Buscar

RESPONSABILIDADE CIVIL DIGITAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 27 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 27 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 27 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

RESPONSABILIDADE CIVIL DIGITAL
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................04
OS BREVE PASSOS DA INTERNET...............................................................05
A PROGRESSIVA DESMATERIALIZAÇÃO DOS BENS NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO.......................................................................................................07
3.1 Os múltiplos e simultâneos focos de emissão da informação: mudanças no perfil social do ser humano................................................................................10
O MUNDO DIGITAL COMO UM MUNDO FUNDAMENTALMENTE COLABORATIVO..................................................................................................11
4.1 Características colaborativas do universo digital: da Wikipédia ao Crowdfunding.....................................................................................................11
UMA MULTIPLICIDADE CRESCENTE DE NEGÓCIOS JURÍDICOS PRATICADOS VIA INTERNET..............................................................................12
Pensando o CDC para o comércio eletrônico............................................14
O olhar jurisprudencial brasileiro para a internet........................................15
O novo comércio eletrônico na atualização do CDC..................................16
O MUNDO VIRTUAL E SEUS DANOS.............................................................18
6.1 O Cyberbullying...........................................................................................19
RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROVEDORES: ESPECIFICIDADES......20
7.1 Dever de retirada imediata do conteúdo ofensivo e questões conexas......21
7.2 Dever de guarda dos dados identificadores dos usuários e questões probatórias conexas...........................................................................................23
7.3 Responsabilidade dos provedores de pesquisa virtual pelos resultados das buscas................................................................................................................24
MARCO CIVIL DA INTERNET..........................................................................24
CONCLUSÃO....................................................................................................27
REFERÊNCIAS...............................................................................................28
INTRODUÇÃO
 O presente trabalho vem demonstrar a importância do vínculo do Direito com a Internet na sociedade moderna, e sobre a necessidade de adaptação a essa realidade. A proteção legal, no Brasil, é de difícil definição, vez que o tratamento jurídico deste instituto não é encontrado na literatura técnica brasileira. 
A Internet, após sua popularização, aumentou acima do comum de forma qualitativa e quantitativa as informações e a possibilidade de comunicação instantânea, bem como introduziu um elemento inovador que possibilitou a efetiva transparência dos dados, ou seja, qualquer pessoa tem acesso a uma quantidade máxima de informações em relação à “quase” qualquer aspecto da vida social. 
A partir de toda essa evolução, puderam ser percebidas características próprias e conflitantes, ao mesmo tempo em que a Internet se tornou um espaço livre, sem controle, sem limites geográficos e políticos, e, portanto, insubordinado a qualquer poder punitivo. 
O objetivo deste trabalho é definir qual o tratamento adequado quanto à responsabilidade civil decorrente dos crimes cibernéticos, bem como a forma do cometimento, a previsão legal presente hoje em nossa realidade e a responsabilização cível por parte do cometedor.
OS BREVE PASSOS DA INTERNET
A internet, que surgiu como uma forma de interligação, de modo descentralizado, dos computadores militares americanos – passou a ser utilizada comercialmente nos Estados Unidos em 1987. Foi então que ganhou essa denominação, internet.
No Brasil, a internet chegou em meados da década de noventa (em 1995, especificamente, é publicada uma norma do Ministério das Comunicações que marca esse início). A internet, sob o prisma técnico, é a conexão entre protocolos, conhecidos como IPs (internet protocols).
O Marco Civil da internet – Lei nº 12.965/2014 – precisou, no art. 5º, algumas denominações: “I – internet: o sistema constituído do conjunto de protocolos lógicos, estruturado em escala mundial para uso público e irrestrito, com a finalidade de possibilitar a comunicação de dados entre terminais por meio de diferentes redes; II – terminal: o computador ou qualquer dispositivo que se conecte à internet; III – endereço de protocolo de internet (endereço IP): o código atribuído a um terminal de uma rede para permitir sua identificação, definido segundo parâmetros internacionais; IV – administrador de sistema autônomo: a pessoa física ou jurídica que administra blocos de endereço IP específicos e o respectivo sistema autônomo de roteamento, devidamente cadastrada no ente nacional responsável pelo registro e distribuição de endereços IP geograficamente referentes ao País; V – conexão à internet: a habilitação de um terminal para envio e recebimento de pacotes de dados pela internet, mediante a atribuição ou autenticação de um endereço IP; VI – registro de conexão: o conjunto de informações referentes à data e hora de início e término de uma conexão à internet, sua duração e o endereço IP utilizado pelo terminal para o envio e recebimento de pacotes de dados; VII – aplicações de internet: o conjunto de funcionalidades que podem ser acessadas por meio de um terminal conectado à internet; e VIII – registros de acesso a aplicações de internet: o conjunto de informações referentes à data e hora de uso de uma determinada aplicação de internet a partir de um determinado endereço IP.” 
Os computadores, hoje, são só apenas mais um modo de conexão. Ninguém imaginava, há poucos anos, num capítulo que tratasse da responsabilidade civil digital, que o computador pudesse estar em plano secundário. É o que parece ocorrer atualmente. Celulares e tablets assumem funções que antes eram só dos computadores.
As empresas progressivamente investem em segurança da informação e buscam tecnologias para a gestão digital de documentos. São comuns – nas empresas e nos entes públicos – os chamados arquivos de rede, arquivos compartilhados por segmentos de pessoas mais ou menos específicos. Podemos, aliás, hoje trabalhar seja na sede da empresa ou em lugares remotos (até mesmo em casa). A tecnologia atual propicia que isso ocorra sem dificuldades. A própria administração pública progressivamente se vale do universo digital para suas ações. 
A Lei nº 12.551/2011 prevê, a propósito, no seu art. 1º: “Não se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do empregador, o executado no domicílio do empregado e o realizado a distância, desde que estejam caracterizados os pressupostos da relação de emprego. Parágrafo único. Os meios telemáticos e informatizados de comando, controle e supervisão se equiparam, para fins de subordinação jurídica, aos meios pessoais e diretos de comando, controle e supervisão do trabalho alheio.” 
O Brasil, tem se tornado referência mundial em certos setores da administração pública, como ocorre com a urna eletrônica. Chegam ao TSE pedidos semanais de informação sobre a sistemática da urna eletrônica, com o intuito de adotá-la em outros países. A biometria, seja em questões de identificação do eleitor, seja do usuário de serviços privados de saúde, parece representar forte tendência. Também em relação ao imposto de renda, migramos quase que integralmente para o mundo digital.
Quando perdemos nossos celulares, é como se perdêssemos parte de nossa identidade, pois muito do que é nosso lá está: fotos, vídeos, contatos, e-mails, compromissos.
A situação se complica quando no aparelho estão senhas bancárias e de redes sociais. De posse dessas senhas, não é difícil para o falsáriose fazer passar pela vítima, com danos potencialmente imensos. Há outros aspectos negativos, ou pelo menos desconfortáveis para muitos de nós: a possibilidade de ser localizado a qualquer momento, seja por questões pessoais, seja por questões profissionais. A internet é, por excelência, transnacional. Com o passar do tempo, superada a euforia das décadas iniciais, haverá natural depuração de práticas inadequadas e ganharemos em maturidade e em modos de detecção de fraudes. Na internet, além da privacidade, outro bem jurídico muito propício a sofrer ataques é o direito autoral. As possibilidades de copiar e mesmo alterar a produção alheia são vastas. Sem falar na já clássica alteração na atribuição da autoria dos textos, com a mudança do autor, geralmente atribuindo a escritores mais famosos textos que não são deles. A sociedade da informação valoriza o conhecimento. Não há conhecimento sem produção séria de conteúdo. Tudo isso aponta para o desafio de conciliar democratização progressiva com o resguardo dos direitos autorais.
Certos sites de busca, como o Google, tornaram-se impérios multimilionários. Nós nos tornamos dependentes desses mecanismos, e é raro que passemos uma semana ou mesmo um dia sem utilizá-los. Há, na expansão desses serviços, aspectos positivos, como a comodidade que nos propicia e mesmo, em certo sentido, a democratização das informações, e negativos, como a privacidade dos nossos dados, e mesmo a seleção, que nem sempre percebemos, entre aquilo que é mostrado e aquilo que é ocultado, ou mesmo a ordem das exibições (exibir na página 100 equivale praticamente a não exibir). Certos países, de orientação totalitária, censuram os serviços de busca, ou criam serviços de busca próprios, que só mostram aquilo que os governos acham conveniente mostrar.
A PROGRESSIVA DESMATERIALIZAÇÃO DOS BENS NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Vivemos numa sociedade em que os bens físicos perdem muito da primazia que tiveram nos séculos passados. Há uma clara desmaterialização dos bens. Paralelamente, os serviços ganham intensa, e progressiva, relevância econômica. Nossas profissões surgem a cada dia, ligadas, por exemplo, à culinária, à moda e, sobretudo, ao mundo digital, e muitas delas são financeiramente mais atrativas do que aquelas convencionais.
Talvez não exageraríamos se disséssemos que muitos pais, hoje, não conseguem compreender bem o trabalho dos filhos (gerente de mídias sociais, por exemplo).
Enfim, podemos dizer, em autêntico truísmo, que o mundo mudou, está mudando. A tecnologia reduz custos operacionais dos deslocamentos, interliga pessoas e comunidades, diminui o uso de papel e a necessidade de estocagem física de documentos.
As gerações que cresceram e foram educadas longe do mundo digital não se sentem confortáveis com essa “fuga do papel”. Há, nessas pessoas, um apego, até emocional, ao papel, ao documento escrito (como se isso as deixasse mais seguras). Mas a desmaterialização é uma tendência irreversível, gostemos ou não.
Nesse contexto, conforme frisamos, nota-se uma progressiva desmaterialização dos bens. Não só a forma de aquisição é digital (pedimos, por exemplo, táxis ou pizzas pela internet), como os próprios serviços se desmaterializam (pensemos, por exemplo, em um e-book. Não há bem físico palpável, nos moldes do mundo físico-convencional).
Precisamos cada vez menos dos arquivos físicos. A progressiva desmaterialização de processos judiciais, documentos, arquivos, é mais do que uma tendência, uma realidade que se impõe. Os documentos passam a ter outros suportes que não o papel.
Podemos levar, no bolso, em um pen drive, informações correspondentes a muitas centenas de livros. E mesmo o pen drive, conquanto prático e fisicamente mínimo, ainda precisa de uma base física, por assim dizer. A tendência, porém, é que tenhamos nossos arquivos nas “nuvens”, acessíveis de qualquer lugar em que estejamos.
Informações relativas a pessoas e empresas, informações pessoais e corporativas, circulam no mundo digital, compõem, por assim dizer, nossa memória social. A sociedade das próximas décadas será menos burocrática e ganhará em democracia e em acesso à informação. Além de se tornar mais ágil. Tempo, aliás, parece ser o bem mais precioso e mais raro para muitos de nós.
Se os instrumentos técnicos (smartphones, tablets etc.) que propiciam o compartilhamento das informações se renovam e se sucedem em pouco tempo, com a mais recente tecnologia substituindo as que pensávamos serem as últimas novidades, há, em tudo isso, uma permanência: a intensa e irreversível troca – quase imediata – de informações. 
Esse intercâmbio de informações, sem precedentes na história humana mudou, de muitos modos, o perfil da nossa sociedade. Mudamos muito, talvez ainda nem tenhamos percebido o quanto mudamos. A mudança não é só no instrumento, na forma. A forma, no caso, confunde-se com o conteúdo, alterando comportamentos e relações humanas. 
As empresas privadas, os governos, as pessoas em geral, mostram-se sensíveis em relação ao que é dito sobre elas nas redes sociais, porque são elas, as redes sociais, até mais do que os veículos convencionais, que parecem formar a convicção social sobre determinados temas.
Delegamos, de certa forma, para a tecnologia, muitas tarefas que antes eram nossas.
Poucos de nós, por exemplo, hoje, lembram-se de números de telefones, sequer de pessoas muito próximas. Se tudo isso traz benefícios, traz, por outro lado, uma ampliação muito óbvia dos riscos. Fraudes, ataques anônimos, violações de direitos autorais, ameaças digitais. Tudo isso vem conectado com uma ampliação dos danos indenizáveis, reformulando alguns dos pressupostos clássicos da responsabilidade civil, que passa a dar imensa atenção ao pensamento tópico, ao contexto (e não só ao texto).
Estamos diante de um novo ambiente dimensional, que é influenciado pelo ambiente físico tradicional, mas por certo não se confunde com ele. Com frequência ocorre o contrário: o mundo digital influencia fortemente o ambiente social físico tradicional. Não há, na verdade, como separar os dois ambientes atualmente, sendo indissoluvelmente ligados.
É fundamental que tenhamos um olhar interpretativo aberto aos novos universos dimensionais. Aos novos modos de percepção. Às novas formas de nos relacionamos.
Se o inovar por inovar, no raciocínio jurídico, é postura mental esnobe e teoricamente pobre, por outro lado não se pode cair no erro oposto: recusar o novo, ou querer que ele caiba, de qualquer modo, nas caixas conceituais convencionais. Pode não caber.
Enfim, o mundo digital requer outras e novas formas de pensar o direito, que talvez não sejam aquelas que nortearam o mundo físico-convencional.
3.1 Os múltiplos e simultâneos focos de emissão da informação: mudanças no perfil social do ser humano
O ser humano, na sociedade da informação, ganha um potencial de ação maior do que dispunha nos séculos passados. Talvez hoje, mais do que ontem, sua voz se faça mais ouvida. As informações (e mesmo as notícias) não têm um foco de emissão único ou concentrado. Os focos de emissão de informações são, ao contrário, plurais, dispersos, simultâneos. As empresas de comunicação, se continuam importantes, ganham outros atores na dinâmica complexa da obtenção da informação. A própria publicidade se redefine. Há, como linha de tendência, a percepção que o consumidor é que decidirá, cada vez mais, se quer ou não receber a publicidade. A publicidade imposta, sobretudo, na internet, território livre por excelência, costuma produzir efeitos contrários aos pretendidos. Os seres digitais, falemos assim, são sujeitos mais ativos do que seus antepassados. São sujeitos que redefinem o espaço em que estão. São sujeitos que ao consumirem uma notícia atuam sobre ela, comentando-a e divulgando-a, e isso já integra o próprio objeto noticiado. Algo como o postulado que há cerca de 100 anos a física teórica nos ensinou: o observador, ao observar as partículas quânticas, acaba por interferir no próprio objeto da investigação científica. Cerca deum século depois, algo parecido acontece conosco.
Aliás, a internet não apenas reproduz, com extrema velocidade, os fatos que acontecem no mundo físico-convencional. Ela cria novos fatos. As empresas e os governos, em especial, estão sujeitos a manifestações digitais, com repúdio e ataques diante desse ou daquele modo de agir. Também pessoas famosas podem ver uma avalanche digital se formar contra si, em razão, por exemplo, de um comentário infeliz ou desastrado.
As reações podem ser desproporcionais ao fato que as originou, mas são uma realidade atual. A internet atua e influencia o mundo social em tempo real, não há espaço de tempo entre os acontecimentos e sua reconstrução, por assim dizer, digital. Podemos citar, de modo breve, sem pretensão de exaustividade, algumas das características da internet: (a) transnacionalidade por excelência; (b) potencial de compartilhamento das informações inédito na história humana; (c) velocidade das trocas de informações; (d) conteúdo fortemente colaborativo.
As três primeiras características são de intuitiva compreensão. A internet não conhece as barreiras que separam os países. Permite compartilhar informações de um modo que a humanidade antes desconhecia. E tudo isso ocorre com velocidade estonteante. São pontos que todos nós, de um modo ou de outro, conhecemos. 
O MUNDO DIGITAL COMO UM MUNDO FUNDAMENTALMENTE COLABORATIVO
A internet torna comum, global, partilhado o que nela está. Não há fronteiras entre países, não há limitações geográficas. As relações na dimensão digital são dinâmicas, os conteúdos emergem de recíprocos contatos colaborativos. Rompem-se, da mesma forma, muitas barreiras culturais, aproximando-se os povos – que estão à distância de um clique, não mais dependendo dos modos convencionais de contato.
Somos todos, hoje, em maior ou menor medida, dependentes do mundo digital. Daí falarmos, hoje, de direito digital (ou direito virtual, ou direito da sociedade da informação, como queiramos). Menciona-se, neste contexto, a ideia de sociedade convergente, a ideia de que vivemos, atualmente, numa sociedade digital-comunitária.
Vivemos num mundo conectado. O isolamento não é bem visto nem se coloca ou se coloca cada vez menos como uma opção. É inegável: crescem as ferramentas de difusão e troca de ideias. O curioso, e que tem despertado a atenção de estudiosos de variados campos, é que a cultura digital alterou não só as interações que experimentamos através de ferramentas digitais, alterou comportamentos, hábitos, expectativas. Muitos de nós têm amigos que conheceram o parceiro afetivo através da internet.
4.1 Características colaborativas do universo digital: da Wikipedia ao Crowdfunding
Muitas possibilidades nascem da criatividade genial de quem já nasceu nesse ambiente digital. Por exemplo, o crowdfunding, que é um modo de arrecadar, virtualmente, fundos para determinado projeto que o usuário propõe. Uma forma de financiamento colaborativo. As empresas de tecnologia, sobretudo nos Estados Unidos, tornam bilionários jovens mal saídos da infância. Essas empresas – dinâmicas e iconoclastas – beneficiam-se, em grande parte, da convivência fecunda que lá existe entre pesquisa acadêmica e iniciativa privada. Sem falar na tendência crescente de fusões em vários setores, não só no de tecnologia (a propósito, o Youtube foi comprado pelo Google, o que mostra a clara estratégia expansionista deste).
Talvez uma das características mais interessantes do mundo digital que se consolida é a construção coletiva do conhecimento. Um dos exemplos mais conhecidos é a Wikipedia.
Uma enciclopédia colaborativa que pode ser acessada ou escrita por qualquer pessoa, de modo voluntário e de qualquer lugar do mundo. No universo digital, são os usuários, em grande medida, que geram o conteúdo.
UMA MULTIPLICIDADE CRESCENTE DE NEGÓCIOS JURÍDICOS PRATICADOS VIA INTERNET
Por certo, a revolução digital traz benefícios e se incorpora ao nosso modo de ser. Consultamos o saldo da conta bancária pelo celular, compramos o livro que precisávamos pelo tablet, verificamos o endereço que precisamos no GPS do carro, para ficarmos nos exemplos mais prosaicos. Tudo isso, é certo, potencializa os riscos, que se redefinem, aumentam ou diminuem a partir de nossas experiências sociais. Se os riscos cresceram e a responsabilidade civil contemporânea há de estar atenta a isso, também cresceu o leque de escolhas que o mundo atual nos oferece. É verdade que escolhas demais muitas vezes nos desorientam e, por incrível que pareça, pode tornar algumas pessoas mais infelizes do que felizes.
Seja como for, é certo que temos o poder de, com um clique, difundir uma informação ou uma opinião para milhares de pessoas. Convém não esquecer que podemos ser chamados a responder por isso. É espantoso perceber que alguns realmente acreditam que podem escrever o que quiserem, sem limites de quaisquer ordens, e que não respondem por isso. Sem falar que o universo digital parece construído para receber continuamente novas informações, mas não para excluí-las. Assim, um vídeo, uma foto, ou uma informação, uma vez compartilhada, dificilmente será excluída integralmente da memória social da internet.
Os serviços migraram fortemente para o mundo digital. As compras online passaram a ser algo comum. Os blogs, talvez não seja exagero afirmar, têm um impacto maior, em certas áreas do conhecimento, do que as mídias convencionais. As redes sociais ostentam um potencial aparentemente infinito na divulgação de informações para o bem e para o mal. Além disso, o segmento de serviços tem sido fortemente reformulado pela internet. Muitas relações, que antes se davam o mundo físico, agora são predominantemente virtuais. Por exemplo, as relações entre clientes e bancos migraram, em boa parte, do mundo físico-convencional para o mundo digital.
Os hackers tornaram-se figuras temidas e comuns, sendo muitos deles contratados pelas empresas para que desenvolvam mecanismos de defesa, uma espécie de contrainteligência preventiva diante dos ataques digitais. Há várias ferramentas, desde as mais simples e conhecidas, como os chamados firewalls, que são uma espécie de muro digital que impede a passagem de hóspedes indesejados, até outras bem mais sofisticadas, chaves de segurança que só os hackers dominam.
Cabe frisar que o risco da atividade é do fornecedor de produtos ou serviços, que deve responder pelos danos conexos à atividade, ainda que provindos de atos de terceiros. Seja como for, há, no direito digital, um forte componente de autorregulamentação. Nota-se o componente de autorregulamentação em muitas áreas, como o combateao spam. Também no caso de mensagens ofensivas na internet, ocasião em que cabe aos provedores, uma vez avisados, retirá-las da rede. Aliás, segundo o STJ, o provedor responde solidariamente com o ofensor, se, avisado do conteúdo ilícito, não retirar esse conteúdo do ar em 24 horas.
Cabe ao provedor, em linha de princípio, a análise acerca da ofensividade ou não da mensagem. É um exemplo possível de autorregulamentação. Esse componente de autorregulamentação, se é importante e mesmo necessário, não pode porém fazer esquecer a necessidade de termos uma postura interpretativa atenta às novas realidades, sobretudo para proteger os vulneráveis diante dos novos danos, haja ou não lei a propósito do tema. A responsabilidade civil, aliás, cabe não esquecer, foi em boa medida construída ao largo das leis.
5.1 Pensando o CDC para o comércio eletrônico
O comércio digital ou eletrônico, mudou nossa forma de adquirir produtos ou serviços. Usamos cada vez mais a internet, não só para comprar produtos ou serviços, mas sobretudo para pesquisas preços e comparar concorrentes. As empresas sabem disso e tentam, com maior ou menor sucesso, aprimorar a comunicação digital. Uma reclamação contra uma empresa numa rede social, por exemplo, é potencialmente mais danosa e preocupante, para a empresa do que as queixas pelos meios tradicionais (call center, ou mesmo e-mail). Aliás, as empresas costumam temermais as redes sociais do que as ações judiciais.
As empresas que fornecem produtos ou serviços pela internet respondem sem culpa (CDC, art. 14; art. 18) pelos danos que os consumidores sofrerem em razão da transação realizada. Poderá haver inversão do ônus da prova (CDC, art. 6º, VIII). Pode ser usado, como argumento de reforço, com toda pertinência, a teoria do risco (Código Civil, art. 927, parágrafo único). Poderá ser invocada a teoria do risco proveito, risco criado ou risco atividade. Se, digamos, houver um problema na criptografia dos dados enviados pelo consumidor à empresa, esta, que disponibilizou o serviço, responde objetivamente pelos danos sofridos (digamos que os dados foram captados e usados por terceiros em fraudes).
Há solidariedade entre todos os participantes da cadeia de fornecimento de produtos ou serviços (CDC, art. 7º, parágrafo único; art. 18; art. 19, art. 25, § 1º; art. 34). Os sites de compra coletivos respondem pelos danos sofridos no uso do produto ou serviço adquirido através deles. Quase sempre, os produtos ou serviços são adquiridos através de contratos de adesão (CDC, art. 54). O consumidor apenas adere aos seus termos, não pode modificar suas cláusulas. Se houver quebra do equilíbrio substancial entre as prestações, as cláusulas são nulas e o consumidor poderá solicitar a modificação das prestações desproporcionais (CDC, art. 4º, III; art. 6º, V; art. 51, IV; art. 51, § 1º, III).
São nulas as cláusulas que exonerem ou mesmo atenuem a responsabilidade das empresas de comércio eletrônico (CDC, art. 51, I). Tal como acontece no mundo físico-convencional (por exemplo, na clássica frase: “Este estacionamento não se responsabiliza...”), o mesmo vale para o mundo digital. Considera-se não escrita qualquer disposição nesse sentido, esteja nas condições gerais dos contratos firmados pelo consumidor, esteja em pop-ups (espécies de janelas que se colocam nos sites, com avisos ou publicidades), ou mesmo na configuração principal do site. A publicidade feita pela internet tem força vinculante, desde que “suficientemente precisa” (CDC, art. 30). 
Os deveres de informações são particularmente gravosos em relação aos fornecedores de produtos ou serviços (CDC, art. 6º, III; art. 8º; art. 9º). A jurisprudência tem desenvolvido, com criatividade, os deveres de informação nas relações de consumo. Sugerimos ao leitor a leitura do capítulo relativo à responsabilidade civil no direito do consumidor. Importante lembrar que, nas compras pela internet, o consumidor tem um prazo de sete dias para desistir da compra. É um direito de desistência que não precisa ser motivado (CDC, art. 49).
5.2 O olhar jurisprudencial brasileiro para a internet
Já vimos que a exploração comercial da internet configura relação de consumo. Ao ser comunicado de que determinado texto ou imagem possui conteúdo ilícito, o provedor de internet deve agir de forma enérgica, retirando o material do ar imediatamente, sob pena de responder solidariamente com o autor direto do dano, em virtude da omissão praticada. Se há falha em sistema digital de mediação de negócios Mercado Livre, por exemplo, haverá responsabilidade objetiva do prestador do serviço. Cabe lembrar que é vedada a estipulação pelo fornecedor de cláusula que exonere ou mesmo atenue a sua responsabilidade (CDC, art. 25). Em caso de anúncio falso publicado na internet, em site de classificados, com danos à honra, respondem solidariamente todos aqueles que participam da cadeia de consumo (no caso, a empresa de televisão proprietária do site, a empresa de propaganda responsável pela contratação do anúncio, e o portal que hospeda o site de conteúdo). Todos respondem sem culpa.
Porém, na linha de vários precedentes, o STJ entende que o provedor de conteúdo de internet não responde objetivamente pelo conteúdo inserido pelo usuário, por não se tratar de risco inerente à sua atividade. Está obrigado, no entanto, a retirar imediatamente o conteúdo moralmente ofensivo, sob pena de responder solidariamente com o autor do dano. Em outras palavras, os provedores de conteúdo, ao oferecer um serviço que permite que os usuários expressem livremente sua opinião, não são obrigados a filtrar os dados e imagens neles inseridos.
Devem, porém, como dissemos, agir de modo imediato ao receberem comunicação a respeito de conteúdo ilícito ou ofensivo. A mesma orientação vale para e-mails, blogs, provedores de pesquisa, entre outros serviços semelhantes.
5.3 O novo comércio eletrônico na atualização do CDC
Quando o CDC foi editado, em 1990, o comércio eletrônico sequer existia no Brasil. Em meados da década de 90 a internet teve seu início no Brasil, e desde então só cresceu, experimentando uma expansão inimaginável. É fundamental que tenhamos atualmente modos de reagir, juridicamente, contra as novas formas de agressão aos direitos do consumidor, sobretudo diante do marketing agressivo e, também, diante da pouca ou nenhuma informação veiculada pelos fornecedores virtuais.
 Já foram aprovados no Senado projetos de lei que, formulados por uma comissão de juristas, pretendem atualizar o CDC. Um desses projetos prevê, entre outros pontos, que as normas e os negócios jurídicos devem ser interpretados e integrados de maneira mais favorável ao consumidor, reforçando o que já prevê o art. 47. Prevê o conhecimento de ofício, pelo juiz, da violação de normas de defesa do consumidor (lembremos que, eventualmente, a jurisprudência se recusa a aplicá-las de ofício, como ocorre, por exemplo, na matéria da Súmula 381/STJ: “Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas”). 	
Protege-se a autodeterminação, a privacidade e a segurança das informações e dados pessoais prestados ou coletados, por qualquer meio, inclusive o eletrônico. Também se protege a liberdade de escolha, em especial frente a novas tecnologias e redes de dados, sendo vedada qualquer forma de discriminação e assédio de consumo. É clara a preocupação do legislador em diminuir a assimetria de informações e preservar não só a segurança das transações, mas também a confiança do consumidor. 	
Na contratação por meio eletrônico ou similar, o fornecedor deve enviar ao consumidor a confirmação imediata da aceitação da oferta, inclusive em meio eletrônico. Deve enviar também via do contrato em suporte duradouro, que ofereça as garantias de fidedignidade, inteligibilidade e conservação dos dados contratuais, permitindo ainda a facilidade de sua reprodução. É dever do fornecedor disponibilizar em local de destaque e de fácil visualização seu nome empresarial e o número de sua inscrição no cadastro geral do Ministério da Fazenda, além de seu endereço geográfico e eletrônico, bem como as demais informações necessárias para sua localização, contato e recebimento de comunicações e notificações judiciais e extrajudiciais. Vale frisar que o Decreto nº 7.962/2013, que regulamenta o CDC, dispondo sobre a contratação no comércio eletrônico, já prevê alguns desses pontos. Prevê, por exemplo, no art. 2º, que os sites devem disponibilizar, em local de destaque e de fácil visualização, as seguintes informações, dentre outras: nome empresarial e número de inscrição do fornecedor, quando houver, no Cadastro Nacional de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas do Ministério da Fazenda; endereço físico e eletrônico, e demais informações necessárias para sua localização e contato. Trata-se de relevante inovação, que vai contribuir para a efetividade dos direitos do consumidor. Não raro, mesmo grandes empresas que atuam exclusivamente na internet adotam postura esquiva e pouco transparente, tudo fazendo para dificultar a propositura de ações judiciais contra elas, inexistindo, em grande parte dos casos, sequer endereço geográfico no Brasil onde poderiam ser citadas. 
O direito de desistência imotivado é mantido no prazo de sete dias (CDC, art. 49) para as contratações a distância, porém o prazo é contado a partir da aceitação da oferta ou do recebimento ou disponibilidadedo produto, o que ocorrer por último (há propostas para ampliar esse prazo para o dobro, 14 dias). O Decreto nº 7.962/2013, antes referido, estabelece no art. 5º que o fornecedor deve informar, de forma clara e ostensiva, os meios adequados e eficazes para o exercício do direito de arrependimento pelo consumidor.
Caberá ao fornecedor informar, de modo claro e ostensivo, acerca dos meios para o exercício do direito de arrependimento – que deverão ser claros, fáceis e eficazes. Devem, no mínimo, contemplar o mesmo modo utilizado para a contratação. É dever do fornecedor, de igual modo, enviar ao consumidor confirmação individualizada e imediata dando conta do recebimento da manifestação de arrependimento.
Proíbe-se que sejam enviadas mensagens eletrônicas não solicitadas caso não haja relação de consumo anterior com o fornecedor e o consumidor não tenha manifestado consentimento prévio em recebê-la, ou, pelo contrário, tenha manifestado ao fornecedor o interesse em não recebê-la. Também é vedado o envio de mensagens para quem esteja inscrito em cadastro de bloqueio de oferta. O fornecedor deve cessar imediatamente o envio de ofertas e comunicações ao consumidor que manifestou sua recusa em recebê-las.
O MUNDO VIRTUAL E SEUS DANOS
 Dizer que os danos aumentaram em nosso século envolve certo truísmo. Se nós, no início do século passado, engatinhávamos nas possibilidades tecnológicas, se sequer conhecíamos a televisão ou o avião, se uma notícia demorava lentos meses para partir da Europa e chegar até aqui, hoje, desnecessário dizê-lo, a situação modificou-se de modo impensável. É possível até afirmar, sem muito medo de errar: talvez a mais otimista das previsões não previsse que chegaríamos aonde chegamos, em possibilidades tecnológicas. 
As possibilidades de danos são muitas. Algumas perfazem crimes, como o uso de dados de cartões de crédito ou débito de forma indevida ou sem autorização. Da mesma forma, a invasão não autorizada para furtar informações confidenciais. Configurando ou não crime, a responsabilidade civil se impõe, se houver dano conectado em nexo causal à ação ou omissão de alguém. Ofensas digitais são cada vez mais comuns, e o dever de indenizar, se identificados os ofensores, esse o grande problema é evidente. Falsos perfis em redes sociais também têm o mesmo problema (identificar o agressor) e a mesma solução (imposição de indenização, com a possibilidade da incidência da função pedagógica). Muitas vezes, os falsos perfis têm um único propósito: acabar com a reputação da pessoa falsamente retratada, como se as opiniões, por exemplo, absurdas ou preconceituosas postadas fossem de fato dela.
Observa-se a criação de comunidades para falar mal de alguém, ou de determinada empresa (às vezes com participação de funcionários, explícita ou disfarçadamente, ou ex-funcionários). Em todos esses casos, configurado o dano, poderá haver indenização (usamos o verbo no condicional porque, invariavelmente, a responsabilidade civil precisa, para se afirmar, do contexto em que se deu o dano. Precisa verificar a situação do autor e da vítima, precisa sobretudo se amparar no nexo causal). A liberdade de expressão existe e não há, nesses casos, possibilidade de censura prévia, mas há responsabilidade por aquilo que se escreve, sobretudo se ofensivo ou danoso aos direitos de outrem. Somos livres para atacar, mas não somos livres em relação às consequências civis do ataque. O abuso de direito, no Brasil, é ilícito civil (Código Civil, art. 187).
Os e-mails, se mal utilizados, podem ensejar responsabilidade civil. São comuns, na jurisprudência, casos de dispensa por justa causa de empregado por mau uso de e-mail corporativo, seja para repasse de informações confidenciais para concorrentes, seja para compartilhar material pornográfico com colegas de trabalho. Se o uso do e-mail, corporativo ou não, causar dano, por certo a indenização se impõe (alguém que, digamos, subtrai indevidamente o celular de uma colega de trabalho e copia fotos dela nua, tiradas pelo namorado. Depois envia as fotos para todos da empresa).
Outro ponto que pode gerar responsabilidade civil e que é objeto de frequentes abusos no mundo digital é o uso não autorizado de imagem alheia. A violação da imagem alheia pode ocorrer: (a) sem violação à honra; ou (b) com violação à honra. No mundo digital como no mundo físico-convencional, ambas as hipóteses são possíveis, e ocorrem com frequência. Se, por exemplo, posto em rede social foto do meu chefe, ainda que com o intuito de elogiá-lo, trata-se de uso indevido de imagem alheia, se não autorizada. Isso se torna pior se o uso envolve, de algum modo, aspectos comerciais (por exemplo, publicidade que usa foto do corpo de uma modelo sem a respectiva autorização, nem muito menos retribuição financeira). Embora não haja dano à honra, haverá uso indevido de imagem, que deverá ser indenizada.
O cyberbullying
Já se disse que o covarde só ataca quando está a salvo. O anonimato, real ou aparente, que a internet propicia abre espaço – esse é o lado negativo – para covardias, violências, ataques gratuitos. Percebe-se que as pessoas tornam-se mais agressivas na rede, dizem coisas que nunca diriam “aqui fora”. O ideal é fazermos do mundo digital um locus criativo de tolerância e do intercâmbio produtivo de ideias. Se, hoje, já temos muito disso, temos também ainda as feias notas contrárias da intolerância, da agressão gratuita, do covarde anonimato para se dizer o que não se tem coragem de dizer frente a frente.
Seja como for, algo é certo: o mundo digital potencializa enormemente os danos. As informações lá postas trazem consigo duas peculiaridades: (a) dificilmente conseguem, uma vez inseridas, ser totalmente eliminadas (na melhor das hipóteses, são copiada por alguém, que depois pode sempre disponibilizar em outro lugar); (b) têm uma tendência espantosa de difusão: expandem-se exponencialmente e, se a foto, vídeo, informação ou comentário é ofensivo, os danos são incalculáveis. Bem por isso, ou os provedores, uma vez avisados, retiram rapidamente a ofensa do ar, ou respondem solidariamente pelos danos.	
Tanto o bullying quanto o cyberbullying buscam desestabilizar psicologicamente o ofendido. A jurisprudência já teve oportunidade de condenar civilmente a mãe pelo cyberbullying praticado pelo filho menor, que criou página na internet exclusivamente para ofender colega de classe, com fatos e imagens extremamente agressivas. Outro aspecto particularmente difícil é a quantificação do dano – não só aqui, mas também aqui. No mundo digital, uma informação caluniosa, por exemplo, tem um potencial expansivo imenso, inesgotável. Isso deve ser levado em conta na quantificação dos danos.
RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROVEDORES: ESPECIFICIDADES
Os provedores são como portais, modos de se entrar e sair da internet. Em princípio, os provedores de acesso oferecem conexão à internet. Alguns vão além. Muitos deles têm feição híbrida: (a) oferecem conexão à internet e (b) oferecem conteúdo (reportagens, serviços etc.). Ostentam, desse modo, muitos deles, uma função dúplice. Atuam: (a) abrindo as portas da internet aos usuários e (b) produzindo conteúdo. O ideal é que os provedores, ao hospedarem páginas, definam quem é o responsável editorial pela publicação. Podem, de todo modo, ser responsabilizados, se forem avisados do conteúdo ofensivo ou ilícito e não promoverem a imediata retirada do ar. Veremos isso, de modo específico, mais adiante.
Afirme-se, em linha de princípio, que aos provedores de internet se aplica o CDC. Mesmo quando não haja remuneração direta, há remuneração indireta. As vítimas dos danos, não importa quem sejam, são consumidores por equiparação (CDC, art. 17). A exploração comercial da internet configura fornecimento de serviços, à luz do CDC. O fato do serviço prestado pelo provedor ser gratuito não desvirtua a relação de consumo. A expressão “mediante remuneração”, contida no art. 3º, § 2º, do CDC, deve ser interpretada de forma ampla, de modo a incluir os ganhos indiretos.7.1 Dever de retirada imediata do conteúdo ofensivo e questões Conexas
De acordo com a jurisprudência brasileira, não é dever do provedor de conteúdo fiscalizar previamente o teor das informações postadas por cada usuário (não faz parte dos riscos inerentes ao negócio). Porém, ao ser comunicado de que determinado texto ou imagem possui conteúdo ilícito, é responsabilidade do provedor agir de modo enérgico, sob pena de responder solidariamente com o autor do dano, em virtude de sua omissão. Deve, ainda, o provedor propiciar meios de coibir o anonimato, pelo menos através do número de protocolo (IP). Os provedores de conteúdo, ao oferecerem um serviço que permite que os usuários expressem livremente sua opinião, não são obrigados a filtrar os dados e imagens neles inseridos. Devem, porém, como dissemos antes, agir de modo imediato ao recebem comunicação a respeito de conteúdo ilícito ou ofensivo. A mesma orientação vale para e-mails, blogs, provedores de pesquisa, entre outros serviços semelhantes. Não se podem filtrar previamente mensagens em e-mails, blogs, pesquisas, redes sociais. Em outra ocasião, decidiu-se que o provedor de internet administrador de redes sociais – deve retirar informações difamantes a terceiros manifestadas por seus usuários, independentemente da indicação precisa, pelo ofendido, das páginas em que foram veiculadas as ofensas. Se houver dano à hora, em decorrência de falta de cuidado em mensagem publicitária, todos os envolvidos respondem solidária e objetivamente. 
Portanto, havendo mensagem ofensiva em rede social, por exemplo, o provedor uma vez comunicado, tem o prazo de 24 horas para retirar preventivamente a página – supostamente ofensiva – do ar. Caso não o faça, responde solidariamente pelos danos. Depois da retirada, o provedor analisará se, de fato, há ofensa. Caso não haja, quem denunciou abusivamente poderá responder civilmente, se tiver havido dano. O mesmo vale para os provedores de hospedagem de blogs, que são uma espécie do gênero provedor de conteúdo. Oferecem, por assim dizer, abrigo digital e ferramentas técnicas para edição de blogs criados e mantidos por terceiros. Não verificam, nem poderiam fazê-lo, as mensagens postadas pelos usuários. Os serviços que prestam, portanto, não são defeituosos em virtude dessa ausência de fiscalização, que não participa dos riscos inerentes à sua atividade.
Há, porém, alguns problemas com essa orientação: (a) o dever de fiscalização passa do provedor para a vítima (ela é que deve buscar o material ilícito produzido); (b) o provedor, retirando o conteúdo ofensivo em 24 horas, não tem responsabilidade civil. Pode-se argumentar, com razoabilidade, ser impossível aos provedores fiscalizar previamente tudo que é postado. Mas será razoável impor a vítima o risco da atividade?
São questões que permanecem em aberto.
Diante da ofensa digital, há duas alternativas possíveis: (a) o provedor retira o material ofensivo em 24 horas; (b) o provedor não retira. No primeiro caso, segundo o STJ, ele não mais responde solidariamente pelos danos. No segundo, ele tem responsabilidade solidária. Isso, porém, nem sempre atende ao princípio da proteção prioritária da vítima do dano, nem tampouco ao princípio da reparação integral. Se a vítima, digamos, só descobrir as ofensas quando elas já tiverem sido amplamente divulgadas, a retirada pouco efeito prático terá. E, se o real ofensor não for identificado (situação bastante provável), a vítima nada poderá fazer. Nenhuma indenização terá. 
Os provedores não podem fazer censura prévia. Não lhes cabe, portanto, filtrar previamente o que será postado. Isso parece pacífico atualmente. Porém, segundo cremos, eles podem ser responsabilizados em duas situações centrais, sem prejuízo de outras, específicas: (a) quando não retirarem o conteúdo ofensivo em 24 horas, contadas da comunicação; (b) quando, podendo fazê-lo, não identificaram adequadamente o agressor. Esses são os nortes hermenêuticos que devem balizar o tema, segundo cremos.
7.2 Dever de guarda dos dados identificadores dos usuários e questões probatórias conexas
Optamos por tratar de modo separado algumas questões conexas em homenagem à clareza. Nesse contexto, outro aspecto relevante é seguinte: os provedores de conteúdo costumam, com frequência, alegar que: (a) não têm como identificar o suposto ofensor; ou (b) o suposto ofensor já teve seus dados excluídos do banco de dados do provedor, em virtude do cancelamento do serviço. Ambas as alegações devem ser repelidas e fazem parte dos riscos do negócio do provedor de conteúdo (os gerenciadores de fóruns de discussão virtual são espécie de provedores de conteúdo). 
Os serviços que possibilitam a livre divulgação de opiniões, de modo instantâneo e vasto, devem construir formas que permitam identificar os usuários, de modo a coibir o anonimato. A internet é e deve ser livre. É da sua essência a criatividade ágil e irreverente que desconhece a burocracia. As próximas décadas encontrarão meios técnicos de conciliar a liberdade de todos com a identificação de quem não usa, mas abusa da rede, para agredir e ofender. A jurisprudência já tem precedentes no sentido de que, no caso de serviços que possibilitam a livre divulgação de opiniões, é dever do fornecedor propiciar meios de registro dos usuários, coibindo o anonimato. Caso não o faça, assume os riscos dos danos causados a terceiros. Trata-se, aliás, de dever que decorre da vedação ao anonimato (Constituição Federal, art. 5º, IV) e do dever de informação e transparência do fornecedor de serviço (CDC, art. 6º, III). 
Se assentarmos que cabe ao provedor de conteúdo o dever de guarda dos dados de identificação dos usuários de modo a tentar minimizar os danos causados pelas ofensas praticadas pela internet, outro problema se põe: por quanto tempo estarão os provedores obrigados a armazenar tais dados? Tem-se entendido que o prazo é, na espécie, de três anos. O termo inicial da contagem do prazo é a data de cancelamento do serviço.
7.3 Responsabilidade dos provedores de pesquisa virtual pelos resultados das buscas
 O provedor de pesquisa, como o Google, por exemplo, indica páginas onde podemos encontrar resultados compatíveis com os termos que busca que digitamos. É uma espécie de provedor de conteúdo. Não hospeda, em princípio, nem gerencia as páginas virtuais que aparecem nos resultados das nossas buscas. 
As páginas encontradas pelos mecanismos de busca estão na internet. Podem ser acessadas por qualquer pessoa. Os dados, ainda quando ilícitos, são veiculados para quem desejar acessar. Por isso, ainda que os mecanismos de busca facilitem o acesso a determinados conteúdos, é certo que se tratam de páginas públicas e por isso aparecem nos resultados das pesquisas. Sob esse pano de fundo argumentativo, decidiu o STJ que “não se pode, sob o pretexto de dificultar a propagação de conteúdo ilícito ou ofensivo na web, reprimir o direito da coletividade à informação. Sopesados os direitos envolvidos e o risco potencial de violação de cada um deles, o fiel da balança deve pender para a garantia da liberdade de informação assegurada pelo art. 220, § 1º, da CF/88, sobretudo considerando que a Internet representa, hoje, importante veículo de comunicação social de massa”.
Ainda que seja tecnicamente viável a exclusão de determinados resultados da pesquisa virtual, trata-se, segundo o STJ, de medida legalmente impossível, porquanto ameaçaria o direito constitucional à informação. O conteúdo, ademais, poderia sempre circular na internet com outras denominações.
MARCO CIVIL DA INTERNET
	O Marco Civil da Internet, Lei nº 12.965/2014 estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. Reconhece, no art. 2º, que a disciplina do uso da internet tem como fundamento o respeito à liberdade de expressão, bem como os direitos humanos, o desenvolvimento da personalidade e o exercício da cidadania em meios digitais. São fundamentos ainda do uso da internet a pluralidade, a diversidade, a abertura e a colaboração,a livre-iniciativa, a livre-concorrência, a defesa do consumidor e a finalidade social da rede. Reconhece a lei, como não poderia deixar de ser, a escala mundial da internet.
Como lei dos nossos dias formados por normas fundamentalmente (não exclusivamente) principiológicas, o Marco Civil segue essa tendência, e prevê que a disciplina da internet no Brasil se baseia na liberdade de expressão, comunicação e manifestação do pensamento, na linha das garantias constitucionais. A privacidade também é protegida, bem como os dados pessoais. Preserva-se e garante-se a neutralidade de rede (ponto de intensa discussão durante os debates legislativos). Protege- se ainda a natureza participativa da rede (não poderia, dizemos nós, ser diferente) e contempla-se a possibilidade de responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades. Por certo, a previsão é puramente exemplificativa, e não exclui outros princípios, venham de fontes nacionais ou internacionais.
O Marco Civil tem por objetivo promover o direito de acesso à internet a todos (art. 4º). O acesso à internet é tido como essencial ao exercício da cidadania (art. 7º). Na interpretação da lei em questão deve-se levar em conta – além dos fundamentos, princípios e objetivos previstos – a natureza da internet, seus usos e costumes próprios, além de sua relevância na promoção, inclusive social e cultural, do ser humano (art. 6º).
Prevê-se ainda no art. 7º, dentre outros direitos, a inviolabilidade e sigilo do fluxo das comunicações pela internet (salvo por ordem judicial); a inviolabilidade e sigilo das comunicações privadas armazenadas (salvo por ordem judicial); e, no que pode interessar mais de perto à responsabilidade civil, prevê-se o não fornecimento a terceiros dos dados pessoais, inclusive registros de conexão, e de acesso a aplicações de internet, salvo mediante consentimento livre, expresso e informado ou nas hipóteses previstas em lei. Entre outros direitos assegurados no mesmo artigo está a aplicação das normas de proteção e defesa do consumidor nas relações de consumo realizadas na internet (XIII).
Os arts. 10 a 16 do Marco Civil cuidam da proteção da guarda dos registros de conexão e de acesso (e também da proteção aos registros), e não nos interessam diretamente neste livro. O art. 17 prevê que “ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei, a opção por não guardar os registros de acesso a aplicações de internet não implica responsabilidade sobre danos decorrentes do uso desses serviços por terceiros”.
O art. 19 do Marco Civil estatui: “Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário.”
Há, no Marco Civil da Internet, uma hipótese de responsabilidade civil subsidiária do provedor de aplicações. Ele será responsabilizado de modo subsidiário quando disponibilizar conteúdo gerado por terceiro e nessa disponibilização houver violação da intimidade decorrente da divulgação, por exemplo, sem autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado. Porém, ainda nesse caso, apenas quando o provedor na linha do que vinha sinalizando a jurisprudência brasileira, após o recebimento de notificação pelo participante ou seu representante legal, deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo (art. 21).
CONCLUSÃO
Conclui-se que o ritmo em que a informática evolui é surpreendentemente superior ao ritmo em que evolui a atividade legislativa, não bastará lamentar a dificuldade de solucionar casos concretos. A informática foi criada a partir da cibernética, em cima da noção do sistema de princípios e regras. Da mesma forma, deverá ser exercitada a noção de sistema jurídico, dando prioridade aos princípios em relação às regras. O funcionamento da grande rede, uma vez que recusa um controle hierárquico, faz apelo à responsabilidade dos produtores de material e dos usuários das informações lá disponíveis. Deve-se compreender que a rede é, acima de tudo, um instrumento de comunicação entre pessoas, com o qual os internautas podem aprender o que quiserem.
Após tantas mudanças tecnológicas, nota-se uma irregularidade entre a legislação atual e as evoluções tecnológicas. Sob o ponto de vista técnico, a Internet é uma grande rede que liga um elevado número de computadores em todo o planeta por meio de cabos, satélite ou redes telefônicas.
O Direito não pode ficar alheio à silenciosa revolução que acontece. Deve conseguir ponderar, filtrar e equacionar o avanço da Internet com a necessidade de obter algum controle sob o crescente volume de informações que trafegam a todo instante pelo mundo, atentando-se para a preservação de direitos fundamentais como a privacidade, a liberdade da informação e os autorais, sem afrontar o Estado de Direito.
REFERÊNCIAS
Farias, Cristiano Chaves de. Curso de direito civil: responsabilidade civil, volume 3/ Cristiano Chaves de Farias; Nelson Rosenvald; Felipe Peixoto Braga Netto. 2. ed. rev., ampl. e atual. – São Paulo: Atlas, 2015.
http://ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14257 – Cardoso,Emerson Ferreira Cardoso. Almeida, Juliana Evangelista de. 
http://rafaeldemenezes.adv.br/artigo/Responsabilidade-Civil-na-internet-e-Cybercrimes/31 - Rafael José de Menezes, maio de 2003.

Outros materiais