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Hérnias

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Hérnias
THAIS FERNANDES
Hérnia 
CONCEITO:
É a protrusão de um órgão de sua cavidade natural para o subcutâneo, através de abertura congênita ou adquirida. 
As hérnias podem também ser definidas conforme a anatomia, estrutura, alteração funcional e conteúdo
Classificação quanto a anatomia:
hérnia umbilical – todos os órgãos, que apresentam pedículo no abdome, podem sofrer herniação através da parede abdominal, muitas vezes permanecendo sob a pele na região umbilical (ligamento falsiforme, omento, intestino delgado);
hérnia inguinal – é aquela em que o intestino, a bexiga, o útero, o ligamento largo ou outros órgãos abdominais sofrem protrusão através do canal inguinal;
hérnia ínguino-escrotal – é aquela em que o conteúdo abdominal sofre protrusão através do conduto inguinal repousando no interior do saco escrotal;
Classificação quanto a anatomia:
hérnia perineal – é aquela em que as vísceras da cavidade abdominal são encontradas em protrusão na região perineal projetando-se entre os músculos esfíncter anal externo, coccígeo lateral e obturador interno;
hérnia diafragmática – é aquela em que os órgãos abdominais sofrem protrusão através de abertura do diafragma, para o interior da cavidade torácica.
Classificação quanto a estrutura:
Hérnia verdadeira – é constituída de um anel herniário, de um saco herniário e do conteúdo herniário;
Falsa hérnia – é aquela em que há um defeito estrutural com alguns dos elementos de constituição das hérnias. As hérnias devem ser diferenciadas de:
Eventração – ampla abertura traumática da parede abdominal com a saída de vísceras, permanecendo recobertas pela pele, mas sem o peritônio;
Evisceração – exposição das vísceras por meio de uma solução de continuidade da parede abdominal, devido a deiscência de sutura ou por uma ferida penetrante no abdome;
Prolapso – saída de vísceras de suas cavidades, através de aberturas naturais, e acompanhadas de eversão.
é constituída de um anel herniário (porção fibrosa que circunscreve a abertura herniária), de um saco herniário (porção que contém as vísceras herniadas sendo formado por orifício, colo, corpo e fundo) e do conteúdo herniário (formado pelas vísceras herniadas);
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Classificação quanto a alteração funcional:
hérnia redutível – é aquela em que o conteúdo herniário pode ser reposto para a cavidade de origem, mediante compressão, requerendo a intervenção cirúrgica apenas para o fechamento definitivo do anel herniário;
 hérnia irredutível – é consequência das dilatações, das aderências, do encarceramento, da inflamação ou do estrangulamento, e não se consegue a redução sem a abordagem cirúrgica. Podem apresentar-se como:
Hérnia encarcerada – implica em obstrução no fluxo digestivo na porção visceral herniada, resultando em aumento de volume que excede ao diâmetro do anel;
Hérnia inflamada – deve-se a transtornos circulatórios devido ao estreitamento do anel ou por traumatismos externos (alterações de temperatura, coloração e sensibilidade);
Classificação quanto a alteração funcional:
3. hérnia estrangulada – é o tipo de complicação de maior gravidade, em que o anel herniário atua como cinta compressora, comprometendo a irrigação do conteúdo herniado. 
Pode evoluir conforme as seguintes fases:
congestão – acentuação da coloração avermelhada, ligeiro aumento de volume acompanhado de transudato, no eqüino pode ocorrer cólicas de intensidade variável;
inflamação – órgãos com coloração vermelha escura, presença de cólicas mais intensas e exsudato amarelo ou hemorrágico;
Gangrena – diminuem-se as cólicas e há calma aparente, o pulso torna-se fraco, as mucosas com coloração tijolo, as narinas dilatadas, o olhar fixo, a transpiração abundante, e os órgãos herniados tomam coloração esverdeada e escurecida. A parede intestinal apresenta-se espessa e ocorre solução de continuidade.
Classificação quanto ao conteúdo:
Pode ser simples ou múltiplo, e pode variar de tempo em tempo. Assim a definição mais adequada para qualquer hérnia, na sua particularidade, deve estar baseada na localização, etiologia, conteúdo e alterações funcionais existentes. 
Como exemplo, podemos definir uma hérnia como: “Hérnia umbilical congênita simples com encarceramento de alça intestinal”.
Etiologia 
A etiologia de uma hérnia pode ser devido a um só defeito, mas é mais comumente a sua ocorrência pela combinação de vários fatores predisponentes.
hérnia umbilical – pode ocorrer pela hipoplasia do músculo reto do abdome e aponeurose dos dois músculos oblíquos do abdome (congênita), ou pela incisão abdominal (adquirida);
hérnia inguinal – comum na cadela, rara em gatos e cães machos, o aumento da pressão abdominal (gestação) pode contribuir para uma maior incidência, além de tumores mamários, traumas e obesidade;
hérnia perineal – muitos são os fatores implicados na etiologia da doença, entre eles estão a predisposição genética, enfraquecimento do diafragma pélvico, desequilíbrio hormonal e a constipação crônica;
hérnia diafragmática – anomalia no desenvolvimento (congênito) ou causada por traumas violentos (adquirida).
Fisiopatologia
A fisiopatologia está relacionada com a função alterada das cavidades do corpo e do conteúdo herniário. Dependendo da localização, da causa e do conteúdo, a função pode variar de insignificante para a letalidade. Em geral, as lesões podem ser atribuídas ao efeito de ocupação de espaço, ao encarceramento ou estrangulamento da víscera.
efeito de ocupação de espaço – frequentemente relaciona-se com defeitos diafragmáticos, onde os órgãos abdominais ocupam a cavidade torácica, interferindo com a expansão pulmonar. A pressão negativa no espaço pleural atrai os órgãos abdominais móveis para o tórax;
Fisiopatologia
encarceramento do conteúdo herniário – altera a função por obstrução, normalmente estas hérnias são irredutíveis e podem progredir para obstrução com estrangulamento vascular. Alças intestinais herniadas sempre correm risco de encarceramento ou estrangulamento. 
Os sintomas referentes ao encarceramento intestinal são resultados da obstrução da víscera, entre eles temos: vômitos, dor abdominal e depressão. Deve ser dada atenção às alterações hidroeletrolíticas do organismo. 
O encarceramento uterino está associado com hérnia inguinal, com o útero grávido ou com a piometra. A toxemia de uma piometra fechada, ruptura de útero e distocia são sequelas que requerem cirurgia de emergência após a estabilização do paciente. 
Fisiopatologia
A bexiga urinária torna-se encarcerada nas hérnias inguinal e perineal, ocorre bloqueio de fluxo urinário pela obstrução uretral, enquanto na posição ventral ou retroflexionada promove distensão da bexiga agravando o grau de encarceramento. 
As manobras imediatas devem ser centralizadas na descompressão da bexiga, que pode ser por sondagem uretral, cistocentese ou cistotomia;
Fisiopatologia
estrangulamento do conteúdo herniário – apresenta alteração da função do órgão em grau intenso e frequentemente fatal. O estrangulamento implica em bloqueio na circulação do órgão envolvido, com desvitalização da porção herniada. 
O comprometimento circulatório pode ser venoso, arterial ou ambos. A obstrução venosa resulta em congestão do órgão e eventual estagnação arterial devido à dificuldade de retorno sanguíneo. O bloqueio arterial causa morte tecidual rápida com ruptura do órgão, se a circulação colateral for inadequada. O estrangulamento pode ocorrer por vários mecanismos que podem ser simultâneos ou tomarem lugar progressivamente. 
Fisiopatologia
O encarceramento de órgãos ocos favorece o estrangulamento por aumento progressivo da pressão intraluminal. 
Ex.: uma bexiga urinária encarcerada em uma hérnia perineal distende progressivamente com a urina. A parede vesical inicialmente dilata e depois, com a distensão progressiva, há comprometimento de sua vascularização intrínseca. Os mesmos eventos tomam lugar no encarceramento intestinal onde o meio de distensão é o gás e o conteúdo intestinal. Também a contração do anel herniário
pode levar ao estrangulamento do conteúdo herniário.
SINAIS CLÍNICOS:
Chamam a atenção àqueles no local da herniação:
Tumefação – ocorre em nível da abertura anatômica, com volume variável e de consistência mole. Exceção é observada em casos de estrangulamento;
Redutibilidade – podem ser parcial ou totalmente redutíveis, de aparecimento brusco ou lento;
Volume – é variável, quando o paciente faz esforço há aumento de volume, o qual pode permanecer (hérnia permanente) ou desaparecer, no repouso ou decúbito dorsal (hérnia transitória);
Elementos de formação – presença de solução de continuidade na parede abdominal e presença de conteúdo no saco herniário; Em casos de complicações, podem estar associados sintomas gerais como cólica (eqüino), depressão, dificuldade respiratória, hipertermia de intensidade variável conforme o tipo de conteúdo e complicação.
DIAGNÓSTICO:
Inicialmente, procurar identificar os elementos de formação da hérnia;
Pela anamnese, procurar identificar se trata-se de uma hérnia congênita, adquirida ou hereditária;
Identificar os sinais clínicos (ruídos à auscultação, presença de gás ou líquidos);
Radiológico (presença de gás ou líquidos).
TRATAMENTO:
Independente da hérnia, o tratamento consiste de duas indicações básicas: redução do conteúdo herniário e reconstituição de defeito na parede abdominal.
Tempos Fundamentais:
Incisão cutânea e divulsão do saco herniário até o anel » incisão elíptica da pele e divulsão do saco herniário até a identificação do anel;
Redução do conteúdo herniário para a cavidade peritonial » pode ser feita sem abrir o saco herniário;
Tratamento do saco herniário » enfossamento, o saco herniário é introduzido para dentro da cavidade abdominal, excisão através de secção próxima ao anel, torção, transfixação e ligadura do pedículo;
Fechamento do anel herniário » com este procedimento, reconstitui-se a cavidade abdominal.
2. Tratamento das hérnias em particular:
Hérnia umbilical (onfalocele) – ocorre em caninos, suínos, eqüinos e bovinos. Deve ser diferenciada de abscesso e onfaloflebite. 
Técnica operatória – incisão elíptica de pele, redução do conteúdo herniário para dentro da cavidade abdominal, se o conteúdo for irredutível deve-se fazer uma pequena incisão de relaxamento no anel herniário. O saco herniário pode ser seccionado, as bordas do anel herniário devem ser reavivadas e a parede abdominal é suturada com fio não absorvível, como o nylon monofilamento. 
Caninos são suturados com pontos Sultan, fio nº 3.0 até o nº1. 
Suínos com pontos Sultan ou Wolff, com fio nº 0.0 até nº 2. 
Bovinos e eqüinos, com pontos tipo jaquetão, fio nº 4 (nylon grilon 0.70 ou 0.80);
2. Tratamento das hérnias em particular:
Hérnia inguinal e ínguino-escrotal – sua ocorrência é em potro, suíno macho, ocasionalmente bovino, canino macho e felino. A cadela apresenta uma alta incidência de hérnias inguinais. 
Técnica cirúrgica no macho – incisão cutânea no saco escrotal, divulsão da túnica vaginal (que é o saco herniário) até o anel inguinal. Reintrodução do conteúdo para a cavidade abdominal por compressão manual sem abrir o saco herniário. 
Reintroduzido o conteúdo para o abdome é feita à incisão da túnica vaginal e a orquiectomia, que em casos hereditários é bilateral. O fechamento do anel consiste na porção crânio - lateral do anel incluindo o pedículo da túnica vaginal. O número de pontos deve ser o suficiente para fechar o anel sem estrangular os vasos pudendos externos, que passam caudo-medialmente pelo conduto inguinal
2. Tratamento das hérnias em particular:
O diâmetro do fio pode ser 3.0 ou 2.0 para pequenos animais e 1 a 3 para grandes animais. 
Técnica cirúrgica na fêmea – na cadela, a incisão é semicircular lateral a última mama inguinal, é feita a divulsão do saco herniário até o anel inguinal. A redução do conteúdo é feita com ou sem a abertura do saco herniário, e deve ser suturado o anel e os planos abordados. Deve-se evitar a compressão dos vasos (artéria e veia pudenda externa) que atravessam o anel inguinal;
2. Tratamento das hérnias em particular:
Hérnia perineal – a sua incidência é quase exclusivamente em cães machos, a partir de meia idade. 
Técnica cirúrgica: quando a hérnia for bilateral a abordagem é em “V” com o vértice voltado para o saco escrotal e o animal em decúbito dorsal com os membros posteriores voltados cranialmente. Se a hérnia for unilateral, a incisão inicia lateralmente a inserção da cauda e estende-se ventralmente até a borda oposta do saco herniário. Expõem-se o conteúdo, e o mesmo deve ser introduzido para a cavidade peritonial. A abertura herniária é reconstituída mediante sutura de aproximação entre os músculos do esfíncter externo do ânus, coccígeo lateral e obturador interno.
Quando acentuada atrofia muscular ou flacidez estiver presente, a sutura deve ser fixada em estruturas que apresentam maior resistência na região, como o ligamento sacrotuberal lateralmente e o músculo esfíncter anal externo medialmente. O fio indicado é o nylon. A síntese da pele é de forma usual;
2. Tratamento das hérnias em particular:
Hérnia diafragmática – sua incidência é principalmente em pequenos animais, e a ruptura diafragmática ocorre principalmente na sua porção muscular, tanto do lado esquerdo, quanto do lado direito, ou mesmo bilateralmente (o lado esquerdo apresenta alto índice de óbitos devido a timpanização do estômago herniado). Pode ocorrer também por desinserção frenocostal direita ou esquerda. 
Técnica cirúrgica: a abordagem cirúrgica pode ser pelo tórax ou abdome. A laparotomia está indicada quando o diagnóstico não está preciso. Esta abordagem facilita a redução das vísceras herniadas se não houver aderências, mas dificulta a síntese do diafragma. A abordagem torácica pelo 8º espaço intercostal para facilitar a síntese do diafragma. Tanto a abordagem pelo tórax quanto pelo abdome requer intubação e ventilação positiva. 
2. Tratamento das hérnias em particular:
Quando houver desinserção do diafragma e a abordagem for pelo 8º espaço intercostal, pode ser feito o avançamento da porção rompida do diafragma e sua sutura com os músculos intercostais incisados na linha de abordagem. 
O diafragma pode ser suturado com nylon ou categute, com um diâmetro de 3.0 a zero para pequenos animais, e de 1 a 4 para grandes animais. O fechamento do tórax ou abdome é de forma rotineira.
PÓS-OPERATÓRIO:
Curativo tópico.
Retirar os pontos de pele com 8 a 10 dias de pós-operatório.
Animais de grande porte restringir os movimentos nos primeiros 15 a 21 dias de pós-operatório;
Manter esquema antibacteriano.
PROGNÓSTICO:
Reservado nas hérnias sem complicações.
Desfavorável nas hérnias com complicações.

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