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TÁTICA DEFENSIVA Acesse o site WILTON SANTANA e-book e-bookFUTSAL TÁTICA DEFENSIVA »» Apresentação 1. Métodos de treinamento tático 2. Objetivos táticos defensivos 3. Fundamentos táticos defensivos Considerações finais Referências Exercício 1 Exercício 2 Exercício 3 Exercício 4 4. Regras de comportamento tático defensivo Exercício 5 A tática retrata o comportamento inteligente do jogo (Santana, 2008). São os jogadores que agem taticamente, isto é, que têm de perceber, analisar e decidir o que fazer, quando fazer, aonde ir em cada situação de jogo, culminando com uma ação motora (Mahlo, 1997). Tática, portanto, tem a ver com a resolução de problemas. Entretanto, esse comportamento tático é influenciado pelos treinadores que, com suas explicações e tipos de treinos, ajudam os jogadores a selecionar suas decisões, a dar importância “ao que realmente interessa” (Velasco; Lorente, 2003). Os treinadores educam o “olhar” dos j o g a d o r e s e , p o r e x t e n s ã o , a s u a intencionalidade. Essa experiência será decisiva quando aqueles se depararem com as diferentes situações de jogo a fim de decidir bem (Bayer, 1994). Logo, é iminente que os treinadores saibam “orientar e bem seus jogadores!”. Nessa direção, entendo que as ideais de Javier Lozano atendem esse apelo, em particular as expressadas no livro “Fútbol sala: experiencias tácticas (1995)”, no qual o treinador, entre outras coisas, descreveu conceitos para organizar defensivamente equipes de futsal. Para quem não sabe, Lozano venceu os dois Mundiais conquistados pela Espanha: em 2000 na Guatemala e em 2004 na China. Repercutirei suas ideias neste curso online, mas o farei de maneira crítica, ou seja, interpretando-a, adicionando minhas opiniões, contextualizando-a. A finalidade principal deste material é não perder de vista a utilidade prática dos conteúdos, contribuindo para que o treinador de futsal melhore sua atuação cotidiana. O texto segue a seguinte sequência de abordagem: (1) métodos de treinamento tático; (2) objetivos táticos defensivos; (3) fundamentos táticos defensivos que suportariam esses objetivos; (4) algumas regras de comportamento defensivo em situações reais de jogo. Boa leitura! Bom curso! APRESENTAÇÃOAPRESENTAÇÃO 3 Wilton Santana Diretor técnico da Pedagogia do Futsal Acesse a biografia São os jogadores que agem taticamente, mas esse comportamento é influenciado pelo treinador, portanto... São os jogadores que agem taticamente, mas esse comportamento é influenciado pelo treinador, portanto... Para Lozano, na prática, haveria três estilos de se treinar taticamente: 1. Decidir previamente alguns esquemas táticos e determinadas combinações e obter delas o maior rendimento durante a partida. 2. Partir de alguns fundamentos táticos básicos aprendidos e aprimorados e treinar as “tomadas de decisão” dos jogadores em função da situação de jogo que se apresente. 3. Mesclar os métodos anteriores, ou seja, partindo de uns movimentos ensaiados, criar situações nas quais entraria no jogo a capacidade decisória do jogador. No seu entendimento, há vantagens e desvantagens em cada um desses métodos. Acompanhe-as. APRESENTAÇÃO 1MÉTODOS DE TREINAMENTO TÁTICO 5 E n t e n d o n ã o h a v e r d i fi c u l d a d e n a compreensão dos dois primeiros estilos de treinamento: enquanto o primeiro centra seu foco na repetição de jogadas e leva os jogadores a repetirem o combinado, o segundo oferece situações semelhantes ao jogo real nas quais os jogadores exercitariam a tomada de decisão. Quanto ao terceiro estilo, que mescla os anteriores, Lozano exemplifica afirmando que “ensaiamos dois movimentos com outras duas variações (parte ensaiada) para propiciar situações de 1x1 na ala ou 2x2, tendo em conta que temos especialistas nessas situações (parte decisória)”. Evidentemente que em ambos os estilos o treinador deverá orientar os jogadores. Como seria isso em ambos os métodos? Penso o seguinte: No método “jogadas ensaiadas”, o treinador evidenciaria todas as informações que facilitariam o êxito nas respectivas situações táticas. Por exemplo: ir ao encontro da bola para chutar, aproximar-se nesse ou naquele momento, esperar o momento ideal de passar a bola, entrar nesse ou naquele lugar etc. Entraria ainda, a possível leitura de sinais relevantes: por exemplo, se a defesa se posicionar mais adiantada, então faremos isso; se a defesa se posicionar mais recuada, então faremos aquilo etc. No método “tomadas de decisão”, o treinador ajudaria os jogadores a perceber os sinais relevantes que facilitariam uma melhor decisão. Por exemplo, se em situação de contra-ataque o defensor se afastar (temporizar), então conduziríamos a bola sobre ele; se marcarmos na quadra ofensiva e o adversário conseguir passar a bola para a nossa quadra defensiva e o fundo não antecipar, então retornaríamos para marcar etc. Oponho-me ao primeiro método de modo predominante. Não me parece uma ideia promissora preparar jogadores rígidos para um jogo flexível como o de futsal. Mas não duvidaria do seu alcance como complementar, por exemplo, para treinar estratégias de bola parada, como faltas, cantos e laterais ofensivos. 6 1 Alio-me à crença do segundo método. Ao levar jogos para o treino e encorajar os jogadores a decidir, o treinador certamente promoverá um modelo de jogo imprevisível, dado à incerteza. Mas é preciso entender o jogo como um todo e levar “jogos” que, de fato, conduzam os jogadores a um “jogar qualitativo”. Penso que somente treinadores de altíssimo nível de conhecimento saberiam fazer isso ao ponto de organizar taticamente a equipe para enfrentar os momentos do jogo. Parece-me igualmente promissor o terceiro método (se o compreendi!), que previamente define alguns primeiros movimentos a fim de manipular o adversário e colocar os jogadores em situações favoráveis para decidir. Logo, compreendo que o treino partirá das situações de j o g o , q u e m a n t e r á o c o n t e x t o d e imprevisibilidade! É como se o treinador dissesse: “Esse será o nosso primeiro movimento; está é a minha primeira contribuição para enfrentar a situação. Daqui para frente, vocês precisarão ler a situação; exercitar a capacidade que têm de decidir e correr riscos, pois não sabemos como o adversário reagirá”. Isso não o exime de continuar a ajudar os jogadores, num processo constante de trocas e amadurecimento do modelo de jogo adotado, mas atesta algo que todos nós sabemos: a inteligência está fora e dentro da quadra. O jogo é estratégico-tático. Por último, o treinador espanhol recorda que o estudo prévio das características dos seus jogadores permit i r ia definir o est i lo de treinamento tático mais adequado. 7 (is) método (s) de treinamento tático você usa em sua equipe?Qual _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ Na sua opinião, haveria um método de treinamento tático menos possível de ser aplicado por um jovem/inexperiente treinador? SIM ( ) NÃO ( ) Por quê? _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ APRESENTAÇÃO EXERCÍCIO1 É como se o treinador dissesse: ‘Esse será o nosso primeiro movimento; esta é minha primeira contribuição para enfrentar a situação.Daqui para frente, vocês precisarão ler a situação, exercitar a capacidade que têm de decidir e correr riscos, pois não sabemos como o adversário reagirá’. 8 APRESENTAÇÃO 2OBJETIVOS TÁTICOS DEFENSIVOS Esses objetivos remontam ao que foi sugerido por Bayer (1994), que os chamou de “princípios táticos” e os elegeu como um guia para que os treinadores organizassem suas equipes. O interesse é perceber como Lozano interage com esses objetivos. Acompanhe. Quanto se trata de “recuperar a bola”, ele entende que isso não deve ser feito “de modo precipitado, mas ordenadamente e com paciência”. Para ele, a precipitação, além de facilitar que o adversário marque gols, levaria à desorganização e à perda de confiança da própria equipe para marcar. Na prática, ele explica que há duas formas diferenciadas de se tentar a recuperação da bola: roubar a bola ou conseguir que o adversário a perca. No primeiro caso, joga-se para antecipar, desarmar, interceptar passes. No segundo, joga- se para pressionar tanto quem tem a bola como quem quer recebê-la, induzindo o adversário ao erro, à precipitação. Para Lozano, há três objetivos táticos defensivos. 9 Concordo com o autor. São princípios de jogo distintos. Por um lado, “mete-se o pé na bola”. Por outro, “força-se o adversário a entregá-la; a precipitar o passe”. Quando se trata de “impedir que o adversário progrida em seus objetivos”, Lozano explica que isso é alcançado quando se consegue eleger uma defesa que se adapte ao ataque, de modo que ela se converta no antídoto ideal para suas pretensões defensivas. Por último, ao se referir ao objetivo “proteger as zonas de gol”, reporta que o treinador deveria proteger as zonas que oferecem mais perigo. Quais seriam? É relativo. Dependerá “do adversário que se enfrenta, dos jogadores que se têm na quadra ou das circunstâncias do jogo”. Ele, inclusive, cita um exemplo: a opção por uma marcação recuada que, em tese, libera o chute de média distância, é uma boa estratégia se a equipe provocar erros no adversário e se o goleiro garantir a defesa dos chutes. Isso provocaria contra-ataques. Entretanto, se, no mesmo jogo, o goleiro sai por lesão e tiver de entrar outro sem a mesma habilidade, se deveria avançar a linha defensiva. Logo, a zona a ser protegida é suscetível de variações. Saliento a relação que Lozano estabelece entre aspectos tático-estratégicos e emocionais (psicológicos). Por mais de uma vez, ele associou defesa ao sentimento de confiança, à atitude de paciência. Não fica difícil de entender isso, afinal, para ele, a relação ataque-defesa é uma “luta para ver quem perde a paciência primeiro, dando lugar à precipitação e, consequentemente, à perda do equilíbrio posicional”. Quem perde a bola facilmente perde a confiança. 10 duas entre as quatro principais equipes da Liga Futsal e responda:Escolha - Como elas se comportam para “recuperar a posse da bola”? _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ Como você “protege as zonas que oferecem mais perigo de gol” para a sua equipe quando vocês enfrentam seu principal rival? Explique o que te levou a optar por agir desse modo. _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ APRESENTAÇÃO EXERCÍCIO2 Os princípios tá�cos servem como um guia para que o treinador organize sua equipe. Os princípios tá�cos servem como um guia para que o treinador organize sua equipe. 11 APRESENTAÇÃO 3FUNDAMENTOS DEFENSIVOS Para sustentar os princípios defensivos do item 2 é preciso um conjunto de atitudes. A figura abaixo expressa todos os fundamentos que dão suporte aos objetivos táticos na opinião de Lozano. Dirigirei a atenção, primeiro, para os retornos, ajuda e cobertura e 2x1 e, posteriormente, abordarei as temporizações e permutas. Figura 1 – Fundamentos táticos defensivos que suportam os objetivos táticos RETORNOS AJUDA E COBERTURA 2x1 TEMPORIZAÇÕES PERMUTAS Impedir que o adversário progridaImpedir que o adversário progrida Proteger as zonas de golProteger as zonas de gol Recuperar a bolaRecuperar a bola 12 Para Lozano, o retorno é a “ação mediante a qual os jogadores da nossa equipe retornam às posições estabelecidas, uma vez que a bola os tenha superado”. Preste atenção: se a bola vencer a linha dos defensores, ou seja, se ela for direcionada para o fundo e no centro, , inicia-se o como neste exemplo retorno. Para o ex-treinador, isso deve ser feito “pelo caminho mais curto até posições nas quais se possa realizar a ajuda ao jogador que defende”. Acontece que a bola pode ser passada para o fundo e na lateral, o que exigiria algumas atitudes: (1) do jogador que está no mesmo lado da bola a realizar 2x1; (2) de quem está do lado oposto a se posicionar como beque, a fim de realizar coberturas e (3) do jogador que está no centro a retornar a fim de fechar linhas de passe para o centro da quadra e vigiar a descida dos adversários nessa região, como neste exemplo. Não deixe passar despercebido o conceito tático de que “o jogador do mesmo lado da bola deve fazer 2x1”. Você pode ou não concordar com isso! Por exemplo, você poderia adicionar o seguinte: “o jogador do mesmo lado da bola deve fazer 2x1 se o seu atacante não descer para finalizar”, porque você não quer arriscar. Eu chamo a sua atenção com este exemplo a fim de que você entenda que é preciso refletir sobre o que se lê; ler criticamente. Figura 2 – Retorno centrado Figura 3 – Retorno lateral 3.1 RETORNO 13 Figura 5 – Ajuda Os fundamentos de “ajuda e cobertura” consistem, segundo o espanhol, em “assistir ao companheiro que pode ser superado pelo adversário que controla a bola”. Penso que, a rigor, a cobertura é uma ajuda. En t re tan to Lozano f az uma pequena diferenciação entre ambas com a qual concordo: a “se realiza sempre por trás do cobertura companheiro que defende a bola”, como mostra a figura 4. Portanto, a ajuda se manifestaria quando o jogador não procede daquela forma (cobertura), como neste exemplo. Então, se a ação for por trás, cobertura; se for pela frente, .ajuda Figura 4 – Cobertura 3.2 AJUDA E COBERTURA 14 Figura 6 – No caso de o adversário que receber a bola virar de costas Figura 7 – No caso de o adversário que receber a bola dominá-la mal (se a bola “espirrar”!) Figura 8 – No caso de o adversário passar a alguém muito próximo, estando ambos apertados na marcação 3.3 2x1 15 O 2x1, segundo Lozano, deveria ser aplicado quando acontecesse uma destas situações expressadas nas figuras 6, 7 e 8. Esse último exemplo (figura 8), é o que entendemos por dobra. Observe que o passe, de tão próximo, praticamente “lança” o defensor sobre o atacante. Para cada um desses fundamentos táticos, Lozano faz algumas considerações táticas que julgo oportunas. Acompanhe-as no quadro 2. 2x1 Deve ser um movimento veloz, agressivo e sincronizado Desestimula a criatividade Ainda que não seja uma regra, deve ser realizado, preferencialmente, nas alas Quanto mais longe da meta, menos risco no caso de falha Tentar empregá-lo contra adversários menos técnicos RETORNO Deve ser veloz O último homem, senão conseguir antecipar, não deve tentar desarmar e, sim, aguardar a ajuda A equipe deve manter o equilíbrio defensivo ao retornar O treinador deve apontar nos treinos os conceitos que deseja no retorno (por exemplo, não pode dobrar na ala; o pivô não ultrapassa a linha da bola etc.) AJUDA E COBERTURA Mais ou menos próximos, de acordo com as características do adversário (se é veloz, próximos; se é lento, nem tanto). Quem defende a bola, deve incomodar o adversário Quem faz a ajuda, além de tudo, deve tentar fechar linhas de passe Quem faz a cobertura, fica de sair no caso de o seu colega ser superado, mas não pode perder de vista seu adversário direto 16 , há um retorno de que tipo? Na quadra abaixo ( ) lateral ( ) centrado - O que o seu pivô deveria fazer? _________________________________________________________________________ - O que o seu ala do mesmo lado da bola deveria fazer? _________________________________________________________________________ - O que o seu ala oposto deveria fazer? _________________________________________________________________________ APRESENTAÇÃO EXERCÍCIO3 Figura 9 – Exercício 4 17 Dando sequência à descrição dos fundamentos defensivos, passo a abordar as temporizações e as permutas, que se constituem em outras atitudes que suportam os objetivos táticos de recuperar a bola, impedir que o adversário progrida e p ro tege r as zonas de go l , como con temp lado na . Vamos figu ra 1 compreendê-los. 18 Para Lozano, a temporização é a “ação de re ta rdar e obs t ru i r o a taque adversár io (normalmente em superioridade ou igualdade numérica) com o objetivo de ganhar tempo para receber ajuda dos companheiros”. Disse tudo: quem temporiza, retarda; e retarda a fim de que quem faz o retorno defensivo possa chegar. Visualize algumas dicas de Lozano de como o defensor deveria se comportar nessa situação. A primeira dica é representada pela e se figura 10 reporta ao comportamento defensivo quando o atacante vem pelo centro da quadra. Em sua opinião, o defensor deveria “ficar preparado para se deslocar para qualquer lado aonde pudesse ir a bola”; e o goleiro deveria “estar preparado para sair rapidamente”. Figura 10 – Temporizar quando o atacante vem pelo centro A segunda dica serve para quando o atacante vem pela lateral. Nesse caso, Lozano explica que o posicionamento defensivo deve garantir que “a única saída do adversário com bola seja pela lateral, pois chutes dessa zona são menos perigosos do que os desferidos pelo centro”. Há outra dica relevante para quem faz a temporização ou flutuação: “realizar fintas de entrar na bola”. Isso teria o objetivo de “tentar deixar o adversário em dúvida, antes que este nos deixasse” 3.4 TEMPORIZAÇÕES Figura 11 – Temporizar quando o atacante vem pela lateral 19 Por sua vez, a acontece quando o permuta jogador “que foi driblado, ocupa a posição do colega que saiu para fazer a cobertura”. Trata-se, portanto, de uma sobreposição de cobertura (cobertura da cobertura). Veja o exemplo da figura 12. Figura 12 – Permuta (sobreposição de cobertura) 3.5 PERMUTAS 20 1 Lozano dá uma dica muito interessante que serve para todos os fundamentos táticos defensivos abordados: segundo ele, “quando o adversário de posse de bola nos encara, teríamos de ter uma visão clara da posição dos nossos companheiros e rivais, para saber o que fazer imediatamente depois de sermos superados”. Ou seja, o que facilitaria a decisão, seria perceber e analisar o entorno (o que está em volta)! Isso me leva à máxima de que “o jogador inteligente age”. Isso implica em antecipar mentalmente a situação a fim de escapar da manipulação do adversário. Por outro lado, “o jogador mediano reage”. Por isso, é facilmente manipulado. Para sustentar os princípios é preciso um conjunto de atitudes! Para sustentar os princípios é preciso um conjunto de atitudes! A defesa da quadra abaixo defende 2x3 e recebe o ataque pelo centro da quadra. Circule na quadra os defensores que temporizam e os defensores que fazem o retorno defensivo. APRESENTAÇÃO EXERCÍCIO4 Figura 13 – Exercício 5 22 Repercutirei neste item ideias daquilo que Javier Lozano chamou de “conhecimento de situações reais”. Para o treinador, “quanto mais situações defensivas reais se conheça, mais possibilidade de êxito se terá quando aquelas se apresentarem no jogo”. De minha parte, chamarei esse ensinamento de “regras defensivas de ação”, isto é, regras de comportamento defensivo. Neste sentido, diria que ao estabelecer e treinar essas regras (o que fazer e como agir) para distintas situações reais de jogo, o treinador agregaria duas vantagens competitivas para a sua equipe: 1ª - Seus jogadores criarão um conjunto de hábitos ao qual recorrerão em situação real para resolver os problemas do jogo, diminuindo, por consequência, o pouco tempo que têm para encontrar soluções; 2ª - Seus jogadores enfrentarão os problemas sob a mesma ótica, ou seja, pensarão do mesmo modo, o que tenderá a gerar consistência defensiva. Para facilitar o entendimento de suas ideias, acrescentarei o binômio “se/então”. O autor menciona nove situações táticas defensivas e o que os jogadores deveriam fazer ao enfrentá-las. Acompanhe. APRESENTAÇÃO 4REGRAS DE COMPORTAMENTO TÁTICO DEFENSIVO 23 1ª regra de ação: no 1x1, Lozano defende que se a bola estiver sob o controle do adversário, não se deve dar “o bote”, isto é, tentar desarmar. Defende que se deveria manter meio metro de distância do oponente e pressioná-lo a fim de que o passe saia ruim e que o outro defensor consiga interceptá-lo. Esse �po de regra de ação é diferente e antagônica à outra que se apregoa atualmente no Brasil de modo geral, isto é, que se deve no 1x1 “meter o pé na bola”. Honestamente, me parece que ambas devem ser ensinadas, mas aplicadas em contextos situacionais dis�ntos. Por exemplo, quanto mais próximo do gol adversário, mais interessa pôr o pé na bola, pois se estaria próximo do gol e se poderia rapidamente contra-atacar; quanto mais próximo do nosso gol, menos isso seria exigido, logo interessaria mais marcar como sugerido pelo autor. Adicione-se a isso a necessidade de se evitar faltas próximas do gol que se defende que poderiam resultar do desarme que não deu certo. Por outro lado, se a equipe es�vesse “estourada” em faltas, tentar “meter o pé na bola” é arriscar-se demasiadamente independentemente do local da quadra. Figura 14 – Se o adversário estiver com a bola controlada, então não há o desarme! 24 2ª regra de ação: quando o seu atacante direto passar a bola e se desmarcar, Lozano defende que o marcador deveria tocá-lo com as mãos a fim de se ter noção da sua situação e evitar empurrá-lo. Sabemos que muito da informação visual dirige a percepção do jogador e, consequentemente, sua decisão. Entretanto, a dica é absolutamente per�nente, pois o toque (tato) colabora para que o jogador analise a situação (via aferente) e aumente sua possibilidade de tratar a informação, o que teria o potencial de facilitar a resposta motora (via eferente). Figura 15 – Se o adversário passar e se desmarcar, então o toque com as mãos! 25 3ª regra de ação: quando dois jogadores defenderem três atacantes e a bola estiver controlada, não se deveria atacá-la; aguardar- se-ia o retorno dos colegas. Por outro lado, se quem conduz a bola a deixar fugir do pé, pode-se tentarinterceptá-la. Em desvantagem numérica, convém temporizar e aguardar o retorno defensivo. Isso, sem dúvida me parece mais seguro e adequado. Se o defensor se precipitar, o atacante passa a bola e aumenta a vantagem posicional e/ou numérica. Eu acrescentaria apenas uma regra, sobretudo para treinadores de equipes de jovens: ensinar o defensor a olhar para quem conduz a bola a fim de perceber se o atacante abaixa a cabeça (olha para a bola). Isso pode ser um sinal relevante para atacá-la. Figura 16 – Se estivermos 2x3, então não atacamos a bola! Apenas a atacamos se o adversário perder seu controle! 26 4ª regra de ação: se o defensor for o último e enfrentar dois atacantes, deveria então tentar fechar a linha de passe entre ambos e induzir quem tem a bola a conduzir pela ala. Se houver o passe, então o goleiro atua como um defensor. Concordo com tudo. Adiciono um detalhe: se houver o passe e então o goleiro marcar/enfrentar o atacante, o defensor “morre abraçado” com o seu! Sem essa de este se voltar para ir ao encontro da bola e deixar o seu atacante livre para receber o passe de volta, inclusive, sem o goleiro no gol! . Figura 17 – Se estivermos 1x2, então fechamos a linha de passe e induzimos quem tem a bola para a ala. Se houver o passe, o goleiro enfrentará o atacante. 27 5ª regra de ação: Lozano explica que quando a equipe adversária deixar quem tem a bola sem apoio, o comportamento deve ser pressioná-lo para tentar roubar a bola, para que ele faça um passa errado ou, simplesmente, para anular sua criatividade. Isso não deveria ser feito se quem tem a bola tem apoio, o que facilitaria a troca de passe e a vantagem numérica. Perceba na figura 18 que o úl�mo homem da defesa toma a frente do atacante. Todos sobem ao mesmo tempo: quem pressionou o atacante sem apoio, os alas e o fixo. Figura 18 – Se quem tem a bola estiver sem apoio, então nos lançamos a pressioná-lo! 28 6ª regra de ação: nas situações de 2x1 (dobra), o jogador que marca pela ala deveria pressionar o atacante de posse de bola a fim de que ele se “encontrasse” com o defensor que se “lança” sobre ele. Na dobra, portanto, se o adversário tem a bola na ala, então não se pode marcar afastado! É preciso lembrar que as dobras (2x1) são situações arriscadas e, como visto no item “Fundamentos tá�cos defensivos” deveriam ser realizadas na ala nas situações que o atacante se aproximasse tanto do seu colega que, ao lhe passar a bola, pra�camente “lançasse” o defensor sobre o mesmo. Percebo, no Brasil, cada vez menos esse �po de a�tude defensiva. Figura 19 – Na dobra, se o adversário tem a bola na ala, então não se pode marcar afastado! 29 7ª regra de ação: para Lozano o goleiro, por ser o último e ver a todos seus colegas, tem a obr igação de or ien tar e cor r ig i r seus posicionamentos. Figura 20 – Se o goleiro vê a todos, então precisa orientar e corrigir! 30 8ª regra de ação: em virtude da época do futsal, Lozano defendia que se a equipe marcasse longe da própria meta, o goleiro deveria se posicionar de tal modo que, ao sair da área para fazer a falta, tocasse a bola o mais afastado possível a fim de amenizar o perigo da falta a ser cobrada. Evidentemente que isso, hoje, não tem validade. Entretanto, aproveito a dica para afirmar outra: se a equipe avançar a marcação para a quadra adversária, então o goleiro se adianta a fim de realizar cobertura de bolas passadas para o espaço! Isso fica muito claro quando se quer pressionar a bola e o adversário concentra todos seus jogadores no seu campo. Há muito espaço nas costas. Portanto, há que se adiantar o goleiro. Acontece que o goleiro, se optar em sair, não pode ficar no “meio do caminho”. Se sair é para cortar o passe, tocar a bola. Caso contrário, é melhor ficar no gol e transferir para o atacante a responsabilidade de fazer o gol. Figura 21 – Se a equipe avançar a marcação para a quadra adversária, então o goleiro se adianta a fim de realizar coberturas de bolas lançadas nas costas dos colegas! 31 9ª regra de ação: Lozano adverte que se o pivô receber a bola de costas para o gol, o defensor não deve “colar”, dando aquele o apoio para girar e ficar de frente para o goleiro. O defensor, nesse caso, deveria se afastar meio metro e lhe tocar com uma das mãos. Penso que se o defensor não conseguiu antecipar o pivô e, portanto, a bola está sobre o seu controle, não há mais mo�vo para tentar tomá-la; o que se deve fazer primeiro é enxergar a bola! Por isso, a regra de não colar e de manter uma das mãos no atacante é acertada. Quem cola não sabe onde está a bola! Desse modo, afastado, o defensor poderá, inclusive, no caso de algum companheiro falhar no acompanhamento de seu atacante, ainda cobrir. Figura 22 – Se o pivô receber de costas, então o defensor não pode colar! 32 Teste seu conhecimento, completando as frases: 1. Se o adversário estiver com a bola controlada, então _____________________________ 2. Se o adversário passar e se desmarcar, então __________________________________ 3. Se estivermos defendendo 2x3, então_________________________________________ Mas se o adversário perder o controle da bola, então _______________________________ 4. Se estivermos defendendo 1x2, então_________________________________________ Mas se o adversário fizer o passe, então o goleiro _________________________________ 5. Se quem tem a bola estiver sem apoio, então___________________________________ 6. Na execução da dobra, se o adversário tem a bola na ala, então____________________ 7. Se o goleiro vê a todos os jogadores, então____________________________________ 8. Se a equipe avançar a marcação para a quadra adversária, então ___________________ 9. Se o pivô receber a bola de costas, então______________________________________ APRESENTAÇÃO EXERCÍCIO5 33 Espero que o conteúdo deste e-book tenha suprido possíveis lacunas atuais de conhecimento tático defensivo, desde os estilos de treinamento tático, passando pelo estabelecimento de objetivos táticos defensivos, pelos fundamentos que os suportam, até as regras de comportamento em situações reais de jogo. Lembre-se de que são os jogadores que agem taticamente, mas que são influenciados pela visão do treinador. Por conseguinte, carregue seus treinos com um bom conteúdo, com boas explicações, a fim de que seus jogadores possam resolver bem as distintas e aleatórias situações-problema de jogo. APRESENTAÇÃOCONSIDERAÇÕES FINAIS Wilton Santana Diretor técnico da Pedagogia do Futsal Wilton Santana Diretor técnico da Pedagogia do Futsal Wilton Santana Diretor técnico da Pedagogia do Futsal BAYER, C. O ensino dos desportos colectivos. Lisboa: Dinalivro, 1994. LOZANO, J. Futbol Sala: experiências tácticas. Madrid: Real Federación Española de Fútbol, 1995. MAHLO, F. O acto táctico no jogo. 2. ed. Lisboa: Compendium, 1997. S A N TA N A , W. C . F u t s a l : a p o n t a m e n t o s pedagógicos na iniciação e na especialização. 2. Ed. Campinas: Autores Associados, 2008. VELASCO, J.; LORENTE, J. Entrenamiento de base en fútbol sala: fundamentos teóricos e aplicaciones prácticas. Barcelona: Paidotribo, 2003. APRESENTAÇÃOAPRESENTAÇÃO REFERÊNCIAS www.pedagogiadofutsal.com.br 35 Página 1 Página 2 Página 3 Página 4 Página 5 Página 6 Página 7 Página 8 Página 9 Página 10 Página 11 Página 12 Página 13 Página 14 Página 15 Página 16 Página 17 Página 18 Página 19 Página 20 Página 21 Página 22 Página 23 Página 24 Página 25 Página 26 Página 27 Página 28Página 29 Página 30 Página 31 Página 32 Página 33 Página 34 Página 35
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