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DIREITO DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA
NOTA DE AULA Nº 2
A DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL
1. Ideias iniciais
A Doutrina da Proteção Integral foi adotada pela Constituição de 1988, ensejando que também o Estatuto da Criança e do Adolescente nela se baseasse.
Duas doutrinas se contrapuseram no final do século XX: a da Situação Irregular e a da Proteção Integral.
A Doutrina da Proteção Integral sobreveio à Doutrina da Situação Irregular, que, durante décadas, foi utilizada no Brasil em relação à criança e ao adolescente.
A Doutrina da Proteção Integral estabeleceu-se com pressuposto necessário para a compreensão do Direito da Criança e do Adolescente no Brasil contemporâneo.
A partir daí, a Doutrina da Proteção Integral tornou-se referencial paradigmático do Direito da Criança e do Adolescente.
A maioria das incongruências sobre infância e juventude no Brasil é produto do descompasso da transição entre essas doutrinas.
O Direito da Criança e do Adolescente alcançou capacidade de afirmação teórica, desestruturando as concepções do antigo Direito do Menor.
O Direito da Criança e do Adolescente representa uma ruptura com a antiga compreensão sobre o tema.
A maioria dos pesquisadores registra a transição do Direito do Menor (Doutrina da Situação Irregular) para o Direito da Criança e do Adolescente (Doutrina da Proteção Integral).
2. Doutrina da Situação Irregular
Utilizada durante a maior parte do século XX, essa doutrina se iniciou com o primeiro Código de Menores de 1927 – Código Mello Mattos – e também fundamentou o Código de Menores de 1979.
Código de 1979 – havia uma qualificação de situação irregular em 5 situações:
Subsistência, saúde, instrução (criança com déficit);
Maus-tratos (criança/adolescente sofre maus-tratos na própria família);
Em perigo moral (frequência a locais contrários aos bons costumes);
Em desvio de conduta (qualificação de criança/adolescente que passa por inadaptação, tanto familiar como comunitariamente);
Autor de infração penal (criança/adolescente autor de infração penal era qualificada em situação irregular).
Binômio carência/delinquência – qualquer criança carente economicamente era um delinquente em potencial. O Código de 1979 não trazia um rol de direitos. Somente se tratava de "menor" em situação irregular. 
Criminalização da pobreza – o Código de 1979 criminalizava a pobreza. A principal solução era a internação (FEBEM). O "menor" saía da internação pior do que entrava.
Judicialização de questões sociais – todas as questões eram resolvidas pelo juiz de menores, mesmo as que não tinham a ver com questões judiciais, como, por exemplo, vagas em escolas, quando deviam ser resolvidas pelo administrador com questão social e não judicial.
Generalidade das normas – o Código de Menores tinha vocabulário amplo e palavras dúbias.
- Delito moral? É perigo? Tratava de frequência a ambientes contrários aos bons costumes.
- Inadaptação de conduta? Desvio de conduta? Tudo isso era resolvido pelo juiz de menores, com enorme poder discricionário.
Patologia Social - criança/adolescente carente era visto como uma patologia social e devia ser internado/afastado. Não era portador de direitos.
Legalidade, fundamentação das decisões, presunção de inocência
O juiz de menores podia internar, sob a ótica da prevenção.
Presunção de inocência – parte-se do princípio que criança/adolescente carente é potencial delinquente e de uma presunção de culpa.
Internação – destino mais comum da criança/adolescente que passava pelo juiz de menores. 80% das crianças eram internadas, sem que a elas fossem concedidos quaisquer direitos.
** Conclusões: 
"Menor" não era considerado sujeito de direitos, mas, sim, objeto de proteção.
Somente tratava da criança/adolescente em situação irregular.
Vivia-se num sistema que criminalizava a pobreza, e a criança/adolescente carente era considerada um potencial delinquente.
3. Doutrina da Proteção Integral
Foi verificado que a Doutrina da Situação Irregular não funcionava, e, em 1988, a CF/88 adotou a Doutrina da Proteção Integral.
Integralidade – proteger é resguardar as condições de vida da criança/adolescente de forma integral. Todo ser humano é composto por diversas esferas (cognitiva, afetiva, etc.).
Público-alvo do ECA – todas as crianças/adolescentes. Alcança todos os menores de 18 anos, inclusive os estrangeiros em território nacional (diferentemente da Doutrina da Situação Irregular, que só tratava de criança/adolescente em situação irregular).
Direitos e deveres – crianças/adolescentes são sujeitos de direitos, que estão na CF/88 e no ECA.
CF/88, art. 227. "É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão."
Lei 8.069/1990 (ECA), art. 3º. "A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade."
Deveres – de não entrar em conflito com a lei. Não cometer ato infracional.
Estado, família e sociedade – na Doutrina da Situação Irregular, o Estado e a sociedade lavavam as mãos. A Doutrina da Proteção Integral preconiza que a responsabilidade é dividida pelo Estado, família e sociedade. Se a criança/adolescente não vai bem, houve falha de um desses três entes.
ECA, art. 4º. "É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária."
- Sistema primário (de proteção) – políticas públicas. É o Estado garantindo o direito à alimentação, saúde, educação, etc.
- Sistema secundário (de proteção) – medidas de proteção aplicáveis à criança ou adolescente em situação de risco (diferente da situação irregular): quando criança/adolescente, por omissão dos entes, ou ação própria, tem direitos fundamentais violados ou ameaçados.
- Sistema terciário (de proteção) – trata do adolescente em conflito com a lei.
Assistência social – na Doutrina da Situação Irregular, quem resolvia tudo era o juiz de menores; agora, há uma rede: Conselho da Criança e do Adolescente, Conselho Tutelar, Juiz da Vara da Infância e da Juventude (para questões judiciais), Igreja, ONG's, etc.
Privação de liberdade – atualmente, há várias possibilidades de tratar os conflitos com a lei, inclusive a privação de liberdade, mas apenas nas hipóteses do ECA (deve ser a última solução).
Devido processo legal e garantias – todas as garantias do devido processo legal devem estar presentes na condução dos trabalhos relativos à criança/adolescente.
** Conclusões:
O termo "menor", muito identificado com o binômio carente/delinquente, foi substituído por criança e adolescente.
O Direito da Criança e do Adolescente como ramo jurídico requer compreensão da sua base teórica, que é a Doutrina da Proteção Integral.
Criança e adolescente passam a ser sujeitos de direito, e não mais objetos de proteção, merecedores da proteção integral e prioridade absoluta.
A Doutrina da Proteção Integral reconhece todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana e, ainda, os direitos especiais decorrentes da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

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