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Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 1 Divisões da Farmacologia e Conceitos básicos 1. Bibliografia - Farmacologia - Penildon - Farmacologia básica e clínica - Katzung - As bases farmacológicas da Terapêutica - Goodman & Gilman 2. Introdução Farmacologia é o estudo da interação de substâncias químicas no organismo vivo. Essas substâncias interagem com os sistemas, tecidos, células, receptores, e ao interagir, seu objetivo é buscar seu efeito terapêutico, benéfico. Na farmacologia existem diversas subdivisões: Imunofarmacologia: Uso de drogas que participam da resposta imunológica na realização dos transplantes, para fins terapêuticos. Farmacoterapia: Utilização de medicamentos para tratar, prevenir ou amenizar a patologia. Toxicologia: Estuda os agentes tóxicos, podendo ser quaisquer substâncias químicas ou agentes físicos capazes de produzir efeitos nocivos a organismos vivos. Farmacotécnica: Estuda o preparo, a manipulação e a conservação dos medicamentos, visando conseguir o melhor aproveitamento dos seus efeitos benéficos no organismo. Etnofarmacologia: Estuda o uso de preparados caseiros de drogas pela população, segundo seus costumes. Farmacognosia: Cuida da obtenção, identificação e isolamento de princípio ativo a partir de produtos naturais de origem animal, vegetal ou mineral, passíveis de uso terapêutico. Farmacogenética: Estudo das variações inter-individuais na sequência de DNA que está relacionada à resposta a uma determinada droga. Estudo da variabilidade dos indivíduos, segundo determinantes hereditários, na resposta a medicamentos, possibilitando um tratamento individualizado. Farmacocinética: Estuda o caminho percorrido pelo medicamento no organismo. Absorção, distribuição e eliminação (biotransformação e excreção) das drogas. Farmadinâmica: Estuda o mecanismo de ação dos fármacos, bem como os mecanismos moleculares relativos ao acoplamento entre a interação da droga com o tecido alvo e o efeito farmacológico. Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 2 3. Abordagem conceitual dos termos mais usados em farmacologia A droga é qualquer substância química, capaz de modificar as funções em um organismo ou tecido vivo e quando ela promove um efeito benéfico ela é chamada de fármaco ou medicamento (Farmacologia) e quando ela promove um efeito maléfico ela é chamada de tóxico ou veneno (Toxicologia). Todo fármaco pode ser um tóxico, dependendo da dose, mas nem todo tóxico pode ser um fármaco e todo fármaco é considerado uma droga e nem toda droga é considerada um fármaco e fármaco é o sinônimo de droga e medicamento. O remédio é tudo que cura, previne ou ameniza uma patologia. O medicamento é considerado um preparado farmacêutico, especialidade farmacêutico e todo medicamento é um remédio, mas nem todo remédio é um medicamento. “O medicamento ou especialidade farmacêutica – produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico. É uma forma farmacêutica terminada que contém fármaco, geralmente em associação com adjuvantes farmacotécnicos” Resolução RDC, nº 84/02 O fármaco é o princípio ativo e nele é adicionado adjuvante farmacêuticos, que incrementa no princípio ativo para dar volume ao comprimido, como por exemplo amido, celulose, talco, que não possuem ação farmacológica direta e são imprescindíveis porque se a escolha do adjuvante não for correta, o comprimido pode não conseguir ser absorvido, ou seja, o adjuvante ajuda na liberação do princípio ativo no trato gastrointestinal. O nome do medicamento é o princípio ativo e existem 3 tipos de medicamentos: Medicamento referência: é o medicamento inovador, em que a indústria farmacêutica desenvolveu o medicamento. Toda as indústrias farmacêuticas que desenvolverem medicamentos inovadores, tem um período de patente (10-12 anos), em que apenas essa indústria pode comercializar esses medicamentos. Quando o prazo da patente expira, as outras indústrias copiam o princípio ativos, podendo alterar alguns adjuvantes, sem que possa haver alterações biológicas. Medicamento genérico: é o medicamento em que passa por um teste de bioequivalência e biodisponibilidade, em que é feito um teste com 2 grupos, que um irá utilizar o medicamento referência e o medicamento genérico. Desse modo, é possível comprovar se eles são iguais biologicamente (bioequivalência). Medicamento similar: é o medicamento que até 2016 não era necessário passar pelo teste de bioequivalência. A partir de 2016 a ANVISA exige teste de bioequivalência dos medicamentos similares. Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 3 3.1 Outros termos Iatrogenia: Provoca lesão ou uma doença de forma não intencional. Causada por administração excessiva do medicamento ou hipersensibilidade do indivíduo que recebe o medicamento. Dose: É a quantidade capaz de provocar uma resposta terapêutica desejada no paciente preferivelmente sem outras ações no organismo. Posologia: Estudo da dosagem do medicamento com fins terapêuticos. Quantidade e frequência. Idiossincrasia: Reações particulares ou especiais do organismo às drogas, são nocivas, às vezes fatais e ocorrem em uma minoria de indivíduos. Mecanismo de ação: É o que a droga faz, a nível molecular, para que o organismo apresente um determinado efeito. Efeito: É o que se observa, registra e pode ser medido num organismo ou parte dele após a administração de uma droga. Efeito colateral: É o efeito observado em grande número de pacientes, que significa a ação da droga em outras partes do organismo. Efeito adverso: É o efeito observado em pequeno número de pacientes, que significa a ação não esperada da droga em determinadas partes do organismo. Formas e fórmulas farmacêuticas: Maneira como os medicamentos são preparados, apresentados e comercializados. Além do princípio ativo entram outras substâncias na composição, como veículo ou excipiente. Desenvolvimento de novos fármacos 1. Métodos de desenvolvimento O desenvolvimento é uma etapa muito importante e não para de acontecer. A cada dia que passa aumenta o número de patologias e aumenta o número de casos de paciente que se tornam resistentes e pacientes que desenvolvem muitos efeitos colaterais. Por esses motivos, é comum sempre ver o desenvolvimento de um novo medicamento, porque é necessário para colocar no mercado medicamentos eficazes e que produzam o menor número de efeitos adversos possíveis, porque ele precisa ter uma vantagem terapêutica em relação aos outros que já estão no mercado. Os novos fármacos possuem essas vantagens, entretanto é necessário cuidado, porque não é conhecido todas os efeitos. Como um fármaco pode ser desenvolvido? Quais as maneiras e métodos de desenvolvimento? 1.1 Ao acaso, ou seja, a intenção não era ter um medicamento para determinada patologia e no meio dos testes os pesquisadores observam que ele tem maior benefício para outras patologias, um exemplo clássico é a descoberta da penicilina, que é um dos principais antibióticos mais usados na clínica. Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 4 1.2 Triagem empírica, que é uma busca aleatória de diferentes e diversos compostos, que serãotestados para tratar determinada patologia e assim será possível perceber se a substância altera de alguma maneira a patologia, entretanto as chances de sucesso é pequena. 1.3 Extração de fontes naturais, que é um dos principais métodos, devido a diversidade da flora brasileira e devido a isso há a pesquisa de princípios ativos de fontes naturais, um exemplo clássico é a Atropina, Morfina, que foram desenvolvidos através de fontes naturais. 1.4 Modificação molecular, que parte de uma molécula ou substância química conhecido que será modificado quimicamente, e assim pode-se obter um medicamento que tem atividade farmacológica maior ou menor, como por exemplo com a Morfina, que ao ser modificada, descobriu-se o Alfentanil, mil vezes mais potente que a Morfina. Em casos de dor crônica utiliza-se a Morfina para não sentir dor e todo mundo que utiliza morfina tem o principal efeito colateral, provocando uma depressão respiratória e isso pode ser controlado, retirando a Morfina e administrando uma substância que bloqueie o receptor de morfina e ao bloquear, a morfina modificada, continua tendo afinidade pelo receptor e por não ter um encaixe perfeito no receptor, não vai produzir o efeito da morfina e vai ocupar o receptor e ao ocupar a morfina normal que está no organismo não consegue se ligar no receptor e essa substância chama-se naloxona, derivada da modificação da Morfina. 1.5 Latenciação, que é desenvolver um medicamento que inicialmente é inativo, ou seja, para ele exercer ação farmacológica precisa sofrer ação enzimática, precisa passar pela metabolização para gerar o seu metabólito ativo e produzir ação farmacológica e esse medicamento é chamado de pró-fármaco ou pró-droga, que possui algumas vantagens clínicas. Muitas vezes é um medicamento que sofreu uma modificação molecular que foi introduzido uma estrutura química de um transportador, que irá transportar a molécula de medicamento para o seu local de ação e ele irá sofrer uma clivagem e ficará a molécula do fármaco, ou seja, irá produzir menos efeito colateral, porque irá agir exatamente no local necessário e assim o medicamento será mais seletivo, ligando no receptor necessário e quanto mais seletivo, menos efeito colateral é produzido e na maioria das vezes é mais caro, devido a sua tecnologia, para tornar mais seletivo e com menor toxicidade. Pode ter outro tipo de medicamento pró-fármaco, como o predinisona e quando o paciente utiliza e ela vai para o fígado, ela se torna predinisolona, que é o metabólito ativo e a necessidade de utilizar a predinisolona é indicada para pacientes que possuem problemas hepáticos, porque assim a predinisolona não precisa ser metabolizada pelo fígado. Outro exemplo é o diazepam, que é o fármaco ativo e quando chega no fígado é metabolizado e gera mais metabólito ativo e um deles é o oxizazepam e é indicado para paciente com problemas hepáticos também. 1.6 Planejamento racional, que é a forma mais interessante de se criar um medicamento, porque normalmente é criado para determinada patologia. Na hipertensão, a angiotensina II é responsável por ser vasoconstritora e se quiser diminuir a pressão arterial, seria necessário inibir a enzima ECA, e é possível criar um medicamento capaz de impedir a ligação dessa enzima em seu receptor e em um planejamento racional, estuda a molécula da enzima ECA e observa-se o seu sítio ativo, podendo criar uma enzima que bloqueie o sítio ativo, que no caso é o captopril. O processo de criação pode demorar mais de 10 anos, porque são necessários vários testes, para avaliar os riscos e benefícios, ou seja, a sua segurança. Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 5 2. Etapas para o desenvolvimento de novas drogas 2.1 Testes pré-clínicos: Realizados em animais, com o objetivo de avaliar a eficácia, se ele terá uma ação farmacológica favorável, com melhora clínica, estabelecer uma possível faixa de dosagem, conhecer a segurança do medicamento e estabelecer a toxicidade da droga e dentro disso, avalia-se 3 tipos: Toxicidade aguda, onde utiliza-se uma dose alta por 3 dias e avalia os órgãos e suas funcionalidades e se ela foi capaz de produzir uma toxicidade aguda no animal e assim estabelece a DL 50, chamada de dose letal capaz de produzir morte em 50% dos animais. Toxicidade subaguda, na utilização das doses medianas em um período de tempo de normalmente 2 semanas e avalia a funcionalidade dos órgãos. Toxicidade crônica, utilização de doses terapêuticas para o animal durante um tempo prolongado, como 3 meses e dentro disso é possível conhecer carcinogenicidade, ou seja, a capacidade desse medicamento de produzir uma mutação e consequentemente gerar um câncer e também a teratogenicidade, capacidade de gerar má formação fetal. Entretanto existem limitações na utilização de animais para testes de medicamentos, porque é difícil extrapolar os resultados de um animal para um homem, tanto como a eficácia terapêutica, faixa de dosagem e a as reações adversas, difícil utilização de grandes números de animais de experimentação e os efeitos adversos raros são improváveis de serem detectados 2.2 Testes clínicos: São subdivididos em 4 fases e realizados em seres humanos FASE 1: A segurança e a faixa de dosagem Observar e conhecer a segurança do medicamento e a faixa de dosagem segura para o ser humano. Para realizar a fase, utiliza-se voluntários sadios, sãos, começando com doses mínimas, a baixo da dose terapêutica e vai aumentando as doses gradualmente, até que um grupo começa a apresenta a apresentar reações adversas leves e assim é estabelecida a faixa de dosagem. Número necessariamente reduzido de voluntários sãos. Variabilidade de respostas farmacológicas. FASE 2: A eficácia Conhece a eficácia do medicamento em paciente com a doença para a qual a droga é considerada eficaz. Existem 2 situações que devem acontecer – um grupo com mais ou menos 50 pacientes, que irão utilizar em ensaios abertos e placebo, tanto o paciente e o médico sabem da pesquisa e é necessário o duplo cego, que nem o paciente e o médico sabem para que a substância está sendo testada. IIA: 50 pacientes (ensaios abertos e placebo) IIB: 50 a 100 pacientes (duplo cego) Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 6 FASE 3: O perfil do fármaco Grandes números de pacientes em centros de pesquisa médica recebem o medicamento. Estudo do aparecimento de reações tóxicas, interações medicamentosas, bioequivalência (alteração de formulação). Assim é possível detectar 90% do total de conhecimento do fármaco. FASE 4: A revisão, o aprofundamento e a vigilância É voluntária e envolve a vigilância dos efeitos terapêuticos do medicamento após sua comercialização, ao se concluir a fase III. Investigação do surgimento das Reações Adversas ao Medicamento e indicações para outros tratamentos. Objetivo de estudar e melhorar o conhecimento farmacológico do medicamento, aprofundando o conhecimento, porque utiliza muito mais pacientes e assim aumenta a chance de encontrar os efeitos colaterais, interação medicamentosa e assim passa a se conhecer o perfil do fármaco. Desse modo consegue conhecer até 90% das características farmacológicas e se o medicamento for interessante a ANVISA aprova o medicamento para ser comercializado e não para de ser testado. Farmacovigilância – fase pós-comercialização – monitora a eficácia e segurança durante o emprego clínico. Um exemplo clássico é a Talidomida, que foi desenvolvidopara tratar enjoos em mulheres gestantes e os filhos começaram a apresentar alterações nos membros inferiores e superiores. Então a farmacovigilância é o modo de investigar os efeitos que o medicamento em estudo está tendo na população em geral, podendo contribuir para novas melhoras. Vias e sistemas de administração de medicamentos Farmacocinética é o estudo do caminho do fármaco desde o momento de administração até excreção. É dividida em absorção, distribuição, biotransformação e excreção. Não tem como um medicamento sofrer absorção sem antes ser administrado e existem alguns autores que trazem a administração como uma etapa e a escolha da via de administração é imprescindível para que as outras etapas aconteçam de maneira adequada, pois se a via não for a mais indicada, de nada vale. Saber escolher a via é uma etapa crítica para ter uma resposta terapêutica adequada. Administração é a capacidade de introduzir no organismo ou em um compartimento do organismo um medicamento que terá um fim terapêutico e existem fatores que devem ser levados em consideração antes da escolha. Qual a via? Como o paciente deve usar? Qual o efeito desejado, local ou sistêmico? No caso de efeito sistêmico, tem que escolher vias de administração que propiciem que o fármaco ultrapasse membranas e chegue a corrente sanguínea e no caso de efeito local, o medicamento será administrado onde o efeito é desejado. Quais as propriedades do medicamento? A idade do paciente precisa ser conhecida, pois para cada idade existe uma via de administração conveniente. O tempo de início de ação do fármaco, duração do tratamento e a obediência do paciente ao regime terapêutico são detalhes que devem ser levados em conta. Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 7 Fatores que interferem na escolha da via: • Efeito local ou sistêmico • Propriedades da droga e da forma farmacêutica administrada • Idade do paciente • Conveniência • Tempo de início de ação • Duração do tratamento • Obediência do paciente ao regime terapêutico 1. Regras gerais na administração de medicamentos Todo medicamento deve ser prescrito por medico ou odontólogo (medicamentos de uso clínico para odontologia). A prescrição deve ser escrita, assinada, legível e datada para evitar problemas para o paciente e para o médico. Nunca administrar medicamento sem rótulo e vencidos. Em um medicamento vencido, o seu princípio ativo começa a sofrer degradação natural e os adjuvantes também perdem a sua função e assim ele perde cerca de 20% do efeito farmacológico após a data de vencimento. Líquidos utilizados para administração, pois dependendo do medicamento o líquido pode atrapalhar a degradação do medicamento. Água não interage com o medicamento e por isso é o mais indicado e o volume de líquido ingerido deve ser em torno de 200 mL. Não administrar medicamentos preparados por outras pessoas. Inteirar-se sobre as diversas drogas: cuidados específicos ao administrá-las. Escolher o melhor horário; Inteirar-se sobre a incompatibilidade ou não de mistura de drogas. Alguns medicamentos, precisam ser armazenados corretamente, pois se alteram na presença da luz, do ar ou do calor. Orientar o paciente quanto: ao nome do medicamento; à ação da medicação; ao procedimento; ao autocuidado (horário, doses, cuidados gerais). 2. Administração via Oral A via oral para administração de fármacos é a via mais comum e conveniente para os pacientes e pode ser chamada também de via interna ou via enteral. Pode ter ação local ou sistêmica, ou seja, terá efeito local ou será absorvido pela mucosa TGI, boca, intestino delgado, reto, estômago e intestino grosso. Formar líquidas mais comuns: soluções aquosas (duodeno), suspensões (dissolvida em soluções gastrintestinais), xarope e emulsão. A solução já está solubilizada e a suspensão precisa ser solubilizada nos líquidos corporais e por isso a solução tem efeito mais rápido. Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 8 Formas sólidas mais comuns: comprimidos, cápsulas (estabilidade e controle), drágeas. Desintegração e dissolução. A drágea possui o princípio ativo no seu interior e o seu revestimento externo para proteger o comprimido da ação do suco gástrico e quem possui ação farmacológica mais rápida é aa cápsula porque é feito de gelatina, sofrendo desintegração mais rapidamente. Medicamentos de depósito, liberação modificada – venlafaxina é um medicamento administrado por via oral e além dele existe a venlafaxina XR, que possui liberação prolongada e por isso é usado menos vezes ao dia e assim mantém constante a concentração plasmática da droga no sangue e se isso é mantido, garantindo redução da frequência posológica, efeito terapêutico mais constante e melhor obediência ao regime terapêutico. Contraindicação: pacientes com dificuldade de deglutição, inconscientes, se for necessário um efeito imediato e em pacientes com náuseas e vômitos Cuidados importantes: Certificar-se da dieta e jejum do paciente (Interações com medicamentos e alimentos) Homogeneizar os medicamentos em suspensão antes de colocar no recipiente. Medicamento líquido precisa ser prescrito em volume 3. Administração via Sublingual O medicamento é depositado na mucosa oral e por isso possui início de ação muito rápido, porque ele é formulado para ter menor dureza e pelo fato da mucosa ser muito vascularizada o fármaco é captado para a corrente sanguínea mais rapidamente e também, como a mucosa sublingual não possui queratina, isso propicia uma aceleração na absorção do medicamento. Procedimentos e Cuidados Específicos: Enxaguar a boca com água e remover resíduos alimentares. Não administrar por via oral. A via sublingual possui ação mais rápida do que a via oral. 4. Administração via Retal A via retal é uma via alternativa para pacientes que são crianças, inconscientes, com dificuldade com deglutição ou para medicamentos que sofram ação do ácido clorídrico, causando irritação gastrintestinal intensa e sofrem intenso metabolismo de primeira passagem. Possuem ação local ou sistêmica e se fundem com a temperatura do paciente. Em forma de supositórios sólidos ou enemas. Inserção, dissolução, liberação da droga, efeito local ou sistêmico. Excipiente ideal: atóxico, não irritante, fusão em 37ºC, solubilidade diferente do fármaco. Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 9 Armazenados em geladeira e no momento do uso colocar na palma da mão para chegar a temperatura desejada, colocar o paciente deitado de lado e com as pernas flexionadas e é necessário que fique retido por 20 a 30 minutos após a aplicação, somente após esse tempo pode levantar-se. O medicamente pode ter um leve efeito laxativo. 5. Administração via Intranasal Na via intranasal o medicamento é depositado diretamente na cavidade nasal e os fármacos podem ter efeito local e sistêmico (instáveis no TGI ou metabolismo de 1ª passagem). Soluções isotônicas, tamponadas (pH 5,5 a 6,5), estabilizador e preservativo. Os descongestionantes nasais agem apenas no local onde foram aplicados, mas podem cair na corrente sanguínea e ter uma ação sistêmica. Entretanto, o mais comum é que tenha a ação local e a maioria desses fármacos possuem substâncias vasoconstritoras, que em um período prolongado de uso ou em altasdoses pode-se apresentar uma congestão rebote. A congestão rebote acontece porque se o organismo receber com uma frequência alta esse descongestionante com substância vasoconstritora, terá uma vasoconstrição intensa na região intranasal (podendo ter esse efeito em outros locais quando absorvido) e a medida que contrai por um mecanismo de feed-back negativo o organismo relaxa, dilatando e mais congestão nasal o paciente terá e assim ele pode-se tornar “dependente de descongestionante” e por isso deve ter uso cauteloso. A congestão nasal é dificuldade de respirar, e significa que os vasos estão dilatados pelo processo inflamatório e edema nessa região e a maioria dos medicamentos têm efeito vasoconstrição e quando o vaso contrai facilita o fluxo aéreo do paciente, melhorando a sua congestão. 6. Administração via Inalatória A via inalatória é diferente da via intranasal e para ser inalatória precisa atingir os alvéolos pulmonares, podendo ter ação local ou sistêmica. No caso de ação local, um exemplo é o medicamento brondodilatador para asma, que provoca broncodilatação, melhorando as crises asmáticas. No caso de ação sistêmica, como o pulmão tem uma área de extensão muito grande e os alvéolos são irrigados e o epitélio que forma os pulmões é não queratinizado e tudo isso facilita a absorção dos medicamentos, como por exemplo, anestésicos gerais inalatórios. Então a boa absorção alveolar é devido a: Membranas biológicas de fácil travessia Grande superfície de absorção Rica vascularização sanguínea Dispositivos: nebulizadores, inaladores pressurizados dosimetrados, inaladores de pó seco Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 10 7. Administração via Auricular Na via intra-auricular, o medicamento é depositado diretamente no ouvido, no canal auditivo. O ouvido é formado por 3 camadas, formando o ouvido interno, médio e externo e no caso de medicamentos em que a via de administração utilizada é auricular, o problema tratado será no ouvido externo. No caso do ouvido médio e interno os medicamentos são utilizados por vias sistêmica, porque é necessário que caia na corrente sanguínea para atingir o local correto. Sendo assim, medicamento via intra-auricular possui apenas efeito local. Medicamentos de via auricular são utilizados para prevenir ou tratar processos inflamatórios e infecciosos e para facilitar a saída do cerúmen e corpo estranho. 8. Administração via Oftálmica Medicamentos administrados por via oftálmica são na forma de aplicação de colírio ou pomada na conjuntiva ocular (saco conjuntival inferior) e não diretamente no globo ocular porque podem haver adjuvante na formuação que podem ser irritativos para o globo ocular. Cuidados: Evitar contato direto no globo ocular; Fechar os olhos (30 s) melhor absorção. Antes da aplicação do medicamento, remover secreções e crostas. 9. Administração via Intravaginal Medicamento que possuem a via de administração intravaginal normalmente são usados para tratar infecções no canal vaginal, como infecções fúngicas, por exemplo a candidíase vaginal. Não é adequada para administração de drogas com a finalidade de efeitos sistêmicos. Podem ser utilizados na forma de óvulos semi-sólidos, comprimidos vaginais, pomadas, géis, cremes, líquidos, que são introduzidos ou inseridos diretamente no canal vaginal. Creme, pomada e gel, normalmente possuem um aplicador para inserir no canal vaginal Esses medicamentos amolecem, fundem e se espalham e necessitam de orientação quanto às técnicas de administração. Tende a ter uma ação local, caem pouco na corrente sanguínea devido ao Ph da região, que pode dificultar a absorção dos medicamentos, pela presença de secreção e muco viscoso que dificulta a passagem dos fármacos e devido ao ciclo menstrual da mulher porque existem etapas em que a mulher descama o endotélio e a tendência é que o medicamento seja eliminado e não absorvido pelo organismo. Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 11 10. Administração via Tópica Medicamentos utilizados por via tópica são depositados ou inseridos sob a pele. Possuem ação local ou sistêmica, dependendo das características físico-químicas do medicamento. Por exemplo, fármacos com peso molecular alto, que contenham cargas elétricas e que são hidrossolúveis tem dificuldades de ultrapassar membranas e atingir a corrente sanguínea. Além disso a pele é formada por 3 camadas, pelo extrato córneo, epiderme e derme e a camada vascularizada é a derme. Entretanto, para um medicamento chegar na derme, ele precisa passar pelo extrato córneo que por ser queratinizado serve como uma barreira para a passagem de medicamentos dificultando a sua ação sistêmica. Além disso, existem formulações que são utilizadas por via tópica que possuem ação sistêmica, como adesivos transdérmicos (região limpa, seca e sem pelos), chegando até a derme, sendo absorvido pela corrente sanguínea, como os contraceptivos hormonais, sendo uma alternativa terapêutica, 3 adesivos por 3 semanas, porque com o adesivo, a formulação é responsável por liberar uma concentração constante. Cuidados: Limpeza da pele/secagem Evitar regiões com injúria, atrito constante, pelos, sudorese excessiva A nicotina é um exemplo de adesivo transdérmico, utilizado em dependentes de nicotina e de acordo com a quantidade de números de cigarros é escolhido o adesivo adequado e gradativamente ele vai diminuindo a concentração dos adesivos e assim consegue acabar com a dependência. 11. Administração via Parenteral A via parenteral é sinônimo de via injetável, significa que o medicamento será administrado em uma cavidade do organismo. Tipos: Subcutânea, Intramuscular, Endovenosa ou Intravenosa e Intradérmica. Vantagens: • Pacientes que não cooperam, vômitos e náuseas • Fracamente absorvidas por via oral • Situações de emergência Desvantagens: • Pessoal treinado • Processos assépticos • Usualmente, alguma dor • Efeitos difíceis de reverter • Inconveniente em administrações frequentes 11.1 Intradérmica –É a introdução de pequena quantidade de medicamento (0,1 ml) entre a derme e a epiderme. Possui a finalidade de teste de sensibilidade alérgica e aplicação de vacinas. A angulação da agulha deve ser mínima com relação ao tecido - 15 graus. Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 12 11.2 Subcutânea – É a introdução de uma droga no tecido subcutâneo ou hipoderme, com uma angulação da agulha é de 45 graus em relação ao tecido e o volume é de de 0,5-1,5 ml. Locais para aplicação: partes externas e superiores dos braços; laterais e frontais das coxas; região gástrica e abdomen; nádegas; costas (logo acima da cintura). A finalidade desse tipo de administração é em terapêutica lenta e contínua. A insulina é um exemplo e a administração repetida pode trazer consequências, por exemplo a lipodistrofia, que é uma alteração da camada do tecido subscutâneo no local onde a injeção está sendo administrada e se for injetado nos nódulos de gordura, é possível ter crises hiperglicêmicas, sendo interessante o rodízio em diferente locais. Lipoatrofia (camada afunda) e Lipohipertrofia (camada do tecido cresce). 11.3 Intramuscular – É a introdução de medicamentos nas camadas musculares e utilizado numa angulação de 90 graus e o volume máximo depende do músculo. Umafinalidade é a rerapêutica de efeito relativamente rápido e possui efeito sistêmico. Encontrado na forma de soluções aquosas ou oleosas. Locais para injeções IM dependem das condições da musculatura, do volume do medicamento, do tipo de medicação, da preferência do paciente e injeções IM não devem ser administradas com o paciente de pé. Locais: • Ventroglúteo - Vantagens: Longe de nervos; grandes vasos, definida anatomicamente; grande massa muscular. Desvantagens: Treinamento. • Dorsoglúteo - Vantagens: Larga massa muscular; paciente não visualiza. Desvantagens: Próximo a nervos; grandes vasos; assepsia da região. Obs: não é indicada para RN; < 1 ano. • Deltóide – Vantagens: Fácil acesso; aceito pelo cliente. Desvantagem: Pequena massa muscular; próximo ao nervo radial; pequenos volumes. • Vastolateral – Vantagens: Larga massa muscular; indicação p/ criança (RN); livre de nervos e vasos sanguíneos. Desvantangem: Treinamento Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 13 11.4 Endovenosa – É a introdução do medicamento diretamente na corrente sanguínea (basílica ou cefálica do antebraço). A finalidade é terapêutica com efeito sistêmico rápido e para administrar medicações que irritam o tecido. As vantagens são efeito rápido, pode ser administrado grandes volumes, substâncias irritantes nos tecidos, é possível controlar a dose e as desvantagens são que há risco de embolia, pode haver reação anafilática, choque pirogênico e é imprópria para subatâncias insolúveis e oleosas. Via alternativa para administrar medicamentos em pacientes com náuseas e vômitos 11.5 Intra-articular 11.6 Intracardíaca 11.7 Intratecal – depositado diretamente no SNC, para atingir células do SNC, onde o medicamento por via endovenosa não atinge devido a barreira hematoencefálica 11.8 Intra-arterial Prescrições médicas Receita é um documento formal e escrito que estabelece o que deve ser dispensado ao paciente e como o paciente deve usá-lo. Uma receita pode ter várias prescrições. Prescrição é o ato de definir o medicamento a ser consumido pelo paciente, com a respectiva dosagem e duração do tratamento. Em geral, esse ato é expresso mediante a elaboração de uma receita médica. Toda receita deve ter o nome do medicamento prescrito pelo nome genérico ou na forma da substância química/princípio ativo, ou seja, deve ser prescrito pela sua DCB (Denominação Comum Brasileira), que nada mais é que o nome genérico ou o nome da substância ativa do medicamento. Se o nome comercial for especificado a farmácia do SUS não pode dispensar o medicamento genérico ou qualquer outro que esteja lá. O farmacêutico pode trocar o medicamento referência pelo medicamento genérico, porque eles são intercambiáveis, porque são bioequivalentes. Entretanto, se o médico não desejar que haja essa troca ele precisa colocar na receita que “não autorizo a substituição”. Os medicamentos são classificados em 3 categorias: 1. Medicamentos isentos de prescrição (MIPs ou OTCs) São os “medicamentos de venda livre”, internacionalmente conhecidos como produtos “OTC” (over the conter – “sobre a prateleira”), tais quais, por exemplo, antiinflamatórios, analgésicos, antitérmicos, antialérgicos, elaxantes musculares etc., vendidos em gôndola de supermercados. Aqueles cuja dispensação não requerem autorização, ou seja, receita expedida por profissional habilitado. Entretanto ele necessita de uma orientação para ser usado, como por exemplo o Paracetamol, que é um analgésico e antipirético, quando usado de maneira indevida pode ter reações adversas graves, porque é hepatotóxico, podendo causar lesão no fígado utiliza-se 4 gramas desse medicamento e normalmente é usado de 6 em 6 horas, dando no total quase 4 gramas e por isso pode matar por insuficiência hepática quando Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 14 utilizado de maneira errónea. Por isso, ao indicar esses medicamentos é importante fazer uma prescrição e explicar a posologia, para que não haja erro no seu uso, por parte do paciente. 2. Medicamentos Tarjados não controlados Os rótulos desses medicamentos devem ter uma faixa horizontal de cor vermelha abrangendo todos os lados, contendo os dizeres: “venda sob prescrição médica”. Esse medicamento para ser dispensado pela drogaria precisa da apresentação da receita e essa receita não precisa ficar retida e são prescritos em receita comum. Receita comum - utilizada para a prescrição de medicamentos anódinos e medicamentos de tarja vermelha, com os dizeres “venda sob prescrição médica” – segue as regras descritas na Lei 5.991/73. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 15 Lei 5991/73- CAPÍTULO VI - Do Receituário Art. 35 - Somente será aviada a receita: a) Que estiver escrita a tinta, por extenso e de modo legível, observados a nomenclatura e o sistema de pesos e medidas oficiais; b) Que contiver o nome e o endereço residencial do paciente e, expressamente, o modo de usar a medicação; c) Que contiver a data e a assinatura do profissional, endereço do consultório ou da residência, e o número de inscrição no respectivo Conselho Profissional. Dados da prescrição: • Cabeçalho – impresso, inclui nome e endereço do profissional ou da instituição onde trabalha (clínica ou hospital), registro profissional e número de cadastro de pessoa física ou jurídica; pode ainda conter a especialidade do profissional, desde que registrada em um CRM. • Superinscrição – constituída por nome e endereço do paciente, idade, quando pertinente, sem a obrigatoriedade do símbolo, que significa “receba”; por vezes, este último é omitido e no seu lugar se escreve “uso interno” ou “uso externo”, correspondente ao emprego de medicamentos por vias enterais ou parenterais, respectivamente. • Inscrição – compreende o nome do fármaco, a forma farmacêutica e sua concentração. • Subinscrição – designa a quantidade total a ser fornecida; para fármacos de uso controlado, esta quantidade deve ser expressa em algarismos arábicos, escritos por extenso, entre parênteses. • Adscrição – é composta pelas orientações do profissional para o paciente. • Data, assinatura, carimbo e número de inscrição no respectivo conselho de Medicina, Medicina Veterinária ou Odontologia Sempre colocar a via de administração e numerar os medicamentos: 1- Metformina 750 mg – 1 cx ou uso contínuo Tomar 1 comp. de 12/12h por uso contínuo 2- Hidroclorotiazida 25 mg – 1 cx Tomar 1 comp de 12/12h por uso contínuo 3- Nimesulida 100 mg – 10 comprimidos Tomar um comprimido de 12/12h durante 5 dias Sempre colocar o nome do medicamento e a dosagem juntos e depois de um traço colocar o número de caixas ou comprimidos. É recomendável colocar o número de comprimidos, porque dependendo da indústria farmacêutica a caixa pode possuir uma determinada quantidade de comprimidos diferente de outra indústria. Além disso, a posologia sempre em horas e nunca em quantas vezes por dia. Ao terminar de escolher os medicamentos, traçar, assinar e datar e no verso da receita pode-se colocar recomendações. Ao entregar a receita, sempre explicar a receita para o paciente e tirar as dúvidas. Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV16 3. Medicamentos de uso controlado São aqueles medicamentos cujos princípios ativos são substâncias sujeitas a controle especial necessitando de procedimentos específicos para sua prescrição e dispensação. As formas de comercialização dessas substâncias estão previstas na Portaria 344/98 – medicamentos que geram dependência física e/ou psíquica. Os fármacos controlados são medicamentos que necessitam de receita para serem dispensados e uma via dessa receita deve ficar retida na drogaria e outra via é fornecida ao paciente. 3.1 Medicamentos da lista C1 (Outras substâncias sujeitas a controle especial) e C5 (Anabolizantes) Possuem tarja vermelha na embalagem com o dizeres “venda sob prescrição médica e só pode ser vendido com retenção de receita”, como antidepressivos, anticonvulsivantes. Os medicamentos C1 e C5 são prescritos na chamada receita de controle especial, que possui data de validade para um mês para ser usada e limite de número de caixas necessárias para um mês – com 2 vias. Receita de controle especial – utilizada para a prescrição de medicamentos de tarja vermelha, com os dizeres “venda sob prescrição médica – só pode ser vendido com retenção da receita”, como substâncias sujeitas a controle especial, retinoicas de uso tópico, imunossupressoras e antirretrovirais, anabolizantes, antidepressivos etc. – listas “C”. Em duas vias, utilizada para a prescrição de substâncias e medicamentos das listas “C1”, “C4”, “C5” e adendos das listas “A1”, “A2” e “B1”. Validade: 30 dias, em todo o território nacional. Número de medicamentos por receita: no máximo três substâncias ou medicamentos das listas “C1” e “C5” e cinco substâncias ou medicamentos da lista “C4”. Quantidade máxima/receita: 5 ampolas por medicamento injetável e quantidade correspondente a 60 dias de tratamento para outras formas farmacêuticas. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA Só pode ser vendido com retenção de receita Só Pode ser Vendido com Retenção da Receita Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 17 3.2 Medicamentos das listas C2 (Retinóides de uso sistêmico) Medicamentos usados para tratar a pele e de uso oral – isotretinoina (Roacutan). Serão dispensados mediante notificação de receita especial (branca) e deverá estar acompanhada de “Termo de Consentimento Pós- Informação”, fornecido pelos profissionais aos pacientes alertando-s que o medicamento é pessoal e intransferível, e das suas reações e restrições de uso. Notificação de receita especial para retinoides sistêmicos – cor branca, para medicamentos relacionados na lista “C2” (substâncias retinoides de uso sistêmico). Validade: 30 dias, somente no estado emitente. Quantidade máxima/receita: 5 ampolas por medicamento injetável. 30 dias de tratamento. Deve vir acompanhada do termo de consentimento de risco e consentimento pós-informação. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA Atenção: Risco para Mulheres Grávidas, causa graves defeitos na Face, nas Orelhas, no Coração e no Sistema Nervoso do Feto Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 18 Termo de consentimento de risco e consentimento pós-informação 3.3 Medicamentos das listas C3 (Imunossupressores) Notificação de receita especial para talidomida – cor branca, para medicamentos relacionado na lista “C3” (imunossupressoras). Validade: 15 dias somente no estado emitente. Quantidade máxima receita: 30 ampolas por medicamento injetável. 30 dias de tratamento. Deve vir acompanhada do termo de esclarecimento para usuário de talidomida, bem como do termo de responsabilidade. Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 19 3.4 Medicamentos das listas A1 e A2 (Entorpecentes) e A3 (Psicotrópicos) Da lista A1 e A2 destaca-se o Metilfenidrato (Ritalina) e todo medicamento da lista A possui tarja cor preta com os dizeres “Venda sob prescrição médica Atenção Pode Causar Dependência”. Para prescrever esse medicamento é necessária a receita Amarela e a vigilância sanitária disponibiliza o talonário. A codeína e tramadol pertencem à lista A2, porém constam nos itens 2 e 3 do adendo que quando prescritas em quantidades que não excedam a 100mg por unidade posológica, ficam sujeitas à prescrição na Receita de Controle Especial. Receita amarela ou receita A – é um impresso, padronizado na cor amarela, utilizado para a prescrição dos medicamentos das listas “A1”, “A2” (entorpecentes) e “A3” (psicotrópicos). Somente pode conter um produto farmacêutico. Venda sob Prescrição Médica Atenção: Pode Causar Dependência Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 20 3.5 Medicamentos das listas B1 (psicotrópicos) e B2 (Psicotrópicos Anorexígenos - Sibutramina) Os medicamento das listas B1 e B2 para serem prescritos necessitam da receita azul e as despesas com a confecção da mesma é de responsabilidade do prescritor – a gráfica precisa ser credenciada pela vigilância sanitária. Em março de 2010 a Anvisa mudou a classificação da sibutramina da lista C1 (receita branca não numerada) para a lista B2 (psicotrópico anorexígeno), o medicamento agora terá tarja preta e será vendido sob receituário azul numerado (Notificação de Receita B2). Receita azul ou receita B – é um impresso, padronizado na cor azul, utilizado para a prescrição de medicamentos que contenham substâncias psicotrópicas – listas “B1” e “B2” e suas atualizações constantes na Portaria 344/98. Notificação de receita tipo “B2” – cor azul, para medicamentos relacionados na lista “B2” (psicotrópicos anorexígenos). Validade após prescrição: 30 dias, somente no estado emitente. Quantidade máxima/ receita: 30 dias de tratamento. Venda sob Prescrição Médica O abuso deste medicamento pode causar Dependência Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 21 1 - UF/Estado e numeração concedida pela Divisa/Agevisa (impressão pela gráfica) 2 - Assinatura do prescritor e carimbo, quando não constar CR_/AL no campo “identificação do emitente” 3- Dados do comprador preenchidos na farmácia/drogaria 4 - Preenchimento do prescritor (dados do paciente) 5 - Numeração de impressão concedida pela Divisa/Agevisa (impressão pela gráfica) 6 - Preenchimento p/ farmácia/drogaria 7 - Dose diária (ex.: 1 comprimido, 12/12h) 8 - Dose por unidade (ex.: compr. 10mg) 9 - Quantidade e forma farmacêutica (ex.: 3 (três) cx/comprimidos). 10 - Nome do medicamento ou substância conforme DCP (ex.: Diazepam). Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 22 3.6 Antimicrobianos (Antibióticos) De acordo com a a RDC 20/2011, que estabelece em seu art. 5º: A prescrição de medicamentos antimicrobianos, isolados ou em associação deverá ser realizada em receituário privativo do prescritor ou do estabelecimento de saúde, não havendo, portanto, modelo de receita específico – receita com validade de 10 dias.Resumo Quadro comparativo das listas de substâncias A1 – Substâncias entorpecentes A2 - Substâncias entorpecentes A3 – Substâncias psicotrópicas B1 - Substâncias psicotrópicas B2 – Substâncias psicotrópicas anorexígenas C1 – Substâncias sujeitas a controle especial C2 – Substâncias retinoicas C3 – Substâncias imunossupressoras C4 – Substâncias antirretrovirais C5 – Substâncias anabolizantes D1 – Substâncias precursoras de entorpecentes e psicotrópicas VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA Só pode ser vendido com retenção de receita Só Pode ser Vendido com Retenção da Receita Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 23 Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 24 Farmacocinética Farmacocinética é o estudo do caminho percorrido pelo medicamento no organismo, desde quando é administrado até o momento em que ele é eliminado. Possui as etapas de: • Absorção • Distribuição • Biotransformação • Excreção As etapas da farmacocinética acontecem simultaneamente no organismo 1. Absorção do fármaco Depois que o medicamento é administrado ele vai para a segunda etapa da farmacocinética, que é a absorção. Absorção é a passagem do medicamento através de barreiras até a corrente sanguínea, as principais barreiras são: • Epitélio gastrintestinal • Endotélio vascular • Membranas plasmáticas Locais de absorção - Mucosa bucal, Mucosa gástrica, Mucosa do intestino delgado, Mucosa do intestino grosso, Pulmão e Pele. Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 25 Sendo assim, um medicamento para que ele possa ser absorvido precisa passar do local em que ele foi administrado para a corrente sanguínea e essa passagem envolve uma série de barreiras, que constituem principalmente as membranas plasmáticas das células. Por exemplo, um medicamento parenteral, depositado no músculo, para atingir a corrente sanguínea ele precisa ultrapassar o endotélio vascular revestido por células. A via endovenosa ou a intra-arterial são vias que possuem 100% de biodisponibilidade, que é a quantidade do medicamento disponível na corrente sanguínea para ser utilizado com o intuito de gerar um mecanismo de ação e nenhuma outra via que não seja a via endovenosa ou a intra-arterial tem 100% de biodisponibilidade. Para o medicamento ser absorvido ele depende de alguns fatores relacionados ao próprio medicamento (propriedades físico-químicas das drogas), como a: • Solubilidade do medicamento - Quanto maior a lipossolubilidade de um medicamento, mais facilmente esse fármaco ultrapassa as membranas plasmáticas e atinge a corrente sanguínea. • Peso molecular do medicamento – Quanto menor o peso de um medicamento, mais facilmente o fármaco ultrapassa as membranas plasmáticas e atinge a corrente sanguínea. • Ausência de cargas elétricas - • Forma farmacêutica do medicamento – Quanto mais esférico, mais facilmente ultrapassa as membranas plasmáticas e atinge a corrente sanguínea. Todas essas características facilitam a passagem doa medicamentos por difusão simples/passiva e se o medicamento não possuir essas características, ele precisa de uma proteína transportadora para ajudá-lo a ultrapassar as membranas das células e por isso eles necessitam da difusão facilitada ou do transporte ativo para serem absorvidos. Toda molécula de medicamento é considerada um eletrólito (substância que quando entra em contato com a água tem a capacidade de se ionizar ou dissociar) e isso significa que é um ácido fraco ou uma base fraca. Sendo assim, fala-se que o medicamento tem características ácidas ou básicas e todo medicamento tem um valor de pKa (Constante de Ionização/Dissociação). Exemplo - Fenobarbital com pKa=7,4 e com característica ácida. Quando estiver em um ambiente do corpo onde o pH desse ambiente for igual ao seu pKa, o medicamento ficará 50% ionizado e 50% não ionizado. O grau de ionização depende do pH da solução: Se o fármaco for de caráter ácido e estiver em um ambiente onde o Ph for menor que o valor do seu pKa, o medicamento estará principalmente não ionizado – pH < pKa Se o fármaco for de caráter ácido e estiver em um ambiente onde o Ph for maior que o valor do seu pKa, o medicamento estará principalmente ionizado – pH > pKa Se o fármaco for de caráter básico e estiver em um ambiente onde o Ph for menor que o valor do seu pKa, o medicamento estará principalmente ionizado – pH < pKa Se o fármaco for de caráter básico e estiver em um ambiente onde o Ph for maior que o valor do seu pKa, o medicamento estará principalmente não ionizado – pH > pKa Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 26 Todo fármaco para que ele possa ser absorvido precisa estar na sua forma não ionizada. Se o fármaco for um ácido fraco, onde ele é melhor absorvido? Em um ambiente ácido, principalmente não ionizado, sem carga e para ele ser mais facilmente absorvido não pode ter carga. • Os ácidos fracos são melhor absorvidos no estômago, pois, neste local ficam, numa grande quantidade, na sua forma não ionizada, devido ao pH ácido. • As bases fracas e os alcalóides são melhor absorvidos no intestino delgado, pois, neste local ficam, numa grande quantidade, na sua forma não ionizada, devido ao pH básico. Exemplo - Paciente com epilepsia, usando no tratamento o Fenobarbital, droga de caráter ácido e além disso utiliza diariamente um antiácido. Devido ao uso do antiácido, a absorção do fármaco estará diminuída porque ele aumenta o pH e assim o valor do pH do estômago não será maior do que o valor do pKa e o fármaco ficará mais ionizado, sendo menos absorvido. 1.1 Fatores que determinam a velocidade e o grau de absorção das drogas • Propriedades físico-químicas • Fluxo sanguíneo na área de absorção - um medicamento de caráter básico utilizado por via oral, será melhor absorvido no intestino e quanto maior o fluxo sanguíneo intestinal, maior a absorção do medicamento no intestino e maior a captação. Em um paciente com insuficiência cardíaca, seu fluxo intestinal é diminuído e para tentar aumentar a absorção do medicamento, a tendência é aumentar a dose do medicamento. Entretanto, se o paciente tiver insuficiência cardíaca, também chega menos sangue no fígado e nos rins e assim o medicamento será menos metabolizado e menos excretado e assim ele pode intoxicar o paciente. • Área de superfície absorvente - quanto maior a área de superfície absorvente, maior a absorção e o intestino tem uma área absorvente muito grande. Em um paciente que utiliza um medicamento com caráter básico e fez retirada de uma parte do intestino, terá a absorção do medicamento diminuída pH > pK a drogas ácidas ionizadas drogas básicas não ionizadas pH < pK a drogas ácidas não ionizadas drogas básicas ionizadas Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 27 e por isso, nesses casos de redução de estômago e intestino, é evitado a administração de medicamentos por via oral. • Número de barreirasa serem transportadas • Tempo de esvaziamento gástrico - um paciente utiliza diariamente um fármaco básico e um fármaco chamado Atropina (bloqueia os receptores muscarínicos - anticolinérgico). Como será a absorção do medicamento básico? A atropina retarda o esvaziamento gástrico, assim o medicamento irá passar em uma velocidade menor para o intestino e a sua absorção acontece de maneira mais lenta e isso é um dos principais motivos das interações medicamentosas. • Alimentos - os alimentos influenciam na absorção dos medicamentos, porque eles alteram o pH e a ionização do medicamento. No caso da tetraciclina, se ela for tomada com o leite, o cálcio do leite se complexa com a molécula do medicamento, formando um complexo insolúvel, podendo alterar o esvaziamento gástrico. Um outro exemplo são alimentos com muitas fibras e as fibras retardam muito esse esvaziamento, alterando a absorção do medicamento. 1.2 Fatores que influenciam na biodisponibilidade • Via de administração (intravenosa) • Propriedades físico-químicas da droga • Forma farmacêutica • Processo de liberação da droga da F.F. • Características do paciente • Dose • Interação com outras substâncias (drogas e alimentos) 1.3 Concentração plasmática das drogas Meia vida de eliminação das drogas é o tempo necessário para que o medicamento seja 50% eliminado da corrente sanguínea, ou seja, é o tempo necessário para que a concentração plasmática de determinado fármaco seja reduzida pela metade. É importante saber a meia vida de um fármaco para que se possa escolher a frequência posológica correta. Se uma droga possui meia vida curta, isso quer dizer que ela será eliminada mais facilmente do organismo e a sua frequência posológica será maior, porque é eliminada rapidamente e se uma droga possui meia vida longa, isso quer dizer que ela será eliminada mais lentamente do organismo e a frequência posológica será menor. A meia vida de um fármaco orienta na(o): • Duração do efeito farmacológico • Início de ação do fármaco • Regime posológico adequado • Concentração máxima plasmática média constante (Css) • Eliminação: 4 a 6 meias-vidas da droga Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 28 Um medicamento começa a exercer sua ação farmacológica de maneira estável e constante após um período de 4 a 6 meias vidas de eliminação, ou seja, leva 4 a 6 meias vidas de eliminação para atingir a faixa de concentração plasmáticas constante (Steady State). Exemplo – Um paciente começa a tomar a Fluoxetina e quando esse medicamente é ingerido pela primeira vez ela atinge uma determinada faixa de concentração plasmática, junto de um efeito farmacológico e depois vai regredindo e na segunda dose ele atinge uma concentração maior e um maior efeito farmacológico. Após alguns dias, o medicamento chega até uma faixa de concentração plasmática que é constante (Css- Steady State). No caso da Fluoxetina, ela possui uma meia vida de eliminação de 4 dias e o seu metabólito pode ter meia vida de 10-15 dias, ou seja, esse medicamento será tomado 1 vez ao dia e após quantas meias vidas o paciente terá seu efeito farmacológico constante? Após 4-6 meias vidas, convencionalmente usado como 5 meias vidas, multiplicado pela sua meia vida de eliminação ele atingirá seu Steady State: Steady State = 5 meias vidas X Tempo de meia vida de eliminação do fármaco No caso da Fluoxetina, 5 meias vidas x 4 dias= 20 dias para ter o efeito farmacológico constante. Se o paciente tiver que interromper o uso do fármaco, após quanto tempo ele deixará de ter totalmente a Fluoxetina na corrente sanguínea? Mesmo tempo que ele leva para atingir o Steady State. Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 29 • Se um medicamento possuir uma meia vida de eliminação longa, terá um maior período para atingir o Steady State e para ter um efeito farmacológico constante, em equilíbrio. • Se o medicamento possuir uma meia vida de eliminação curta, terá um menor período para atingir o Steady State e para ter um efeito farmacológico constante, em equilíbrio. Exemplo – Um paciente que utiliza Fluoxetina (meia vida de eliminação mais longa) e outro paciente que utiliza Escitalopram (meia vida de eliminação mais curta) vão interromper o tratamento no mesmo dia. Os dois fármacos atuam no SNC e a interrupção repentina dos medicamentos podem causar síndrome de abstinência. Quem possui mais probabilidade de ter síndrome de abstinência? O paciente que utiliza Escitalopram, porque sua meia vida de eliminação é menor e ele será eliminado mais rapidamente e o seu organismo deixa de ter o medicamento de uma forma mais rápida, aumentando as suas chances de crises de abstinência. Exemplo – Propanolol é um beta-bloqueador e possui meia vida de eliminação de 6 horas. Sendo assim, se ele for tomado na frequência posológica correta irá atingir seu Steady State após 30 horas. Exemplo – O lítio é utilizado para bipolaridade e é pouco seguro, porque a dose eficaz é próxima da dose tóxica. Por isso é necessário fazer uma dosagem plasmática de lítio, para avaliar se a dose está sendo terapêutica ou não. Se o lítio possui meia vida de eliminação de 24 horas (1 dia), que dia terá que fazer a monitorização da concentração plasmática de lítio? Mais ou menos 5 dias, para que possa encontrar o medicamento dentro da sua concentração constante. Exemplo – Melatonina é um fármaco usado para tratar insônia e ela possui meia vida de eliminação menor de 1 hora, ou seja, é eliminada rapidamente. Por isso a melatonina é de liberação prolongada, para ser absorvida e manter sua concentração necessária para tratar insônia. Se um medicamento precisa ser usado de 6/6 horas e o paciente passa a tomar de 12/12 horas o tempo para atingir o Steady State será maior e muitas vezes atinge a faixa subterapêutica e se tomar em 4/4 horas o tempo para atingir o Steady State será maior ainda, e assim atinge a faixa sobreterapêutica. 1.4 Variação da concentração plasmática das drogas • Biotransformações, absorção, distribuição, excreção • Biodisponibilidade • Patologia renal: meia vida plasmática prolongada (gentamicina, digoxina) • Patologia hepática • Patologia tireoidiana: aumento do metabolismo geral (digoxina) • Patologia cardíaca: redução débito cardíaco (lidocaína, propranolol – baixa perfusão hepática) • Interações com outras drogas Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 30 2. Distribuição do fármaco A distribuição do fármaco ocorre para que ele atinja o tecido onde há um receptor para ele, gerando mecanismo de ação e efeito farmacológico. Quando o medicamento atinge a corrente sanguínea se depara com um ambiente aquoso (Plasma pH=7.4) e por isso irá apresentar a forma ionizável e não ionizável. • Fração ionizada se liga à proteínas plasmáticas, formando a fração ligada, que é a porcentagem de medicamento que fica ligada a proteínas • Fração não ionizada fica livre na corrente sanguínea, formando a fração livre, que é a porcentagem do medicamento que fica livre A porcentagem de fração ligada e livre é importante porque a fração que exerce o efeito farmacológico é a fração livre, ou seja, exerce o mecanismo de ação, porque ela tem maior facilidade para sair da corrente sanguínea e atingir o tecido. A ligação que uma fração do medicamento irá ter comuma proteína precisa ser uma ligação fraca, porque a função da fração ligada é servir como um reservatório do medicamento, porque se a fração livre é a que tem afinidade pelos tecidos, ela exerce a ação rapidamente e a medida que a fração livre vai se ligando no tecido e exercendo seu mecanismo de ação, a proteína plasmática vai se desligando e liberando a molécula do fármaco e por isso a ligação precisa ser fraca. Então medida que a concentração do medicamento na corrente sanguínea cai a proteína se desliga da molécula do fármaco, para manter o medicamento em uma fração livre suficiente para que ele tenha seu efeito farmacológico. Se tiver um medicamento com: A - Fração livre de 40% e Fração ligada de 60% B – Fração livre de 90% e Fração ligada de 10% Qual dos dois medicamentos terá uma capacidade de produzir um efeito farmacológico mais prolongado? O medicamento A, porque ele possui maior reserva, ou seja, o medicamento com maior fração ligada possui efeito mais prolongado. 2.1 Tipos de proteínas transportadoras A albumina é a principal proteína ligadora de medicamentos, além disso se liga principalmente em medicamentos de caráter ácido e glicoproteína ácida se liga principalmente em medicamentos de caráter básico. Sendo assim, os medicamentos se ligam a proteínas plasmáticas específicas, como o sulfato ferroso que se liga a transferrina, porém, outros medicamentos não tem um específico, se ligam ou na albumina ou na glicoproteína ácida. É comum os pacientes apresentarem hipoalbuminemia (redução de albumina na corrente sanguínea) e se o paciente utiliza um medicamento com 90% de Fração Ligada e 10% de Fração Livre, ao ser usado a consequência pode ser que a fração ligada passa a cair e a livre aumenta, porque não há muita albumina para se ligar a uma fração do medicamento, dobrando a quantidade da fração livre e assim aumentando, dobrando o efeito farmacológico do fármaco. Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 31 Exemplo – A Varfarina é um anticoagulante oral que inibe a síntese dos fatores de coagulação e possui 97% Fração Ligada e 3% de Fração Livre e se o paciente que utiliza Varfarina tiver hipoalbuminemia, pode diminuir a fração ligada e aumentar a fração livre, como por exemplo, passa para 94% ligada e 6% livre e assim o efeito será dobrado, podendo causar hemorragia. Se o paciente estiver tomando o medicamento com 90% de Fração Livre e ele tiver hipoalbuminemia, haverá alguma consequência grave? Nenhuma, porque o cuidado precisa ser com alta porcentagem de ligação a proteínas plasmáticas o Glicoproteína ácida: • Aumentada: IAM, neoplasias, Doenças autoimunes • Reduzida: Doenças hepáticas e Renais, infância • A droga enquanto complexada às proteínas plasmáticas, não tem atividade farmacológica, sendo consideradas como locais de depósito de drogas. • As concentrações de droga livre e ligada com proteína permanecem em equilíbrio dinâmico. • As ligações químicas entre as drogas e proteínas são fracas Se 2 ou 3 medicamentos se ligam muito a albumina ou a uma outra proteína plasmática, haverá uma competição entre os medicamentos pela ligação as proteínas plasmáticas e esse é o principal motivo de interação medicamentosa a nível de distribuição. Como por exemplo, Varfarina 97% ligado e Fenilbutazona 95% ligado e ambos se ligam na albumina, na corrente sanguínea irão competir pela albumina e quem irá ganhar a competição? Não é a porcentagem que faz ganhar, mas sim a capacidade de ligação e a Fenilbutazona tem maior afinidade e ganha a competição e a Varfarina vai ficar mais livre e assim aumenta-se o efeito farmacológico dela, potencializando o efeito. Sendo assim, um medicamento pode deslocar o medicamento da proteína plasmática e aumenta a fração livre de outro medicamento. ALTA LIGAÇÃO A PROTEÍNAS BAIXA ELIMINAÇÃO MAIOR DURAÇÃO DO EFEITO BAIXA LIGAÇÃO A PROTEÍNAS ALTA ELIMINAÇÃO MENOR DURAÇÃO DO EFEITO Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 32 2.2 Reservatórios de medicamentos • Protéinas plasmáticas – principais reservatórios • Tecido adiposo – serve como um reservatório, devido à alta lipossolubilidade do medicamento e a medida que a concentração plasmática diminui o tecido adiposo libera o fármaco. Exemplo – Tiopental é um anestésico geral endovenoso e começa a sua ação em 20 segundos e por ser lipossolúvel chega no SNC muito rapidamente e por agir muito rápido ele possui uma duração de efeito muito curto, é muito lipossolúvel para entrar é muito lipossolúvel para sair e a duração do efeito farmacológico é de 20 minutos. Em casos de cirurgia demorada se colocar o tiopental numa bomba de infusão contínua para manter a anestesia, quando ele for redistribuído ele para no tecido adiposo e após 10 horas de cirurgia, ao desligar a bomba de infusão o paciente irá demorar muito para acordar, porque a concentração plasmática caiu, mas o tecido adiposo está mantendo isso constante. • Ossos – há medicamentos que ficam reservados nos ossos, ou seja, possuem afinidade pelo cálcio. Tetraciclina não pode ser tomado com o leite porque forma um complexo e não ocorre a absorção e quando ela é absorvida é possível acumular Tetraciclina no osso. É comum nas crianças possuírem uma mancha branca no dente, porque se o paciente utilizar antibióticos com uma frequência muito alta, o medicamento por ter afinidade com o cálcio se deposita nos dentes e pode até causar uma hipoplasia dentária. Em adultos pode causar deformidade e fragilidade óssea se utilizar muito um medicamento que possui o osso como reservatório. Existem tecidos que são de difícil acesso, como o SNC, devido a presença da barreira hematoencefálica, devido as junções de oclusão e a passagem é dificultada porque existe vários transportador MDR (transportador de resistência a múltiplas drogas). Exemplo - Penicilina, estrutura química grande que dificulta a passagem pelas membranas, inclusive a BEE e ela é um dos antibióticos utilizados para tratar meningite, mas como ela consegue? Por ser um processo inflamatório, há um aumento na permeabilidade da membrana e as moléculas atravessam mais facilmente a barreira. Exemplo - Paciente que utilizam medicamentos anti-histamínicos para alergias possuem o efeito colateral de sono, porque além de bloquear os receptores anti-histamínicos perifericamente, bloqueia receptor H1 no SNC e sempre que bloquear, o medicamento causa sono. Anti-histamínicos que não causam sono, possuem estrutura química que impede a sua passagem para o SNC e somente bloqueia sua ação de bloquear o receptor H1 perifericamente Barreira placentária dificulta a distribuição dos medicamentos para atingir o feto e existe muito metabólito de medicamento que é teratogênico. Sendo assim, os medicamentos possuem facilidade para atingir regiões periféricas, mas quando se diz na barreira hematoencefálica e placentária, há uma dificuldade devido as junções de oclusão. Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 33 2.2 Volume de distribuição Volume de distribuição é o volume aparente de distribuição do fármaco; é a capacidade do medicamento de sair da corrente sanguínea e atingir o tecido. É qual o volume de líquidos que o medicamento é capaz de se distribuir no organismo, ou seja dá um índice de quanto o fármaco é distribuído para os tecidos.Volume real de distribuição - 40 litros de líquido em um paciente de 70Kg- seu volume real de distribuição é de 40 litros. Exemplo - Medicamento A – volume= 0,2L e Medicamento B – volume= 2000L. Qual medicamento é a Varfarina e qual medicamento é o Diazepam? A- Varfarina – anticoagulante, age no sangue, não precisa se distribuir para um tecido B- Diazepam – age no SNC, precisa se distribuir muito para os tecidos, inclusive SNC, seu volume precisa ser alto Exemplo - Qual medicamento possui maior volume de distribuição? Medicamento A – 90% de fração livre Medicamento B – 10% de fração livre Medicamento A, porque tem maior fração livre, tem maior facilidade de chegar ao tecido Exemplo - Paciente intoxicado geralmente possui indicação de hemodiálise, porque remove da corrente sanguínea o medicamento. Entretanto, para qual medicamento é indicado fazer hemodiálise? Medicamento A – 90% de fração livre Medicamento B – 10% de fração livre Hemodiálise é indicada para o paciente que se intoxicou com o medicamento B, porque como ele possui 10% de fração livre, será muito mais fácil de encontrar ele na corrente sanguínea. Já o medicamento A, como tem alto volume de distribuição, a tendência de encontrar ele em reservatórios, ao invés da corrente sanguínea é muito maior. A ação de determinada droga cessa apenas quando toda a droga das proteínas transportadoras plasmáticas e dos tecidos de depósito tiverem sido removidos e a fração livre tiver sido eliminada do plasma. 3. Biotransformação do fármaco Biotransformação é uma etapa de eliminação, ou seja, é o preparo do medicamento para ser excretado do organismo. Na grande maioria das vezes, um medicamento que é biotransformado sofre inativação, ou seja, o medicamento sofre uma metabolização e se torna um metabólito inativo para serem eliminados de alguma maneira. A biotransformação nem sempre irá fazer uma metabolização que forma um metabólito inativo, podendo formar também um metabólito ativo (exerce seu mecanismo de ação). • Medicamento ativo, produz seu efeito farmacológico e sofre a sua biotransformação e forma um metabólito inativo – Midazolam. • Medicamento ativo, produz seu efeito farmacológico e sofre a sua biotransformação e forma um metabólito ativo – Diazepam. Esse metabólito depois de exercer seu mecanismo de ação se torna um metabólito inativo devido a sua biotransformação. Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 34 Um paciente que apresenta insônia que aparece no final da noite (4 horas da manhã por exemplo) normalmente toma um medicamento hipnótico antes de dormir. No caso desse paciente deve-se usar um medicamento como o Diazepam ou como o Midazolam? Diazepam, porque ele gera metabólitos ativos, ou seja, sua ação é prolongada. • Medicamento que produz metabólitos ativos durante a sua biotransformação – Meia vida de eliminação mais longa – Diazepam – efeito farmacológico prolongado • Medicamento que produz metabólitos inativos durante a sua biotransformação – Meia vida de eliminação mais curta – Midazolam – efeito farmacológico mais curto Exemplo - Amtriptilina (antidepressivo) é um fármaco ativo que ao ser biotransformado, forma-se a Nortriptilina, que nada mais é que um metabólito ativo. No caso de um paciente idoso com depressão, qual é o mais indicado? Nortriptilina, porque um paciente idoso não possui sua função hepática intacta, ela já está reduzida e é preciso do fígado para transformar a Amtriptilina em Nortriptilina. Então existem fármacos que possuem a característica de serem ativos e produzirem após a sua biotranformação um metabólito ativo ou inativo. Entretanto, além disso existe medicamentos inativos que ao serem biotransformado geram um metabólito ativo e são chamados de pró-droga. • Medicamento inativo, produz seu efeito farmacológico e sofre a sua biotransformação e forma um metabólito ativo. A Prednisona é um exemplo, porque ao ser biotransformada se torna a Prednisolona. Um outro exemplo é a Levodopa, que ao ser biotransformada se torna a Dopamina e é muito utilizada no tratamento de Parkinson, porque a fisiopatologia do paciente é ter redução de dopamina em uma região específica do SNC e por que não é utilizada a Dopamina diretamente no tratamento? Não existe comprimido de Dopamina, porque a Levodopa é um precursor dopaminérgico, ou seja, é importante para a síntese de Dopamina e quando a Levodopa chega no SNC, será biotransformada porque lá existe uma enzima chamada Dopadescarboxilase, transformando Levodopa em Dopamina. Existem medicamentos que não necessitam de metabolização, ou seja, é eliminado de forma inalterada pela urina. Ou seja, há medicamentos que não necessitam de passar no fígado para ser metabolizado e produzir um metabólito ativo ou inativo e vão diretamente para o rim para serem distribuídos por todo o corpo. • Medicamento que não sofre biotransformação – Anestésicos inalatórios são na maioria eliminados sem sofrer metabolização, são eliminados pelo ar expirado. É importante conhecer quais são os medicamentos que não sofrem biotransformação porque no caso de um paciente com insuficiência hepática ele não pode utilizar um medicamento que necessite da biotransformação realizada no fígado. 3.1 O que é biotransformação e onde ocorre? Biotransformação é um conjunto de reações químicas que ocorrem no organismo com o objetivo de transformar o medicamento em metabólitos mais fáceis de serem eliminados. Possui 2 objetivos principais que é inativar o medicamento, porque a maioria dos medicamentos são drogas ativas e o segundo objetivo é fazer com que esse metabólito se transforme em um metabólito hidrossolúvel para ser mais facilmente eliminado pela urina. Farmacologia I – Bianca Tavares de Figueiredo XXXIV 35 O principal local de biotransformação dos medicamentos é o fígado, porém o fígado não é o único local. Outros locais: rins, pulmões, pele, mucosa intestinal, plasma sanguíneo. 3.2 Enzimas metabolizadoras O fígado é o principal local de biotransformação porque nele existe um conjunto de enzimas armazenados nos hepatócitos, responsáveis por metabolizar os medicamentos. O principal conjunto de enzimas é o Citocromo P450, cada enzima desse citocromo é responsável por metabolizar um conjunto de medicamentos e quando essas enzimas biotransformam são responsáveis na maioria das vezes por inativar alguns medicamentos. 3.3 Reações químicas da biotransformação Na biotransformação o medicamento passa por 2 reações químicas: 1. Reações de Fase I – Reações de oxidação, redução, hidrólise, ciclização e desciclização – o objetivo dessa fase é inativar os medicamentos, alterando a estrutura química do medicamento e alterando a capacidade de produzir um efeito farmacológico e assim o medicamento perde a afinidade pelo seu receptor. A enzimas do Citocromo P450 realizam principalmente redução, oxidação e hidrólise, modificando a molécula do fármaco, transformando em metabólitos ativos ou inativos. As enzimas do Citocromo P450 não fazem reação de Fase II e cada uma das enzimas é responsável por metabolizar um conjunto de fármacos. A enzima CYP3A4 é a que metaboliza um conjunto maior de medicamentos e essas enzimas que metabolizam um conjunto maior de medicamentos precisam de uma certa atenção porque podem estar relacionadas com as interações medicamentosas. Por exemplo, um paciente pode estar utilizando 2 ou 3 medicamentos que são metabolizados pela mesma enzima e se isso acontecer um medicamento será mais metabolizado
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