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SergioBuarque

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Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP 
Instituto de Economia 
Doutorado 
Disciplina: Interpretações do Brasil 
Prof.: Dr. João Manuel Cardoso de Mello 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Notas para discussão em seminário: Sérgio Buarque de Holanda 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Grupo: Aloísio Sérgio Barroso 
Antônio Prado 
Bráulio Santiago Cerqueira 
Carlos Drummond 
José Olavo Ribeiro 
José RicardoFucidji 
 
junho de 2001 
 
 
 
 
 
1 
“Sabe, no fundo eu sou um sentimental 
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo 
Mesmo quando minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar 
Meu coração fecha aos olhos e sinceramente chora...” 
(Fado Tropical, Chico Buarque e Ruy Guerra, 1972/1973). 
 
O Homem Cordial e as Instituições Políticas Brasileiras 
A originalidade e pluralidade dos temas tratados por Sérgio Buarque de Holanda têm 
suscitado diferentes enfoques sobre a obra do autor de “Raízes do Brasil”. Não por acaso o 
pesquisador já foi e pode ser apresentado como historiador das representações mentais, 
analista das instituições brasileiras, historiador da cultura material e crítico literário
1
. Não 
obstante, embora método e temas tenham variado na rica trajetória do intelectual, pode-se 
afirmar, seguindo a sugestão de Fernando Novais
2
, que seu problema/objeto central fixou-se 
no inexorável processo de modernização, se quisermos americanização, em curso numa 
sociedade marcada por forte herança lusitana e rural como a brasileira. 
Enfatizando o movimento e, de certo modo, o “sentido” de nossa história, Sérgio 
Buarque se aproxima de outro fundador do pensamento social brasileiro, Caio Prado Jr., ao 
mesmo tempo em que se distancia da visão de Oliveira Vianna para quem o único fator a 
perturbar nosso “direito-costume”, nossas tradições, advém da insistência infundada das elites 
em transplantar para o país instituições e modos de vida estranhos a nós mesmos
3
. A 
pronunciada consciência da mudança também o afasta de Gilberto Freyre cuja interpretação 
mais dúctil do patriarcalismo brasileiro induz, no limite, a uma apologia de relações sociais 
moldadas por três séculos de conflito e conciliação no interior da casa grande e senzala
4
. 
Partindo, então, da profícua démarche estabelecida em “Raízes do Brasil”, neste 
tópico procuraremos refletir sobre os efeitos da urbanização e industrialização, focos 
irradiadores do moderno no tecido social, sobre as instituições políticas brasileiras. E a 
incidência do moderno sobre nossas estruturas mais profundas sugere uma reflexão crucial no 
plano da política: a dificuldade, ou talvez impossibilidade, de construção de um verdadeiro 
espaço público e instituições políticas democrático-republicanas a partir do legado deixado 
 
1
 Ver por exemplo o conjunto de textos sobre a obra de Sérgio Buarque organizado por CANDIDO (1998). 
2
 NOVAIS (1994:7). 
3
 VIANNA (1987). 
 
 
 
 
 
2 
pelo “homem cordial”, tipo ideal (categoria sociológica weberiana) construído para apreender 
a forma predominante de sociabilidade brasileira, forma essa assentada nos laços de 
consangüinidade, compadrio e afeto. 
Esta questão, a da inadequação de princípios forjados na Europa à natureza mais 
profunda da sociedade aqui montada, de certa forma marcaria toda nossa evolução. Afinal, 
conforme os parágrafos iniciais de “Raízes do Brasil”, nas origens da sociedade brasileira já 
estaria presente a tentativa de transplante da cultura européia, e porque não, diríamos nós, de 
algumas de suas instituições, em espaço dotado de condições naturais adversas
5
. Esta questão, 
retomada em “Caminhos e Fronteiras” com o estudo da contínua adaptação dos bandeirantes, 
tributária da plasticidade do caráter português, a condições específicas do meio americano, se 
recolocaria no presente, século XX, de outra forma: o território adverso seria nossa herança 
luso-rural consubstanciada no homem cordial, legado hostil à absorção de valores e 
instituições modernos que deveriam acompanhar a emergência e consolidação do capitalismo 
no Brasil. Note-se, de passagem, que a urbanização e industrialização ligadas ao surgimento 
do capitalismo no país transcorrem sem intervenção consciente do homem, como que por 
milagre
6
. Cumpre, portanto, definir, nos termos do autor, o homem cordial a fim de 
demonstrar a oposição entre princípios políticos do liberalismo e sociedade brasileira. 
As raízes do nosso modo de operar no plano das relações sociais estariam na conduta 
aventureira do colonizador português e na organização quase autárquica da vida no interior do 
latifúndio escravista. O princípio da aventura, próprio às relações do homem com o meio e 
com a riqueza, é definido, no segundo capítulo de “Raízes do Brasil”, como o ideal do ganho 
fácil e imediato, propício, por conseguinte, à adoção de uma ética da imprevidência, audácia, 
instabilidade, irresponsabilidade e ócio. Daí a compatibilidade entre as visões edênicas dos 
trópicos, presentes nos relatos dos primeiros visitantes da América Ibérica, e o caráter 
predatório assumido pela colonização portuguesa: o que seria o paraíso senão o local onde os 
desejos se realizam sem labor algum
7
? 
 
4
 FREYRE (1995). 
5
 HOLANDA (1995:31). 
6
 Ver em HOLANDA (2000:403) a intuição acerca da história brasileira como uma procissão de milagres não 
interrompidos inclusive com a Proclamação da República. 
7
 “Como nos primeiros dias da Criação, tudo aqui era dom de Deus, não era obra do arador, do ceifador ou do 
moleiro. Dessa espécie de ilusão original, que pode canonizar a cobiça e banir o labor continuado e monótono, 
 
 
 
 
 
3 
Pois bem, o princípio da aventura pode ser associado ao surgimento do latifúndio 
escravista monocultor, forma de organização da vida econômica mais adequada às colônias de 
exploração
8
. E é no interior do latifúndio, voltado quase exclusivamente para transações 
comercias com o exterior, que a vida social se desenvolveria sob o domínio absoluto do 
senhor, a um só tempo chefe inconteste da família, proprietário dos escravos, fiscal severo das 
atividades da Igreja. A tibieza do mercado interno aliada à tirania no interior da fazenda, 
traços apontados como decisivos de nossa formação social, foram expressos notavelmente no 
relato, compilado por Sérgio Buarque, do bispo de Tucumã para quem “nesta terra”[- o Brasil 
-]“andam as coisas trocadas, porque toda ela não é república, sendo-o cada casa” 
(HOLANDA:1995:81). 
O homem cordial, isto é, não o brasileiro em si, mas uma determinada forma pensada 
de convívio social capaz de iluminar aspectos cruciais da sociabilidade brasileira, - aspectos 
presentes em alguma medida também em outras sociedades, notadamente na América Latina
9
 
- descende diretamente da família patriarcal gerada no interior do latifúndio escravista. Ser 
cordial significa extrapolar sentimentos próprios à vida doméstica, tais como o espírito de 
facção, respeito aos vínculos de sangue, amor e ódio, para a vida pública. Em suma, tratar-se-
ia da dificuldade estrutural para a afirmação da autonomia do espaço público sobre a vida 
privada no Brasil. Assim, desconheceríamos “qualquer forma de convívio social que não seja 
ditada por uma ética de fundo emotivo” (HOLANDA, 1995:148), o que na prática 
representaria sério empecilho ao triunfo do Estado burocrático impessoal (novamente Weber), 
representante dos interesses gerais, sobre as vontades particularistas das famílias.A abolição da escravidão em 1888, o processo de urbanização, em especial de São 
Paulo, o crescimento industrial das décadas de 1910 e 1920, a expansão das relações 
mercantis (a começar pela própria relação de trabalho) no interior da economia brasileira, 
enfim, a emergência do capitalismo no Brasil trazia um problema e um desafio: o problema 
estava em que as transformações minavam de distintas formas o núcleo da família patriarcal 
(por exemplo, a simples mudança para a cidade, onde a educação dos filhos ficava a cargo da 
escola, tendia a solapar o domínio absoluto do pai); o desafio residia em construir 
 
haveriam de partilhar indiferentemente os povoadores de toda a nossa América Hispânica, lusitanos, não menos 
do que castelhanos...” (HOLANDA, 2000:xi). 
8
 PRADO JR. (2000:129-56). 
 
 
 
 
 
4 
mentalidade, formas de sociabilidade e instituições políticas mais adequadas aos “novos 
tempos”. Nos EUA tais instituições seriam as democrático-liberais. No Brasil, entretanto, 
embora o ciclo de influências ultramarinas específicas de que foram portadores os 
portugueses estivesse em declínio, “o americano ainda é interiormente inexistente” 
(HOLANDA, 1995:172). 
Podemos, então, compreender a incompatibilidade mais profunda entre os ideais 
político-liberais e a natureza cordial. Se, conforme apregoa Bentham em citação de Sérgio 
Buarque, para o liberal o que importa é “a maior felicidade para o maior número”, então há 
uma “incompreensão radical”, tal qual a presente entre o trabalhador e o aventureiro, entre o 
“americano” e o “homem cordial”. Isto porque quando no espaço público predominam 
condutas e práticas próprias à vida doméstica, o que passa a importar é a felicidade dos 
amigos e a derrota dos inimigos ao invés do bem comum. Por isso, “no terreno político e 
social os princípios do liberalismo têm sido uma inútil e onerosa superfetação”, o que não 
deixa de lembrar a crítica de Oliveira Vianna a Rui Barbosa no segundo volume das 
“Instituições Políticas Brasileiras”. O conflito em Sérgio Buarque, no entanto, é mais 
elaborado e complexo, pois a sociedade é vista em movimento, em transformação, e o 
resultado da mudança é indeterminado. 
Em suma, Sérgio Buarque explicita uma tensão presente na história brasileira desde 
meados ou fins do século XIX, qual seja, a emergência do capitalismo em uma sociedade 
extremamente desigual marcada por padrões de comportamento arcaicos. A marcha do 
processo histórico, a seu ver, impedia uma volta ao passado “rural”, entretanto este mesmo 
passado pesava no presente (1936), afinal o americano era ainda inexistente em nosso interior. 
No plano político, então, os princípios liberal-democráticos adotados por alguns constituíam 
superfetação por não corresponderem ao “interior” de uma classe dominante em parte 
descendente de senhores de escravos. Por isso a democracia no país experimentada na 
República Velha não poderia ser algo diferente de um “lamentável mal entendido” 
(HOLANDA, 1995:160), isto é, simples discurso de fachada de uma “aristocracia rural e 
semifeudal” interessada na manutenção do status quo. Mas e os novos estratos sociais, 
dominantes e dominados, que ganhavam peso com a industrialização (industriais, imigrantes, 
 
9
 É esta a perspectiva de ROCHA (1999). 
 
 
 
 
 
5 
operários...), também para eles a democracia seria simples superfetação? Esta a questão 
política deixada em aberto pelo historiador. 
 
Trabalho, Aventura e Capitalismo Selvagem no Brasil 
Da procissão de maravilhas da era dos descobrimentos – lagoas douradas, serras 
reluzentes, seres monstruosos e inumanos – à “procissão de milagres” do período da 
colonização – sucessão das economias da cana-de-açúcar, do fumo, da mineração – o que 
predomina no andor, o trabalho ou aventura? 
“Procissão de milagres” sugere que o Brasil não tem história, no sentido de 
intervenção racional, de um projeto de um povo. História é alternativa, ou alternativas 
político-sociais (CARDOSO DE MELLO). De que modo a história poderia ser implacável 
com um país sem história? Condenando-o a permanecer nessa condição? 
A busca européia do paraíso na Terra define diferentes teores de trabalho e aventura 
ao Norte e ao Sul da América. 
Entre portugueses e espanhóis – acompanhados de sacerdotes católicos –, movidos 
pelo cenário portentoso de um éden mesclado com Eldorado, com seu Nilo espelhado no 
Prata – ou até mesmo no São Francisco, como se chegaria a dizer bem mais tarde – a Fonte da 
Juventude de Ponce de Leon como materialização da vida eterna acenada dos céus – e 
também um suposto atributo dos índios –, se tratava de encontrar e desfrutar a versão terrestre 
da fábula edênica. Uma vez descortinado o jardim das delícias além mar tratava-se de 
adentrá-lo e desfrutá-lo, incluídos nesse deleite a exploração das suas riquezas e o 
aprisionamento e o massacre das populações nativas. 
No caso dos puritanos ingleses colonizadores do nordeste da América do Norte, 
tratava-se, como consta do prefácio elucidador de Visão do Paraíso, de construir o paraíso na 
nova terra. A plantação de novas colônias iria reproduzir o ato da Criação. A constelação dos 
templos a serem edificados com trabalho árduo pelos conquistadores cimentaria o paraíso 
terreno. Neste caso, o trabalho vai além do esforço indispensável ao desbravamento e assume 
o caráter transformador, de geração de algo novo. 
 
 
 
 
 
6 
Em Massachusetts o espírito do capitalismo estava presente antes do desenvolvimento 
capitalista. Já em 1632 havia queixas contra as manifestações específicas de habilidade 
calculista na busca do lucro ocorridas na Nova Inglaterra, que assim se distinguia das outras 
colônias, na América do Norte. É, além disso, indubitável que o capital permaneceu bem 
menos desenvolvido em algumas das colônias vizinhas as quais mais tarde seriam os estados 
sulinos da federação americana, apesar de terem sido fundadas por grandes capitalistas e por 
motivos comerciais, enquanto as colônias na Nova Inglaterra foram fundadas por pregadores 
e por graduados em curso superior, com o auxílio de pequenos burgueses, artesãos e 
agricultores, por motivos religiosos (WEBER). 
A América que conquistou o Oeste e o Far West é essencialmente protestante. O 
protestantismo foi o único a fazer face a situação difícil, bruscamente instaurada, de dispersão 
dos homens através do espaço. Além do objetivo estrito que perseguiam, esses 
evangelizadores do Oeste moldaram involuntariamente o american way of life, o modelo da 
vida americana, o padrão de sua civilização. Esses movimentos espontâneos, da parte dos fiéis 
e dos pastores, foram obra da gente simples, a única capaz de criar igrejas. Ela partilhou 
geograficamente entre si o vasto domínio da fronteira, como conquistadores que eram: os 
discípulos fundaram suas igrejas no Oeste e no Meio-Oeste, os metodistas avançaram em 
direção ao noroeste, os batistas em direção ao sudoeste. Sua ação, em linhas gerais, se 
compara à obra dos missionários espanhóis, que de fato tiveram, a partir do século XVI, de 
reconverter os imigrantes espanhóis chegados ao Novo Mundo, ao mesmo tempo em que 
atraíam para a religião de Cristo a massa de seus índios e fundavam, assim, as bases do que é 
hoje a América Latina (BRAUDEL). 
No entanto, a identificação da nova terra como um Éden a ser elaborado fez com que 
os norte-americanos se auto-impusessem a regeneração moralcomo missão coletiva. 
Viabilizava-se a associação do progresso material à essa elevação moral, aplainando o 
caminho para a adaptação "sem maiores atritos ou artifícios" à civilização industrial 
(HOLANDA). 
Ao Norte, vê-se a vitória da chamada cultura americana, do trabalho, do espírito do 
capitalismo, do estado racional e família nuclear burguesa. Ao Sul, a vitória da cultura ibérica, 
 
 
 
 
 
7 
da aventura, da passividade, do estado patrimonialista, da família patriarcal, do clã familiar e 
político. 
Como se combinam aventura e trabalho no processo de desenvolvimento do Brasil, 
que implica em passar da cultura ibérica para a americana? 
Essa marcha do desenvolvimento histórico tende ao capitalismo selvagem, à 
concorrência sem travas aberta a partir de condições desiguais. 
No limite, essa evolução implica na supressão da cultura ibérica e do homem cordial 
(CARDOSO DE MELLO). Mas aventura e trabalho se combinam, no capitalismo da 
concorrência entre indivíduos privados, na aventura calculada (SCHUMPETER). Essa parece 
ser a síntese dos aparentemente excludentes capitalismo da concorrência entre indivíduos 
privados e capitalismo selvagem do homem cordial. 
Quais seriam os teores de trabalho e aventura no capitalismo brasileiro? 
A fraqueza institucional, a ausência de vida republicana, o predomínio das relações 
pessoais sobre as normas e a racionalidade alimentam e parecem ser condição para a 
perpetuar a concorrência sem travas, selvagem. O cálculo capitalista, no caso do Brasil, inclui 
uma dose extra de aventura, dada pela possibilidade de mudança das próprias regras do jogo 
capitalista no meio do caminho. Seria possível dizer que a aventura capitalista, aqui, é “menos 
calculada”, mais aventurosa. No entanto, o prêmio pelo maior risco é alto e compensa a 
aventura. Esse prêmio é a garantia de amortizações de investimentos em prazos de fazer 
inveja (porque impossíveis de alcançar) ao capitalismo civilizado. O capitalismo de 
concorrência, portanto, retira do lado selvagem da economia brasileira a sua taxa de retorno 
superior. A relação entre os dois tipos de capitalismo e suas respectivas formas sociais parece 
ser de simbiose, portanto. 
 
Modernidade e Atraso através de uma “Procissão de Milagres” 
A obra de Sérgio Buarque de Holanda pode ser lida como um desdobramento, apoiado 
na História, da temática exposta em Raízes do Brasil (1936, 1947). Assim, a dicotomia 
“trabalho e aventura” daquela obra se desdobra depois em “experiência e fantasia” de Visão 
do Paraíso (1959, 1969); o arcaísmo das relações interpessoais e das instituições políticas da 
 
 
 
 
 
8 
primeira obra são dissecados da história em Monções (1945), Caminhos e Fronteiras (1956, 
1968) e Do Império à Republica (1972) volume II de História Geral da Civilização 
Brasileira. 
O objetivo deste tópico é acompanhar o percurso que faz Sérgio Buarque ao deslindar 
os processos de formação e as possibilidades de mudança social (já anunciados em Raízes) em 
duas outras obras do autor, Visão do Paraíso e Caminhos e Fronteiras. Isto se faz em três 
etapas: primeiro, a definição das características da “mentalidade” do colonizador e do 
bandeirante lusitano e no que ela difere da mentalidade castelhana e anglo-saxã; a seguir, 
como surgem em sua obra as possibilidades de mudança e seus percalços; e, finalmente, uma 
crítica ao “sentido da mudança” apontado por Sérgio Buarque, procurando identificar-lhe as 
insuficiências. 
1. Há, nas três obras aqui consideradas, a utilização de dicotomias que caracterizem – e 
permitam a comparação – o colonizador de Portugal e o de Castela. Talvez a que marque com 
mais firmeza as distinções entre ambas seja a que se refere ao modo de perceber as novas 
terras: no português, desde logo, a nostalgia do Reino, o afã de “arranhar a praia qual 
caranguejo”, o interesse meramente instrumental das novas possessões. Numa palavra: o 
adventício português busca nas novas terras uma via de enriquecimento rápido, que se 
contenta com o que possa extrair, obter ou colher com o menor desdouro possível. Já no 
colonizador castelhano, embora a pilhagem e a exploração dos “tesouros” não possa ser 
olvidada, esta característica aparece atenuada, como se pode perceber na maior planificação 
urbana das cidades da América Espanhola, e ainda no ideal de fundar uma Nova Espanha em 
terras americanas. Pode-se encontrar mesmo entre eles um ideal que aparece com mais força 
entre os puritanos da Nova Inglaterra: o desejo de fundar um mundo novo, infenso às mazelas 
do “velho mundo decrépito”. 
Mas não é essa a única dicotomia. Há, numa mentalidade portuguesa, fruto da própria 
formação do reino do Mestre de Avis, a noção arraigada do privilégio e da hierarquia que 
conduz à baixa estima pelo trabalho manual. Tal comportamento se aprofunda quando a 
empresa colonizadora opera com o braço escravo, alimentando mais uma corrente de lucros 
mercantis, mas cristalizando no trabalho o estigma do recurso ao cativeiro. Neste mesmo 
plano de comportamentos, define-se padrão de relacionamento interpessoal em que o 
 
 
 
 
 
9 
mandonismo de uns encaixa-se perfeitamente no primado da obediência como um signo de 
lealdade pessoal, de outros. As instituições sociais serão caracterizadas por formas extremas 
de dependência pessoal, o que um Oliveira Vianna denominaria “clã feudal”. Embora, mais 
uma vez, tais características ibéricas estejam também presentes nas terras de Castela, é 
necessário admitir que não as atingiram com igual força. Nem se pode comparar, também, à 
colonização inglesa da Nova Inglaterra, caracterizada pela difusão da pequena propriedade, 
pela presença, desde logo, e pela existência de normas éticas mais rígidas. 
No plano ético e moral, o colonizador português cedo se amolda à “moral das 
senzalas”, aos padrões de comportamento e hábitos dos escravos e dos naturais. Pode-se 
assim dizer que o colonizador português possui uma “plasticidade” maior no contato com os 
naturais da terra e com os escravos de Guiné, o que se manifesta, em Freyre, no próprio 
caráter mais fraterno do relacionamento entre senhores e escravos e, principalmente, na 
própria “alma” do brasileiro, que naquele autor seria mais vivaz justamente por descender 
deste encontro de raças (ver, por exemplo, as páginas dedicadas à cor da indumentária e à 
musicalidade dos escravos). 
Ora, o que para Gilberto Freyre se configura uma qualidade, uma característica 
distintiva da identidade nacional (e que por isso mesmo deve ser preservada, no entender 
daquele autor), para Sérgio Buarque, sem deixar de ser característica nacional, configura-se 
como um problema para o advento desta sociedade às formas modernas de convivência 
(problema personificado no “homem cordial”, como vimos no tópico 2). 
Coloca-se assim a questão das “mentalidades”: o que anima o descobridor lusitano? 
Qual será sua forma de apreender e encarar as terras recém conhecidas? Antes do mais, a 
“visão do paraíso” descrita pelo autor é um fenômeno muito mais castelhano que lusitano. 
Para os castelhanos, como se pode apreender das cartas de Colombo (em que Sérgio Buarque 
se apóia com freqüência e a partir de onde buscará as fontes medievais dos “motivos 
edênicos”), o Novo Mundo seria o sítio do Paraíso Terrestre, por a corresponder às 
características que a literatura religiosa e laica medieval (e mesmo motivos recorrentes da 
literatura clássica, como Homero e Ovídio) instilara em seu imaginário. Sérgio Buarque não 
poupa meios de documentar esta correspondência: o clima ameno (a similitude mais 
freqüente); a presença de “monstros”, ou seja, de uma fauna e flora desconhecidas do europeu 
 
 
 
 
 
10 
quinhentista;a existência de riquezas minerais, que encaixava-se à crença de se estar próximo 
ao rio bíblico Gion, que fica próximo a uma “terra onde há muito ouro” – crença que, de 
resto, nada deve à geografia fantástica daqueles tempos –; a crença na extrema pureza 
daquelas terras (que empresta uma nova conotação à designação “Novo Mundo”10) atestada 
pela ausência de pestes e doenças, pela pretensa longevidade dos naturais. Todo um quadro 
que, além de estar de acordo com a literatura do momento (o que é demonstrado pelo autor na 
ciosa e erudita análise que faz dos mitos concernentes aos descobrimentos; Visão do Paraíso, 
cap. VII) cria no espírito castelhano a idéia de que se trata de um mundo “novo” pleno de 
possibilidades, confirmadas pela descoberta de ouro no Peru e prata na Bolívia – e que cedo 
se preocupam em “descobrir” em um amálgama de cobiça e devoção característico da atitude 
dos primeiros adventícios, a começar de Colombo. O paraíso terrestre seria, resumindo, na 
mentalidade castelhana, um local de descanso e de infindas riquezas: o repouso e a 
generosidade da Criação são o atributo do paraíso e o contrapõem a uma Europa de fadigas e 
privações
11
. 
Embora Sérgio Buarque não negue a existência dos motivos edênicos entre os 
descobridores lusitanos, estes lhes aparecem “atenuados”. E nisto os capítulos I, VI e XII 
oferecem o fio condutor da obra. O autor aponta o conservantismo dos reinóis, apoiados na 
tradição
12
, na rotina, no costume, o que os distinguiria dos povos realmente modernos, apesar 
de sua precoce centralização estatal do poder (tema que já aparecera no primeiro capítulo de 
Raízes do Brasil
13
). Esta mentalidade mais conservadora, mais passiva (ou fatalista) 
portuguesa teria por conseqüência um embotamento da criatividade, mesmo um desinteresse 
pelo fantástico reduzido a proporções cotidianas. Não se trata de descrer do mito, mas de 
considerá-lo possível... e nada mais
14
. Em outras palavras, Sérgio Buarque está a afirmar que 
os motivos edênicos (vindos das Índias de Castela, à exceção do mito de um Tomé pré-
colombiano) não chegavam a empolgar os empreendimentos colonizadores dos portugueses. 
 
10
 Visão do Paraíso (São Paulo: Editora Brasiliense, 1994), VIII, p. 254. 
11
 Visão do Paraíso, VII, p. 212. 
12
 Sérgio Buarque ilustra este ponto pela resistência lusitana em aderir a visão de mundo renascentista, e o apego 
de seu meio intelectual à tradição escolástica. Isto lhes predisporia mais à “experiência” que à “fantasia”. (Visão 
do Paraíso, I, pp. 1-6). 
13
 Raízes do Brasil, I, p. 36. 
14
 Visão do Paraíso, VI, pp. 178-179. 
 
 
 
 
 
11 
Estes preocupavam-se, isto sim, em extrair com pragmatismo o que a terra poderia lhes ceder 
imediatamente. E não isto deixaria de marcar a forma portuguesa de colonização. 
Francamente em contraste com os colonizadores puritanos, que vinham à América 
inglesa em busca do “puro ideal evangélico” de recobrar em meio à “selva e deserto” o 
paraíso terrestre por meio do trabalho sistemático, e que afinal constituir-se-ia numa república 
isenta das disputas religiosas do Velho Mundo
15
, estavam os portugueses. Como mostra o 
capítulo final de Visão do Paraíso – onde são fixados os contrastes entre as Índias de Castela 
e a América Portuguesa – esta mentalidade pragmática e anelante pelo lucro imediato não foi 
capaz de “apossar-se” de fato das terras pertencentes a Portugal. É interessante notar, neste 
contraste um paradoxo: enquanto Portugal interessa-se em muito pelas novas terras, a ponto 
de viver “do exterior e para o exterior”, os documentos da época registram menor interesse 
dos castelhanos por suas terras. Inclusive, aponta-se a maior regulamentação estatal, no caso 
português, em relação à ocupação da orla marítima, enquanto na América hispânica muito 
maior espaço foi deixado à ação particular. Apesar disto, apenas em terras de Castela o autor 
encontra desde as origens o desejo de fundar um “império das Índias” e a ocupação efetiva do 
território. Uma tentativa de explicação para esse resultado seria o seguinte: para Sérgio 
Buarque, o fator determinante não é a presença estatal ou particular na empresa colonizadora, 
mas sim o seu caráter racional, sistemático ou, pelo contrário, improvisado e eventual. 
Ora, as entradas no sertão são o resultado de ações individuais tanto aqui como nas 
terras de Castela, mas o que distingue uma possessão e outra é a presença, naquelas, de um 
plano racional de ocupação do território (como se vê na oposição entre o “semeador” e o 
“ladrilhador” de cidades16). Desprovida de um plano racional de ocupação, a colônia lusitana 
passa a depender da recorrência da “procissão de milagres”, estas contingências da vida 
cotidiana, para impulsionar seu desenvolvimento com pouco ou nenhum (e às vezes a 
despeito do) empenho dos homens. 
Em síntese, o “exorcismo” operado por Sérgio Buarque em Visão do Paraíso, 
prossegue a desmistificação histórica iniciada em Caminhos e Fronteiras, possibilitando uma 
leitura da colonização e das entradas em que resultam: a) seu extremo conservantismo e 
tradicionalismo, em oposição à racionalização moderna; b) seu direcionamento dado por 
 
15
 Ver o Prefácio à Segunda Edição, datado de novembro de 1969. 
 
 
 
 
 
12 
constrangimentos, mais que por “aventura”17; c) seu quinhão de pilhagem e saque, em que aos 
recursos açambarcados “ao milagre”, à natureza, não se acompanha uma reposição de 
benfeitorias e cuidados, senão um restolho de terras e minas exauridas. Enfim, as instituições 
se constróem, mas sobre uma predisposição mental que não é a do trabalho racionalizado no 
sentido weberiano, mas sim a do privilégio, das relações de mando e dominação plenas de 
brutalidade e por fim de saque das riquezas disponíveis. 
2. Mas, se esta é a mentalidade que preside a formação do Brasil, quais seriam as 
possibilidades de mudança? Esta é uma pergunta que Sérgio Buarque procura responder, 
distinguindo-se dos autores conservadores do início do século (que viam no atraso do país um 
determinismo racial, contra os quais o autor se levanta
18
) e daqueles que procuravam idealizar 
um passado rural, que talvez pudesse ser prolongado no século XX
19
. 
Raízes do Brasil teve em sua composição forte influência da sociologia alemã de Max 
Weber e Georg Simmel, autores que procuraram deslindar as formas de vida modernas e 
citadinas. Ao mostrar o arcaísmo das relações sociais e sua origem na história, Sérgio 
Buarque aponta um caminho de mudança para o país que seria dado pelo deslocamento da 
vida nacional dos meios rurais para os urbanos. Esta mudança, que tem seu momento decisivo 
na Abolição, mas começa com a Lei Eusébio de Queiroz, decorre da remoção da 
incompatibilidade entre a ordem escravocrata e as instituições modernas. 
Relações típicas desta ordem rural e escravocrata são o mandonismo patriarcal, as 
miragens de processo eleitoral e de alfabetização, o pouco apego às atividades produtivas e 
aos esforços sistemáticos, o amor às teorias abstratas e ao bacharelismo para melhor 
 
16
 Raízes do Brasil, cap. IV. 
17
 Como no caso dos bandeirantes de Piratininga que seguiram, é fato, a rota dos motivos edênicos e foram em 
busca das montanhas de esmeralda na proximidade do Rio São Francisco, mas o fizeram constrangidos pela 
extrema penúria das condições de vida no Planalto. Este primitivismo da vida paulista nos séculos XVII e XVIII 
é atestado pela regressão do idioma à “línguageral”, pela adoção de técnicas rudimentares de apicultura e 
preparo dos alimentos (para não falar do uso das “iguarias de bugre”), pelo desenvolvimento de uma 
indumentária adequada às entradas à pé, pela incorporação de artefatos indígenas, como o monjolo e a rede 
(Visão do Paraíso, III, p. 74; e IV, pp. 118-120; Caminhos e Fronteiras (São Paulo: Companhia das Letras, 
1994; “Introdução”). 
18
 Raízes do Brasil, I, p. 36. 
19
 Em cuja linha está Gilberto Freyre, mas que não pode ser considerado exatamente o alvo que pretende Sérgio 
Buarque. É fato que Buarque conhecia a obra de Freyre, pois consta nos agradecimentos de Casa Grande & 
Senzala, os préstimos do escritor paulista em traduzir trechos do alemão arcaico. É mais seguro que a crítica seja 
voltada às interpretações de Oliveira Vianna de Populações Meridionais do Brasil (1920). A denúncia da 
“herança rural” e dos comportamentos sociais por ela engendrados, são tratados em Raízes do Brasil, cap. III. 
 
 
 
 
 
13 
acomodar a seus ideais de privilégio e dogmas, uma realidade detestável
20
. No plano afetivo, 
o homem não é educado para a vida da polis, senão que tende a privatizar espaços públicos, 
encará-los como extensão dos relacionamentos familiares e de amizade. É portanto, avesso à 
imposição de normas rígidas de comportamento. Tudo isso, segundo Sérgio Buarque, estaria 
em processo de mudança pelo processo de urbanização. 
O autor alista três características, presentes no comportamento nacional, que poderiam 
ser convocadas para promover mudanças profundas de valores: a) a simpatia a valores 
libertários; b) a impossibilidade de resistência à influência das formas de vida urbana; e c) a 
“relativa inconsistência” dos preconceitos de raça e cor21. Destas, a primeira e a terceira são 
descartadas pelo seu superficialismo na vida nacional: resta somente o impulso da vida 
urbana
22
. 
Todavia, o próprio autor não desconhece que este vetor de mudança – que aponta para 
uma “revolução vertical” – está cercado de percalços causados pela sobrevivência de 
processos de longa duração, como o caudilhismo e a primazia da ordem (neste passo Sérgio 
Buarque descarta as possibilidades de mudança impostas por regimes autoritários de qualquer 
matiz), contrários ao estabelecimento de normas de convivência modernas. Pode-se concluir, 
portanto, que o capítulo sobre a “nossa revolução” somente mostra as possibilidades de 
mudança, não deixando de notar a precariedade dos meios concretos de atingi-la
23
. 
3. Isto nos conduz a um último comentário, e este crítico das concepções de mudança 
presentes no capítulo final de Raízes do Brasil. Afinal, crer que apenas as formas de 
convivência urbana modifiquem “estruturas do cotidiano” montadas em séculos de história é, 
mais que um exercício de boa vontade, uma desconcertante chancela às formas tradicionais de 
vida. Pois, se apenas processos de longa duração podem desfazer a força dos processos 
viciosos, o que pode a ação humana concreta? Claro está que a mudança não será disruptiva. 
 
20
 Raízes do Brasil, VII, pp. 185-186. 
21
 Raízes do Brasil, VII, pp. 184 e segs. 
22
 Sérgio Buarque manifesta simpatia pelo modo de vida americano, como deixou registrado no ensaio 
“Considerações sobre o americanismo” em Cobra de Vidro. São Paulo: Editora Perspectiva, 1979 (primeira 
edição de 1944), pp. 19-26. Particularmente faz menção ao “materialismo, ao utilitarismo e ao pragmatismo” dos 
americanos como motores ativos de seu progresso material. 
23
 Um comentarista encontra aqui uma tensão no argumento de Sérgio Buarque: a mudança deve ocorrer por 
valores nacionais autênticos (mas que são justamente os que estão imbuídos de atraso); os desejáveis valores 
modernos, contudo, estão “fora” e são estranhos ao modo de ser brasileiro (PIVA, 2000:156 e segs). 
 
 
 
 
 
14 
Além disso, a modernização almejada, se no sentido da sociedade americana da 
primeira metade do século, além de estranha à vida nacional – tão bem descrita pelo autor – 
não está isenta de produzir distorções e vícios no corpo social, e isto por força daquelas 
mesmas “virtudes” de materialismo, utilitarismo e pragmatismo presentes no capitalismo 
moderno. Se a menção for, por outro lado, ao puritano ideal de Weber, racional, frugal e 
metódico, os efeitos corrosivos da sociedade de massas não poderiam passar despercebidos a 
Sérgio Buarque, quanto mais por já estarem disponíveis os trabalhos de um Charles Wright 
Mills. 
Finalmente, há um grande ausente na discussão sobre a mudança: as determinações de 
ordem econômica. E isso quando o autor já tem em mãos, ao menos a partir da Segunda 
edição (1947), o trabalho de Caio Prado Júnior. O trabalho de Sérgio Buarque, já soberbo nas 
fertilizações cruzadas que faz entre cultura material, mentalidades e formação nacional, 
poderia ter-se enriquecido pela análise mais detida dos imperativos econômicos presentes no 
“sentido da colonização”. Porque o que somos não pode ser separado (mas também não pode 
ser exclusivamente associado) ao nosso papel no Antigo Sistema Colonial e depois na divisão 
internacional do trabalho conformada no séc. XIX. E, neste aspecto, passado o interregno 
histórico em que foi possível o planejamento estatal – época modernizadora que refuta a tese 
buarquiana – os avanços passariam a depender, como antes, da “procissão de milagres” dos 
investimentos estrangeiros, diretos e em carteira. 
 
Modernização e Modernismo em Sérgio Buarque de Holanda 
O processo de transformação e modernização do país, como já colocado em outras 
partes deste trabalho, é a questão central de Raízes do Brasil e possivelmente de toda a obra 
de Sérgio Buarque. Para tanto, ele foi buscar as raízes no passado, mas tendo em vista sempre 
o vir a ser da sociedade brasileira: “...desvendar no passado as forças de transformação que 
pudessem indicar os caminhos para libertar-se dele” (SILVA DIAS, 1998:11). 
Ao tratar a questão da Revolução Brasileira, particularmente como o fez no último 
capítulo de Raízes do Brasil, S. Buarque deixava claro que via o processo de transformação 
da sociedade brasileira perpassado por profundas mudanças que demandariam um longo 
período. Basta recorrer ao próprio texto do livro: “A grande revolução brasileira não é um 
 
 
 
 
 
15 
fato que se registrasse em um instante preciso; é antes um processo demorado e que vem 
durando pelo menos há três quartos de século” (HOLANDA, 1995:171). O uso do termo 
revolução, em sua obra, como um processo lento, fugia ao uso convencional da palavra, na 
época, e que denominava revolução todas as tentativas de golpes e conspirações palacianas, 
tão corriqueiras na América Latina, particularmente na primeira metade do século XX. Essa 
visão de revolução como um processo rápido, geralmente violento, de transformação das 
estruturas econômicas, sociais e políticas e que “...desde o momento que se inicia, sabemos 
que vai terminar bastante depressa”, (BRAUDEL,1985:108) é muito diferente da abordagem 
de S. Buarque ou do próprio Braudel, por ex., que via a Revolução Industrial inglesa, 
também, como um processo lento e “...difícil de detectar, no início” (idem, ibidem). 
Como ponto de referência o autor situava como marco desse processo de 
transformação a Abolição, que, para ele, representava o rompimento com o Brasil colonial, 
rural e escravocrata e o início da construção de um Brasil moderno, urbano e industrial. Para 
Sérgio Buarque, a sociedade brasileira fora profundamente marcada pela escravidão e pela 
enorme desigualdade social dela decorrente, com desdobramentos ainda marcantes à época 
que escreveu seu livro (1936) e mesmo quando o reformulou em1947 (e não eliminadas até 
os dias de hoje); portanto, o fim do escravismo abria decisivamente a possibilidade de 
transformação. 
Para se entender a „nossa revolução‟ de S. Buarque, é necessário acompanhar a 
construção teórica e metodológica empregada na análise da sociedade brasileira em „Raízes 
do Brasil‟. Antônio Cândido, no prefácio “O Significado de Raízes do Brasil” escrito em 
1967, observava que o livro “...é construído sobre uma admirável metodologia dos contrários 
que alarga e aprofunda a velha dicotomia da reflexão latino-americana”. Para tanto, S. 
Buarque foi buscar “o critério tipológico de Max Weber, mas modificando-o, na medida em 
que focaliza pares, não pluralidades de tipos” (CANDIDO, 1995:12-3), tais como trabalho e 
aventura; urbano e rural; homem civilizado e homem cordial; burocracia e caudilhismo; 
interesse público e interesse privado; americanismo e iberismo. 
O primeiro desses pares, conforme ainda Cândido, era “...a tipologia básica do livro, 
que distingue o trabalhador e o aventureiro, representando duas éticas opostas...” (CANDIDO, 
1995:15), sendo que o processo de mudanças da sociedade brasileira, e o rompimento com o 
 
 
 
 
 
16 
passado atrasado, surgiria da superação das contradições internas das dicotomias acima num 
processo dialético de criação de novos valores na sociedade brasileira. S. Buarque resumiu 
esta transformação no predomínio do americanismo (o moderno) sobre o iberismo (o atraso). 
Nas suas palavras: “Ainda testemunhamos presentemente, e por certo continuaremos a 
testemunhar durante largo tempo, as ressonâncias do lento cataclismo, cujo sentido parece ser 
o do aniquilamento das raízes ibéricas de nossa cultura para a inauguração de um estilo novo, 
que crismamos talvez ilusoriamente de americano...” (HOLANDA, 1995:172). Mas um 
americanismo transformado, que absorveria o que haveria de positivo na sociedade brasileira 
de então e não simplesmente transplantado dos EUA, depositário dos valores modernos da 
América na época. 
A lenta transformação do Brasil, segundo S. Buarque, começava com a expansão 
cafeeira para o Oeste paulista por volta de 1840, instituindo um novo modo de exploração que 
já não era o modelo do engenho de açúcar nordestino. O mundo rural do senhor de engenho, 
tão bem descrito por Gilberto Freyre em C&S, principiava, a essa época, ruir, quando a 
propriedade rural cafeeira passava a ser apenas um meio de vida e o ...“fazendeiro que se 
forma ao seu contato torna-se, no fundo, um tipo citadino, mais do que rural” (HOLANDA, 
1995:175). 
Mas o processo de urbanização crescente, ao mesmo tempo em que solapava o mundo 
rural, não criava por si mesmo um novo modelo de sociedade, muito menos destruía ou fazia 
desaparecer totalmente os valores do passado. Os valores do atraso teimavam em sobreviver 
em meio às transformações provocadas pelo lento deslocamento do centro dinâmico da 
economia do setor rural para o urbano e da agricultura para a indústria e serviços. Criava-se 
assim um vazio que retardava o processo de mudanças. 
Mas porque este vazio? A razão deveria ser buscada em especificidades de nosso 
desenvolvimento econômico e social, nas fortes características do passado rural que embora 
decadente ainda permeava a formação do Estado brasileiro fornecendo seus principais 
quadros burocráticos e na sobrevivência do personalismo e do caudilhismo que fazia o 
interesse privado prevalecer sobre o interesse público. “A urbanização contínua, ...destruiu 
este esteio rural, que fazia a força do regime decaído sem lograr substituí-lo, até agora, por 
nada de novo.” (HOLANDA, 1995:176) 
 
 
 
 
 
17 
O Estado brasileiro tornava-se, desse modo, um centro do conservadorismo, artífice da 
manutenção de privilégios da antiga classe dominante, mantendo um aparelho político que 
visava mais a impedir transformações do que incrementá-las. À “despersonalização 
democrática” deste Estado, conseqüência da não participação dos segmentos sociais 
modernos na esfera das decisões, contrapunha-se o caudilhismo, que conjuntamente com o 
liberalismo, formavam duas faces da mesma moeda, prevalecendo, por momentos um ou 
outro, conforme os interesses imediatos e particulares dos setores conservadores que a todo 
custo procuravam obstar o avanço das transformações. 
As diversas soluções apresentadas à época, para a superação do atraso não satisfaziam, 
pois se limitavam a propor apenas soluções superficiais e formais e não a superação da 
verdadeira antítese dos pares de contrários que contrapunham o atraso ao moderno, o iberismo 
ao americanismo. “As constituições feitas para não serem cumpridas, as leis existentes para 
serem violadas...” (HOLANDA, 1995:182). “Para os amigos tudo, para os inimigos a lei” e 
“obedezco pero no cumplo” (UERJ, 1992:72) eram (e ainda hoje, o são) lemas comuns ao 
Brasil e à América Latina. 
Para S. Buarque, o homem cordial, a qualidade mais típica do brasileiro herdada do 
iberismo e particularmente do português, continuava subsistindo mesmo com as 
transformações pelas quais o país passava. E refletia-se, na vida política, pela prevalência do 
emotivo sobre o racional, do particular sobre o geral, do interesse privado sobre o interesse 
público, sufocando a formação, na sociedade, de laços mais fortes de solidariedade; não por 
acaso observava-se a fragilidade dos partidos políticos como representantes da sociedade e 
condutores das transformações de interesse mais geral dos novos segmentos sociais que se 
desenvolviam com a modernização do país. Faltava ao Brasil uma democracia verdadeira, que 
não se restringisse ao formalismo de palavras vazias e no uso corriqueiro de fórmulas prontas. 
Mas apesar do aparente pessimismo, S. Buarque via na sociedade brasileira 
possibilidades concretas de mudanças, já que ao lado da sobrevivência de valores do iberismo 
e do homem cordial, surgiam no rastro das transformações, novos valores capazes de 
mudarem o sentido do desenvolvimento na direção de uma verdadeira democracia, num 
movimento que viria de baixo para cima, e que, para ele, poderiam ser resumidos em três 
pontos: 1) a repulsa dos povos americanos em geral (exatamente pela cordialidade ainda 
 
 
 
 
 
18 
subsistente), por regimes de governo autoritários que ferissem a autonomia do indivíduo; 2) a 
inevitabilidade do sentido das transformações, que pelo fato de solaparem o mundo rural e 
pelo cosmopolitismo da vida urbana tendiam a fortalecer os ideais democráticos; 3) a relativa 
inexistência, na sociedade brasileira, de preconceitos de raça e de cor. E acrescentava: “É 
aqui que o nosso „homem cordial‟ encontraria uma possibilidade de articulação entre seus 
sentimentos e as construções dogmáticas da democracia liberal” (HOLANDA, 1995:184). 
S. Buarque abandonava, na sua análise do processo de revolução brasileira, qualquer 
uso de esquemas pré-estabelecidos importados de fora – no dizer de SILVA DIAS (1998), ele 
se opunha a todo o tipo de generalidades que se utilizavam dos ismos (capitalismo, 
feudalismo, etc.) como categoria de análise – e que não levassem em conta as especificidades 
nacionais, os novos atores que surgiam no próprio processo de transformação social: ... 
“enfatizava certas peculiaridades inerentes aos regionalismos brasileiros, tais como a falta de 
uma burguesia ou de classes médias à feição da burguesia européia ou norte-americana” 
(SILVA DIAS, 1998:19). Embora acreditasse firmemente na revolução brasileira, S. Buarque, 
no entanto, ... “não oferece um projeto de modernização, um conjunto de medidas de 
determinado teor e dotado de uma direção clara que orientasse uma ou outra via de 
modernização rumo à sociedade futura” (PIVA, 2000:153). Isso porqueele não via a história 
numa perspectiva determinista, como uma sucessão de etapas que deveriam ser cumpridas, 
necessariamente. 
Esta falta de um projeto claro e esta concepção de história não podem ser analisadas, 
no entanto, fora do contexto do movimento Modernista (1922-1945) do qual S. Buarque foi 
uma das figuras mais importantes e destacadas. De acordo com A. Cândido o ... “Modernismo 
importa (...) na libertação de uma série de recalques históricos, sociais, étnicos, que são 
trazidos triunfalmente à tona da consciência literária. ... A sua expansão coincidiu com a 
radicalização posterior à crise de 1929, que marcou em todo o mundo civilizado uma nova 
fase de inquietação social e ideológica. Em conseqüência manifestou-se uma ida ao povo...” 
(CANDIDO, 2000:110;114). O sentido da história deveria ser, então, buscado nas classes 
emergentes urbanas, nos grupos sociais „outros‟, na pluralidade de sujeitos e ...“em dar voz 
aos oprimidos e desvendar processos informais (não determinantes) da história do Brasil” 
(SILVA DIAS, 1998:21). A falta de clareza em relação a um projeto para o país seria, então, 
resultante de uma opção por romper-se com o passado cultural brasileiro e com esquemas 
 
 
 
 
 
19 
rígidos de análise. Almejava-se a construção de um novo pensamento desvinculado das 
ideologias importadas e dos formalismos pré-concebidos. 
O problema de “Raízes do Brasil” e da concepção de revolução de S. Buarque não 
estão, por isso, em sua falta de projeto, mas aparecem principalmente no processo de 
transformação dos pares dicotômicos cuja base fundamental era a da superação dialética do 
homem cordial pelo homem civilizado ou do iberismo pelo americanismo. O atraso, o 
passado, as „nossas raízes‟, constituíram o homem cordial que era a base da nacionalidade. A 
„nossa revolução‟, no entanto, implicava na superação dos valores desse homem cordial e na 
assimilação de novos valores do homem moderno ou civilizado. Mas essa assimilação não se 
faria pela simples negação do homem cordial, isto seria impossível, já que ele era o passado 
do brasileiro a sua base constitutiva. Nas palavras de um comentador haveria aí uma clara 
ambigüidade em S. Buarque, já que ele pregava ... “ao mesmo tempo, que a 
americanização/modernização deve se basear no tipo brasileiro, na sua realidade, nos fatores 
internos (semeador), potencializando-se suas qualidades” ... ambigüidade que ... “Holanda 
não se preocupa com tentar resolvê-la teórica ou retoricamente.” (PIVA, 2000:154). 
Isto quer dizer que o novo homem civilizado (moderno, americano) deveria ser 
fundado nos valores do passado dos quais o homem cordial era o seu portador. Esse 
americano não seria uma simples transposição do elemento externo para a realidade brasileira, 
mas antes um americano nacionalizado. Esta perspectiva configuraria aí uma influência nítida 
da antropofagia modernista: o americano, elemento externo seria abrasileirado aproveitando-
se o que há de positivo na nacionalidade já existente (PIVA, 2000:156). 
A ambigüidade que Piva vê em S. Buarque, na verdade não se apresenta apenas 
teoricamente; a ambigüidade marca sobretudo a própria formação da nacionalidade e o 
processo real de transformação brasileira. O passado colonial e a sociedade patriarcal fundada 
na grande propriedade rural e no trabalho escravo imprimiram uma marca profunda no país, 
sendo o homem cordial um de seus produtos que subsistem até hoje (para o bem e para o 
mal). Se S. Buarque, quando olhou o passado, e esclareceu de maneira ímpar o início do 
processo de transformação da sociedade brasileira, já não o conseguiu da mesma maneira 
quando delineou os contornos da „nossa revolução‟ e tentou ... “indicar os caminhos para 
libertar-se..” do passado (SILVA DIAS, 1998:11); muitas das transformações esboçadas por 
 
 
 
 
 
20 
S. Buarque em “Raízes do Brasil” até hoje não aconteceram, fazendo com que ele pareça 
hoje, excessivamente otimista com a velocidade e a intensidade das mudanças previstas no 
passado. O homem cordial é ainda hoje uma presença constante na vida política e social 
brasileiras e o homem americano (o tipo ideal de S. Buarque), construído a partir do 
americano do início do século XX, foi engolido pela hegemonia do mercado e o advento da 
globalização financeira que configura o capitalismo selvagem pós moderno. 
 
 
 
 
 
21 
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