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coletânea cultura e arte

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1 
 
 
Ética, Cultura e Arte 
1º semestre / 2017 
2 
 
PRÓ-REITORIA DE ENSINO 
 
 
COLETÂNEA 
FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA 
Ensino Presencial (1º semestre) 
EAD (MÓDULO 51) 
 
 
 
 
Organizadoras 
 
Cristina Herold Constantino 
 Débora Azevedo Malentachi 
 
 
Colaboradores 
Fabiana Sesmilo de Camargo Caetano 
Rogerio Borgo 
 
 
Direção Geral 
Pró-Reitor Valdecir Antônio Simão 
 
3 
 
SUMÁRIO 
 
 
Apresentação.............................................................................................................................. 04 
Considerações Iniciais............................................................................................................... 05 
Leitura: etapas, níveis, estratégias............................................................................................... 06 
Textos Selecionados.................................................................................................................. 13 
Ética na modernidade: uma questão de reflexão......................................................................... 13 
Concepção de Cultura.................................................................................................................. 19 
Diversidade Cultural, Diálogo e Desenvolvimento....................................................................... 20 
Saiba mais: Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural................................................. 21 
Identidade Cultural....................................................................................................................... 22 
O conceito de aculturação............................................................................................................ 23 
Vaquejadas: um conflito entre ética e cultura.............................................................................. 24 
Da comédia à crítica, o humor se consolida transformando riso em informação......................... 28 
Fazer de sua vida uma Obra........................................................................................................ 38 
Sobre o Oscar 2017 e um pedaço de papel................................................................................. 38 
Saiba mais: Oscar 2017: os filmes que disputaram e os que venceram..................................... 39 
Lei Rouanet.................................................................................................................................. 39 
Vale-Cultura têm recursos garantidos para 2017......................................................................... 41 
O fenômeno das grandes exposições de arte em São Paulo...................................................... 41 
As 15 obras de arte mais famosas do mundo.............................................................................. 44 
Arte contemporânea..................................................................................................................... 52 
Saiba mais: Afinal, o que é arte contemporânea?....................................................................... 56 
A arte de ver a arte no mundo e nos museus.............................................................................. 56 
A complicada arte de ver.............................................................................................................. 58 
Filmes........................................................................................................................................... 60 
Tiras e Charges........................................................................................................................... 69 
Músicas e Poesias........................................................................................................................ 71 
Considerações Finais................................................................................................................ 76 
4 
 
Apresentação 
 
 
A Formação Sociocultural e Ética (FSCE) compõe um dos Projetos de Ação da UniCesumar, cujo 
principal objetivo é aperfeiçoar habilidades e estratégias de leitura fundamentais para seu desempenho 
pessoal, acadêmico e profissional. Nesse sentido, esta disciplina corresponde à missão institucional, a 
qual consiste em “Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, 
formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e 
solidária”. Conforme slogan da FSCE, “Quem sabe mais faz a diferença!”, o conhecimento adquirido 
por meio da leitura é a mola propulsora capaz de formar e transformar sujeitos passivos em cidadãos 
ativos, preparados para fazer a diferença na sociedade como um todo! 
 
Na FSCE, você terá contato com vários assuntos e fatos que ocorrem na sociedade atual e que devem 
fazer parte do repertório de conhecimentos de todos os que buscam compreender criticamente seu 
entorno social, nacional e internacional. Em síntese, no intuito de atender ao objetivo desta disciplina, a 
FSCE está dividida em cinco grandes eixos temáticos: Ética e Sociedade, Ética, Política e Economia, 
Ética, Cultura e Arte – Ética, Ciência e Tecnologia – Ética e Meio Ambiente, sendo que nos dois 
primeiros eixos estão incluídos temas complementares e pertinentes propostos pelo Observatório 
Social do Brasil. 
 
Este material, também chamado de Coletânea, é o principal instrumento de estudo da FSCE. Recebe 
o nome de Coletânea porque reúne vários gêneros textuais criteriosamente selecionados para 
estimular sua reflexão e análise pontuais. Textos retirados de diferentes fontes, com a finalidade de 
abordar recortes temáticos relacionados aos conteúdos de cada eixo supracitado. Tem como principal 
objetivo ser um material de apoio à sua formação geral, servindo-lhe de estímulo à leitura, 
interpretação e produção textual. Uma Coletânea como esta é organizada a cada duas semanas, ou 
seja, a realização completa desta disciplina ocorre no período de 10 semanas. 
 
Cada Coletânea apresenta-se, inicialmente, com uma introdução, seguida por aspectos relacionados à 
leitura, interpretação e/ou escrita, os quais antecedem a apresentação dos diversos textos referentes 
aos respectivos eixos. A sequência de textos normalmente é finalizada com os gêneros música, poesia 
ou frases e charges, sendo finalmente concluída com breves considerações finais. 
 
Você tem em suas mãos, portanto, uma compilação por meio da qual terá acesso a um conteúdo 
seleto de textos basilares para sua reflexão, aprendizagem e construção de conhecimentos valiosos. 
Textos compostos por fatos, notícias, ideias, argumentos, aspectos veiculados nos principais meios de 
comunicação do país, links de acesso a entrevistas, depoimentos, vídeos relacionados ao eixo 
temático, além de respaldos teóricos e práticos acerca da linguagem que poderão servir como suporte 
à sua vida em todas as instâncias. 
 
Também, importa lembrar que a organização deste e demais materiais da FSCE não pressupõe 
qualquer tendência político-partidária e/ou apologia a qualquer grupo religioso em detrimento de 
outros, sendo que estamos disponíveis ao recebimento de indicações de textos, sites, tanto quanto às 
sugestões de conteúdos relacionados aos referidos eixos. Faça, portanto, da FSCE sua porta de 
entrada para a aquisição de novos conhecimentos. E lembre-se: Ler é pensar! Vista a camisa do 
conhecimento e seja MAIS! 
 
 
Organizadoras 
 
5 
 
Considerações Iniciais 
 
Todo material de leitura engajado em promover 
conhecimento com qualidade pode ser um prato cheio 
para nutrir nossa inteligência. Nesta Coletânea, você 
encontrará um banquete de cores, imagens, 
informaçõese ideias que não apenas informam, mas 
que também poderão estimular sua visão, 
sensibilidade e percepção acerca de detalhes que 
passam despercebidos mediante a rotina intensa, mas 
que, se notados, atribuem um caráter singular e um 
sentido especial à vida. Eis, portanto, mais um convite 
à leitura capaz de formar, enriquecer e transformar! 
Nossa proposta é ampliar conhecimentos sobre Arte e 
Cultura, e pensar, ainda que brevemente, sobre a 
relação destas com a Ética. Vamos adentrar no 
universo da cultura, refletir sobre suas diversidades e 
desigualdades... Visitar o cinema, o teatro, as obras de 
arte, as expressões artísticas que vêm das ruas, 
músicas, tiras... Antes, porém, você dará continuidade às suas reflexões pontuais acerca das 
etapas, estratégias e dos níveis de leitura, lembrando que essas reflexões servem como 
oportunidade para você avaliar a qualidade das suas leituras e, neste percurso, aperfeiçoar 
habilidades fundamentais para o seu bom desempenho acadêmico e pessoal. 
Não há como mergulhar dentro de um texto e sair dele a mesma pessoa de outrora, a não ser que 
este mergulho aconteça de modo extremamente raso e alienado. Principalmente, em se tratando 
de Cultura e Arte não há como ficar passivo e imune ao universo de conteúdos por trás das 
formas, de essências por trás de aparências, dos sentimentos que pulsam por trás da razão, de 
significados por trás dos signos. Só ficará imune a tudo isso o olhar que se recusa a ler de mãos 
dadas com a atitude atenta, reflexiva, observadora, questionadora. Nesse sentido, lançamos a 
você o desafio! Leia com seus olhos, sua razão e seus sentimentos. Analise, avalie, deixe-se 
envolver e aproveite o quanto puder deste banquete pelos caminhos da arte, da cultura, da ética, 
da expressão, da formação humana... 
 
Uma ótima leitura! 
Organizadoras 
6 
 
Leitura: etapas, níveis, estratégias 
 
 
Conforme procedimento que adotamos na elaboração das Coletâneas da Formação Sociocultural 
e Ética, dedicamos esta seção inicial para cultivar um pouco mais desta amizade profunda, 
confidente e indispensável com a LEITURA. Uma amizade que, tantas vezes, pode até começar 
por obrigação e, quase sempre, transformar-se em paixão. É inevitável! Quem ama o 
conhecimento apaixona-se pela leitura! 
 
A leitura é a porta de entrada para a interação com o outro, com o mundo e consigo 
mesmo em sua totalidade. Ler não é unicamente interpretar os símbolos gráficos, mas 
interpretar o mundo em que vivemos. Na verdade, passamos todo o nosso tempo lendo: lemos as 
imagens, as pessoas, suas palavras, seus gestos, seus olhares e até mesmo seu silêncio; lemos 
outdoors, placas e sinais de trânsito; lemos textos informativos e tantos outros gêneros que 
circulam na sociedade; lemos textos impressos, textos virtuais, textos verbais e não verbais. 
Lemos tudo, mesmo que inconscientemente. 
 
Entretanto, nem tudo o que é lido é compreendido por leitores habituados à leitura superficial. 
Conforme já explicamos na Coletânea anterior, lembre-se que leitura é processo que requer do 
leitor “um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, 
de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem”. 
(Parâmetros Curriculares Nacionais; terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua 
portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998, PP. 69-70). Em 
outras palavras, o leitor não pode se colocar na posição 
de sujeito passivo nas leituras que realiza. Seu nível de 
leitura e o modo como lê, isto é, as estratégias que 
aplica nas suas leituras, principalmente as que são 
exigidas na vida acadêmica, é o segredo para a sua 
capacidade de compreensão leitora, para a formação 
do leitor proficiente, maduro, experiente, habilidoso. O 
segredo para o sucesso! E, o melhor de tudo, é que a 
leitura é um processo a ser aprendido! 
 
Nesse sentido, caro aluno, é muito importante que você 
mantenha o foco. Continue se autoavaliando 
enquanto leitor no percurso das suas leituras. 
 
Agora, propomos a você que conheça as etapas de leitura. Em seguida, considere seus níveis. 
 
De modo geral, a leitura consiste em quatro etapas: 
 
1. DECODIFICAÇÃO: é o reconhecimento das letras, suas ligações com outras e 
com os seus significados. Decodificar é apenas o início do processo de leitura. Por 
exemplo, quando realizamos uma pesquisa sobre o escritor Oswald de Andrade e nos deparamos 
com a informação de que Oswald de Andrade é um modernista dionisíaco, na medida em que 
desconhecemos o exato significado da expressão modernista dionisíaco é fundamental, primeiro, 
7 
 
tentar depreender seu significado a partir do contexto geral apresentado no texto onde a 
informação está registrada. Se necessário, ou ainda para confirmar o significado depreendido, é 
fundamental consultar o dicionário e/ou fazer uma busca pela internet a fim de saber qual o 
sentido de ambas as palavras. Nessa busca é possível chegar à compreensão de que Dionísio 
era o deus grego equivalente a Baco dos romanos; portanto, dionisíaco diz respeito ao prazer da 
ação, à inspiração, ao instinto. 
 
2. COMPREENSÃO: é assimilar as informações de um texto; é, a partir da leitura nas linhas, 
captar suas ideias principais. Nessa etapa, é importante que o leitor tenha conhecimentos 
prévios sobre o assunto tratado no texto, para que tenha condições de compreendê-lo. Por 
exemplo: você só poderá compreender a veracidade ou totalidade da informação citada no 
exemplo anterior se obtiver a informação sobre quem foi Oswald de Andrade, o que é o 
movimento modernista e relacionar todas essas informações ao que fora pesquisado 
anteriormente. 
 
3. INTERPRETAÇÃO: é a capacidade de análise crítica do leitor frente ao texto e só ocorre 
depois da compreensão; é a leitura nas entrelinhas e por trás das linhas. Se não há 
compreensão, não é possível ao leitor interpretar o que leu. Nesta etapa, o leitor recupera todas 
as informações e conhecimentos prévios sobre o assunto, estabelece a intertextualidade entre os 
textos, questiona, julga e tira conclusões a respeito do que leu, concorda com as palavras do 
autor, ou as contesta. Por exemplo: a partir de sua compreensão acerca de todo o texto, e com 
base nos conhecimentos advindos de outros lidos anteriormente, a que conclusões você pode 
chegar a respeito do que determinado autor diz acerca de Oswald de Andrade quando refere-se a 
ele como modernista dionisíaco? Este adjetivo o descreve bem? Existe algum pesquisador/autor 
que diz algo contrário a isso? Qual a sua opinião? 
 
4. RETENÇÃO: nesta etapa, ocorre a memorização das informações mais 
importantes, as quais ficam arquivadas na memória de longo prazo do leitor, seu repertório de 
conhecimentos. Desse repertório, o leitor resgata seus conhecimentos internalizados para dialogar 
com as novas leituras que realizará. Por exemplo: a informação de que Oswald de Andrade é um 
modernista dionisíaco transforma-se em conhecimento a partir do momento em que essa ideia 
volta à sua mente frente a situações ou conteúdos que tenham alguma relação, direta ou indireta, 
com esse assunto. 
 
É importante considerar cada uma dessas etapas de leitura no processo de autoavaliação. 
Seu desempenho nessas etapas depende da qualidade ou nível das suas leituras. São, 
basicamente, três níveis: 
 
1. Leitura superficial: neste nível, o leitor fica preso na superficialidade das palavras, decodifica-
as, relaciona cada uma delas ao seu significado; se não conhece o significado de alguma, 
simplesmente a ignora, em vez de consultar um dicionário. O leitor não consegue depreender o 
assunto geral do texto, muito menoscompreendê-lo em sua totalidade. 
 
2. Leitura adequada: já neste nível, o leitor extrapola a mera decodificação e não fica preso na 
superfície das linhas textuais. Ele consegue compreender o assunto geral e atribuir, ao menos, um 
significado ao texto, fazendo uso de seus conhecimentos prévios (de mundo, textuais e 
linguísticos, abordados mais adiante). 
8 
 
 
3. Leitura complexa: neste nível, além de ler e compreender o que está escrito nas linhas do 
texto, o leitor lê nas entrelinhas e por trás delas. Ele produz vários sentidos para o texto e 
estabelece intertextualidades nesse processo. É um leitor crítico. 
 
Tão importante quanto conhecer e refletir sobre as etapas e níveis de leitura, importa retomar, 
aqui, a tese – ler é um processo que pode ser aprendido. Por isso, o avanço de uma etapa 
para outra e de um nível para outro é perfeitamente possível, para qualquer pessoa, de qualquer 
idade, desde que haja vontade e empenho! 
 
Estratégias 
No eixo anterior da Formação Sociocultural e Ética, vimos que “antes de iniciar qualquer leitura, é 
fundamental que tenhamos muito bem definido, ao menos, um objetivo para realizá-la”. Observe, 
prezado(a) aluno(a), que DEFINIR OBJETIVOS IMPLICA NA ESCOLHA DE ESTRATÉGIAS. E 
isso, é claro, não vale apenas para a leitura. Se você pretende alcançar o objetivo X, precisará 
das estratégias W, Y e Z. Escolhidas as estratégias, faça delas seu norte. Se perceber que 
alguma delas não foi uma escolha adequada, faça mudanças! Empenhe-se nas estratégias que o 
ajudem a atingir seu objetivo da melhor forma possível. 
Vamos conhecer algumas das principais estratégias de leitura? Façamos isso a partir da citação a 
seguir: 
“Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e 
verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que 
possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades 
de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas.” 
(Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos de ensino fundamental: língua 
portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998, pp. 69-70) 
Em suma, um leitor competente coloca em prática as estratégias supracitadas: 
SELECIONAR – é uma das estratégias primordiais na vida de qualquer leitor. Qualquer indivíduo 
já é seletivo por natureza. Você, provavelmente, não abre todas as mensagens que chegam ao 
seu e-mail, não é mesmo? Você não tem tempo para isso, sem contar as ameaças de spam... Um 
leitor competente aperfeiçoa, cada vez mais, suas habilidades seletivas, de modo consciente. 
Em algumas situações, mais que em outras, é impossível ler tudo o que queremos ou todos os 
títulos que nos mandam ler em tão pouco tempo para cumprir certa tarefa. Precisamos, por 
exemplo, nos manter informados, mas para isso não precisamos ler todos os jornais ou assistir a 
todos os telejornais; basta selecionar os de boa qualidade. O mesmo ocorre nas pesquisas 
acadêmicas. Para atingir certo objetivo em determinada pesquisa, importa selecionar títulos, 
capítulos, parágrafos e fragmentos de texto. 
Selecionar as palavras-chave, por exemplo, também contribui para a compreensão das leituras 
que realizamos, na medida em que essa prática nos orienta a focar a nossa atenção no assunto 
do texto ou do parágrafo. Se esse tipo de estratégia ainda não faz parte de sua prática, 
experimente-a. Se o texto é virtual e você não pretende providenciar uma cópia impressa do 
material, use as ferramentas do Word para realçar as palavras-chave. 
Palavras-chave são aquelas em torno das quais estão vinculadas ou relacionadas as demais 
palavras, em torno das quais se desenvolvem as ideias. As palavras-chave deste e do parágrafo 
9 
 
anterior, por exemplo, são estratégia e selecionar. As demais palavras e as ideias apresentadas 
procuram explicar e exemplificar o ato seletivo como estratégia de leitura. 
Não existem receitas ou fórmulas matemáticas para identificar as palavras-chave de um texto. 
Existe, sim, a necessidade da prática constante. 
ANTECIPAR – essa estratégia implica em fazer previsões ou levantar hipóteses sobre o que será 
lido antes mesmo de realizarmos a leitura propriamente dita. Por exemplo, a partir de nossos 
conhecimentos prévios, podemos levantar hipóteses sobre os fatos noticiados no jornal impresso 
já a partir do que lemos em sua manchete. A partir de nosso conhecimento sobre determinado 
autor, também podemos fazer previsões sobre os assuntos tratados em certo livro com base no 
seu título e nos subtítulos. 
Antecipar é uma estratégia que contribui para colocar nossos neurônios em atividade constante. 
Não é algo mecânico, mas espontâneo. Quantas vezes, por exemplo, você já fez previsões sobre 
o enredo de um filme a partir do seu título? Quantas vezes levantou hipóteses sobre como seria o 
final de um filme? Algumas vezes acertou, porque as cenas do filme caminharam para um final 
altamente comum e previsível, outras vezes não acertou, pois as cenas não revelaram 
abertamente o final que, na verdade, foi bastante 
incomum, pouco ou nada previsível. Cena a cena, 
ou página a página, você levanta hipóteses e, 
concomitantemente, as confirma ou não. Para 
confirmá-las ou refutá-las, você lança mão (não de 
modo mecânico, mas espontâneo) de outra 
estratégia: a verificação. Entretanto, antes de 
tratarmos desta, há ainda uma outra cuja prática é 
fundamental: a inferência. 
INFERIR – esta estratégia implica em ler o que não 
está escrito no texto. Como assim?! Nem tudo o 
que o autor intenciona nos dizer está explícito em 
suas palavras. O texto também pode trazer 
informações implícitas. Inferir, portanto, é ler as 
informações que estão nas entrelinhas ou por trás 
das linhas do texto, a partir de seu raciocínio lógico, 
das pistas textuais e das advindas de outras 
leituras, bem como da relação que se pode 
estabelecer entre os textos (intertextualidade). 
Inferir também consiste em deduzir, por exemplo, o significado de uma palavra a partir do contexto 
em que está inserida. Em situações de leitura em que o contexto não traz pistas linguísticas 
suficientes para que possamos inferir significados de determinados vocábulos, é sempre 
importante recorrer ao dicionário, pois o desconhecimento de uma palavra pode comprometer a 
compreensão de um texto. 
Vamos colocar em prática a estratégia da inferência e aproveitar este exercício, também, para 
rever dois conceitos importantes: a informação implícita subentendida e a informação 
implícita pressuposta. 
 
 
Salvador Dali 
10 
 
Leia a tirinha a seguir: 
(http://toda-mafalda.blogspot.com.br/2013/05/la-democracia.html) 
Qual a informação implícita que se pode inferir da tirinha da Mafalda? 
Quais as pistas ou elementos textuais da tirinha a partir dos quais você fez essa inferência? 
E que tipos de conhecimentos você utilizou para chegar a essa conclusão? 
Com base nessa tira, exemplificamos um tipo de texto que requer um nível de leitura, ao menos, 
adequada, realizada por leitores que leem nas entrelinhas. O primeiro quadrinho é o único que 
traz um texto verbal. Mafalda lê o significado da palavra democracia no dicionário e, na sequência, 
cai na gargalhada. Logo, inferimos que a personagem ri porque a democracia que se vê na 
realidade não está de acordo com a definição apresentada no dicionário. Essa informação não 
está explícita na tira. Em nenhum momento a Mafalda, ou qualquer outro personagem ali 
apresentado, disse isso. Porém, o texto apresenta a gargalhada como a principal pista que nos 
permite chegar a essa inferência. A atitude da menina apósler a explicação desse termo no 
dicionário, e por passar o dia todo nessa condição do riso, causando espanto ou estranhamento 
nos membros de sua família, leva-nos, então, a inferir uma informação implícita. Temos aqui 
uma informação implícita subentendida. 
Não existem marcas linguísticas que comprovem esse tipo de informação. A informação 
subentendida pode, portanto, ser questionada e, também, negada ou contestada. Se 
vivenciássemos essa experiência ao vivo e a cores, poderíamos questionar se Mafalda quis dizer 
exatamente o que inferimos de sua fala e de sua atitude, mas ela poderia negar a nossa 
inferência, alegando, por exemplo, que no exato momento em que leu o significado da palavra 
democracia no dicionário, lembrou-se de um episódio engraçado que aconteceu na escola e que, 
de repente, veio à sua lembrança, sendo este o motivo do seu riso. Entretanto, conhecendo a 
natureza crítica da Mafalda e a partir do conhecimento de mundo que temos acerca da 
democracia em nosso país, estabelecemos a relação entre as pistas da tira e, por fim, atribuímos-
lhe uma inferência coerente. 
A seguir, apresentamos uma frase que foi pronunciada há alguns anos por uma personalidade 
política, e com este exemplo demonstramos a importância de ler nas entrelinhas e, também, o 
quanto é preciso cuidar das palavras que usamos para expressar nossas ideias. 
DEMOCRACIA (do 
grego demos, provo, e 
cratos, autoridade) – 
Goversno em que o 
povo exerce a 
soberania. 
11 
 
 
Ela é inteligente, apesar de ser mulher. 
(Mário Amato, referindo-se à Dorothéa Verneck) 
 
 
Quais as informações explícitas nessa frase? Qual a informação implícita? 
Na época em que pronunciou essa frase, Mário Amato, autor de tantos outros dizeres polêmicos, 
conquistou a antipatia das mulheres. Ele disse, explicitamente, que Dorothéa é mulher e que é 
inteligente. Temos, então, duas informações escritas (portanto explícitas) na linha do texto. Por 
outro lado, pode-se inferir outra informação, a que está implícita: as mulheres não são 
inteligentes. 
Diferente do que ocorre na tira da Mafalda, esse tipo de informação não pode ser negada. Trata-
se de uma informação pressuposta, implícita no conectivo “apesar de”. Em entrevista posterior 
ao evento em que essa frase foi registrada por jornalistas, Mário Amato explicou-se: “Aquilo foi 
brincadeira.” (http://veja.abril.com.br/210802/entrevista.html). Entretanto, mesmo que tenha sido 
uma brincadeira (aliás, extremamente lamentável), em seu dizer existe uma marca linguística 
que comprova a informação implícita nas entrelinhas. 
VERIFICAR – é a estratégia que permite a você monitorar a qualidade da sua leitura, de 
modo a tomar as providências necessárias para que, de fato, os textos lidos sejam compreendidos 
em sua totalidade. 
Trata-se de uma estratégia que permite ao leitor: 
- confirmar ou refutar as previsões feitas e, também, ter a certeza de que suas inferências estão 
coerentes e de acordo com o texto, considerando suas pistas textuais e outros fatores extra-
textuais necessários à sua interpretação, como, por exemplo, o momento e o contexto histórico 
em que foi produzido; 
- avaliar se você está empregando as estratégias de leitura necessárias para a compreensão e 
interpretação adequada dos textos; 
- investigar se o significado que você inferiu de determinada palavra condiz com o sentido 
adequado ao texto; 
- tomar a iniciativa de recorrer a outras leituras prévias para compreender satisfatoriamente 
determinado texto; 
- rever a seleção que fez dos livros que constam em uma listagem bibliográfica para atingir os 
objetivos de determinada pesquisa; 
- interromper a leitura, porque não está assimilando ou processando o conteúdo do modo como 
gostaria, e percebe a necessidade de reler parágrafos para resgatar a linha de raciocínio; ou 
ainda, decidir se deve prosseguir a leitura, pois algumas vezes o parágrafo seguinte pode 
esclarecer o(s) anterior(es). 
Há uma infinidade de outros aspectos que requerem a sua verificação nos momentos de 
leitura. Enquanto leitor é importante que esteja atento para tomar as decisões necessárias frente 
aos textos, de modo que possa desenvolver habilidades leitoras fundamentais para o seu 
desempenho acadêmico, profissional e pessoal. 
12 
 
E lembre-se: todas as estratégias apresentadas são importantes, estão correlacionadas e 
ocorrem de modo concomitante. Ao praticá-las, de modo consciente e frequente, o leitor 
desenvolve características que demonstram sua competência leitora. 
 
 
SUGESTÃO DE LEITURA 
 
 
 
O livro “Estratégias de Leitura” de Isabel Solé foi um dos materiais 
utilizados na elaboração deste material e o indicamos para você, caro 
acadêmico, que tem interesse em ampliar e aprofundar seus 
conhecimentos sobre estratégias de leitura essenciais para o seu 
desempenho enquanto leitor. Por meio de exemplos simples, o propósito 
da autora é promover nos leitores a utilização de estratégias que permitam 
interpretar e compreender de forma autônoma os textos lidos. 
 
Título: Estratégias de Leitura. Autor: Isabel Sole. Páginas: 194. Edição: 6. 
Editora: Artmed Ano: 1998 
 
 
 
 
 
 
13 
 
Textos Selecionados 
Sabemos que a existência da ética não se faz de forma isolada do mundo e que, de forma 
geral, é preciso associar a ética ao conhecimento. A partir dessa perspectiva, o artigo a 
seguir trata da relação entre ética e relativismo cultural, esclarecendo, dentre muitos 
outros aspectos, que toda visão acerca da ética leva em consideração tanto a dimensão 
egocêntrica quanto a potencialidade do desenvolvimento do altruísmo, pois, mesmo que 
indiretamente, o sujeito vive para si e para o outro. Para ler, refletir e tirar suas próprias 
conclusões... 
Ética na modernidade: uma questão de reflexão 
Yanka Maria Rodrigues Carvalho 
Ética e relativismo cultural 
Práticas culturais são relações comportamentais aprendidas 
advindas de dois ou mais indivíduos com o passar das 
gerações, selecionadas devido ao seu impacto no grupo 
praticante ou em outras práticas. Portanto, são variáveis 
independentes que controlam o comportamento humano 
individual e são ao mesmo tempo dependentes por originarem-
se do comportamento individual. 
O relativismo cultural é defensor de que os conceitos de bem e 
mal são variantes de cada cultura. Em uma determinada cultura 
o bem é considerado como o que é socialmente aceitável. Os 
princípios e regras morais são estabelecidos de acordo com as 
normas sociais das sociedades. 
Nesse relativismo não há um padrão objetivo, os pontos de vistas são relativos às culturas dos 
indivíduos pertencentes. Quando dito o contrário, faz-se uma imposição de uma cultura sobre 
outra, como verdades objetivas. O conceito de mal é também relativo, para o relativismo cultural o 
mal não é absoluto, o que se pode considerar mal em determinado grupo social pode ser bem 
noutra. 
Os adeptos ao relativismo cultural tornam-se mais propícios a aceitarem as diferenças entre 
sociedades, fazendo a percepção de que outras culturas não são ‘’erradas’’ e sim diferentes. O 
mundo para o relativismo cultural está dividido em diversas sociedades diferenciadas. São 
sociedades em que não existem desacordos, visto que o bem e o mal são estabelecidos pela 
maioria, assertiva nem sempre coerente. 
Se o relativismo cultural representasse uma verdade não seria possível discordância dos valores 
de nossa sociedade. Pois é possível a afirmativa de que algo é aprovado e aceito pela sociedade, 
contudo pode não representar um bem. 
Existem duas formas básicas de relativismo ético: subjetivo e cultural. Os dois pontos de vista 
negam a existência de verdades morais absolutas e objetivas. Levando em conta o relativismo 
éticosubjetivo, o correto é tudo aquilo que é moralmente válido, a ética é uma questão 
individualista, o que o sujeito acredita como certo não pode ser considerado como incorreto por 
14 
 
indivíduo algum. Já segundo o relativismo cultural o que é correto para ti depende do que consiste 
em aceito ou considerado moralmente correto pelo grupo social ou cultura a que tu pertences. 
Uma questão falha do relativismo cultural é referente ao racismo. Os preceitos relativistas 
divergem com os preceitos éticos. Uma perspectiva ética satisfatória tem que demonstrar meios 
efetivos para combater atos racistas, entretanto, o relativismo prega que se o racismo for aceito 
por determinada sociedade ele é considerado bom. 
Uma das justificativas para atitudes relativistas culturais é que não existem padrões comuns entre 
sociedades diferentes e consequentemente entendimento entre valores considerados aceitáveis e 
não aceitáveis. A antropologia, pelo contrário, diz que o entendimento entre os homens é sempre 
possível e se faz através da comunicação. Notoriamente que o entendimento e consenso entre 
indivíduos da mesma sociedade se faz de forma mais fácil, mas o núcleo mínimo de valores e 
traços que não variam está em todos os indivíduos, ainda que não se faça de forma tão 
perceptiva. 
Apesar de no primeiro momento fazer sentido, a ideia de relativismo cultural deixa implícito a 
hipótese da falta de contato com sociedades mais desenvolvidas. Obviamente que não se pode 
cobrar de sociedades antigas padrões morais modernos. É de suma importância ressaltar que o 
relativismo cultural não se aplica a sociedades que possuem contatos, pois a partir do contato 
entre tais sociedades há troca de conjuntos de valores e fica a critério de cada sociedade qual 
padrão seguir. 
Outra questão que enfraquece o relativismo cultural é a globalização. Esse movimento se faz 
presente nos discursos acerca do respeito ás diferenças culturais, e está ligado ao 
‘’multiculturalismo’’, que em primeira instância parece fazer referência à diversidade das culturas e 
sua importância em meio ao mundo. Mas esse é um conceito que está ligado ao inconstante 
processo social, sendo uma solução para as classes influentes e possuidoras do poder político, 
deixando assim a sociedade sem saber que valores culturais devem seguir em meio a tantas 
modificações e incertezas. 
O ato ético 
Todo ato ético é um ato de religação. Um ato moral é um ato individual de religação. Um ato moral 
é um ato individual de religação, seja um com o outro, entre uma comunidade, com uma 
sociedade, ou seja, a religação do ser humano com a sua espécie. 
A religação cósmica se consegue através da religação biológica, que ocorre por meio da religação 
antropológica, que é perceptível através da solidariedade, amizade, fraternidade e no amor, que é 
a religação antropológica soberana. O amor é a demonstração máxima da ética. 
Há uma necessidade vital, social e ética de amizade e companheirismo entre os seres, de afeição 
e amor para a realização plena da espécie humana. O sentimento do amor é a experiência 
essencial para a religação humana. Dependendo do nível de religação humana, se for muito 
complexa, só poderá ocorrer se for através do amor. 
O homem sem a religação se prende a si, se fecha em seu individualismo. Destarte, o fechamento 
o que é o princípio de abertura ao outro: o altruísmo, no lugar de fazer se abrir, pode nos levar a 
um fechamento maior ainda, é o caso do egoísmo extremo, o homem sendo seu próprio lobo, 
onde o individualismo suplanta a coletividade e o ideal de bem comum. Em que o problema 
central passa ser a barbárie gigantesca interior do homem. Por isso, é necessário que o homem 
realize uma análise de pensamento, compreenda-se e se corrija afim de ao menos amenizar sua 
barbárie interior e agir de acordo com a ética. 
A ética complexa precisa do que é mais individual do ser humano, a sua autonomia de 
consciência e sua noção de responsabilidade. Necessita do seu potencial reflexivo de espírito em 
15 
 
relação à análise do seu eu e de suas ações. O progresso da ética pode se realizar pelo seu 
profundo enraizar, pela interação das consciências intelectual e moral. 
O pensamento complexo é o pensamento que se religa. E a ética complexa é fruto desta 
religação. É de suma importância salientar que a religação inclui o processo de separação, pois só 
o separado pode ser religado, portanto, a ética humana, deve se realizar através da fraternidade, 
amor, união na separação. 
As últimas expressões da Ética são consagradas ao amor. Ele não pode ser irracional; por isso, 
cabe à Ética resguardar a racionalidade no íntimo do amor. Vivendo no amor, conseguimos lidar 
com a insegurança e a inquietude, porque ele é o remédio para a angústia, para os males. 
Revoluções éticas 
A modernidade é o nosso habitat peculiar. Não nos notamos como os velhos se viam, pois 
nenhum deles refletia em questionar a naturalidade das afinidades entre o homem e a sociedade. 
E a modernidade aprece precisamente quando o homem começa a se ajuizar desconexo da 
comunidade que ele integra. 
Os seres modernos não atribuem a origem mítica da coletividade a um vinculo orgânico. Para 
eles, é errônea a afirmação de que somos descendentes de Abraão, Rômulo, nem de Eva. Não 
somos unidos por tradições, não pertencemos à mesma família, nem religião e costumes. Para os 
modernistas, o que nos une é a nossa vontade individual, guiada pela razão. O racionalismo 
clássico é oposto a tradições mitológicas e religiosas com base em uma razão natural, que explica 
a ordem natural do mundo e os seus aspectos. 
A crença de que a razão poderia explicar todos os feitios do mundo, foi colocada em suspeita no 
pensamento medieval, de maneira especial, porque muitos dos elementos essenciais do 
cristianismo não eram franqueados pela razão, mas pela fé. Seria muita ambição do homem 
aspirar que a sua razão abrangesse o mundo criado por um deus onipotente, cuja grandeza não 
poderia ser nunca compreendida por nossa restringida racionalidade. Assim, mesmo que as 
compreensões cristãs tenham sustentado a ideia de que a razão pode nos transportar a muitas 
verdades, não se podia acreditar que ela nos desvendasse toda a verdade. 
Assim, o pensamento medieval é bastante cético diante aos limites de uma racionalidade 
individual. A razão é vista como algo que nos expõe a relações naturais, constituídas 
independente dos homens. Portanto, é o critério de racionalidade que nos permite separar os 
ditames da lei humana e lei natural. 
Foi contra esta tradição, que naturalizava os seus valores tradicionais para garantir a sua 
legitimidade, que elevou o pensamento moderno. Descartes foi pioneiro reconhecendo que, entre 
o que ele ponderava natural, existia muito de convencionalismos difundidos pela sua cultura. Mas 
ele já não mais podia converter em natural tudo o que lhe era familiar. Assim, a razão moderna 
não se distanciou da noção de naturalidade, mas a reafirmou, especialmente Porque a sua 
principal função era diferenciar o aparentemente natural do verdadeiramente natural. 
As teorias dos contratualistas não articularam de maneira muito inovadora o direito natural e o 
direito positivo, Porém, o campo da naturalidade foi redefinido, pois muita coisa passou do campo 
da naturalidade para o campo da artificialidade. E foi justamente com esse trânsito que a 
modernidade pôde criticar a tradição, da qual vários elementos passaram a ser vistos como 
construções artificiais ilegítimas. 
A saída encontrada para harmonizar essa fragmentação de moralidades coexistentes foi 
justamente remeter a moralidade para o campo do privado, em que nenhuma validade objetiva 
seria admissível. Mais do que isso, a privatização da moralidade era uma garantia da liberdade de 
crença, especialmente da liberdade de religião, que era um dos pilares das modernas sociedades16 
 
europeias. Assim, a regulação da vida pública deixa de ser um papel da moralidade de inspiração 
religiosa, e passa a ser monopólio de um direito pretensamente laico. Porém, nem toda a 
moralidade foi remetida ao campo do privado, pois restava a moralidade natural, cuja validade 
seria objetiva. 
Por isso mesmo, a ética moderna não se volta a uma catalogação das virtudes dominantes em 
uma tradição, pois isso é deixado aos moralistas de cada crença, aos missionários e catequistas 
de todos os gêneros. Esse gênero de educação moral não deixa de existir, mas ele migra da 
reflexão filosófica para a pregação teológica. Todavia, restava aos filósofos definir aquele núcleo 
da moralidade cuja validade universal poderia ser demonstrada. Nesse sentido, a busca 
da moralidade se aproxima imensamente da busca pelo direito natural, pois ambas se fundem na 
ideia de que existem valores justos por natureza, que podem ser identificados a partir de um uso 
adequado da razão. Portanto, os primeiros filósofos modernos da ética, da política e do direito 
continuavam a velha tradição platônica, em sua busca pela identificação do bem em si. 
A Crise ética na modernidade 
A ética moderna traz a tona o conceito de que os seres humanos sempre devem ser o fim de uma 
ação e nunca um meio parar alcançar determinado 
interesse, pois o homem é visto no centro e tudo está ao 
seu serviço. Essa é uma ideia defendida por Kant, um dos 
principais filósofos da modernidade, que acreditava na ideia 
de o que o homem é um ser egoísta, destrutivo, ambicioso, 
cruel e agressivo. 
As crises históricas determinam as mudanças históricas 
que acontecem e mudam a realidade da sociedade de 
forma radicalmente. É uma questão bastante relevante para 
filosofia, visto que o desenvolvimento da história e as suas 
crises cabem a filosofia, ela não pode ficar estática a 
situações vividas pelo homem moderno. A função da 
filosofia é elucidar o homem em seu ser total. 
A ética tornou-se uma problemática fundamental no 
ocidente do século XX. Durante os anos 50 e 60 chegou-se 
a utilizar o termo reabilitação ética. A mentalidade técnico-científica se tornou cada vez mais 
dominante na civilização ocidental, menosprezando a ética e a reduzindo apenas aos problemas 
individuais. A ética não faz parte do âmbito racional, pois racionalidade é ligada a ciência, e tudo 
que não é pertencente à ciência é resultado do livre arbítrio de cada um. A ética está no centro da 
vida humana, pois a tarefa fundamental e primordial do homem é a construção do seu eu. 
O problema se faz presente, sobretudo, no pensamento europeu, ainda por uma oposição que 
vem desde Kant, com um enorme empecilho a qualquer ontologia. Não se faz mais uma teoria do 
mundo. A filosofia virou apenas uma teoria do nosso conhecimento do mundo. Enquanto não 
suplantarmos a dicotomia entre ser humano e mundo, entre sujeito e objeto, entre teoria e 
realidade, que é a legado deixado pela modernidade, ainda majoritária no pensamento atual, nós 
não teremos saídas. Teremos saídas, no máximo que não são capazes de dizer o que devemos 
fazer frente às questões que cada um deve enfrentar. A questão fundamental da filosofia hoje é 
voltar a ser uma teoria da realidade, é voltar a falar do legítimo. A partir dos valores, em primeiro 
lugar, ontológicos, pode-se perguntar o que a realidade pode dizer enquanto exigência ética. 
Podemos pensar em uma ótica de entender a ética da vida coletiva. E uma ideia fundamental que 
se destaca como uma ética alternativa é aquela onde o homem não é em primeiro lugar só 
indivíduo, mas um ser fundamentalmente de relações e que só conquista o seu ser através do 
outro. 
17 
 
Somente uma sociedade que pudesse ser articulada de tal maneira, onde cada ser humano possa 
ser respeitado e respeitar os outros, seria uma sociedade capaz de criar condições para 
realização do ser humano. Esta é a ideia do reconhecimento mútuo, da dignidade igual de todos 
os seres humanos. É um princípio ético fundamental para organizar a vida coletiva. Isto é, não há 
seres humanos especiais e a eles não se destinam os bens da Terra. Mas todos os seres 
humanos são portadores da mesma igualdade. É por isso que a participação, naquilo que é 
comum, e nas decisões da vida coletiva, é um direito fundamental de cada um, uma vez que cada 
um é igual. 
Racionalidade instrumental 
A modernidade, desde suas origens, desenvolveu-se lutando pela busca da emancipação do 
sujeito em nome da ciência, rejeitando toda a herança judaico-cristã, o dualismo cristão e as 
teorias do direito natural que haviam provocado o nascimento das Declarações dos Direitos do 
Homem e do Cidadão. 
Da superação da fé e do sagrado para a certeza das ciências, de submissão ao dogma à razão. 
No propósito renascentista ressurgia imponente a razão como referência única do saber. Neste 
novo paradigma, o conhecimento somente tem sentido se provado, se aprovado pela ciência com 
seus métodos, ritos e instâncias de validação. Com a modernidade, a única resposta para o 
homem está condicionada ao discurso 
científico. 
A profundeza da crise que a modernidade 
causou ao propor novos referenciais e novos 
paradigmas de fundamento para a 
humanidade baseados na adoração da 
ciência. O desafio posto é de retirar o mais 
sagrado construto da humanidade que por 
séculos justificou práticas políticas e religiosas, 
arrebanhou multidões, suplantando-o por um 
conhecimento que é pura razão. 
As grandes promessas da modernidade, na 
ânsia de responder às necessidades humanas, 
concentram-se nas conquistas da ciência e da 
tecnologia, impondo um processo crescente de 
valoração de todas as coisas, num sentido materializado. Inicialmente na linguagem marxista, 
atribuindo valor econômico às coisas pelo tempo de trabalho humano necessário à produção do 
bem; posteriormente, esvaziando-se deste sentido, à medida que se fundamentava na tecnologia 
e na ciência, em substituição ao trabalho humano, passando a valorar exclusivamente pela 
produtividade. 
Depois de mais de três séculos de discussão sobre o triunfo da razão e o esboroamento das 
tradições, agora, o esgotamento da modernidade transforma-se em sentimento de angústia e 
desencantamento do mundo. 
O método da complexidade 
O método de complexidade é um meio de consolidar a reforma do pensamento, pois rearticula, 
contextualiza, permitindo um pensamento racional complexo, capaz de conduzir ações complexas. 
Esse método é proposto por Morin, ao mesmo tempo em que ultrapassa o método cartesiano, 
deverá se resguardar a inspiração primeira e suas conquistas. 
18 
 
O método da complexidade é o caminho, estratégia e perseguição ao conhecimento. Faz as 
sinapses entre os saberes, entre o ser e o objeto, entre o sujeito e o conhecimento. Leva-nos a 
compreender e a repreender, a organizar de forma mental e estruturar o raciocínio. 
Portanto, esse reaprender, na perspectiva da complexidade, é a reforma do pensamento, num 
pensar que possa articular e contextualizar o conhecimento. Objetivou-se no desafio de encontrar 
e elaborar operadores do conhecimento que permitissem abordar a complexidade do mundo. 
Esses instrumentos mentais são sistematizados, no método de complexidade, em princípios que 
subsidiam a construção do conhecimento complexo. São esses princípios que conduzem à 
reforma das estruturas de pensamento, levando a outra compreensão da realidade por operar 
com outras categorias de análise. 
Diferente dos princípios cartesianos, das ideias claras e distintas, da análise, da ordenação e da 
quantificação os princípios da complexidade, operam a contextualização, a ligação, a 
complementaridade, a incerteza e a recursividade. Em sua obra, Morin tece princípios para um 
pensamento complexo, colocando-os como complementares e interdependentes. Dentre esses, 
se destacam três, considerados fundamentais: o dialógico,o hologramático e o elo recursivo. 
Há, porém, outros princípios e categorias com origem em diferentes ciências e que colaboram 
com a construção do pensamento complexo que, no entendimento que são: o Princípio da 
Complementaridade, o Princípio da Incerteza e o Princípio da Autopoiése. Pode-se promover a 
reforma do pensamento, constituindo, como forma de pensamento, o pensar complexo. Essa 
reforma de pensamento tem desdobramentos para além do campo cognitivo, para o campo da 
ação do homem, ou seja, desdobramentos éticos e políticos. 
Sonhos éticos 
A ética da vida não se prende apenas ao caráter biológico, mas transcende para poder desejar a 
vida com graça e paixão. Ao referir-se a poder, fala da atitude de mudança de pensamento em 
relação à ética da vida. A ética é responsável por recriar o sentido da vida, para que tudo volte a 
fazer sentido, para que a razão se reconecte com a paixão e o pensamento com o sentimento. 
Dessa forma, a ética da vida é o caráter do ser, do 
eu, do indivíduo ao contrário do pensamento 
dominante de separação do conhecimento e da 
vida. Reafirmando que a mudança passa pelo 
retorno à essência da vida, pois toda ética tem 
como tema central a vida, mesmo havendo outras 
éticas, a ética deve ser uma ética criativa, capaz 
de reestruturar pensamentos e sentimentos para a 
boa vida. 
A ética da vida trata de sonhos, desejos, 
vontades, mundo de sentidos, vontades 
compartilhadas e diálogo de saberes. A ética da 
vida é contrária ao processo científico de 
validação e refutação, pois vai à busca de uma 
verdade comum. É a busca pela felicidade, o 
esforço para atingir a excelência e a virtude. A ciência tradicional separa a razão e o sentimento e 
busca produzir verdades para conduzir a vida humana. O conhecimento tornou-se instrumento de 
poder, esquecendo-se do ser, do sentido da vida, da ética da vida. Hoje, para pensar o mundo, 
para se estar inserido na vida de forma verdadeira, é necessário superar a ética que vem da 
ciência, como a que emana o mercado. 
Disponível em: <http://ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=16656> Acesso em: 27 mar 
2017. Adaptado. 
19 
 
Embora normalmente associada a atividades altamente estimadas, a concepção de 
cultura vai muito além disso. Nossa identidade cultural é construída a partir da nossa 
convivência social, é o que somos em nosso mundo social. Aspectos como nossa 
linguagem, nossa maneira de agir em uma situação, o que comemos, como nos vestimos 
e até mesmo como nos vemos estão diretamente ligadas à nossa formação cultural. O 
breve artigo a seguir propõe reflexões sobre a dinâmica que caracteriza a cultura. 
Concepção de cultura 
Lucas de Oliveira Rodrigues 
A palavra “cultura” é comumente relacionada a práticas geralmente consideradas de maior “refino” 
e profundidade intelectual, como a literatura, a arte e a música erudita. Entretanto, devemos 
entender que não são apenas as atividades que levamos em alta estima que devem ser 
consideradas como cultura. 
Para a Sociologia, a cultura é o conjunto de 
características que o indivíduo herda ou aprende 
em seu convívio social, com sua família e os 
demais indivíduos que fazem parte do seu dia a 
dia. Essas características servem para que 
possamos nos comunicar, de forma a 
compreender e sermos compreendidos por 
outros que fazem parte de nossa sociedade, e 
definem grande parte de nossos valores e 
normas, determinando o que é e o que não é 
desejável, em termos de comportamento, em 
nosso meio social. 
Nossa identidade cultural está diretamente ligada 
com o que somos e como vemos o mundo. Ela 
começa a ser moldada no momento em que nascemos e é construída até o momento em que 
morremos. Os valores e as normas que estão ligados a uma cultura dentro de uma sociedade ou 
comunidade comum podem variar e até mesmo serem contraditórios: alguns grupos de indivíduos 
podem basear suas experiências de vida em sua religiosidade, enquanto outros se baseiam em 
uma visão puramente científica do mundo. 
É importante entender que nossa cultura não é algo fixo ou imutável, ela está sempre se 
moldando de acordo com nossas experiências em sociedade. Autores como o polonês Zygmunt 
Bauman julgam que nossa cultura é tão maleável que chega a ser comparada a liquidez da água, 
que está sempre mudando de forma. A ideia de “liquidez social” de Bauman é formada a partir de 
observações de vários processos sociais. Entre eles está a chamada “aculturação”, que se dá em 
meio ao “choque cultural”, onde duas ou várias sociedades de culturas diferentes passam a ter 
contato e a conviver com suas diferenças. Dentro dessa convivência, características culturais, 
como a culinária, palavras, ideias ou formas de se vestir de uma são absorvidas pela outra e vice-
versa. 
O processo de aculturação nos mostra que, em um mundo interligado como o nosso, a ideia de 
pureza cultural é completamente falsa. Sofremos influências e influenciamos mesmo sem 
perceber. Portanto, a noção de que existem culturas superiores ou inferiores é considerada um 
engano. Falamos apenas em culturas diferentes. 
Disponível em: <http://alunosonline.uol.com.br/sociologia/identidade-cultural.html> Acesso em: 20 mar 2017. 
A língua portuguesa é uma das heranças culturais que 
Portugal nos deixou. 
20 
 
A partir do texto, a seguir, é possível compreender que o Dia Mundial para Diversidade 
Cultural e para Diálogo e Desenvolvimento deve ser preservado pela sociedade mundial, 
porque busca celebrar as formas como as diferentes culturas podem dialogar 
pacificamente, para que assim exista cooperação global. Desse modo, o ser humano 
adquire a concepção de que não existe cultura superior às outras, todas interagem entre 
si, aceitando as diversidades existentes. 
Diversidade Cultural, Diálogo e Desenvolvimento 
Luan Pedro 
 
No dia 21 de maio de 2001, foi declarado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, o Dia 
Mundial para Diversidade Cultural e para Diálogo e Desenvolvimento. A data tem como objetivo 
incentivar a compreensão da diversidade cultural como patrimônio comum da humanidade, em 
aspectos como a linguagem, religião, costumes e raças. Além disso, impulsionar o governo e a 
sociedade para reconhecer a importância da cultura e das diferentes formas de expressão, bem 
como atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, por exemplo. 
 
 
A Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural afirma o respeito à diversidade das culturas, 
à tolerância, o diálogo e a cooperação entre os países, em um ambiente de confiança e de 
entendimentos mútuos, a fim de buscar a garantia da paz e segurança internacional. A Declaração 
expõe 12 artigos baseadas nas ideias de Identidade, Diversidade e Pluralismo, Diversidade 
Cultural, Direitos Humanos, Criatividade e Solidariedade Internacional, tendo como finalidade a 
maior compreensão das diferenças, sem ignorar os interesses de cada Estado. Com esta 
declaração, os países reconhecem a diversidade cultural como patrimônio comum da 
humanidade. 
 
Em discurso da ONU, em 2008, Koichiro Matsuura, Diretor-Geral da UNESCO, disse que a 
diversidade cultural “não pode ser decretada, ela é observada e praticada”, logo, tem como 
principal meio de ação o diálogo e a curiosidade (considerando a cooperação entre os Estados e 
as relações da atual sociedade heterogênea), assim testando as possibilidades práticas de 
desenvolvimento. Segundo Matsuura, o desenvolvimento pode ser oferecido por empresas 
culturais, indústrias criativas, turismo e patrimônio cultural, destacando os planos de 
21 
 
desenvolvimento nacionais dos instrumentos de programação conjunta com países signatários 
das Nações Unidas. 
 
O teórico de Relações Internacionais, Emanuel Adler (1999) em sua obra “O construtivismo no 
estudo das relações internacionais”, define o construtivismo como uma ciência socialbaseada no 
coletivismo, logo, ideias construídas pela sociedade, cujo principal objetivo é fornecer explicações 
teóricas e empíricas às 
instituições sociais, e à mudança 
social. A teoria é considerada um 
meio termo entre as abordagens 
positivistas e pós-positivistas. 
 
De acordo com Adler (1999), 
pode-se inferir que os indivíduos 
têm entendimentos próprios de 
crenças e valores. No entanto, na 
formação do conhecimento 
coletivo, houve a construção de 
um ideal de cultura definido a partir de cada sociedade específica. Por esta razão, considera-se 
que a diversidade cultural faz parte da construção de sociedades, determinada pela ação dos 
agentes na estrutura, e pela ação da estrutura sob os agentes, sendo socialmente construída. 
Neste contexto de diversidade cultural, diálogo e desenvolvimento, é possível concordar com 
Morin (2000), quando o autor faz importantes reflexões acerca dos sete saberes necessários para 
educação do futuro, ao afirmar que o ser humano é Homo Ludens, Homo economicus e Homo 
mitologicus, logo, o homem é prosaico e poético. Sendo assim, o homem mantém relações 
complexas, e dinâmicas no ambiente terrestre, pois o mesmo adota posturas diferentes em 
relação à cultura, através das diferentes realidades sociais. 
 
* referências no site. 
 
Fonte: ADLER, Emanuel. O construtivismo no estudo das relações internacionais. Lua Nova. 1999, n.47. ISSN 
0102-6445. 
 
Disponível em: <http://www.internacionaldaamazonia.com/single-post/2016/05/22/Dia-Mundial-para-Diversidade-
Cultural-e-para-Di%C3%A1logo-e-Desenvolvimento> Acesso em: 21 mar 2017. Adaptado. 
 
 
 
 
Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural 
Clique: https://discutindoetica.wordpress.com/page/3/ 
 
 
 
 
22 
 
O que é identidade cultural? Seria um patrimônio a ser preservado? O que dizer sobre 
seus valores? Seriam eles fixos e imutáveis? Cristalizar as diferentes culturas nos permite 
conhecer melhor o comportamento humano? O texto a seguir traz respostas para essas e 
outras perguntas. Posteriormente, fique por dentro do conceito de aculturação. 
Identidade Cultural 
Rainer Gonçalves Sousa 
 
Segundo teorias recentes, a identidade cultural se constrói de forma múltipla e dinâmica. 
A identidade cultural é um conjunto vivo de relações sociais e patrimônios simbólicos 
historicamente compartilhados que estabelece a comunhão de determinados valores entre os 
membros de uma sociedade. Sendo um conceito de trânsito intenso e tamanha complexidade, 
podemos compreender a constituição de uma identidade em manifestações que podem envolver 
um amplo número de situações que vão desde a fala até a participação em certos eventos. 
 
Durante muito tempo, a ideia de uma identidade cultural não foi devidamente problematizada no 
campo das ciências humanas. Com o desenvolvimento das sociedades modernas, muitos teóricos 
tiveram grande preocupação em apontar o enorme “perigo” que o avanço das transformações 
tecnológicas, econômicas e políticas poderiam oferecer a determinados grupos sociais. Nesse 
âmbito, principalmente os folcloristas defendiam a preservação de certas práticas e tradições. 
Por outro lado, algumas recentes teorias culturais desenvolvidas no campo das ciências humanas 
desempenharam o papel inovador de questionar o próprio conceito de identidade cultural. De 
acordo com essa nova corrente, muito em voga com o desenvolvimento da globalização, a 
identidade cultural não pode ser vista como sendo um conjunto de valores fixos e imutáveis que 
definem o indivíduo e a coletividade da qual ele faz parte. 
Um dos mais conhecidos exemplos dessa nova tendência que pensa a questão das identidades 
pode ser encontrada na obra do pesquisador Nestor Garcia Canclini. Em vários de seus escritos, 
este pensador tem a recorrente preocupação de analisar diversas situações nas quais mostra que 
a cultura e as identidades não podem ser pensadas como um patrimônio a ser preservado. Longe 
disso, ele assinala que o intercâmbio e a modificação são caminhos que orientam a formulação e 
a construção das identidades. 
23 
 
Com esses referenciais, antigos problemas que organizavam os estudos culturais perdem a sua 
força para uma visão de natureza mais ampla e flexível. A antiga dicotomia que propunha a cisão 
entre “cultura popular” e “cultura erudita”, por exemplo, deixa de legitimar a ordenação das 
identidades por meio de pressupostos que atestavam a presença de esferas culturais intocáveis 
em uma mesma sociedade. Além disso, outras investigações cumpriram o papel de questionar 
profundamente o clássico conceito de aculturação. 
Partindo dessas novas noções de identidade, antigos temas relacionados à cultura que 
aparentavam completo esgotamento ganharam um novo fôlego interpretativo. As identidades 
passaram a ser trabalhadas com definições menos rígidas. Diversos estudos vão contra a ideia de 
que uma população deve abraçar a sua cultura e garantir todas as formas possíveis de cristalizá-
la. Dessa forma, presenciamos a abertura de novas possibilidades de entender o comportamento 
do homem com seu mundo. 
Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/sociologia/identidade-cultural.htm> Acesso em: 20 mar 2017. 
 
O conceito de aculturação 
O conceito de aculturação nega o caráter dinâmico dos costumes e hábitos das sociedades 
 
O conceito de aculturação foi durante muito tempo utilizado para se avaliar o processo de contato 
entre duas diferentes culturas. Entretanto, a utilização desse tipo de categoria vem sendo cada 
vez mais criticada e combatida por antropólogos e outros especialistas das ciências humanas. Em 
geral, a crítica realizada a esse conceito combate a ideia de que uma cultura desaparece no 
momento em que entra em contato com os valores de outras culturas. 
No entanto, essa premissa se mostra completamente equivocada por compreender que a cultura 
consiste em um conjunto de valores, 
práticas e signos imutáveis no interior de 
uma sociedade. Estudos de natureza 
histórica e antropológica, principalmente a 
partir da segunda metade do século XX, 
demonstraram que as sociedades humanas 
estão constantemente reorganizando suas 
formas de compreender e lidar com o 
mundo. Dessa forma, a cultura não pode 
ser vista de uma forma estática. 
Um dos mais claros exemplos desse 
processo pode ser visto com relação às 
comunidades indígenas brasileiras. No 
começo do século XX, as autoridades 
oficiais acreditavam que a ampliação do contato entre brancos e índios poderia, em questão de 
décadas, extinguir as comunidades indígenas. Contudo, o crescimento das comunidades 
indígenas – a partir da década de 1950 – negou o prognóstico do início daquele século. 
Dessa forma, devemos compreender que a cultura é um processo dinâmico e aberto em que 
hábitos e valores são sistematicamente ressignificados. Por isso, a ideia de aculturação não pode 
ser vista como o fim de uma cultura, pois não há como pensar que um mesmo grupo social irá 
24 
 
preservar os mesmos costumes durante décadas, séculos ou milênios. A cultura de um povo, para 
manter-se viva, deve ser suficientemente livre para conduzir suas próprias escolhas, inovações e 
permanências. 
Fonte original: Mundo Educação 
Disponível em: <http://historiaufms2018.blogspot.com.br/2015/03/o-conceito-de-aculturacao-nega-o.html> Acesso em: 
30 mar 2017. 
Em se tratando de cultura sob o viés da ética e, também, da ecologia, um assunto que, 
certamente, requer a nossa atenção diz respeito às “vaquejadas”. No artigo a seguir, o 
autor apresenta argumentos bem elaborados e suficientes para promover reflexões 
pertinentes acerca do modo como o homem trata os animais em nome de uma prática 
esportiva, demonstrando que seu comportamento éespelho da cultura na qual está 
inserido. 
Vaquejadas: um conflito entre ética e cultura 
Vinicius Littig 
As vaquejadas, recentemente proibidas pelo STF, são uma importante questão de conflito entre a ética e a cultura. E 
tais práticas deveriam ficar no passado. 
Estou aqui, hoje, para comentar sobre um recente caso no país — mais uma vez, um polêmico: a 
vaquejada. Como devem saber, o assunto entrou em voga recentemente por conta de uma 
proibição à prática, que é uma das tradições do nordeste brasileiro. Como sempre, pretendo fazer 
um ponto a ponto e explanar minha argumentação e dar motivos suficientes a você, leitor, para 
que também se posicione contra essa crueldade. Como podem conferir nos meus antigos artigos 
sobre a caça e obsolescência programada, possuo um viés muito ecológico do qual não abro 
mão, mas não em uma plenitude absoluta ao ponto de colocá-los acima de nossa própria espécie, 
e explicarei melhor essa visão ao decorrer das próximas linhas. Se estão confortáveis, então 
vamos começar. 
A vida humana e a natureza 
Terra. O planeta que constitui nosso lar em uma imensidão de espaço vazio entre as galáxias. 
Nela está tudo que um dia conhecemos e os diversos cenários em que tivemos nossas 
experiências. A vida como a concebemos só foi descoberta, até então, por aqui, ao menos até que 
alguém consiga explorar as galáxias de uma forma rápida como no mangá 2001 Nights. Também 
é nossa fonte primal de recursos e, para que possamos continuar a desses usufruir, precisamos 
de um certo zelo com as coisas que aqui 
existem, desde os microrganismos unicelulares 
até os animais. 
Se tratando de animais, uma coisa que 
precisamos entender é que o homem é um 
animal. Independente de sua crença religiosa, 
seja ela católica ou mórmon, o funcionamento 
do organismo humano possui N semelhanças 
com demais mamíferos, principalmente com os 
primatas. Por conta disso, Darwin publicou o 
fruto de sua pesquisa em “A Origem das 
Espécies” algumas centenas de anos atrás, 
que é a base para a compreensão da ecologia 
e do desenvolvimento da genética. Pois bem. 
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Sendo um homem tão animal quanto os demais animais da natureza, a não ser que discutamos 
sobre cadeia alimentar, massa encefálica, domínio da natureza, filosofia e afins, isso nos coloca 
em mesmo patamar que as outras espécies. Na verdade, podemos ver a cultura como um 
desenvolvimento natural de uma espécie que conquista o meio em que vivemos, então nem 
mesmo questões culturais podem ser vistas desligadas por completo do discurso ambiental. 
Fato é que convivemos com outras espécies de diversas formas tendo como alvo nossa 
sobrevivência. Da maioria deles retiramos alimento e matéria prima para produzir quase tudo que 
existe em nossa sociedade, desde roupas até o couro do banco do carro de luxo do playboy de 
esquerda. Durante muitos séculos passamos a ter a falsa crença que, por termos dominado a 
natureza, estamos acima de suas leis, o que resultou em uma dúzia de desastres naturais, 
extinção de espécies e a lista se estende por alguns quilômetros, se devidamente detalhada. 
Recentemente, após o descobrimento do aquecimento global antropológico (amplamente aceito 
pela comunidade acadêmica), passamos a discutir sobre a ética dessa relação uma vez que, 
como já foi colocado, não estamos acima da natureza, somos parte tão integrante quanto. 
Através dessas discussões, pudemos chegar a diversas leis e princípios que estabelecem um 
melhor equilíbrio nessa relação, principalmente com animais. Se for fã da psicologia evolucionista 
como eu, poderá achar dados interessantes que espelham comportamentos humanos a 
comportamentos de outros animais e mostra como os mesmos podem ter sentimentos e 
personalidade — até mesmo, vejam só, insetos como as baratas. Ao compreender essas 
paridades únicas entre homem e fera, entendemos que não podemos utilizar-nos deles como 
meras ferramentas e torturá-los, maltratá-los ou colocar em risco toda uma espécie. Já 
eliminamos os dodôs, afinal. 
Sendo eles capazes de dor e emoção, adotamos critérios no seu trato em pesquisas científicas, 
uso para alimentação, para extração de produtos necessários e afins. 
Os parágrafos acima são o norte de minha ética com os animais. Nada envolvendo crença, só 
resultados científicos de anos e anos de acúmulo de conhecimento acerca de nossas origens e de 
como funciona a relação homem x natureza. Compreendido isso, vamos ao assunto pertinente ao 
artigo. 
Animais como fonte 
Animais, hoje, são fonte de muitas coisas. As mais importantes são alimentação e pesquisas 
científicas que nos ajudam no desenvolvimento de medicamentos. Existe toda uma ética por trás 
de seu abate: precisa ser feito da maneira mais indolor e rápida possível, de forma que evite 
sofrimento. Em laboratório, por exemplo, ratinhos são guilhotinados. Vacas, em frigoríficos, 
recebem um tiro na testa — morte rápida e indolor. “Ain, mas você nunca tomou um tiro na testa!” 
Estudos mostram que, antes que os sensores de dor sejam ativados no cérebro através de 
neuroreceptores, a atividade cerebral já cessou, configurando morte. Na questão da alimentação, 
os veganos e vegetarianos argumentam sobre outros tipos de sofrimentos dos animais, e, nesse 
ponto, não pretendo entrar em detalhes, apesar de concordar parcialmente com eles. 
A questão é que há toda uma forma pragmática de lidar com as feras, hoje, por questões éticas 
incessantemente debatidas. Os direitos dos animais (que muito imbecil por aí diz que seu único 
direito é ficar gostoso na grelha) estão aí para limitar essas relações e são eles que estabelecem 
os parâmetros toleráveis de dor, sofrimento e afins. 
“E há a real necessidade de usarmos animais?”. Sim, há. Na alimentação, isso tem sido 
contornado através de dietas rigorosas e suplementos vitamínicos, coisa a qual nem todos têm 
acesso. Na pesquisa científica, apesar do avanço nos modelos computacionais e de simulação, os 
tecidos vivos ainda não conseguem ser emulados com exatidão, o que torna indispensável o uso 
de seres vivos. Necessidade, há. O que espero ter deixado claro é que esse debate vai muito 
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além do discurso de superioridade do homem para com o meio, na relação com os animais. Dado 
isso, continuemos. 
A questão da vaquejada 
Como no meu artigo sobre a caça, minha principal indagação é sobre o uso de animais como 
fonte de entretenimento. Das muitas necessidades que possuímos, o divertimento não está 
intrinsecamente ligado ao uso animal, apesar de muitos de nós possuirmos em casa bichinhos de 
estimação. Entretanto, nesse caso, eles são vistos muito mais como membros da família do que 
como meros objetos, ou assim deveriam. De qualquer modo, muito se questiona sobre a ética por 
trás desse convívio específico. 
A vaquejada é um esporte que tortura o animal e, em alguns casos, pode provocar graves feridas. 
Se duvidam, eis aqui uma matéria que explicita que os rabos dos bois chegam a ser arrancados. 
Sim, caro leitor, arrancados. Na mão, arrancados mesmo. Não sei quanto a vossas senhorias, 
mas isso não me parece um esporte. Não do ponto de vista do touro, com certeza. Assim como a 
vaquejada, outros “eventos culturais” envolvendo animais já foram proibidos em nosso país, como 
a famosa rinha de galos, de cães, e até o seu uso em circos — em alguns estados. O que todos 
esses “esportes” possuem em comum? Sofrimento animal desnecessário. Bem, nenhuma vida ali 
está sendo gasta de forma produtiva. 
Os que advogam pela vaquejada defendem dois posicionamentos comuns, que realmente são 
relevantes, e outro que é pseudo-argumento: 
a) É uma cultura do povo nordestino e, portanto, deve ser preservada; 
b) Gera emprego e renda para milhares de pessoas; 
c) A proibição só causaria a ilegalidade dos eventos, que continuariam acontecendo; 
Vamos destrinchar ponto a ponto, ok? 
a) Fator culturalEsse é, tão somente, pseudo-argumento. Muitas coisas são fatores culturais em sociedade, mas 
não significa que isso as isenta de questionamentos éticos que levem à sua extinção. A 
escravidão, um dia, já foi cultural. Será que antes da Princesa Isabel assinar a Lei Áurea os donos 
de escravos argumentavam que possuir outros seres humanos era algo bom pois era cultural? 
Óbvio, são questões díspares, mas só a usei para demonstrar que o argumento “é cultura, logo 
deve ser preservada” é imbecil. 
Uma falácia, das bravas. Em sociedade, culturas vêm e vão naturalmente. A maioria delas acaba 
sem sequer ser notada sua extinção, como é possível verificar no mundo da moda. Se não for um 
conspiracionista de esquerda que acredita nos poderes ocultos da mídia manipuladora, as roupas 
possuem características que vão sendo substituídas e as mais ultrapassadas tendem a ser 
abandonadas. Outro exemplo é o uso de VHS, hoje amplamente substituído pelo DVD, que foi 
substituído pelo Blu-Ray e as mídias digitais — e o Senhor fez o Torrent, e viu que era bom. 
Algumas culturas, infelizmente, precisam de uma “forcinha” estatal e fiscalização para acabarem. 
É a vida. 
b) Geração de emprego e renda 
Esse é um forte argumento para quem defende as vaquejadas. Realmente, são milhares de 
trabalhos diretos e indiretos associados à prática. Entretanto, gostaria de lembrá-los que o 
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mercado não é uma entidade estagnada. Nem todos os empregos e profissões acabam sendo 
mantidos com a mudança de cultura. No tópico anterior discursei sobre o VHS e a mudança 
tecnológica. Bem, os donos de locadoras com certeza devem ter sido contra a invenção do 
gravador de DVD, que expandiu a pirataria — e o Senhor fez o Nero, e viu que era bom. Os 
piratas devem ter detestado, por sua vez, o torrent e a Netflix. Isso significa que essas pessoas 
morreram sem empregos após sua perda? Não, caro leitor! Elas arrumaram outros empregos. 
Argumentar pelos empregos gerados é coerente, mas o que está em jogo, aqui, não é a fonte de 
renda das pessoas que, nem sempre, inclusive, é legal. A questão é o ato. Sendo a vaquejada 
uma tortura contra animais, independente de quantas pessoas empregue, continua sendo uma 
prática abominável de um ponto de vista ético e que deve ser banida. Simples assim. 
c) A proibição causará ilegalidade 
Bem, esse é um problema não da lei, mas de sua fiscalização. A ilegalidade do ato não o torna 
defensável, assim como assassinatos, que são proibidos e nem por isso os assassinos de aluguel 
protestam por precisar atuar na ilegalidade. Novamente, reitero que o foco da conversa é a ética 
por trás do ato, não os efeitos do mesmo. A escravidão (sim, novamente vou usar desse exemplo) 
ajudava a sustentar a economia brasileira nos séculos passados. Gerava emprego, renda — ao 
menos para os donos de engenhos — e até hoje existe, na ilegalidade. Por que, então, ninguém a 
defende? Quer dizer, os Ancaps a defendem como “voluntária” (hehe, piadistas), mas para 
qualquer ser humano com meio neurônio que absorveu o discurso da igualdade dos homens 
perante a lei, não existe mais a argumentação que compara negros a macacos, legitimando tal 
crueldade. 
Está na hora de acabarmos com essas falácias e entendermos que a morte animal continua 
sendo necessária. Até mesmo a morte humana, em casos específicos como a pena de morte, 
ainda é defendida. Mas cabe imbuir nessa prática de um propósito ético. Os animais que estão 
em laboratório por certo sofrem com uso de fármacos e químicos complexos, mas estão ali por 
uma nobre causa. O gado de abate sofre? Com certeza. Mas, apesar do confinamento (que é um 
dos focos de debate do vegetarianismo), eles viram nosso alimento e, em sua falta absoluta, 
crianças menores podem ficar desnutridas. Não estou dizendo que nessas duas questões em 
específico não caibam debates sobre a dor e sofrimento dos mesmos, claro que cabe. Ainda na 
questão das pesquisas, existem aqueles que se questionam da necessidade de continuarmos a 
usar animais em pesquisa para produtos cosméticos. Mas o trato com animais para 
entretenimento está longe, léguas distantes, de ser minimamente ético. Espera-se que essa 
proibição abra precedentes para banirmos os rodeios, assim como entidades de proteção animal 
tentam, há anos, banir as touradas para a história. 
Agora, como falei, se quiser se apregoar em seus crenças fundadas em pseudo-filosofia, pode 
continuar. Pode continuar com seu discurso de que o homem é único e especial, tem nada a ver 
com os animais, e que seu trato com a natureza pode ser totalmente guiado pelo prazer e sua 
própria sobrevivência. Sinceramente, não me surpreendo mais com essas visões de mundo 
antiquadas e egocêntricas. Nesse caso, pode defender a vaquejada como forma “cultural” de 
expressão do povo nordestino. Mas, por mais que você negue o lado animalesco do homem e sua 
relação com o meio, não conseguirá desfazer-se das evidências biológicas e genéticas. E, caso 
um dia vivamos para ver a sociedade dominada por outra espécie muito mais avançada que a 
nossa, pode ser que se lembre desses questionamentos. 
Disponível em: <http://minutoprodutivo.com/sociedade/vaquejadas-um-conflito-entre-etica-e-cultura> Acesso em: 16 mar 
2017. Adaptado. 
 
 
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Seja na televisão, no jornal ou nas redes sociais, o humor é algo sempre presente no 
universo do entretenimento. Com o surgimento da internet, assim como outras áreas, o 
gênero se ressignificou, ganhando novos formatos e também uma maior amplitude do 
debate. Das charges às notícias cômicas, o humor se consolida como uma ferramenta de 
informação e um formador de opinião que já existe em vários formatos. Confira! 
Da comédia à crítica, o humor se consolida transformando riso em 
informação 
Heloisa Cavalcanti 
Das tradicionais charges e tirinhas às notícias cômicas, o humor está cada vez mais presente em nosso cotidiano 
tornando-se um meio de informação. 
Para Roberto Kaz, do The Piauí Herald , trazer humor para as notícias do cotidiano pode ser muito 
mais impactante: “isso consegue ser mais eficiente politicamente do que poderia ser uma coluna 
escrita sério”, afirmou em entrevista ao iG. Kaz, que trabalha no portal há um bom tempo, acredita 
que trazer a crítica com a ferramenta cômica tem um poder maior. “Eu acho que às vezes ele 
consegue ser mais eficiente que uma crítica sem humor. Esse é o poder do humor, ele tem um 
poder político porque ele penetra não só pela razão, geralmente como um texto, mas o humor 
entra pela emoção. Então eu acho dessa maneira ele consegue às vezes fixar de forma muito 
mais forte”, reflete. 
 
O chargista Junião traz para o humor questões que envolvem os direitos humanos 
Esse caráter intrínseco ao humor de fixar uma crítica ou uma informação na memória do leitor 
também se reflete nas charges e quadrinhos. Para o chargista Junião, o fato desse gênero do 
humor trazer uma situação do cotidiano de uma maneira surpresa com outro recorte é um dos 
motivos pelo qual geralmente as imagens acabam ficando gravadas na mente dos leitores. “Na 
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verdade a charge não é uma notícia, ela é um artigo. A charge leva a opinião do chargista, mas de 
uma maneira bem humorada”, comenta. “O humor nem sempre é para rir. Existe a crítica, existem 
camadas de entendimento no que se fala. A piada é uma coisa mais inocente, embora existam 
piadas que são preconceituosas. Então o humor tem que ser inteligente”, analisa o chargista. 
Para a professora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Cintia Lima, o humor tem um 
potencial revolucionário. “A gente pensa nesse outro humor que visa criticar, que promove a 
reflexão e especialmente desestabilizar alguma estrutura. Quando pensamos nesse humor que 
desestabiliza, com certeza estamos pensando no humor como fonte de informação”, analisa. 
Cintia também é pesquisadora e estuda a

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