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DEVRY 2017 Processo Civil Conhecimento ROTEIRO DE AULAS

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Roteiro de Aulas – Processo Civil – Conhecimento
Prof. Marco Antonio Muscari - 1º semestre de 2017
TUTELA PROVISÓRIA E TUTELA DEFINITIVA
Tutelar é proteger. Tutela é proteção.
O Estado tutela direitos quando edita uma lei* que garante alimentos aos filhos (art. 1.694/CC). Essa é a tutela material* de direitos.
O Estado também tutela direitos quando, falhando a tutela material (determinado pai não pagou a pensão devida ao filho), reconhece o direito de alguém e garante o cumprimento desse direito, por intermédio do Poder Judiciário**. É a tutela jurisdicional** de direitos.
Lembrem da nossa primeira aula do semestre passado, quando vimos os planos “material” e “processual” do ordenamento jurídico.
Para solucionar um conflito/litígio (“compor a lide”, como dizia Carnelutti) com segurança e certeza, o juiz precisa ouvir todas as partes, analisar as alegações feitas por elas e autorizar a produção de provas pertinentes que os litigantes requeiram (sem prejuízo, como vimos no semestre passado, de o próprio magistrado determinar ex officio a produção de provas). A isso se chama cognição exauriente (exaurir, segundo o Dicionário Houaiss, é “despejar até a última gota”).
A cognição exauriente proporciona tamanho grau de certeza que a decisão (sentença, acórdão) nela fundada tem o condão de se tornar imutável/indiscutível, produzindo a chamada coisa julgada material.
Ocorre que ouvir as partes, analisar tudo o que elas dizem e produzir provas consome tempo. Tempo que pode: a) pôr em risco a efetividade do processo (ex.: mediante procuração falsa, venderam seu imóvel; você vai à Justiça para anular a venda, mas sabe que o atual proprietário já está anunciando o imóvel no jornal para desfazer-se dele brevemente; você pede ao juiz que bloqueie a matrícula do imóvel para impedir a venda); b) pôr em risco o próprio direito defendido em juízo (ex.: sua tia corre risco de vida porque o plano de saúde nega cobertura para uma cirurgia; ela pede ao juiz que determine que o plano libere autorização para a cirurgia em 24 horas, sob pena de multa). Além desses dois casos, às vezes a probabilidade do direito do autor é tão grande, mas tão grande que a lei autoriza o juiz a assegurar-lhe o gozo do direito antes mesmo do final do processo, ainda que não haja urgência alguma (ex.: o autor traz desde cedo documentos que demonstram os fatos constitutivos de seu direito e o réu não opõe prova capaz de gerar dúvida razoável).
	Nesses casos todos, estamos diante da chamada tutela provisória, que se funda em cognição 	sumária (o juiz decide com base em um exame menos profundo da causa). Vejamos um quadro 	sinótico:
							
								 Cautelar (conservativa – “geladeira”)
				
					De Urgência 
								Antecipada (satisfativa – “frigideira”)
		Provisória 
 
					Da Evidência
TUTELA 
		 Definitiva
O QUE se concede na tutela provisória de urgência? Conservação (tutela cautelar, “geladeira”) ou satisfação (tutela antecipada, “frigideira”).
POR QUE se concede a tutela provisória de urgência (quais os seus pressupostos/requisitos)? Porque há risco ao resultado útil do processo ou perigo de dano (periculum in mora) E probabilidade do direito (fumus boni iuris).
A tutela provisória, justamente por ser provisória, tende a ser substituída mais tarde (isto é, após cognição exauriente) pela tutela definitiva.
Fredie Didier adverte que não devemos confundir os termos provisório e temporário. Segundo ele: a) algo provisório é sempre preordenado a ser “trocado” pelo definitivo (ex.: ficamos hospedados num flat até que o nosso apartamento novo seja entregue pela construtora); b) algo temporário é definitivo --isto é: não será “trocado” por nada, nada virá em seu lugar--, mas seus efeitos são limitados no tempo (ex.: o andaime colocado na casa durante a pintura).
QUANDO é requerida a tutela provisória? Pode ser antes da formulação do pedido final, e então a chamamos de “tutela antecipada requerida em caráter antecedente” ou “tutela cautelar requerida em caráter antecedente”. E também pode ser quando já formulado o pedido final, hipótese em que a chamamos de “tutela antecipada requerida em caráter incidental” ou “tutela cautelar requerida em caráter incidental”. 
	O Código estabelece procedimentos específicos quando se requer antecedentemente a tutela 	antecipada 	(arts. 303/304) ou a tutela cautelar (arts. 305/310).
Se o réu não recorre da decisão que concede a tutela antecipada antecedente, o processo é extinto sem resolução do mérito e a decisão antecipatória se estabiliza (art. 304, caput e § 1º). Por que somente a tutela antecipada é passível de estabilização (e não a cautelar)? Porque não faria sentido estabilizar algo que serve para assegurar a efetividade de um processo que está extinto...
	Em caso de estabilização, qualquer das partes pode, nos 2 anos seguintes, propor ação para rever, 	reformar ou invalidar a tutela antecipada (art. 304, § 2º).
Vamos agora passar em revista, um a um, os artigos do Código que tratam do tema “tutela provisória” (294/311).
Tutelas provisórias são perfeitamente compatíveis com a Constituição, pois: a) de nada valeria garantir acesso à Justiça se, ao final do processo, o ganhador “não levasse o prêmio” (tutela provisória de urgência); b) quando o direito do autor é muitíssimo provável, não faz sentido privá-lo de sua fruição até que o processo termine (tutela da evidência). 
FORMAÇÃO DO PROCESSO
Já sabemos que o processo civil começa por iniciativa da parte (art. 2º - princípio da ação, da inércia ou da demanda, estudado por nós no semestre passado).
O processo se forma, se inicia quando a ação é proposta, ou seja, quando a petição inicial é protocolada (art. 312). A partir de então: a) se o autor repropuser a ação, o novo processo será extinto sem resolução do mérito, em razão da litispendência (art. 337, §§ 1º a 3º; art. 485, V); b) consideram-se interrompida a prescrição e obstada a consumação da decadência (art. 240, §§ 1º e 4º). 
Importante: o protocolo da petição inicial não se confunde nem com o registro, nem com a distribuição, sendo certo que estes últimos tornam prevento o juízo (arts. 55, § 1º, 57, 58 e 59 – lembrem da continência e da conexão, que estudamos juntos no último semestre).
SUSPENSÃO DO PROCESSO
Suspensão é a paralisação temporária do processo. Temporária porque um dia ele voltará a tramitar (ursinho panda hibernando não está morto; quando a primavera chegar, ele voltará a sua vida normal). Se a paralisação não fosse temporária, mas sim definitiva, estaríamos diante da extinção do processo (o ursinho panda morreu!).
Não se pratica nenhum ato enquanto o processo está suspenso, salvo quando tratar-se de ato urgente para evitar dano irreparável (art. 314 – ex.: efetivação de tutela provisória de urgência para garantir cirurgia a uma idosa, mesmo quando o processo está suspenso em razão da morte do advogado da autora).
Causas de suspensão do processo (art. 313): I – morte ou pela perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu representante legal ou de seu procurador (ver art. 76, art. 110, os §§ 1º a 3º do art. 313 e o art. 689); II – convenção das partes (nunca superior a 6 meses - §§ 4º e 5º do art. 313 – não pode o juiz indeferir tal requerimento); III – arguição de impedimento ou de suspeição (até decisão do relator – art. 146, § 2º) ; IV– admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas (em semestre futuro estudaremos o I.R.D.R., disciplinado nos arts. 976/987 – hoje interessa-nos especificamente o art. 982, I); V – a sentença de mérito: a) depender do julgamento de outra causa ou da declaração de existência ou de inexistência de relação jurídica que constitua o objeto principal de outro processo pendente (lembrem das questões prejudiciais, que estudamos no semestre passado - ex.: é proposta ação destinada à condenação do réu por descumprimento de um contrato, mas o suposto devedor já ajuizou ação para ver declarada a nulidade do contrato– a suspensão não pode durar mais do que um ano neste caso, cf. §§ 4º e 5º do art. 313); b) tiver de ser proferida somente após a verificação de determinado fato ou a produção de certa prova, requisitada a outro juízo (lembrem da carta precatória, que estudamos no semestre passado – ex.: se tenho que ouvir testemunha que mora em Campinas, expeço carta precatória para o juiz daquela comarca e meu processo fica suspenso – costuma-se dizer que, neste caso, há uma “suspensão imprópria”, pois eu só não posso julgar a causa enquanto a precatória não for cumprida e devolvida para mim pelo juiz de Campinas, a teor do art. 377 – aqui também o limite temporal é de um ano, cf. §§ 4º e 5º do art. 313); VI – motivo de força maior (força maior é evento irresistível que impede a regular tramitação do processo – ex.: há alguns anos, chuvas intensas praticamente destruíram o fórum da comarca de São Luiz do Paraitinga/SP; os processos que lá tramitavam ficaram suspensos por motivo de força maior); VII – discutir-se em juízo questão decorrente de acidentes e fatos da navegação de competência do Tribunal Marítimo (a Lei Federal n. 2.180, de1954, dispõe sobre o Tribunal Marítimo; no art. 13 está elencada a competência desse Tribunal, que é órgão auxiliar do Poder Judiciário; ex.: um navio de carga naufraga na costa brasileira; o Tribunal Marítimo está apurando as causas do naufrágio, nos termos do art. 13, I, “a”, da referida lei; o processo judicial em que o proprietário da carga postula indenização do armador deve permanecer suspenso até que o Tribunal Marítimo estabeleça por que a embarcação afundou); VIII – demais casos que o Código regula (exs.: art. 134, § 3º; art. 919, § 1º); IX – parto ou concessão de adoção, quando a advogada responsável pelo processo constituir a única patrona da causa (prazo: 30 dias – § 6º do art. 313; X – o advogado responsável pelo processo é o único patrono da causa e torna-se pai (prazo: 8 dias – § 7º do art. 313).
EXTINÇÃO DO PROCESSO
A extinção do processo sempre se dá por uma sentença (art. 216), assim chamado “o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução” (art. 203, § 1º).
O processo é instrumento, é método de trabalho. Não é um fim em si mesmo. Sempre que possível, o juiz deve resolver o mérito. Como veremos ainda neste semestre, o “sonho dourado” do juiz tem de ser proferir sentença com base no art. 487 (chamada sentença definitiva). Se não for realizável o sonho dourado, então o magistrado fica com o “sonho prateado”, qual seja, o de proferir sentença com base no art. 485 (chamada sentença terminativa).
Antes de proferir sentença que não resolva o mérito (terminativa), deve o juiz conceder à parte oportunidade para, sendo isso possível, corrigir o vício (art. 317). Ex.: verificando que o autor esqueceu de atribuir valor à causa, o juiz deve conceder-lhe 15 dias para aditar a petição inicial e somente mais tarde, caso não seja atendida a determinação, extinguir o processo sem resolução do mérito – art. 321, caput e par. único; art. 485, I – lembrem da diferença entre “aditamento” e “emenda”, estudada por nós no semestre passado). 
COISA JULGADA
“Justiça” e “Segurança” são valores relevantes para o Direito (o objetivo do recurso é diferente do objetivo da prescrição, por exemplo). A coisa julgada visa a prestigiar a segurança jurídica, não a justiça.
Depois que se desenvolve cognição exauriente (já estudada no tema “tutela provisória”), a decisão judicial proferida tem vocação para tornar-se imutável e indiscutível (é imutável porque indiscutível ou indiscutível porque imutável?). Mais dia, menos dia já não cabe recurso algum. Pois no exato instante em que uma sentença ou acórdão não é mais passível de recurso, dizemos que houve trânsito em julgado. 
Coisa julgada material é a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso (art. 502). 
	A imutabilidade/indiscutibilidade se opera dentro e fora do processo em que proferida a decisão 	de mérito.
	 Depois de formada a coisa julgada material: a) não é possível sequer que lei venha a modificá-la 	(art. 5º, XXVI, da CF); b) caso seja reproposta a ação, o novo processo deve ser extinto sem 	resolução do mérito (art. 485, V, do CPC).
Ao lado da coisa julgada material, costuma-se mencionar a coisa julgada formal. Fredie Didier ensina que a coisa julgada material é a coisa julgada propriamente dita e que a coisa julgada formal é uma espécie de preclusão. 
	Coisa julgada formal é a “preclusão máxima”, a imutabilidade/indiscutibilidade da sentença ou 	acórdão enquanto ato do processo.
Temos então uma imutabilidade endoprocessual (relacionada à coisa julgada formal) e uma imutabilidade exoprocessual ou pan-processual (relacionada à coisa julgada material).
Quais sentenças têm aptidão para produzir coisa julgada material? As do art. 487, apenas.
	Quais sentenças têm aptidão para produzir coisa julgada formal? As dos arts. 485 e art. 487. 
Falar dos limites objetivos da coisa julgada é responder à seguinte pergunta: o que (da sentença ou do acórdão) se torna imutável/indiscutível? 
	Sentenças e acórdãos devem ter relatório, fundamentação e dispositivo* (art. 489, I a III), salvo em 	processos do JEC (art. 38 da Lei 9.099/95).
	O que se torna imutável/indiscutível é o dispositivo* (v. caput do art. 503 e incs. I e II do art. 504).
	
O CPC atual inovou ao estender a imutabilidade/indiscutibilidade à questão prejudicial decidida expressa e incidentemente no processo, se: I - dessa resolução depender o julgamento do mérito; II - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se 	aplicando no caso de revelia; III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal (art. 503, § 1º).
	Caso 1 – Fabiana propõe ação de alimentos em face de seu pai Constantino. Na contestação, o 	réu afirma que está na miséria e nega a paternidade. Para julgar os alimentos, o juiz obviamente 	terá que decidir, antes, se a autora é ou não filha do réu. Pois a decisão do juiz sobre a questão 	prejudicial (paternidade) ficará coberta pela coisa julgada.
	Caso 2 – Uma doméstica promove reclamação trabalhista em face de Joana e Antenor, 	 	afirmando que trabalhava 3 dias por semana no apartamento deles e que, apesar disso, jamais 	recebeu verbas trabalhistas (férias, 13º salário). Em sua defesa, Antenor diz que era mero namorado 	de Joana e frequentador eventual do apartamento dela. Como o juiz do trabalho 	 não tem 	competência para decidir o tema “união estável”, a questão prejudicial não ficará coberta pelo 	manto da coisa julgada (motivo: inc. III do art. 503, § 1º).
Falar dos limites subjetivos da coisa julgada é responder à seguinte pergunta: quem fica sujeito à imutabilidade/indiscutibilidade? 
	Resposta: as partes (art. 506). Contudo, como esse mesmo dispositivo impede que a sentença 	prejudique terceiros, fica esta boa dúvida: então a sentença pode beneficiar terceiros? Pode, sim!
	Caso 1: O locador “A” promove ação de cobrança de aluguéis em face do inquilino-afiançado 	“B”. Na sentença, o magistrado decide que não há débito e julga a ação improcedente. Se o 	locador propuser agora uma ação para cobrar os mesmos aluguéis em face do fiador “C”, este 	poderá invocar a sentença anteriormente proferida para 	sustentar que não há débito (“C” foi 	terceiro, mas estaria agora se beneficiando da sentença anteriormente proferida). 
	Caso 2 – Na mesma hipótese anterior, o magistrado considerou existente o débito e julgou a ação 	de cobrança procedente, condenando o inquilino-afiançado a pagar os aluguéis atrasados. Se o 	locador propuser mais tarde uma ação para cobrar do fiador o mesmo débito, não poderá invocar 	em prejuízo de “C” a anterior sentença de procedência. No 	caso, a sentença estaria 	prejudicando “C”, que era terceiro no primeiro processo. 
PROCEDIMENTOCOMUM
Procedimento é a sucessão lógica e cronológica dos atos processuais. No processo (ou fase/etapa, como vimos no semestre passado ao estudarmos o “processo sincrético”) de conhecimento, temos 3 espécies de procedimento: 1ª) especial, previsto nos arts. 539-770 do CPC e na legislação extravagante; 2ª) sumaríssimo, aplicável nos processos dos Juizados Especiais (art. 98, I, CF; Leis 9.099/95 e 10.259/01); 3ª) comum, disciplinado nos arts. 318 e ss. do CPC. 
 
O procedimento comum: a) é residual, ou seja, se aplica sempre que não haja previsão legal de outro (art. 318, caput); b) se aplica de modo subsidiário aos demais procedimentos (art. 318, p. ún – ex.: em audiência de processo do Juizado ou em ação de despejo, pode o advogado da parte dirigir perguntas diretamente à testemunha? pode sim, por força do art. 459, caput, do CPC).
No procedimento comum, as fases postulatória, de saneamento (o programa oficial da nossa Faculdade adota o vocábulo “saneatória”), instrutória e decisória são relativamente bem divididas, embora não estanques (ex.: a petição inicial costuma ser instruída com documentos).
	A fase postulatória (postular é pedir, requerer) começa com a petição inicial, passa pela 	contestação (com possibilidade de reconvenção pelo réu, nos termos do art. 343, caput) e termina 	com a réplica do autor (arts. 350 e 351).
	A fase de saneamento (sanear é limpar, sarar, remover falhas) vem logo após a postulatória. 	Se o juiz verifica a existência de irregularidades ou vícios sanáveis, deve determinar sua correção 	em prazo nunca superior a 30 dias (art. 352). Ex.: lendo a contestação e os documentos que a 	instruem, o magistrado verifica que não há nos autos procuração outorgada pelo réu; neste caso, 	determinará a vinda da procuração.
 	A fase instrutória (instruir, segundo o Dicionário Houaiss, é transmitir ou adquirir conhecimento) diz 	respeito fundamentalmente às provas. O juiz não pode ter conhecimento próprio acerca 	 dos 	fatos relevantes para a solução do litígio, salvo se se tratar de fatos notórios. Sendo assim, para 	instruir-se/adquirir conhecimento sobre os fatos controvertidos, o magistrado precisa das provas 	(meios pelos quais se demonstra um fato alegado). Sobre documentos, o STJ decidiu em 	10/10/2016: “A regra prevista no art. 396 do Código de Processo Civil, segundo a qual incumbe à 	parte instruir a inicial ou a contestação com os documentos que 	forem necessários para provar o 	direito alegado, somente pode ser excepcionada se, após o 	ajuizamento da ação, surgirem 	documentos novos, ou seja, decorrentes de fatos supervenientes ou que somente tenham sido 	conhecidos pela parte em momento posterior (CPC, art. 397)” (AREsp. 961.956, rel. Ministro MOURA 	RIBEIRO). 
	Quando necessária, perícia vem antes da audiência. Se pertinente prova oral, o juiz 	designa 	audiência (audiência é o ato no qual se fala e se ouve) e nela colhe depoimentos pessoais 	das partes e inquire as testemunhas. 
	
	Depois de colhidas as provas (isto é: após encerrada a fase instrutória), passa-se à fase decisória, na 	qual o juiz profere sentença e com ela encerra o processo de conhecimento ou (caso se trate 	de “processo sincrético”) a fase/etapa de conhecimento, em 1º grau de jurisdição. A partir 	daí vêm os recursos, que podem consumir anos e serão estudados por nós em semestre futuro. 
PETIÇÃO INICIAL
Por força do princípio da demanda (= princípio da ação = princípio da inércia), que 	estudamos no último semestre, o juiz não inicia o processo ex officio. É preciso que o demandante 	 (autor, exequente) dê “o pontapé inicial”. 
Petição inicial “é a peça por meio da qual se faz a propositura da ação” (Marcus 	Vinicius Rios Gonçalves). Ela é, como diz Fredie Didier, “um projeto de sentença: contém aquilo que o demandante almeja ser o conteúdo da decisão que vier a acolher o seu pedido”. O autor 	pediu a substituição do veículo zero km defeituoso por outro em perfeito estado? Não pode 	o juiz desfazer a compra e venda e mandar a concessionária devolver o preço ao autor. O 	 autor pleiteou indenização de 5 mil pelos danos morais que sofreu? Não pode o juiz 	condenar o réu ao pagamento de 10 mil a esse título. Mais tarde estudaremos a necessária correlação entre pedido e sentença.
Forma da petição inicial: quase sempre escrita, mas nos processos do JEC admite-se postulação oral (art. 14, caput, da Lei 9.095/99).
Quem assina? Quem tenha capacidade postulatória, tema visto por nós no semestre passado (pressupostos processuais). Normalmente é o advogado ou o defensor público ou ainda o representante do Ministério Público. Há casos em que a lei confere capacidade postulatória ao próprio cidadão leigo (ex.: processos do JEC em que o valor da causa não supere 20 salários mínimos – art. 9º, caput, da Lei 9.099/95). 
	Requisitos da petição inicial
O juízo a que é dirigida (geralmente vem no cabeçalho – “Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da ... Vara Cível da Comarca de Mogi das Cruzes”).
Os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu. É o elemento subjetivo da ação, estudado por nós no último semestre.
	Objetivos: a) evitar litígio com pessoas incertas; b) permitir que o juiz verifique se é caso de 	litisconsórcio necessário (ex.: art. 73, § 1º); c) permitir que o juiz exija caução (art. 83); 	d) julgamento 	do requerimento de “justiça gratuita” (um deputado não tem condições de pagar custas de 	R$ 250,00?).
	Se o autor for nascituro, é identificado como “nascituro de Maria da Silva”.
	Os requisitos aqui previstos sofrem temperamento nos §§ 1º a 3º do art. 319.
	Decidiu o STJ: “A citação do réu desconhecido, por edital (CPC, art. 231, I*), é medida 	excepcional, somente admitida quando possível determinar ao menos o grupo de pessoas a que é 	dirigida, como, v.g., nos casos de ações possessórias contra invasores de imóvel, 	impossibilitando autor, em razão da verdadeira multidão instalada no bem, identificar cada 	um dos que molestavam a sua posse. 	Precedentes” (Agravo em Recurso Especial 841.122–SP, j. 	18/10/2016). Obs: no CPC-2015, o artigo é 256, I*.
O fato e os fundamentos jurídicos do pedido. Lembram que no semestre passado estudamos os elementos da ação? Pois aqui está a causa de pedir: próxima (fundamentos jurídicos do pedido) e remota (fato).
O pedido com as suas especificações. Já imaginaram uma petição inicial sem pedido? Ninguém vai ao Judiciário por mero deleite; vai para postular (pedir) algo. O pedido é outro elemento objetivo da ação, estudado por nós no último semestre.
O valor da causa. A toda causa deve ser atribuído valor certo, mesmo que não haja conteúdo econômico imediatamente aferível (art. 291). As regras para atribuição de valor à causa estão nos incisos I a VIII do art. 292. O valor da causa serve de base de cálculo das custas (Lei Paulista 11.608/03) e serve, às vezes, para definir a competência (nos Foros Regionais da Capital, como vimos no semestre passado, geralmente só tramitam causas cujo valor não supera 500 salários mínimos).
As provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados. Apesar desta previsão, a praxe consagra o uso da expressão “protesta provar os fatos alegados por todos os meios em Direito admitidos, sem exceção de nenhum deles, por mais excepcional que seja”. Não se esqueçam de que o juiz pode determinar ex officio a produção de provas (art. 370, caput). 
A opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. O Código atual faz uma grande aposta na solução autocompositiva (= consensual = amigável) do litígio. Lembrem do que falamos sobre conciliação e mediação no semestre passado. A rigor, essa audiência só não se realiza se ambas as partes disserem que não têm interesse em sentar-se à mesa na busca de um acordo(art. 334, § 4º, I).
A petição inicial deve ser instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação (art. 320). Todos os documentos de que o autor já dispuser, e que forem relevantes para a solução do litígio, devem acompanhar a petição inicial.
Se o juiz vir que a petição inicial não preenche os requisitos vistos acima, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor a emende ou complete em 15 dias, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado (art. 321, caput). Emendar (= corrigir) é diferente de completar (= aditar). Vocês, que serão juízas e juízes um dia, têm que saber a distinção!
	E se o autor não cumprir a determinação nos 15 dias? O juiz indefere a petição inicial e extingue o 	processo sem resolução do mérito (art. 321, par. ún., c/c o art. 485, I).
Façamos uma comparação útil entre a atividade do médico (perante seu paciente) e a atividade do advogado (perante seu cliente). Anamnese X Causa de Pedir Remota. Diagnóstico X Causa de Pedir Próxima. Tratamento X Pedido.
	O que acontece com o médico incompetente que não sabe interpretar as queixas e sintomas do 	cliente? Vai chegar a um diagnóstico errado. O mesmo se dá com o advogado que não sabe 	dar correta interpretação jurídica aos fatos que o cliente lhe narra. 
	Considera-se inepta a petição inicial, dentre outras hipóteses, quando, da narração dos fatos,	não decorre logicamente a conclusão (art. 330, § 1º, III).
	Sabendo que o interesse de agir repousa no binômio necessidade-adequação, é fácil perceber 	que existe uma relação estreita entre a causa de pedir e o interesse.
No semestre passado estudamos os elementos da ação e vimos que: a) o pedido mediato é o “bem da vida” pretendido (R$ 5.000,00, um automóvel etc.); b) o pedido imediato, de cunho eminentemente processual, é o provimento jurisdicional pretendido (sentença que condene o réu a pagar R$ 5.000,00, sentença que declare que o réu é pai do autor, instrumento sub-rogatório no despejo forçado do inquilino inadimplente etc.).
	Vimos, também, que: a) o nosso Código adota a teoria da substanciação, segundo a qual 	deve o 	autor declinar na petição inicial as causas de pedir próxima e remota; b) a teoria da individuação 	(= individualização) se satisfaz com a causa de pedir próxima; c) a causa de 	pedir remota diz 	respeito aos fatos (fatos constitutivos do direito do autor e fatos geradores do interesse de agir – ex.: 	autor e réu celebraram, em 26/09/2016, um contrato de locação 	do apartamento “x”; no mês de 	fevereiro de 2017, o réu-inquilino não pagou aluguel); d) a 	causa de pedir próxima diz respeito à 	qualificação jurídica, ao enquadramento jurídico que o autor dá aos fatos que afirma 	(configurada está a infração contratual, no caso do inquilino). 
	Classificação dos Pedidos
 	
Deve o autor formular pedido certo (art. 322, caput) e determinado (art. 324, caput).
Pedido certo é aquele que indica a natureza do bem da vida pretendido, permitindo sua perfeita identificação (quero dinheiro, quero cabeças de gado, quero silêncio à noite, quero que as cláusulas “x” e “y” do contrato sejam anuladas etc.). Se o bem da vida for quantificável, o pedido também deve ser determinado, ou seja, é preciso apontar a exata quantidade pretendida (quero 10 mil reais; quero três automóveis Honda Fit zero quilômetro etc.).
Excepcionalmente, o Código autoriza a formulação de pedido genérico (= ilíquido = indeterminado). Eis as hipóteses (art. 324, § 1º): I – nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados (investigação de paternidade c/c petição de herança); II – quando não é possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato (jovem modelo sofre acidente e terá de se submeter a várias cirurgias plásticas); III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depende de ato que deva ser praticado pelo réu (condomínio ajuíza ação de prestação de contas em face de ex-síndico e pede que este lhe restitua valores cuja apuração depende da análise de documentos que foram retidos pelo réu).
Pedido simples: é aquele em que se pretende só um bem da vida (“quero a condenação do réu a me pagar R$ 50 mil”).
Quando o autor pretende um bem da vida ou outro, diz-se que o pedido é alternativo (quero que a concessionária Honda me entregue um Fit zero quilômetro ou ne restitua o preço que paguei a ela pelo carro). Vejam os arts. 325 (caput e par. ún.) e 326 (par. ún.).
Quando o demandante pretende um certo bem da vida e, caso este não seja acolhido, 	deseja um outro bem, tais pedidos se chamam principal (o “sonho dourado”) e subsidiário (o “sonho prateado”), respectivamente. Ex.: quero que o réu me entregue o cavalo de raça 	 que adquiri, mas, se o animal houver morrido, pretendo reaver os 200 mil que paguei por ele. Confiram o art. 326, caput. 
Às vezes o demandante formula dois pedidos e o segundo só pode ser examinado quando o primeiro for procedente. Ex.: criança propõe ação de investigação de paternidade, 	cumulada om alimentos, em face de seu suposto pai. Para apreciar o pedido de alimentos 	(= pensão), o juiz deve ter reconhecido, antes, que o réu é pai do pequeno autor. Os alimentos são o pedido sucessivo, no exemplo.
	Cumulação de Pedidos
No tópico anterior, vimos hipóteses em que o autor formula mais de um pedido. Nesses casos, 			temos a chamada cumulação de pedidos ou cumulação objetiva (o pedido pode chamar-se 		“objeto” --- no semestre passado estudamos o litisconsórcio, chamado de cumulação subjetiva).
De acordo com o § 1º do art. 327, são requisitos de admissibilidade da cumulação: I – que os pedidos sejam compatíveis entre si (salvo em casos de pedido subsidiário ou alternativo, cf. § 3º do art. 327); II – que seja competente para conhecer deles o mesmo juízo; III – que seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento (mas vejam a possibilidade que abre o § 2º do art. 327).
ADITAMENTO E ALTERAÇÃO DO PEDIDO E DA CAUSA DE PEDIR
Até a citação, pode o autor aditar (= fazer acréscimo) e alterar (= fazer modificação) tanto o pedido quanto a causa de pedir, independentemente de consentimento do réu (art. 329, I). Se a relação processual é ainda linear e o réu ainda não está integrado a ela, nem haveria como colher-se a anuência do réu. Para recordar os temas “pedido” e “causa de pedir”, leia o nosso Roteiro de Aulas do semestre passado, quando estudamos os elementos da ação.
Entre a citação e o saneamento do processo, para o autor aditar ou alterar a petição inicial ele precisa do consentimento do réu, a quem serão concedidos no mínimo 15 dias para manifestação (art. 329, II). 
Lição de Fredie Didier: “Após o saneamento, é vedada qualquer alteração objetiva promovida pelo autor, mesmo com o consentimento do réu”.
O TJSP considerou possível a aceitação tácita (Apelação n. 9000169- 50.2003.8.26.0090, 14ª Câmara de Direito Público, j. 21/03/2013).
	TEORIAS DA ASSERÇÃO (= prospectação) E DA EXPOSIÇÃO (= apresentação)
As condições da ação “são requisitos da existência do direito ao exercício da função jurisdicional sobre determinada pretensão de direito material” (LEONARDO GRECO).
No CPC vigente, são duas as condições da ação: legitimidade das partes (= legitimação para a causa = legitimidade ad causam = legitimatio ad causam) e interesse de agir (= interesse processual = legítimo interesse). Faltando uma ou ambas, o juiz normalmente extingue o processo sem resolução do mérito (art. 485, VI). Flexibilização interessante no art. 488.
Para meditar “1”: celebrei contrato de comodato (empréstimo) com você, tendo por objeto um apartamento; querendo o imóvel de volta, proponho ação de despejo alegando que existe entre nós locação e que você me deve aluguéis. Supondo que, durante a fase instrutória, a verdade venha à tona, como deve o juiz decidir? 
Para meditar “2”: emprestei R$ 1.000,00 a uma aluna, sem juro algum, mediante a promessa de que ela me reembolsariaa quantia em 30 dias; após um mês, a jovem afirma que não irá pagar-me; verificando que a estudante não tem patrimônio, promovo ação contra seu pai, afirmando que foi ele o tomador do empréstimo. Se o juiz descobrir a verdade após ouvir testemunhas, como deve julgar o processo?
Haveria diferença na solução dos dois casos, se a verdade fosse dita já na petição inicial? 
 
asserção = afirmação; assertiva = afirmativa
Para a Teoria da Asserção, as condições da ação devem ser aferidas à luz da petição inicial, ou seja, de acordo com o que o autor afirma.Saber se as asserções (afirmações) do autor são verdadeiras é importante, mas para solucionar o mérito. A teoria oposta é a da Apresentação (= Exposição). 
No dia 22/11/2016, o STJ adotou a Teoria da Asserção: “As condições da ação são averiguadas de acordo com a teoria da asserção, razão pela qual, para que se reconheça a legitimidade ativa, os argumentos aduzidos na inicial devem possibilitar a inferência, em um exame puramente abstrato, de que o autor pode ser o titular da relação jurídica exposta ao juízo. Se, com o aprofundamento da instrução probatória, for constatado que o autor não é o titular da relação jurídica deduzida na lide, o processo deverá ser extinto com a resolução do mérito, nos termos do art. 269, I, do CPC/73, pois o juiz, nessa hipótese, deverá rejeitar o pedido do autor” (REsp. 1.605.470/RJ, 3ª Turma, rel. Ministra Nancy Andrighi).
Juízo de admissibilidade ordinário. Cabe ao juiz examinar atentamente a petição inicial e, verificando que ela não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320, ou que apresenta defeitos/irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinar que o autor a emende ou complete no prazo de 15 dias (art. 321). Já sabemos a diferença entre emendar (= corrigir) e completar (= aditar).
Juízo de admissibilidade negativo. Se o autor não coloca a petição inicial em termos (isto é: não a adita ou emenda nos 15 dias), resta ao juiz apenas indeferi-la e extinguir o processo sem resolução do mérito (art. 321, par. ún., c/c o art. 485, I).
Apesar das posições antagônicas das partes e da autoridade (estatal) exercida pelo juiz, todos os sujeitos do processo participam da mesma relação jurídica e têm de colaborar entre si para que se chegue a um bom termo, ou seja, a uma decisão de mérito justa, efetiva e ministrada em tempo razoável. É o princípio da cooperação, consagrado no art. 6º do CPC. Sob a ótica do juiz, cooperar significa, entre outras coisas, advertir as partes sobre deficiências das manifestações e riscos das estratégias por elas adotadas, ordenando a correção de defeitos sempre que possível. Extinção do processo sem resolução do mérito (art. 487) deve ser reservada para casos-limite. Trata-se do dever de prevenção, consagrado, por exemplo, nos arts. 321 (caput), 352 e 772, II.
A petição inicial pode apresentar vários defeitos (falta de qualificação das partes, incorreção do valor da causa etc.). Em casos específicos, relacionados à causa de pedir e ao pedido, diz-se que a petição inicial é inepta. Considera-se inepta a petição inicial quando: I - lhe faltar pedido ou causa de pedir; II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se admite pedido genérico; III - a narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; IV - ela contiver pedidos incompatíveis entre si (art. 330, § 2º). Atenção: inépcia é apenas um dos vários motivos que levam ao indeferimento da petição inicial (vide incisos I, II, III e IV do art. 330, caput). 
Em regra, a sentença de mérito só é proferida depois que o réu é citado. Há casos, porém, em que o Código admite a improcedência liminar do pedido. Aqui o juiz resolve o mérito antes mesmo da citação do réu. Vocês poderão pensar: “Mas isso não viola o contraditório? Como julgar o mérito sem dar chance de defesa ao réu?” Reparem bem: haverá improcedência liminar do pedido formulado pelo autor. Se o réu vai vencer, não pode queixar-se de não ter sido ouvido...
	Nas causas que dispensem fase instrutória (isto é: produção de provas), o juiz julga liminarmente 	improcedente o pedido que contrariar: I – enunciado de súmula do STF ou do STJ (estudaremos 	juntos, em semestre futuro, o que são “súmulas”); II – acórdão proferido 	pelo STF ou pelo STJ em 	julgamento 	de recursos repetitivos (estudaremos juntos, em semestre futuro, os chamados “recursos 	repetitivos”); III – entendimento firmado em incidente de resolução do demandas repetitivas ou de 	assunção de competência (estudaremos juntos, em semestre futuro, o “I.R.D.R.” e o “I.A.C.”); IV – 	enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local (art. 332, I a IV). 
	
	Caso verifique decadência ou prescrição, o juiz também julga liminarmente improcedente o 	pedido (art. 332, § 1º). 
Há recursos que, uma vez interpostos, permitem que o juiz prolator da decisão se retrate, reveja a sua decisão. Diz-se, nesses casos, que os recursos têm efeito regressivo. A apelação interposta contra sentença que indefere a petição inicial e contra sentença que julga liminarmente improcedente o pedido tem efeito regressivo (art. 331, caput; art. 332, § 3º). Chama-se efeito regressivo porque o tema “regride”, “volta” para o magistrado a fim de que ele eventualmente reveja o seu posicionamento. Voltaremos ao tema, com riqueza de detalhes, no semestre dedicado aos “Recursos”.
	CITAÇÃO
Se a petição inicial estiver em termos e não for caso de improcedência liminar do pedido, o próximo passo é a citação do réu, ato de comunicação pelo qual a relação processual se “triangulariza”. O despacho “cite-se” é conhecido como “despacho liminar positivo”.
Conceito previsto no art. 238: “Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o interessado para integrar a relação processual”.
Efeitos da citação: a) induzir litispendência (art. 240, caput - efeito processual); b) tornar litigiosa a coisa (art. 240, caput - efeito material ou substancial; lembrem do que estudamos no último semestre sobre a “sucessão das partes” – arts. 108 e 109); c) constituir em mora o devedor (art. 240, caput - outro efeito material ou substancial; atenção para a chamada mora ex re, estudada em Direito Civil – art. 397/CC; confiram também o art. 398/CC e a Súmula 54/STJ); d) interromper a prescrição, caso o autor seja desidioso (efeito material ou substancial - art. 202, I/CC; art. 240, § 2º/CPC). 
Modalidades de citação
 postal/pelo correio (art. 246, I; art. 247, I a IV; art. 248, caput e §§)
pessoal/real por oficial de Justiça (art. 246, II; art. 249; art. 250; art. 251; art. 255)
				 por escrivão ou chefe de secretaria (art. 246, III)
				 por meio eletrônico (art. 246, V – a lei específica é a nº 11.419/06) 	
	
				 por edital (art. 246, IV; art. 256; art. 257; art. 258; art. 259)
ficta 	
			 com hora certa (art. 252; art. 253; art. 254)
A citação por meio eletrônico “exige, basicamente, um elemento fundamental: que o citando 	esteja de alguma forma publicamente cadastrado, com endereço eletrônico (e-mail) seguro e 	certificado (de modo que seja efetivamente apurado e assegurado o recebimento da citação), 	junto 	ao Poder Judiciário” (Teresa Wambier, Maria Lúcia Conceição, Leonardo Ribeiro e Rogerio 	de Mello).
Vício de citação é o mais grave que pode acometer um processo, sobrevivendo até mesmo ao prazo da ação rescisória (é um vício transrescisório, como veremos em semestre futuro).
O CPC vigente faz uma aposta na solução autocompositiva dos conflitos (art. 3º, § 3º) e, para isso, prevê audiência de conciliação ou de mediação logo no início do procedimento (revejam o que estudamos no semestre passado sobre “mediação” e “conciliação”, “mediador” e “conciliador”).
O juiz designa essa audiência e manda citar o réu para a ela comparecer (art. 334, caput).
A parte que não comparece ou não manda representante à audiência de conciliação/mediação sujeita-se a multa (art. 334, § 8º).
Dúvida: basta o desinteressede uma parte para que não se realize a audiência de conciliação/mediação? Aparentemente, não basta (v. art. 334, § 4º, I – “ambas”). Mas há dissenso a respeito!
Quando não for sequer teoricamente admissível a autocomposição (litígio envolvendo a Fazenda Pública, p. ex.), não se designa audiência de conciliação/mediação (art. 334, § 4º, II).
Se for obtido acordo (autocomposição) na audiência, o juiz o homologa por sentença (§ 11 do art. 334; inc. III, alínea “b”, do art. 487). Do contrário, passa a fluir o prazo de 15 dias para o réu contestar a ação (art. 335, I).
Se o réu anunciar, com a antecedência devida, que não tem interesse na audiência de conciliação/mediação, passa a fluir prontamente o prazo para ele contestar (art. 334, § 5º; art. 335, II).
	CONTESTAÇÃO
É o veículo pelo qual se exerce o direito de defesa, seja ela processual dilatória, processual peremptória 	(“preliminares”; art. 337; exceção: art. 146, caput), material direta ou material indireta (art. 336; art. 	373, II).
Trata-se da peça na qual o réu deve alegar tudo o que puder, ainda que se trate de alegações logicamente incompatíveis (ex.: “o autor não me entregou as mercadorias, mas, se elas foram entregues, apresentavam 	defeitos”), sob pena de não poder fazê-lo mais tarde. É o princípio da eventualidade ou da concentração da defesa, consagrado no art. 336 (“incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa”). 
Além disso, cabe ao réu rebater todas as alegações de fato constantes da petição inicial, sob pena de se considerarem verdadeiras. É o princípio da impugnação específica (= especificada), adotado no caput do art. 341 (exceções se acham nos três incisos – “negativa geral”). 
Fatos não impugnados serão tomados como incontroversos e sobre eles não serão produzidas provas (art. 374, III).
Contestação quase sempre é apresentada por escrito (exceção: art. 30 da Lei 9.099/95 – JEC).
É de 15 dias o prazo para a contestação (exceções: arts. 180, 183, 186 e 229), contado: I - da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não houver autocomposição; II - do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação ou de mediação apresentado pelo réu; III - das datas previstas nos incisos I a VI do art. 231 (art. 335).
	REVELIA E SEUS EFEITOS
Revelia é ausência de contestação; revel é quem não contesta. 
Efeito material da revelia: presunção (relativa, cf. inc. IV do art. 345) de veracidade dos fatos alegados pelo autor (art. 344 – quem cala, consente). 
	Primeiro efeito processual da revelia: julgamento antecipado do mérito (art. 355, II). 
	Segundo efeito processual da revelia: fluência de prazos a partir da publicação do ato decisório no 	D. J. E., se o revel não tiver advogado constituído (art. 346, caput). 
Às vezes não se opera o efeito material (incs. I a III do art. 345). 
O revel pode intervir no processo a todo tempo, sem retrocessos procedimentais (art. 346, par. ún.).
O revel pode produzir provas contrapostas às alegações do autor, desde que ingresse nos autos a tempo de fazê-lo (sem retrocessos...).
	RECONVENÇÃO
A contestação é uma peça de resistência; com ela, o máximo que o réu pode esperar é que nenhum dos 	pedidos formulados pelo autor seja acolhido. Porém, muitas vezes o réu quer mais: quer formular também ele um pedido contra o autor. Para fazer contra-ataque, o réu deve propor uma reconvenção.
Conceito: “A reconvenção é uma nova ação, proposta pelo réu contra o autor, no processo já em curso e que foi iniciado pelo autor” (Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini).
Reconvenção é proposta na própria contestação, não em petição autônoma (art. 343, caput).
A reconvenção é uma ação autônoma, que pode ser julgada ainda que não venha a ser julgada a ação (§ 2º do art. 343).
Pressupostos: 
	a) conexão com a ação principal ou com o fundamento da defesa. Ex.1: autor deixou seu “pet” 	em hotel mantido pela ré e propõe ação para reaver o animalzinho; a ré reconvém postulando 	R$ 500,00 que teria gasto com veterinário, durante a estadia do cão (conexão pela causa de 	pedir, embora distintos os pedidos); Ex.2: marido propõe ação de separação em face da 	esposa, 	afirmando que ela o traiu; a mulher reconvém pedindo separação em virtude de sevícias 	praticadas pelo marido (conexão pelo 	pedido, embora distintas as causas de pedir); 	 Ex.3: autor 	propõe ação de cobrança de R$ 5.000,00; dizendo-se credor de R$ 5.500,00, o réu contesta
	alegando compensação; para receber a diferença de R$ 	500,00, o réu ainda 	reconvém (conexão 	com o fundamento da defesa). 
	b) que o juízo seja competente para a ação e também para a reconvenção. Já decidiu o TJSP: 	“Conflito negativo de competência. Ação com escopo de indenização por dano moral. 	Reconvenção apresentada pela ré, por meio da qual requereu reconhecimento e dissolução 	de união estável supostamente mantida entre as partes. Remessa dos autos à 2ª Vara da 	 Família 	e das Sucessões. Inadmissibilidade. Hipótese na qual a admissão de lide reconvencional 	pressupõe observância a critérios de competência absoluta. Matéria invocada na demanda 	principal não afeta a direito de família. Conflito procedente. Competência 	do MM. Juiz de 	Direito da 6ª Vara Cível da Comarca de São Vicente, ora suscitado” (C.C. 0135121-	20.2011.8.26.0000, Câmara Especial, j. 12/12/2011). 
No Estado de São Paulo, o reconvinte tem de recolher custas (art. 4º, I, da Lei Paulista 11.608/2003).
Pode o réu litisconsorciar-se com terceiro para reconvir em face do autor (art. 343, § 4º - litisconsórcio 	ativo na reconvenção).
Pode a reconvenção ser proposta em face do autor e de um terceiro (art. 343, § 3º - litisconsórcio passivo na reconvenção).
Se o autor for substituto processual (lembrem da legitimação extraordinária, que estudamos no semestre passado), o reconvinte deve afirmar-se titular de direito em face do substituído e a reconvenção é proposta 	em face do autor, também na qualidade de substituto processual. Ex.: Ministério Público propõe ação de reparação de danos morais em face de suposto criminoso, como substituto processual da pobre vítima estuprada (base: art. 68 do CPP); o réu reconvém postulando danos morais derivados das calúnias que a moça lhe dirigiu.
Proposta a reconvenção, o autor-reconvindo é intimado, na pessoa de seu advogado (lembram dos poderes “ex lege” que vimos no último semestre?), para oferecer resposta (= defesa) no prazo de 15 dias. 
No dia 16/08/2016, o STJ assentou: “Nenhum óbice há [...] ao oferecimento da reconvenção à reconvenção” (EDcl no REsp. 1.480.253, decisão monocrática do Min. RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA). É a chamada reconventio reconventionis.
A reconvenção é julgada na mesma sentença que a ação.
	PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES
Decorrido o prazo para contestação, com ou sem esta peça, os autos devem ser conclusos ao juiz para as chamadas providências preliminares.
Possibilidade 1: caso tenha havido revelia e não seja caso de presunção de veracidade (efeito material que estudamos há pouco), o juiz determina que o autor especifique as provas que deseja produzir, se ainda não as indicou (art. 348).
Possibilidade 2: se o réu tiver alegado fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, o juiz franqueia a este manifestação no prazo de 15 dias e permite-lhe produzir prova (art. 350 – defesa material indireta, já estudada por nós neste semestre – réplica é a resposta do autor à contestação).
Possibilidade 3: se o réu houver apresentado defesa processual (“preliminares” – art. 337), o juiz também franqueia manifestação ao autor no prazo de 15 dias e permite que ele produza prova (art. 351).
Possibilidade 4: verificando que há irregularidades/vícios sanáveis (ex.: o nome do advogado que assinou a contestação não figura na procuração juntada), o juiz determina a sua correção em prazo nunca superior a 30 dias (art. 352).
JULGAMENTO CONFORMEO ESTADO DO PROCESSO
Logo depois das providências preliminares (ou quando não é caso de tomar nenhuma delas), passa-se ao julgamento conforme o estado do processo.
1ª possibilidade - o juiz profere sentença, seja ela de mérito (art. 487), seja ela terminativa (art. 485). Isso está contemplado no CPC sob os rótulos “Da Extinção do Processo”, “Do Julgamento Antecipado do Mérito” e “Do Julgamento Antecipado Parcial do Mérito” (arts. 354 a 356). 
2ª possibilidade - o juiz saneia e organiza o processo, algo que ocorre quando não for possível proferir sentença. Deve o juiz: a) resolver as questões processuais pendentes, declarando saneado o processo (art. 357, I); b) delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando os meios de prova admitidos (art. 357, II); c) definir a distribuição do ônus da prova, com olhos postos no art. 373 (art. 357, III); d) delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do mérito (art. 357, IV); e) designar, se preciso, audiência de instrução e julgamento (art. 357, V). 
Realizado o saneamento, podem as partes pedir esclarecimentos ou solicitar ajustes em 5 dias; após esse prazo, a decisão se torna estável (art. 357, § 1º).
As partes podem apresentar ao juiz delimitação amigável das questões de fato e de direito; se houver homologação, a delimitação vincula as partes e o juiz (art. 357, § 2º).
Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, deve o juiz designar audiência (“audiência de saneamento e organização do processo”) para que o saneamento seja feito em cooperação com os litigantes, hipótese em que o magistrado pode inclusive convidar as partes a integrar ou esclarecer suas alegações (art. 357, § 3º).
Quando deferida a produção de prova testemunhal, o juiz fixa prazo não superior a 15 dias para que as partes apresentem seus róis (o plural de rol é róis) de testemunhas. Máximo de dez, ao todo, com até três para cada fato. Pode o juiz limitar o número de testemunhas, levando em conta a complexidade da causa e os fatos individualmente considerados – art. 357, §§ 4º, 6º e 7º.
Se deferida perícia, observa-se o art. 465 e o juiz deve estabelecer calendário para a sua realização sempre que possível (art. 357, § 8º).
Intervalo mínimo entre as audiências de instrução e julgamento: 1 hora (art. 357, § 9º). Nas audiências de conciliação o intervalo mínimo é de 20 minutos (art. 334, § 12).
	NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL
Uma das tônicas do atual CPC é o protagonismo das partes, com a consequente redução da preponderância que o CPC/1973 dava ao juiz (havia um quadro de autoridade do Estado versus sujeição das partes). Por meio dos negócios jurídicos processuais, podem as partes flexibilizar de comum acordo o processo civil.
Base para esse tema é o art. 190, cujo caput está assim redigido: “Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para justá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo”.
O CPC anterior não desconhecia a figura do negócio jurídico processual, admitindo expressamente o “foro de eleição”, por exemplo. No CPC vigente temos a cláusula genérica (art. 190) e, dentre outros, os seguintes negócios processuais típicos: a) delimitação consensual das questões de fato e de direito (art. 357, § 2º); b) convenção sobre o prazo dos debates orais na hipótese de litisconsórcio (art. 364, § 1º); c) forma de distribuição do ônus da prova, antes ou durante o processo (art. 373, §§ 3º e 4º); d) escolha do perito (art. 471).
Caso concreto decidido pelo TJSP: “Intimação pessoal - Desnecessário - Partes que estipularam mudança no procedimento para ajustá-lo a especificidade da demanda - Negócio jurídico processual previsto no CPC/2015 – Cabimento - Intimações a serem realizadas no endereço declinado, ficando autorizado o recebimento de intimação por quaisquer terceiros que nele se encontrem - Autocomposição e capacidade plena das partes - Disponibilidade dos interesses a permitir o negócio jurídico processual - Inteligência do art. 190, do CPC/2015” (A. I. 2045753-87.2016.8.26.0000, j. 22/09/2016).
	PROCEDIMENTO DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO
1º) Pregão (art. 358)
2º) Tentativa de conciliação, ainda que já tenha havido audiência para esse fim (art. 359)
3º) Como audiência é o ato no qual se fala e se ouve, nela obviamente será colhida prova oral. Eis a ordem da colheita: a) perito e assistentes técnicos, que respondem a quesitos de esclarecimento, salvo se já os houverem respondido por escrito (art. 361, I); b) depoimento pessoal do autor (art. 361, II); c) depoimento pessoal do réu (art. 361, III); d) testemunhas do autor (art. 361, IV); e) testemunhas do réu (art. 361, IV).
4º) debate oral, concedendo-se a palavra ao advogado do autor, ao advogado do réu e ao representante do Ministério Público (caso ele atue), sucessivamente, pelo prazo de 20 minutos para cada um, prorrogável por 10 minutos, a critério do juiz (art. 364, caput). Importante: se a causa apresentar questões complexas de fato ou de direito, o juiz poderá substituir o debate oral por razões finais escritas (= memoriais), a serem apresentadas pelo autor, pelo réu e pelo Ministério Público (se intervier) em prazos sucessivos de 15 dias (art. 364, § 2º).
5º) sentença (pode o juiz chamar os autos “conclusos” e sentenciar, por escrito, no prazo de 30 dias – art. 366).
NOÇÕES GERAIS SOBRE A PROVA
Simplificando muito a tarefa do juiz, para fins didáticos, podemos dizer que ele aplica a lei (que por presunção conhece – iura novit curia) a fatos que ele de antemão não conhece. O juiz não pode julgar processo que envolva fatos sobre os quais ele tem conhecimento próprio, salvo se se tratar de fatos notórios. Como não tem bola de cristal, para bem desempenhar sua tarefa (= aplicar a lei aos fatos), o juiz precisa que as partes (embora também ele tenha poderes instrutórios, como vimos nos semestre passado - art. 370, caput) demonstrem os fatos que alegam.
Prova é todo elemento trazido ao processo para demonstrar a veracidade de alegações concernentes a fatos (quase sempre) ou a direito (quase nunca – art. 376).
Reza o art. 369: “As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz”.
O juiz só deve autorizar a produção de provas que digam respeito a fatos relevantes e controversos, indeferindo diligências inúteis ou meramente protelatórias (art. 370, par. ún.; art. 374, II e III). 
Ônus é um encargo atribuído a uma parte no interesse dela mesma; é diferente de obrigação, pois: a) é algo que diz respeito a interesse do próprio onerado; b) sua inobservância não gera sanção ao onerado, que apenas deixa de experimentar uma situação melhor.
Ônus da prova é o encargo que pesa sobre os ombros da parte, quanto à demonstração dos fatos (ou do direito, excepcionalmente) que alega. Pensem na seguinte frase: “o autor está encarregado de provar que chovia na data do acidente”. É o mesmo que dizer: “o autor tem o ônus de provar que chovia”.
Quem tem o ônus da prova? Como regra: a) o autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito (art. 373, I); b) o réu, quanto ao fato impeditivo (ex.: incapacidade absoluta do contratante), modificativo (ex.: foi alterada a natureza do contrato celebrado entre as partes, de locação para comodato) ou extintivo (ex.: pagamento) do direito do autor (art. 373, II).
Como o juiz moderno não pode pronunciar o “non liquet”, Barbosa Moreira afirma que a regra de distribuição do ônus da prova é a tábua de salvação que se joga ao magistrado que está se afogando num “mar de dúvidas” ao fim do processo. 
Num belo exemplo de negócio jurídico processual, as partes podem inverter convencionalmenteo “onus probandi”, salvo duas situações (art. 373, § 3º), durante o processo ou mesmo antes dele (art. 373, § 4º).
Também se admite a chamada inversão “ope iudicis” do ônus da prova, ou seja, que o juiz inverta o ônus da prova nos moldes do art. 373, § 1º.
Se o ônus da prova sempre recaísse sobre os ombros desta e daquela parte (incisos I e II do art. 373, por exemplo), estaríamos diante de distribuição estática do ônus da prova. Porém, na medida em que a regra dos incisos I e II do art. 373 pode ser modificada pelo juiz e pelas partes, podemos afirmar que o Direito brasileiro adota a teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova (= teoria da carga dinâmica da prova).
Num processo em que consumidora acionou a Mitsubishi Motors, o TJSP decidiu: “Ação redibitória c.c. indenização por danos morais. Aquisição de veículo Mitsubishi L-200 Savana, ano 2011, zero km. R. sentença de extinção, com apelo só da autora. Plena aplicação do CDC, com inversão do ônus probatório. Defesa desacompanhada de elementos de convicção, sendo certo que competia à ré demonstrar que o automóvel se encontrava em perfeitas condições de uso. Devolução do valor equivalente ao automotor que se impõe, nos termos do art. 18, § 3º, do CDC. Dano moral igualmente configurado, mas não nos moldes pretendidos na exordial. Dá-se parcial provimento ao recurso da consumidora” (Apelação 1007644-17.2013.8.26.0100, j. 20/09/2016).
Meios de prova são os instrumentos pelos quais se demonstra a veracidade de alegações de fato ou (excepcionalmente) de direito. Há meios típicos (expressamente previstos no CPC – depoimento pessoal, documentos, testemunhas, perícias e inspeção judicial) e meios atípicos/inominados (ex.: juiz determina que o oficial de justiça compareça ao endereço indicado pela empresa devedora e constate se ela se encontra funcionando normalmente). Admitem-se uns e outros (“todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código”, reza o art. 369). 
Como regra, não há hierarquia entre os meios de prova (um documento não vale mais que uma testemunha; uma perícia não vale mais que dois documentos). Excepcionalmente, a lei desautoriza certa prova (art. 55, § 3º, da Lei Federal 8.213/91: a comprovação do tempo de serviço, para fins de obtenção de aposentadoria, “... só produzirá efeito quando baseada em início de prova material, não sendo admitida prova exclusivamente testemunhal ...”).
Prova emprestada é a utilizada em processo diferente daquele em que foi produzida. Admite-a expressamente o art. 372.
Prova ilícita é vedada pela CF (art. 5º, LVI).
	Decisão do STF: “A gravação de conversa telefônica feita por um dos interlocutores, sem 	conhecimento do outro, quando ausente causa legal de sigilo ou de reserva da conversação não 	é considerada prova ilícita” (AI 578858AgR/RS, j. 04/08/2009). 
	Decisão do TJSP: “APELAÇÃO - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO COM PEDIDO DE 	INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - Preliminar de ilicitude de gravação telefônica afastada - 	Gravação realizada por interlocutor - Admissibilidade - Precedentes desta E. Corte - Serviço de 	cartão de crédito - Ré que comprovou a contratação e utilização do cartão pela autora - Mora da 	autora - Cobrança 	devida - Restrição cadastral legítima - Exercício regular de direito - Danos morais 	não configurados - 	SENTENÇA MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO” (Apelação n. 1030449-	33.2014.8.26.0001, j. 	18/02/2016).
	Interceptação telefônica e de comunicações informáticas só se admite “em investigação criminal e 	em instrução processual penal” (art. 1º da Lei Federal 9.296/96).
	Decisão do TJSP: “PROVA ILÍCITA - Gravação de conversa telefônica de suposta companheira com 	amiga, sem 	consentimento dos interlocutores - Gravações supostamente feitas pelo falecido 	companheiro - llicitude da gravação, que a 	torna imprestável como meio de prova, por violação 	ao que dispõe o artigo 5º, XII da Constituição Federal - Desentranhamento dos documentos que 	contêm a degravação das fitas - Decisão correta - Recurso não provido” (Agravo de Instrumento n. 	994.09.278190-0, j. 21/01/2010).
São três as fases do procedimento probatório ou, como diziam os processualistas antigos, os momentos da prova: 1º) proposição ou requerimento (art. 319, VI – petição inicial; art. 336 – contestação; art. 348 – a despeito da revelia, não há presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor; art. 349 – revel que pode produzir provas contrapostas às alegações do autor; art. 350 – o autor pode produzir provas quando o réu veiculou defesa material indireta; art. 351 – o autor pode produzir provas quando o réu veiculou defesa processual. 2º) deferimento ou admissão (geralmente, na decisão de saneamento e da organização do processo – art. 357, II, in fine; quanto à prova documental, as partes costumam produzi-la independentemente de deferimento prévio e o juiz, caso entenda que ela não é admissível --juntada de documento que representa prova ilícita, por exemplo--, ordena o “desentranhamento”). 3º) produção (documentos geralmente acompanham petição da parte; perícia normalmente é produzida antes da audiência de instrução e julgamento; inspeção judicial pode realizar-se a qualquer tempo; testemunha é quase sempre ouvida na audiência de instrução e julgamento – mas lembrem que é possível alterar essa ordem, por conta do art. 139, VI).
	PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVA
Pode parecer à primeira vista que falar em “prova” só faz sentido quando existe uma lide (= controvérsia 	= conflito) e um processo instaurado para compô-la (solucioná-la). Afinal, por que provar fatos se não há litígio e processo já iniciado? Essa é uma falsa impressão, todavia. Pensem bem: a) pode ser que eu 	queira conhecer bem determinados fatos exatamente para saber se tenho ou não um direito que foi violado (ex.: comprei um apartamento que apresenta rachaduras e infiltrações; a construtora afirma que isso se 	deve à falta de manutenção da fachada, a cargo do condomínio; para saber se os defeitos representam vícios construtivos e então processar a construtora, preciso de uma perícia); b) pode haver um litígio entre mim e o motorista de um carro que invadiu o semáforo vermelho; se minha única testemunha mudará 	definitivamente, em 2 semanas, para um país que não cumpre carta rogatória, eu não tenho todo interesse do mundo em ouvi-la antes mesmo da propositura da ação de reparação de danos. 
Existe um direito autônomo à prova, ou seja, independentemente de outro direito (ser ressarcido pela perda total do meu carro, por exemplo) que eu possa ter.	
O Código permite a produção antecipada (isto é: antes da fase própria do processo em que as partes controvertem sobre determinados fatos) quando: I – houver fundado receio de que venha a tornar-se 	impossível ou muito difícil a verificação de certos fatos na pendência da ação 	 (é o exemplo da 	testemunha referida há pouco); II – a prova a ser produzida for suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio adequado de solução de conflito (eu digo ao meu vizinho de cima que o vazamento vem do 	apartamento dele; ele afirma que vem do cano do 	 prédio; produzo uma perícia de engenharia que poderá 	fazer com que celebremos um acordo); III – o prévio conhecimento dos fatos possa justificar ou evitar o 	ajuizamento da ação (o condomínio suspeita que sua ex-síndica se apropriou de dinheiro do prédio; 	produz perícia contábil e, sendo verificado que a ex-administradora agiu corretamente, será evitado o 	ajuizamento de uma ação pelo condomínio em face dela).
Lição de Fredie Didier: “Pode-se requerer a antecipação da produção de qualquer prova, ressalvada a prova documental, cuja produção antecipada se pede por meio da ação de exibição”.
Importante: no processo de antecipação de prova, o juiz não se manifesta sobre terem ou não sido demonstrados os fatos; ele apenas reconhece que a prova foi produzida regularmente. Se e quando tiver que solucionar o conflito (lide) entre as partes, dirá se osfatos foram ou não demonstrados. 
O procedimento da produção antecipada se acha nos arts. 381 a 383 (leiam-nos).
	DEPOIMENTO PESSOAL
É a oitiva da parte em juízo.
Quem o provoca? O adversário do depoente ou o juiz (ex officio), como prescreve o caput do art. 385. Ninguém pode requerer o próprio depoimento pessoal (se a parte quer dizer algo, que o faça em petição assinada por seu advogado). 
	
Ato pessoal (art. 387, initio) e indelegável, a parte deve ser pessoalmente intimada a comparecer para 	depor e, se não o fizer (não comparecer ou, comparecendo, se recusar a depor), ser-lhe-á aplicada a “pena 	de confesso”, ou seja, presunção de veracidade dos fatos que seriam perguntados (art. 385, § 1º). Se a parte 	tergiversa, sujeita-se também à pena (art. 386).
Quem ainda não depôs não pode presenciar o depoimento alheio (art. 385, § 2º).
Salvo nas ações de estado (retificação de nome, mudança de sexo etc.) e de família (investigação de paternidade, separação judicial etc.), a parte não é obrigada a depor sobre fatos: I – criminosos ou torpes que lhe forem imputados; II – a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo; III – acerca dos quais não possa responder sem desonra própria, de seu cônjuge, de seu companheiro ou de parente em grau sucessível; IV – que coloquem em perigo a sua vida, de seu cônjuge, de seu companheiro ou de parente em grau sucessível (art. 388).
	DOCUMENTO
É toda coisa na qual estejam inseridos símbolos (letras, palavras, frases, algarismos, imagens ou sons gravados, registros magnéticos) que tenham aptidão para transmitir ideias ou demonstrar a ocorrência de fatos.
	
São públicos os documentos produzidos por agente público (certidão, atestado, carteira de habilitação); privados são todos os demais. Às vezes a lei exige documento público (ex.: escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a 30 salários mínimos – v. art. 108 do CC e art. 406 do CPC). Se compararmos os arts. 405 e 408, veremos a primazia do documento público sobre o privado, fruto da chamada “fé pública”. 
Cessa a força probante --“fé”, como prefere o CPC-- de qualquer documento se for judicialmente declarada a sua falsidade (art. 427, caput). Quem tem o ônus da prova quando se trata de falsidade do documento? A parte que arguir a falsidade, caso se trate de falsidade de documento ou de preenchimento abusivo (art. 429, I). A parte que produziu o documento, se se tratar de impugnação da autenticidade (art. 429, II).
Admitem-se fotografias extraídas da Internet (art. 422, § 1º). Decidiu o TJSP: “De início, quanto ao benefício de gratuidade de justiça pleiteado pelo apelante, de acordo com as fotografias juntadas aos autos provenientes de rede social facebook -, verifica-se que o recorrido possui estilo de vida incompatível com a alegada condição de hipossuficiência, deste modo, não se identifica suporte para a concessão da benesse pretendida” (Apelação n. 4005938-17.2013.8.26.0562, j. 09/04/2015). 
Quem utiliza foto publicada em jornal ou revista deve juntar original do periódico, se houver impugnação pela outra parte (art. 422, § 2º). Mesma regra vale para versão impressa de mensagem eletrônica (art. 422, § 3º).
Especificamente sobre o Facebook, assentou o TJSP: “verifica-se do conjunto probatório que os diálogos mantidos entre a apelada e seu amante não foram expostos à coletividade por meio de conta online na rede social ‘Facebook’. Tais conversas foram veiculas em foro particular, no qual apenas a apelada e seu interlocutor teriam acesso, mediante a ferramenta da rede social conhecida como ‘in box’. Não havendo qualquer exposição publica à honradez externa do apelante, não há qualquer dano a ser indenizado. Rechaça-se, também, a tese de que a apelada não cuidara de apagar os diálogos, permitindo que seus familiares, incluindo seus filhos, tivessem acesso a seu conteúdo. Tais fatos não restaram minimamente comprovados (art. 373, I do CPC/2015), sobretudo com relação a eventual exposição negativa que a infidelidade pudesse ter causado no seio familiar. Marque-se, ainda, que os perfis criados na aludida rede social são pessoais, sendo que apenas aquele que realiza o cadastro tem acesso a seu conteúdo mediante senha. Dessa forma, tendo sido os diálogos realizados com acesso apenas aos dois interlocutores, o apelante somente poderia tê-lo acessado com a senha pessoal da apelada, fato que evidencia que não houvera exposição proposital do conteúdo, mesmo que os diálogos tenham sido realizados por meio de computador compartilhado. Nesse contexto, as hipóteses narradas no caso concreto não autorizam a condenação da apelada no pagamento de indenização por danos morais em favor do recorrente, pois não se comprovou sequer que o fato tenha ensejado relevante repercussão negativa” (Apelação n. 0000477-68.2013.8.26.0357, j. 31/10/2016). 
Documento com borrão, entrelinha, emenda ou cancelamento em ponto substancial e sem ressalva terá a força probante --“fé”, na dicção do legislador-- que o juiz lhe atribuir (art. 426).
Quem junta documento estrangeiro deve fazê-lo acompanhar de “versão para a língua portuguesa tramitada por via diplomática ou pela autoridade central, ou firmada por tradutor juramentado” (art. 192, par. ún.).
Ata notarial é espécie de documento lavrado por notário (= tabelião), com regra específica no CPC vigente (art. 384). Decidiu o TJSP: “A prova de eventos e fatos observados junto à Internet, como são no caso em exame, tem sido feita preferencialmente mediante lavratura de ata notarial, pois a chancela do notário confere fé-pública ao documento” (Agravo de Instrumento n. 2151698-63.2016.8.26.0000, j. 18/10/2016).
FALSIDADE DOCUMENTAL
Deve ser suscitada/arguida na contestação, na réplica ou no prazo de 15 dias, contado da intimação da juntada do documento aos autos (art. 430, caput), devendo a parte suscitante expor os motivos em que se funda a sua pretensão e os meios com que provará o alegado (art. 431).
Depois de ouvido o adversário, no prazo de 15 dias, produz-se perícia (art. 432, caput), salvo se a parte que produziu o documento concordar em desentranhá-lo dos autos (art. 432, par. ún.). 
Reparem bem: “A alegada falsidade ideológica do contrato de honorários advocatícios não poderia ser provada por perícia, pois submetido o documento em questão ao perito, seria supostamente atestada sua autenticidade formal, tendo em vista que a embargante alega ter havido inclusão de conteúdo. Assim, cabia à própria embargante por meio de outras provas a comprovação de que o documento é realmente falso, ou pelo menos a primeira folha do contrato” (TJSP - Apelação n. 1001111-27.2014.8.26.0320, j. 28/11/2016).
Se a parte requerer que a questão relativa à “falsidade” seja decidida como principal, o juiz deliberará no dispositivo da sentença e haverá coisa julgada material (art. 19, II; art. 430, par. ún.; art. 433). 
O momento adequado para a produção de prova documental é a petição inicial, para o autor, e a contestação, para o réu (art. 434, caput). Juntada posterior de documento, pelo texto da lei, só é possível: a) quando se trate de documentos novos, quando destinados a fazer prova de 	 fatos ocorridos depois dos articulados ou para contrapô-los aos que foram produzidos nos autos (art. 435, caput); b) quando se tratar de documentos formados após a petição inicial (art. 435, par. ún.); c) quando os documentos se tornaram conhecidos, acessíveis ou disponíveis após a 	petição inicial e a contestação, cabendo à parte que os produzir comprovar o motivo que a 	impediu de juntá-los anteriormente (art. 435, par. ún.).
Por força do princípio constitucional do contraditório, sempre que uma parte junta documento, o seu adversário dispõe de 15 dias para manifestar-se a respeito (art. 437, § 1º).
Marcus Vinicius Rios Gonçalves ensina: “Não se consideram documentos novos, para fins do CPC, art. 437,§ 1º, as cópias de sentenças ou acórdãos, proferidos em outros processos, os pareceres de juristas e outros que sirvam apenas para a comprovação de teses de direito. Os documentos prestam-se à prova de um fato, e não de teses jurídicas”.
	PROVA TESTEMUNHAL
Testemunha é o terceiro estranho ao processo que depõe em juízo narrando o que sabe sobre os fatos da causa (Alexandre Freitas Câmara).
Cuida-se de prova sempre admissível, salvo quando: i) a lei dispuser em sentido contrário (art. 442), algo 	que acontece, p. ex., no mandado de segurança; ii) os fatos já estiverem provados por documento ou confissão da parte (art. 443, I); iii) só por documento ou perícia os fatos puderem ser provados (art. 443, 	II), algo que ocorre, p. ex., quanto à propriedade imobiliária e à 	paternidade. 
Todas as pessoas podem depor como testemunhas, salvo as: a) incapazes (interdito por enfermidade/deficiência mental, quem não tinha condições de discernir os fatos, quem não consegue transmitir as percepções, o menor de 16 anos e o cego/surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos faltantes - § 1º do art. 447); b) impedidas (cônjuge, companheiro, ascendente e descendente em 	qualquer grau e o colateral, até o terceiro grau, de alguma das partes, salvo se o exigir o interesse público ou, tratando-se de causa relativa ao estado da 	pessoa, não se puder obter de outro modo a prova 	necessária; a parte; quem intervém em nome da parte, como o tutor e o representante legal da pessoa 	jurídica; o juiz; o advogado; outros que assistam ou tenham assistido as partes - § 2º do art. 447); c) 	suspeitas (o inimigo da parte e o seu amigo íntimo; quem tem interesse no litígio - § 3º do art. 447).
Se necessário, podem ser ouvidas testemunhas menores, impedidas ou suspeitas (sem compromisso de dizer a verdade – art. 447, §§ 4º e 5º).
Comete crime de falso testemunho a testemunha que faz afirmação falsa, nega ou cala a verdade (art. 342 do CP). Mas a testemunha não precisa depor sobre fatos: a) que lhe acarretem grave dano, bem como ao seu cônjuge ou companheiro e aos seus parentes consanguíneos ou afins até o 3º grau; b) a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo art. 448, I e II).
Testemunhas quase sempre depõem na sede do juízo (art. 449). Exceções: par. único do art. 449 e art. 454. 
Cabe à parte arrolar (= elencar = listar) as testemunhas que pretende ouvir (art. 450). Apresentado o rol (= elenco = lista), a parte só pode substituir a testemunha que: i – falecer; ii – por enfermidade, não estiver em condições de depor; iii – tendo mudado, não for encontrada (art. 451, I a III).
Novidade do CPC atual: o advogado da parte tem de intimar as testemunhas da audiência em que serão ouvidas, comprovando nos autos até 3 dias antes da audiência (art. 455, caput e § 1º), sob pena de se considerar que desistiu da inquirição (art. 455, § 3º). Intimação por intermédio do Judiciário, só nas hipóteses dos cinco incisos do art. 455, § 4º.
Pode a parte comprometer-se a levar a testemunha à audiência; se assumir o compromisso e a testemunha 	não for, presume-se que desistiu de ouvi-la (art. 455, § 2º). 
Testemunha que é intimada e deixa de comparecer sem motivo justificado é conduzida coercitivamente (= “sob vara”), responde pelas despesas do adiamento (art. 455, § 5º) e comete em tese o crime de desobediência (art. 330 do CP).
São ouvidas, separada e sucessivamente, as testemunhas do autor e as do réu (art. 456, caput), podendo haver mudança na ordem se as partes concordarem (art. 456, par. ún.).
Pode a parte contraditar testemunha (art. 457, §§ 1º e 2º).
Antes da inquirição, o juiz toma da testemunha o compromisso de dizer a verdade, advertindo-a das penas do crime de falso testemunho (art. 458, caput e par. ún.).
Novidade do CPC atual: advogado formula perguntas diretamente à testemunha, sem intermediação do 	juiz (art. 459, caput).
Testemunhas referidas (art. 461, I). 
Acareação (art. 461, II e §§ 1º e 2º).
Testemunha não pode sofrer prejuízo financeiro (arts. 462 e 463). 
	PROVA PERICIAL
O juiz, as partes e os advogados não dominam todas as áreas do conhecimento humano. Muitas vezes, a solução da controvérsia (= composição da lide) passa pelo exame de fatos eminentemente técnicos ou científicos (a construtora utilizou a quantidade adequada de vigas de aço no prédio que desabou? o autor é filho do réu? o banco cobrou do cliente juros maiores do que aqueles contratados?). Pois nesses casos é preciso produzir prova pericial.
Conhecimento técnico tem um campo restrito e deriva de anos de prática de u’a mesma atividade (manutenção de aparelhos de ar condicionado; confecção de prótese dentária), sem necessidade de formação escolar superior. Conhecimento científico é aquele obtido academicamente, com preponderância do estudo sobre a atividade prática (geólogo, médico).
Perícia é o “meio de prova destinado a auxiliar a esclarecer circunstâncias relativas aos fatos da causa mediante conhecimentos técnicos ou científicos” (Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini).
Tipos/espécies: I – exame (inspeção do perito que recai sobre pessoas e bens móveis – ex.: médico examina vítima de acidente para aferir se está incapacitada para o trabalho); II – vistoria (inspeção do perito que recai sobre bens imóveis – ex.: engenheiro civil inspeciona um imóvel em construção para 	aferir se está sendo observada a distância necessária do terreno vizinho); III – avaliação
	(atividade do perito com o objetivo de fixar valor de coisas e direitos – ex.: engenheiro civil 	avalia 	o apartamento do 	devedor para posterior leilão do imóvel e satisfação do credor).
	
O perito é profissional legalmente habilitado e órgão técnico ou científico, inscrito em cadastro mantido pelo tribunal (art. 156, § 1º).
O juiz indefere a perícia quando: a) a prova do fato não depende do conhecimento especial de técnico; b) é desnecessária a perícia em vista de outras provas produzidas; c) a verificação é impraticável (art. 464, § 1º, I a III).
Se o ponto controvertido for de menor complexidade (ex.: saber se a lataria do carro do réu sofreu algum reparo), pode ser produzida a chamada prova técnica simplificada, com mera inquirição do especialista em audiência (art. 464, §§ 2º a 4º). 
	
Ao nomear o perito, o juiz: 1º) define prazo para entrega do laudo; 2º) fixa 15 dias nos quais as partes podem arguir impedimento/suspeição do perito, indicar assistentes técnicos e formular quesitos (art. 465, § 1º, I a III). Reparem que se aplicam ao perito os motivos de impedimento/ suspeição do juiz (arts. 144, 145 e 148, III).
Tomando ciência da nomeação, o perito estima seus honorários em 5 dias (art. 465, § 2º, I) e, em seguida, as partes são intimadas a manifestar-se em 5 dias sobre a proposta (art. 465, § 3º). Em seguida, o juiz arbitra os honorários e intima as partes para depósito do valor (art. 95, § 1º; art. 465, § 3º) cujo levantamento se faz nos moldes do § 4º do art. 465. 
Novidade do CPC atual: “perito consensual” (art. 471).
Assistente técnico é profissional da confiança da parte que o contratou e indicou, não se sujeitando a impedimento/suspeição (art. 466, § 1º).
Apresentado o laudo, as partes e seus assistentes técnicos podem manifestar-se sobre ele no prazo de 15 	dias (art. 477, § 1º - parecer convergente ou concordante, se de acordo com o laudo; parecer divergente ou discordante, se houver críticas ao laudo). 
Havendo críticas ao laudo, o perito deve prestar esclarecimento 	em 15 dias (art. 477, § 2º). Persistindo a necessidade de esclarecimentos, a parte pode requerer ao juiz que intime o perito ou o assistente para ser ouvido em audiência de instrução e julgamento (art. 477, §§ 3º e 4º - lembrem da ordem dos trabalhos na audiência de instrução e julgamento, que estudamos semanas atrás).
Quando se trata de perícia médico-legal ou cujo objetivo é verificar autenticidade/falsidade documental, o juiz deve preferir técnicos de estabelecimentos oficiais especializados

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