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Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2 1 MED RESUMOS 2012 NETTO, Arlindo Ugulino. NEUROANATOMIA ASPECTOS FUNCIONAIS DO CÓRTEX CEREBRAL (Professor Stênio A. Sarmento) O córtex cerebral é a fina camada de substância cinzenta que reveste o centro branco medular do cérebro. No córtex cerebral, chegam impulsos provenientes de todas as vias de sensibilidade que aí se tornam conscientes e são interpretadas. Do córtex, saem os impulsos nervosos que iniciam e comandam os movimentos voluntários e com ele estão relacionados os fenômenos psíquicos. CITOARQUITETURA DO CRTEX No córtex existem neurônios, células neuroglias e fibras. Os neurônios e as fibras distribuem-se de vários modos, em várias camadas, sendo a estrutura do córtex cerebral muito complexa e heterogênea. Quanto à estrutura, distinguem-se dois tipos de córtex: isocórtex e alocórtex. No isocórtex existem seis camadas, o que não ocorre no alocórtex. O isocórtex constitui a maioria das áreas corticais. As seis camadas do córtex, numeradas da superfície para o interior, são: I- camada molecular; II- camada granular externa; III- camada piramidal externa; IV- camada granular interna; V- camada piramidal interna; VI- camada de células fusiformes (ou multiforme). A camada molecular, situada na superfície do córtex, é rica em fibras de direção horizontal e contem poucos neurônios, destacando-se as chamadas células horizontais (de Cajal). Nas demais camadas, predomina o tipo de neurônios que lhe dá o nome. Células granulares (células estreladas): possuem dendritos que se ramificam próximo ao corpo celular e um axônio que pode estabelecer conexões com células das camadas vizinhas. Admite-se que o aumento de células granulares durante a filogênese possibilitou a existência de circuitos corticais mais complexos, isso porque a célula granular é o principal interneurônio cortical, estabelecendo conexões entre os demais neurônios e fibras do córtex. Admite-se também que a maioria das fibras que chegam ao córtex estabelece sinapse com as células granulares, que são, assim, as principais células receptoras do córtex cerebral. Essas células existem em todas as camadas, mas predominam nas camadas granular interna e externa. Células piramidais (ou pirâmides): recebem esse nome devido à forma piramidal do corpo celular. Podem apresentar corpo celular pequeno, médio, grande e gigante. As células piramidais gigantes são denominadas células de Betz e ocorrem apenas na área motora situada no giro pré-central. O dendrito apical dessas células destaca-se do ápice da pirâmide, dirige- se às camadas mais superficiais onde terminam. Os dendritos basais, muito mais curtos que os primeiros, distribuem-se próximo ao corpo celular. O axônio das células piramidais tem direção descendente e, em geral, ganha a substância branca como fibra eferente do córtex, por exemplo, as fibras que constituem o tracto córtico-espinhal. Essas células predominam nas camadas piramidal externa e interna, que são consideradas camadas predominantemente efetuadoras. Células fusiformes: apresentam axônio descendente que penetra no centro branco-medular, sendo pois células efetuadoras. Predominam na camada de células fusiformes (VI camada). Células de Martinotti: possuem dendritos que se ramificam nas proximidades do corpo celular e um axônio de direção ascendente que se ramifica nas camadas mais superficiais. Apresenta função sensitiva. Células horizontais (de Cajal): de formato fusiforme, possuem dendritos e axônios de direção horizontal. Predominam na camada molecular e são células intracorticais de associação. FIBRAS E CIRCUITOS CORTICAIS As fibras que saem ou que entram no córtex cerebral passam, necessariamente, pelo centro branco-medular. Estas fibras podem ser de associação ou de projeção. As primeiras ligam áreas diferentes do córtex cerebral, no mesmo hemisfério ou no hemisfério oposto (fibras comissurais); as segundas, ou seja, as fibras de projeção ligam o córtex a centros subcorticais, podendo ser aferentes ou eferentes. As fibras de projeção aferentes do córtex cerebral podem ter origem talâmica ou extratalâmica. Estas últimas são fibras monoaminérgicas originadas na formação reticular ou fibras colinérgicas do núcleo basal de Meynert. As fibras extratalâmicas distribuem-se a todo o córtex cerebral, mas seu modo de terminação não é uniforme. Este fato indica que elas não exercem uma ação generalizada de excitação ou inibição do córtex, mas provavelmente aumentam ou diminuem a atividade em regiões corticais específicas durante determinadas etapas da informação. Sua ação sobre o córtex é, portanto, considerada como moduladora, modificando as características eletrofisiológicas das células corticais. Assim, a degeneração dessas fibras, como ocorre na doença de Alzheimer, associa-se a uma completa deterioração das funções corticais. As fibras aferentes oriundas dos núcleos talâmicos inespecíficos (representadas principalmente pelas fibras do tracto espino-retículo-talâmico, que terminam nos núcleos intralaminares do tálamo) também se distribuem a todo o córtex, sobre o qual exercem ação ativadora, como parte do sistema ativador reticular ascendente (SARA), terminando em todas as camadas corticais, principalmente nas três camadas superficiais. Já as radiações talâmicas originadas nos núcleos específicos (núcleo ventral-lateral e ventral-medial, principalmente) terminam na camada IV (granular interna). Esta camada é, pois, muito desenvolvida nas áreas sensitivas do córtex. A maioria das fibras de projeção aferentes do isocórtex origina-se no tálamo. Entretanto, admite-se a existência de conexões aferentes diretas com a formação reticular. As fibras de projeção eferentes do córtex estabelecem conexões com vários centros subcorticais: fibras córtico-espinhais, córtico-nucleares, córtico-pontinas, córtico-estriadas, córtico-reticulares, córtico-rúbricas, córtico-talâmicas. A maioria dessas fibras origina-se na camada V, sendo esta, pois, muito desenvolvida nas áreas motoras do córtex. OBS1: Em síntese, a camada IV é a camada receptora de projeção e a camada V, efetuadora de projeção. As demais camadas corticais são predominantemente de associação. Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2 2 CLASSIFICAO ANATMICA DO CRTEX A divisão anatômica em lobos não corresponde a uma divisão funcional ou estrutural do telencéfalo, pois em um mesmo lobo temos áreas corticais de funções e estrutura muito diferentes. Faz-se exceção o córtex do lobo occipital, que, direta ou indiretamente, relaciona-se com o sentido da visão. CLASSIFICAO FILOGEN TICA DO CRTEX Do ponto de vista filogenético, pode-se dividir o córtex em: Arquicórtex: está localizado no hipocampo. Paleocórtex: ocupa o úncos e parte do giro para-hipocampal. Neocórtex: todo o restante do córtex. Arqui e paleocórtex ocupam, pois, áreas corticais antigas ligadas à olfação e ao comportamento emocional, fazendo parte do rinencéfalo e do sistema límbico. CLASSIFICAO ESTRUTURAL DO CRTEX O córtex cerebral tem sido objetivo de meticulosas investigações histológicas, com base na sua composição e características das diversas camadas, espessura total e espessura das camadas, disposição e espessura das raias e estrias, etc. A divisão mais aceita da estrutura cortical é a realizada por Brodmann, que identificou 52 áreas citoarquiteturais designadas por números. As áreas de Brodmann são muito conhecidas e amplamente utilizadas na clínica e na pesquisa médica. O isocórtex é o córtex que tem seis camadas nítidas, ao menos durante o período embrionário. Já o alocórtex é o córtex que nunca, em fase alguma de seu desenvolvimento, apresenta as seis camadas. O primeiro (o isocórtex) pode ser dividido em duas grandes classificações: isocórtex homotípico e isocórtex heterotípico (que pode ser granular ou agranular).No isocórtex homotípico as seis camadas corticais são sempre individualizadas com facilidade. Já no isocórtex heterotípico as seis camadas não podem ser claramente individualizadas no adulto, uma vez que a estrutura laminar típica, encontrada na vida fetal, é mascarada pela grande quantidade de células granulares ou piramidais. Isocórtex heterotípico granular: característico das áreas sensitivas; há uma enorme quantidade de células granulares que invadem, inclusive, as camadas piramidais. Isocórtex heterotípico agranular: característicos de áreas motoras; há considerável diminuição de células granulares e uma enorme quantidade de células piramidais que invadem, inclusive, as camadas granulares (II e IV). OBS2: O isocórtex ocupa 90% da área cortical (correspondente ao neocórtex), enquanto que o alocórtex ocupa áreas antigas do cérebro e corresponde ao arqui e paleocórtex. OBS3: As áreas de Brodmann são clinicamente significativas, constituindo mapas citoarquitetônicos do cérebro humano. Em resumo, as mais importantes são: Áreas 3,1 e 2 de Brodmann: trata-se do córtex somatossensorial primário (isocórtex heterotípico granular). Áreas 4 de Brodmann: córtex motor primário (isocórtex heterotípico agranular). Áreas 5 e 7 de Brodmann: córtex somatossensorial secundário. Área 6 de Brodmann: área motora suplementar e área pré-motora. Área 8 de Brodmann: campo ocular frontal, responsável, em parte, pelo reflexo de acomodação do cristalino. Áreas 9, 10, 11, 12, 32 e 47 de Brodmann: córtex pré-frontal (parte não-motora do lobo frontal). Área 17 de Brodmann: córtex visual primário (lobo occipital). Áreas 18, 19 (lobo occipital), 20, 21 e 37 (lobo temporal) de Brodmann: córtex visual secundário. Área 40 e parte da área 39 de Brodmann: giro supramarginal e angular, respectivamente. Áreas 41 e 42 de Brodmann: áreas auditivas primárias (giro temporal transverso anterior). Áreas 22 de Brodmann: áreas auditivas secundárias (na sua porção posterior, encontramos a área de Wernicke). Área 43 de Brodmann: córtex gustatório (próximo a representação somestésica da língua no giro pós-central). Área 44 e parte da área 45 de Brodmann: trata-se a área de Broca no hemisfério dominante. Área 27, 28 e 34 de Brodmann: olfatória primária (área entorrinal). Área 23, 24, 31 e 33: sistema límbico. Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2 3 CLASSIFICAO FUNCIONAL DO CRTEX Do ponto de vista funcional, as reas corticais no so homogneas, como se acreditava no incio do sculo XIX. O cirurgio francs Broca, durante seus estudos, p de correlacionar leses em reas restritas do lobo frontal (na área de Broca, no giro frontal inferior) com a perda da linguagem falada, por exemplo. Outros trabalhos, realizados por Fritsch e Hitzig, chegam concluso de que existe correspondncia entre determinadas reas corticais e certas partes do corpo. As reas funcionais do crtex foram inicialmente classificadas em dois grandes grupos: áreas de projeção e áreas de associação. As reas de projeo teriam conexes com centros subcorticais, enquanto que as reas de associao teriam conexes apenas com outras reas corticais. Essa conceituao passou por algumas reformas, de modo que: as reas de projeo so as que recebem ou do origem a fibras relacionadas diretamente com a sensibilidade e com a motricidade. As demais reas so consideradas de associao e, de modo geral, esto relacionadas a funes psquicas complexas (interpretao e reconhecimento dos impulsos sensitivos que chegam rea de projeo primria; formulao do plano motor; memria; inteligncia; personalidade; emoes; etc.). Assim, leses nas reas de projeo podem causar paralisias ou alteraes na sensibilidade, o que no acontece nas reas de associao. Leses dessas reas, entretanto, podem causar alteraes psquicas complexas. As reas de projeo podem ser divididas em dois grandes grupos, de funo e estruturas diferentes: Áreas sensitivas: nas reas sensitivas do neocrtex, existe isocrtex heterotpico do tipo granular, o que est de acordo com a funo primordialmente receptora das clulas granulares. Áreas motoras: nas reas motoras, existe isocrtex heterotpico agranular, o que est de acordo com a funo primordialmente efetuadora das clulas piramidais, que, como j foi visto, predominam nesse tipo de crtex. J nas reas de associao do neocrtex, existe isocrtex homotpico, pois, no sendo elas nem sensitivas nem motoras, no h grande predomnio de clulas granulares ou piramidais, o que permite a fcil individualizao das seis camadas coticais. As reas ligadas diretamente sensibilidade e motricidade (ou seja, as reas de projeo) so consideradas reas primrias. As reas de associao podem ser divididas em secundrias (unimodais) e tercirias (supramodais). As conexes de uma determinada rea de associao secundria se fazem predominantemente com a rea primria da mesma funo. J as reas terciárias so supramodais pois no se ocupam mais do processamento motor ou sensitivo, mas esto envolvidas com atividades psquicas superiores, como por exemplo, a memria, os processos simblicos e o pensamento abstrato. REAS DE PROJEO (REAS PRIMRIAS) Tambm chamadas reas primrias, as reas de projeo relacionam-se diretamente com a sensibilidade ou com a motricidade. Existe uma s rea primria motora, situada no lobo frontal, e vrias reas primrias sensitivas nos demais lobos. ÁREAS SENSITIVAS PRIMÁRIAS Como j foi detalhado anteriormente, as reas sensitivas primrias so responsveis apenas pela percepo pura da modalidade sensitiva, sendo necessrias suas conexes com as reas secundrias e tercirias para a interpretao deste estmulo sensitivo puro. 1. Área Somestésica: a rea somestsica primria ou da sensibilidade geral est localizada no giro ps-central (áreas 3, 2 e 1 de Brodmann). A rea 3 localiza-se no fundo do sulco central, enquanto as reas 1 e 2 aparecem na superfcie do sulco central. A chegam as radiaes talmicas que se originam nos ncleos ventral pstero-lateral e ventral pstero-medial do tlamo e trazem, por conseguinte, impulsos nervosos relacionados temperatura, dor, presso, tato e propriocepo consciente da metade oposta do corpo e da cabea. importante ressaltar que existe uma correspondncia entre partes do corpo e partes da rea somestsica (somatotopia). Para representar essa somatotopia, Penfield e Rasmussen imaginaram um “homnculo sensitivo” de cabea para baixo no giro ps-central, de modo que, na poro superior desse giro, na parte medial do hemisfrio, localiza-se a rea dos rgos genitais e do p, seguida, j na parte spero-lateral do hemisfrio, das reas da perna, do tronco e do brao, todas em pequenas dimenses. Mais abaixo vem a rea da mo, que muito grande seguida da rea da cabea, onde a face e a boca tm uma representao tambm bastante grande. Segue-se, j prxima ao sulco lateral, a rea da lngua e da faringe. Esse fato demonstra o princpio, amplamente confirmado em estudos feitos em animais, de que a extenso da representao cortical de uma parte do corpo depende da importncia funcional dessa parte para a biologia da espcie e no de seu tamanho. 2. Área visual: localiza-se nos lbios do sulco calcarino, correspondendo área 17 de Brodmann. Tal estrutura recebe fibras provenientes do tracto geniculocalcarino (originadas no corpo geniculado lateral), e tem a principal funo de uma percepo visual primaria, de tal modo que, quando ocorre uma visualizao de um foco de luz monocromtico, somente ocorre ativao desta rea (segundo exame de ressonncia fisiolgica), no entanto quando ocorre uma visualizao de objetos estereognsicos, com formas, texturas e colorao ocorrer ativao da rea visual secundria, que virtualiza o espao extrapessoala partir da visualizao, de tal modo que importante para interpretao. A metade superior da retina projeta-se no lbio superior do sulco calcarino e a metade inferior, no lbio inferior desse sulco. A parte posterior da retina (onde est localizada a mcula) projeta-se na parte posterior do sulco calcarino, enquanto a parte anterior projeta-se na poro anterior desse sulco. Existe, pois, correspondncia perfeita entre a retina e crtex visual. A ablao bilateral da rea 17 causa, portanto, cegueira completa na espcie humana. 3. Área auditiva: est situada no giro temporal transverso anterior (giro de Heschl) e corresponde s áreas 41 e 42 de Brodmann. Nela chegam fibras da radiao auditiva, que se originam no corpo geniculado medial. Leses bilaterais do giro temporal transverso anterior causam surdez completa. Leses unilaterais causam dficits auditivos pequenos, pois, ao contrrio das demais vias de sensibilidade, a via auditiva no totalmente cruzada. Assim, cada cclea representa-se no crtex dos dois hemisfrios. Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2 4 4. Área vestibular: localiza-se no lobo parietal, em uma pequena regio prxima ao territrio da rea somestsica correspondente face (regio mais inferior do giro ps-central). Assim, a rea vestibular est mais relacionada com a rea de projeo da sensibilidade proprioceptiva do que com a auditiva. 5. Área olfatória: muito grande em alguns mamferos, a rea olfatria (área 27, 28 e 34 de Brodmann) ocupa no homem apenas uma pequena parte da regio anterior do ncos e do giro para-hipocampal. tanto que, em certos casos de epilepsia local do ncos ocorrem alucinaes olfatrias, nas quais os pacientes subitamente se queixam de odores desagradveis (cacosmia), que na realidade no existem (essas crises so chamadas de crises uncinadas). 6. Área gustativa: corresponde área 43 de Brodmann e se localiza na poro mais inferior do giro ps-central, bem prximo insula. Essa regio corresponde a uma rea adjacente parte somestsica correspondente lngua. Leses dessa rea provocam uma diminuio da gustao na metade oposta da lngua (isso porque as fibras que trazem os impulsos gustativos de um lado da lngua at o tracto solitrio, cruzam, em parte, logo depois deste, ainda no bulbo, seguindo at o ncleo ventral pstero-medial do tlamo do mesmo lado e do lado contralateral, e deles seguem at a rea 43 de Brodmann dos dois lados). ÁREA MOTORA PRIMÁRIA Ocupa a parte posterior do giro pr-central correspondente área 4 de Brodmann. Do ponto de vista citoarquitetural, um isocrtex heterotpico agranular, com a presena das clulas piramidais gigantes (clulas de Bets). A estimulao eltrica da rea 4 determina movimentos de grupos musculares do lado oposto, por exemplo, da mo, do brao, etc. Essa somatotopia corresponde j descrita para a rea somestsica e pode ser descrita como um homnculo de cabea para baixo. interessante notar a grande extenso da rea correspondente mo quando comparada com as reas do tronco e membro inferior. Isso mostra que a extenso da representao cortical de uma determinada parte do corpo no est relacionada com o seu tamanho, mas sim, a delicadeza dos movimentos realizados pelos grupos musculares a localizados. No homem, a rea 4 d origem maior parte das fibras dos tractos cortico-espinhal e cortico-nuclear, principais responsveis pela motricidade somtica voluntria. REAS DE ASSOCIAO DO CRTEX So aquelas reas de crtex cerebral que no esto relacionadas diretamente com a motricidade ou com a sensibilidade (considerado, portanto, como reas silenciosas do crtex). Durante a filognese, houve um aumento das reas corticais de associao, que no homem ocupam um territrio cortical muito maior que o das reas de projeo. Esse fato est relacionado com o desenvolvimento das funes psquicas do homem. ÁREAS DE ASSOCIAÇÃO SECUNDÁRIAS Essas reas so consideradas unimodais, ou seja, relacionam-se, ainda que indiretamente, com alguma modalidade de sensao ou com a motricidade, estando geralmente justapostas as reas primrias correspondentes. Áreas de associação secundárias sensitivas. So conhecidas, pelo menos, trs reas sensitivas secundrias (ou de associao): Área somestésica secundária: situa-se no lbulo parietal superior, logo atrs da rea somestsica primria, correspondendo rea 5 e parte da rea 7 de Brodmann (pr-cneus). Área visual secundária: a princpio, acreditava-se que era limitada ao lobo occipital, correspondendo s reas 18 e 19 de Brodmann. Mas nos primatas, inclusive no homem, ela se estende ao lobo temporal, onde tambm ocupa as reas 20, 21 e 37. Área auditiva secundária: situa-se no lobo temporal, circundando a rea auditiva primria, e corresponde rea 22 de Brodmann. As reas secundrias recebem aferncias principalmente das reas primrias correspondentes e repassam as informaes recebidas s outras reas do crtex, em especial, s reas supramodais. Essa identificao se faz em duas etapas: uma de sensao e outra de interpretao. Na etapa de sensação, toma-se conscincia das caractersticas sensoriais do objeto, sua forma, dureza, cor, tamanho, etc. Na etapa de interpretação, ou gnosia, tais caractersticas sensoriais so ‘comparadas’ com conceito do objeto existente na memria do indivduo. A etapa de sensao faz-se em uma rea sensitiva em projeo, ou rea primria; j a etapa de interpretao, ou gnosia, envolve processos psquicos muito mais complexos, que dependem da integridade das reas de associao secundrias acima descritas e, em consequncia disso, so s vezes denominadas áreas gnosicas. A existncia de duas reas diferentes envolvidas na identificao de objetos torna possvel que elas sejam lesadas separadamente. Como j foi visto, a leso das reas primrias causa deficincias sensoriais, como cegueira e surdez, o que no ocorre em leses das reas secundrias. Nesses casos, entretanto, ocorrem os quadros clnicos denominados de agnosias, caracterizados pela perda da capacidade de reconhecer objetos, apesar de as vias sensitivas e das reas de projeo cortical estarem perfeitamente normais. Deve-se distinguir agnosias visuais, auditivas e somestésicas, estas ltimas geralmente tteis. Assim, um indivduo com agnosia visual ser incapaz de reconhecer objetos pela viso, embora possa reconhec-los por outra forma de sensibilidade, como pelo tato, olfato, audio, etc. Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2 5 Tipos especiais de agnosias visual e auditiva so os defeitos de linguagem denominados, respectivamente, cegueira verbal e surdez verbal, nos quais os indivduos perdem total ou parcialmente a capacidade de reconhecer os smbolos visuais ou sonoros que constituem a linguagem escrita ou falada (afasias). Um aspecto importante relacionado com as reas secundrias que, do ponto de vista funcional, elas no so simtricas. Assim, leses da mesma rea resultam em sintomatologia diferente conforme o lado lesado. Áreas de associação secundária motoras. Adjacentes rea motora primria, existem reas motoras secundrias com as quais ela se relaciona sendo responsveis por enviar o planejamento motor ao cerebelo e ncleos da base (onde o planejamento ser processado, modulado e reenviado para a rea motora primria para que, s ento, o programa ou projeto motor seja, enfim, executado). Leses dessas frequentemente causam apraxias, que so quadros clnicos correspondentes s agnosias j descritas a propsito das reas sensitivas secundrias. Nas apraxias h incapacidade de executar determinados atos voluntrios, sem que exista qualquer dficit motor. Nesse caso, a leso se localiza nas reas corticais de associao relacionadas com o planejamento dos atos voluntrio e no naexecuo desses atos. Por exemplo, um indivduo aprxico incapaz de executar corretamente a sequncia de movimentos necessrios para acender um cigarro e coloc-lo na boca, ou mesmo a sequncia prtica para se dar partida a um carro. Área motora suplementar: ocupa a parte mais alta da área 6 de Brodmann, situada na face medial do giro frontal superior. Suas principais conexes so com o corpo estriado (ncleo caudado e ncleo lentiforme), via tlamo e com a rea motora primria. Do ponto de vista funcional, relacionam-se com a concepo ou planejamento de sequncia complexas de movimentos, como o prprio movimento fino dos dedos, por exemplo, e sabe-se que ela ativada juntamente com a rea motora primria, quando esses movimentos so executados. Admite-se que para essa funo de planejamento de movimentos complexos sejam importantes as amplas conexes aferentes que a rea motora suplementar recebe o corpo estriado, que tambm est envolvido no planejamento motor. Comparando a realizao de um movimento com a construo de um prdio, a rea motora suplementar funciona como um arquiteto, que planeja a obra e envia para o cerebelo e corpo estriado; estes, por sua vez, funcionam como engenheiros, que modulam e estabelecem o programa motor para enviar de volta ao crtex, mas dessa vez, para o crtex motor primrio; este funciona, nesta metfora, como o peão da obra, que realiza efetivamente a obra – a realizao do movimento. Área pré-motora: localiza-se no lobo frontal, adiante da rea motora primria, e ocupa toda a extenso da área 6, situada na face lateral do hemisfrio cerebral. muito menos excitvel que a rea motora primria, exigindo correntes eltricas mais intensas para que se obtenham respostas motoras. As respostas obtidas so menos localizadas que as que se obtm por estmulo da rea 4 e esto relacionados a grupos musculares maiores, como no caso dos msculos do tronco ou da base dos membros. Esse fato se faz verdade quando nos tratamos de leses da rea pr-motora, em que esses msculos apresentam fora diminuda (paresia), o que impede que o paciente, por exemplo, eleve os membros. Admite-se que isso se deva ao fato de que a rea pr-motora tem projees para a formao reticular de onde se originam o tracto retculo- espinhal, principal responsvel pelo controle motor da musculatura axial e proximal dos membros no homem. A rea pr- motora projeta-se tambm para a rea motora primria e recebe aferncias do cerebelo (via tlamo) e de vrias reas de associao do crtex. Atravs da via crtico-retculo-espinhal, que nela se origina, a rea pr-motora coloca o corpo, especialmente os membros, em uma postura bsica preparatria para a realizao de movimentos mais delicados, a cargo da musculatura distal dos membros. Campo ocular frontal: se estende para frente, a partir de rea da face no giro pr-central para o giro frontal mdio (área 8 de Brodmann). Estimulao eltrica dessa regio provoca movimentos conjugados dos olhos, em especial, para o lado oposto. O campo ocular frontal considerado controlador dos movimentos voluntrios de busca (scanning movements) do olho, sendo independentes dos estmulos visuais. Suas conexes com a rea visual primria e com os ncleos pr-tectais do mesencfalo (que se ligam, por sua vez, aos ncleos motores e parassimpticos do N. culomotor dos dois lados) o responsabiliza, em parte, pelo reflexo de acomodação do cristalino. Área de Broca: situada nas partes opercular e triangular do giro frontal inferior, correspondendo área 44 e parte da área 45 de Brodmann, a rea de Broca responsvel pela programao da atividade motora relacionada com a expresso da linguagem. Para essa funo, a rea de Broca localiza-se bem a frente da rea motora que controla os msculos relacionados com a fonao. Relaciona-se ainda com o lobo da nsula (profundamente ao giro frontal inferior), importante para o planejamento ou coordenao dos movimentos articulatrios necessrios fala. comum dizer que os fonemas das palavras que foram aprendidas durante toda a vida escolar esto armazenados nesta rea. Leses da rea de Broca resultam em dficits de linguagem denominados afasias. ÁREAS DE ASSOCIAÇÃO TERCIÁRIAS As reas tercirias ocupam o topo da hierarquia funcional no crtex cerebral. Elas so classificadas como supra-modais, ou seja, no se relacionam isoladamente com nenhuma modalidade sensorial. Recebem e integram as informaes sensoriais j elaboradas por todas as reas secundrias e so responsveis tambm pela elaborao das diversas estratgias comportamentais. Área pré-frontal: compreende a parte anterior no-motora do lobo frontal, ocupando cerca de 1/4 da superfcie do crtex cerebral, incluindo as reas 9, 10, 11, 12, 32 e 47 de Brodmann. Est relacionada diretamente com comportamentos: ateno, centro inibitrio de atitudes, inteligncia, intelectualidade, afetividade, etc. Atravs dos fascculos de associao presentes no crtex, ela recebe fibras de todas as demais reas de associao do crtex, ligando-se ainda ao sistema lmbico. Especialmente importantes so as extensas conexes recprocas que ela mantm com o ncleo dorsomedial do tlamo e suas conexes com o hipotlamo. Um indivduo que sobrevive a um acidente em que haja acometimento dessa rea, geralmente acometido de uma perda do senso de responsabilidades sociais e de desinibio para com atos obscenos. Seu comportamento habitual e relaes sociais e familiares mudam drasticamente.H cirurgias que consistem em uma seco bilateral da parte anterior dos lobos frontais, passando adiante dos cornos anteriores dos ventrculos laterais, para o tratamento de doentes psiquitricos com quadros de depresso e ansiedade. Uma consequncia indesejvel deste Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2 6 procedimento (leucotomia) que muitos pacientes perdem a capacidade de discernir e julgar sobre os comportamentos mais adequados diante de cada situao, podendo, por exemplo, com a maior naturalidade, urinar, defecar ou masturbar-se em pblico. Por meio de dados experimentais e clnicos, conclui-se ento que esta rea est envolvida pelo menos nas seguintes funes: Escolha das opes e estratgias de comportamento mais ideais situao fsica e social do indivduo. Manuteno da ateno. Alm da rea pr-motora, outras reas cerebrais (como a formao reticular) esto envolvidas no fen meno da ateno. Entretanto, os aspectos mais complexos dessa funo, como por exemplo, a capacidade de seguir sequncias ordenadas de pensamentos depende fundamentalmente da rea pr-frontal. Controle do comportamento emocional, funo exercida juntamente com o hipotlamo e o sistema lmbico. Área temporoparietal: compreende o lbulo parietal inferior, incluindo os giros supramarginal (área 40) e angular (área 39), estendendo-se tambm s margens do sulco temporal superior e parte do lbulo parietal superior. Situa-se, pois, entre as reas secundrias auditiva, visual e somestsica, funcionando como um centro que integra informaes recebidas por estas trs reas. A rea temporoparietal importante para percepo espacial, permitindo ao indivduo determinar as relaes entre os objetos no espao pessoal e extrapessoal. Ela permite tambm que se tenha uma imagem das partes componentes do prprio corpo, razo pela qual j foi tambm denominada área do esquema corporal. Leses nesta rea so caracterizadas por uma desorientao espacial generalizada, que faz com que o paciente no mais consiga deslocar-se de casa para o trabalho, por exemplo. E nos casos mais graves, o paciente incapaz de dirigir-se de uma cadeira para a cama. Entretanto, o caso clnico mais caracterstico das leses da rea temporoparietal (mais especificamente do lado direito) a chamada síndrome de negligência (sndrome de inateno), quese manifesta nas leses do lado direito, ou seja, relacionado com os processos vsuo-espaciais. Pode-se considerar um quadro de negligncia em relao ao prprio corpo ou ao espao exterior. No primeiro caso, o paciente perde a noo do seu esquema corporal, deixa de perceber a metade esquerda de seu corpo como fazendo parte de seu ‘eu’ passando a negligenci-la. Assim, ele deixa de se lavar, fazer barba ou calar sapatos do lado esquerdo, no porque no possa faz-lo, mas simplesmente porque para ele, a metade esquerda de seu corpo no o pertence. No caso da sndrome de negligncia em relao ao espao extrapessoal, que pode ser concomitante com o quadro anterior, o paciente passa a agir como se o lado esquerdo do mundo deixasse de existir de qualquer forma significativa para ele. Assim, ele s escreve na metade direito do papel, s l metade direita das sentenas e s come o alimento colocado no lado direito do prato. Áreas límbicas: as reas corticais de associao lmbicas compreendem o giro do cngulo (rea 23, 24, 31 e 33 de Brodmann), o giro para-hipocampal e o hipocampo. Essas reas, relacionadas principalmente com a memria e o comportamento emocional, integram o sistema límbico. OBS4: Áreas relacionadas com a linguagem e afasias. A linguagem verbal um fen meno complexo do qual participam reas corticais e subcorticais. Porm, sem menor dvida, o crtex cerebral tem o papel mais importante. Admite-se, pois, a existncia de apenas duas reas corticais para a linguagem: uma anterior e outra posterior, sendo ambas de associao. A área anterior da linguagem corresponde prpria rea de Broca (44 e 45 de Brodmann), estando relacionada com a expressão da linguagem. A área posterior da linguagem situa-se na juno entre os lbulos temporal e parietal e corresponde parte mais posterior da rea 22 de Brodmann (Área de Wernicke), estando relacionada basicamente com a percepção da linguagem. Essas duas reas esto ligadas pelo fascículo longitudinal superior (fascículo arqueado), atravs do qual informaes relevantes para a correta expresso da linguagem passam da rea de Wernicke para a rea de Broca. Na fala, a regio de Broca ativa as regies da boca e da lngua do giro pr-central (crtex motor). O giro angular coordena, por sua vez, as entradas no crtex visual, auditivo e somestsico para influenciar a regio de Wernicke. Leses dessas reas do origem a distrbios de linguagem denominados de afasias. Nas afasias, as perturbaes da linguagem no podem ser atribudas a leses das vias sensitivas ou motoras envolvidas na fonao, mas apenas leso das reas corticais de associao responsveis pela linguagem. Distinguem-se alguns tipos bsicos de afasias: o Afasia motora (afasias de expressão ou de Broca): a leso ocorre na rea de Broca, em que o indivduo ainda capaz de compreender a linguagem falada ou escrita (pois a rea de Wernicke est intacta), mas tem dificuldade de se expressar adequadamente, falando ou escrevendo. Nos casos mais comuns, ele consegue apenas produzir poucas palavras com dificuldade e tende a encontrar as frases falando ou escrevendo de maneira telegrfica. o Afasia sensitiva ou de percepção (afasias de Wernicke): a compreenso da linguagem tanto falada quanto escrita deficiente. H tambm algum dficit na expresso da linguagem, uma vez que o perfeito funcionamento da rea de Broca depende de informaes que recebe da rea de Wernicke, atravs do fascculo arqueado. o Afasia de condução: leso do fascculo arqueado, em que a compreenso da linguagem normal (pois a rea de Wernicke est integra), mas existe um dficit de expresso devido incapacidade de transporte de impulsos at a rea de Broca. OBS5: Alm da rea de Broca (crtex motor associativo), da rea de Wernicke (crtex associativo sensorial) e do fascculo arqueado, existem outras reas corticais – tambm de associao – que se relacionam com os processos de produo cortical da linguagem e que, de alguma forma, se comunicam com essas reas pr-citadas. Lobo da Ínsula: a nsula a rea do crtex localizada no fundo do sulco lateral, formando seu assoalho. Histologicamente, sua parte posterior granular e a parte anterior agranular, semelhante s reas corticais adjacentes. Suas fibras de conexo s so parcialmente conhecidas, mas admite-se que o tractos na substncia subcortical da nsula proporcionam conexes adicionais entre as reas de Broca e de Wernicke. Acredita-se que a nsula seja importante para o planejamento e coordenao dos movimentos articulatrios necessrios fala. Pacientes com leses na nsula (que irrigada pelas artrias lentculo-estriadas) apresentam dislalia, ou seja, dificuldade na pronncia dos fonemas em sua sequncia correta, produzindo, usualmente, sons que so prximos da palavra-alvo, mas que no so inteiramente corretas (passam a falar “tasa” ao invs de “casa”). Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2 7 Giro angular e supramarginal: sabe-se que estes dois giros fazem parte da rea de associao terciria temporoparietal e que, portanto, integram todas as informaes somestsicas, visuais e auditivas pertinentes ao lado oposto do corpo. Mais importantes so tambm as conexes diretas que estes giros (o angular, em especial) realizam entre o crtex visual primrio e a rea de Wernicke. Por esta razo, o giro angular torna-se importante para leitura e funes no verbais semelhantes da linguagem (figuras ou fotos). O giro supramarginal tambm se situa entre o crtex visual e as reas perisylvianas posteriores da linguagem e admite-se que ele esteja envolvido, alm de funes visuais, tambm com funes tteis (leitura braile, por exemplo) da linguagem. Centro de Exner: uma rea cortical supostamente relacionada com a escrita que se situa no giro frontal mdio do lobo frontal dominante (bem prximo ao campo ocular frontal) e imediatamente anterior ao crtex motor primrio da mo. Pode haver tratos de substncia branca ligando as reas de Wernicke e de Exner ao fascculo arqueado. OBS6: Um fato importante que, na maioria dos indivduos, as reas corticais da linguagem se localizam apenas no lado esquerdo devido presena de uma assimetria das funções corticais. ASSIMETRIA DAS FUNES CORTICAIS Desde o sculo passado, os neurologistas sempre constataram que as afasias esto quase sempre associadas a leses no hemisfrio esquerdo e que leses do lado direito s excepcionalmente causam distrbios de linguagem. Com isso, do ponto de vista funcional, pode-se chegar concluso que os hemisfrios cerebrais no so simtricos e que na maioria dos indivduos as reas da linguagem esto localizadas apenas do lado esquerdo. Existe, portanto, uma assimetria nas funes corticais: o hemisfrio esquerdo est mais relacionado com a linguagem, tanto na parte motora quanto na compreenso, alm de apresentar relaes com o comportamento intelectual e inteligncia; j o hemisfrio direito est mais relacionado com as tendncias musicais, artsticas e noes espaciais (pessoal e extrapessoal). Surgiu assim o conceito de que o hemisfrio esquerdo seria o hemisfério dominante, enquanto o hemisfrio direito exerceria um papel secundrio. Na realidade, sabe-se que, se o hemisfrio esquerdo mais importante do ponto de vista da linguagem e do raciocnio matemtico, o direito ‘dominante’ no que diz respeito ao desempenho de certas habilidades artsticas como msica e pintura, percepo de relaes espaciais ou ao reconhecimento da fisionomia das pessoas. Convm assinalar que a assimetria funcional dos hemisfrios cerebrais se manifesta apenas nas reas de associao, uma vez que o funcionamento das reas das reas de projeo, tanto motoras como sensitivas, igual dos dois lados. OBS7: Curiosas so as relaes entre dominncia cerebral na linguagem e o uso preferencialda mo. Em 96% dos indivduos destros, o hemisfrio dominante o esquerdo, mas nos indivduos canhotos ou ambidestros esse valor cai para 70%. Isso significa que em um canhoto mais difcil prever o lado em que se localizam os centros da linguagem. Essa informao importante para um neurocirurgio que pretenda operar regies prximas s reas de Broca ou de Wernicke de um indivduo, pois qualquer ao intempestiva nessas reas poderia causar uma afasia. Para saber com segurana o lado em que esto os centros de linguagem, o cirurgio injeta em uma das cartidas um anestsico de ao muito rpida (amital sdico) enquanto pede ao paciente que comece a contar em voz alta (teste de Wada). A droga levada preferencialmente ao hemisfrio do mesmo lado em que foi injetada e nele causa um breve perodo de disfuno: se nesse hemisfrio estiverem os centros da linguagem, o paciente pra de contar e no responde ao comando para continuar. Sabe-se hoje que na maioria das pessoas a regio do lobo temporal correspondente rea de Wernicke maior esquerda do que direita. A assimetria funcional entre os dois hemisfrios torna mais importante o papel do corpo caloso de transmitir informaes entre eles. Isso ficou provado pelo estudo de pacientes em que essa comissura foi seccionada cirurgicamente para melhorar certos quadros de epilepsia. Esses indivduos no tm nenhum distrbio sensitivo ou motor evidente. Entretanto, so incapazes de descrever um objeto colocado na sua mo esquerda, embora possam faz-lo quando o objeto colocado na sua mo direita. Neste caso, as impresses sensoriais do objeto chegam diretamente ao hemisfrio esquerdo, dominante, onde esto as reas de linguagem, o que permite a descrio do objeto. J no caso em que o objeto colocado na mo esquerda, os impulsos sensoriais chegam ao hemisfrio direito, onde no existem reas de linguagem. Como esto lesadas as fibras do corpo caloso, que, no indivduo normal, transmitem as informaes aos centros da linguagem no hemisfrio esquerdo, o indivduo, apesar de reconhecer o objeto (no seu hemisfrio direito), incapaz de descrev-lo (utilizando o hemisfrio esquerdo) por no haver mais a comunicao comissural entre os dois hemisfrios. Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2 8 APLICAES CLNICAS As leses cerebrais focais, como por exemplo, causadas por tumores ou por acidente vascular cerebral, produzem trs tipos de sinais e sintomas clnicos: Crises epiléticas parciais. As descargas repetitivas de grupos de neur nios em uma determinada rea do crtex cerebral produzem ataques paroxsticos de curta durao e refletem as propriedades funcionais pertinentes quele grupo de neur nios em questo. O paciente pode experimentar ataques sbitos de movimentos ou sensaes anormais (crises parciais simples) ou breves alteraes da percepo do humor ou do comportamento (crises parciais complexas). As crises parciais podem desencadear convulsões complexas (crises generalizadas tônico-clônicas), caracterizadas por contraes t nicas e movimentos cl nicos generalizados. Deficiência sensório-motora. Ocorre perda das sensaes e dos movimentos, detectveis no exame clnico neurolgico. Deficiências psicológicas. Ocorrem rupturas nos processos psicolgicos, como na linguagem, na percepo e na memria, demonstrveis pela avaliao psicolgica. Lesões do lobo frontal esquerdo o Crises parciais: movimentos abruptos paroxsticos dos membros contralaterais (chamados de “motores simples”). o Deficincia sensrio-motora: ocorre fraqueza da face (musculatura do quadrante inferior) e sinais de neur nio motor superior nos membros do lado oposto ao da leso (hemiplegia contralateral). o Deficincia psicolgica: a fala s produzida mediante grande esforo e articulao prejudicada, em trechos breves, com erros de palavras (parafasia). A repetio das palavras fica comprometida, mas a capacidade de compreenso fica relativamente preservada. Esse quadro conhecido como afasia de Broca. Tambm ocorre comprometimento da leitura (alexia) e da escrita (agrafia). Lesão do lobo parietal esquerdo o Crises parciais: ataques paroxsticos de sensaes anormais, propagadas pelo lado contralateral do corpo (crises sensoriais). o Deficincia sensrio-motora: perda hemissensorial contralateral e perda contralateral de parte do campo visual inferior (quadrantanopsia inferior direita). o Deficincias psicolgicas: incapacidade de dar nome aos objetos (anomia), com incapacidade de ler (alexia), escrever (agrafia) e calcular (acalculia). Lesão do lobo parietal direito o Crises parciais: ataques paroxsticos de perturbaes sensoriais que afetam o lado contralateral do corpo (crises sensoriais simples). o Deficincia sensrio-motora: perda hemissensorial contralateral e perda contralateral de parte do campo visual inferior (quadrantanopsia inferior esquerda). o Deficincias psicolgicas: incapacidade de copiar e de construir esquemas devido desorientao espacial (apraxia de construo). Leses do lbulo parietal inferior (responsvel pela informao sensorial geral e pelo conhecimento consciente da metade contralateral do corpo) comprometem a interpretao e a compreenso das entradas sensoriais que nele chegam, e podem causar abandono da outra metade do corpo. Lesões do lobo temporal esquerdo o Crises parciais: ataques paroxsticos de insensibilidade, de comportamento sem objetividade (automatismos), alucinaes olfativas e visuais ou auditivas complexas (déjà-vu, do francs, “já visto antes”). Esses ataques so referidos como crises parciais complexas. o Deficincia sensrio-motora: perda contralateral de parte do campo visual superior (quadrantanopsia superior contralateral). o Deficincia psicolgica: a fala fluente e rpida, mas contm erros de palavras (parafasia) e incompreensvel. Existe enorme dificuldade de encontrar palavras, comprometimento da repetio das palavras e perda profunda da compreenso. Esse quadro conhecido como afasia de Wernicke. Lesões do lobo occipital: as leses bilaterais do crtex occipital causam cegueira cortical, da qual o paciente no tem conhecimento (anosognosia de cegueira ou sndrome de Anton). Leses bilaterais parieto-occipitais podem poupar a viso elementar, mas impedem o reconhecimento e descrio dos objetos (agnosia visual perceptiva). o Crises parciais: alucinaes visuais paroxsticas de natureza simples, sem forma, como luzes e cores (crises parciais simples). o Deficincia sensrio-motora: perda do campo visual contralateral (hemianopia hom nima contralateral). Leses relacionadas com a parte súpero-lateral giro pré-central, seja ela por trauma direto, tumor ou isquemia da A. cerebral mdia, devido a esta rea estar relacionada com o crtex motor primrio da regio superior do corpo (inclusive membros superiores e face), sabidamente causam dficits motores contralaterais (hemiparesias e hemiplegias com predomnio braquiofacial), com distribuio e extenso dependentes da rea cortical e/ou do contingente de fibras motoras acometidas. Se a leso estiver relacionada com a parte mais anterior do lóbulo para-central, na face medial do encfalo, seja por isquemia da A. cerebral anterior ou qualquer outro motivo, o paciente apresentar hemiplegia relacionado com o membro inferior contra-lateral (hemiplegia crural). o Leses da rea motora primria: hemiplegia contralateral. o Leses da rea motora suplementar: dificuldade no planejamento do movimento, sem haver paralisia (apraxia). O indivduo acometido, neste caso, sente uma dificuldade imensa de abotoar uma camisa, por exemplo, ou de seguir uma sequncia lgica de eventos para um determinando fim (atos acender, por o cigarro na boca e fum-lo, por exemplo) Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2 9 Lesõesda área somatossensitiva (áreas 3, 1 e 2 de Brodmann) causam comprometimento contralateral do tato e da pressão particularmente notados ao exame concomitantemente bilateral dessas modalidades sensitivas, observando-se assim o chamado fenômeno de extinção da estimulação pertinente ao hemicorpo contralateral à lesão e também comprometimento da noção proprioceptiva contralateral. O comprometimento da percepção dolorosa por sua vez se relaciona mais particularmente com o acometimento de áreas sensitivas secundárias. o Se a lesão ocorrer na área sensitiva primária (área 3, 1 e 2), há perda da sensibilidade relativa ao tato, dor e temperatura na metade lateral do corpo. o Já se a lesão ocorrer em nível da área sensitiva secundária (áreas 5 e 7), o paciente não tem a perda desta sensibilidade, mas se torna incapaz de identificar as características desse estímulo (agnosias). Lesões frontoparietais podem causar apraxias (incapacidade de executar determinados atos voluntários sem que exista um déficit motor pronunciado) ideomotora e ideativa. o Na apraxia ideomotora, o paciente é capaz de elaborar a idéia de um ato e de executá-lo automaticamente, mas não é capaz de realizá-lo quando sugerido pelo neurologista. É um déficit motor secundário a uma desconexão entre os centros da linguagem ou visuais que compreendem o comando e as áreas motoras solicitadas a executá-lo. Em outras palavras, o paciente tem dificuldades em executar um comando complexo (Ex: saudar, dar adeus com a mão, estalar os dedos, bater continência, realizar o sinal da cruz, etc.) quando solicitado. Ele é incapaz de executar o ato mediante um comando do neurologista, mas pode conseguir imitá-lo. o O paciente com apraxia ideativa, por sua vez, não é capaz de planificar e realizar um ato sobre auto-comando. Pode ocorrer em casos de lesões da junção temporoparietal posterior esquerda. O paciente consegue executar componentes individuais de um ato motor complexo, mas não consegue executar a sequência inteira corretamente: quando solicitado a ligar um carro, o paciente pode passar as marchas antes de dar partida; quando solicitado para enviar uma carta pelo correio, fecha o envelope antes de por a carta dentro. O comprometimento do giro supramarginal (área 40 de Brodmann) do hemisfério dominante, dada a sua maior proximidade com as áreas de representação somatossensitiva, pode causar agnosias tácteis e proprioceptivas, distúrbios de discriminação direita-esquerda, do próprio esquema corporal e eventualmente quadros apráxicos mais complexos. Por estar mais relacionado com as sensibilidades táteis, admite-se que o giro supramarginal seja responsável pelas conexões que fazem com que a leitura braile seja interpretada pela área de Wernicke. Lesões destrutivas do giro angular (área 39 de Brodmann, considerado, com frequência, parte posterior da área de Wernicke) dividem a via que interliga a área visual associativa e a parte anterior da área de Wernicke. Isso faz com que o paciente fique incapaz de ler (alexia) ou de escrever (agrafia). Como se sabe, a linguagem escrita é percebida pelo sistema visual e as informações transmitidas à área de Wernicke onde são interpretadas. Disfunção dos centros da linguagem ou interrupção das conexões destes com o sistema visual (conexões que se fazem por meio, principalmente, do giro angular) podem causar alexia. Devemos ter em mente também que o esplênio do corpo caloso é responsável por integrar as informações visuais que chegam ao córtex occipital do lado direito com a área de Wernicke do lado esquerdo. Por esta razão, lesões no esplênio (irrigado pelo ramo dorsal do corpo caloso, ramo da A. cerebral posterior) também podem causar alexia. Pode ocorrer também afasia anômica (incapacidade de dar nomes a objetos). Síndrome de Gerstmann: é o distúrbio caracterizado pela incapacidade de distinguir e denominar os dedos da sua própria mão (agnosia digital), incapacidade de reconhecimento de direita-esquerda, afasia de compreensão, alexia, acalculia, anomia, secundário a lesões parietais posteriores do hemisfério dominante (área terciária temporo-parietal esquerda). Dificuldades com a escrita (grafia) é bastante frequente. Síndrome da Negligência: lesões parietais posteriores, principalmente do hemisfério não-dominante (área terciária temporo-parietal direita), podem levar o paciente a se comportar como se a metade contralateral do seu corpo estivesse ausente ou não a pertencesse. A observação de pacientes com lesões do córtex parietal posterior (centro responsável por convergir as fibras provenientes da área auditiva, somestésica e visual), geralmente no hemisfério direito, tem sido importante para definir melhor a sua função. Esses pacientes apresentam uma condição clínica conhecida como síndrome da indiferença (ou síndrome da negligência). Eles geralmente ignoram tudo o que se passa à esquerda: o lado esquerdo do seu corpo, o lado esquerdo dos objetos, o lado esquerdo co seu campo visual. Se tomarmos a sua mão esquerda e lhes mostrarmos, dirão que não é sua, colocarão o braço direito na manga correspondente, mas não o farão para o braço esquerdo, que permanecerá desvestido. Se pedirmos que desenhem uma flor, colocarão pétalas ao lado direito; um relógio será representado com todos os números do lado direito, apenas. É como se os pacientes não conseguissem posicionar-se em relação ao eixo de simetria bilateral das coisas (inclusive do seu próprio corpo), e não pudessem perceber o espaço que se localiza à esquerda desse eixo. A indiferença à esquerda reflete o fato de que o hemisfério direito é mais importante para a função de Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2 10 percepo espacial. Esta indiferena atinge tanto o espao peripessoal, isto , aquele que est ao alcance dos membros, como o espao extrapessoal, aquele que pode ser alcanado apenas pelos movimentos oculares. Alm desses sinais, o paciente apresenta, tambm, um reconhecimento anormal de expresses no-orais (expresso facial, tom de voz, humor), de modo tal que, ao observar figuras com expresses faciais diferentes, para o paciente, so todas iguais. Alm disso, apresentam uma impersistncia motora (de modo que, ao ser solicitado para elevar os braos, por inquietude, ele rapidamente os repe). Um dos mais importantes sinais da sndrome da disfuno cortical superior do hemisfrio no-dominante a anosognosia, que consiste no desconhecimento pelo paciente do seu prprio dficit: por exemplo, paciente com hemiplegia esquerda evidente (que pode estar comumente associada leso temporo-parietal esquerda, uma vez que os dois quadros podem ser causados pela isquemia da mesma artria), ao ser questionado de sua paralisia, ele no reconhece, admitindo que tudo est funcionando normalmente. H tambm apraxia construtiva (ou constitucional), em que o paciente incapaz de desenhar uma casa, por exemplo, uma vez que ele necessita da integridade neurolgica da rea temporo-parietal esquerda para realizar a integrao dos atos de imaginar em desenh-la, observar o que estar desenhando e interpretar o desenho. Leses unilaterais restritas ao giro temporal transverso anterior (de Heschl), rea auditiva primria, e parte do giro temporal superior que abrigam a área auditiva primária (rea 41 e 42 de Brodmann) no causam dficit auditivo significativo, dada a projeo cortical bilateral das vias auditivas. No entanto, as leses bilaterais dessas reas podem causar agnosia auditiva, tambm denominada de surdez verbal. J se a leso acontecer na rea auditiva secundria, o paciente capaz de ouvir, mas no capaz de identificar com clareza a origem do som captado. Leses na área visual primária, localizada na poro distal dos lbios do sulco calcarino (rea 17 de Brodmann) causam agnosia visual, tambm denominada cegueiraou amaurose cortical (em que o indivduo capaz de ver, mas no de enxergar). Pacientes com leses occipitais ou occipitoparietais bilaterais podem no ter conscincia de seu dficit ou podem ter essa conscincia mas negar que o dficit exista (anosognosia de cegueira). Neste caso, o paciente pode comportar-se como se conseguisse enxergar – ao tentar andar, esbarra em objetos e cai sobre as coisas (Sndrome de Anton). J leses nas reas visuais secundrias (reas 18 e 19 de Brodmann), podem ser responsveis apenas por dificuldades de reconhecer, identificar objetos e dar nomes aos objetos (anomia), apesar de enxerg-los perfeitamente. Recebem o nome de afasias alguns dos distrbios de linguagem falada. Estes so extremamente comuns, causados por quase a metade dos acidentes vasculares cerebrais, pelo menos na fase aguda. As afasias primárias podem ento ser classificadas de acordo com a natureza dos sintomas apresentados pelos pacientes, e correspondem tambm regio cerebral atingida. o A área de Broca (localizada na parte triangular e opercular do giro frontal inferior esquerdo) a responsvel pelo aspecto motor ou de expresso da lngua falada. Quando esta lesada, o paciente apresenta uma afasia de expressão (ou afasia de Broca). Sem dficits motores propriamente ditos, torna-se ele incapaz de falar, ou apresenta uma fala no-fluente, restrita a poucas slabas ou palavras curtas sem verbos. O paciente se esfora muito para encontrar as palavras, sem sucesso. Como exemplo da linguagem de um paciente acometido, temos: “Ah... segunda-feira... ah... Papai e Paulo [o nome do paciente]... e papai... hospital. Dois... ah... E, ah... meia hora... e sim... ah... hospital. E, ah... quarta-feira... nove horas. E, ah... quinta-feira às dez horas... médicos. Dois médicos... e ah... dentes. É... ótimo.” Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2 11 o A área de Wernicke a responsvel, por sua vez, pela compreenso da linguagem falada e escrita e anatomicamente se dispe principalmente sobre a poro posterior do giro temporal superior e do giro temporal transverso anterior. Alm disso, recebe, via giro angular, fibras oriundas do crtex visual necessrias para a compresso da linguagem escrita ou visual. Quando a leso atinge esta rea, o quadro inteiramente diferente do pr-citado, onde o paciente apresenta uma afasia de compreensão. Quando um interlocutor lhe fala, o indivduo no parece compreender bem o que lhe dito. No s emite respostas verbais sem sentido, como tambm falha em indicar com gestos que possa ter compreendido o que lhe foi dito. Sua fala espontnea fluente, mas usa palavras e frases desconexas porque no compreende o que ele prprio est dizendo. comum o uso de neologismos. Como exemplo da linguagem de um paciente acometido, temos: “Queria lhe dizer que isso aconteceu quando aconteceu quando ele alugou. Seu... seu bon cai aqui e fica estripulo... ele alu alguma coisa. Aconteceu. Em tese os mais gelatinosos estavam ele para alu... amigo... parece . E acabou de acontecer, por isso no sei, ele no trouxe nada. E no pagou.” o Alm dessas duas reas, h a influncia antomo-funcional do fascículo arqueado (fascculo longitudinal superior). Wernicke (neurologista alemo que primeiro descreveu a afasia de compreenso) raciocinou que se a expresso funo da rea de Broca, e se a compreenso funo da rea que levou seu nome, ento ambas devem estar conectadas para que os indivduos possam compreender o que eles mesmos falam e respondem ao que os outros lhes falam. De fato, existem conexes entre essas duas reas lingusticas atravs desse feixe ou fascculo arqueado. Wernicke previu que a leso desse feixe deveria provocar uma afasia de condução, na qual os pacientes seriam capazes de falar espontaneamente, embora cometessem erros de repetio e de resposta a comandos verbais. Em dilogos entre neurologistas e pacientes acometidos deste tipo de afasia, obviamente, capaz de compreender o que o neurologista disse, mas como no foi capaz de repetir, emitiu uma frase diferente, mas de sentido equivalente: Neurologista: “Repita esta frase: O tanque de gasolina do carro vazou e sujou toda a estrada”. Paciente: “A rua ficou toda suja com o vazamento”. OBS8: O modelo neurolingustico de Wernicke considerava, ento, que a rea de Broca conteria os programas motores da fala, ou seja, as memrias dos movimentos necessrios para expressar os fonemas que aprendemos ao longo da vida, comp -los em palavras e estas em frases (afinal, a rea de Broca adjacente rea pr-motora, em regio bastante somatotpica da face). A rea de Wernicke, por outro lado, conteria as memrias dos sons que compem as palavras, possibilitando a compreenso (ademais, a rea de Wernicke fica no giro temporal superior, vizinha s reas auditivas). Bastaria que esta rea fosse conectada com a primeira para que o indivduo pudesse associar a compreenso das palavras ouvidas com a sua prpria fala. Pronúncia e Ritmo da fala Conteúdo Da fala Repetição Da fala Compreensão da linguagem falada Compreensão da linguagem escrita Escrita Nomeação Afasia de Broca Disartria gaguejante, forada Falta de slabas, sem gramtica, telegrfica Anormal, mas melhor do que espontnea Normal No to boa quanto da linguagem falada Descuidada, sem gramtica, erros de ortografia Melhor do que a fala espontnea Afasia de Wernicke Normal, fluente, loquaz Uso de palavras erradas ou inexistentes Anormal Muito anormal Anormal, mas melhor do que a falada Caligrafia normal, mas com erros de ortografia Nomes errados Afasia de condução Normal Algumas palavras erradas Anormal Levemente anormal Frequentemente normal Erros ocasionais de ortografia e linguagem Ocasionalmente nomes errados OBS9: Segundo DeJong, a dimenso da linguagem que se localiza no hemisfrio no-dominante ainda uma questo discutida. Admite-se que leses do hemisfrio no-dominante (como no giro frontal inferior direito) causam distrbios da fala que afetam os elementos no-linguisticos da linguagem. H, por exemplo, perda ou comprometimento do ritmo e dos elementos emocionais da linguagem. Ocorre, por exemplo, disprosódia (o termo prosdia refere-se aos aspectos meldicos da fala - modulao, entonao, volume, contedo emocional, etc.). Em outras palavras, os pacientes perdem a capacidade de transmitir emoo pela fala ou de detectar a emoo expressa por outras pessoas. A fala disprosdica plana e montona, sem inflexo nem emoo. OBS10: Leses nos giros angular e supramarginal do lado esquerdo tambm esto relacionadas com distrbios da linguagem, uma vez que ambas as estruturas apresentam conexes direta com a rea Wernicke e com a interpretao de linguagem. Em resumo, temos as seguintes relaes: A linguagem verbal primeiramente captada pelas vias auditivas, processada pelas reas primrias e secundrias da audio e, por contiguidade, levada at a rea de Wernicke que, como se sabe, localiza-se na prpria rea auditiva secundria (em sua poro mais posterior). A linguagem visual primeiramente captada pelas vias pticas, processada pelas reas visuais primrias e secundrias localizadas no lobo occipital e temporal e, posteriormente, via conexes com o giro angular e supramarginal, levada at a rea de Wernicke, onde interpretada. E relao anat mica tamanha que se percebe que o giro angular est situado entre as reas corticais da viso e a rea de Wernicke. Admite-se que a linguagem tateada (como a leitura braile) seja processada pelas reas somestsicas primrias e secundrias e, via giro supramarginal, enviada e interpretada pela rea de Wernicke. Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3– 2008.2 12
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