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Ana Luisa Maria Pia 25 de novembro de 2017 Sarmento Texto 1 1 - Antecedentes A transição da ditadura para a democracia foi liderada por uma coalizão entre forças moderadas que davam suporte ao governo militar e os setores moderados da oposição. Assim, foi um modelo de transição com transação, em que mudanças foram negociadas, não resultando de rupturas violentas. Em 1985, Sarney assumiu o compromisso de criar uma Assembleia Constituinte, porém, nomeou uma Comissão Provisória de Estudos Constitucionais pra criar um anteprojeto da constituição, sendo objeto de fortes críticas. Foi criada uma Comissão de notáveis, que fizeram um texto que adotava o regime parlamentarista, porém, este foi arquivado posteriormente. Sarney fez uma emenda que convocava o congresso para a elaboração de uma Assembleia Constituinte, e esta se realizou presidida pelo presidente do STF. 2 - Composição da Assembleia Constituinte. A Assembleia Nacional Constituinte que se reuniu em 1º de fevereiro de 1987 era composta por 559 membros – 487 deputados federais e 72 senadores. Entre os constituintes, todos os deputados federais e 49 dos senadores haviam sido eleitos no pleito ocorrido em 1986. Os demais 23 senadores eram “biônicos”: tinham sido eleitos indiretamente nas eleições ocorridas em 1982. Do ponto de vista ideológico, os estudos sobre a Assembleia Constituinte apontam para o seu caráter altamente plural, com predominância do Centro. Do ponto de vista da representação regional, havia uma distorção em favor dos Estados menos populosos do Norte e Centro-Oeste, e em desfavor daqueles do Sudeste pois impor limites mínimo e máximo de representação, favorecera aos Estados com menor eleitorado. RELATÓRIO DA PROVA "1 No que concerne ao perfil econômico-profissional dos constituintes, uma pesquisa elaborada pelo cientista político David Fleishner, que afirmava que grande parte dos membros eram empresários rurais e Este peso do empresariado rural na representação parlamentar ajuda a explicar o fracasso das propostas mais avançadas sobre a reforma agrária na Constituinte. Do ponto de vista do gênero, as mulheres estavam absolutamente subrepresentadas na Assembleia Constituinte, o fenômeno também ocorria com afrodescendentes e indígenas. 3 - Os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte Ulysses Guimarães ganhou aa votações para presidente e foi realizado um Regimento Interno para a elaboração da Constituição. O Regimento Interno apenas previu a possibilidade de que a Constituinte sobrestasse qualquer medida que pudesse ameaçar os seus trabalhos e a sua soberania, faculdade que não chegou a ser exercida. Neste quadro, a solução engendrada buscava integrar todos os constituintes na tarefa de elaboração do novo Texto Magno. Previu-se a criação de 24 subcomissões temáticas. As comissões redigiriam projetos sobre as suas áreas, os quais seriam, por sua vez, enviados a uma Comissão de Sistematização. Esta última elaboraria novo projeto, a partir dos trabalhos das comissões temáticas, que seria submetido ao Plenário da Constituinte, em dois turnos de votação. Uma das consequências decorrentes da fórmula adotada foi o caráter analítico da Constituição, já que, ao se criar uma subcomissão dedicada a tratar de determinado assunto, este, naturalmente, se tornava objeto de disciplina constitucional. Ademais, a escolha dos temas das subcomissões já importava na definição das questões que ingressariam na nova ordem constitucional. Os grupos mais variados foram ouvidos nas audiências públicas – Ministros de Estado, lideranças empresariais e sindicais, intelectuais, associações de moradores, entidades feministas e de defesa dos homossexuais, representantes do movimento negro, ONGs ambientalistas, indígenas, empregadas domésticas, meninos de rua, etc. O contraditório foi intenso. Depois das subcomissões, começaram a trabalhar as comissões temáticas e depois passou-se à fase da Comissão de Sistematização. Em 26 de agosto de 1987, Bernardo Cabral apresenta o seu 1º Substitutivo, com 305 artigos no corpo permanente e outros 69 nas disposições transitórias, que ficou conhecido como “Cabral 1”, com diversas alterações em relação ao seu texto anterior, decorrentes das negociações então travadas. O projeto RELATÓRIO DA PROVA "2 desagradou ao Governo e ao campo conservador por várias razões, como a definição de um regime parlamentarista mitigado, as limitações impostas à atuação das Forças Armadas, a generosidade nos direitos trabalhistas e a amplitude da anistia aos perseguidos pelo regime militar. As negociações e debates prosseguiram, e, em 18 de setembro de 1987, o Relator apresenta o 2º Substitutivo, apelidado de “Cabral 2”. Além do parlamentarismo e da duração do mandato de Sarney, eram extremamente controvertidos a reforma agrária em terras produtivas, as regras sobre propriedade e livre iniciativa, as limitações ao capital estrangeiro, o imposto sobre grande fortunas, os instrumentos de democracia participativa e a amplitude dos direitos trabalhistas. O discurso do Centrão, que tinha o respaldo do Governo, do empresariado, dos militares e ruralistas, era no sentido de que este modelo implicava numa tirania da Comissão de Sistematização sobre o Plenário, alienando o baixo clero, que daquela não participara. Para isso, a sua estratégia consistia em aprovar mudança no Regimento, que possibilitasse a apresentação de novas emendas que, quando subscritas pela maioria absoluta dos membros da Assembleia, teriam prioridade na votação. Depois, a constituição foi revisada pela Comissão de Redação. Finalmente, em 22 de setembro de 1988, ocorre a derradeira votação da Assembleia Nacional Constituinte, que visava a apreciar o texto final da Constituição de 1988, depois das mudanças ocorridas no âmbito da Comissão de Redação. Em 5 de outubro de 1988, em clima de emoção, a Constituição de 1988 é finalmente promulgada, após uma longa Assembleia Constituinte que durara mais de 20 meses – período durante o qual fora o centro das atenções do País –, provocara intensa mobilização cívica e contara com um grau de participação social na sua elaboração absolutamente inédito na história nacional. 4 - Traços essenciais da Constituição de 1988 Do ponto de vista histórico, a Constituição de 1988 representa o coroamento do processo de transição do regime autoritário em direção à democracia. Apesar da forte presença de forças que deram sustentação ao regime militar na arena constituinte, foi possível promulgar um texto que tem como marcas distintivas o profundo compromisso com os direitos fundamentais e com a democracia, bem como a preocupação com a mudança das relações políticas, sociais e econômicas, no sentido da construção de uma sociedade mais inclusiva, fundada na dignidade da pessoa humana. RELATÓRIO DA PROVA "3 Trata-se de uma Constituição longa e analítica, não apenas por incorporar ao seu texto um amplo elenco de matérias, como também por descer, em muitas delas, a um grau de detalhamento incomum em sede constitucional. Por outro lado, a Constituição de 1988 qualifica-se como compromissória, já que o seu texto não representa a cristalização de uma ideologia política pura e ortodoxa. Por outro, é também dirigente porque, ela não se contenta em organizar o Estado e elencar direitos negativos para limitar o exercício dos poderes estatais. Ela vai muito além disso, prevendo direitos positivos, e estabelecendo metas, objetivos, programas e tarefas a serem perseguidos pelo Estado e pela sociedade, no sentido de alteração do status quo. Além de regular diretamente vastos domínios da vida social, a Constituição contém princípios e valores fundamentaisque devem ser tomados como nortes na interpretação de toda a ordem jurídica. Em outras palavras, as características da Constituição de 1988 – tanto o seu caráter analítico, como a sua riqueza axiológica – propiciam o desenvolvimento do fenômeno da constitucionalização do Direito, que suplanta clivagens tradicionais, como as que separam o Direito Público do Direito Privado, e o Estado da sociedade civil. O sistema de direitos fundamentais é o ponto alto da Constituição. Ao lado de um amplo e generoso elenco de direitos civis e políticos, a Carta de 1988 também garantiu direitos sociais – tanto trabalhistas como prestacionais em sentido estrito – e ainda agregou direitos de 3ª dimensão, como o direito ao patrimônio cultural. Além dos direitos universais, a Constituição também voltou os seus olhos para a proteção dos sujeitos em situação de maior vulnerabilidade, instituindo normas voltadas à defesa de grupos como as mulheres, consumidores, crianças e adolescentes, idosos, indígenas, afrodescendentes, pessoas com deficiência e presidiários. Além dos direitos fundamentais, o outro “coração” da Constituição de 1988 é a democracia. Entre outras medidas, ela consagrou o sufrágio direto, secreto, universal e periódico para todos os cargos eletivos. Em relação aos poderes, a Constituição preocupou-se em fortalecer tanto o Legislativo como o Judiciário. Assim, surgiu o “presidencialismo de coalização”, que se expressa na necessidade de o Chefe do Executivo construir uma base de apoio no Legislativo, através de mecanismos como a participação na formação do Ministério e na distribuição de outros cargos. RELATÓRIO DA PROVA "4 Arguelhes Texto 2 1 - Resumo Em muitas explicações existentes sobre o atual protagonismo do Supremo Tribunal Federal na política nacional, tende-se a enfatizar variáveis e processos que independem da vontade dos Ministros - variáveis como desenho institucional, texto constitucional, expectativas sociais e comportamento estratégico dos atores políticos ao redor do tribunal. Assim, o querer de uma dada maioria no STF, pode afetar o desenho institucional e, com isso, influenciar o grau final de participação do tribunal no processo político decisório em um dado momento. 2 - Introdução A construção da participação do STF no processo político-decisório no Brasil não pode ser plenamente explicada apenas com fatores exógenos à composição do STF. Mais especificamente, embora o desenho institucional, as expectativas sociais e o comportamento dos atores políticos sejam condições importantes – talvez até necessárias – para um cenário em que o tribunal participa intensamente do processo político decisório nacional, não parecem ser condições suficientes para determinar o grau exato dessa participação em um dado momento. É preciso levar em conta se e como as preferências dos Ministros do STF sobre como exercer o poder de que dispõem – e inclusive sobre de quanto poder deveriam dispor – interagem com as já mencionadas variáveis exógenas para explicar a intensificação do processo de judicialização dos anos 90 para cá. 3 - Preferências judiciais restritivas no Supremo Tribunal Federal pós-Constituinte A hipótese é a de que os próprios Ministros do Supremo estabeleceram certos limites ao quanto o Supremo poderia participar do processo decisório político. Juízes podem ter inclinações mais ou menos favoráveis ao exercício de poder, pelo tribunal, na esfera política. E uma maioria de Ministros que não queira exercer todo o poder de que dispõe tem meios para se proteger do seu próprio poder, restringindo-o. 4 - Interpretações restritivas do controle abstrato de constitucionalidade na jurisprudência do STF O fluxo de casos é, enfim, um elemento essencial na definição das chances que um tribunal tem de exercer qualquer poder relevante em uma dada comunidade. O poder dos tribunais de formular sua agenda institucional é, na melhor das hipóteses, negativo pois RELATÓRIO DA PROVA "5 podem priorizar alguns casos e temas em detrimento de outros. Outro fator é restrições de tipos de leis e temporais. Foi redefinido o conjunto de regras que define quem pode propor Ações Diretas de Inconstitucionalidade e isso resultou em uma relativa restrição do grau de representatividade e abertura do controle abstrato de constitucionalidade no Brasil. É inegável que as decisões do STF sobre os direitos de julgar inconstitucionalidades restringiram o escopo de ação do tribunal sobre a política. 5 - Poder não é querer Uma primeira possível hipótese para explicar essas preferências restritivas quanto ao controle abstrato e concentrado parte da constatação da grande continuidade judicial que marcou a transição brasileira. Outra hipótese é que em cenários de democratização recente, em que as regras do jogo ainda não são completamente claras faz sentido para um tribunal ser cauteloso em relação a onde ou em quem vai pisar, ainda que o ideal dos Ministros seja o de exercer cada vez mais poder. No geral, o exercício de controle de constitucionalidade de forma abstrata expõe mais o tribunal. Uma explicação estratégica diz respeito ao receio, por parte dos Ministros do STF, de que a ampliação do controle abstrato produziria uma corrida imediata e em massa da sociedade civil e partidos políticos ao tribunal. Além disso, com essa atitude mais restritiva, o STF tem acesso ao controle mais concentrado e focado. 6 - Preferências judiciais restritivas e judicialização da política A “judicialização da política” foi definida como um processo duplo: de um lado, o processo pelo qual tribunais participam cada vez mais da elaboração de políticas públicas que, anteriormente, eram elaboradas (ou deveriam ser elaboradas, segundo a concepção dominante) por outras instituições do governo; de outro, (b) o processo pelo qual fóruns decisórios não-judiciais passam a ser dominados por regras e procedimentos quase-judiciais. Tate enumera oito condições “facilitadoras” do processo de expansão da esfera de atuação do tribunal: (i) a existência de um regime democrático; (ii) a separação de poderes; (iii) a existência de direitos políticos garantidos a minorias; o uso dos tribunais por parte de (iv) grupos de interesse e (v) pela oposição; (vi) partidos políticos e governos de coalizão fracos que, ao produzirem políticas inefetivas e com pouco apoio, aumentam a ação da oposição no judiciário – condição que os autores denominam de “instituições majoritárias inefetivas”; (vii) percepção pública negativa das instituições majoritárias; e, por fim, (viii) a delegação para os RELATÓRIO DA PROVA "6 tribunais de medidas e decisões que as instituições majoritá- rias não considerem oportuno tomar. Isso só ocorre caso os juízes entendam que devem participar do processo decisório realizado por outras instituições e interferir nas soluções de políticas públicas formuladas desse processo. A judicialização requer que os juízes tenham atitudes, predisposições pessoais ou valores que os levem a procurar participar do processo decisório. Podemos dizer que tanto “ativismo”, quanto “auto-contenção” operam como preferências de segunda ordem: elas orientam a forma pela qual o juiz, diante uma policy cuja constitucionalidade está em discussão, levará em conta suas preferências de primeira ordem acerca daquela policy. Nesse sentido, são preferências que podemos chamar de formais ou funcionais: não dizem respeito ao mérito da questão política submetida à apreciação judicial, mas orientam o juiz a levar ou não em conta suas preferências substanciais por políticas públicas específicas na tomada de decisões em controle de constitucionalidade. A judicialização só ocorre de formaplena quando (i) as condições facilitadoras existem, (ii) os valores dos juízes não são coincidentes com os valores da coalizão majoritária, refletidos na legislação aprovada na arena política legislativa e (iii) os juízes estão dispostos a participar da tomada de decisões políticas. Esse ponto, primariamente conceitual, pode ser útil para discutir e explicar com mais precisão graus diferentes, ao longo do tempo, de participação do tribunal na vida política do país. O comportamento do STF em relação a aspectos centrais do controle de constitucionalidade após a promulgação da Constituição de 1988 é um eloquente lembrete de que poder não é necessariamente querer. Em sentidos importantes, decisões tomadas no âmbito do Supremo diminuíram o poder do tribunal em relação ao que havia sido textualmente previsto na Constituição. Podiam, mas não quiseram. Reconhecer a diferença e a possível interação entre “poder” e “querer” na relação entre o STF e a política tem implicações importantes em pelo menos dois níveis: O primeiro é pontual: em determinados casos, os Ministros podem não querer usar um poder. Nesse segundo sentido, um tipo de RELATÓRIO DA PROVA "7 poder indesejado ou inconveniente não apenas não é exercido, como pode ser reconstruído e até eliminado da própria estrutura constitucional que originalmente o consagrava. 7 - Conclusão O argumento mais amplo avançado neste trabalho é o de que as transformações no grau de participação do STF na política brasileira não podem ser plenamente explicadas apenas com recurso a fatos sobre o contexto político e institucional externo ao tribunal. O processo de expansão ou retração do poder judicial é resultado da combinação de fatos político-institucionais e atitudes judiciais – mais especificamente, das preferências majoritá- rias, em uma dada composição do tribunal, sobre quais são as formas adequadas e/ou oportunas de se pronunciar sobre questões políticas. Conectando esse argumento com a matriz teórica proposta por Tate (1995), chamaram-se essas concepções de “preferências funcionais”. Não se referem à substância ou mérito de casos específicos, mas sim à natureza e o alcance das competências do STF. São preferências judiciais sobre como participar da política. O STF não apenas manteve plena flexibilidade para rever essa jurisprudência restritiva e para apreciar essas questões políticas pela forma mais “segura” do controle incidental, como também agiu de forma compatível com o comportamento típico de instituições judiciais durante períodos de transição e consolidação política. Pereira Texto 3 A condições intragovernamentais e estratégias de negociação subótimas foram as principais causas do esquema do mensalão. No presidencialismo de coalizão, é esperado que presidentes se comportem compartilhando o poder e governando em coalizão com distribuição interpartidária proporcional para poder aprovar legislação no congresso e governar. 1 - Introdução Pagamentos de quantias específicas foram vinculados a parlamentares e funcionário de Lula e estavam claramente sincronizados a importantes votações nominais legislativas durante os dois primeiros anos do Governo Lula. O objetivo desse estudo é discutir as variáveis institucionais e políticas que aparentemente levaram o governo Lula a iniciar o esquema RELATÓRIO DA PROVA "8 paralelo ilegal de recompensas financeiras. A teoria que formula essa argumentação se baseia nas escolhas políticas de coalizão e na estratégia presidencial. As evidências indiretas incluem representação de cada membro da coalizão de governo no gabinete, ideologia e transferências de recursos particularizados (pork) entre o Poder Executivo e seus apoiadores no Congresso. 2 - A estrutura do jogo político O Brasil possui uma mistura complexa de instituições eleitorais que frequentemente é considerada culpada pela fragmentação e descentralização partidária. O sistema de lista aberta estimula os eleitores a apoiar candidatos baseado em qualidades e atividades pessoais. Assim, os parlamentares tem motivos para cultivar relações diretas com eleitorados locais ao invés de por meio de partidos. O alto grau de fragmentação significa que o Executivo tem muitos parceiros e aliados em potencial, e o baixo grau de fidelidade partidária e disciplina significa que benefícios monetários serão persuasivos para um número substancial de parlamentares. Assim, o sistema eleitoral descentralizado brasileiro estimula os deputados federais a se envolverem em políticas personalistas e favorecer políticas distributivistas orientadas geograficamente, enquanto a lógica majoritária das relações Executivo-Legislativo estimula os deputados a seguir os interesses dos líderes partidários ou do presidente. 3 - Opções estratégicas de governança Compromissos com a coalizão de governo normalmente implicam uma expectativa de que o partido político terá acesso a cargos no ministério, bem como os recursos associados a capacidades legislativas. Assim, o Executivo pode obter apoio legislativo com benefícios monetários pois o Executivo tem poder para escolher quais emendas serão de fato executadas. 4 - Um breve histórico da gestão de coalizão no Brasil O governo Collor foi o único desde a redemocratização em que o presidente governou sem uma coalizão estável, multipartidária e majoritária dando-lhe apoio dentro do Congresso. Além disso, Collor tinha pouca representação pois não compartilhava o poder com partidos que poderiam apoia-lo quando houvesse necessidade. Por esse e outros motivos, ele sofreu o impeachment. Porém, FHC rapidamente aprendeu a governar com uma coalizão sustentável e teve grande apoio conciso durante seu mandato. 5 - Características específicas contextuais para a coalizão de Lula O PT possui uma legenda dividida e fragmentada. Além disso, Lula precisava bancar os programas sociais e encontrar formas de cortar outros custos ou aumentar a receita do RELATÓRIO DA PROVA "9 governo. As formas mais clara de liberação de recursos foram através das reformas tributárias e previdenciárias que criariam polêmica e controvérsia entre suas principais aliados partidários. Além disso, essas reformas requereriam emendas constitucionais com uma parcela de votos mais conservadora. 6 - As decisões estratégicas de Lula A expansão de cargos ministeriais por Lula foi de incluir alguns ministérios novos com atribuições para diferentes dimensões de políticas sociais, mas a maioria dos novos cargos foi para o próprio PT, ampliando o poder do Executivo. FHC tinha uma coalizão de 6 partidos e Lula de 8. As decisões de Lula sobre a distribuição de benefícios monetários se refletiram na capacidade de substituição desses benefícios por benefícios políticos. Lula comprou apoio externo para as reformas constitucionais mais difíceis ao repassar por para partidos fora da coalizão. Os mensaleiros tendem a ser mais jovens, com menos atividade legislativa, mais proeminentes na mídia e mais dependentes de financiamento de campanha de seus partidos. Além disso, tendiam a ter votos dispersos, recebendo votos espalhados pelos estados.Isso é consistente com o que Persson diz de que os sistemas políticos que usam voto distrital freiam comportamento corrupto porque a representação territorial demarcada minimiza os custos de monitoramento dos eleitores e aumenta a responsabilização vertical. Assim, os mensaleiros exibem maior demanda por distributivismo (pork) mas não tem maior probabilidade de recebê-lo. 7 - Conclusão A reformulação de postura decisiva do PT como um partido pragmático, pró-mercado de centro esquerda depois de 2003, reduziu significativamente a distância ideológicaentre o PT e seus partidos de aliança. Ocorreu, de certa forma um presidencialismo de coalizão onde teve uma importância de negociação estratégica e gerência da coalizão, onde mesmo com as restrições institucionais, o presidente tem certa margem de manobra. Na construção de coalizões, os executivos enfrentam escolhas sobre ideologia e heterogeneidade, sobre transferências de recursos orçamentários e sobre acesso a espaços de poder no ministério. RELATÓRIO DA PROVA "10 Reis Texto 4 Nada é capaz de banir corrupção. Há, no entanto, outros valores a serem perseguidos quando se discute o processo eleitoral, além do controle da corrupção, e esses acabam obscurecidos. Esse é o tema que vou tentar perseguir. Há nexos razoáveis, plausíveis, entre sistema eleitoral e corrupção, e eu vou tentar persegui-los especificamente no caso do Brasil. Não há consenso entre os estudiosos sobre quais são os nexos e, finalmente, quaisquer que sejam esses nexos, eles se dão no longo prazo. Então, não há nada que se possa esperar de uma reforma política, a curto prazo, no combate à corrupção. O combate à corrupção é tarefa permanente do Estado. Permanente no sentido de que se trata de tentar coibir uma prática criminosa, o abuso do poder econômico nas decisões políticas. Corrupção é exatamente isso: certa contaminação das decisões políticas pelo poder econômico. Temos um aparato de Estado que se auto-fiscaliza com rigor crescente e, portanto, visibilidade crescente do que quer que aconteça e o ato mesmo de aparecerem problemas regularmente cria um mal-estar que eventualmente poderá cobrar seu preço no que diz respeito à confiabilidade e à respeitabilidade geral do sistema político – e, portanto, sua estabilidade. Isso, naturalmente, aumenta a pressão por reformas no sistema político. Sistemas de financiamento são um atributo a mais do sistema eleitoral. A fiscalização do sistema de financiamento brasileiro é muito exigente e cara. Isso é ruim para a legitimação do sistema político, seja porque no limite a fiscalização precária (ou custosa) favorece corrupção, seja porque tende a produzir elevadas barreiras à entrada e, logo, competição enviesada. Apesar de o indicador clássico da corrupção ser a percepção da corrupção, a percepção da corrupção é contaminada pela grande heterogeneidade daquilo que costumamos chamar vagamente de “cultura política”, e que pouco tem a ver com a corrupção efetivamente praticada. Não há sistema eleitoral igual ao do Brasil com seu sistema de distritos de grande magnitude, dezenas de partidos, liberdade para formar coligações distintas em diferentes distritos e representação proporcional com centenas de candidatos não ordenados. Se um sistema é difícil de controlar, se é difícil atribuir confiabilidade às prestações de contas, e essa pulverização de candidaturas individuais certamente não ajuda, ele produz duas consequências plausíveis: primeiro, a provisão financeira para a sua próxima campanha, RELATÓRIO DA PROVA "11 se você é um político profissional, é muito incerta, já que o campo é difícil de prospectar; em segundo lugar, torna-se relativamente mais fácil escapar com financiamento ilegal, porque a fiscalização é feita sobre mais de mil contendores. Se temos um sistema com provisão financeira incerta e dificuldade de controle, e se o gasto aumenta sua chance de se eleger, então o sistema embutiu um viés a favor da conduta criminosa: como a probabilidade do infrator ser pego é baixa e o fato de gastar mais dinheiro aumenta as chances de se eleger, aquele que montar seu “caixa dois”, aquele que for menos escrupuloso quanto a aceitar dinheiro do “caixa dois” de seus potenciais doadores, tem maior probabilidade de ser eleito, tudo mais mantido constante. Devemos ter em mente que o caixa dois da campanha tem origem no caixa dois privado, cujo dono eventualmente estará interessado em lavar esse dinheiro na campanha. Assim, a pulverização das candidaturas individuais é algo que dificulta não apenas o controle ponto de vista administrativo mas também dificulta ao candidato recusar ofertas ilegais, porque ele não tem poder de barganha suficiente para influenciar os termos da doação. Pois, nos casos de corrupção, alguém que não chega a ter influência decisiva sobre o sistema pulveriza dinheiro em montantes comparativamente menores, tentando influenciar um deputado ou outro. Por sua vez, aquele que financia legalmente grande número de candidatos ao legislativo, esse está simplesmente comprando influência legalizada sobre o sistema político. Quem ajuda a escrever a própria lei, não precisa cometer crime de corrupção ativa, pois está simplesmente definindo a regra do jogo em termos que lhe convêm. É um problema muito mais grave, porque leis serão escritas na forma que interessa a um poder privado específico, fonte de poder econômico, de maneira tecnicamente não corrupta. Eu suspeito que será inútil procurarmos favorecimento ocasional, irregular, ao grande financiador de campanha: pois ele é capaz, em larga medida, de ditar as regras que lhe interessam. Assim, tenderá a não haver favorecimento ilegal – ele será beneficiado legalmente. Isso é um problema fundamental, e essa compra legal de influência política espúria, somada ao viés eleitoral a favor de quem usa “caixa dois”, criou um quadro delicado, não obstante a estabilidade do sistema político. Pessoalmente, creio que superar essa pulverização da competição entre candidaturas individuais induzida pelo sistema de lista aberta em nossas eleições proporcionais seria desejável. Eu evitaria correr para o financiamento público exclusivo, porque é um salto no escuro, sem precedentes, e temo que fizesse aumentar de novo o caixa dois, além do efeito RELATÓRIO DA PROVA "12 certo de elevar as barreiras à entrada na competição partidária. Eu experimentaria estipular tetos nominais para as doações de campanha. RELATÓRIO DA PROVA "13
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