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UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares UFRGS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM UTILIZAÇÕES DO GÁS NATURAL DISCIPLINA: Análise Econômica do Gás Natural RESPONSÁVEL: Flávio R. Soares de Soares I. Ementa: Introdução a Engenharia Econômica. Matemática Financeira. Fluxo de Caixa Descontado. Métodos de Avaliação de Investimentos: VPL, TIR e Payback. Taxa Mínima de Atratividade. Alternativas de Investimento Independentes e Mutuamente Excludentes. Casos de conflito com o método da TIR. Avaliação Econômico-Financeira de um Empreendimento. Efeito do Imposto de Renda. Alavancagem Financeira. Sistemas de Amortização. Fluxo Operacional. Fluxo do Empreendimento e Fluxo do Acionista. Estudos de Casos aplicados ao Gás Natural. II. Objetivos: A disciplina trata da análise de investimentos. O seu objetivo é apresentar ao aluno conceitos fundamentais da teoria financeira e da engenharia econômica e demonstrar as principais ferramentas para análise de alternativas de investimento baseada no fluxo de caixa descontado. No final do curso o aluno deve ser capaz de analisar e realizar estudos de viabilidade-econômica de qualquer tipo de empreendimento, particularmente, os que envolvem a utilização do gás natural. O curso procurará ter um enfoque teórico-prático, trazendo, sempre que possível, estudos de casos que envolvam a indústria do gás natural . III. Conteúdo Programático: Tópico Apostila Sessão 1 – 06/11 - noite Introdução. Matemática Financeira Cap. 1,2 Sessão 2 – 07/11 - tarde Métodos de Análise Cap 3 Sessão 3 – 07/11 - noite Métodos de Análise / Exercícios Cap.3 Sessão 4 – 20/11 - noite Viabilidade de Empreendimentos Cap.4 Sessão 5 – 21/11 – tarde Viabilidade de Empreendimentos / Exercícios Cap. 4 Sessão 6 – 21/11 - noite Estudos de Caso / Apresentação de mo- delos Econômico-Financeiros/ avaliação Cap. 5 UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 2 IV. Metodologia: Os tópicos da disciplina serão apresentados em aulas teóricas com enfoque principal na parte conceitual. Cada assunto será complementado com uma bateria de exercícios baseados em casos práticos a serem discutidos e resolvidos em sala de aula pela turma, orientados pelo professor. É aconselhável que o aluno leia previamente os assuntos referentes a cada sessão. É necessário o uso de calculadora. V. Critérios de Avaliação: A definir. VI. Bibliografia Básica: CASAROTTO FILHO, Nelson; KOPITTKE, Bruno Hartmut; Análise de Investimentos; 9ª ed.; São Paulo: Atlas 2000. VII. Bibliografia Complementar: BRIGHAM, Eugene F.; GAPENSKI, Louis C.; Intermediate Financial Management; 4ª ed.; Dryden Press 1993. HIRSCHFELD, Henrique; Engenharia Econômica e Análise de Custos; 7ª ed.; São Paulo: Atlas 2000. ROSS, Stephen A.; WESTERFIELD, Randolph W.; JAFFE, Jeffrey F.; Administração Financeira – Corporate Finance; São Paulo: Atlas 1995 UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 3 Índice 1. INTRODUÇÃO ....................................................................... 5 2. MATEMÁTICA FINANCEIRA ........................................... 7 2.1 PRINCÍPIO BÁSICO .......................................................................................... 7 2.2 FLUXO DE CAIXA ............................................................................................. 8 2.2.1 Representação Gráfica do Fluxo de Caixa ..................................................... 8 2.3 JUROS ......................................................................................................................... 8 2.3 TAXA EFETIVA, NOMINAL E EQUIVALENTE ........................................ 10 2.4 RELAÇÕES DE EQUIVALÊNCIA ................................................................. 12 2.4.1 Convenções ................................................................................................... 12 2.4.2 Relação entre P e F ....................................................................................... 12 2.4.3 Relação entre P e U ...................................................................................... 15 2.4.4 Relação entre F e U ...................................................................................... 17 2.4.5 Séries Perpétuas ............................................................................................ 19 2.5 EXERCÍCIOS COM RESPOSTA .................................................................... 20 3. AVALIAÇÃO DE ALTERNATIVAS DE INVESTIMENTO .......................................................................... 22 3.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 22 3.2 PRINCÍPIOS E CONCEITOS .......................................................................... 22 3.2.1 Princípios Básicos ........................................................................................ 22 3.2.2 Taxa Mínima de Atratividade (TMA) .......................................................... 23 3.2.3 Alternativas Mutuamente Excludentes e Alternativas Independentes ......... 25 3.3 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO.......................................................................... 25 3.3.1 Método do Valor Presente Líquido (VPL) ................................................... 26 3.3.2 Método da Taxa Interna de Retorno (TIR) ................................................... 28 3.3.3 Problemas com o Método da TIR ................................................................. 32 3.3.4 Método do Tempo de Retorno (payback) ..................................................... 40 3.3.5 Utilização dos Métodos ................................................................................ 41 3.4 EXERCÍCIOS COM RESPOSTA .................................................................... 43 4. ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA DE UM EMPREENDIMENTO .................................................................. 46 4.1 O QUE CONSIDERAR EM UM FLUXO DE CAIXA ................................... 46 4.1.1 Custo de Oportunidade ................................................................................. 46 4.1.2 Custo Evitado ............................................................................................... 47 UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 4 4.1.3 Custo Afundado ............................................................................................ 47 4.1.4 Efeitos em Outros Projetos ........................................................................... 47 4.1.5 Capital de Giro ............................................................................................. 48 4.1.6 Valor Residual .............................................................................................. 49 4.1.7 Custo de Abandono ...................................................................................... 50 4.2 O EFEITO DO IMPOSTO DE RENDA .......................................................... 50 4.2.1 Imposto de Renda Positivo ........................................................................... 53 4.3 ANÁLISE COM FINANCIAMENTO.............................................................. 54 4.3.1 Sistemas de Amortização.............................................................................. 55 4.3.2 Alavancagem Financeira .............................................................................. 59 4.3.3 Fluxo de Caixa do Empreendimento e do Acionista .................................... 61 4.4 FLUXO DE CAIXA OPERACIONAL DE UM EMPREENDIMENTO ...... 61 4.5 EXERCÍCIOS COM RESPOSTA.................................................................... 67 5. ESTUDOS DE CASO ........................................................... 70 5.1 CASO 1 – Projeto de conversão para Gás Natural – Companhia de Cerveja 70 5.2 CASO 2 – Alternativas de traçado de ramal de distribuição para Usina Termelétrica. ................................................................................................................... 72 5.3 CASO 1 – CO-GERAÇÃO NA FRANGOLAITE ........................................... 73 6. ANEXOS ................................................................................ 77 6.1 – TABELAS FINANCEIRAS ............................................................................ 77 UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 5 1. INTRODUÇÃO Um projeto de engenharia se torna realidade quando se viabiliza em todos os seus aspectos, quais sejam, técnicos, econômicos, financeiros, ambientais, políticos e estratégicos. O aspecto técnico, podemos dizer, é a essência da engenharia, onde se busca a melhor concepção em termos de eficiência técnica, procurando proporcionar o máximo de bem estar ao indivíduo e à sociedade. Esse objetivo permanente é o grande responsável pelos avanços tecnológicos e pelo desenvolvimento da ciência como um todo. Entretanto, um projeto viável tecnicamente, mesmo concebido sob as mais avançadas técnicas, não garante por si só sua implantação. A viabilidade econômico- financeira é tão ou mais importante. Ainda mais nos tempos atuais, onde os recursos são cada vez mais escassos e a competitividade cada vez maior. Podemos citar dezenas de exemplos de casos de novas tecnologias e novos materiais, já maduros tecnicamente, que não deslancham por não serem interessantes sob o aspecto econômico. Mas para ficarmos apenas no nosso tema, a utilização do gás natural na nossa matriz energética só acontece quando os seus benefícios compensam os investimentos necessários. E é exatamente isso que estamos observando: o gás penetrando com rapidez nos setores que utilizam energéticos mais caros (energia elétrica, glp) e com dificuldade nos setores que são supridos com combustíveis mais baratos como óleo combustível, carvão e lenha. Uma análise econômico-financeira de um investimento em um projeto não se resume a uma simples estimativa de custos. Pelo contrário, envolve uma série de disciplinas e ferramentas que se consolidam e dão origem a uma nova área de estudo chamada de Engenharia Econômica. Além de técnicas de estimativa de custos, a Engenharia Econômica utiliza conhecimentos de matemática financeira, de estatística, de contabilidade gerencial, de análise de risco, de economia, de administração, etc. Esse mesmo assunto é abordado nos livros de Administração Financeira, na parte de Finanças Corporativas, com um enfoque mais voltado para a área de Orçamento de Capital Empresarial 1. Nós seguiremos nesse curso, como base, a linha didática da Engenharia Econômica, utilizando como apoio complementar o enfoque utilizado nos cursos de Finanças Corporativas. 1 V. ROSS, Stephen A., Administração Financeira, Ed Atlas, Parte II UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 6 Os demais aspectos, mencionados acima, a serem considerados na tomada de decisão de um investimento, são de igual relevância. A questão ambiental tem se tornado cada vez mais importante e decisiva na viabilidade dos empreendimentos, sendo muitas vezes caminho crítico de seu sucesso. O controle dos órgãos ambientais competentes estão cada vez maiores, exigindo dos empreendedores estudos de impacto ambiental na região afetada com a instalação de uma nova planta ou a introdução de um novo processo industrial, condicionando muitas vezes a licença de instalação e operação à medidas compensatórias, que, em última análise, acarretam um custo adicional e interferem no resultado econômico do projeto. Isso demanda novas técnicas, uma metodologia adequada e profissionais especializados. Os aspectos políticos e estratégicos, embora subjetivos e de difícil quantificação e modelagem, são decisivos na tomada de decisão. Muitas vezes, um projeto não viável economicamente pode ser interessante estrategicamente para uma empresa conquistar um mercado ou criar uma barreira ao seu concorrente. Desenvolveremos aqui, entretanto, uma metodologia de análise de investimentos apenas considerando seus aspectos econômico-financeiros, não esquecendo, entretanto, que se trata apenas de um dos enfoques, entre tantos, a ser considerado quando da tomada de decisão de investir ou não em um determinado projeto. ENGENHARIA ECONÔMICA MATEMÁTICA FINANCEIRA ESTATÍSTICA ECONOMIA ANÁLISE DE RISCO ADMINISTRAÇÃO CONTABILIDADE A NÁ LISE D E IN V ESTIM EN TO S ESTIMATIVA DE CUSTOS UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 7 2. MATEMÁTICA FINANCEIRA 2.1 PRINCÍPIO BÁSICO O DINHEIRO HOJE VALE MAIS QUE AMANHÃ O dinheiro ou capital é um dos fatores de produção da economia, juntamente com o trabalho, a terra, a técnica/conhecimento e a empresa. A remuneração desses fatores é que compõem a riqueza de uma sociedade capitalista. O salário remunera o trabalho, o aluguel, a terra; os royalties, a técnica e o conhecimento; o lucro ,as empresas; e finalmente o capital é remunerado pelo JUROS. Portanto, assim como o trabalho realizado pelo homem é remunerado pelo salário, a disponibilidade de capital é remunerada pelos juros. Ou de outra forma, podemos dizer que o salário é o “preço” do trabalho, o juro é o “preço” do dinheiro. Por exemplo, 100 U.M. (unidade monetárias) hoje valem mais que 100 UM amanhã, pois serão remuneradas pelo juros2. Como conseqüência desse princípio, surge outro: SÓ PODEMOS COMPARAR VALORES MONETÁRIOS REFERENCIADOS AO MESMO PERÍODO DE TEMPO 2 Estamos falando de juros reais, descontada a inflação INVESTIR ?? ASPECTOS: • TÉCNICOS • ECONÕMICOS • FINANCEIROS • AMBIENTAIS • ESTRATÉGICOS • POLÍTICOS UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 8 0 1 2 3 Ou seja, não podemos somar ou subtrair quantias em dinheiro que não estejam na mesma data. Para contornar esse problema e lidar com dinheiro ao longo do tempo se dispõe das técnicas da chamada MATEMÁTICA FINANCEIRA. 2.2 FLUXO DE CAIXA FLUXO DE CAIXA é a apreciação das contribuições monetárias ao longo de um período de tempo das entradas (benefícios) e saídas (dispêndios) de uma caixa simbólica. 2.2.1 Representação Gráfica do Fluxo de Caixa Exemplo: Instante 0: investi R$ 10.000,00 Instante 1: recebi R$ 5.000,00 Instante 2 : economizei R$ 2.000,00 Instante 3: paguei R$ 6.000,00 2.3 JUROS Juros Simples incidem apenas sobre o capital inicial a cada período de capitalização, não sendo incorporado ao principal. Juros Compostos incidem sobre, a cada período de capitalização, o capital inicial e sobre os juros capitalizados anteriormente, sendo incorporados ao principal. Período de Capitalização é o período em que uma quantia rende uma taxa de juros i. - 10.000 5.000 2.000 -6.000 Convenção: (+) entradas (benefícios) (-) saídas (dispêndios) UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 9 Juros Simples Juros Compostos Período 0 F=P F=P Período 1: F = P + Pi= P(1+i) F = P + Pi= P(1+i) Período 2: F=P(1+i)+ Pi= P(1+2i) F= P(1+i)+P(1+i)i=P(1+i)2 Período 3: F= P(1+2i)+ Pi= P(1+3i) F=P(1+i)2+P(1+i)2i=P(1+i)3 Período n: F= P(1+(n-1)i)+ Pi= F =P(1+ni) F=P(1+i)n-1+P(1+i)n-1i = F=P(1+i)n Onde: P = capital inicial; F= montante final ou valor futuro; i = taxa de juros por período de capitalização; n= numero de períodos de capitalização EXEMPLO 2.I – Para uma aplicação de R$ 100,00 durante um ano, com uma taxa de juros mensal de 5% a.m, capitalizados mensalmente, qual o montante final para os casos de juros simples e compostos? Solução: P= 100 i = 5% = 0,05 n = 12 Juros Simples: F= 100(1+12.0,05) = R$ 160,00 Juros Compostos: F = 100(1+0,05)12 = R$ 179,58 Verifica-se que com aplicação de juros simples, a aplicação rendeu 60% a.a., ou seja, proporcional a taxa de juros (12x5% = 60%). Daí também serem chamados de Juros Proporcionais. Por outro lado, nota-se que com a incidência dos juros compostos, a aplicação rendeu 79,58%, numa relação exponencial com a taxa de juros. Pela mesma razão, essa modalidade de juros também é chamada de Juros Exponenciais. UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 10 O mercado financeiro trabalha atualmente apenas com Juros Compostos ou Exponenciais. Por esta razão nosso enfoque daqui para frente será apenas sobre essa modalidade de incidência de juros. 2.3 TAXA EFETIVA, NOMINAL E EQUIVALENTE Chama-se Taxa de Juros Efetiva aquela em que a unidade de tempo em que é referenciada coincide com o período de capitalização. Por exemplo, uma taxa de juros de 120 % a.a. com capitalização anual é uma taxa efetiva. Da mesma forma, 10% ao mês com capitalização mensal. Ao contrário, Taxa de Juros Nominal é aquela em que a unidade de tempo em que é referenciada não é a mesma do período de capitalização. Por exemplo, quando se diz que o banco dispõe de um financiamento de 12% a.a.de juros capitalizados mensalmente, essa taxa é nominal. Na verdade, a taxa efetiva é 1% a.m ou (1+0,12)12-1= 12,68% a.a. Portanto: Uma Taxa nominal 12% a.a , capitalizada em 12 períodos equivale a uma Taxa Efetiva de 12,68% a.a. A partir daí, podemos desenvolver o seguinte : Uma taxa nominal in capitalizada em m vezes no período leva a um valor futuro de: F = P(1+in )m m Uma taxa efetiva ie referenciada a esse período, nos leva ao mesmo valor futuro, ou seja: F = P (1+ ie) de onde tiramos a relação entre taxa nominal e efetiva: (1+in )m = (1+ ie) m UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 11 Taxas Equivalentes são taxa efetivas, referenciadas a períodos de capitalização diferentes, que conduzem ao mesmo valor futuro, quando aplicadas ao mesmo valor presente. Ou seja: (1+ia)= (1+is)2 = (1+it)4= (1+im)12 = (1+id)360........ ou (1+ix) = (1+ ik)r onde, ia = taxa de juros anual; is = taxa de juros semestral; it = taxa de juros trimestral; im = taxa de juros mensal; id = taxa de juros diária; r = relação dos números de períodos a que se referem as taxas ik e ix EXEMPLO 2.II – Qual a taxa equivalente mensal de 42% a.a. capitalizada trimestralmente? Solução: a) cálculo da taxa efetiva Taxa nominal in = 42.a.a. m = 4 (quatro trimestres) ie = (1+0,42/4) -1 = 10,5% a.t. , taxa efetiva trimestral b) Cálculo da taxa equivalente mensal: r = 1/3 (1+im)=(1+it)1/3= 1,105 1/3 im = 3,38% a.m. UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 12 2.4 RELAÇÕES DE EQUIVALÊNCIA 2.4.1 Convenções Neste item abordaremos as relações matemáticas que nos permitam comparar valores monetários referenciados a datas distintas, ou seja, relações de equivalência de fluxos de caixa ao longo do tempo. Para isso adotaremos as seguintes convenções: P = quantia existente ou equivalente no instante inicial ou de referência e conhecida por valor presente ou valor atual; F = quantia existente ou equivalente num instante futuro, conhecida por valor futuro; U = valor de uma série uniforme de pagamentos ou recebimentos que ocorrem em n períodos consecutivos; i = taxa de juros por período de capitalização; n = número de períodos de capitalização; 2.4.2 Relação entre P e F A) REPRESENTAÇÃO GRÁFICA B) SOLUÇÃO ANALÍTICA Como já demonstrado na apresentação de juros compostos, temos: F = P(1+i)n ou P = 1 (1+1)n F P 0 2 3 n 1 i% UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 13 C) UTILIZAÇÃO DE TABELAS FINANCEIRAS O fator (1+i)n pode ser tabelado para diferentes valores de i e n, comumente chamado de fator de acumulação de capital. A relação acima pode, então ser apresentada da seguinte forma: F = P(F/P;i,n) onde (F/P;i,n) é um fator que, dado P, nos leva a F, determinados i e n Analogamente, P = F(P/F;i,n) onde (P/F,i,n) é fator que, dado F, nos leva a P, para determinados i e n Os valores tabelados de (F/P;i,n) e (P/F,i,n) encontram-se no Anexo A. Observa-se e demonstra-se facilmente que (F/P;i,n) = 1 (P/F,i,n) EXEMPLO 2.III - Um empresa conseguiu um financiamento de R$ 100.000 para adaptar sua instalações para uso do gás natural em um banco que cobra 5% a.m de taxa de juros. i) Quanto estará devendo após o período de carência de 5 meses? ii) Em que prazo o saldo devedor duplicará em relação ao valor tomado? SOLUÇÃO: i) a) Representação Gráfica F=? 100.000 0 2 3 5 i= 5% 4 1 UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 14 b) Solução Analítica F = P(1+i)n = 100.000(1,05)5 F = 127.628 c) Utilização da Tabela Financeira F = P (F/P,i,n) = 100.000 (F/P, 5%, 5) = 100.000 x 1,27628 F = 127.628 ii) a) Representação Gráfica b) Solução Analítica F = P(1+i)n = 2P (1+0,05)n = 2 nlog 1,05 = log2 n = log2 = 14,21 meses log1,05 c) Utilização da Tabela Financeira F = P (F/P,i,n) = 2P (F/P,5%,n) = 2 Obervando-se a tabela, verifica-se que o fator de acumulação, para i=5%, é igual a 2 para n entre 14 e 15 (F/P, 5%, 14) = 1,9799 (F/P, 5%, 15) = 2, 0789 fator retirado da tabela financeira (anexo A) F=2P = 200.000 100.000 0 2 3 n=? i= 5% 4 1 UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 15 2.4.3 Relação entre P e U a) REPRESENTAÇÃO GRÁFICA B) SOLUÇÃO ANALÍTICA Tem-se que P = U(1+i)-1 + U(1+i)-2 + U(1=i)-3 ....... U(1+i)-n P = U [(1+i)-1 + (1+i)-2 + (1+i)-3 ....... (1+i)-n] Observa-seque o termo entre colchetes é o somatório de uma PG finita de n termos com raiz igual a (1+i)-1 Lembrando que a soma dos termos de uma PG finita é dada por Sn = a1 – anr 1-r onde no caso: a1 = (1+i)-1 an = (1+i)-n r = (1+i)-1 Aplicando a fórmula do somatório da PG e substituindo-a na relação de equivalência acima, resulta em: P = U (1+i)n –1 ou U = P (1+i)n .i (1+i)n .i (1+i)n –1 1 i% P 0 2 3 n U UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 16 C) UTILIZAÇÃO DE TABELAS FINANCEIRAS Os fatores (1+i) –1 e (1+i)n .i podem , da mesma forma, serem tabelados, em (1+i)n .i (1+i) –1 função de i e n. As relações de equivalência passam, portanto, a serem representadas da seguinte forma: P = U(P/U;i,n) onde (P/U;i,n) é um fator que, dado U, nos leva a P, determinados i e n, chamado de Valor Presente de uma Série Uniforme Analogamente, U = P(U/P;i,n) onde (U/P;i,n) é fator que, dado P, nos leva a U, para determinados i e n, chamado de Recuperação de Capital de uma Série Uniforme, muito utilizado em cálculo de financiamentos (Tabela Price) Os valores tabelados de (P/U;i,n) e (U/P;i,n) encontram-se no Anexo A. EXEMPLO 2.IV - Uma motorista de táxi financiou o serviço de adaptação do seu carro para utilização do GNV em 24 meses, dando uma entrada de R$ 500,00. Sabendo-se que o valor à vista do serviço é de R$ 4.000, que a taxa de juros cobrada pela financeira é 5% a.m, qual a prestação mensal que ele pagará? SOLUÇÃO: a) Representação Gráfica U = ? 24 0 2 3 1 P = 4000-500 =3500 UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 17 b) Solução Analítica U = P (1+i)n .i = 3500 x 1,0524x0,05 (1+i)n –1 1,0524-1 U = R$ 253,65 c) Utilização da Tabela Financeira U = P (U/P,i,n) = 3.500 (U/P, 5%, 24) = 3.500 x 0,07247 U = R$ 253,65 2.4.4 Relação entre F e U a) REPRESENTAÇÃO GRÁFICA b) SOLUÇÃO ANALÍTICA Das relações já demonstradas acima entre P e F e P e U, obtem-se a relação de equivalência entre F e U Temos que P = F(1+i)n-1 P = U (1+i)n –1 (1+i)n .i logo, F = U (1+i)n –1 ou U = F i i (1+i)n –1 fator retirado da tabela financeira (anexo A) 1 i% F 0 2 3 n U UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 18 C) UTILIZAÇÃO DE TABELAS FINANCEIRAS Os fatores (1+i)n –1 e i podem , da mesma forma, serem tabelados, em – i (1+i)n -1 As relações de equivalência passam, portanto, a serem representadas da seguinte forma: F = U(F/U;i,n) onde (F/U;i,n) é um fator que, dado U, nos leva a F, determinados i e n, chamado de Valor Futuro de uma Série Uniforme Analogamente, U = F(U/F;i,n) onde (U/F;i,n) é fator que, dado F, nos leva a U, para determinados i e n, chamado de Fator de Formação de Capital de uma Série Uniforme. Os valores tabelados de (F/U;i,n) e (U/F;i,n) encontram-se no Anexo A. EXEMPLO 2. V - Ao instalar uma planta de co-geração, uma indústria reduziu seus custos operacionais em cerca de R$ 120.000,00 por mês. Quanto a empresa terá economizado ao final de 5 anos, sabendo-se que ela reinvestiu essa economia a uma taxa de 1% a.m.? SOLUÇÃO: a) Representação Gráfica U = 120.000 60 0 2 3 1 F = ? i=1% UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 19 b) Solução Analítica F = U (1+i)n -1 = 120.000 x 1,0160 - 1 i 0,01 U = R$ 9.800.360 c) Utilização da Tabela Financeira U = F (U/F,i,n) = 3.500 (U/F, 1%, 60) = 120.000 x 81,6697 U = R$ 9.800.360 2.4.5 Séries Perpétuas Na prática, às vezes o horizonte de análise é tão longo que pode ser conveniente considerá-lo como infinito. É o caso típico de planos de previdência e contratos de concessões publicas onde o período de análise pode ultrapassar 30 anos. Neste caso a série torna-se perpétua, e o seu valor presente chamado de Perpetuidade é dado pela relação: P = lim U (1+i)n –1 n ∞ (1+i)n .i P = U ou U = Pi i EXEMPLO 2. VI - Um empresa analisa a oportunidade de firmar um contrato de concessão de um serviço público por um período de 50 anos. Analisando o mercado, ela estima lucrar por ano cerca de US$ 2.000.mil Considerando que a empresa trabalha em seus investimentos com uma rentabilidade mínima de 15% a.a., qual o valor máximo que ela poderia pagar por essa concessão? n = 50 muito grande série perpétua fator retirado da tabela financeira (anexo A) UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 20 P = U = 2.000.000 = i 0,15 P = US$ 13.333.333 2.5 EXERCÍCIOS COM RESPOSTA EXERCÍCIO 2.i – Sabendo-se que a caderneta de poupança remunera a 6% a.a. com rendimentos mensais, qual a sua taxa efetiva equivalente anual? R. 6,16% a.a. EXERCÍCIO 2.ii – Um agiota empresta R$ 500,00 para pagar R$ 550,00 em uma semana. Qual a taxa de juros efetiva anual cobrada na operação de agiotagem? R. 14.104,29% a.a. EXERCÍCIO 2.iii– Uma empresa planeja aplicar R$ 100.000,00 em um fundo no fim de cada ano , durante 3 anos. Se o fundo pagar um taxa de juros de 6% a.a., com capitalização quadrimestral, quanto a companhia terá no final do sexto ano? R: R$ 380.920,27 EXERCÍCIO 2.iv– Um propaganda de jornal anuncia uma oferta de um telefone celular em 6 vezes “sem juros” ou à vista com 20% de desconto. Qual a taxa de juros que está embutida nesta oferta? R. 6,77% a.m EXERCÍCIO 2.v – Uma pessoa deseja formar, em quatro anos, um fundo de aposentadoria através de depósitos mensais em um banco que paga 7% a,a, de juros. Se o valor da aposentadoria for de R$ 500,00 a.m, qual deve ser o valor dos depósitos ? R. R$ 1.608,77 EXERCÍCIO 2.vi – Como Diretor Financeiro de um banco, você quer oferecer uma alternativa para que o cliente possa saldar um dívida do cheque especial. Ao invés de pagar uma entrada e mais três prestações mensais. ele pode optar por fazer o pagamento em cinco parcelas iguais, sem entrada. Caso ele opte pela nova modalidade, em quantos por cento ele terá reduzida a prestação, sabendo-se que os juros cobrado pelo banco é de 4% a.m.? R. Novas prestações serão 15,2% menores. EXERCÍCIO 2.vii – Umacompanhia têm que pagar três duplicatas com vencimentos em 3 , 5 e 6 meses, sendo seus valores de R$ 800,00, R$ 1.000 e R$ 600,00 respectivamente. O banco credor, que cobra uma taxa de juros de 10% a.m, aceita que a dívida seja liquidada hoje ou daqui a uma ano. Quanto a empresa deverá desembolsar em cada um dos casos? A. liquidação hoje: R$ 1.620,76 liquidação daqui a um ano: R$ 5.086,65 UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 21 EXERCÍCIO 2.viii - Qual é a taxa equivalente mensal, de 42% a.a. capitalizada trimestralmente? R. 3,38% a.m EXERCÍCIO 2.ix – Você é dono de uma loja que pretende vender em 3 vezes sem entrada e “sem juros” ou à vista com X % de desconto. Sabendo-se que seu custo de capital é de 10% a.m, qual deve ser o valor do desconto, para que as duas modalidades de pagamento não causem prejuízo, nem lucro financeiro para você? R. X = 17,10% EXERCÍCIO 2.x – Calcular as séries uniformes equivalentes aos seguintes fluxos de caixa: a) 20 20 20 20 20 i= 5% 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 R. 9,7558 b) 20 20 20 20 20 i= 6% 20 20 20 20 R. 1,0625 1 2 4 6 8 10 0 3 5 7 9 UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 22 3. AVALIAÇÃO DE ALTERNATIVAS DE INVESTIMENTO 3.1 INTRODUÇÃO O processo de implantação de um Projeto de Investimento passa por várias etapas, desde o surgimento de uma necessidade até a efetiva implantação de uma solução que a atenda da melhora maneira possível. Segundo a metodologia proposta por KRICK 3 o Processo de Tomada de Decisão passa pelas seguintes etapas: I – Formulação do Problema; II – Análise do Problema; III – Busca de Alternativas; IV – Avaliação de Alternativas; V – Especificação da Solução Preferida Portanto, temos que ter em mente que a fase de Avaliação de Alternativas é apenas uma entre tantas ao longo do processo da solução de um problema. E como já foi colocado anteriormente, a análise econômico-financeira é uma das ferramentas a ser utilizada para escolha da melhor alternativa e tomada de decisão Nesse Capítulo apresentaremos alguns Métodos Quantitativos mais utilizados pela Engenharia Econômica para Avaliação Econômico-Financeira de Alternativas de Investimento. 3.2 PRINCÍPIOS E CONCEITOS Antes de apresentar e discutir os principais métodos utilizados na avaliação econômico- financeira de alternativas de investimentos, é de suma importância considerar alguns princípios básicos e conceitos a serem definidos a seguir. 3.2.1 Princípios Básicos A) Uma Alternativa de Investimento só é considerada quando existem recursos para realizá-la. Não adianta nada considerar a possibilidade de comprar um apartamento à vista se não há condições de conseguir dinheiro para tal. 3 KRICK, E.V. Métodos e Sistemas. Rio de Janeiro: LTC, 1971 UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 23 B) Todos os Benefícios e Custos de cada Alternativa devem ser expressos em dinheiro. Os fatores não conversíveis em dinheiro (bens intangíveis, valor sentimental, de um bem, imagem da empresa, valor estratégico, etc) não farão parte da Análise econômico-financeira e deverão ser considerados através de critérios qualitativos. C) Não considerar o passado. Afundar Custos (sunk costs) e Benefícios passados.O que passou, passou. Não interessa o quanto já investi no desenvolvimento de um determinado projeto. O que importa é o quanto eu vou gastar ainda e o quanto ele vai me render daqui pra frente. D) Considerar sempre o valor do dinheiro no tempo. Utilizar sempre os princípios da Matemática Financeira. O dinheiro sempre terá um custo de oportunidade, representado pela taxa de juros a ser considerada na análise, também chamada de Taxa de Desconto. E) Só as diferenças entre as Alternativas é que são relevantes. A análise é incremental (ou diferencial). Se todas as alternativas, por exemplo, tiverem o mesmo custo de manutenção, não é preciso considerá-lo. F) Via de Regra, considerar o Fluxo de Caixa discreto de cada alternativa, concentrando-se os eventos no final de cada período (postecipado). G) A análise é determinísitca. Os valores considerados são únicos, não havendo dispersão entre eles. Não são consideradas, nesse momento, as condições de incerteza de cada alternativa. 3.2.2 Taxa Mínima de Atratividade (TMA) Sem dúvida, no nosso entender, o conceito mais importante da Engenharia Econômica. E, talvez por isso, o mais discutível e o mais sujeito a controvérsias. Procuraremos tratá-lo da forma mais objetiva possível. Taxa Mínima de Atratividade (TMA) é a rentabilidade mínima que o investidor considera necessária para realizar o investimento. A TMA deve ser maior ou igual ao custo de oportunidade e ao custo de capital do investidor. UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 24 Podemos entender como custo de oportunidade a rentabilidade da melhor alternativa de investimento, com mesmo grau de risco, que o investidor possui, caso não decida investir na alternativa em questão. Por exemplo, uma empresa possui uma carteira de n projetos independentes e recursos para aplicar em apenas em m projetos. Ao analisar os m projetos possíveis (lembre-se do princípio básico que a alternativa de investimento só existe quando há recursos financeiros para realizá-la) o seu custo de oportunidade é a maior rentabilidade dos (m-n) projetos restantes. Custo de Capital é o custo financeiro dos recursos a serem aplicados no projeto em questão. Podem ser a taxa de juros de uma linha de financiamento ou o retorno exigido pelo acionista, por exemplo. Para cálculo do Custo do Capital de uma empresa, utiliza-se, normalmente, o método do Média Ponderada do Custo de Capital ( comumente expresso na literatura como WACC – Weight Average Cost of Capital) que nada mais é que a média ponderada dos custos de terceiros (financiamentos) e o custo de capital próprio (acionista). Para estimativa do custo de capital próprio foram desenvolvidos alguns métodos baseados na Teoria de Mercado de Capitais. Os mais utilizados são o CAPM (Capital Asset Pricing) e o APT ( Asset Pricing Model)4. Até agora, tratamos de alternativas com igual grau de risco. É prática usual e defendida por alguns autores, ao tratarmos de alternativas com graus de risco diferenciados, acrescentarmos um prêmio de risco à TMA, em função de uma alternativa conter maior risco em comparação com as demais. É uma forma simplificada de contemplarmos o risco em uma análise determinística. Uma análise de risco propriamente dita contempla modelos mais complexos, considerando toda a aleatoriedade das variáveis envolvidas. TMA = Max (Custo de Capital; Custo de Oportunidade) + prêmio de risco EXEMPLO 3.i – Uma Companhia de Gás analisa o investimento em um novo gasoduto em uma determinada região de sua área de concessão. Sabe-se que a empresa tem projetos de outros ramais a serem instalados em outras áreas que apresentam rentabilidade de 15% a.a. O grau de endividamento da empresa é de 70% tendo um custo médio de 12% a.a.. Sabendo-se os acionistas trabalham comum retorno mínimo de 25% sobre o capital investido, calcular a Taxa Mínima de Atratividade que deve ser utilizada na análise de viabilidade econômico-financeira do novo gasoduto. 4 Ver detalhes em ROSS, A.R Administração Financeira – Corporate Finance, Parte III, Ed Atlas UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 25 SOLUÇÃO: custo de oportunidade: 15% a.a. custo de capital = 0,7. 12 + 0,3. 25 = 15,9% prêmio de risco = 0 ⇒ a alternativa em questão tem o mesmo grau de risco das demais opções de investimento da empresa TMA = Max (15; 15,9) + 0 TMA = 15,9 % a.a. 3.2.3 Alternativas Mutuamente Excludentes e Alternativas Independentes As alternativas de investimento podem ser divididas em mutuamente excludentes e independentes. As Alternativas Mutuamente Excludentes ou Exclusivas são aquelas em que a escolha de uma delas exclui as demais. Por exemplo, a decisão de gerar energia através de um moto-gerador a gás ou comprar energia da concessionária, passa por uma análise de alternativas mutuamente excludentes. Da mesma forma, queimar óleo ou gás em uma caldeira, são alternativas da mesma natureza. As Alternativas Independentes, por outro lado, são aquelas que podem ocorrer simultaneamente. Por exemplo, construir um gasoduto na região sul do Estado e uma rede de distribuição de gás em Porto Alegre. Geralmente a análise desse tipo de alternativas aparece quando da composição de uma carteira de investimentos. Neste caso, a restrição orçamentária é um fator decisivo na solução do problema. 3.3 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO Existem vários métodos determinísitcos de avaliação de investimentos, alguns classificados como exatos, dentro dos princípios básicos, e outros incompletos, mas que são ainda muito utilizados como método complementar por muitas empresas devido a sua facilidade de cálculo. Abordaremos aqui os três métodos mais utilizados pelos analistas em todo mundo, destacando as vantagens e limitações de cada um e os cuidados a serem tomados na interpretação de seus resultados. São eles: UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 26 • MÉTODO DO VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL); • MÉTODO DA TAXA INTERNA DE RETORNO (TIR); • MÉTODO DO TEMPO DE RETORNO (PAYBACK). 3.3.1 Método do Valor Presente Líquido (VPL) O método consiste em trazer a valor presente, descontado à Taxa Mínima de Atratividade, o fluxo de caixa incremental a ser gerado pela alternativa analisada. Se o VPL for positivo, o projeto é viável. Quanto mais positivo, mais atrativo se torna a alternativa de investimento. Dado um fluxo Obter n VPL = ΣΣΣΣ Fi (1+TMA)-i i=0 0 n 1 2 3 4 Fn F3 F2 F1 F0 F4 VP n 0 1 2 3 4 UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 27 CRITÉRIOS DE DECISÃO: A) Alternativas Independentes: VPL > 0 Alternativa Viável B) Alternativas Mutuamente Excludentes: Maior VPL Melhor Alternativa EXEMPLO 3.ii – Uma Companhia necessita adquirir um equipamento para seu processo industrial. Recebeu duas propostas de fabricantes diferentes, que atendem as exigências técnicas. Fabricante A Fabricante B Custo de aquisição $ 50.000 $ 80.000 Custo anual de Manutenção $ 20.000 $ 15.000 Valor de Revenda $ 4.000 $ 8.000 Vida Útil 10 anos 10 anos De qual fabricante a empresa deve comprar o equipamento, sabendo-se que ela vai utilizá-lo durante toda sua vida útil? Utilizar o Método do VPL, sabendo-se que a TMA da empresa é de 20% a.a SOLUÇÃO: Fabricante A VPL = -50.000 - 20.000(P/U;20%;10) + 4.000(P/F;20%;10) = -50.000 – 20.000x4,1925 + 4.000 x 0,1615 VPL(@20%) = $ -133.204 0 20.000 50.000 10 4.000 UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 28 Fabricante B VPL = -80.000 - 15.000(P/U;20%;10) + 8.000(P/F;20%;10) = -80.000 – 15.000 x 4,1925 + 8.000 x 0,1615 VPL(@20%) = $ -141.596 VPLA > VPLB Proposta do Fabricante A mais interessante 3.3.2 Método da Taxa Interna de Retorno (TIR) Por definição, Taxa Interna de Retorno (TIR) é a taxa de desconto para qual o VPL do fluxo de caixa da alternativa em questão é nulo. A TIR de um projeto pode ser entendida como a remuneração do capital investido. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA: VPL i % TIR % 0 15.000 80.000 10 8.000 UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 29 SOLUÇÃO ANALÍTICA: VPL = F0 + F1(1+i) -1 + F2 (1+i)-2 + F3(1+i)-3 + .......+ Fn (1+i)-n = quando VPL = 0 i = TIR ou n VPL = ΣΣΣΣ Fk (1+TIR)-k = 0 k=0 Observa-se, portanto, que o cálculo TIR passa pela solução de um problema de cálculo das raízes de uma equação de grau n. Via de regra, para cálculo da TIR, é necessário a utilização de de métodos númericos, iterativos, sendo o mais comum deles o Método de Newton-Raphson. CRITÉRIOS DE DECISÃO: A) Alternativas Independentes: TIR > TMA Alternativa Viável B) Alternativas Mutuamente Excludentes: Maior TIR Nem sempre Melhor Alternativa. CUIDADO!!! 1 2 3 4 Fn F3 F2 F1 F0 F4 UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 30 Por sua solução não ser explícita, o Método da TIR pode apresentar, em alguns casos, problemas de convergência e apresentação de mais de um resultado (mais de uma raiz real) que merecem uma análise mais criteriosa. Além disso, a análise de alternativas mutuamente exclusivas através da TIR, nos leva em alguns casos a resultados conflitantes com os obtidos com o Método do VPL. Isso ocorre em projetos com escala de investimentos e distribuição no tempo do seus fluxos de caixa diferentes. Essas limitações do método e a forma de contorná-las serão abordadas mais adiante. EXEMPLO 3.iii – Um investidor institucional, com o objetivo de diversificar sua carteira de investimentos, pretende aplicar parte de seus recursos em projetos na área de energia. Foi-lhe oferecida a oportunidade de participação em uma sociedade cuja finalidade é a construção de uma usina termelétrica a gás natural. O investimento total estimado do empreendimento é da ordem de U$ 300 milhões que será desembolsado ao longo dos 2 anos de construção, sendo 40 % no 1º ano e 60% no 2º ano. O retorno previsto para os acionistas com a venda de energia elétrica, líquido de impostos, é da ordem de R$ 25 milhões anuais. Os contratos de suprimento de gás e venda de energia são firmados por um prazo de 20 anos, quando se estima um valor residual para usina de 20% do valor investido. Sabendo-se que o investidor aceita projetos com graude risco semelhante com uma taxa interna de retorno mínima de 15% a.a., essa alternativa de investimento é viável? SOLUÇÃO: VPL = -120(1+i)-1 + 180 (1+i)-2 + 25 (P/A;i;20)(1+i)-2 + 60 (1+i)-20(1+i)-2 Atribuindo valores de i na equação acima, tem-se; i % VPL 0 260 5% 138,6 10% -4,2 0 25 180 22 60 120 3 1 2 UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 31 Pode-se afirmar que existe um valor de i entre 5% e 10% que resulta em vpl=0 Continuando o processo iterativo, com incrementos menores, tem-se i % VPL 6% 100,5 7% 68,0 8% 40,2 9% 16,3 10 % -4,2 Analisando os resultados, concluimos que a TIR está entre 9% e 10%. Poderíamos continuar o processo iterativo até convergir de acordo com a precisão de resultados desejada. Simplificando, interpolamos linearmente os valores e obtemos um valor final de 9,8% a.a. Portanto, VPL(9,8%) = 0 TIR = 9,8% a.a. como TIR > TMA , o projeto não é viável 80 60 40 20 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 i % VPL TIR = 9,8% UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 32 3.3.3 Problemas com o Método da TIR 3.3.3.1 Múltiplas Taxas de Retorno Suponhamos um projeto com o seguinte fluxo de caixa.5 Ano 0: -$ 100 Ano 1: $ 230 Ano 2: $ -132 Calculando a TIR do fluxo acima, temos: VPL = -100 + 230 - 132 = 0 (1+TIR) (1+TIR)2 = 100 (1+TIR)2 - 230 (1+TIR) + 132 = 0 Resolvendo a equação do segundo grau, encontramos duas raízes reais positivas e distintas, quais sejam: TIR1 = 10% TIR2 = 20% Portanto, estamos diante de um problema com duas TIRs. Qual delas utilizá-las?? Na verdade, neste caso, não é possivel utilizar o método da TIR para tomada de dicisão da alternativa em tela, pois não há nenhuma boa razão para escolher uma taxa ou outra. O método do VPL seria o mais indicado. • POR QUE E QUANDO ISSO OCORRE ? Como vimos no item anterior, o cálculo da TIR nada mais é do que a solução de um problema de determinação das raízes de uma equação polinomial de grau n. Pela álgebra, sabe-se que um polinômio de grau n possui n raízes, que podem ser reais e imaginárias. No nosso caso, só interessam os valores reais positivos. 5 Suponha um projeto de exploração de uma mina, onde há um investimento inicial de exploração, a extração do minério durante um ano e um custo final de abandono (recomposição da área) UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 33 Por outro lado, a Regra de Sinas de Descartes6 nos diz que uma equação polinomial poderá ter até M raízes reais positivas, sendo M o número de inversão de sinais dos termos do polinômio. Aplicando-se a Regra de Descartes ao nosso caso, pode-se dizer que um fluxo de caixa poderá ter até M TIRs distintas, sendo M o número de inversões de sinais que ele apresentar. Por exemplo, o o fluxo de caixa abaixo pode apresentar até 3 valores distintos de TIR pois possui 3 mudanças de sinais. m=3 r = 1 ou 3 • COMO CONTORNAR O PROBLEMA ? Embora o método do VPL possa ser utilizado para resolver esse problema, muitos analistas e executivos preferem a TIR como indicador de viabilidade, alegando ser mais intuitivo analisar um retorno percentual do que um retorno em dinheiro. Brigham e Gapenski colocam que a preferência da TIR sobre o VPL está na relação de 3 para 1 entre os tomadores de decisão. Nesse sentido, para contornar esse problema de múltiplas TIRs, lança-se mão de um novo método, chamado de TIR modificada ou TIRM, que consiste em eliminar a inversão de sinais, considerando-se que os fluxos serão reaplicados à TMA. 6 A Regra de Sinais de Descartes estabelece ser o número de raízes positiva r igual a: r = m-2k > 0 m = número de mudanças de sinais e K = 0,1,2,3 .... 1ª mudança 2ª mudança 3ª mudança UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 34 Considerando o problema anterior, se reaplicarmos o fluxo do ano 1 à uma TMA de 15% , teríamos: O novo fluxo modificado passa a ter apenas uma inversão de sinal, portanto apenas uma TIR. Vejamos. VPL = -100 + (264,5-132)(1+TIRM)-2 = 0 TIRM = 15,1% a.a. TIRM = 15,1% > TMA Projeto viável VPL @ 15% = 0,19 > 0 Projeto viável Como vimos, o resultado obtido com a TIR modificada quando comparado ao VPL, nos fornece o mesmo resultado, pois os fluxos são reinvestidos à TMA, o que fazemos implicitamente quando utilizamos o método do VPL. O método da TIR modificada , portanto, resolve o problema de múltiplas taxas de retorno. Entretanto o seu cálculo é mais complexo e exige a determinação de uma taxa de desconto (ou reaplicação), eliminando-se a grande vantagem do método da TIR simples em relação aos demais métodos, em particular ao VPL. 1 -132 230 x 1,15 = 264,5 2 0 -100 UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 35 3.3.3.2 Problemas com Alternativas Mutuamente Excludentes Relembrando que duas ou mais alternativas de investimento são consideradas mutuamente excludentes quando a escolha de uma elimina as demais, trataremos nesse item dois problemas que podem ocorrer quando é utilizado o Método da TIR para decisão da melhor alternativa. • O PROBLEMA DA ESCALA Consideremos duas alternativas de aplicação A e B. Na alternativa A você aplica R$ 1 e recebe R$ 2, após um mês. Na opção B você aplica R$ 1000 e recebe 1500 após o mesmo período. Em qual você aplicaria, sabendo-se que só poderia escolher uma das alternativas? Obviamente a escolhida seria a aplicação em B, pois no final você estaria “mais rico” R$ 500 . Com a alternativa A sua “fortuna” aumentaria apenas R$ 1 . Essa análise é intuitiva. Apliquemos, então o método da TIR para análise. Teríamos, TIR A = 1 – 2 = 100% a.m 1 TIR B = 1 – 1500 = 50% a.m 1000 TIRA > TIRB Pelo método da TIR, portanto, a alternativa A seria a melhor opção, contrariando o bom senso. Onde está o conflito com a TIR? O problema está em não considerar as diferenças de escala das alternativas. Ou seja, se aplicar em A, o que será feito com os restantes R$ 999? • COMO CONTORNAR O PROBLEMA ? Consideremos que a alternativa maior A consiste em duas parcelas A + (B-A) Se provarmos que (B-A) rende mais que a TMA, concluiremos que alternativa B é a mais interessante. O fluxo (B-A) chama-se de Fluxo de Caixa Incremental e sua análise é o artifício utilizado para problemas de alternativas mutuamente excludentes com tamanho ou escala de investimento diferentes, como veremos no exemplo a seguir. UFRGS Análise Econômicado Gás Natural Flávio Soares de Soares 36 EXEMPLO 3.iv Uma empresa, cuja TMA é de 6% a.a., dispõe de duas alternativas para introduzir uma linha de fabricação para um dos componentes de seu produto. A Alternativa A é para um processo automatizado que exigirá um investimento de R$ 20.000 mil e propiciará uma receita líquida de 3.116 mil. A Alternativa B é para um processo semiautomatizado, com um investimento inferior de R$ 10.000 mil, mas devido ao seu custo maior de mão-de-obra, renderá apenas R$ 1.628 mil líquidos anuais. Ambos os processos tem uma vida útl de 10 anos. Qual a melhor alternativa? SOLUÇÃO: Alternativa A 3.116 0 1 2 10 -20.000 Alternativa B 1.628 0 1 2 10 -10.000 Pelo método da TIR, temos Alternativa A: -20000 +3.116(P/U;TIRA;10) = 0 TIR A = 9 % a.a. Alternativa B: -10000 +1.628(P/U;TIRB;10) = 0 TIR B = 10 % a.a. Pelo Método do VPL, temos: Alternativa A: VPL = -20000 +3.116(P/U;6%;10) VPL A = R$ 2.933 Alternativa B: VPL = -10000 +1.628(P/U;6%;10) VPL B = R$ 1.982 UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 37 Aparentemente, estamos diante de um impasse entre os métodos do VPL e da TIR, pois enquanto a TIR indica o projeto B como a melhor alternativa (maior TIR), a alternativa A apresenta um VPL maior. Nesse caso, podemos resolver o problema através da análise do fluxo de caixa incremental. (A-B) 3116 -1.628 = 1.488 0 1 2 10 -20000 – (-10000) = -10000 Aplicando os métodos do VPL e da TIR ao fluxo incremental, temos TIR (A-B) = 8% a.a. VPL (A-B) @ 6% = 952 Os resultados mostram que se a empresa escolhesse a alternativa B, ela teria que aplicar a diferença de R$ 10.000 em um investimento que rendesse no mínimo 8 % a.a. Como se supõe que as alternativas de investimento da empresa rendem a TMA, então é preferível investir em A. O método do VPL já considera implicitamente em sua metodologia esse aspecto, por isso é o mais indicado nesses casos. Graficamente, podemos visualizar melhor. Pelo gráfico VPL x i abaixo podemos ver que a TIR do Fluxo Incremental coincide com a interseção dos Fluxos de A e B. Esse ponto é chamado de Intersecção de Fischer, que representa o Valor limite da TMA para qual uma alternativa passa ser mais interessante que a outra. Para o exemplo acima, temos: Se TMA < 8% a.a. Alt A é melhor Se TMA > 8% a.a. Alt B é melhor Se TMA = 8% a.a. As alternativas são equivalentes. UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 38 • O PROBLEMA DA DISTRIBUIÇÃO DOS FLUXOS NO TEMPO Outra hipótese em que ocorre conflito com a TIR, semelhante ao caso acima, é quando temos alternativas mutuamente excludentes com fluxos de caixa com distribuição ao longo do tempo diferentes. Vamos considerar o seguinte exemplo. EXEMPLO 3.iv Uma empresa petrolífera analisa a participação da compra de dois campos de produção de gás por US$ 100 milhões cada. O campo A apresenta uma curva de produção mais suave, com seu pico de acontecendo no final do prazo de concessão que é de 5 anos. Para o campo B, por sua vez, estima-se uma produção mais acelerada, conforme mostram os fluxos abaixo. 0 1 2 3 4 5 CAMPO A - $100 $5 $20 $30 $50 $90 CAMPO B -$100 $40 $40 $30 $30 $20 Sabendo-se que a Companhia trabalha em projetos semelhantes com uma TMA de 12% a.a. e que, por restrições do órgão regulador, ela só pode adquirir um dos campos, qual das alternativas deve ser escolhida? (4.000) (2.000) - 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9% 10% 11% 12% 13% i (%) V P L alt. A A-B alt. B INTERSECÇÃO DE FISCHER UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 39 SOLUÇÃO Calculando as TIRs e os VPLs para as duas alternativas, temos VPL A @ 12% = $ 24,6 VPL B @ 12% = $ 19,4 TIR A = 18,6 % a.a. TIR B = 20,5% a.a. Nos deparamos aqui novamente com um conflito entre os métodos da TIR e do VPL. Da mesma forma, analisando o Fluxo Incremental da A-B, temos: VPL A-B @ 10% = $ 5,2 > 0 TIR A-B = 15,5% > TMA Portanto, pela análise do fluxo incremental, a Alternativa de investir no campo A, mostra-se a mais interessante tanto pelo método do VPL como pela TIR. Alternativa A mais interessante i % VPL A VPL B VPL A-B 0% 95,0 60,0 35,0 2% 80,1 51,8 28,3 4% 66,7 44,2 22,5 6% 54,6 37,2 17,3 8% 43,6 30,8 12,8 10% 33,6 24,9 8,8 12% 24,6 19,4 5,2 14% 16,4 14,3 2,1 16% 8,9 9,5 (0,7) 18% 2,0 5,1 (3,1) 22% (10,1) (2,9) (7,2) UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 40 3.3.4 Método do Tempo de Retorno (payback) O métodos do Tempo de Retorno ou Payback, como o próprio nome diz, se baseia no tempo necessário para que os benefícios gerados pelo projeto compensem o investimento realizado. Seja, por exemplo o seguinte fluxo de caixa de um projeto A: O payback simples do fluxo acima é de cinco anos, pois a soma das 5 primeiras parcelas dos benefícios do projetos é iguala ao investimento inicial de 100. O método do payback apresenta sérias limitações e por isso considerado um método não exato, ao contrário dos métodos anteriormente apresentados. A primeira limitação é que o método não considera a vida do projeto. Por exemplo, se o fluxo acima tivesse 5, 10 ou 100 anos o valor do payback seria o mesmo, e seria indiferente investir em qualquer um deles. Outra limitação que o método do payback apresenta é de não levar em consideração o valor do dinheiro no tempo, não contemplando o conceito de equivalência de fluxos. Essa limitação é contornada pela utilização do payback descontado, onde o os benefícios são somados já descontados à uma taxa de desconto igual à TMA. 20 20 20 20 20 100 0 10 20 20 20 20 20 (20) - 20 40 60 80 100 120 0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16% 18% 20% 22% 24% i (%) V P L alt. A A-B alt. B INTERSECÇÃO DE FISCHER UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 41 No caso do exemplo acima, o paybck descontado, considerando uma TMA de 10% seria : 20.(P/A;10%;n) = 100 (P/A;10%;n) = 5 (P/A;10%;7) = 4,87 n entre 7 e 8 TABELA (P/A;10%;8) = 5,33 Interpolando-se linearmente, encontra-se uma payback descontado de 7,3 anos. CRITÉRIOS DE DECISÃO: A) Alternativas Independentes:payback < vida econômica Alternativa Viável B) Alternativas Mutuamente Excludentes: Menor payback Nem sempre Melhor Alternativa. CUIDADO!!! O método do payback, apesar das suas limitações mostradas, ainda é muito utilizado por sua simplicidade e por ser um dos métodos mais antigos de análise de investimentos. O que os principais analistas e empresas praticam é a sua utilização como um método complementar, empregado juntamente junto com um dos métodos considerados exatos como o VPL e a TIR. 3.3.5 Utilização dos Métodos Abordamos aqui os três métodos de análise de investimentos mais utilizados, quais sejam, o método do Valor Presente Líquido – VPL, o da Taxa Interna de Retorno – TIR e o do Tempo de Retorno – payback, incluindo duas variações sobre os mesmos que são a TIR Modificada e o payback descontado. O método mais completo, sob o ponto de vista da teoria financeira, é o método do VPL7. Entretanto, não é o mais utilizado entre os analistas e executivos financeiros. A TIR, por sua característica de expressar um valor intrínseco do projeto, é mais utilizada, na proporção de 3 para 1 com relação ao VPL. O payback , em que pese as sua grandes limitações, ainda é muito utilizado, principalmente, como critério complementar e de indicação de liquidez do projeto. 7 Ross em seu livro chega a dizer que os outros métodos não passam de alternativas de segunda categoria. UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 42 Finalmente, os que as grandes empresas e investidores fazem atualmente, com a facilidade das ferramentas computacionais, é analisar seus investimentos utilizando-se de todos métodos simultaneamente, aproveitando as diferentes informações que cada um dispõe, de modo a enriquecer a base para tomada de decisão. O quadro abaixo tenta resumir as vantagens e desvantagens de cada método. Método do VPL Método da TIR Método do Payback VANTAGENS • Método exato • Aplicável em qualquer caso; • Teoricamente, o mais completo. • O preferido dos acadêmicos. • Método Exato • Resultado de fácil interpretação; • Valor intrínseco do projeto. Não está vincu-lada a taxa de desconto; • O preferido dos gerentes. • Resultado de fácil interpretação; • Bom indicador de liquidez do projeto; • Serve como indicador primário de risco. DESVANTAGENS • Está sempre vinculado a uma taxa desconto. Necessidade de definir uma TMA; • Seu valor não é muito “palatável”. Interpretação do seu resultado exige conhecimento de teoria financeira. • Problemas numéricos na sua solução (não conver- gência, múltiplas raizes); • Em alguns casos pode indicar resultados errados. Contornável em parte pela TIR Modi- ficada. • Método não- exato • Não considera o que acontece após o período de retorno; • Não considera o dinheiro no tempo. ( contornado pelo payback descontado) • Não tem sustentação teórica. UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 43 3.4 EXERCÍCIOS COM RESPOSTA EXERCÍCIO 3.i – (métodos de análise). Um projeto Alfa tem um custo de $ 10.000 e espera-se que produza benefícios líquidos (fluxo de caixa) da ordem de $ 3.000 por ano durante 5 anos. Por outro lado, um projeto Beta custa $ 25.000 e espera-se que ele produza um fluxo de caixa líquido de $ 7.400 anuais durante o mesmo período. Calcule os VPLs, as TIRs , as TIRMs e os tempos de retorno descontados dos dois projetos, considerando uma TMA de 12 % a.a. Qual(is) projeto(s) deve(m) ser (em) escolhido(s), considerando que eles são independentes. E se eles fossem mutuamente excludentes, qual o projeto mais interessante? EXERCÍCIO 3.ii (métodos de análise)– Um companhia de papel está considerando dois projetos de investimento mutuamente excludentes. Os fluxos de caixa líquido esperado para cada projeto são os seguintes: Ano Projeto A Projeto B 0 - $300 - $ 405 1 - $ 387 $ 134 2 - $ 193 $ 134 3 - $ 100 $ 134 4 $ 600 $ 134 5 $ 600 $ 134 6 $ 850 $ 134 7 - $ 180 0 a) Construa os gráficos VPL x i para cada projeto; b) Qual a TIR de cada Projeto? c) Se a TMA da companhia fosse 10%, qual projeto deveria ser escolhido? E para 17% ? d) Qual o ponto de intersecção de Fischer e qual o seu significado? e) Existe uma incerteza sobre o fluxo de caixa no ano 7 para os dois projetos. Para um cenário pessimista o fluxo de caixa neste ano para o projeto A passaria para -$ 300 e para o projeto B para -$ 150. Num cenário otimista, estes valores seriam -$ 70 e +$ 120, respectivamente. A decisão indicada no item c mudaria para esses novos cenários? EXERCÍCIO 3.iii (distribuição ao longo do tempo diferentes). A Companhia de Óleo e Gás XYZ está considerando dois projetos mutuamente excludentes de extração de óleo de um determinado poço localizado em um campo de sua concessão. Ambos os projetos tem um custo de investimento estimado em $ 10.000.000 para os serviços de perfuração e completação. O projeto A exploraria toda a reserva do poço em um ano, gerando um benefício líquido de $ 12.000.000 com a venda do óleo. O projeto B concebe um período de exploração de 20 anos, com uma caixa líquido anual de $ 1.750.000. UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 44 a) Se a Companhia decidir investir no projeto A, qual deve ser a taxa de reinvestimento mínima para que essa opção se mostre mais acertada que a escolha da alternativa B? b) Construa as curvas do VPL dos pois projetos, identificando sua TIRs e o ponto de intersecção de Fischer. EXERCÍCIO 3.iv (diferença de escala). Uma Companhia Petroquímica está analisando dois projetos de automatização de sua planta. O projeto A, de capital mais intensivo, necessitando de um investimento de $50 milhões, utiliza-se de uma tecnologia mais avançada, propiciando uma redução de custos de $ 8 milhões anuais.O projeto B, mais modesto, necessita de um capital de apenas $ 15 milhões. Entretanto, por ser menos eficiente, os custos serão reduzidos em apenas $ 3,4 milhões anuais. A TMA da empresa para esse tipo de investimento é de 10% a.a. e o horizonte de análise para ambos projetos é de 20 anos. a) Calcule os VPLs e as TIRs de cada projeto; b) Monte o fluxo incremental (A-B) e calcule sua TIR e VPL; c) Baseado nos resultados obtidos nos itens a e b, qual a melhor alternativa? Essa decissão poderia ser tomada apenas com os resultados do item a) ? Por quê ? EXERCÍCIO 3.v (análise de projetos). Você é o analista financeiro de um fundo de pensão. Seu diretor solicita a sua análise de dois novos projetos de investimentos que entraram em carteira. Cada projeto tem um custo de investimento de $ 10.000 e grau de risco semelhantes. Sabendo-se que para essa categoria de projetos a instituição trabalha com uma taxa de retorno mínima de 12% a.a., como seria o seu parecer para a Diretoria ? Considere as seguintes premissas: Ano Projeto X Projeto Y 0 - $ 10.000 - $ 10.000 1 $ 6.500 $ 3.500 2 $ 3.000 $ 3.500 3 $ 3.000 $ 3.500 4 $ 1.000 $ 3.500 a) Calcule os VPL, as TIRs, as TIRM e os payback simples e descontado de cada projeto; b) Que projeto ou projetos devem ser aceitos se eles forem independentes ? c) Se eles forem mutuamente excludentes, qual é a melhor opção ? d) Como poderia uma mudança na TMA causar conflito entre os resultados fornecidos pelos métodos da TIR e VPL?Para que valores de TMA esse conflito ocorreria? UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 45 EXERCÍCIO 3.vi (múltiplas taxas de retorno). Uma companhia mineradora está analisando se reativa ou não uma mina de urânio adormecida de sua propriedade. O custo de reativação é de $ 4,4 milhões. A extração do minério propiciará um fluxo líquido de caixa à companhia de $ 27,7 milhões. Entretanto, os órgãos ambientais só permitem a extração por um ano seguido, período, que, após transcorrido, a empresa terá que fechar a mina e restaurar a área ambientalmente. Esse custo de abandono está estimado em $ 25 milhões. a) Determine a TIR do projeto graficamente. Interprete os resultados b) O projeto deve ser aceito se a TMA for de 8% a.a.? E se for 14% a.a. ? Explique. c) Calcule a TIRM para os valores de TMA acima. Analisando os resultados, o método da TIRM nos leva a mesma decisão? UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 46 4. ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA DE UM EMPREENDIMENTO Vimos até agora as técnicas de análise de projetos de investimentos considerando que os fluxos de caixa eram conhecidos. Neste capítulo abordaremos o item mais complexo e mais importante de um estudo de viabilidade econômica de um empreendimento que é a estimativa de seu fluxo de caixa. Na prática, uma série de variáveis são envolvidas na estimativa do fluxo de caixa de um empreendimento e participam desse trabalho vários especialistas de praticamente todos os departamentos de uma empresa. 4.1 O QUE CONSIDERAR EM UM FLUXO DE CAIXA Sabemos que o que importa em uma análise é o efeito efetivo ou potencial que o projeto em questão causará ou poderá causar no caixa do investidor ou da empresa. Não confundir fluxo de caixa com lucro contábil, que são coisas bem distintas. A contabilidade, por conta do regime de competência lança despesas e receitas no momento que são incorridas, não se preocupando se elas foram efetivamente pagas ou recebidas. Para o método do fluxo de caixa descontado o mais importante, como visto, é o tempo em que o dinheiro entra ou sai do caixa. Outro tipo de conflito típico entre a contabilidade e a análise de projetos de investimento é a despesa de depreciação que são abatidas do lucro contábil e não correspondem a desembolso efetivo. Mas estimar o fluxo de caixa a ser gerado pelo projeto não é o suficiente. O que importa, para o método do FCD, é determinar o fluxo incremental do projeto. Ou seja, o fluxo que represente a mudança no caixa da empresa caso ela venha a implantar o projeto em questão. Para determinação do Fluxo de Caixa Incremental de um projeto de um empreendimento, via de regra, utiliza-se como base as projeções contábeis de resultados (lucro/prejuizo), tomando-se cuidado, entretanto, para considerar apenas os valores que efetivamente representam saída e entrada de caixa incrementais. Algumas questões específicas aprecem na prática, que abordaremos a seguir. 4.1.1 Custo de Oportunidade É um custo que embora não represente uma saída efetiva no caixa da empresa/investidor, ele representa uma saída (ou uma não entrada) potencial, devendo, portanto, ser considerado no fluxo incremental. UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 47 Por exemplo, ao investir em uma planta de co-geração uma indústria aproveita uma caldeira que não está sendo utilizada em uma outra fábrica. Na verdade, não foi necessário desembolsar dinheiro algum na compra da caldeira, mas ela , para fins de análise, tem um custo, pois poderia ser utilizada para outro fim, nem que fosse para ser vendida como ferro velho. Esse valor, que representa uma receita que deixou de ser gerada, é chamado de custo de oportunidade do projeto e deve estar contemplado no fluxo de caixa incremental. 4.1.2 Custo Evitado Trata-se de um benefício. Analogamente ao custo de oportunidade que como vimos trata de uma receita potencial que deixou de ser gerada, o Custo Evitado, como o próprio nome diz, é um custo potencial que deixou de ser desembolsado. Em muitos casos os projetos não geram incremento de receita efetiva e se viabilizam pelos custos evitados que eles propiciam. São os casos típicos de projetos de melhoria operacional e de auto-produção de energia, por exemplo. 4.1.3 Custo Afundado Custos (ou receitas) que foram incorridos no passado não são relevantes na tomada de decisão de investir ou não e, portanto, não devem ser incluídos no fluxo incremental do projeto. São os chamados Custos Afundados (Sunk Costs) Esse conceito, ás vezes é de difícil aceitação. Como não considerar o custo de desenvolvimento e de pesquisa no projeto que foi gasto durante anos? Essa questão é um problema de apropriação de custos, que, como a contabilidade, é muito diferente da análise de Fluxo de Caixa Descontado. O raciocínio é simples: qualquer que seja a decisão de aceitar ou rejeitar o projeto, não vai modificar os custos (ou receitas) já incorridos. Portanto, como a análise é incremental, não devem ser considerados. Um exemplo de custo afundado, que as vezes pode chegar a valores maiores que o próprio investimento de implantação do projeto, é o custo de exploração de um campo de petróleo. Nos estudos de viabilidade econômica de desenvolvimento do campo esses custos de milhões de dólares não são considerados. 4.1.4 Efeitos em Outros Projetos Novos projetos quando implantados, via de regra, impactam em outros negócios da empresa, causando os chamados efeitos colaterais. Eles são de difícil determinação e muitas vezes apenas identificados subjetivamente. Quanto maior a empresa e mais verticalizada é sua estrutura maiores e mais complexos se tornam esses efeitos. UFRGS Análise Econômica do Gás Natural Flávio Soares de Soares 48 Os efeitos colaterais causado por um projeto pode ser positivo ou negativo. Os positivos são as chamadas sinergias e entre os negativos, o mais comum é a erosão que é a transferência de fluxos de um projeto já implantado para o novo projeto em questão. Um exemplo de um efeito colateral negativo é a perda de receita de vendas que uma companhia verticalizada de petróleo e gás terá com a implantação de um gasoduto que disponibilizará gás natural em uma determinada região, deslocando outros combustíveis que essa mesma empresa comercializa. Por outro lado, para citar um exemplo positivo (sinergia) na mesma área, o investimento no controle de uma companhia distribuidora por uma agente que possui reservas de gás, poderá garantir um mercado para o seu produto. Esse benefício, quando possível de ser quantificado, deve ser considerado na análise do investimento na participação acionária da distribuidora. 4.1.5 Capital de Giro Muitas vezes esquecido, a necessidade de capital de giro líquido para a operação do projeto tem que ser considerado no fluxo de caixa. Dependendo da natureza do projeto, seu valor pode ser significativo, em comparação com o investimento. Atividades que trabalham com estoque elevado ou que necessitam de um giro alto, geralmente, têm essa característica. Freqüentemente, com o aumento das vendas, são necessários incrementos no capital de giro ao longo da vida econômica do projeto. Esses aportes devem ser previstos e considerados na estimativa do fluxo incremental do projeto, sendo
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