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RESENHA ACADÊMICA- BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos, 1994.

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RESENHA 
SILVA, Sabrina e SOUZA, Krishnara1 
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 3. ed. São Paulo: Companhia das 
Letras, 1994. 
O Livro Memória e sociedade: lembranças de velhos foi escrito por Ecléa Bosi, uma 
psicóloga graduada na Universidade de São Paulo (USP), com mestrado e doutorado em 
Psicologia Social pela mesma universidade. Ela é autora de várias outras obras, como: Cultura 
de massa e cultura popular, entre outras. Ecléa, por se destacar nas pesquisas que fez no Instituto 
de Psicologia da USP, recebeu o título de professora emérita do mesmo instituto em 2008. 
(BIBLIOTECA VIRTUAL DA FAPESP, s.d). Por causa de um ataque cardíaco Ecléa morreu 
aos 80 anos na cidade de São Paulo em 2017. (REDE BRASIL ATUAL, 2017). 
Para a escrita desta resenha não foi realizada a leitura integral do livro, apenas as 
páginas: 73-92; 154-177; 405-483 foram contempladas. 
A psicóloga inicia explicando como os idosos participam da socialização dos mais 
novos, mostra a importância dos mais velhos e depois diz que a sociedade não os valoriza como 
deveria e o livro continua por uma longa discussão sobre a memória das pessoas, e como um 
idoso se volta bastante para sua memória nessa idade: “Quando os velhos se assentam à margem 
do tempo já sem pressa - seu horizonte é a morte - floresce a narrativa. ” (BOSI, 1994, p.88). 
A sociedade é capitalista, valoriza a produção, o útil, o efetivo. O idoso não está nas 
melhores condições para ser produtivo, já não consegue andar, ouvir, falar direito; é 
marginalizado. Ele já não se encaixa nesse sistema, não tem mais sonhos porque ele mesmo se 
priva de sonhar pela influência dessa sociedade e não por não ter sonhos; resta-lhe a sua 
memória, memória construída pela sua visão de mundo, pelas suas experiências, interpretadas 
como quiser, não deixando de ser importante por ser uma memória individual. 
 
Qual a função da memória? Não reconstrói o tempo, não o anula tampouco. Ao fazer 
cair a barreira que separa o presente do passado, lança uma ponte entre o mundo dos 
vivos e o do além, ao qual retorna tudo o que deixou à luz do sol. Realiza uma 
evocação: o apelo dos vivos, a vinda à luz do dia, por um momento, de um defunto. 
É também a viagem que o oráculo pode fazer, descendo, ser vivo, ao país dos mortos 
para aprender a ver o que quer saber. (BOSI,1994, p.89) 
 
Como citado no trecho, a memória não muda o passado, então lembrar para quê? A 
memória é rica em sentidos e sentimentos de quando aconteceu, não apenas se lembra o fato, 
mas também como se sentiu, o que sentiu. A memória transmite o que livros não conseguem 
 
1 Graduandas do 2° período do curso de Química Industrial da UEG. 
transmitir. Cada um tem sua forma de lembrar e sentir, o mesmo acontecimento pode ser 
lembrado de forma diferente por diferentes pessoas, depende do envolvimento e de como elas 
entendem o ocorrido. 
É a memória dos idosos que nos faz familiarizar com o passado, guardar lições vindas 
das suas experiências, a memória guarda aquilo que se perde com a morte ou com o tempo. 
Lembrar por meio das memórias de alguém ajuda a entender como era a vida no passado 
de forma mais acolhedora do que nos livros e jornais que só dizem como era de forma geral, 
sem uma experiência das pessoas que viveram na época, não tem a relatividade de como uma 
pessoa entende as situações que viveu. 
O jeito que sr. Ariosto conta sua história, rica em detalhes, mostra porque é importante 
lembrar. Sua história mostra sua visão política da época, mostra o que pessoas, como ele, 
pensavam do governo, conta como eram as ruas, como era o jeito das pessoas. 
Com base nesses relatos contidos no livro da psicóloga, as lembranças são constituídas 
de memórias tanto do próprio indivíduo quanto de memórias familiares. Os avós e avôs tem 
papel tão importante quanto os pais ao discorrem sobre como os fatos se deram. Porém, não é 
somente a família que contribui para isto, a vizinhança também agrega valor aos fatos. Logo, a 
coletividade sustenta o fato e estabiliza a lembrança. Algo comum entre relatos de idosos, é 
que lamentam sobre o distanciamento das famílias e amigos ao se recordarem. 
A memória das sociedades antigas, se apoiavam à valores como coletividade, família 
larga; extensa, apego a objetos biográficos, lugares, entre outros. Todos estes de algum modo, 
povoam a memória da pessoa com experiências vividas ou remetem a elas. Com a expansão 
industrial, ocorreram destruição de paisagens sonoras e físicas. Este fato fez com que a 
lembrança fosse afetada, visto que está diretamente ligada às raízes do indivíduo. Como solução 
para a lembrança, tem-se o diálogo com outra pessoa. Os idosos são uma fonte de conhecimento 
com suas lembranças logo, contribuirão para a recordação. 
O sistema capitalista novamente influencia nestas lembranças. Destruindo lugares para 
implantação de indústrias onde anteriormente, era lugar de lazer para esporte como futebol e 
sem a necessidade de se agregar valor. Somente a coletividade ajuda a recordar tanto as 
paisagens e como os fatos realmente se deram. 
Sobre cuidar e respeitar os idosos, como pede sr. Ariosto, é o mínimo que podemos 
fazer, mas algumas vezes para a família é difícil fazer isso por conta do passado deles com o 
idoso. Há pessoas boas e más no mundo, pode ser que esse idoso abandonou, bateu e maltratou 
a mulher e os filhos ou até estuprou as filhas; ninguém da família iria querer ficar perto, muito 
menos cuidar desse idoso, os filhos criariam aversão aos pais e abandonariam ele. É um ciclo 
de abandono. (GROSSI; SANTOS, 2016) 
É de suma importância que a valorização do idoso seja permeada em nossa sociedade. 
Eles a partir de suas memórias, mostram um sentido para suas vidas. A escuta destas 
lembranças nos agrega valores e conhecimentos, assim como os tornam úteis e felizes. Os 
idosos viveram de forma até mais complicada que a nossa devido à falta de oportunidades, 
trabalharam intensamente e na maioria das vezes, só almejam alguém para lhes escutar e 
respeitar. Suas lembranças devem ser reconhecidas e apreciadas. Tornar o velho um indivíduo 
mais feliz, é sinônimo até de menos problemas de saúde. Isto seria possível se o idoso fosse 
integralizado na sociedade com programas para reabilitação como sugestão da própria 
psicóloga, sem tanta exclusão e preconceito. 
Este é um ótimo livro para ampliar o pensamento de pessoas que trabalham nesse tipo 
de ambiente, com idosos. Não é um livro de fácil compreensão, mas adultos em geral deveriam 
ler, como dito, ele amplia a forma de pensar no idoso, na memória, em si mesmo. Com uma 
grande carga de subjetividade, a psicóloga consegue transmitir o que significa lembrar e para 
que são necessárias as memórias. 
 
REFERÊNCIAS 
 
GROSSI, Patricia Krieger; SANTOS, Andréia Mendes dos. Envelhecimento e Cuidados: 
Relatos de experiências com cuidadores de pessoas idosas. EDIPUCRS,2016. 
 
Biblioteca Virtual da FAPESP, Ecléa Bosi. Disponível em: 
<http://bv.fapesp.br/pt/pesquisador/103713/eclea-bosi/>. Acesso em: 31 de outubro de 2017. 
 
Rede Brasil Atual, Ecléa Bosi, uma voz dedicada aos explorados e esquecidos. Disponível em: 
<http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2017/07/eclea-bosi-uma-voz-dedicada-
aosexplorados-e-esquecidos>. Acesso em: 31 de outubro de 2017.

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