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origens da filosofia

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Nome: Julia Botelho T. Alves - DRE: 111408000
Estética I
Resumo texto n° 1: Vernant – “As origens da filosofia”
As origens da filosofia
De início, pode-se perguntar onde situar as fronteiras da filosofia, as margens que a separam do que ainda não é ou não o é por inteiro. Em seguida, pode-se perguntar onde apareceu pela primeira vez, em que lugar surgiu – e por que aí em vez de noutra parte. Dir-se-á: para estabelecer a data e o local de nascimento da filosofia, é ainda necessário conhecer o que ela é, possuir sua definição para distingui-la das formas de pensamento não filosóficas? É através da elaboração de uma forma de racionalidade e de um tipo do discurso até então desconhecidos que a prática da filosofia e a figura do filósofo emergem e adquirem seu próprio estatuto; delimitam-se, no plano social e intelectual, atividades profissionais como funções políticas ou religiosas na cidade, inaugurando uma tradição intelectual original que, a despeito de todas as transformações por ela sofridas, nunca cessou em suas origens.
	Tudo começou no início do século VI a.C., na cidade grega de Mileto. No espaço de cinquenta anos sucederam-se três homens, Tales, Anaximandro e Anaxímenes, cujas pesquisas são bastante próximas pela natureza dos problemas abordados para que se os tenham considerado como os formadores de uma única e mesma escola. A Razão ter-se-ia subitamente encarnado na obra desses três filósofos milésimos – o “milagre grego”. Assim escreve John Burnet: “os filósofos jônios abriram a via que a ciência, desde então, só fez seguir”.
	No século VI, não existiam as palavras “filósofo” e “filosofia”. Afirmar-se “filósofo”, mais do que ligar-se aos seus predecessores, é distanciar-se com relação a eles: é não ser um “físico” como os milésios, limitando-se a uma investigação acerca da natureza, não ser também um desses homens que ainda, nos séculos VI e V, se designavam pelo nome de sophós, sábio, como os Sete Sábios, entre os quais a figura de Tales, ou sophistés, hábil no saber à maneira desses peritos na arte da palavra, desses mestres da persuasão.
Aristóteles, ao falar dos “antigos” pensadores, daqueles de “outrora”, observa que Tales é considerado, com toda justiça, o “iniciador desse tipo de filosofia”. É preciso situá-los no quadro da cultura grega arcaica, a fim de avaliar exatamente a sua contribuição às origens da filosofia. Trata-se de uma civilização fundamentalmente oral. A esse respeito, a obra dos milésios representa bem uma radical inovação. Textos escritos expunham uma teoria explicativa, concernemente a certos fenômenos naturais e à organização do cosmo.
Por certo, os mitos antigos narravam também o modo pelo qual o mundo havia emergido do caos. Mas o processo de gênese, nessas narrativas, reveste-se da forma de um quadro genealógico.
Entre os milésios, nada subsiste dessa imagística dramática, e o seu desaparecimento marca o advento de um outro modo de inteligibilidade. Fornecer a razão de um fenômeno não pode mais consistir em nomear o seu pai e a sua mãe, em estabelecer a sua filiação. Os milésios buscam, por detrás do fluxo aparente das coisas, os princípios permanentes sobre os quais repousa o justo equilíbrio dos diversos elementos de que é composto o universo. Mesmo se eles conservam certos termos fundamentais dos velhos mitos. Os milésios não deixam nenhum ser sobrenatural intervir em seus esquemas explicativos. Com eles, em sua positividade, a natureza invadiu todo o campo do real. A força da physis assume todos os caracteres do divino.
Noção de uma ordem cósmica que repousa numa lei de justiça (Dike) inscrita na natureza, numa regra de repartição (nomos) que implica uma ordem igualitária para todos os elementos construtivos do mundo, de tal maneira que ninguém possa dominar os outros e sobre eles levar vantagem. Estes traços que marcam o caráter inovador da física milésia não surgiram como ao advento milagroso de uma Razão estranha à história. Ao contrário, aparecem intimamente ligados às transformações que as sociedades gregas conheceram e que conduziram-nas ao advento da cidade-Estado, à pólis. A primeira espécie de sophia que surgira entre os homens: sabedoria toda penetrada de reflexão moral e de preocupações políticas. Esta é a imagem de um mundo social regulamentado pela isonomia, a igualdade em relação à lei, que encontramos, em Anaximandro, projetada no universo físico. O novo modelo do mundo que os físicos de Mileto elaboraram é solidário das formas institucionais e das estruturas mentais próprias da pólis.
Para os milésios, a estranheza de um fenômeno, em vez de impor o sentimento do divino, propõe-no ao espírito em forma de problema. Despojada do secreto, a teoria do físico transforma-se assim no objeto de um debate. Define-se e afirma-se uma nova noção de verdade, acessível a todos e que fundamentava em sua própria força demonstrativa os seus critérios de validade.
No início do século V surgem várias correntes de pensamento que , prolongando os milésios e também contradizendo-os. Diante da plena positividade dos físicos da Jônia, afirma-se o ideal de uma inteira e perfeita inteligibilidade. É preciso que o raciocínio seja inteiramente transparente a si mesmo, que não comporte a menor incoerência, a sombra de uma contradição interna.
Os imperativos lógicos do pensamento fazem desvanecer-se a ilusão de que a multiplicidade dos seres pudera ser produzida por uma gênese qualquer. O ser exclui a geração.
Ao se prevalecer do ser invisível contra o visível, do autêntico contra o ilusório, do permanente contra o fugaz, do certo contra o incerto, a filosofia substitui, à sua maneira, o pensamento religioso.
Por certo, a verdade que a filosofia tem o privilégio de atingir e de revelar é secreta, dissimulada no invisível para as pessoas comuns; a sua transmissão, através do ensino do mestre ao discípulo, conserva em alguns aspectos o caráter de uma iniciação. O objeto do logos é a própria racionalidade, Entre os físicos de Mileto, a nova exigência de positividade imediatamente era levada ao absoluto do conceito de physis; em Parmênides e seus sucessores eleatas, a nova exigência de inteligibilidade é levada ao absoluto no conceito do ser, uno, imutável, idêntico. Essas exigências marcam igualmente uma ruptura decisiva com o mito, o pensamento racional engaja-se, sistema após sistema, em uma dialética cujo movimento gera a história da filosofia grega.

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