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Aula 11 Depressao Duran (1)

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Depressão
DURAN A.P. Depressão. In: Abreu CN, Roso M. Psicoterapias Cognitiva e Construtivista: novas fronteiras da prática clínica. Cap. 16, pag. 195-202. Porto Alegre, 2003.
Psicologia Cognitiva
Profª Msc Milena Coelho
UNIP-DF
Perspectiva construtivista X Transtorno psiquiátrico enquanto categoria nosológica
Contradição na posição a respeito das possibilidades e necessidades de categorização (o construtivismo pende claramente para uma visão idiográfica, e a psiquiatria para uma visão nomotética) e na dimensão patologizante, intrínseca à psiquiatria e exterior à visão construtivista.
No construtivismo, a prática só pode ser discutida no interior do universo simbólico que lhe dá significação e seria contraditório, portanto, destaca-la desse universo para fins de comparação com práticas referidas a outro universo.
Depressão = objeto da cultura que serve de ferramenta simbólica para dar significado a certas experiências do viver coletivo, criando possibilidade de ação.
Dois sistemas de significação
Em cada cultura, há um sistema de significação.
Qual o “lugar” da depressão no sistema cognitivista e no construtivista?
O sistema cognitivista é compatível com a visão de transtorno psiquiátrico e volta-se para sua remoção. Depressão = processo externo ao observador, a quem cabe intervir para alterar o processo na direção da saúde, que aparece no observado.
O sistema construtivista entende uma natureza pró-ativa dos processos cognitivos e auto-organizadora do desenvolvimento, vendo os transtornos como não patológicos, mas como desdobramentos de modos de significar a existência em termos de uma dinâmica afetivo-cognitiva.
O sistema construtivista busca promover a autocompreensão, uma possibilidade de reestruturação pessoal.
Depressão = certo modo percebido de pensar, sentir e agir.
A “depressão” estaria em quem usa a categoria, não em quem é categorizado.
O construtivismo trata a depressão em termos de objeto cultural, tirando desse objeto a sua presumida objetividade naturalista.
O conhecimento é uma criação, destinada a organizar a experiência pessoal, não como um desvelamento de uma realidade independente de quem conhece.
Conhecimento da realidade = co-construção ancorada nas experiências de interação social.
Terapeuta precisa ser cuidadoso, pois não está em condições de fazer afirmações seguras sobre a veracidade ou não de seus julgamentos, percepções, crenças.
A construção da organização pessoal
Self = Eu (nível de conhecimento tácito, corpóreo, de natureza afetivo-emocional, domínio emocional) + Mim (conhecimento consciente, de natureza linguística, auto-imagem consciente)
O self promove o desenvolvimento de diferentes organizações de significado pessoal:
Organização depressiva
Organização fóbica
Organização obsessivo-compulsiva
Organização de desordens alimentares
São processos de ordenação, não há nenhum tipo de conteúdo de conhecimento específico.
Em princípio são normais, psicóticas ou neuróticas, podendo variar essas dimensões dependendo da resiliência e da generatividade com que se desenvolvem ao longo da vida.
O processo terapêutico volta-se para a análise do desenvolvimento pessoal. 
O terapeuta conduz o paciente no percurso de sua história de experiências, em movimentos de zoom in e zoom out, aprofundamentos e distanciamentos, em que os processos de experienciar e explicar seriam revisitados no contexto de um diálogo terapêutico emocionalmente impregnado, permitindo uma reorganização dos significados da experiência pessoal, ou seja, uma ressignificação afetivo-cognitiva de si mesmo e de seu mundo.
Reexperiência com uma dimensão de novidade que cria oportunidade de ressignificação, ressentir da experiência original, logo o terapeuta seria uma espécie de “perturbador estrategicamente orientado”
O objetivo da terapia não será a de que o paciente mude suas crenças, mas que aumente a consciência do modo como as elabora, que inclui a compreensão da dinâmica de suas emoções, base de uma reorganização que permite novas formas de agir, sentir ou pensar.
Organização depressiva
Experienciação + explicação = Consistência e continuidade do self
Perturbação = apreendida pelo sistema que a significará como uma experiência e eventualmente ressignificará a si mesmo, em algum grau no processo de apreensão.
Fase inicial ligada às relações iniciais de apego, percebida pela criança como perdas, tendo como consequência uma estratégia defensiva de evitação de contato, desagrado e afeição.
Tais estratégias acabariam por estabilizar a experiência de solidão da criança.
A centralidade da perda resultaria em cenas prototípicas que oscilariam entre desamparo/tristeza e raiva, desenhando o Eu e o Mim.
Essa organização pessoal não pode ser considerada em princípio como patológica. Porém, o desenvolvimento na direção do enrijecimento da organização depressiva, deixando outras categorias de experiencia fora das possibilidades de significação e estreitando o horizonte pode chegar a ser intolerável.
A questão da técnica
Processo reconstrutivo, reorganizativo, do sistema de organização do significado pessoal, permitindo novas diferenciações, ampliando e flexibilizando as possibilidades de significação da experiência.
Co-participação terapeuta + cliente
Depressão como reação secundária
A depressão pode ser entendida como uma reação secundária a uma complexa sequência cognitivo-afetiva.
Emoção primária
Esquema emocional central desajustado
Conjunto persistente de cognições negativas do self
Esquema emocional preexistente = vulnerabilidade à depressão
Segundo nível de auto-avaliação = self percebido como mau por estar deprimido.
Tratamento com foco na intensificação da consciência da experiência do desamparo, e não sua evitação, através do diálogo e das técnicas de terapia vivencial, orientadas pelo tipo de dinâmica emocional que se revela no processo terapêutico.
A função da depressão
O termo depressão tem sua função no universo de relações e pode ser descritivamente útil permitindo denotar padrões razoavelmente consistentes de sentimentos, pensamentos e ações que justificam cuidados clínicos.
Coerência do sintoma
O sintoma é produzido como uma característica necessária de uma construção convincente da realidade e é produzido porque há pelo menos uma construção inconsciente em que o sintoma é compelidamente necessário.
Tais sintomas seriam funcionais quando realizassem diretamente o propósito de vida inconsciente ou não-funcionais quando fossem derivados do modo como se realiza o propósito de vida.
É importante tomar o sintoma como decorrência de uma necessidade da organização pessoal, não devendo ser tecnicamente suprimido sem que tal necessidade seja identificada e compreendida.

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