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RESENHA LIVRO DIREITOS SOCIAIS GLOBAIS

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DADOS DA OBRA RESENHADA:
FISCHER-LESCANO, Andreas; MÖLLER, Kolja. Luta pelos direitos sociais globais: o delicado seria o mais grosseiro. 1. Ed – Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017.
ESTRUTURA E CONTEÚDO DA OBRA:
O livro está dividido em cinco capítulos que abordam, de modo geral, a necessidade de se trabalhar pela efetiva imposição dos direitos sociais no âmbito global. A abordagem feita pelos autores traz a premente necessidade de uma mudança de concepção, tanto jurídica quanto política, sobre o fundamento e a aplicação dos direitos sociais no contexto internacional.
Assim, o primeiro capítulo aborda a questão social global, destacando que as demandas dos direitos sociais não podem ser resolvidas apenas no âmbito nacional visto que as crises da sociedade mundial precisam ser pensadas de modo conectado. Trabalha a necessidade de se criar uma estrutura contra-hegemônica, com o fomento à contraposição dos direitos sociais às regras do neoliberalismo. Nesse processo, destaca que a globalização não é um processo uniforme mas, por suas próprias características, é cheio de contradições e, por isso, ratifica a urgência de se discutir os direitos sociais em âmbito global. 
O segundo capítulo trabalha os aspectos da constelação transnacional demonstrando, assim como o faz no primeiro capítulo, que a sociedade mundial não pode ter um local central para decisão política estatalmente constituída e forma unitária. Apresenta a premente necessidade de se criar no cenário internacional um direito compromissado com os princípios sociais e com a justiça ambiental, “as gotas necessárias do óleo socialista”. Evolui a discussão trazendo a necessidade de se promover uma profunda transformação da produção agrária e um abandono do agronegócio como meio de combater a fome. 
O terceiro capítulo avança na discussão sobre a possibilidade de emancipação por meio do Direito Transnacional mostrando que há uma subordinação das regras jurídicas aos detentores do capital internacional. Aqui os autores trabalham a questão da formação do direito de modo a não transformá-lo em um instrumento de perpetuação das desigualdades sociais visto que o modelo normativo capitalista neoliberal não abre espaço para os direitos sociais. Ainda nesse contexto, os autores trazem alguns exemplos como o processo de regulação transnacional promoveram o desmonte dos direitos sociais e que o foco das ações do direito transnacional devem ser os subordinados e oprimidos e conclui afirmando que, face às contradições dos países, é preciso reconhecer que as relações não poderão ser centralmente governadas.
O quarto capítulo foca na luta pelos direitos sociais globais trazendo à baila a indivisibilidade dos direitos humanos e a interdependência dos direitos liberais, políticos e sociais. Avançando na discussão, os autores apresentam algumas críticas dos juristas conservadores aos direitos sociais globais, como a vagueza dos conceitos, o processo de concretização, a dependência de recursos e a falta de aplicação judicial. Por isso, concluem os autores que, somente quando houver uma sobreposição do princípio da democracia para a sociedade mundial e se desvincular da relação limitada Estado-cidadão, poderá se pensar em um processo de emancipação social.
Por fim, o último capítulo descreve as arenas das políticas do direito transnacional, reforçando que as próprias contradições – de vida, de interesses, etc - dos indivíduos nacionais concorrem para a fragmentação do direito europeu. Nessa linha, os autores destacam que é preciso uma superação do nacionalismo das políticas tradicionais, implementando mudanças no sentido de permitir que os cidadãos decidam os rumos políticos de seus países. Ainda na caracterização dos ambientes de desenvolvimento do direito transnacional, trabalham o envolvimento das empresas transnacionais na implementação e defesa dos direitos sociais.
ANÁLISE CRÍTICA:
A primeira questão que precisa ser trabalhada melhor pelos autores é a conceituação clara de alguns termos usados no livro. Talvez pela tradução, ao longo da obra há uma celeuma de conceitos que não são explicados ou são aplicados como sinônimos sem que, na verdade, os sejam. Por exemplo, para os menos afeitos às teorias econômicas de organização de mercado, expressões como liberalismo e neoliberalismo podem ser equivalentes mas, em termos econômicos, esses termos não são sinônimos. Para deixar mais claro, quando se estuda outra língua, normalmente nos deparamos com os falsos cognatos, que são palavras comuns (em grafia ou sonoridade) nas duas línguas mas que têm significados muito diferentes. Confundir neoliberalismo com liberalismo (como é feito por várias vezes no texto) é o mesmo que achar que mico-leão-dourado é uma espécie de leão.
Por outro lado, é preciso pensar as contradições teóricas existentes ao longo da obra ora analisada. Em vários momentos os autores abordam a necessidade de se fortalecer os processos democráticos (fls. 97; 103) para impor os direitos sociais às organizações sociais, empresas transnacionais e organizações não-governamentais; criticam a centralidade das decisões políticas (fls. 14; 56; 81; 83; 94); ao mesmo tempo em que pugnam pelo fortalecimento de instituições não-democráticas – como o parlamento europeu, ONU, OMC, etc. (fls. 94-97); abordam a questão da fome no mundo e da exclusão social (fls. 20-21) ao mesmo tempo que querem destruir o agronegócio e incentivar a produção de subsistência (fls. 18; 23-24); iv) afirmam que um direito global seria um forma de subordinação dos países pobres aos ricos (fls. 27-32) enquanto defende uma imposição do direito transnacional (fls. 35-107-109). Para finalizar, aponto um enxerto do próprio texto, in verbis, “uma política social, global e democrática do direito devera transformar obrigações de auto-obrigações voluntárias em direitos sociais globais compulsórios” (fls. 103).
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES:
De modo geral, é uma boa leitura, principalmente para pessoas que já tenham um arcabouço teórico mais denso, visto que traz uma narrativa pouco didática e exige do leitor conhecimentos prévios do assunto. Devido às contradições, mesmo conceituais, existentes ao longo do texto, não acho que seja uma boa leitura para pessoas pouco familiarizadas com o tema, sob pena de não conseguirem interpretar criticamente as ideias expostas. Mesmo assim, é uma boa leitura.
DADOS DOS AUTORES DA OBRA RESENHADA:
Andreas Fischer-Lescano é um jovem jurista alemão e professor da Universidade de Bremem com experiência de pesquisa em Direito Público, Direito Europeu e Direito Internacional. Tem diversas publicações em sua área de pesquisa, com foco em direitos humanos, sociedade de classes, segurança global e direitos sociais.
Möller Kolja é um jovem sociólogo alemão, phD em 2014 pela Universidade de Flensburg e pesquisador na área de sociologia, direito e ciência política. O livro resenhado é uma adaptação de sua monografia.
DADOS DO AUTOR DA RESENHA:
Edilson Aguiais é Economista e estudante de Direito, Mestre em Agronegócios pela Universidade Federal de Goiás (UFG), MBA em Perícia e Auditoria Econômico-financeira pelo IPOG, Especialista em Gestão em Finanças Empresariais e possui vários cursos extracurriculares na área econômica, financeira e humanas. Atualmente é Presidente da Associação dos Economistas do Estado de Goiás - ASECON/GO (2011/2017) e professor-universitário na Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC/GO além de ser facilitador em diversos cursos e palestras.

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