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SLIDE DIREITO CIVIL II IVANESIO

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FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DE ITABUNA – FTC
Curso: DIREITO
Disciplina: Direito Civil II
Professor: Paulo Sérgio dos Santos Bomfim (apud Prof. Rafael de Menezes)
DIREITO CIVIL II – TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES – FTC
Neste semestre começa a ser estudada a parte especial do Direito Civil, esta que 
é a mais extensa disciplina do curso de Direito, com sete períodos, um da parte geral, já 
visto, e seis da parte especial. Além de disciplina mais extensa e mais importante do 
curso, o Direito Civil hoje predomina sozinho no Direito Privado. Vocês sabem que as 
normas jurídicas têm duas grandes divisões conforme estudado na Teoria Geral do 
Direito: o Direito Público e o Direito Privado. É Direito Público o Direito 
Constitucional, Administrativo, Processual, Penal e Tributário. Já o Direito Civil, 
Comercial e do Trabalho integram o Direito Privado, mas só o Direito Civil é privado 
por excelência. Isto porque o Direito Comercial tem se aproximado do Direito Público 
neste séc. XXI de mundo globalizado e mercados internacionais como a União 
Européia, o Mercosul – Mercado Comum do Sul, a Nafta da América do Norte, a Alca 
– Área de Livre Comércio das Américas, etc. Cada vez mais as nações participam e se 
integram em blocos econômicos, aproximando o Direito Comercial do Direito Público. 
Igualmente o Direito do Trabalho, um filho do Direito Civil, aproxima-se do Direito 
Público na medida em que o Estado interfere nas relações empregatícias para proteger e 
tornar indisponíveis direitos dos trabalhadores. Tenho um artigo no meu site chamado 
“A importância do Direito Privado apesar da publicização do Direito” onde afirmo 
inclusive que o Direito do Trabalho é Direito Público, confiram! A publicização é 
justamente este avanço do Direito Público sobre o Direito Privado, com o Estado 
sufocando nossas atividades, atrofiando a economia, controlando nossa rotina, 
cobrando multas e impostos, porém fornecendo pouco em troca... O que vocês acham? 
Bem, voltando ao cível, hoje vocês começam o estudo da parte especial do 
Direito Civil, e durante seis semestres serão estudados os quatro grandes temas cíveis: 
obrigações, reais, família e sucessões. No Direito das Obrigações vocês vão conhecer 
as normas que tratam das relações das pessoas entre si, é por isso que o Direito das 
Obrigações é também conhecido como Direito Pessoal. As obrigações entre as pessoas 
se originam de vários modos, especialmente do contrato.
Já no Direito Real serão estudadas as normas que tratam das relações das pessoas 
com os bens, sendo também chamado de Direito das Coisas. Existem vários direitos 
reais (art. 1.225) e o principal deles é a propriedade. 
Então ao longo da nossa vida, eu, vocês, João, José e Maria nos relacionamos 
com várias pessoas, através dos contratos, e nos apropriamos de vários bens, 
adquirindo propriedade, para a formação de um patrimônio. Este é o sentido da vida: 
estudar e trabalhar para ficar rico! O Direito Civil é o direito dos ricos! Perdoem-me os 
espiritualistas, mas dinheiro é muito importante na nossa vida, especialmente na nossa 
velhice quando estamos mais vulneráveis. Pois bem, todo esse patrimônio que nós 
1
juntamos na nossa vida será transferido a nossos herdeiros após nossa morte. Desta 
transmissão de bens cuida o Direito das Sucessões. 
O Direito das Obrigações, o Direito das Coisas e o Direito das Sucessões 
integram a chamada autonomia privada, ou seja, é o campo do Direito Civil onde os 
particulares se relacionam entre si, com grande liberdade, na celebração de contratos e 
na apropriação de bens que lhes interessam, para a formação de um patrimônio que será 
transferido aos familiares após a morte. Se no Direito Público só se pode fazer o que a 
lei permite, no Direito Civil pode-se fazer tudo o que a lei não proíbe, ou seja, a 
liberdade aqui é bem maior. 
Dos quatro ramos do Direito Civil, só o Direito de Família sobra deste 
raciocínio. Sem dúvida o Direito de Família pertence ao Direito Civil, afinal trata das 
relações entre familiares, e nada é tão íntimo e privado quanto a família de cada um de 
nós. Além disso, tais familiares, via de regra, são os herdeiros do patrimônio adquirido 
na nossa vida. Mas no Direito de Família as questões econômicas não predominam 
tanto quanto no resto do Direito Civil, afinal o que alimenta a família é o amor, é a 
sensibilidade, é a amizade e não o dinheiro. Em suma, o Direito de Família integra o 
Direito Civil, mas não integra a autonomia privada. 
Concentrando-nos no Direito das Obrigações, objeto dos próximos dois 
semestres, podemos conceituá-lo como a disciplina que trata das relações harmônicas 
entre as pessoas para a satisfação dos seus interesses individuais. Digo “relações 
harmônicas” porque a sociedade exige harmonia, sob pena de conflito e caos social. 
Digo “satisfação de interesses” porque uma pessoa não consegue produzir sozinha tudo 
que precisa para viver, e por impulso precisa se relacionar com outra para obter bens de 
seu interesse. As relações obrigacionais acontecem a todo instante e são o suporte 
econômico da sociedade moderna de consumo, especialmente através do contrato de 
compra e venda. 
Quanto mais a gente compra, aluga, troca, empresta, etc., mais dinheiro circula 
na economia, mais as lojas vendem, mais as fábricas produzem, mais os empresários 
lucram, mais empregos são gerados e mais impostos são arrecadados.Todos ganham! 
Mas para gastar é preciso ter dinheiro, e para isso é preciso trabalhar, e para isso é 
preciso estudar. Estudem pois! 
OBRIGAÇÃO
 Na primeira aula conceituamos o Direito das Obrigações e o situamos dentro do 
Direito Civil, bem como situamos o Direito Civil dentro do ordenamento jurídico. 
Vamos hoje tratar da obrigação. 
 Conceito:
Todos temos obrigações na nossa vida, seja para com o país (ex: serviço militar, 
votar nas eleições, pagar impostos) seja para com a família (1.566). Mas a obrigação 
que nos interessa neste curso é a obrigação civil. Num conceito mais simples, a 
obrigação é o direito do credor contra o devedor. Num conceito mais completo, a 
2
obrigação é um vínculo jurídico transitório em virtude do qual uma pessoa fica sujeita a 
satisfazer uma prestação econômica em proveito de outra. Expliquemos:
 - vínculo jurídico: o vínculo é o motor da obrigação e precisa interessar ao 
Direito; um vínculo apenas moral (ex: ser educado, ser gentil, dar “bom dia”) ou 
religioso (ex: ir a missa todo Domingo) não tem relevância jurídica;
 - transitório: a obrigação é efêmera, tem vida curta (ex: uma compra e venda de 
balcão dura segundos), podendo até ser duradoura (ex: alugar uma casa por um ano), 
mas não dura para sempre. Inclusive um direito de crédito se extingue quando é 
exercido (ex: José bate no carro de Maria, quando Maria cobra o prejuízo e José paga, a 
obrigação se extingue). Já os Direitos Reais são permanentes, e quanto mais exercidos 
mais se fortalecem (ex: a propriedade sobre uma fazenda passa por gerações de pai para 
filho, e quanto mais a fazenda for usada mais cumprirá sua função social, ficando livre 
de invasões e desapropriação). Há outras diferenças dos Direitos Reais para os Direitos 
Obrigacionais que serão abordadas em Civil 4. 
 - prestação: é o objeto da obrigação e se trata de uma conduta ou omissão 
humana, ou seja, sempre é dar uma coisa, fazer um serviço ou se abster de alguma 
conduta. Dar, fazer e não-fazer, estas três são as espécies de obrigação, voltaremos a 
elas abaixo.
- econômica: toda obrigação precisa ter um valor econômico para viabilizar a 
responsabilidade patrimonial do inadimplente se não for espontaneamentecumprida. 
Em outras palavras, se uma dívida não for paga no vencimento o credor mune-se de 
uma pretensão e a dívida se transforma em responsabilidade patrimonial. Que pretensão 
é esta de que se arma, de que se mune o credor? É a pretensão a executar o devedor 
para atacar/tomar seus bens através do Juiz (391, 942). E se o devedor/inadimplente 
não tiver bens? Então não há nada a fazer pois, como dito, a responsabilidade é 
patrimonial e não pessoal. Ao credor só resta espernear, é o chamado na brincadeira 
“jus sperniandi”. Realmente já se foi o tempo em que o devedor poderia ser preso, 
escravizado, esquartejado e morto por dívidas, pois isto hoje atenta contra a dignidade 
humana. Os únicos casos atuais de prisão por dívida são no contrato de depósito, que 
veremos em Civil 3 (652), e na pensão alimentícia, assunto de Direito de Família. 
 Elementos da obrigação: são três:
 a) duplo sujeito: o Direito das Obrigações trata das relações entre pessoas, então 
toda obrigação tem dois sujeitos, um ativo, chamado credor, e um passivo, chamado 
devedor. Não existe relação obrigacional com apenas um sujeito (381). Pode haver num 
dos pólos mais de um credor e mais de um devedor (257). Numa relação simples, sabe-
se exatamente qual das partes é a credora e qual é a devedora (ex: José bate no carro de 
Maria, então José é devedor e Maria é credora), mas numa relação complexa ambos os 
sujeitos são simultaneamente credores e devedores (ex: contrato de compra e venda, 
onde o comprador deve o dinheiro e é credor da coisa, e o vendedor deve a coisa e é 
credor do dinheiro). Tais obrigações complexas são também chamadas de 
sinalagmáticas. Os sujeitos precisam ser bem identificados para que o devedor saiba a 
quem prestar, e o credor saiba de quem receber. Excepcionalmente o devedor pode ser 
3
desconhecido (ex: qualquer pessoa que adquira imóvel hipotecado responde pela 
dívida, apesar de não ter originariamente assumido a obrigação; 303, mais detalhes em 
Civil 5) e o credor também pode ser desconhecido (ex: o credor faleceu ou 
desapareceu, deve então o devedor pagar na Justiça para se livrar da obrigação, 334; 
outro ex: 855). 
b) vínculo jurídico: o vínculo liga os sujeitos ao objeto da obrigação. O vínculo é 
a força motriz da relação obrigacional. O vínculo seria qualquer acontecimento 
relevante para o direito capaz de fazer nascer uma obrigação (ex: um acidente de 
trânsito gera um ato ilícito, um acordo de vontades produz um contrato, etc). 
c) objeto: atenção com o objeto! O objeto da obrigação não é uma coisa, mas um 
fato humano/uma conduta ou omissão do devedor chamada prestação. A prestação 
possui três espécies: dar, fazer, ou não-fazer. Na obrigação de dar o objeto da prestação 
é uma coisa (ex: dar dinheiro, dar uma TV), mas o objeto da obrigação é a ação de 
entregar a coisa, não a coisa em si. Na obrigação de fazer o objeto da prestação é um 
serviço (ex: o cantor realiza um show, o advogado redige uma petição, o professor 
ministra uma aula). Finalmente, na obrigação de não-fazer, o objeto da prestação é uma 
omissão/abstenção (ex: o químico da fábrica de perfume é demitido e se obriga a não 
revelar a fórmula do perfume). 
Como o objeto da obrigação é a prestação, mesmo na obrigação de dar o credor 
não tem poder sobre a coisa, mas sim sobre a prestação (ex: compro uma geladeira e a 
loja promete me entregar em casa, mas a loja não cumpre, não posso por isso invadir a 
loja e pegar a geladeira à força, devo sim exigir perdas e danos, 389 – trata-se da 
responsabilidade patrimonial do devedor, como dito acima). 
As obrigações de dar e de fazer são positivas, e a de não-fazer é a chamada 
obrigação negativa. 
O objeto da obrigação para ser válido precisa ser lícito (ex: comprar drogas, 
contratar o serviço de um “pistoleiro”, etc), possível (ex: viagem no tempo, procurar 
um anel no mar, encontrar um dinossauro vivo), determinável (a coisa devida precisa 
ser identificada, 243) e ter valor econômico para viabilizar o ataque ao patrimônio do 
devedor em caso de inadimplemento (947). Acrescentem “valor econômico” ao art. 
104, II, do CC. 
FONTES DAS OBRIGAÇÕES
 O Direito se origina dos fatos = ex facto iur oritur. As fontes do Direito são a 
lei, a jurisprudência, a doutrina e os costumes, conforme estudado em Introdução ao 
Direito. No caso das obrigações, quais suas fontes? De onde se originam as obrigações? 
Ressalto que há muitas obrigações que interessam a outras áreas jurídicas e que têm por 
fonte a lei, ex: obrigação de alimentar os parentes necessitados, assunto de Direito de 
Família (1.696); obrigação de votar, assunto de Direito Eleitoral; obrigação de pagar 
impostos, assunto de Direito Tributário; obrigação dos homens de prestar serviço 
militar, etc.
4
Mas e as obrigações patrimoniais privadas? Como surgem as relações concretas 
entre particulares tendo por objeto determinada prestação? São três as fontes segundo o 
Código Civil, vejamos: 
 1 – Contratos: esta é a principal e maior fonte de obrigação. Através dos 
contratos as partes assumem obrigações (ex: compra e venda, onde o comprador se 
obriga a pagar o preço e o vendedor se obriga a entregar a coisa). No próximo semestre 
serão estudados com detalhes os inúmeros contratos (ex: locação, doação, empréstimo, 
seguro, transporte, mandato, fiança, etc). 
 2 – Atos unilaterais: segundo nosso Código, são os quatro capítulos entre os 
arts. 854 e 886, com destaque para a promessa de recompensa (ex: perdi meu cachorro 
e pago cem a quem encontrá-lo, obrigando-me perante qualquer pessoa que cumpra a 
tarefa). Não temos aqui um contrato, mas um ato unilateral gerador de obrigação, 
como será visto no próximo semestre. 
 3 – Atos ilícitos: já estudados no semestre passado, revisem o art. 186 (ex: João 
bate no carro de Maria e se obriga a reparar os prejuízos). O estudo dos atos ilícitos 
deve ser aprofundado na importante disciplina Responsabilidade Civil (927). 
ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO
 São três, duas positivas (dar e fazer) e uma negativa (obrigação de não-fazer).
 1 – obrigação de dar: conduta humana que tem por objeto uma coisa, 
subdividindo-se em três: obrigação de dar coisa certa, obrigação de restituir e obrigação 
de dar coisa incerta.
 1.1 – obrigação de dar coisa certa: vínculo jurídico pelo qual o devedor se 
compromete a entregar ao credor determinado bem móvel ou imóvel, perfeitamente 
individualizado. 
Tal obrigação é regulada pelo Código Civil a partir do art. 233, salvo acordo 
entre as partes, ou seja, se as partes não ajustarem de modo diferente, vão prevalecer as 
disposições legais. Na autonomia privada, como dito na aula 1, a liberdade das partes é 
grande, e o Código Civil serve mais para completar a vontade das partes caso haja 
omissão no ajuste entre elas. Diz-se por isso que a maioria das normas de direito 
privado são supletivas, enquanto a maioria das normas de direito público são 
imperativas = obrigatórias. 
 O que vai caracterizar a obrigação de dar coisa certa é porque o objeto da 
prestação é coisa única e preciosa, ex: a raquete de Guga, o capacete de Ayrton Senna, 
a camisa dez de Pelé, etc. (235). O devedor obrigado a dar coisa certa não pode dar 
coisa diferente, ainda que mais valiosa, salvo acordo com o credor (313 – mais uma 
norma supletiva). 
 Se o devedor recebe o preço e se recusa a entregar a coisa, o credor não pode 
tomá-la, resolvendo-se o litígio em perdas e danos (389). A obrigação não geral direito 
5
real ( = sobre a coisa), mas apenas direito pessoal ( = sobre a conduta). 
Excepcionalmente, admite-se efeito realcaso a coisa continue na posse do devedor 
(ex: A combina vender a B o capacete de Ayrton Senna, B paga mas depois A recebe 
uma oferta melhor e termina vendendo o capacete a C; B não pode tomar o capacete de 
C, mas caso estivesse ainda com A poderia fazê-lo através do Juiz; esta é a 
interpretação do art. 475 do CC que vocês estudarão em Civil 3). Então o 389 é a regra 
e o 475 (execução forçada do contrato) é a exceção. 
 E se a obrigação não gera direito real, o que vai gerar? Resposta: a tradição para 
as coisas móveis e o registro para as coisas imóveis. Tradição e registro são assuntos de 
Direitos Reais mas que já devo adiantar. Tradição é a entrega efetiva da coisa móvel 
(1226 e 1267), então quando compro uma geladeira, pago a vista e aguardo em casa sua 
chegada, só serei dono da coisa quando recebê-la. Ao contrário, se compro um celular a 
prazo e saio com ele da loja, o aparelho já será meu embora não tenha pago o preço 
(237). Eventual perda/roubo da geladeira/celular trará prejuízo para o dono, seja ele a 
loja ou o consumidor, a depender do momento da tradição. É a confirmação do 
brocardo romano res perit domino (= a coisa perece para o dono), seja o comprador ou 
o vendedor, até a tradição (492). Se o devedor danificar a coisa antes da tradição, terá 
que indenizar o comprador por perdas e danos (239). 
Por sua vez, o registro é a inscrição da propriedade imobiliária no Cartório de 
Imóveis, de modo que o dono do apartamento não é quem mora nele, não é quem 
pagou o preço ou quem tem as chaves. O dono da coisa imóvel é aquele cujo nome está 
registrado no Cartório de Imóveis (1245 e § 1º). Mais detalhes sobre tradição e registro 
em Civil 4. 
1.2 – obrigação de restituir: é também chamada de obrigação de devolver. Difere 
da obrigação de dar, pois nesta a coisa pertence ao devedor até a tradição, enquanto na 
obrigação de restituir a coisa pertence ao credor, apenas sua posse é que foi transferida 
ao devedor. Posse e propriedade são conceitos que serão estudados em Direitos Reais, 
mas dá para entender que quando se aluga um filme, a locadora continua sendo 
proprietária do filme, é apenas a posse que se transfere ao cliente. Então na locação o 
cliente/devedor tem a obrigação de restituir o bem ao locador após o prazo acertado 
(569, IV). Como se vê, na obrigação de restituir a prestação consiste em devolver uma 
coisa cuja propriedade já era do credor antes do surgimento da obrigação. Igualmente 
se eu empresto um carro a meu vizinho, eu continuo dono/proprietário do carro, apenas 
a posse é que é transferida, ficando o vizinho com a obrigação de devolver o veículo 
após o uso. Locação e empréstimo são exemplos de obrigação de restituir, ficando a 
coisa em poder do devedor, mas mantendo o credor direito real de propriedade sobre 
ela. Como a coisa é do credor, seu extravio antes da devolução trará prejuízo ao 
próprio credor (240), enquanto na obrigação de dar o extravio antes da tradição traz 
prejuízo ao devedor. Em ambos os casos, sempre prevalece a máxima res perit domino. 
Mas é preciso cuidado para evitar fraudes (238, ex: alugo um carro que depois é 
furtado, o prejuízo será da loja, por isso é prudente a locadora sempre fazer seguro). 
 Outro exemplo de obrigação de restituir está no art. 1.233, então se “achado não é 
roubado”, também não pode ser apropriado, devendo quem encontrar agir conforme o 
p.ú. do mesmo artigo. 
6
ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO (continuação)
1 – obrigação de dar
1.1 – obrigação de dar coisa certa
1.2 – obrigação de restituir (já vistas na aula passada)
1.3 – obrigação de dar coisa incerta: nesta espécie de obrigação a coisa não é única, 
singular, exclusiva e preciosa como na obrigação de dar coisa certa, mas sim é uma 
coisa genérica determinável pelo gênero e pela quantidade (243). Ao invés de uma 
coisa determinada/certa, temos aqui uma coisa determinável/incerta (ex: cem sacos de 
café; dez cabeças de gado, um carro popular, etc). Tal coisa incerta, indicada apenas 
pelo gênero e pela quantidade no início da relação obrigacional, vem a se tornar 
determinada por escolha no momento do pagamento. Ressalto que coisa “incerta” não é 
“qualquer coisa”, mas coisa sujeita a determinação futura. Então se João deve cem 
laranjas a José, estas frutas precisam ser escolhidas no momento do pagamento para 
serem entregues ao credor. 
Esta escolha chama-se juridicamente de concentração. Conceito: processo de 
escolha da coisa devida, de média qualidade, feita via de regra pelo devedor (244). A 
concentração implica também em separação, pesagem, medição, contagem e expedição 
da coisa, conforme o caso. As partes podem combinar que a escolha será feita pelo 
credor, ou por um terceiro, tratando-se este artigo 244 de uma norma supletiva, que 
apenas completa a vontade das partes em caso de omissão no contrato entre elas. 
Após a concentração a coisa incerta se torna certa (245). Antes da concentração a 
coisa devida não se perde pois genus nunquam perit (o gênero nunca perece). Se João 
deve cem laranjas a José não pode deixar de cumprir a obrigação alegando que as 
laranjas se estragaram, pois cem laranjas são cem laranjas, e se a plantação de João se 
perdeu ele pode comprar as frutas em outra fazenda (246). 
Todavia, após a concentração, caso as laranjas se percam (ex: incêndio no 
armazém) a obrigação se extingue, voltando as partes ao estado anterior, devolvendo-se 
eventual preço pago, sem se exigir perdas e danos (234, 389, 402). Pela importância da 
concentração, o credor deve ser cientificado quando o devedor for realizá-la, até para 
que o credor fiscalize a qualidade média da coisa a ser escolhida. 
 
OBRIGAÇÃO DE FAZER
Obrigação de fazer: conduta humana que tem por objeto um serviço. 
Conceito: espécie de obrigação positiva pela qual o devedor se compromete a 
praticar algum serviço lícito em benefício do credor. Enquanto na obrigação de dar 
o objeto da prestação é uma coisa, na obrigação de fazer o objeto da prestação é um 
serviço (ex: professor ministrar uma aula, advogado redigir uma petição, cantor 
fazer um show, pedreiro construir um muro, médico realizar uma consulta, etc.). E 
7
se eu quero comprar um quadro e encomendo a um artista, a obrigação será de fazer 
ou de dar? Se o quadro já estiver pronto a obrigação será de dar, se ainda for 
confeccionar o quadro a obrigação será de fazer. 
 A obrigação de fazer tem duas espécies:
 2.1 – fungível: quando o serviço puder ser prestado por uma terceira pessoa, 
diferente do devedor, ou seja, quando o devedor for facilmente substituível, sem 
prejuízo para o credor, a obrigação é fungível (ex: pedreiro, eletricista, mecânico, 
caso não possam fazer o serviço e mandem um substituto, a princípio para o credor 
não há problema). As obrigações de dar são sempre fungíveis pois visam a uma 
coisa, não importa quem seja o devedor (304). 
 2.2 – infungível: ao credor só interessa que o devedor, pelas suas qualidades 
pessoais, faça o serviço (ex: médico e advogado são profissionais de estrita 
confiança dos pacientes e clientes). Chama-se esta espécie de obrigação de 
personalíssima ou intuitu personae ( = em razão da pessoa). São as circunstâncias 
do caso e a vontade do credor que tornarão a obrigação de fazer fungível ou não. 
 Em caso de inexecução da obrigação de fazer o credor só pode exigir perdas 
e danos (247). Viola a dignidade humana constranger o devedor a fazer o serviço 
por ordem judicial, de modo que na obrigação de fazer não se pode exigir a 
execução forçada como na obrigação de dar coisa certa (art. 475 – sublinhem exigir-
lhe o cumprimento). Imaginem um cantor se recusar a subir no palco,não é razoável 
o Juiz mandar a polícia para forçá-lo a trabalhar “manu militari”, o coerente é o 
credor do show exigir perdas e danos (389). Ninguém pode ser diretamente coagido 
a praticar o ato a que se obrigara. Assim, a execução “in natura” do art. 475 do CC 
deve ser substituída por perdas e danos quando for impossível (ex: a coisa devida 
não está mais com o devedor) ou quando causar constrangimento físico ao devedor 
(ex: obrigação de fazer). 
 Se ocorrer recusa do devedor de executar obrigação fungível, o credor pode 
pedir a um terceiro para fazer o serviço, às custas do devedor (249). Havendo 
urgência, o credor pode agir sem ordem judicial, num autêntico caso de realização 
de Justiça pelas próprias mãos (pú do 249, ex: consertar o telhado de casa 
ameaçando cair). 
 Mas se tal recusa decorre de um caso fortuito (ex: o cantor gripou e perdeu a 
voz), extingue-se a obrigação (248). 
OBRIGAÇÃO DE NÃO-FAZER
3 – Obrigação de não-fazer: trata-se de uma obrigação negativa cujo objeto da 
prestação é uma omissão ou abstenção. Os romanos chamavam de obrigação ad non 
faciendum. Conceito: vínculo jurídico pelo qual o devedor se compromete a se 
abster de fazer certo ato, que poderia livremente praticar, se não tivesse se obrigado 
em benefício do credor. O devedor vai ter que sofrer, tolerar ou se abster de algum 
8
ato em benefício do credor. Exemplos: o engenheiro químico que se obriga a não 
revelar a fórmula do perfume da fábrica onde trabalha; o condômino que se obriga a 
não criar cachorro no apartamento onde reside; o professor que se obriga a não dar 
aula em outra faculdade; o comerciante que se obriga a não fazer concorrência a 
outro, etc. Pode haver limite temporal para a obrigação (1.147). 
 Como na autonomia privada a liberdade é grande, as obrigações negativas 
podem ser bem variadas, mas obrigações imorais e anti-sociais, ou que sacrifiquem 
a liberdade das pessoas, são proibidas, ex: obrigação de não se casar, de não 
trabalhar, de não ter religião, etc. Tudo é uma questão de bom senso, ou de 
razoabilidade. Gosto muito da expressão “razoável”, é uma expressão muito ligada 
ao Direito, inclusive tem um artigo no site sobre a razoabilidade na aplicação da lei, 
confiram! 
 A violação da obrigação negativa se resolve em perdas e danos, então se o 
engenheiro divulgar a fórmula do perfume terá que indenizar a fábrica. Mas se for 
viável, o credor poderá exigir o desfazimento pelo devedor (ex: José se obriga a não 
subir o muro para não tirar a ventilação do seu vizinho João, caso José aumente o 
muro, João poderá exigir a demolição, 251). No caso do perfume não há como 
desfazer a revelação do segredo, então uma indenização por perdas e danos é a 
solução (389). 
 Neste exemplo do muro, se José se mudar, o novo morador terá que respeitar 
a obrigação? Não, pois quem celebrou o contrato não foi ele. Mas se João, ao invés 
de um simples contrato de obrigação negativa, fizer com José uma servidão predial, 
todos os futuros proprietários da casa não poderão aumentar o muro (1.378). 
Servidão predial é assunto de Civil 5, e por se tratar de um direito real, já se percebe 
sua maior força em relação a um direito obrigacional. Enquanto uma obrigação 
vincula pessoas (João a José), uma servidão predial vincula uma pessoa a uma coisa, 
então a segurança para o credor é bem maior. Mais detalhes em Civil 5 (vide no site 
aulas 8 e 9 de Direitos Reais na Coisa Alheia). 
 Ainda tratando do exemplo do muro, e se a Prefeitura obrigar José a 
aumentar o muro por uma questão de estética ou urbanismo? José terá que obedecer 
e João nada poderá fazer, pois o Direito Público predomina sobre o Direito Privado 
(250 – é o chamado “Fato do Príncipe”, em alusão aos monarcas que governavam os 
países na Europa medieval). 
CLASSIFICAÇÃO ou MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES
 Vistas as espécies, vamos passar as próximas aulas tratando das modalidades 
de obrigações. São várias modalidades, mas que sempre irão corresponder a uma 
das três espécies de dar, fazer ou não-fazer. A primeira modalidade é:
 
9
1 – Obrigação Natural: a obrigação civil produz todos os efeitos jurídicos, 
mas a obrigação natural não, pois corresponde a uma obrigação moral. Há autores 
que a chamam de obrigação degenerada. São exemplos: obrigação de dar gorjeta, 
obrigação de pagar dívida prescrita (205), obrigação de pagar dívida de jogo (814), 
etc. 
 A obrigação natural não pode ser exigida pelo credor, e o devedor só vai 
pagar se quiser, bem diferente da obrigação civil. Vocês sabem que se uma dívida 
não for paga no vencimento o direito do credor mune-se de uma pretensão, e a 
dívida se transforma em responsabilidade patrimonial. Mas tratando-se de obrigação 
natural, o credor não terá a pretensão para executar o devedor e tomar seus bens 
(189). A dívida natural existe, mas não pode ser judicialmente cobrada, não podendo 
o credor recorrer à Justiça. 
 Conceito: obrigação natural é aquela a cuja execução não pode o devedor ser 
constrangido, mas cujo cumprimento voluntário é pagamento verdadeiro. 
 Por que a obrigação natural interessa ao Direito se corresponde a uma 
obrigação moral? Porque a obrigação natural, mesmo sendo moral, possui um efeito 
jurídico: soluti retentio ou retenção do pagamento. 
 Mesmo tratando-se de uma obrigação moral, o pagamento de obrigação 
natural é pagamento verdadeiro e o credor pode retê-lo. Então se João paga dívida 
prescrita e depois se arrepende não pode pedir o dinheiro de volta, pois o credor 
tem direito à retenção do pagamento (882). Como diz a doutrina, “a obrigação 
natural não se afirma senão quando morre”, ou seja, é com o pagamento e sua 
extinção que a obrigação natural vai existir para o direito, ensejando ao credor a 
soluti retentio. 
 Mas não se confunda obrigação natural com obrigação inexistente: se João 
paga dívida inexistente o credor não pode ficar com o dinheiro, e João terá direito à 
repetitio indebiti ( = devolução do indébito; em direito “repetir” significa 
“devolver”, e “indébito” é o que não é devido). Então quem efetua pagamento 
indevido pode exigir a devolução do dinheiro ( = repetitio indebiti) para que outrem 
não enriqueça sem motivo. O credor de obrigação natural tem direito à soluti 
retentio, mas quem recebe dívida inexistente não (ex: pago a meu credor João da 
Silva, mas por engano faço o depósito na conta de outro João da Silva, que terá que 
devolver o dinheiro, 876). Na obrigação natural não cabe a repetitio indebiti, pois o 
credor dispõe da soluti retentio. Falaremos mais de enriquecimento sem causa e 
pagamento indevido na aula 12. 
 Em suma, a obrigação natural não se cumpre por bondade ou liberalidade ou 
doação, mas por um dever moral, e a moral influencia o Direito, tanto que a lei lhe 
atribui o efeito jurídico da soluti retentio. 
 Falando de doação, vocês verão em Civil 3 que o donatário deve ser grato ao 
doador, então se João doa um carro a Maria, Maria lhe deve gratidão pelo resto da 
10
vida, não podendo agredi-lo ou ofendê-lo sob pena de perder a doação (557). Mas se 
por trás dessa doação existe uma obrigação natural, tal doação não se revoga por 
ingratidão (564, III; ex: João deve dinheiro a Maria mas a dívida prescreveu, porém 
mesmo assim João resolveu pagar e doou uma jóia a Maria; pois bem, caso Maria 
venha no futuro a agredir João, tal doação não se extinguirá já que não foi feita por 
liberalidade, mas sim em cumprimento de obrigação natural). 
 Finalizando, gostaria de transcrever a valiosa opinião de Washingtonde 
Barros Monteiro sobre a raridade da obrigação natural e a absurda proteção que a lei 
dá ao devedor no nosso ordenamento:
 - numa época em que a noção do prazo tende a desaparecer, substituída 
pelo espírito de moratória e pela esperança da revisão; em que o devedor conhece 
a arte de não pagar as dívidas e em que aquele que paga com exatidão no dia 
devido não passa de um ingênuo, que não tem direito a nada; em que as leis se 
enchem de piedade pelos devedores e em que as vias judiciárias se mostram 
imprescindíveis como imposição ao devedor civil, aparece como verdadeiro 
anacronismo a obrigação natural, suscetível de pagamento voluntário, apesar de 
desprovida de ação (vide Direito das Obrigações, 1ª parte, Ed. Saraiva, 32ª edição, 
pág. 215). 
CLASSIFICAÇÃO ou MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES
 
1 – Obrigação Natural (já vista)
 
2 – Obrigação Alternativa
 
A obrigação simples só possui um objeto, mas a obrigação alternativa tem por 
objeto duas ou mais prestações, mas apenas uma será cumprida como pagamento. É 
muito comum na prática, até para facilitar e estimular os negócios (ex: vendo esta 
casa por vinte mil ou troco por terreno na praia; outro ex: um artista bate no seu 
carro e se compromete a fazer um show na sua casa ou a pagar o conserto; mais um 
ex: o comerciante que se obriga com outro a não lhe fazer concorrência, ou então a 
lhe pagar certa quantia; exemplo da lei: art. 1701, outro exemplo da lei, art 442). 
 Características da obrigação alternativa: 
a) nasce com objeto composto, ou seja, duas ou mais possibilidades de 
prestação;
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b) o adimplemento de qualquer das prestações resulta no cumprimento da 
obrigação, o que aumenta a chance de satisfação do credor, sem ter que se 
partir para as perdas e danos, caso qualquer das prestações venha a 
perecer. Como o credor aceitou mais de uma prestação como pagamento, 
qualquer delas vai satisfazer o credor (253 e 256); a exoneração do 
devedor se dá mediante a realização de uma única prestação. 
c) o devedor pode optar por qualquer das prestações, cabendo o direito de 
escolha, de regra, ao próprio devedor (252); mas o contrato pode prever 
que a escolha será feita pelo credor, por um terceiro, ou por sorteio (817); 
essa escolha chama-se de concentração, semelhante a da obrigação de dar 
coisa incerta; ressalto todavia que não se confunde a obrigação alternativa 
com a de dar coisa incerta; nesta o objeto é único, embora indeterminado 
até a concentração; já na obrigação alternativa há pelo menos dois objetos; 
d) se o devedor, ignorando que a obrigação era alternativa, fizer o 
pagamento, pode repeti-lo para exercer a opção. É um caso raro de 
retratação da concentração, e cabe ao devedor a prova de que não sabia da 
possibilidade de escolha (877). 
e) nas obrigações periódicas admite-se o jus variandi, ou seja, pode-se 
mudar a opção a cada período (§ 2o do art. 252). A doutrina critica essa 
mudança de prestação porque gera instabilidade para o credor.
 
3 - Obrigação Facultativa 
 É parecida, é uma prima pobre, mas não se confunde com a obrigação 
alternativa. É também muito rara, tanto que nosso Código não reservou para ela um 
capítulo próprio. Sua fonte está mais na lei do que no contrato, conforme exemplos 
que veremos abaixo. Ou seja, há casos específicos na lei que contemplam 
obrigações facultativas, porque as partes dificilmente contratam prevendo uma 
obrigação facultativa. 
 Conceito: é aquela cujo objeto da prestação é único, mas confere ao devedor 
o direito excepcional de substitui-lo por outro. 
Exemplo: art. 1234, assunto de Civil 4, então quem encontra coisa perdida 
deve restitui-la ao dono, e o dono fica obrigado a recompensar quem encontrou; mas 
o dono pode, ao invés de pagar a recompensa, abandonar a coisa, e aí quem 
encontrou poderá ficar com ela; pagar a recompensa é a prestação principal do 
devedor, já abandonar a coisa é prestação acessória do seu dono. O abandono da 
coisa não é obrigação, mas faculdade do seu dono. Ao invés de pagar a 
recompensa, tem o devedor a faculdade de dar a coisa ao credor. 
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Outro exemplo: art. 1382, assunto de Civil 5, então imaginem que da Fazenda 
A sai um aqueduto para a Fazenda B, levando água, com a obrigação, ajustada em 
contrato, de que o dono da Fazenda A deverá conservar a obra. Pois bem, ao invés 
de manter o aqueduto, tem o dono da Fazenda A a obrigação facultativa de 
abandonar suas terras para o dono da Fazenda B. Ao invés de conservar o aqueduto, 
o devedor tem a faculdade de abandonar suas terras, dando-as ao vizinho. 
Ao nascer a obrigação o objeto é único, mas para facilitar o pagamento, o 
devedor tem a excepcional faculdade de se liberar mediante prestação diferente. É 
vantajosa assim para o devedor. 
Na obrigação facultativa, ao contrário da alternativa, o credor nunca tem a 
opção e só pode exigir a prestação principal, pois a prestação devida é única e só o 
devedor pode optar pela prestação facultativa. 
Ressalto que a impossibilidade de cumprimento da prestação principal 
extingue a obrigação, resolvendo-se em perdas e danos, não se aplicando o art. 253, 
pois, como já dito, a prestação acessória não é obrigação, mas faculdade do devedor. 
Então quem encontrar coisa perdida e não receber a recompensa, não poderá exigir 
o abandono da coisa, mas sim deverá processar o devedor pelo valor da 
recompensa. 
Classificação ou modalidades de obrigações (continuação)
 
4 – Obrigação divisível e indivisível 
Em geral, numa obrigação existe apenas um credor e um devedor. Mas caso 
existam na mesma relação vários devedores ou vários credores, o razoável é que 
cada devedor pague apenas parte da dívida, e que cada credor tenha direito apenas a 
parte da prestação. Essa regra sofre exceção nos casos de indivisibilidade, que 
veremos hoje, e de solidariedade, na próxima aula. Tanto na indivisibilidade como 
na solidariedade, embora concorram várias pessoas, cada credor pode reclamar a 
prestação por inteiro, e cada devedor responde também pelo todo (259 e 264). 
Comecemos pela divisibilidade e indivisibilidade: 
 Obrigação divisível é aquela cuja prestação pode ser parcialmente cumprida 
sem prejuízo de sua qualidade e de seu valor (ex: uma dívida de cem reais pode ser 
paga em duas metades; um curso de Direito Civil pode ser ministrado em várias 
aulas). Mas a depender do acordo entre as partes, o devedor deve pagar de uma vez 
só, mesmo que a prestação seja divisível (314). 
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Já na obrigação indivisível a prestação só pode ser cumprida por inteiro (ex: 
quem deve um cavalo não pode dar o animal em partes, 258; mas se tal cavalo 
perecer e a dívida se converter em pecúnia, deixa de ser indivisível, 263). 
 Como dito, a indivisibilidade vai despertar interesse prático quando houver 
mais de um credor ou mais de um devedor. 
- pluralidade de devedores: imaginem que um pai morre e deixa dívidas, seus 
filhos irão pagar estas dívidas dentro dos limites da herança recebida do pai (1792, 
1997). Então o credor do pai terá mais de um filho para cobrar esta dívida. Se a 
prestação for divisível, cada filho responde pela parte correspondente a sua herança, 
e a insolvência de um deles não aumentará a quota dos demais (257). Mas se a 
prestação for indivisível, cada filho responde pela dívida toda, e aquele que pagar ao 
credor, cobrará o quinhão correspondente de cada irmão (259 e pú – veremos sub-
rogação em breve). A relação obrigacional antes era do credor com os filhos do pai 
morto, agora é do irmão pagador contra os outros irmãos. 
 - e se a pluralidade for de credores? Sendo divisível a prestação, cada credor 
só pode exigirsua parte (257). Mas sendo indivisível aplica-se o 260, pelo que o 
devedor deverá pagar a todos os credores juntos, para que um não engane os outros. 
Ou então o devedor deverá pagar àquele credor que prestar uma garantia ( = caução) 
de que repassará o pagamento aos outros (ex: João deve um carro a três pessoas, 
mas não encontra os três para pagar, assim, para se livrar logo daquela obrigação, 
paga ao credor que ofereceu uma fiança; se este credor não repassar o carro aos 
demais credores, o fiador poderá ser processado pelos prejudicados; fiança é assunto 
de Civil 3). Se o devedor pagar sem as cautelas do art. 260, terá que pagar de novo 
àquele credor que, eventualmente, venha a ser lesado pelo credor que recebeu todo o 
pagamento, afinal quem paga mal paga duas vezes, concordam? Diz-se por isso que 
o pagamento integral da dívida a um só dos vários credores pode não desobrigar o 
devedor com relação aos demais concredores. Mas pagando o devedor corretamente, 
caberá aos credores buscar sua parte com o credor que recebeu tudo (261). 
Tratando-se de coisa indivisível (ex: carro, barco, casa), poderão os credores usar a 
coisa em condomínio, ou então vendê-la e dividir o dinheiro (1320). 
 Espécies de indivisibilidade: a) física: a prestação é indivisível pela sua 
própria natureza, pois sua divisão alteraria sua substância ou prejudicaria seu uso 
(ex: obrigação de dar um cavalo, obrigação de restituir o imóvel locado, etc); b) 
econômica: o objeto da prestação fisicamente poderia ser dividido, mas perderia 
valor (ex: obrigação de dar um diamante, art. 87); c) legal: é a lei que proíbe a 
divisão (ex: a lei 6.766/79, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano, 
determina no art. 4º, II, que os lotes nos loteamentos terão no mínimo 125 metros 
quadrados, então um lote deste tamanho não pode ser dividido em dois); d) 
convencional: é o acordo entre as partes que torna a prestação indivisível (art. 88, 
ex: dois devedores se obrigam a pagar juntos certa quantia em dinheiro, o que vai 
favorecer o credor que poderá exigir tudo de qualquer deles, 258 in fine, e 259). 
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 Percebe-se que qualquer das três espécies de obrigação (dar, fazer e não-
fazer) pode ser divisível ou indivisível (ex: dar dinheiro é divisível, mas dar um 
cavalo é indivisível; pintar um quadro é obrigação de fazer indivisível, mas plantar 
cem árvores é divisível; não revelar segredo é indivisível, mas não pescar e não 
caçar na fazenda do vizinho é divisível). 
Classificação ou modalidades de obrigações (continuação)
 
5 – Obrigações solidárias
 Como visto na aula passada, quando numa obrigação indivisível concorrem 
vários devedores, todos estão obrigados pela dívida toda, como se existisse uma 
solidariedade entre eles (259). Assim, se várias pessoas devem coisa indivisível, a 
obrigação é também solidária. Mas pode haver obrigação solidária mesmo de coisa 
divisível devida por várias pessoas. 
 Conceito legal: há solidariedade quando na mesma obrigação concorre mais 
de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito ou com 
responsabilidade pela dívida toda, como se fosse o único (264). 
 As obrigações solidárias e indivisíveis têm conseqüências práticas 
semelhantes, mas são obrigações diferentes, vejamos:
 - a obrigação indivisível é impossível pagar por partes, pois resulta da 
natureza da prestação (ex: cavalo, lote urbano, diamante, barco, fazer um quadro, 
etc). Já a obrigação solidária até poderia ser paga por partes, mas por força de 
contrato não pode, tratando-se de uma garantia para favorecer o credor. Na 
solidariedade cada devedor deve tudo, na indivisibilidade cada devedor só deve uma 
parte, mas tem que pagar tudo diante da natureza da prestação. Pelas suas 
características a solidariedade não se presume, decorre de contrato ou da lei (265). 
Exemplo de solidariedade decorrente de lei é a patroa que responde pelos danos 
causados a terceiros por sua empregada doméstica (932, III, 942 e pú). 
 - pode haver obrigação solidária de coisa divisível (ex: dinheiro), de modo 
que todos os devedores vão responder integralmente pela dívida, mesmo sendo coisa 
divisível. Tal solidariedade nas coisas divisíveis serve para reforçar o vínculo e 
facilitar a cobrança pelo credor. 
 - o devedor a vários credores de coisa indivisível precisa pagar a todos os 
credores juntos (260, I), mas o devedor a vários credores solidários se desobriga 
pagando a qualquer deles (269). 
 - se a coisa devida em obrigação solidária perece, converte-se em perdas e 
danos, torna-se divisível, mas permanece a solidariedade (271 e 279). Se a coisa 
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devida em obrigação indivisível perece, converte-se em perdas e danos e os co-
devedores deixam de ser responsáveis pelo todo (263). 
 - o devedor de obrigação solidária que paga sozinho a dívida ao credor, vai 
cobrar dos demais co-devedores a quota de cada um, sem solidariedade que não se 
presume (265 e 283). Então A, B e C devem solidariamente dinheiro a D. Se A 
pagar a dívida toda ao credor, A vai cobrar a quota de B e C sem solidariedade entre 
B e C. 
 Elementos da obrigação solidária: a) multiplicidade de credores ou de 
devedores, ou ainda, de uns e de outros; b) unidade de prestação; c) co-
responsabilidade dos interessados. 
 5.1 - Solidariedade ativa
Configura-se pela presença de vários credores, chamados concredores, todos 
com o mesmo direito de exigir integralmente a dívida ao devedor comum (267). 
A solidariedade ativa é rara porque na sua principal característica está sua 
principal inconveniência (269). Assim, o devedor não precisa pagar a todos os 
concredores juntos, como na obrigação indivisível (260, I). Pagando apenas a um 
dos credores solidários, mesmo sem autorização dos demais, o devedor se 
desobriga, e se este credor for desonesto ou incompetente, e reter ou perder a quota 
dos demais, os concredores nada poderão reclamar do devedor, terão sim que 
reclamar daquele que embolsou o pagamento. 
Mas caso algum dos concredores já esteja executando judicialmente o 
devedor, o pagamento deverá ser feito ao mesmo (268), o que se chama de 
prevenção, ficando tal credor prevento para receber o pagamento com prioridade em 
nome de todos os concredores. 
Outro inconveniente é que se um dos credores perdoar a dívida, o devedor 
fica liberado, e os demais concredores terão que exigir sua parte daquele que 
perdoou (272). 
Como se vê, na solidariedade ativa cada credor fica sujeito à honestidade dos 
outros concredores. Por estes inconvenientes a solidariedade ativa é rara, afinal não 
interessa ao credor. 
5.2 – Solidariedade passsiva 
Esta é comum e importante, devendo ser estimulada já que protege o crédito, 
reforça o vínculo, facilita a cobrança e aumenta a chance de pagamento, pois o 
credor terá várias pessoas para cobrar a dívida toda. 
E quanto mais se protege o credor, mais as pessoas emprestam dinheiro, e 
com mais dinheiro os consumidores se equipam, as lojas vendem, as fábricas 
16
produzem, os patrões lucram, geram empregos e o governo arrecada tributos. Como 
se sabe: proteger o crédito é estimular o desenvolvimento sócio-econômico. Entendo 
até que, por isso mesmo, para proteger o crédito, a solidariedade passiva, não a 
ativa, deveria ser presumida. Violando o art. 265, o art. 829 acertadamente faz 
presumir a solidariedade passiva conforme será visto em fiança. 
Conceito: ocorre a solidariedade passiva quando mais de um devedor, 
chamado coobrigado, com seu patrimônio (391), se obriga ao pagamentoda dívida 
toda (275).
Assim, havendo três devedores solidários, o credor terá três pessoas para 
processar e exigir pagamento integral, mesmo que a obrigação seja divisível. O 
credor escolhe se quer processar um ou todos os devedores (pú do 275). Aquele 
devedor que pagar integralmente a dívida, terá direito de regresso contra os demais 
coobrigados (283). 
Na solidariedade passiva não se aplica o benefício de divisão e nem o 
benefício de ordem. O que é isso? 
Pelo benefício de divisão o devedor pode exigir a citação de todos os 
coobrigados no processo para juntos se defenderem. Isto é ruim para o credor 
porque atrasa o processo, por isso a solidariedade passiva não concede tal benefício 
aos co-devedores. 
Pelo benefício de ordem, o coobrigado tem o direito de ver executado 
primeiro os bens do devedor principal (ex: fiança, 827). Mas o fiador pode renunciar 
ao benefício de ordem e se equiparar ao devedor solidário (828, II). O avalista nunca 
tem benefício de ordem, sempre é devedor solidário, por isso se algum amigo lhe 
pedir para ser avalista não aceite, mas se ele insistir seja seu fiador com benefício de 
ordem, mas jamais fiador-solidário ou avalista. 
Fiança e aval são exemplos de solidariedade passiva decorrente de acordo de 
vontades. Então a Universidade quando financia o curso de um estudante, 
geralmente exige um fiador ou um avalista (897), de modo que se o devedor não 
pagar a dívida no vencimento, o credor irá processar o devedor, o fiador ou o 
avalista. Fiança será estudada em Civil 3 e aval em Direito Empresarial.
Exemplos de solidariedade passiva decorrente da lei estão na responsabilidade 
civil (932), no comodato (585) e na gestão de negócios (pú do 867). 
Modalidades de obrigações (continuação)
 6 - Obrigações líquidas e ilíquidas
 Líquida é a obrigação certa e determinada, ou seja, certa quanto à sua existência 
e determinada quanto à sua qualidade, quantidade, natureza e objeto. Em outras 
palavras, obrigação líquida é aquele cuja existência é certa e cujo valor é conhecido. 
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 Vocês sabem que se uma dívida não for paga no vencimento o credor mune-se de 
uma pretensão e a dívida se transforma em responsabilidade patrimonial. Esta 
pretensão consiste no poder de executar o devedor para tomar seus bens através do Juiz 
e satisfazer o credor. Pois bem, a ação de execução só é possível quando a obrigação é 
líquida. 
 Sendo a obrigação ilíquida e não havendo acordo entre as partes, precisa ser 
apurada pelo Juiz em processo de liquidação para poder ser executada, afinal não se 
pode executar obrigação ilíquida (947). 
 Inclusive entendo que o Juiz deve sempre proferir sentenças líquidas para evitar 
mais demoras ao credor. Exemplo: o Juiz condena João a indenizar Maria porque João 
matou o pai dela, devendo o Juiz dizer logo o valor da indenização, e não deixar isso 
para uma fase posterior do processo, 946. E de quanto é essa indenização por morte? A 
lei responde no art. 948. Assim, um crime interessa ao Direito Penal para a punição 
com a prisão do infrator, e também interessa ao Direito Civil para a punição ao bolso 
do infrator. A punição civil é mais rápida e não depende de Delegado e nem de 
Promotor, dispensando parte do burocrático aparelho estatal. Mas se o infrator não tiver 
bens, só haverá punição penal, pois liberdade todos têm para perder. Mais detalhes na 
importante disciplina Responsabilidade Civil. 
 
 7 – Obrigação principal e acessória
 
 Principal é a obrigação autônoma, ou seja, tem vida própria, já a obrigação 
acessória depende da principal, agregando-se a ela. Então uma compra e venda, um 
empréstimo e uma locação são contratos que geram obrigações autônomas. Por outro 
lado, a fiança, a hipoteca e o penhor produzem obrigações acessórias que vão se 
agregar a uma obrigação principal, por exemplo, como a locação. 
 Então quem aluga uma casa celebra um contrato principal de locação e pode 
exigir um contrato acessório de fiança para garantir o pagamento do aluguel na hipótese 
de inadimplência do inquilino. A locação existe sem a fiança, mas o contrário não. 
Inclusive, sendo nula a locação, nula será a fiança, mas o inverso não (art. 184, 2ª 
parte). 
8 – Obrigação cumulativa ou conjuntiva 
 Caracteriza-se pela pluralidade de prestações (ex: troco uma casa por um carro e 
uma lancha). Não se trata de obrigação alternativa (carro OU lancha), mas obrigação 
cumulativa (carro E lancha). Na obrigação cumulativa todas as prestações interessam 
ao credor, na alternativa apenas uma delas. Na cumulativa, muitas prestações estão na 
obrigação e muitas no pagamento. Já na alternativa, muitas prestações estão na 
obrigação e apenas uma no pagamento. Exemplo legal de obrigação cumulativa é o 
18
contrato de empreitada onde o engenheiro pode fazer o serviço E dar os materiais para 
a construção de uma casa (610). 
9 – Obrigação pura
 É a obrigação simples, ou seja, é toda aquela cuja eficácia não está subordinada a 
qualquer das três modalidades dos negócios jurídicos: a condição, o termo (ou prazo) e 
o encargo (ou modo, ou ônus). Estas modalidades vocês conhecem de Civil 1, vamos 
exemplificar:
 - obrigação condicional: subordina a obrigação a evento futuro e incerto (ex: o 
alfaiate compra tecido da fábrica e combina só pagar o preço se vender as roupas; 
vender as roupas não é uma certeza, pode ou não acontecer, 121, 876) Condições 
absurdas são proibidas (ex: alugo minha casa a você, mas você não pode entrar nela, 
isso é o que a lei chama de “privar de todo efeito o negócio jurídico”, no art. 122). 
 - obrigação a termo: subordina a obrigação a evento futuro e certo (ex: pagarei o 
tecido em trinta dias; trinta dias são o prazo e o prazo é um evento certo, só depende do 
inexorável passar do tempo, 132). 
 - obrigação modal: o modo (ou encargo, ou ônus) é imposto ao beneficiário de 
uma liberalidade como uma doação ou herança. Então pode-se doar uma fazenda com o 
ônus de construir uma escola para as crianças carentes da região (553, 136). Ou pode-se 
deixar uma herança para um sobrinho com o ônus de mandar rezar mensalmente uma 
missa para o falecido. O encargo precisa ser pequeno para não caracterizar uma 
contraprestação (ex: dou um carro a meu vizinho com o ônus de levar meus filhos e eu 
para a escola e o trabalho diariamente; ora, isso não é doação, mas contratação de um 
motorista). Se o encargo for de interesse público (ex: construir uma escola), o Promotor 
de Justiça fiscalizará sua execução (pú do 553, este é um dos poucos casos de 
participação do Ministério Público no direito patrimonial, afinal o Ministério é público 
e o Direito Civil é privado. Se o encargo for absurdo (ex: mandar rezar missa todo dia 
para o falecido) o Juiz pode interferir na obrigação privada para modificá-la. 
 Então obrigação simples é aquela que não for condicional, a termo ou modal. 
10ª e última modalidade de obrigação: Obrigação Real
 
 Trata-se de uma obrigação propter rem ( = em razão da coisa). Não decorre de 
um contrato, mas da propriedade sobre um bem. Quem adquire certo bem, adquire 
automaticamente essa obrigação real, decorrente da coisa (real = res = coisa). O 
adquirente do bem vai se tornar devedor, mesmo sem querer, em decorrência de sua 
condição de dono desse bem. 
 Exemplo: 1.345, a lei determina que quem compra um apartamento com dívida 
de condomínio assume esta obrigação, embora tenha sido o dono anterior que não 
pagou a taxa. A obrigação está vinculada à coisa, por isso chama-se obrigação real (res19
= coisa). Esta vinculação da obrigação à coisa, qualquer que seja seu dono, deriva da 
sequela, que é uma característica dos Direitos Reais. Sequela é uma palavra que se 
origina do verbo seguir, então a obrigação segue a coisa, não importa quem seja seu 
dono. O proprietário da coisa assume a obrigação automaticamente, apenas pelo fato de 
ter sucedido o dono-devedor anterior na propriedade da coisa.
É também chamada de obrigação mista porque apresenta características de 
Direito das Coisas ( = Direito Real) e de Direito das Obrigações ( = Direito Pessoal). O 
Direito Real e o Direito das Obrigações formam o Direito Patrimonial Privado (vide 
aula 1), sendo natural que algumas vezes eles se interpenetrem. 
 Conceito: obrigação real corresponde ao vínculo jurídico que se origina da lei 
com característica dos Direitos Reais e transmissão automática ao novo proprietário da 
coisa. 
 Observação sobre o conceito: a OR se origina apenas da lei, e não do contrato. 
Os contratos podem ser inventados pelas partes, são numerus apertus (425), mas os 
direitos reais não, só a lei pode criá-los, sendo numerus clausus (1225), por isso as 
obrigações reais originam-se sempre da lei. Originando-se da lei, a OR é irrecusável, 
não podendo o devedor deixar de assumi-la. 
 Outra observação: o devedor da obrigação real varia caso a coisa mude de dono, 
então se a coisa é vendida, o novo dono se tornará o devedor. Quem se torna titular do 
direito real ( = propriedade), torna-se devedor de eventual obrigação real sobre o bem 
apropriado. 
Mais exemplos de OR: art. 1297 (quem compra uma fazenda tem a obrigação de 
fazer a cerca, embora a cerca tenha caído na época do dono anterior), art. 1383 (quem 
compra imóvel com servidão predial tem a obrigação de manter a servidão, por isso 
observem sempre o registro do imóvel antes de fazer a compra, para não comprar 
barato um terreno e depois, por exemplo, descobrir que nele não se pode construir para 
não tirar a vista do edifício de trás; este exemplo corresponde a uma servidão predial de 
vista, assunto de Civil 5). 
 Em suma, a obrigação propriamente dita vincula uma pessoa (credor) a outra 
pessoa (devedor), já a obrigação real está vinculada a uma coisa, e quem for 
proprietário dessa coisa será o devedor. 
 
CLÁUSULA PENAL
 Concluído o estudo das dez modalidades de obrigações, vamos encerrar a 
primeira unidade deste semestre tratando da cláusula penal (CP). 
 Conceito: CP é a cláusula acessória a um contrato pelo qual as partes fixam 
previamente o valor das perdas e danos que por acaso se verifiquem em conseqüência 
da inexecução culposa da obrigação (408, ex: um promotor de eventos contrata um 
20
cantor para fazer um show, e já fixa no contrato que, se o artista desistir, terá que pagar 
uma indenização de cem mil).
 A cláusula penal é acessória, não é obrigatória, então se a dívida não for paga 
no vencimento ( = se o cantor não fizer o show), e não existir cláusula penal no 
contrato, é o Juiz quem irá fixar a indenização devida pelo cantor, tornando a 
obrigação líquida (vide aula 9), para só depois possibilitar o ataque pelo credor (o 
promotor de eventos) ao patrimônio do cantor. 
 Essa é a grande vantagem da cláusula penal: pré-fixar as perdas e danos, 
economizando tempo, eliminando recursos processuais ao dispensar o Juiz de calcular 
o valor previsto no art. 402 do CC. 
Outra vantagem da CP é a de intimidar o devedor, ou seja, ele já fica sabendo 
que terá uma pena se não cumprir a obrigação. É verdade que a lei prevê 
automaticamente uma punição ao devedor (389), mas a CP reitera essa sanção. 
 Quando uso no conceito a expressão inexecução “culposa”, refiro-me à culpa 
em sentido amplo (lato sensu), que corresponde ao dolo (inexecução voluntária) e à 
culpa stricto sensu (em sentido restrito = imprudência e negligência). Então se o cantor 
não fez o show porque não quis (dolo) ou porque bebeu demais e perdeu a voz 
(imprudência), terá que pagar a CP. Mas se o cantor não fez o show porque pegou uma 
gripe, trata-se de um caso fortuito que isenta de responsabilidade (393 e pú). 
 Se a obrigação for cumprida pelo devedor, a cláusula penal se extingue; se a 
obrigação principal for nula, a cláusula penal também o será, afinal, como cláusula 
acessória, segue o destino da principal (184, in fine). 
 A CP geralmente reverte em favor do credor, mas o contrato pode prever que 
será paga a terceiros (ex: se o cantor não fizer o show, pagará cem mil ao Hospital do 
Câncer). A CP geralmente é pactuada em dinheiro, mas pode corresponder a obrigação 
de dar outra coisa, ou a fazer, ou não-fazer algum serviço, com ampla liberdade para as 
partes. 
 Espécies: a) CP compensatória: aplica-se em caso de inexecução (= 
inadimplemento) da obrigação pelo devedor (410, então o credor poderá optar pela 
obrigação principal ou pela cláusula penal, semelhante a uma obrigação alternativa); b) 
CP moratória: aplica-se em caso de atraso (= retardo, mora) do devedor no 
cumprimento da obrigação, pelo que o devedor pagará a multa pelo atraso e cumprirá a 
obrigação, 411 (ex: multa de 10% em caso de atraso no pagamento de aluguel, 416). 
Ambas as espécies estão previstas no art. 409. 
 Se a cláusula penal compensatória tiver um valor muito alto, o Juiz deverá 
reduzi-la (412, 413). Mas é justo o Estado-Juiz se imiscuir nos contratos privados, 
alterando aquilo que foi estabelecido livremente pelos particulares? Reflitam! O velho 
CC, no art. 924, que corresponde a esse 413, usava o verbo “poderá”, enquanto o novo 
CC usa o verbo “deverá”, como consequência da publicização do Direito e a proteção 
maior que o Estado dá hoje aos devedores. Critico a publicização num artigo no site 
21
sobre a importância do Direito Privado e os riscos da intervenção estatal na autonomia 
dos cidadãos, atrofiando a economia e trazendo insegurança jurídica. Confiram! 
 Fim da 1ª parte do curso de Direito das Obrigações. 
EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
Prof. Rafael de Menezes 
 Uma obrigação é um fenômeno jurídico que ocorre a todo momento, que nasce 
e se extingue a todo instante. Enquanto estamos aqui conversando, existem inúmeras 
obrigações, contratos, atos ilícitos, etc., sendo realizados/ocorrendo lá fora na rua. 
Vocês hoje, por exemplo, celebraram algum contrato, assumiram alguma obrigação, 
compraram alguma coisa, tomaram algo emprestado, usaram o telefone? Acredito que 
sim, então vocês hoje fizeram acontecer uma obrigação jurídica. 
 Veremos nesta 2ª unidade do curso de Direito Civil 2 os vários modos pelos 
quais as obrigações se extinguem, e o primeiro e principal desses modos é o 
pagamento.
 1 - Pagamento: é a principal forma de extinção das obrigações. O pagamento é 
muito comum e ocorre com grande frequência na sociedade, pois toda obrigação nasce 
para ser satisfeita. A imensa maioria das obrigações são cumpridas/pagas, de modo que 
o devedor fica liberado. Só uma minoria das obrigações é que não são satisfeitas, pelo 
que o devedor poderá ser judicialmente processado pelo credor. 
 Conceito: num conceito mais simples, pagamento é a morte natural da 
obrigação, ou a realização real da obrigação, mas nem sempre em dinheiro (ex: A paga 
a B para pintar um quadro, de modo que a obrigação de B será fazer o quadro, o 
pagamento de B será realizar o serviço). O leigo tende a achar que todo pagamento é 
em dinheiro, mas nem sempre, pois em linguagem jurídica pagar é executar a 
obrigação, seja essa obrigação de dar umacoisa, de fazer um serviço ou de se abster de 
alguma conduta (não-fazer).
 Num conceito mais completo, pagamento é o ato jurídico formal, unilateral, que 
corresponde à execução voluntária e exata por parte do devedor da prestação devida ao 
credor, no tempo, modo e lugar previstos no título constitutivo. Vamos comentar este 
conceito:
 - formal: o pagamento é formal pois a prova do pagamento é o recibo; tal recibo 
em direito é chamado de quitação, e deve atender às formalidade do art. 320. Muitas 
vezes, em pequenos contratos, nós não pedimos recibo pra não perder tempo, é um 
hábito que nós temos e vocês sabem que o costume é também uma fonte do direito. 
 Falaremos mais da quitação adiante.
 - unilateral: pois é de iniciativa do devedor, que é o sujeito passivo da 
obrigação.
22
 - voluntário e exato: lembrem-se sempre disso, pagamento é voluntário e exato; 
se o devedor só paga após ser judicialmente executado, tecnicamente isto não é 
pagamento pois foi feito sob intervenção judicial, ao penhorar/tomar bens do devedor; 
além de voluntário, o pagamento deve ser exato, então se A deve cinquenta a B e paga 
com um livro, tecnicamente isto não foi pagamento. De qualquer modo, em ambos os 
casos, mesmo pagando sob força judicial, ou pagando coisa diferente da devida, se o 
credor aceitou e se satisfez, isto é o que importa. Mas tecnicamente, em linguagem 
jurídica, pagamento é aquele voluntário e exato. 
 - prestação: é o objeto da obrigação, e vocês já sabem que tal prestação é uma 
conduta humana, pode ser um dar, um fazer ou um omitir-se (não-fazer). Pagar é 
cumprir esta prestação. 
 - tempo, modo e lugar: o pagamento precisa atender a estas regras previstas no 
contrato na lei ou na sentença que fez nascer a obrigação, respeitando a data, o lugar e a 
maneira de pagar. 
Regras do pagamento: 1) satisfação voluntária e rigorosa da prestação (dar uma 
coisa, fazer um serviço, ou abster-se de uma conduta) porque o pagamento é exato; 2) o 
credor não pode ser obrigado a receber prestação diferente, ainda que mais valiosa (art. 
313); o credor pode aceitar receber prestação diferente, mas não pode ser forçado a 
aceitar (356); 3) o credor não pode ser obrigado a receber por partes uma dívida que 
deve ser paga por inteiro (314); esta regra tem duas exceções, no art. 962, que dispõe 
sobre o concurso de credores, assunto do final do semestre, e no art. 1.997, que dispõe 
sobre pagamento pelos herdeiros de dívida do falecido, assunto de Civil 7.
 Quem deve pagar? O devedor, mas nada impede que um terceiro pague, afinal o 
credor quer receber. Se o devedor quer impedir que um terceiro pague sua dívida deve 
se antecipar e pagar logo ao credor. Em geral para o credor não importa quem seja o 
solvens, quem esteja pagando. Solvens é o pagador, seja ele o devedor ou não, e o 
accipiens é quem recebe o pagamento, seja ele o credor ou não. Se a obrigação for 
personalíssima (ex: A contrata o cantor B para fazer um show), o solvens só pode ser o 
devedor. Mas se a obrigação não for personalíssima, o credor vai aceitar o pagamento 
de qualquer pessoa. Para evitar especulações ou constrangimentos, a lei trata diferente 
o terceiro que paga por interesse jurídico do terceiro que paga sem interesse jurídico, 
apenas por pena ou para humilhar. Assim, o terceiro que paga com interesse jurídico 
(ex: fiador, avalista, herdeiro) vai se sub-rogar nos direitos do credor (349, veremos 
sub-rogação em breve). O terceiro que paga sem interesse jurídico (ex: o pai, o inimigo, 
etc) vai poder cobrar do devedor original, mas sem eventuais privilégios ou vantagens 
(ex: hipoteca, penhor, 305). Em suma, o terceiro interessado tem reembolso e sub-
rogação nos eventuais privilégios, já o terceiro juridicamente desinteressado só tem 
direito ao reembolso. 
 A quem se deve pagar? Ao credor, ou a seu representante, sob pena do 
pagamento ser feito outra vez, pois quem paga mal paga duas vezes (308). Se o credor 
é menor ou louco, pague a seu pai ou curador, sob pena de anulabilidade (310). Credor 
putativo: é aquele que parece o credor mas não o é (ex: A deve a B, mas B morre e 
deixa um testamento nomeando C seu herdeiro, então A paga a C, mas depois o Juiz 
23
anula o testamento, A não vai precisar pagar novamente pois pagou a um credor 
putativo; C é que vai ter que devolver o dinheiro ao verdadeiro herdeiro de B, 309). 
Idem no caso do 311, pois se considera um representante do credor aquele que está com 
o recibo, embora depois se prove que tal accipiens furtou o recibo do credor; neste caso 
o devedor não vai pagar outra vez, o credor deverá buscar o pagamento do accipiens 
falso. 
 Como se prova o pagamento? Já dissemos, com o recibo/quitação. Quitação 
vem do latim “quietare”, que significa aquietar, acalmar, tranqüilizar. Quitação é o 
documento escrito em que o credor reconhece ter recebido o pagamento e exonera o 
devedor da obrigação. A quitação tem vários requisitos no art. 320, mas em muitos 
casos da vida prática a quitação é informal/verbal e decorre dos costumes (ex: compra e 
venda em banca de revista/bombom). Se o credor não quiser fazer a quitação, o 
devedor poderá não pagar (319). Mas pagar não é só uma obrigação do devedor, pagar 
é também um direito, pois o devedor tem o direito de ficar livre das suas obrigações, é 
até um alívio para muita gente pagar seus débitos. Assim, o devedor pode 
consignar/depositar o pagamento se o credor não quiser dar a quitação, e o Juiz fará a 
quitação no lugar do credor. Veremos em breve pagamento em consignação. Espécies 
de quitação: 1) pela entrega do recibo, é a mais comum; 2) pela devolução do título de 
crédito (324), assunto que vocês vão estudar em Direito Empresarial/Comercial. 
Ônus da prova: quem deve provar que houve pagamento? Se a obrigação é 
positiva, ou seja, de dar e de fazer, o ônus da prova é do devedor, assim se você é 
devedor, guarde bem seu recibo. Se a obrigação é negativa o ônus da prova é do credor, 
cabe ao credor provar que o devedor descumpriu o dever de abstenção, pois não é 
razoável exigir que o devedor prove que se omitiu, e mais fácil exigir que o credor 
prove que o devedor deixou de se omitir, fazendo o que não podia, descumprindo 
aquela obrigação negativa. 
MODOS DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
1 – PAGAMENTO (continuação)
Lugar: onde o pagamento deve ser feito? No local de livre escolha das partes, 
afinal no Direito Civil predomina a autonomia da vontade (art. 78). Se o 
contrato/sentença for omisso, o lugar do pagamento será no domicílio do devedor (327 
e pú). Tratando-se de imóvel, o local da coisa determina o lugar do pagamento (328). A 
doutrina classifica as dívidas em quesível (querable) e portável (portable): nesta, cabe 
ao devedor ir pagar no domicílio do credor, sob pena de juros e multa ( = mora, assunto 
do final do semestre, 395). Já na dívida querable cabe ao credor ir exigir o pagamento 
no domicílio do devedor, a iniciativa é do credor, sob pena de mora do credor (394, 
400, bom, veremos mora mais adiante).
Tempo: quando deve ser feito o pagamento? No vencimento previsto no título, e 
se não houver vencimento é porque o credor pode exigir o pagamento imediatamente. É 
a chamada satisfação imediata do art. 331. Mas deve-se sempre tolerar um prazo moral, 
que é aquele prazo razoável, do bom-senso, para dar ao devedor um tempo mínimo de 
se organizar, sacar o dinheiro no banco, esperar a mercadoria chegar do exterior, etc. O 
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vencimento é uma data que favorece o devedor, então o devedor pode pagar antes do 
vencimento, mas o credor só pode exigir a partir do vencimento, sob as penas do 939. 
A lei todavia permite, excepcionalmente,cobrança antes do vencimento caso o devedor 
esteja em dificuldade financeira, nos casos do art. 333. 
Enriquecimento sem causa e pagamento indevido:
Enriquecer sem causa é enriquecer repentinamente sem motivo justo, sem 
trabalhar, sem herdar. Uma das hipóteses de enriquecimento sem causa é através do 
pagamento indevido, por isso estes dois assuntos devem ser estudados em conjunto.
Ocorre pagamento indevido quando o devedor paga a alguém que não é o credor, 
ou seja, o accipiens não é o credor, e o devedor agiu por engano. Quem recebe 
pagamento indevido enriquece sem causa (ex: A deve a José da Silva, mas paga a outro 
José da Silva, homônimo do verdadeiro credor; A efetuou pagamento indevido e vai ter 
que pagar de novo ao verdadeiro credor, pois quem paga mal paga duas vezes; A 
obviamente vai exigir o dinheiro de volta do outro José da Silva que enriqueceu sem 
causa, mas o verdadeiro credor não precisa esperar, ele não tem nada a ver com isso). 
Ocorre enriquecimento sem causa quando alguém aufere um aumento 
patrimonial, em prejuízo de outrém, sem justa causa. Há outros casos de 
enriquecimento sem causa além das hipóteses de pagamento indevido, ex: 578, 1255, 
pú do 1817, etc. Estudaremos esses exemplos oportunamente, ao longo do extenso 
curso de Direito Civil.
Dois efeitos do pagamento indevido: 
1 – aquele que enriqueceu sem causa fica obrigado a devolver o indevidamente 
auferido, não só por uma questão moral (= direito natural), mas também por uma 
questão de ordem civil (876, 884) e tributária, afinal como explicar à Receita Federal 
um súbito aumento de patrimônio? O objetivo dessa devolução é reequilibrar os 
patrimônios do devedor e do falso credor, alterados sem fundamento jurídico, sem 
causa justa. 
 2 – se o falso credor não quiser voluntariamente devolver o pagamento, surge o 
segundo efeito que é o direito do devedor de propor ação de repetição do indébito 
(repetitio indebiti) contra tal accipiens. Esta ação tem este nome pois, em linguagem 
jurídica, “repetir” significa “devolver” e “indébito” é aquilo que não é devido. Então a 
ação é para o falso credor devolver aquilo que não lhe era devido. Tal ação prescreve 
em três anos (206, § 3º, IV).
 Também se aplicam as regras do pagamento indevido quando se paga mais do 
que se deve. Porém não cabe a repetição quando o “solvens” agiu por liberalidade (ex: 
doação, 877) ou em cumprimento de obrigação natural (ex: gorjeta, dívida de jogo, 
dívida prescrita, 882, 814) ou quando o “solvens” deu alguma coisa para obter fim 
ilícito, afinal ninguém pode se beneficiar da própria torpeza (ex: pagou ao pistoleiro 
errado para cometer um homicídio, não cabe devolução, 883). 
25
 E se o objeto do pagamento indevido já tiver sido alienado pelo falso credor a 
um terceiro? Bem, se tal objeto era coisa móvel, tal alienação vale por uma questão de 
segurança das relações jurídicas e porque em geral os móveis são menos valiosos do 
que os imóveis. De qualquer modo o falso credor vai responder pelo equivalente em 
dinheiro. 
 Mas se o objeto do pagamento indevido for um imóvel que o falso credor já 
tenha alienado a um terceiro, tal alienação só valerá se feita onerosamente (venda sim, 
doação não) e o terceiro estiver de boa-fé. Caso contrário o solvens poderá perseguir o 
imóvel e recuperá-lo do terceiro (879).
 
MODOS DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
1 – Pagamento (já visto) 
2 - IMPUTAÇÃO DE PAGAMENTO: o normal é entre duas pessoas haver apenas 
uma obrigação, mas pode acontecer de alguém ter mais de uma dívida com o mesmo 
credor. Assim, se A deve a B cem reais decorrentes de um empréstimo e outros cem 
reais decorrentes de um ato ilícito (ex: A bateu no carro de B), quando A vai pagar 
apenas uma destas dívidas precisa dizer a B qual está quitando. Imputar o pagamento é 
determinar em qual dívida o pagamento está incidindo. Num conceito mais técnico, 
imputação de pagamento é a operação pela qual o devedor de mais de uma dívida 
vencida da mesma natureza a um só credor, indica qual das dívidas está pagando por 
ser tal pagamento inferior ao total das dívidas (352). É preciso que haja mais de uma 
dívida, todas vencidas, da mesma natureza (ex: obrigação de dar dinheiro) e o 
pagamento ser menor do que a soma das dívidas. Cabe ao devedor fazer a imputação, 
dizer qual dívida está quitando, e o devedor deve ser orientado por seu advogado para 
quitar logo a dívida de juro maior e a dívida com garantia (ex: hipoteca, penhor, fiança, 
porque aí o devedor libera a coisa dada em garantia/o devedor libera o fiador). Se o 
devedor não imputar, o credor poderá fazê-lo (353), devendo o credor ser orientado por 
seu advogado para pedir a quitação na dívida de juro menor e na dívida quirografária 
( = dívida sem garantia). Lembrem-se que pelo art. 314 o credor não está obrigado a 
receber pagamento parcial, mas na prática pode ser melhor o credor aceitar alguma 
coisa e depois brigar pelo restante. Se o devedor e o credor não fizerem a imputação, a 
lei fará na dívida de maior valor, conforme art. 355 ( = imputação legal). 
3 – PAGAMENTO POR CONSIGNAÇÃO
Este é o terceiro dos modos de extinção das obrigações que nós estamos 
estudando. É através da consignação que o devedor vai exercer o seu direito de pagar, 
afinal já dissemos que pagar não é só um dever, é um direito também, concordam? 
Imaginem que o locador morreu e o inquilino desconhece seu herdeiro, deve então 
consignar o aluguel para evitar a mora e o despejo. Consignar onde? Em Juízo, e o Juiz 
vai procurar o sucessor do credor. A parte operacional da consignação em pagamento 
vocês vão estudar em processo civil, mas conhecendo o direito, o processo fica fácil de 
aprender (335, III – credor desconhecido). Outro exemplo, imaginem que alguém 
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morre e deixa a mulher como beneficiária do seguro de vida, só que o falecido tinha 
uma esposa e uma companheira, então a seguradora vai pagar a qual das duas? Paga em 
Juízo, numa conta a disposição do Juiz, o Juiz dá uma sentença à seguradora, que 
servirá de quitação, enquanto as duas mulheres seguem no processo disputando o 
dinheiro (793, 335, IV). É prudente a seguradora fazer isso até para não correr risco de 
pagar à mulher errada e efetuar pagamento indevido.
Conceito: pagamento por consignação consiste no depósito judicial da coisa 
devida, realizada pelo devedor nas hipóteses do art. 335 do CC. Este artigo é taxativo 
(= exaustivo), não é exemplificativo, de modo que não há outras possibilidades de 
consignação. Outro detalhe importante: só existe consignação nas obrigações de dar, 
pois não se pode depositar um serviço (obrigação de fazer) ou uma omissão (obrigação 
de não-fazer), mas apenas coisas, em geral dinheiro. Admite-se também depósito de 
imóveis, gado, colheita, etc (341), e o Juiz vai ter que arranjar um depositário para 
cuidar dessas coisas até o credor aparecer (343). Quando o depósito é de pecúnia 
(dinheiro) coloca-se em banco oficial: Banco do Brasil ou Caixa Econômica Federal, 
em conta à disposição do Juiz. 
Percebam que na ação de consignação o autor é o devedor, o credor é o réu e a 
quitação vem com a sentença. A sentença dirá se a consignação equivale ao pagamento, 
se o devedor teve razão ao consignar e se a obrigação está extinta. Excepcionalmente 
admite-se o credor como autor da ação quando mais de uma pessoa se diz credor, então 
qualquer deles pede ao devedor que consigne o pagamento, enquanto os credores 
discutem em Juízo (345). 
Em algumas consignações o credor está certo de não querer receber pois o 
devedor quer pagar menos do que deve, e vocês sabem que o credor não está obrigado a 
receber por partes. Então o devedor consigna com

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