”
Além das questões administrativas, havia lutas dinásticas virulentas e os povos subjugados não conformados com sua sorte, se sublevavam periodicamente. Em suma, o que outrora aconteceu com o mundo grego, passa a ocorrer com o Império Macedônio.
E qual a relação entre os eventos aqui narrados e o Helenismo?
Alexandre e seus sucessores, em seu processo expansionista e dominador, fundaram cidades ou reativaram antigos centros, usando como referência o modelo políade grego. Implantaram instituições tradicionais como a Ágora, os templos, os conselhos e muitos tipos de magistraturas.
Os dominadores, bem como seus descendentes, só se expressavam em grego. Como disse o historiador Claude Mossé:
“De fato, os soberanos helenísticos, que pertenciam à antiga aristocracia macedônica, por serem descendentes dos companheiros de Alexandre, consideravam-se acima de tudo e antes de mais nada representantes do Helenismo. Atraíram gregos para sua corte, povoaram de gregos as cidades que, à imagem do conquistador, fundaram no território de seus reinos, cercaram-se de soldados e administradores gregos. […] Assim, a cultura grega espalhou-se pelo Mediterrâneo”.
Obviamente que esse processo teve uma contrapartida: a expansão helenística também foi influenciada pelas realidades  dos povos da bacia oriental do Mediterrâneo. 
Segundo o supracitado autor: 
“No plano religioso, assim como no plano artístico, havia no Egito, na Síria, na Palestina e na Ásia Menor tradições que a dominação greco-macedônica não poderia suprimir.” (MOSSÉ, 1998, p.161)
As áreas dominadas ocupavam um espaço geográfico muito maior do que costumeiramente ocupavam as poleis, logo, era por vezes inviável reproduzir os modelos gregos em realidades tão díspares. 
A solução mediadora foi, adaptar os elementos dos regimes monárquicos que eram o modelo tradicional dessas áreas ocupadas, aos elementos advindos da cultura grega.
O Helenismo é fruto dessa mistura, desse hibridismo.
Como veremos a seguir, os romanos continuaram essa política de expansão da cultura grega com a incorporação de novos elementos.
EXPANSIONISMO TERRITORIAL ROMANO: Vamos continuar relembrando os processos que culminaram nas estruturas do Medievo  Oriental.
ois bem, após a dominação macedônia sobre as poleis gregas, houve a constituição de um efêmero reino, esfacelado como vimos, em consequência da morte de Alexandre.
Essa fragmentação vulnerabilizou a região e a tornou suscetível às invasões. Paralelo a isso, Roma, que no século VIII a. C era apenas uma vila perdida no meio do Lácio, conquistara, com o passar dos séculos, inúmeros domínios, dentre eles os “escombros”das conquistas de Alexandre.
Segundo a historiadora Norma Musco Mendes: “A expansão territorial romana é revestida de características próprias que a diferenciam dos processos de expansão dos outros povos da Antiguidade.
Foi um fenômeno de longa duração com ritmos de intensidade variada, que se estendeu desde o século V a.C, até o século II d.C, com as campanhas de Trajano.
Roma atingiu, sob esse imperador, a extensão máxima de seu império, através da anexação da Dácia, da Armênia, da Mesopotâmica e da Arábia.”
Ao anexar áreas tão diferenciadas, os romanos que já tinham contato com a cultura grega desde à época em que eles fundaram colônias no sul da Península Itálica, ampliaram essa relação.
O helenismo passou a fazer parte do mundo romano e de todos os seus domínios.
O processo expansionista, contudo, trouxe consequências, não necessariamente positivas para Roma. 
Se por um lado representou abundância em relação ao quantitativo de mão de obra escrava entrante, à arrecadação de tributos, à exploração de matéria-prima; por outro lado, revelou incongruências significativas.
Dentre essas incongruências citamos o fato do expansionismo não ter “socializado” as benesses, em suma, a população em geral não experimentou, a não ser de forma incidental, as vantagens advindas com os êxitos romanos. 
Ainda nessa linha de análise, as próprias estruturas tradicionais romanas não estavam preparadas para as transformações socioeconômicas verificadas. 
A  República, a partir do século II a.C, começa a entrar em “colapso”.
Após sucessivas disputas intestinas de poder, com a ascensão dos generais e a criação dos triunviratos, forma-se um poder que, sob a ótica da já citada Norma Mendes, é um híbrido:
“(...) mistura novidades com permanências, quer dizer, conserva as instituições republicanas, mas as coloca sob a tutela de um princeps."
Princeps = Primeiro entre os iguais.
Era o fim da República e o início do Principado.
PRINCIPADO – ALTO IMPÉRIO
Para muitos estudiosos, dentre eles Nicolet, o Principado poderia ser caracterizado pela centralização administrativa e pelo militarismo. Em relação a esse particular, houve uma significativa transformação.
No final da República, o exército era custeado pelos generais com recursos particulares e, obviamente, com os resultados das conquistas militares empreendidas. Tal dinâmica era utilizada por esses líderes para ampliar substancialmente seu poder pessoal.
Como sabemos, o surgimento dessas lideranças autônomas foi uma das razões para os problemas no final da República. Afim de neutralizá-las, já a partir de Otaviano, os imperadores romanos capitanearam essa prática tornando-se chefes absolutos dos exércitos.
Os legionários estavam isolados politicamente, separados dos seus generais e ligados apenas ao chefe do governo e, através dele a Roma, personificado na pessoa do imperador. Isso ficou ainda mais evidente quando o imperador Otávio Augusto, no ano 6, criou a Teocracia Militar, sob  sua administração direta. 
O exército passou a depender exclusivamente do Estado e, por conseguinte, do Imperador”. (MENDES, 2008, p.32)
A DESAGREGAÇÃO DO IMPÉRIO ROMANO:
Após séculos de relativa calmaria, (como estudamos em Antiguidade Ocidental, a Pax Romana) o Império começou a vivenciar problemas muito sérios. O século III é marcante para a história romana no que tange à desagregação de sua extensão geográfica. 
Vários estudiosos defendem, inclusive,  que esse foi o marco para o desligamento das porções Ocidente e Oriente.
Nesse contexto, caracterizado pela historiografia como crise do século III, evidenciam-se problemas negligenciados nos séculos passados. Grande parte deles se relacionava à estagnação expansionista, provedora de elementos essenciais à sobrevivência do Império.
Dentre esses problemas, podemos citar a questão da mão de obra escrava. Visto que grande parte dos escravos era resultado de capturas em batalhas, inicia-se um processo de escassez que vai obrigar os romanos a instituir novas formas de trabalho.
Outra questão sistêmica era o déficit econômico vivido por Roma. As despesas para a manutenção do Império Romano aumentavam cada vez mais. 
Manter exércitos protegendo as fronteiras, custear  a política de apaziguamento das massas demandava a renovação constante de recursos e isso não estava ocorrendo. 
Os problemas de corrupção nas províncias e disputas pelo poder complementavam o quadro de crise.
Na tentativa de minimizar a situação, algumas políticas foram implementadas. A primeira delas, a instituição da tetrarquia em 286, um governo composto dois Augustos e dois governantes secundários, os Césares.  Segundo o historiador Michael Grant: “(…) embora a tetrarquia multiplicasse a autoridade, não a dividiu, oficialmente; o império ainda era uma unidade indivisível. A legislação era expedida em nome de todos os quatro, a lei de um dos Augustos era a lei do outro, e os dois Césares eram obrigados a obedecer a ambos.” 
Após a abdicação de Diocleciano, o modelo de tetrarquia desmoronou.
Quase um século depois, em 395, Teodósio partilhou o Império entre seus dois filhos: Honório e Arcádio. 
Tal decisão mostrou-se irremediável visto que, seria a partir dela que o Império Romano do Oriente, que já divisava características muito particulares, busca o afastamento das questões ocidentais.
Os povos germânicos que já haviam empreendido avanços significativos nos limes desde o século IV ampliaram sua atuação e tal processo culmina na desagregação do lado Ocidental.
O Império Romano do Oriente, apesar de ter sofrido tentativas de incursões, consegue subsistir a essa fase e aflora como herdeiro de Roma.
AULA 2: O IMPÉRIO BIZANTINO
As incursões germânicas e a formação de Bizâncio:
As incursões germânicas ao Império romano não foram uma novidade do século V
Desde o século anterior, esse movimento ocorria provocando retaliações como as promovidas pelo imperador Valentiniano na região da floresta Negra ou admitindo esses individuos como colonos no limes (fronteiras) romanos.
Antes mesmo da divisão do Império, promovida por Teodósio, o lado oriental passou por um grande percalço:
(...) duzentos mil visigodos foram acossados pelos invasores hunos através do Danúbio até o Império Romano Oriental onde os seus governantes permitiram que se estabelecessem.
Exasperado,porém, com o tratamento injusto a que os sujeitaram, o chefe visigodo Fritigerno sublevou-se e devastou os balcãs enquanto os povos do norte forçavam caminho atravé do Danúbio seguindo a sua esteira (376).
A situação foi apaziguada após muita luta, no entanto não foi localizada. Muito mais estava por vir.
Após a divisão do Império promovida por Teodósio, seus dois filhos assumiram com o auxílio de regentes:
Arcádio na parte oriental, sob a orientação de Rufino; e Honório na parte ocidental, sob a orientação de Estilicão.
Estilicão, o verdadeiro governante ocidental, passou parte de sua regência articulando para a derrubada e anexação da parte oriental, o que acabou resultando em grande negligência a uma amezça real que se agigantava sobre as fonteira do reno: Alarico e seus soldados, bem como uma coligação de tribo vândalas, suevas, burgúndias e alanas.
Os imperadores seguintes não conseguiram reverter o quadro.
Em contrapartida, o lado oriental, em melhor condição de defesa e com províncias mas abastadas, não partiu em socorro à proção ocidental. Segundo o, já citado, historiador Michael Grant:
“Havia uma aversão antiga, endêmica e mútua entre as metades latina e graga do mundo romano e os governantes de cada uma delas pareciam relutar assintência mútua, estando muito mais inclinados a se apunhalarem pelas costas”.
Não podemos ser simplistas e achar que a falta de colaboração era apenas uma questão de simpatia e aversão, mas a falta de identidade entre as duas partes pesou nessa postura.
Além disso, havia questões de ordem prática: auxiliar o lado ocidentalimplicava em gastos que poderiam desequilibrar as finanças orientais, o que não era aceitável.
Resgardando cada vez mais suas fronteiras, o lado oriental sobreviveu por quase mil anos.
O Imperador Zenão estava no poder no ano em que a historiografia consagrou como marco para o término do Império Ocidental, o ano de 476.
Lembre-se que essas datas são arbitrárias. Como vimos, o Império Romano já passava por problemas há pelo menos dois séculos. Logo, determinar uma data é esquecer que houve um processo de desagregação.
Razões para a sobrevivência do Império Romano Oriental
Compreender por que o lado ocidental sucumbiu aos invasores germânicos enquanto o oriental resistiu não é das tarefas mais simples.
Nenhum fatos isolado justificaria tal realidade. Temos que trabalhar com uma série de elementos conjugados para esclarecer tal permanência.
O primeiro fatos que podemos assinalar é a questão geográfica:
O lado ocidental tinha que resguardar extensas fronteiras que se estendiam do alto e médio rio Danúbio e do rio Reno.
O lado Bizantino tinha que se preocupar apenas com a fronteira do baixo Danúbio o que lhe dava liberdade para enfrentar com mais eficácia as hordas de invasores do leste.
Ainda dentro dessa lógica, mais uma vez citando Michael Grant:
Além disso, se o imperador ocidental não conseguisse manter suas barreiras junto àqueles rios, não tinha uma segunda linha de defesa em que se apoiar, e a Itália, a Gália e a Espanha ficavam abertas aos invasores, ao passo que forçar o Bósforo, guardando pelas defesas insuperáveis de Constantinopla, estavam acima da capacidade de qualquer potência hostil.
Um segundo fatos de destaque relaciona-se com a estrutura socioeconômica.
O lado oriental manteve relativamente intactas as atividades econômicas, apesar das ameaças, bem como a estabilidade interna.
Além disso, as províncias orientais eram mais povoadas e mais ricas, o que evitou o colapso em relação à cobrança de impostos necessários à manutenção do Estado.
Por último podemos assinalar a relativa paz interna do lado oriental.
Após a separação, sua políitica interna mostrou-se muito mais homogênea, sem grandes perturbações, sem sistemáticos governos golpistas como tornou-se praxe no lado ocidental.
As sucessões ocorrendo sem grandes percalços estimulavam a unidade e os fortaleciam perante às ameaças alienígenas.
AULA 3 – BIZÂNCIO E JUSTINIANO
Como  vimos na aula passada, em 518 inicia-se a Dinastia Justiniana, com a subida ao trono do soldado Justino. Segundo a historiografia, o governo era exercido de fato por seu sobrinho, Pedro Sabático. O jovem viria a sucedê-lo sob o nome de Justiniano.
Ao longo das primeiras dinastias, o Império Romano do Oriente preservou a essência dos elementos romanos, mantendo, inclusive, o latim como idioma oficial. Em termos de estruturas político-administrativas, essa lógica se repetiu.  A partir do século VII, as contribuições gregas e asiáticas passam a prevalecer, o que alguns entendem como uma “orientalização” ou “helenização” do Império.
Justiniano (527-565) era casado com uma mulher de origem humilde chamada Teodora. Ao contrário da maioria das mulheres de seu tempo, relegadas a um papel secundário pelos narradores, ela foi diversas vezes citada por seu papel significativo no governo do esposo. Teria influenciado decisivamente em questões de foro político e religioso.    
Logo no início de seu governo de fato, o imperador Justiniano tentou solucionar uma questão que se arrastava por décadas, o Primeiro Cisma da Igreja Católica. Mas o que foi esse Cisma? Em primeiro lugar, a palavra Cisma é empregada em vários contextos históricos, com o sentido de separação (Você deve se lembrar do Cisma ocorrido entre as 12 tribos hebraicas que originou a formação de dois reinos: o Reino de Israel e o Reino de Judá, conteúdo estudado em Antiguidade Oriental).
Em 478, o Patriarca de Roma tomou uma atitude extrema ao excomungar o líder religioso Oriental, o Patriarca de Constantinopla.
Desde o Concílio de Niceia, em 325, a Igreja estava subdividida em cinco domínios: o de Roma, o de Constantinopla, o de Jerusalém, o de Alexandria e o de Antioquia. Havia, no entanto, uma maior ascendência do Patriarca romano.
Isso ocorreu porque ele não tomara atitudes para coibir uma heresia, o Monofisismo, cujo número de adeptos era significativo no Egito, Síria e na Terra Santa. Os monofisistas defendiam que a natureza de Cristo era una, ou seja, era apenas espiritual.
Após a excomunhão, o imperador bizantino apoiou o Patriarca, enquanto os poderes então estabelecidos em Roma ficaram ao lado do Papa, levando à desvinculação momentânea das Igrejas Ocidental e Oriental.  Com o projeto de reunir novamente Ocidente e Oriente, Justiniano se comprometeu a proteger a ortodoxia da Igreja e passou a perseguir as heresias, a despeito de sua esposa, que seria adepta do Monofisismo.
ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA
A administração do Império Bizantino foi aos poucos se baseando na lógica do Cesaropapismo, ou seja, o imperador assumiu o poder secular e o poder religioso. Na prática, ele poderia ingerir sobre a doutrina e a sociedade cristã, o que seria, teoricamente um atributo dos membros do clero.
A Igreja passou a ser subordinada ao Estado enquanto o imperador era considerado um representante de Deus na terra. Essa premissa não era uma novidade, visto que desde o governo de Constantino a prática já ocorria. O imperador bizantino deveria, no entanto, respeitar e preservar os privilégios do clero.   Baseado em uma autocracia, esse líder era assessorado por uma complexa rede de funcionários.
A economia do Império Bizantino acompanhava a tendência natural da região. Sempre utilizada como entreposto comercial, manteve essa característica, conectando-se ao Oriente e Ocidente por terra e mar.   
Foi desenvolvido também um significativo setor artesanal, organizado em corporações comandadas e organizadas pelo Estado. As propriedades rurais estavam concentradas nas mãos de poucos indivíduos, sendo a agricultura fundamental para o abastecimento interno.
POLÍTICA EXTERNA DE JUSTINIANO
A política externa de Justiniano apresentou duas posturas: em alguns momentos conciliatória e em outros belicista. Um exemplo da primeira conduta foi a assinatura do tratado de paz com o rei persa em 532. O objetivo era apaziguar as fronteiras orientais do Império. Para tanto, Justiniano se comprometeu a pagar anualmente tributos à dinastia reinante, os sassânidas.
Em relação ao Ocidente, sua postura foi diferenciada. Com objetivo de “reconstruir” o Império Romano, empreendeu batalhas em várias frentes, começando pelo norte da África. Essa região estava sob domínio dos vândalos, um dos povos que ocuparam os domínios romanos após a desagregação do Império. A empreitada foi bem sucedida e o domínio sacramentado em 548.  
Continuando seu expansionismo, sob a tutela de seu general de confiança, Belisário, Justiniano retomou dos godos a Sicília, Ravena, Nápoles e Roma e, dos visigodos, partes da Península Ibérica.
Apesar de seu governo ser conhecido como a época de ouro do Império Bizantino, suas conquistas mostraram-se efêmeras. Mantê-las representava um ônus muito significativo para as receitas imperiais, pois demandavam exércitos para preservá-las sob jugo.
Além disso, essas áreas, em sua maioria, apresentavam-se financeiramente inviáveis. Em suma, redundavam em prejuízo e acabaram precipitando problemas internos como veremos a seguir.  
Justiniano, para fazer frente a tantos gastos com os exércitos expansionistas, empreendeu uma reforma de cunho fiscal que representou um acréscimo significativo na tributação interna. Esse foi um dos motivos para o início da Revolta de Nika (ou Nike), ocorrida em 532, e que terminou com a morte de milhares de manifestantes. O fim do conflito representou a consolidação do poder de Justiniano.
Outro motivo alegado para o início do movimento, que durou aproximadamente uma semana e chegoua investir outro imperador no cargo, foi a opressão de Justiniano sobre o monofisismo.
O palco da revolta foi um lugar muito apreciado pela população: o hipódromo. Esse local era um centro de lazer, mas também palco da vida social e de disputas religiosas e políticas.  Lá, reuniam-se as facções desportivas divididas por cores e também por ideias.
Eram quatro equipes: os azuis, os verdes, os vermelhos e os brancos. Os mais beligerantes eram os primeiros grupos, sendo que a equipe Azul refletia os interesses dos grandes proprietários e da tradição religiosa. Já os Verdes representavam artesãos, comerciantes, altos funcionários provinciais, além de adeptos do monofisismo.
A situação foi precipitada por uma divergência acerca do cavalo vitorioso em um páreo. Justiniano, contrariando a lógica de apoiar uma facção para enfraquecer outra, recusou-se a fazê-lo, o que gerou um efeito rebote: Azuis e Verdes uniram-se contra ele.
Como vimos, não foi um motivo bobo como o resultado de uma corrida, que desembocou no movimento e sim um acúmulo de questões.
Os sediciosos tomaram quase toda a capital. Segundo o historiador Procópio de Cesareia, Justiniano cogitou a fuga e foi contido por sua esposa Teodora, que teria dito:
"Ainda mesmo que a fuga seja a única salvação, não fugirei, pois aqueles que usam a coroa não devem sobreviver à sua perda. Se queres fugir, César, foge; eu ficarei, pois a púrpura é uma bela mortalha."
A partir de então os revoltosos foram visceralmente retaliados pelo general de confiança de Justiniano, Belisário, e a situação contornada com a utilização dos impostos para a reconstrução dos monumentos depredados durante o movimento.
A CULTURA NO IMPÉRIO DE JUSTINIANO
Falando da arte bizantina propriamente dita, observamos que a multiplicidade de influências, ou seja, romana, grega e oriental gerou um produto novo, rico no que tange a cores, estilos e formas. 
Foi uma arte extremamente ligada à funcionalidade, visto que servia essencialmente à religião.
Em relação à arquitetura, quase nada temos de construções mundanas, no entanto, muitos templos ainda testemunham essa arte. 
Era a tônica das igrejas bizantinas, a aplicação de abóbodas e cúpulas.
Durante os anos de seu governo, Justiniano implementou uma série de grandes construções, das mais diferentes naturezas: desde de fortalezas até suntuosas igrejas, sendo a mais conhecida, a Basílica de Santa Sofia.
Basílica de Santa Sofia - Essa obra arquitetônica, também conhecida como Hagia Sofia, foi transformada em mesquita por volta de 1453, quando os turcos otomanos seljúcidas dominaram o Império.  No século XX, tornou-se um museu.
Na decoração interior, era largamente empregado o mosaico. O mosaico bizantino tinha como objetivo ornamentar os templos, mas também o lado proselitista, ou seja, de divulgação dos valores cristãos entre os fiéis.
Dessa forma, eram retratados episódios da vida de Cristo e de seus seguidores. Em termos de técnicas, o dourado era muito utilizado dado o seu simbolismo e os personagens sempre retratados frontalmente, sem nenhuma preocupação com os planos ou a perspectiva.
A pintura seguia a rigidez dos mosaicos e era manifestada através de afrescos com imagens de anjos, apóstolos e santos. Nos séculos seguintes, a questão da representação de seres humanos ou de Deus redundaria em uma polêmica conhecida como Questão Iconoclasta.
Assunto que trataremos nas próximas aulas.
A produção literária em Bizâncio foi igualmente profícua. Com o passar dos séculos, o latim foi sendo totalmente substituído pelo grego nas composições. Era muito comum os manuscritos serem decorados com as chamadas iluminuras.
Em termos de gêneros, temos uma maior quantidade de material ligado à religião, ou seja, hinos, hagiografias e tratados de Teologia. Conhecemos também obras ligadas a assuntos mundanos, como poesia, tratados de guerra, romances épicos e relatos históricos.
O CORPUS IURIS CIVILIS
Ao longo do governo de Justiniano, foram implementadas várias modificações no âmbito legal. A primeira delas, no ano de 529, foi uma revisão do até então utilizado Código legal romano. Para tal tarefa foram designados dez homens proeminentes. Alguns anos mais tarde, essa obra foi revista e complementada materializando do Corpus Iuris Civilis. Essa foi a base legislativa do Império Bizantino até sua desagregação.
A preocupação de Justiniano com a reformulação do Direito é facilmente compreensível; seria uma maneira de legitimar e consolidar o poder imperial e estabelecer um sistema jurídico eficaz para o Estado.
Esse documento foi subdividido em quatro livros: Codex, Digesto (também conhecido como Pandectas) Institutas e Novelae, cada um deles com características particulares. Segundo a historiadora do Direito Flavia L. Castro: “O Codex foi completado em 529 e reúne a coleção completa das Constituições Imperiais, o Digesto é a seleção das obras dos jurisconsultos, as Institutas são um manual de Direito para estudantes e as Novelae são a publicação das leis do próprio Justiniano”.
Um dos elementos dignos de menção no Código Justiniano foi sua percepção acerca dos judeus. Foram criadas várias normas que hoje qualificaríamos como anti-semitas, mas que adequavam à lógica de aproximação com a Igreja adotada pelo imperador. 
Dentre essas medidas podemos citar: proibição de relações sexuais entre judeus e cristãos, os judeus estavam proibidos de exercer qualquer cargo público, jamais poderiam testemunhar contra cristãos e, tampouco, ler a Bíblia em hebraico.
Alguns historiadores do Direito, como L. Genicot, identificam nesse documento a base para a tradição jurídica ocidental, visto que muitos de seus fundamentos se aplicam nos dias atuais. Princípios tais como: não há crime sem lei anterior que o defina e em caso de dúvida o réu deve ser beneficiado já estavam esboçados nesse compêndio.
O FIM DO GOVERNO DE JUSTINIANO – BIZÂNCIO NO SÉCULO VII
Com a morte do impreador Justiniano, ascedeu ao trono Justino II. Já no início de seu governo enfretou sérios problemas militares. Tendo recusado-se a manter o pagamento de impostos ao governante persa, acordo que vimos, fora instituído por seu antecessor, viu-se a mercê de um ataque.
Simultaneamente, os lombardos ocuparam a Península Itálica, o que provocou a perda de significativos territórios na região. Como é fácil concluir, o projeto expansionista de Justiniano não sobreviveu a seu realizador. O Império passou a viver uma crise acentuada que demandou reformas empreendidas pela dinastia seguinte, a Heráclida (610-717).
pesar das tentativas, os problemas religiosos, as pendências econômicas, a corrupção e a falência militar se acentuaram. 
O Império Bizantino passou então a administrar conflitos de maior ou menor expressão. Já no século VII, enfrentou um vivaz adversário, a expansão islâmica.
AULA 4 - MUNDO ÁRABE PRÉ-ISLÂMICO/ O ISLÃ EM SEUS PRIMÓRDIOS
A Arábia pré-islâmica
Os muçulmanos costumam denominar o período anterior ao surgimento do Islamismo de Jahiliyah, ou seja, Idade da Ignorância. A  REGIÃO DA PENÍNSULA ARÁBICA não possuía centralização política, visto que estava subdividida em várias comunidades independentes.
Em termos geográficos, podemos dividir a península em duas grandes porções: ao norte uma área bastante inóspita, com clima semi-árido e ao sul, de clima mais ameno, ocupada hoje pelo Yemen. Observe nos mapas que é banhado pelo Mar Vermelho e o Golfo Pérsico.
Antes de Maomé e a difusão do Islamismo,  o que prevalecia era a ética tribal. 
Cada indivíduo buscava estabelecer vínculos sanguíneos e de parentesco, por meio de um ancestral comum, formando um clã. Os clãs interagiam ligando-se em tribos (qawm).
“Era essencial cultivar uma ardente e absoluta lealdade ao qawm e seus aliados. Somente a tribo poderia garantir a sobrevivência dos indivíduos […] Para cultivar esse espírito comunitário, os árabes desenvolveram uma ideologia chamada muruwah […] A muruwah implica coragem na batalha,paciência e resistência ao sofrimento, dedicação às obrigações cavalheirescas de vingar o mal feito à tribo, proteger os mais fracos e afrontar os fortes.”  
Várias tribos viviam de forma nômade, peregrinando pelo deserto, praticando o pastoreio e utilizando os oásis como entrepostos. Eram conhecidos como beduínos. Em contrapartida, também existiam tribos sedentarizadas, ocupantes das regiões mais próximas da costa, caso daquelas que se fixaram em Meca e Yatrib. Os dois grupos se relacionavam através de interações comerciais.  
No norte da Península, alguns grupos estabeleceram reinos de duração variável. Como exemplos podemos citar os gassânidas, que firmaram, com o passar do tempo, relações com o Império Bizantino e o reino de Hira, que pendia para o lado do Império Persa. Esses dois Estados serão, posteriormente, os primeiros alvos da expansão islâmica Na região conviviam também pequenos grupos judaicos e cristãos, no entanto, o grosso dos habitantes da Península era politeísta. Possuíam diversos santuários, sendo que o mais  importante era a Caaba, situada na cidade de Meca. A redor do santuário ficavam 
depositadas imagens de vários ídolos, cerca de 360, representando as várias tribos da Península. Era tradição que peregrinos fossem anualmente ao local e realizassem sete voltas, a tawwaf, em torno do monumento.
No interior da Caaba ficava a Pedra Negra, provavelmente, um meteorito. Segundo a tradição islâmica seria uma pedra enviada dos céus. Originalmente era branca, mas teria enegrecido por absorver os pecados da humanidade.
Maomé e o início do Islamismo
Para entendermos o surgimento do Islamismo precisamos conhecer alguns detalhes da biografia do profeta Maomé. A data de seu nascimento é motivo de controvérsia; varia entre  570 e 576. Seu pai faleceu pouco antes do parto e a mãe, quando contava apenas seis anos. Por conta dessas adversidades, passou a viver com seu avô paterno.
É importante lembrar que sua família era da tribo dos coraixitas (Quraysh), grupo que administrava a cidade de Meca no período em que o Islamismo nasceu. Apesar disso, como veremos à frente, Maomé enfrentou várias adversidades até que suas ideias vigorassem.
Já adulto foi empregado como chefe de caravana de uma rica viúva, Khadidja. Apesar da significativa diferença de idade, após alguns anos se casaram. O enlace acarretou para Maomé uma ascensão econômica e social em sua comunidade. Dessa união nasceram sete crianças, sendo que apenas quatro meninas vingaram: Roqaia, Ummu Keltsum, Zeineb e Fátima, a única que lhe deixará  descendentes.
Por conta de sua atividade profissional, Maomé viajava muito e, segundo seus biógrafos, essas viagens teriam facilitado a ele o contato com grupos adeptos do Judaísmo e do Cristianismo. Tais relações se manifestam quando percebemos elementos desses credos na lógica do Islã.
Por volta do ano de 610, Maomé, que desenvolvera o hábito de longos retiros e jejuns, teria recebido uma mensagem angelical para que iniciasse sua pregação.
“Maomé foi arrancado de seu sono e se sentiu tomado pela devastadora presença divina. Mais tarde ele explicaria essa experiência inefável dizendo que um anjo o envolvera num terrível abraço que o fez sentir como se o ar estivesse sendo expelido para fora do corpo. 
O anjo deu-lhe uma ordem: Iqra! Recita! […] Mas, disse ele, o anjo simplesmente o abraçou de novo até que, quando pensou haver chegado ao limite de resistência, sentiu saírem-lhe da boca afora as palavras divinamente inspiradas de uma nova Escritura.”
Por algum tempo, Maomé relutou em acreditar no que vivenciara. Achava que havia sido tomado por um jinni (gênio mau). Seu círculo mais próximo, composto de sua esposa, seu genro, seu futuro sogro e alguns amigos, no entanto, o estimularam a divulgar as revelações que recebera. Após iniciar sua pregação pública, Maomé recebeu a adesão de várias pessoas da cidade. Essa nova crença foi batizada de Islão, que significa submissão a Allah (Deus).
A região de Meca e as lideranças locais enriqueceram pelo comércio movimentado por peregrinos. A Caaba atraía indivíduos de diferentes tribos, pois reunia em seu exterior imagens de vários ídolos e a Pedra Negra. Por conseguinte, era comum que para lá afluíssem centenas de pessoas.
A pregação de Maomé enfatizando a existência de uma única divindade era um potencial perigo para os negócios coraixitas.  Vários relatos indicam que os seguidores do Profeta passaram a ser perseguidos, sofreram atentados pessoais e a seus bens.
Por algum tempo, Maomé passara ileso a essas perseguições. Lembre-se do que comentamos acima: sua família também pertencia à tribo dominante.
Alguns anos após o início de sua pregação e a ampliação do número de convertidos, o próprio Maomé foi ameaçado.
Sem opção, ele retirou-se com um grupo de seguidores para uma cidade relativamente distante de Meca, a cidade de Yatrib (mais tarde rebatizada de Medina, cidade do Profeta).
Esse episódio, datado de 622 e denominado Hijra (Hégira), tornou-se o marco do Islamismo.
Por vezes traduzido como fuga, a Hégira representou, na verdade, uma retirada estratégica de Maomé. Em Medina ele encontrou algumas comunidades judaicas e grupos árabes politeístas, bem como indivíduos que aderiram à sua mensagem. O ambiente era, definitivamente, menos hostil que em sua cidade natal.
Ainda que informalmente, Maomé passou a exercer uma liderança na localidade e mediar os conflitos existentes.  Realizou importantes alianças através dos casamentos de suas filhas e de novas núpcias contraídas por ele próprio. Organizou vários ataques a caravanas oriundas de Meca até que o conflito tornou-se flagrante.
No ano de 630, Maomé teria marchado para Meca e tomado a cidade sem novos derramamentos de sangue visto que a liderança aceitou a rendição. O primeiro ato de Maomé teria sido aproximar-se da Caaba e destruir todos os ídolos lá existentes, deixando apenas a Pedra Negra intacta. O Islão estabelecera sua base.
Para os seguidores do Islamismo, os muçulmanos ( cujo significado é “aquele que se submete”), existem algumas premissas básicas que são conhecidas como os pilares da religião. São cinco:
1) Dar constantemente o testemunho de que a única divindade que merece ser adorada é Allah e que Maomé (Muhammed) é seu Shahadah, ou seja, seu Profeta.
2) Realizar as cinco orações obrigatórias em direção ao solo sagrado de Meca.  
3) Doar esmolas (Zakaah) aos pobres no valor de, aproximadamente, 2,5% dos seus bens.
4) Praticar o jejum no mês sagrado do Ramadã (estariam isentos do jejum os enfermos, as lactentes, os idosos, as grávidas e as mulheres no período menstrual).
5) Realizar a peregrinação (Haij) à Meca, pelo menos uma vez na via, desde que a pessoa possuísse meios para fazê-lo.
O Islamismo: fontes principais
Os muçulmanos, como os cristãos e os judeus, também possuem um Livro Sagrado, o Corão ou Alcorão. Está subdividido em 114 capítulos, também conhecidos como Suras e teria sido concebido ao longo dos 23 anos de pregação do Profeta.
Segundo a historiadora Karol Armstrong:
 “(...) o Corão não apresenta as várias suras na ordem em que foram proferidas por Maomé. Quando a primeira compilação oficial foi feita, por volta de 650, cerca de vinte anos após a morte de Maomé, os editores colocaram as suras mais longas no começo e as mais curtas, que incluem as primeiras reveladas pelo Profeta, no final.”
Em relação à figura de Maomé, os muçulmanos tinham uma preocupação especial. Jamais idealizar sua figura e muito menos adorá-lo.
Ele foi o Profeta como Abraão, Moisés, João Batista e Jesus, mas não deve ser divinizado.
Ele é, sim, um modelo a ser seguido.  
“Maomé é um homem como qualquer outro, mas é como uma joia entre as pedras. Enquanto as pedras comuns são opacas e pesadas, a joia é translúcida, transpassada pela luz que transfigura. […] Sua carreira profética foi um símbolo, uma teofania, que não só mostra a atividade de Deus no mundo, mas também ilustra a perfeita sujeição humana a Deus.”
O Alcorão prega, dentre outras coisas,o Monoteísmo absoluto, onde existe apenas um Criador, sábio e misericordioso que punirá os pecadores e abençoará os dignos de mérito na vida eterna.
Acreditam em Jesus como um Profeta anterior a Maomé, mas não em sua morte na cruz como redenção para a humanidade. É pecado mortal modificar, sujar ou adulterar de qualquer forma o Alcorão. Além disso, antes de tocá-lo, os fiéis fazem um ritual de purificação.
A segunda fonte da lei islâmica utilizada pelos muçulmanos é a Suna que significa “caminhos trilhados pelo Profeta”. Seria o conjunto das falas, práticas e juízos emanados pelo Profeta. As Haddits, ou seja, os registros validados desse conjunto são a base para a conduta do bom muçulmano.
Quando falamos de mundo islâmico temos que citar ainda a Sharia, o conjunto de leis que regem a vida dos muçulmanos. Seria composta pela combinação de diversas origens: o Alcorão, as Sunas e os Fatwas, decisões dos sábios do Islão sobre questões do dia a dia, sempre amparadas. A Sharia é a materialização da Lei de Allah.
Outro elemento do Islão, que é alvo de muita polêmica e má interpretação, é o conceito de Jihad. Usualmente é traduzido como Guerra Santa. Na verdade, como você estudará em História da Idade Média Ocidental, a expressão foi usada primeiramente pelos cristãos ao tentar reconquistar os territórios da Terra Santa das mãos dos seguidores do Islamismo.
A tradução mais correta para o termo é empenho. Costuma-se dividir a Jihad em dois tipos: a Jihad Maior e a Jihad Menor. 
A Maior seria um embate pessoal, o indivíduo em busca do controle de sua alma, do domínio de si mesmo. A Menor se relaciona ao empenho dos muçulmanos em levar seu credo para outras pessoas, ou seja, exercer o proselitismo.
A historiadora Karen Armstrong resumiu de forma bastante precisa o que é o Islamismo.
“O Islã é uma fé prática e realista que vê a inteligência humana e a inspiração divina trabalhando harmoniosamente lado a lado. […] O sucesso político da umma (comunidade – grifo nosso) tornara-se quase um sacramento para os muçulmanos: era um sinal externo da presença invisível de Deus em seu meio.  A atividade política continuaria a ser uma responsabilidade sagrada, e o sucesso futuro do império muçulmano era um “sinal” de que a humanidade como um todo poderia ser redimida.”
O início da expansão do Islamismo
Maomé foi o articulador de uma união até então inexistente na Península Arábica. Para obter êxito, além de ser um convincente líder religioso, precisou de sua capacidade de articular acordos e também do uso das armas.
Até o ano de 632 quando faleceu, Maomé havia reunido praticamente toda a Península Arábica sob a égide do Islamismo. Muitas tribos beduínas haviam se submetido ao Profeta, mas não haviam se convertido de fato. Prova disso é que, logo após a morte do Profeta, muitas romperam os acordos firmados.
Havia o risco real de que toda a tecitura política urdida por Maomé se rompesse, ainda mais porque ele não deixara nenhum indício ou indicação de quem deveria sucedê-lo na liderança da umma. Esse é o assunto da próxima aula.
O Islamismo pós Maomé.  Até lá!!!   
AULA 5 – O ISLAMISMO E AS DINASTIAS OMÍADAS E ABÁSSIDAS
A morte de Maomé e o futuro do Islão
a morte de Maomé foi um grande obstáculo para a manutenção da unidade da Península Arábica através do Islamismo. Entenderemos agora as razões dessa afirmação.
Maomé, ao começar sua pregação, enfrentou diversos obstáculos, não necessariamente religiosos. Questões políticas e econômicas emergiram. Com disciplina, sapiência e, por vezes, o uso da força, conseguiu “apaziguar” relativamente a situação. No entanto, muitos de seus aliados se aproximaram do Islão, mais por interesse do que por uma real conversão.
O Profeta tinha consciência de que a batalha do Islamismo não estava ganha e defendia essa premissa junto aos seus seguidores. Segundo Karen Armstrong:
“O desafio de concretizar a Palavra de Deus na história humana jamais teria fim: sempre haveria novos perigos e problemas por resolver. Algumas vezes os muçulmanos teriam de lutar; outras, poderiam viver em paz. [...] Até hoje os muçulmanos levam essa vocação muito à sério.”
Ainda assim, a insegurança se manifestou quando a confirmação do óbito de Maomé foi realizada.
Em vida, ele não deixara explícito quem o substituiria como guia do povo muçulmano.
Para muitos, isso gerou questionamentos tais como:
O Islamismo deveria sobreviver a Maomé?
Os Rashidum (Califas Ortodoxos)
Alguns indivíduos abraçaram a causa do Islamismo de forma intensa, desde o início das explanações do Profeta. Esses homens eram Abu Bakr, Umar, Uthman e Ali que estavam unidos a Maomé por laços de casamento e por afinidade espiritual. Eles compreenderam a essência de sua mensagem e se tornaram homens de confiança.
Conforme dito anteriormente, o nome de quem o substituiria não foi revelado por Maomé. Logo, em um primeiro momento, houve uma certa polêmica. Esses fiéis de primeira leva foram imediatamente mencionados, sem que houvesse consenso em torno de um indivíduo.
bu Bakr, sogro de Maomé a partir de seu matrimônio com Aisha, tomou a palavra  logo após a morte do genro e recebeu o apoio de grande parte da comunidade. Outro grupo pretendia que o substituto do Profeta fosse alguém com maior proximidade sanguínea, ou seja, Ali, seu genro, casado com a única filha que lhe restara do primeiro matrimônio, com Kadhija.
A proposta desse grupo pautava-se no fato de Fátima ter dois filhos, o que asseguraria a continuidade da linhagem do Profeta. (Em sociedades patriarcais, a linhagem deve ter sequência a partir de um descendente do sexo masculino e, preferencialmente, fruto da primeira união do indivíduo).
A postura de Abu Bakr diante da morte do Profeta, impressionou a comunidade (umma). Ele mostrou-se seguro, capaz de assumir a liderança e acabou sendo escolhido pelo grupo. A partir dele, os líderes muçulmanos não eram apenas chefes religiosos. O comando político e militar foi cada vez mais enfatizado. O posto passou a receber um nome específico – califa.
O governo de Abu Bahr durou apenas dois anos, sendo substituído por Umar, Uthman e, por fim, Ali. Esses indivíduos passaram para a história do Islamismo com o título de Rashidum. “(...) os califas corretamente guiados por terem governado segundo os princípios de Maomé.”
Ao longo de seu breve comando, Abu Bahr enfrentou a dissensão de várias tribos beduínas que, como vimos anteriormente, haviam se aliado a Maomé por conveniência. Contou com o auxílio de um experiente general, Khalid Ibn Al-Walid, que submeteu os insurretos e consolidou o domínio sobre as áreas de Omã e Iemen.
Seu sucessor, Umar (634-644), prossegue a política expansionista do Islão. Seus generais ocupam regiões do atual Iraque, Síria, Israel (Jerusalém),
Antioquia (Turquia), Irã (Kum, Kazvin) e Egito.
Segundo o factualista Mario Curtis Giordani:
“Da Arábia, o Islã estendeu-se por todos os países adjacentes e só se deteve diante dos obstáculos naturais: montanhas de Tauro, do Irã Oriental,
da Abissínia, deserto de Cirenaica.”
Para gerenciar esse território crescente, Umar instituíra o posto de wali (governador com poder político e militar) e de amil, um encarregado das questões financeiras. Além, claro, de estabelecer bases militares e a criação do calendário muçulmano, iniciado na Hijra, ano de 622.
Uthman, o terceiro califa ortodoxo, pertencia a um tradicional clã de Meca, os Omíadas. Ao assumir, prossegue a prática belicista de seu antecessor. No entanto, ele realiza um feito de grande ousadia nessa área; avança em direção ao Mar Mediterrâneo.
O inusitado de sua ação foi o fato de conseguir romper com a hegemonia bizantina na região. A partir desse momento, a história do Islã se liga irremediavelmente à história do mundo cristão.
Esse fato, como veremos nas próximas aulas, vai gerar muitas batalhas ao longo dos séculos.
Apesar de seu ímpeto, Uthman esteve longe de ser um consenso: certas decisões suas suscitaram grande insatisfação interna.Dentre elas podemos citar: sua prática nepotista de distribuição de funções importantes na organização territorial e ainda, o crescente desperdício e corrupção na gestão do dinheiro coletivo.
Somando-se a isso, sua permissividade em relação às conversões do gentio conquistado causava desconforto aos verdadeiros fiéis. Eles desconfiavam, com razão, da veracidade dessa mudança.
O arrefecimento das críticas e denúncias contra Uthman levou um grupo de soldados a invadir sua casa e assassiná-lo. No mesmo dia, o genro de Maomé, Ali, foi declarado califa. Como ele fora um dos opositores declarados de Uthman, muitos indivíduos começaram a considerá-lo
mentor de sua morte.
Um dos mais ativos inimigos de Ali era Moawiya, governador da província da Síria. Ele clamava pela punição dos assassinos do primo Uthman, incitando a população a lutar contra o califa. Ali, em contrapartida, decidiu retirá-lo do cargo.
Essa intransigência gerou uma batalha descrita de forma interessante pelo já citado factualista Mario Curtis Giordani:
“A luta desenrolava-se favorável a Ali, quando Amr, partidário de Moawiya, ordenou que se pendurassem folhas do Corão nas pontas das lanças exigindo assim um julgamento de Alá. Essa atitude de Amr impressionou os partidários de Ali que o forçaram à interrupção da batalha […] Quando o exército de Ali se retirava, um bom número de seus partidários […] arrependeram-se e pretenderam obrigar o califa a retomar a luta. Diante da recusa de Ali, esses descontentes se separaram […] Formaram um grupo conhecido como Kharidjitas, o primeiro cisma muçulmano.”
Ali acabou morto em 661 por um jovem Kharidjitas. Sua morte brutal levou um grupo de indivíduos a cultuá-lo formando uma nova cisão do Islamismo. Esses homens se denominavam Shiah-Ali, ou seja, o partido de Ali.
De acordo com os xiitas (aportuguesamento da expressão), os seguidores do Islamismo deveriam ser guiados por descendentes de Maomé, os únicos com a sabedoria necessária. Não foi o que ocorreu após a morte de Ali que acarretou em grande conturbação interna.
Você já deve ter ouvido falar sobre a divergência entre xiitas e sunitas no mundo muçulmano. Além de defenderem que os líderes do Islã devem ter parentesco com Maomé, os xiitas também afirmam que o alcorão deve ser interpretado de forma mais rígida. Representam uma minoria, enquanto os sunitas somam pelo menos 80% da população muçulmana.
A DINASTIA OMÍADA
Após a morte de Ali, tem início a dinastia Omíada (661-750). O primeiro califa dessa dinastia é exatamente o primo de Uthman, que rivalizara com o Ali desde o início de seu governo, ou seja, Moawija.
Dentre as atitudes tomadas pelos Omíadas, é importante destacar a mudança da capital de Medina para Damasco, na Síria. Muitos historiadores entendem que essa atitude, em conjunto com outras, representaria a adoção de um Estado laico, ou seja, busca pelo distanciamento do centro administrativo do centro religioso.
Realizaram uma significativa centralização político-administrativa, colocando o califa em uma posição incontestável, embora existisse um conselho (Shura) para assessorá-lo. A sucessão hereditária é estabelecida. A justificativa utilizada foi a de evitar os conflitos oriundos da incerteza de quem substituiria o califa após a sua morte.
A expansão territorial prossegue com os Omíadas. Ocorrem em três direções: Constantinopla, ameaçando áreas do Império Bizantino; África do norte e Península Ibérica e Ásia Central.
Ao longo dessa dinastia, os xiitas e kharidjitas, grupos que possuíam seguidores sobretudo no Iraque, ameaçaram com frequência a estabilidade interna. No governo de Moawija, o primeiro califa Omíada, houve um grande levante xiita. Hassan, filho de Ali, era considerado o legítimo sucessor do pai pelos xiitas do Iraque. Sob pressão, declinou do posto e acabou envenenado. Esse fato alimentou a oposição ao califa Omíada.
Anos mais tarde, Yazid, filho de Moawija, ascende ao posto de liderança do Império Islâmico. Dessa vez, o segundo filho de Ali, Hussein, manifesta a recusa em reconhecê-lo e avança em direção ao Iraque. Na batalha de Karbala (Kerbela), Hussein é derrotado e morto, sendo a seguir, degolado.
A flagelação relembra o martírio de Hussein, neto de Maomé, após a batalha de Karbala. É um fato marcante na História dos xiitas que lutavam, nessa época, pela liderança dos muçulmanos.
Abd Al-Malik (685-705) foi um dos califas mais conhecidos dessa dinastia.
Em seu governo foram realizadas obras magníficas como a Mesquita da Cúpula da Rocha de Jerusalém.
Segundo a tradição, ela foi erguida sobre a rocha onde Abraão teria levado seu filho Isaac para o sacrifício ordenado por Deus. Em termos políticos, sua localização representava o poder dos muçulmanos sobre os “povos do livro” (expressão usada para designar os católicos e judeus). Os Omíadas promoveram também o avanço das ciências através da tradução de tratados médicos gregos. A língua árabe é tornada a oficial do califado
e a moeda é unificada.
Nos anos seguintes, a dinastia foi enfraquecendo por seguidas dissensões. Em 750, um grupo liderado por descendentes do tio de Maomé, Abbas, destituíram o califa e inauguraram uma nova dinastia, a Abássida, que lidera o mundo muçulmano até 1258.
A DINASTIA ABÁSSIDA
Abu-al-Abbas-al-Saffa foi o primeiro califa da dinastia Abássida. Seu domínio concentrou-se no Oriente, pois os governantes da Península Ibérica não reconhecem sua autoridade e rompem a unidade islâmica.
Em virtude de sua ostensiva perseguição e assassinato dos remanescentes do clã Omíada, Abd el-Rahman foge para Andaluzia, sul da Espanha. Lá, se intitula Emir e estabelece o Emirado de Córdoba.
No Oriente, os Abássidas escolhem Bagdá como sede de seu califado. Apesar de longeva, a dinastia foi perdendo o poder de fato com o passar dos séculos.
Vários sultões acabaram exercendo um poder local significativo. Podemos citar como exemplo os Fatímidas do Egito e os Ayyubidas da Síria.
Sua administração copiou características bizantinas e persas. Eles instituíram o cargo de vizir, uma espécie de primeiro ministro. A burocratização foi ampliada e o comércio, bastante estimulado, especialmente com as áreas mais orientais.
Em termos políticos, eles substituíram a premissa de um governo laico inaugurada pelos Omíadas pelo retorno da ideia de que os califas eram enviados de Alá, homens especiais. Houve uma grande perseguição aos não sunitas.
Como vimos há pouco, um elemento do clã Omíada migra para Córdoba e funda um Emirado. Recebe apoio da população local convertida ao Islão e dos habitantes da região cristã basca.
O antigo governante da Andaluzia, Ibn-el-Arabi, destituído pelo Omíada, busca apoio no cristão Carlos Magno, rei franco, para retomar o poder. Seu intento é mal sucedido e o Emirado se consolida. Séculos mais tarde, as tentativas cristãs contra os muçulmanos serão retomadas e conhecidas como Reconquista.
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