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Estudos Fe m inistas, Flori a nópo lis, 15(2): 240, m a io-a gosto/2007 291 M a p e a nd o a im a g in a ç ã oM a p e a nd o a im a g in a ç ã oM a p e a nd o a im a g in a ç ã oM a p e a nd o a im a g in a ç ã oM a p e a nd o a im a g in a ç ã o fe m inista : fe m inista : fe m inista : fe m inista : fe m inista : d a re d istribuiç ã o a od a re d istribuiç ã o a od a re d istribuiç ã o a od a re d istribuiç ã o a od a re d istribuiç ã o a o re c onhe c im ento e àre c onhe c im ento e àre c onhe c im ento e àre c onhe c im ento e àre c onhe c im ento e à re p rese nta ç ã ore prese nta ç ã ore p rese nta ç ã ore prese nta ç ã ore p rese nta ç ã o***** RRRRResumoesumoesumoesumoesumo: Este artigo re a liz a um a re flexã o sobre c omo re inventar o pro je to fe m inista e m um mundo que se g lob a liz a , a p artir d e um b a l a nç o sobre as mud a nç as no fe m inismo no c ontexto d as tra nsform a ç õ es no c a p ita lismo pós-guerra e n a g e opo lític a pós-c omunista . O pós-11 d e Se te mbro signific ou um a mud a nç a drástic a n as energ i as fe m inistas, d eslo c a ndo a ponta-d e- l a nç a d a luta d e g ênero dos Esta dos Unidos p ara esp a ç os tra nsn a c ion a is, c omo a “Europ a ”. O que está por trás d essa mud a nç a g e ográ fic a e qu a is sã o as su as imp lic a ç õ es po lític as p ara o futuro do pro je to fe m inista sã o questõ es que a a utora busc a respond er. PPPPP a l a vr a s- c h a v ea l a vr a s- c h a v ea l a vr a s- c h a v ea l a vr a s- c h a v ea l a vr a s- c h a v e : f e m i n ism o c o n t e m p or â n e o ; p ós-1 1 d e S e t e m b ro ; r e d is tr i b u i ç ã o e re conhe c imento . C o p yr i g h t ¤ 2 0 0 7 b y Re v ist a Estudos Fe m inistas. * Pu b li c a d o e m C onste l l a t ions, Oxford: Bl a ckwe ll Pub lishing Ltd ., v. 12 , n . 3 , 2005 . p . 295-307 . Tr a d uz i d o e p u b l i c a d o c o m a a utoriza ç ã o d a a utora . N a ncy Fraser New Schoo l for So c i a l Rese a rch ArArArArArtig ostig ostig ostig ostig os Por muitos a nos, fe m inistas a o re d or d o mund o se vo lt a ra m p a ra os Est a d os Un i d os e m b usc a d a s m a is a v a n ç a d a s te ori a s e p rá ti c a s. C on tu d o , a tu a lm e n te o fe m in ismo esta dun id e nse se e n c ontra e m um im p asse , entra v a do p e lo c lim a po lític o hostil pós-11 d e Se te mbro . Inc ertas d e c omo busc a r justiç a e m re l a ç ã o a g ênero sob as c ond iç õ es a tu a is, esta mos a gora d evo lvendo o fa vor a o o lh a rmos p a ra as fe m inistas d e outros lug a res busc a ndo insp ira ç ã o e orienta ç ã o . Assim , ho je , a p onta d e l a nç a d a lu t a d e g ê n e ro tr a nsf e riu-se d os Est a d os Un i d os p a r a esp a ç os tra nsn a c ion a is, c omo a “Euro p a ”, ond e h á m a ior m a rg em p a ra m a nobras. A c onse qüênc i a é um a mud a nç a drástic a n a g e ogra fi a d as energ i as fe m inistas. O que está p or trás d essa mud a nç a g e o grá fic a? E qu a is sã o as su as imp lic a ç õ es p o lític as p a ra o futuro d o pro je to fe m inista? No que se se gue , eu proponho um re l a to d a tra je tóri a históric a d a se gund a ond a do fe m inismo d e NAN CY FRASER 292 Estudos Fe m inistas, Flori a nópo lis, 15(2): 291-308, m a io-a gosto/2007 m a n e ir a a jo g a r a l g um a luz so b re e sse t e m a . M inh a estra té g i a será a d e re l a c ion a r as mud a nç as g e ográ fic as n as energ i as fe m inistas a d o is outros tip os. Por um l a d o , id e ntific a re i a lgum as gra nd es tra nsform a ç õ es no mo d o c omo fe m inistas im a g in a ra m a justiç a d e g ênero p a rtir dos a nos 70 . Por ou tro l a d o , situ a re i a s tra nsform a ç õ es no im a g in á rio fe m inista no c ontexto d e mud a nç as m a iores no Ze itg e ist p o lític o e no c a p ita lismo p ós-guerra . O resulta d o será um a Ze itd i a gnose historic a m ente situ a d a a tra vés d a qu a l p o d e mos a v a li a r os prosp e c tos p o líti c os d as lutas fe m inistas p a ra os te mp os vind ouros. De form a g era l, entã o , o ob je tivo d este tra b a lho é po lítico . Ao historic iza r mud a nç as n a g e ogra fia d as energ ias fe m inistas, pre tendo a lc a nç a r a lgum insight sobre c omo p o d e mos revig ora r a te ori a e a prá tic a d a igu a ld a d e d e g ê n e ro so b as c ond i ç õ es a tu a is. Do m esmo mo d o , a o m a p e a r as tra nsform a ções n a im a g in a ç ã o feminista , a lme jo d e term in a r o que d everi a ser d esc a rta do ou preserv a do p a ra as lutas que virã o. Ao situ a r ta is mud a nç as, p or fim , no c ontexto d as tra nsform a ç õ es no c a p ita lismo pós-guerra e g e opo lític a pós-c omunista , d ese jo estimul a r a d iscussã o sobre c omo pod e mos re inventa r o pro je to do fe m inismo e m um mund o que se g lo b a liza . 1 H is t o r i c iz a n d o a s e g u n d a o n d a d o1 H is t o r i c iz a n d o a s e g u n d a o n d a d o1 H is t o r i c iz a n d o a s e g u n d a o n d a d o1 H is t o r i c iz a n d o a s e g u n d a o n d a d o1 H is t o r i c iz a n d o a s e g u n d a o n d a d o fe m in ismofe m in ismofe m in ismofe m in ismofe m in ismo C omo d eve mos e nte n d e r a h istóri a d a se gun d a ond a do feminismo? A n a rra tiva que proponho se d iferenc ia r e l e v a n t e m e n t e d o p a d r ã o d i fu n d i d o n o s c ír c u l o s a c a d ê m ic os d os Esta d os Unid os. A históri a p a drã o é um a n a rra tiv a d e pro gresso , se gund o a qu a l nós sa ímos d e um movim ento exc lusivista , d om in a d o p or mulheres bra nc as he terossexu a is d e c l asse m é d i a , p a ra um movim ento m a ior e m a is inc lusivo que p erm itiu inte gra r as pre o cup a ç õ es d e lésb ic as, mulheres ne gras e/ou pobres e mulheres tra b a lh a- d oras.1 É c l a ro que eu a p o io os esforç os p a ra a mp li a r e d iversific a r o fe m inismo , m as n ã o a cho que essa se j a um a n a rra tiv a sa tisfa tóri a . No m eu p onto d e vista , e l a é muito intern a a o fe m inismo . Pre o cup a d a exc lusiv a m ente c om os d esenvo lvimentos d entro do movimento , essa n a rra tiva n ã o c onse g u e situ a r mu d a n ç a s in te riores e m re l a ç ã o a os d esenvo lvimentos históric os m a is a mp los e a o c lim a externo. Assim , eu ind ic a re i um a h istóri a a lte rn a tiv a , que é m a is históric a e m enos a uto c ongra tul a tóri a . Pa ra os m eus propósitos, a históri a d a se gund a ond a do fe m inismo se d ivid e e m três fases. Em um a prim e ira fase , o feminismo estava estrita mente re la c ion a do a vá rios “novos movim entos só c i as” que e m erg ira m do ferm ento dos a nos 1 Ver, p or exe mp lo, b e ll HO OKS, 2000; Ruth ROSEN, 2001; e Benita ROTH, 2004. Estudos Fe m inistas, Flori a nópo lis, 15(2): 291-308, m a io-a gosto/2007 293 MAPEANDO A IMAG INAÇÃO FEMINISTA 60. N a se gund a fase , fo i a tra íd o p a ra a órb ita d a p o lític a d e id entid a d es. E, fin a lmente , em um a terc e ira fase , o fem i- nismo é c a d a vez m a is pra tic a d o c omo p o lític a tra nsn a- c ion a l, e m esp a ç os tra nsn a c ion a is e m erg entes. E eu m e exp lic o e m se guid a . A históri a d a se gund a ond a do fe m inismo a presenta um a tra je tóri a impression a nte . Fomenta d a p e lo ra d ic a lismo d a Nov a Esqu e rd a (N ew Le ft), essa ond a d o fe m in ismo c om e ç ou c omo um d os novos movim e ntos so c i a is qu e d e s a f i a r a m a s e stru tu r a s n o rm a t iz a d o r a s d a so c i a l- d e mo cra c i a p ós-Se gund a Guerra . O rig inou-se , e m outras p a l avras, c omo p a rte d e um esforç o m a ior p a ra tra nsform a r o im a g in á rio po lític o ec onom ic ista que tinh a c entra do a a tenç ã o e m pro b le m as d e d istribuiç ã o entre as c l asses. Nessa prim e ira fase (novos movim entos so c i a is), fe m inistas busc a ra m a m p li a r o se u im a g in á rio . Ao exp ore m um a a m p l a g a m a d e fo rm a s d e d o m i n a ç ã o m a s c u l i n a , fe m inistas sustenta ra m um a visã o exp a nd id a d a p o lític a que inc luísse “o p esso a l”. M a is ta rd e , no enta nto , c om o d e c lín io d a s e n e rg i a s u tó p i c a s d a Nov a Esq u e rd a , os i ns i g h ts a n t i- e c o n o m i c ist a s fo r a m r e ss i g n i f i c a d os e inc orp ora d os e m um novo im a g in á rio p o lític o que c o lo c ou q u e stõ e s c u l tu r a is e m p r i m e iro p l a n o . Ef e t iv a m e n t e c a p tura d o p or esse im a g in á rio cu ltura lista , o fe m in ismo re inve ntou-se c omo p o lític a d e re c onh e c im e nto . N essa se gund a fase , o fe m inismo se pre o cup ou c om a cultura e fo i a tra íd o p a ra a órb ita d a p o lític a d e id entid a d e . Ap esa r d e o fe m inismo n ã o ter sid o nota d o à que l a é p o c a , a su a f a s e d e p o l í t i c a d e i d e n t i d a d e c o i n c i d i u c o m u m d esdobra m ento históric o m a is a mp lo: o esg a rç a m ento d a d e mo cra c i a so c i a l b ase a d a n a id é i a d e n a ç ã o gra ç as à pressã o d o ne o lib era lismo g lo b a l. So b ta is c ond iç õ es, um a p o l ít i c a d e re c onh e c im e n to c e n tra d a n a c u ltura n ã o p o d e r i a s e r b e m-su c e d i d a . N a m e d i d a e m q u e ne g lig enc iou os d esd o bra m entos p o lític o-e c onôm ic os e g e o p o l ít i c os, e ss a a b o rd a g e m n ã o p ô d e o p o r-se d e m a ne ira e fe tiv a ne m à se lv a g eri a d as p o lític as d e livre- m erc a do ne m a o ch a uvinismo d e d ire ita que e m erg iu c om e l as. Princ ip a lmente o feminismo esta dunid ense n ã o estava pre p a ra d o p a ra as a lte ra ç õ es dra m á tic as no horizonte p o lític o a p ós o 11 d e Se te mbro . N a Euro p a e e m outros l u g a r e s , c o n tu d o , f e m i n ist a s d e s c o b r ir a m , e e st ã o d estra mente exp lora ndo , novas oportunid a d es po lític as nos esp a ç os po lític os tra nsn a c ion a is no nosso mundo que se g l o b a l iz a . Lo g o , e st ã o m a is u m a v e z re inv e n t a d o o fe m inismo – d esta vez c omo um pro je to e um pro c esso d e po lític a tra nsn a c ion a l. Ap esa r d e esta terc e ira fase ser a ind a b asta nte re c ente , e l a a nunc i a um a mud a nç a n a esc a l a d a po lític a fe m inista que pod eri a torn a r possíve l inte gra r os NAN CY FRASER 294 Estudos Fe m inistas, Flori a nópo lis, 15(2): 291-308, m a io-a gosto/2007 m e lhores asp e c tos d as du as fases a nteriores e m um a nov a e m a is a d e qu a d a síntese . Essa é , d e form a resum id a , a históri a que eu g osta ri a d e e l a b o r a r a q u i . An t e s d e p ross e g u ir c o m os s e us d esdobra mentos, sã o ne c essá rios do is lembre tes. O prime iro d iz resp e ito a o c a rá ter a lta m ente estiliza do d essa n a rra tiva ; d e form a a esc l a re c er a tra je tóri a c omo um todo , a c a bo por d esenh a r linh as extre m a m ente d e m a rc a tóri as qu a ndo, e m mu itos lu g a res e e m mu itos p on tos, a s re a l i d a d es tend e m a se sobre por. C ontudo, v a le a p en a c orrer o risc o d a d istorç ã o , se a n a rra t iv a g e ra r insi g h ts p o l ít i c os e inte le c tu a is p a ra o p eríodo futuro . Minh a se gund a a dvertênc i a d iz resp e ito à g e ogra fi a d as três fases d o fe m inismo. D a form a c omo eu a entend o , a prim e ira fase (novos movim entos so c i a is) a lc a nç ou os fe m inismos d a Am éric a d o Norte e d a Euro p a O c id enta l – e possive lm ente c orrentes e m outros lug a res. A se gund a fase (p o lític a d a id entid a d e) fo i m a is b e m expressa nos Esta dos Unidos, a p esa r d e ter tido resson â nc i a e m outras re g iõ es. Fin a lm ente , a terc e ira fase é m a is d esenvo lvid a , c omo se u nom e sug e re , e m esp a ç os p o líti c os tra nsn a- c ion a is, p a ra d igm a tic a m ente asso c i a dos à “Europ a ”. 2 A p ro x i m a n d o o g ê n e ro à so c i a l-2 A p ro x i m a n d o o g ê n e ro à so c i a l-2 A p ro x i m a n d o o g ê n e ro à so c i a l-2 A p ro x i m a n d o o g ê n e ro à so c i a l-2 A p ro x i m a n d o o g ê n e ro à so c i a l- d e mo cra c i a : um a crític a a o e c onom ic ismod e mo cra c i a : um a crític a a o e c onom ic ismod e mo cra c i a : um a crític a a o e c onom ic ismod e mo cra c i a : um a crític a a o e c onom ic ismod e mo cra c i a : um a crític a a o e c onom ic ismo Pa ra entend er a fase um , re lembremos as c ond iç õ es n a s q u a is a in d a e st a v a o q u e s i g n i f i c a t iv a m e n t e se ch a m a v a d e “Prim e iro Mund o”. Qu a nd o a se gund a ond a do fem inismo e c lod iu, as n a ç õ es d e c a p ita lismo ava nç a do n a Europ a O c id enta l e n a Am éric a do Norte a ind a estava m c o lhend o os frutos d a ond a d e prosp erid a d e que se se guiu à Se gund a Guerra Mund i a l. Utiliza nd o nov as ferra m entas do d irig ismo e c onôm ic o keynesi a no, essas n a ç õ es tinh a m a p a rente m ente a prend ido a lid a r c om os m a us te mpos nos ne gó c ios e a gui a r o d esenvo lvimento e c onômic o n a c ion a l d e form a a a sse g ura r e m p re g o q u a se p l e no p a ra os hom ens. Inc orpora ndo os a ntes inc ontro l á ve is movim entos dos tra b a lh a dores, e l as tinh a m c onstruído um a bra ng ente Est a d o d e b e m- e st a r so c i a l e i nst i tu c i o n a l iz a d o a so l i d a r i e d a d e e n tre a s c l a sse s e m â m b i to n a c i o n a l . O bvi a m ente , esse a c ord o históric o d e c l asse re p ousa v a so bre um a série d e exc lusõ es d e g ênero, ra ç a e e tni a , se m m enc ion a r a exp lora ç ã o ne o c o loni a l. M as esses d e fe itos e m p o t e n c i a l t e n d e r a m a p e rm a n e c e r l a t e n t e s n o im a g in á rio so c i a l-d e mo cra ta que enfa tiza v a re d istribuiç ã o entre as c l asses. O resulta d o fo i um c inturã o d e prósp eras so c ie d a d es d e c onsumo d e m assa no Atl â ntic o Norte , que a p a rente m ente h a vi a m dom estic a do o c onflito so c i a l.22 Eric HOBSBAWM, 1995. Estudos Fe m inistas, Flori a nópo lis, 15(2): 291-308, m a io-a gosto/2007 295 MAPEANDO A IMAG INAÇÃO FEMINISTA Na d é c a d a d e 60, entre ta nto, a re la tiva c a lm a d essa Ép o c a d e O uro fo i re p e n tin a m e n te d estru íd a . Em um a extra ord in á ri a exp losã o intern a c ion a l, a juventud e ra d ic a l tomou as ru as – prim e iro p a ra se o p or à se gre g a ç ã o ra c i a l e à Guerra d o Vie tn ã . Lo g o a p ós, c om e ç ou a question a r c a ra c terístic as c entra is d a mod ernid a d e c a p ita lista que a so c i a l-d e mo cra c i a tinh a n a tura liza do a té entã o: re pressã o sexua l, sexismo e he teronorm a tivid a d e; m a teria lismo, cultura corpora tiva e a “é tic a do suc esso”; consumismo , burocra c ia e “ c o n tro l e so c i a l ” . Ro m p e n d o a s ro t i n a s p o l í t i c a s norm a liza d as d a era a nterior, novos a tores so c i a is form a ra m n ovos m ov im e n tos so c i a is , c o m a se g un d a o n d a d o fe m inismo entre os m a is vision á rios.3 Ao l a d o d e seus c a m a ra d as d e outros movim entos, os fe m inismos d essa era mod ific a ra m o im a g in á rio po lític o . Tra nsgre d indo um a cultura po lític a que privile g i a v a a tores qu e se c o lo c a v a m c omo c l a ssesd e fin id a s n a c ion a l e po litic a m ente dom estic a d as, e les d esa fi a ra m as exc lusõ es d e g ênero d entro d a so c i a l-d e mo cra c i a . Prob le m a tiza ndo o p a tern a lismo d o Esta d o d o b e m-esta r so c i a l e a fa m íli a burgu esa , os fe m in ismos expuse ra m o pro fund o a ndro- c entrismo d a so c ie d a d e c a p ita lista . Po litiza ndo “o p esso a l”, exp a nd ira m as fronte iras d e c ontesta ç ã o p a ra a lé m d a re d istribuiç ã o só c io-e c onôm ic a – p a ra inc luir o tra b a lho dom éstic o , a sexu a lid a d e e a re produç ã o .4 Ra d ic a l c omo era , o fe m inismo d essa fase m a ntinh a um a re l a ç ã o a mb iv a lente c om a so c i a l-d e mo cra c i a . Por um l a d o , gra nd e p a rte d o iníc io d a se gund a ond a re je itou o é t a t ism e 5 d e ss a d e m o c r a c i a e su a t e n d ê n c i a , princ ip a lm ente n a Euro p a , a m a rg in a liza r d ivisõ es so c i a is que n ã o fosse m d e c l asse e pro b le m as so c i a is que n ã o fosse m d e d istri b u i ç ã o . Por ou tro l a d o , a m a iori a d a s fe m in ist a s p ressu p unh a a tri b u tos-c h a v e d o im a g in á rio so c i a lista c omo b ase p a ra pro je tos m a is ra d ic a is. C onta ndo c om o e thos so lid á rio d o Esta d o d e b e m- e st a r so c i a l e c o m a s c a p a c i d a d e s d e a sse g ur a r a prosp e rid a d e , e l as ta m b é m esta v a m c om prom e tid as a d om a r m erc a d os e promover igu a lita rismo . Ag ind o a p a rtir d e um a c rít i c a q u e e ra , a o m esm o te m p o , ra d i c a l e im a nente , a prim e ira fase d a se gund a ond a do fe m inismo busc a v a m enos o d esm a nte l a m ento do we lfare sta te d o que tra nsform á-lo e m um a forç a que pud esse re m e d i a r a dom in a ç ã o m asculin a .6 C ontud o , p or vo lta d e 1989, a históri a p a re c e ter ultra p assa d o o pro je to p o lític o . Um a d é c a d a d e g overno c onserv a dor n a Europ a O c id enta l e n a Am éric a do Norte , c oro a d a p e l a que d a d o c omunismo no Leste , d eu nov a vid a às id e o lo g i as d o livre-m erc a d o a ntes d a d as c omo mortas. Ressusc ita do d a lixe ira históric a , o “ne o lib era lismo” 6 P a r a m a is e x e m p l o s d e ss a a mb iv a lênc i a , ver os ensa ios e m Lind a G ORDON, 1990, inc luind o m inh a c o n tri b u i ç ã o : “Stru g g l e over Ne e ds: Outline of a So c i a list- Fe m in ist C ritic a l Th e ory o f La te- C a p it a l ist Po l it i c a l C u lture ” (p . 205-231). 5 No orig in a l (N.T.). 4 Sa ra EVANS, 1980; Alic e ECHOLS, 1990; e Myra M a rx FERREE e Be th B. HESS, 1995. 3 Al a in TOURAINE, 1988; Alb e rto MELUC C I, John KEANE e Paul MIER, 1989; e Ha nk JOHNSTON, Enrique LARANA e Jose p h R. GUSFIELD , 1994. NAN CY FRASER 296 Estudos Fe m inistas, Flori a nópo lis, 15(2): 291-308, m a io-a gosto/2007 p erm itiu um a ta que siste m á tic o à id é i a d e re d istribuiç ã o igu a litá ri a . O resu lta d o , a m p lifi c a d o p e l a g lo b a liza ç ã o a c e lera d a , fo i a dúvid a g era d a e m re l a ç ã o à le g itim id a d e e v i a b i l i d a d e d o d iri g ism o ke yn esi a no . C o m a so c i a l- d e mo c ra c i a n a d e fe nsiv a , os esforç os p a ra a m p li a r e a p ro fun d a r su a s p rom essa s fora m n a tura lm e n te se n d o d esc a rta dos. Os movim entos fe m inistas que a ntes tinh a m o Est a d o d e b e m-e st a r c o m o se u p o n to d e p a rt i d a , pro cura nd o d esd o bra r o e thos igu a litá rio d a c l asse p a ra o g ê n e ro , p e rd e ra m o seu ch ã o . In c a p azes d e assum ir a so c i a l-d e m o c ra c i a c o m o b a se p a ra a ra d i c a l iz a ç ã o , g ra v it a ra m p a ra nov a s g ra m á t i c a s d e re iv in d i c a ç õ es p o lític as, m a is próxim as d o Ze itg e ist p ós-so c i a lista . 3 D a re d istribuiç ã o a o re c onhe c im ento: o3 D a re d istribuiç ã o a o re c onhe c im ento: o3 D a re d istribuiç ã o a o re c onhe c im ento: o3 D a re d istribuiç ã o a o re c onhe c im ento: o3 D a re d istribuiç ã o a o re c onhe c im ento: o in fe liz c a sa m e n to d o c u ltura lismo c om oin fe liz c a sa m e n to d o c u ltura lismo c om oin fe liz c a sa m e n to d o c u ltura lismo c om oin fe liz c a sa m e n to d o c u ltura lismo c om oin fe liz c a sa m e n to d o c u ltura lismo c om o n e o lib e ra lismon e o lib e ra lismon e o lib e ra lismon e o lib e ra lismon e o lib e ra lismo Entra e m jogo a po lític a d e re c onhe c im ento . Se a prim e ira fase d o fe m inismo p ós-guerra pro curou a proxim a r o g ênero do im a g in á rio so c i a lista , a se gund a fase enfa tizou a ne c essid a d e d e “re c onhe c er a d iferenç a ”. “Re c onhe- c im e n to ” , a ssim , tornou-se a p rin c i p a l g ra m á t i c a d a s re ivind ic a ç õ es fe m inistas no fin-d e-siè c le . Um a c a te g ori a venerá ve l d a filosofi a he g e li a n a ressusc ita d a por c ientistas p o lític os, essa no ç ã o c a p turou o c a rá ter d istintivo d as lutas pós-so c i a listas, que fre qüente m ente tom a v a m a form a d e um a p o lític a d e id entid a d e , visa nd o m a is a v a loriza ç ã o d a d ife re n ç a d o q u e a p romo ç ã o d a i g u a l d a d e . Q u e r o p ro b l e m a fosse a v i o l ê n c i a c o n tr a a mu lh e r, q u e r a d isp a r i d a d e d e g ê n e ros n a r e p r e s e n t a ç ã o p o l í t i c a , feministas re correra m à gra m á tic a do re conhe c imento p a ra expressa r su as vind ic a ç õ es. Inc a p azes d e ob ter progresso contra as injustiç as d a po lític a e conômic a , pre ferira m vo lta r- se p a ra os m a les resulta ntes dos p a drõ es a ntropo c êntric os d e v a lor cultura l ou d e hiera rqui as. O resulta d o fo i um a g ra nd e mud a n ç a no im a g in á rio fe m in ista : e nqu a nto a g era ç ã o a nterior busc a v a um id e a l d e e qüid a d e so c i a l exp a n d i d o , est a inv esti a su a s e n e rg i a s n a s mu d a n ç a s cultura is.7 De ixe-m e esc l a re c er. O pro je to d e tra nsform a ç ã o cultura l fo i p a rte inte gra nte d e tod as as fases do fe m inismo , in c lu in d o a f a se d os novos mov im e n tos so c i a is. O qu e d iferenc i a a fase d a p o lític a d e id entid a d e é a re l a tiv a a utonom iza ç ã o d o pro je to cultura l – seu a p a rta m ento d o pro je to d e tra nsform a ç ã o po lític o-e c onôm ic a e d e justiç a d istributiva . N ã o surpre end e que os e fe itos d a fase d o is tenh a m sid o c onfusos. Por um l a d o , a nov a ori e nta ç ã o p a ra o 7 N a ncy FRASER, 1997. Estudos Fe m inistas, Flori a nópo lis, 15(2): 291-308, m a io-a gosto/2007 297 MAPEANDO A IMAG INAÇÃO FEMINISTA re c onhe c im ento d eu a tenç ã o às form as d e d om in a ç ã o m asculin a que a ntes esta v a m e nra iza d as n a ord e m d o sta tus d a so c ie d a d e c a p ita lista . Se tivesse sido c omb in a do c o m o fo c o a n t e r i o r d a d o à s d e s i g u a l d a d e s só c i o- e c onôm ic as, nosso e nte nd im e nto d a justiç a d e g ê n e ro p o d eri a ter se a profund a d o . Por outro l a d o, a figura d a luta p e lo re c onhe c im ento c a p turou d e form a tã o c omp le ta a im a g in a ç ã o fe m inista que serviu m a is p a ra d eslo c a r d o que a pro fund a r o im a g in á rio so c i a lista . A te nd ê n c i a fo i sub ord in a r lutas so c i a is às lutas c u ltura is, a p o líti c a d e re d istribuiç ã o à po lític a do re c onhe c im ento . Essa n ã o fo i, c om c erteza , a intenç ã o orig in a l. Os proponentes d a vira d a cultura l pressupunha m, a o contrá rio, que a po lític a feminista d e id entid a d e e d iferença cri a ri a um a sinerg i a c om as lutas p e l a igu a ld a d e so c i a l. M as ta l pressup osiç ã o virou um a presa p a ra o Ze itg e ist d a é p o c a . No c ontexto d o fin-d e- siè c le , a vira d a em d ire ç ã o a o re conhe c imento a comodou- se c onfortave lm ente a o ne o lib era lismo he g e mônic o que n a d a m a is queri a d o que re prim ir a m e móri a d o igu a lita- rismo so c i a l. O resulta d o fo i um a trá g ic a ironi a históric a . Ao invés d e che g a r a um p a ra d igm a m a ior e m a is ric o que inc luísse ta nto a re d istribuiç ã o qu a nto o re c onhe c im ento , nós e fe tiv a m ente tro c a mos um p a ra d igm a trunc a do por outro – um e c onom ic ismo trunc a d o p or um cultura lismo trunc a d o . O mom ento n ã o pod eri a ter sido p ior. A mud a nç a p a ra um a po lític a cultura liza d a d e re c onhe c imento o c orreu pre c isa m ente no p eríodo e m que o ne o lib era lismo esta v a enc en a ndo seu re torno esp e ta cul a r. Dura nte esse p eríodo , a te ori a a c a d ê m ic a fe m in ista esta v a pre o cup a d a c om d e b a tes so b re “d ife re n ç a ” . C o lo c a n d o fre n te a fre n te “ e sse n c i a l ist a s” e “n ã o-e sse n c i a l ist a s” , e ss a s d isp u t a s servira m d e form a útil p a ra reve l a r as premissas d e exc lusã o d as te ori as a nteriores, e a c a b a ra m p or a brir os estud os d e g ênero p a ra muitas nov as vozes. Poré m , m esmo nos seus m e lhores mom entos, as te ori as tend era m a p erm a ne c er no terreno do re c onhe c im ento , ond e a subord in a ç ã o era c onstruíd a c omo um pro b le m a cultura l e d isso c i a d o d a e c onom i a p o lític a . O resulta d o fo i te r nos d e ixa d o se m d e fesa c ontra o fund a m enta lismo do livre-m erc a do , que tinh a se torn a d o he g e mônic o . Efe tiv a m ente enc a nta d as p e l a po lític a d e re c onhe c imento , sem querer d ire c ion a mos a te ori a fe m inista p a ra c a n a is cultura listas pre c isa m ente qu a ndo as c ircunstâ nc i as re queri a m a tenç ã o re dobra d a a po lític as d e re d istribuiç ã o .8 Re torn a re i a esse ponto e m breve . 8 N a ncy FRASER, 1997, p . 173-188 (“M u l t i c u l tu r a l ism , A n t i e ss e n- ti a lism , a nd Ra d ic a l De mo cra cy: A G e n e a l o g y o f th e C u rr e n t Imp asse in Fe m inist The ory”). NAN CY FRASER 298 Estudos Fe m inistas, Flori a nópo lis, 15(2): 291-308, m a io-a gosto/2007 4 G e o g r a f i a s d o re c o nh e c im e n to : p ós-4 G e o g r a f i a s d o re c o nh e c im e n to : p ós-4 G e o g r a f i a s d o re c o nh e c im e n to : p ós-4 G e o g r a f i a s d o re c o nh e c im e n to : p ós-4 G e o g r a f i a s d o re c o nh e c im e n to : p ós- c omun ismoc omun ismoc omun ismoc omun ismoc omun ismo , p ós-c o lon i a lismo e a te rc e ira, p ós-c o lon i a lismo e a te rc e ira, p ós-c o lon i a lismo e a te rc e ira, p ós-c o lon i a lismo e a te rc e ira, p ós-c o lon i a lismo e a te rc e ira v i av i av i av i av i a Antes d e qu a lque r c o isa , pre c iso esc l a re c e r esse p onto . Ao re l a ta r a mud a nç a d a fase um p a ra a fase d o is, eu d escrevi um a a ltera ç ã o no im a g in á rio fe m inista . M as a mud a nç a n ã o se lim itou a o fe m inismo p er se . Ao c ontrá rio , tra nsform a ç õ es a n á lo g a s p o d e m se r e n c on tra d a s e m pra tic a m e nte to d o movim e nto so c i a l pro gressista , assim c omo no d e c línio e/ou c oop ta ç ã o mund i a l dos sind ic a tos e p a rtidos so c i a listas, e n a c orrespond ente asc ensã o d a p o l ít i c a d e i d e n t i d a d e , t a n to n a s form a s p ro g ressist a s qu a nto n a s c h a uv in ist a s. Re l a c ion a d a , p or um l a d o , à que d a d o c omunismo e , p or outro , à asc ensã o d o ne o li- b e r a l ism o , e ss a “mu d a n ç a d a re d istr i b u i ç ã o p a r a o re c onh e c im e n to” (c omo e u d esi g n e i) é p a rte d e um a tra nsform a ç ã o h istóri c a d e m a ior esc a l a a sso c i a d a à g lob a liza ç ã o.9 Pod e-se a rgum enta r que esse Ze itd i a gnose re fle te um a p e rsp e c t iv a l im it a d a , e st a d un i d e nse e p rim e iro- mun d ist a . M a s n ã o c re io q u e o se j a . Ao c on tr á rio , a tend ênc ia d as d em a nd as p e lo re c onhe c imento d e e c lipsa r as d em a nd as por d istribuiç ã o fo i g era l, a té mesmo mund ia l, a p esa r d e o c onte úd o d essas d e m a nd as d ife rire m . N a Euro p a O c id e nta l, o fo c o so c i a l-d e mo c ra ta n a re d istri- bu i ç ã o c e d e u te rre no nos a nos 90 à te rc e ira vi a . Essa a bord a g e m a dotou um a orienta ç ã o ne o lib era l d e “flexib i- liza ç ã o” d o m e rc a d o d e tra b a lho , e nqu a nto pro cura v a m a n t e r um p e r f i l p o l í t i c o p ro g re ss ist a . O su c e sso n a m a nutenç ã o d esse p erfil o c orreu n ã o n a busc a d e m itig a r a s in i q ü i d a d e s e c o n ô m i c a s , m a s n a su p e r a ç ã o d a s hiera rqui as – a tra vés d e po lític as a nti-d iscrim in a tóri as e/ou mu lt i c u ltura is. Assim , t a m b é m n a Euro p a O c i d e n t a l , a mo e d a c orre nte d as re ivind ic a ç õ es p o lític as mud ou d a re d istribuiç ã o p a ra o re c onhe c im ento , a ind a que d e form a m a is sutil d o que nos Esta d os Unid os. Altera ç õ es a n á log as o c orrera m no a ntigo Se gundo Mund o . O c omun ismo tinh a sa c ra m e nta d o su a pró pri a v e rs ã o d o p a r a d i g m a e c o n o m i c ist a , q u e e m p urro u d e m a nd as po lític as por c a n a is d istributivos, e mud e c endo as questõ es d e re c onhe c im ento , que fora m d esc a rta d as c omo m e ros sub textos p a ra os p ro b l e m as e c onôm i c os “re a is” . O p ós- c o mun ism o q u e b ro u e sse p a r a d i g m a , fom enta ndo a d esle g itim a ç ã o do igu a lita rismo e c onôm ic o e lib era nd o nov as lutas p or re c onhe c im ento – esp e c i a l- m e nte e m re l a ç ã o à n a c ion a lid a d e e à re lig i ã o . Nesse c on texto , o d ese nvo lv im e n to d a p o l ít i c a f e m in ist a fo i 9 N a ncy FRASER, 2003, p . 7-109. Estudos Fe m inistas, Flori a nópo lis, 15(2): 291-308, m a io-a gosto/2007 299 MAPEANDO A IMAG INAÇÃO FEMINISTA re t a rd a d a p e l a a sso c i a ç ã o , re a l e sim b ó l i c a , c o m o c omunismo j á d esa cre d ita do . Pro c e ssos re l a c io n a d os t a m b é m o c o rre r a m n o “Terc e iro Mundo”. De um l a do , o fim d a c omp e tiç ã o b ipo l a r entre a Uni ã o Sovié tic a e o O c id ente re duziu o fluxo d e a jud a p a ra a p eriferi a . De outro l a d o , o d esm a nte l a m ento (lid era d o p e los Esta d os Unid os) d o re g im e fin a nc e iro d e Bre tton Woods a nimou a po lític a ne o lib era l d e a justa m ento estrutura l, que a m e a ç a v a o d esenvo lvim ento dos Esta dos pós-colonia is. O resulta do foi a re duç ã o drástic a do a lc anc e d os pro je tos d e re d istribuiç ã o igu a litá ri a nos p a íses d o Sul. E a resposta fo i o surg im ento d e po lític as d a id entid a d e n a p ós-c o lôn i a , m a jorita ri a m e nte d e c a rá te r c omun a lista e a utoritá rio . Assim , os movim entos fe m inistas p ós-c o loni a is ta mb é m fora m forç a d os a o p era r se m a cultura p o lític a d e fund o que gui asse asp ira ç õ es p o pul a res p a ra os c a n a is igua litá rios. Presos entre as d iminuíd as c a p a c id a d es esta ta is e c h a uvin ismo c omun a listas, esses fe m in ismos ta m b é m sentira m a pressã o p or mo d ific a r su as d e m a nd as d e form a a m a nter a sintoni a c om o Ze itg e ist p ós-c o loni a l. De m a ne ira g era l, entã o , a mud anç a do fe m inismo d a fase um p a ra a fase d o is o c orreu d entro d e um a m a is a mp l a m a triz p ós-c omunista e ne o lib era l. N a m e d id a e m que as fe m inistas n ã o c onse guira m entend er essa m a triz m a is a m p l a , d e m o r a r a m a d e s e nv o lv e r os r e c ursos ne c essá rios p a ra luta r p e l a justiç a d e g ênero sob nov as c ircunstâ nc i as. 5 P5 P5 P5 P5 Po l ít i c a d e g ê n e ro nos Est a d os Un i d oso l ít i c a d e g ê n e ro nos Est a d os Un i d oso l ít i c a d e g ê n e ro nos Est a d os Un i d oso l ít i c a d e g ê n e ro nos Est a d os Un i d oso l ít i c a d e g ê n e ro nos Est a d os Un i d os a p ós o 11 d e Se te mbroa p ós o 11 d e Se te mbroa p ós o 11 d e Se te mbroa p ós o 11 d e Se te mbroa p ós o 11 d e Se te mbro Esse fo i o c aso d os Esta d os Un id os. Lá , fe m in istas f i c a r a m surp r e s a s a o d e s c o b r ir q u e , e n q u a n to e l a s d isc u t i a m so b re e sse n c i a l ism o , um a a l i a n ç a e n tre os d e fensores d o livre-m erc a d o e fund a m enta listas cristã os tom a v a c onta d o p a ís. Por c a usa d e seu imp a c to mund i a l, gosta ri a d e m e d e ter sobre ta l a c onte c im ento , a ntes d e c om enta r a e m erg ênc i a d a fase três. Os fa tores d e c isivos n as e le iç õ es d e 2004 nos Esta dos Unidos fora m a assim cha m a d a “guerra c ontra o terrorismo”, d e um l a do , e , do outro (d e m a ne ira m enos evid ente), os assim ch a m a d os “v a lores fa m ili a res”, e m esp e c i a l o d ire ito a o a b orto e a o c asa m e nto g a y. Em a mb os os c asos a estra té g i c a d e m a n ipu l a ç ã o d o g ê n e ro fo i instrum e nto c ru c i a l p a ra a vitóri a d e Bush . A estra té g i a ve n c e d ora invo c ou um a po lític a c od ific a d a d e re c onhe c im ento d e g ê n e ro p a ra esc on d e r um a p o l ít i c a d e re d istri b u i ç ã o re gressiv a . NAN CY FRASER 300 Estudos Fe m inistas, Flori a nópo lis, 15(2): 291-308, m a io-a gosto/2007 De ixe-m e exp lic a r. A estra té g i a d a c a mp a nh a d e Bush p intou a “guerra c ontra o terror” c omo um a questã o d e lid era nç a , à qu a l se re feri a e m termos exp lic ita m ente d e g ê n e ro . Mo b i l iz a n d o este re ó t i p os m a sc u l inos, Bush c u l t i v o u a i m a g e m d e u m c h e f e d e Est a d o tra nqüiliza dora mente firme e d e term in a do , um prote tor que nunc a d e monstra dúvid a ou hesita ç ã o – e m resumo , um hom e m d e verd a d e . De form a inversa , os Re pub lic a nos p inta ra m John Kerry como um homem “em ascula do”,10 p a ra usa r a memoráve l frase d e Arno ld Schwa rzene g g er, um “vira- c asa c as” e fe m in a d o a que m n ã o se p o d e ri a c onfi a r a p ro te ç ã o d a s mu lh e res e c ri a n ç a s est a d un i d e nses d a vio lênc i a d e fa n á tic os b a rbudos. 11 Ap esa r d a d istâ nc i a e m re l a ç ã o à re a lid a d e , essa re tóric a c o d ific a d a d e g êne ro se mostrou im ensa m ente pod erosa – ta nto p a ra e le itores qu a nto p a ra e le itoras. Tã o pod erosa , n a verd a d e , que p a re c eu neutra liza r o que todos a ch a v a m ser o p onto fra c o d a c a mp a nh a d e Bush: su a p o l í t i c a c o nse rv a d o r a d e re d istr i b u i ç ã o , q u e e st a v a traze nd o sign ific a tiv as d ific u ld a d es p a ra mu itos esta du- nid enses. Já no seu prim e iro m a nd a to , Bush d e line ou um a enorm e re d istribuiç ã o d e riqueza p a ra os inte resses d as gra nd es c orpora ç õ es e c l asses proprie tá ri as. Ao e lim in a r os imp ostos so bre hera nç a e d im inuir os tributos d os ric os, e le o brig ou a c l asse tra b a lh a d ora a p a g a r p or um a m a ior p a rte do orç a m ento n a c ion a l do que a ntes. O e fe ito fo i c o lo c a r a p o líti c a d e re d istribu i ç ã o d e p onta c a b e ç a , p romov e n d o in just i ç a so c i a l. M a s n in g u é m p a re c i a se importa r d i a nte d a “guerra a o terror”. Assim , um a po lític a d e g ênero c o d ific a d a e fe tiv a m ente se so bre p ôs a um a p o lític a d e re d istribuiç ã o re gressiv a .12 Um a d in â m ic a sim il a r assenta-se no uso estra té g ic o d a re tóric a dos “v a lores fa m ili a res” n a c a mp a nh a e le itora l. A questã o d e c isiv a e m Ohio, que a c a b ou se torn a nd o o Esta d o cruc i a l p a ra a c a mp a nh a , p o d e ter sid o “a d e fesa d o c a s a m e n to ” . Ess a q u e st ã o fo i d e l i b e r a d a m e n t e esc o lhid a p e los c onserv a dores p a ra um re ferendo nesse (e em outros) esta dos c omo um a estra té g ia p a ra um gra nd e c om p a re c im e n to à s urn a s d e e l e itores c rist ã os fun d a - m enta listas. A te ori a era d e que , um a vez lev a d os às urn as c ontra o c asa m e nto g a y, e les iri a m a d i a nte e ta m b é m vota ri a m e m Bush. E p a re c e que a estra té g i a func ionou. De qu a lquer form a , “va lores fa mili a res” se mostra ra m um p o d e roso te m a d e c a m p a nh a . M a s a q u i j a z um a g r a n d e iro n i a . As v e rd a d e ir a s t e n d ê n c i a s q u e e st ã o torn a ndo a vid a e m fa m íli a tã o d ifíc il p a ra as c l asses m é d i a e tra b a lh a dora d eriv a m d a a g end a c a p ita lista ne o lib era l que Bush a p ó i a . Ta is p o lític as inc lue m imp ostos re duzid os p a r a a s c o rp o r a ç õ e s e os ri c os, se g uri d a d e so c i a l e 12 Pa r a a n á l ise s re l a c i o n a d a s (a ind a que n ã o interessa d as e m g ênero), ver Thom as FRANK, 2005; e Rich a rd SENNETT, 2004. 10 “G irlie m a n”, no orig in a l (N.T.). 11 Fra nk RICH, 2004. Estudos Fe m inistas, Flori a nópo lis, 15(2): 291-308, m a io-a gosto/2007 301 MAPEANDO A IMAG INAÇÃO FEMINISTA pro te ç ã o a o c onsum id or re duzid as, e b a ixos sa l á rios e e mpre g o pre c á rio . G ra ç as a essas tend ênc i as c onexas, n ã o é m a is p ossíve l sustenta r a fa m íli a c om a p en as um c ontra che que , e muitas vezes nem mesmo c om do is. Long e d e ser vo luntá rio ou sup le m enta r, o sa l á rio d a mulher torn a- se obrig a tório , um p il a r ind isp ensáve l d a ord em e c onômic a ne o lib era l. Assim ta mb é m é a prá tic a d e “ fazer b ic os”, e m que membros d e fa mílias tra b a lh a doras ou d e c lasse mé d ia b a ixa tê m d e tra b a lh a r e m m a is d e um e m pre g o p a ra p a g a r as c ontas no fim do m ês. Ta is sã o as forç as que estã o re a lm e n te a m e a ç a n d o a v i d a e m f a m íli a nos Est a d os Unidos.13 As feministas entend em isso, m as n ã o c onse guira m c onve n c e r mu itos d os qu e sã o p re jud i c a d os p or essas p o lític as. Ao c ontrá rio , a d ire ita c onse guiu p ersu a d i-los d e que sã o os d ire itos a o a borto e a o c asa m ento g a y que a m e a ç a m se u estilo d e vid a . Aqu i ta m b é m , e m outras p a l avras, os Re pub lic a nos usa ra m d e form a b e m-suc e d id a a po lític a a nti-fe m inista d e re c onhe c im ento p a ra esc ond er a p o lític a d e re d istribuiç ã o a nti-c l asse tra b a lh a d ora . Nesse c en á rio , vo c ê p o d e ver to d o o pro b le m a d a fase do is. Ap esa r d e n ã o ter tota lm ente c ompre end ido isso n a que le tempo , feministas esta dunid enses mud a ra m o fo c o d a re d istribuiç ã o p a ra o re c onhe c im ento no mom ento e m que a d ire ita a p erfe iç o a v a seu próprio uso estra té g ic o d e um a p o lític a cultura l re gressiv a p a ra tira r a a tenç ã o d e su a po lític a d e re d istribuiç ã o re gressiv a . Fo i um a c o inc id ênc i a infe liz. O re la tivo d esprezo à e conomia po lític a do feminismo d os Est a d os Uni d os e ou tros m ov im e n tos p ro g re ssivos a c a bou jog a ndo a favor d a d ire ita , que co lheu os princ ip a is b ene fíc ios d a vira d a cultura l. 6 Ev a n g e l i c a l ism o : u m a t e c n o l o g i a6 Ev a n g e l i c a l ism o : u m a t e c n o l o g i a6 Ev a n g e l i c a l ism o : u m a t e c n o l o g i a6 Ev a n g e l i c a l ism o : u m a t e c n o l o g i a6 Ev a n g e l i c a l ism o : u m a t e c n o l o g i a ne o lib e ra l d o se lfne o lib e ra l d o se lfne o lib e ra l d o se lfne o lib e ra l d o se lfne o lib e ra l d o se lf M as c omo os esta dunid enses fora m tã o fa c ilm ente eng a n a dos por esse truque óbvio? E por que ta ntas mulher- es dos Esta dos Unidos mostra ra m-se susc e tíve is a esse a p e lo c od ific a do d e g ênero? Muitos observ a dores nota ra m que a d ire ita teve a lgum suc esso e m mostra r as fe m inistas dos Esta d os Un id os c omo pro fission a is d e e lite e hum a n istas se cul a res que d espreza m as mulheres c omuns, esp e c i a l- m ente as tra b a lh a doras e re lig iosas. Até c erto ponto essa visã o d o fe m in ismo c omo e litista é p a te nte m e nte fa lsa , c l a ro , m as o fa to é que o fe m inismo fa lhou a o tenta r a lc a n- ç a r estra tos d as mulheres tra b a lh a d oras e d e c l asse b a ixa , a tra íd as n a últim a d é c a d a p a ra a crista nd a d e eva ng é lic a . Fo c a d as a p en as n a po lític a d e re c onhe-c imento , fa lh a mos n a tenta tiva d e entend er c omo a orienta ç ã o re lig iosa d e l as respond e às su as posiç õ es so c i a is. 13 Ve r FRANK, 2005; e SENNETT, 2004. NAN CY FRASER 302 Estudos Fe m inistas, Flori a nópo lis, 15(2): 291-308, m a io-a gosto/2007 Exp lic o-me . À prime ira vista , a situ a ç ã o d as mulheres cristãs eva ng é lic as nos Esta dos Unidos p a re c e c ontra d itória . Por um l a do , subscreve m a um a id e o log i a c onserv a dora d e dom estic id a d e tra d ic ion a l. Por outro l a do , ta is mulheres n ã o vive m d e fa to vid as p a tri a rc a is, send o a m a iori a a tiv a no m erc a do d e tra b a lho e re l a tiv a m ente e mpod era d a n a vid a fa m ili a r.14 O m istério é reso lvido qu a ndo entend e mos que o ev a ng e lic a lismo resp ond e , nos Esta d os Un id os, à e m e rg ê n c i a d e um novo tip o d e so c ie d a d e , a que eu ch a mo d e “so c ie d a d e d a inse gura nç a ”. Essa so c ie d a d e é a suc essora d a “so c ie d a d e d a se gurid a d e ” que esta v a a sso c i a d a à so c i a l-d e m o c r a c i a d o p e r í o d o a n t e r i o r. Dife rente m ente d esta , a nov a so c ie d a d e instituc ion a liza um a c resc e nte inse gura n ç a n as c ond iç õ es d e vid a d a m a iori a d as p esso as. C omo eu d isse a ntes, e l a enfra que c e as prote ções d a se gurid a d e soc ia l a o instituc iona liza r form as m a is p r e c á r i a s d e tr a b a l h o a ss a l a r i a d o , i n c l u i n d o t e r c e ir iz a ç ã o , tr a b a lh o t e m p o r á r i o e tr a b a lh o n ã o - sind i c a liza d o , qu e sã o m a l p a g os e n ã o d ã o d ire ito a b e n e f í c i os . O re su l t a d o é um a g r a n d e se ns a ç ã o d e inse gura nç a , à qu a l o cristi a nismo ev a ng é lic o resp ond e . In t e re ss a n t e m e n t e , o e v a n g e l i c a l ism o n ã o d á se gura nç a d e form a re a l. N a verd a d e , d á às p esso as um d iscurso e um c onjunto d e prá tic as a tra vés d as qu a is e l as p o d e m g erir a inse gura nç a . O ev a ng e lic a lismo lhes d iz: “Vo c ê é um p e c a dor, vo c ê v a i fra c assa r, vo c ê pod e p erd er seu e mpre g o , vo c ê p o d e b e b er d e m a is, vo c ê p o d e ter um c aso extra c onjug a l, seu m a rid o p o d e te a b a nd on a r, seus filhos p o d e m usa r dro g as. M as está tud o b e m . Deus a ind a te a m a e a tu a igre j a te a c e ita ”. O e fe ito é , e m p a rte , tra nsmitir a c e ita ç ã o, m as ta mb ém pre p a ra r as p esso as p a ra o s p ro b l e m a s d e t e m p o s d i f í c e is . C o nst a n t e m e n t e i n v o c a n d o a p o ss i b i l i d a d e d e h a v e r p ro b l e m a s , o eva ng e lic a lismo incute sentimento d e inse gura nç a em seus se g u i d ores m esm o q u a n d o p a re c e o fe re c e r-lh es um a m a ne ira d e lid a r c om e le . Ta lvez se j a pre c iso re c orrer a o Fouc a ult ta rd io p a ra entend er isto: o eva ng e lic a lismo é um a t e c n o l o g i a d o c u i d a d o - d e -s i q u e é e sp e c i a l m e n t e a d a p ta d a a o ne o lib era lismo n a m e d id a e m que este está se m p re g e ra n d o inse g ura n ç a . C o m o e u d isse , mu it a s mulheres tra b a lh a doras nos Esta dos Unidos estã o tira ndo a lg o signific a tivo d essa id e o lo g i a , a lg o que lhes c onfere sentido à vid a . Mas as feministas n ã o c onse guira m entend er o que é e c omo fun c ion a . Ne m c onse guimos e nte nd e r c omo nos c omunic a r c om e l as ou o que o fe m inismo p o d e lhes ofere c er e m tro c a . De more i-m e nesse exe mp lo e m p a rticul a r p orque eu o a cho e mb le m á tic o d e um a situ a ç ã o m a is a mp l a d e n oss a é p o c a . To d os v iv e m os e m um a e r a e m q u e a 14 Pa ra estud os so b re mu lh e res c rist ã s d e d ire it a , v e r R. M a ri e GRIFFITH, 1997; Sa lly GALLAGHER, 2003; e Ju li e IN GERSOLL, 2003 . D o is e stu d o s a n t e r i o r e s s ã o ta mb é m úte is: o c a p ítulo “Fund a- m e nta list Sex: Hitting Be low th e B i b l e B e l t ” ( p . 1 3 4-1 6 0) e m Ba rb a ra EHRENREI C H, Eliz a b e th HESS e G lori a JAC OBS, 1987; e Jud ith STACEY, 1987. Estudos Fe m inistas, Flori a nópo lis, 15(2): 291-308, m a io-a gosto/2007 303 MAPEANDO A IMAG INAÇÃO FEMINISTA se gura n ç a d e c a i, g ra ç a s à s p ressõ es n e o lib e ra is p a ra a um e n t a r a “ f l e x i b i l i d a d e ” e c o rt a r a s p ro t e ç õ e s d a se gurid a d e so c i a l, e m m e io a c a d a vez m a is pre c á rios m e rc a d os d e tra b a lho . Pa ra estra tos m e nos inte gra d os, inc luindo imigra ntes, ta is pressõ es sã o a umenta d as qu a ndo d e s i g u a l d a d e s d e d ist r i b u i ç ã o s ã o so b r e p o st a s à d esigu a ld a d e d e sta tus d e re c onhe c im ento; e esta últim a p o d e ser a tribuíd a a o “ fe m inismo se cul a r”. Em ta is c asos, é o brig a ç ã o d e to d as fe m inistas, n a Euro p a e nos Esta d os Unidos, revisita r a re la ç ã o entre as po lític as d e re d istribuiç ã o e as d e re c onhe c im ento . Ho je , enqu a nto mud a mos p a ra um a terc e ira fase do feminismo , pre c isa mos re inte gra r essas du as d im ensõ es ind isp ensá ve is d a po lític a fe m inista , que n ã o fora m a d e qu a d a m ente b a l a nc e a d as n a fase do is. 7 R7 R7 R7 R7 R e e n q u a d r a n d o o f e m i n ism o : u m ae e n q u a d r a n d o o f e m i n ism o : u m ae e n q u a d r a n d o o f e m i n ism o : u m ae e n q u a d r a n d o o f e m i n ism o : u m ae e n q u a d r a n d o o f e m i n ism o : u m a p o lític a tra nsn a c ion a l d e re prese nta ç ã op o lític a tra nsn a c ion a l d e re prese nta ç ã op o lític a tra nsn a c ion a l d e re prese nta ç ã op o lític a tra nsn a c ion a l d e re prese nta ç ã op o lític a tra nsn a c ion a l d e re prese nta ç ã o Fe lizm e nte , a lg o d esse tip o j á está a c onte c e nd o n a q u e l a s á re a s d a p o líti c a fe m in ist a q u e o p e ra m nos esp a ç os tra nsn a c ion a is. Se nsi b i l iz a d a s p e lo c resc e n te pod er do ne o lib era lismo , essas c orrentes estã o c onstruindo um a nov a e p ro m issora sín tese e n tre re d istri b u i ç ã o e re c onhe c im ento . E estã o tamb é m mud a ndo a esc a l a d a po lític a feminista . C ônsc ias d a vulnera b ilid a d e d as mulheres às forç as tra nsn a c ion a is, essas fe m inistas a ch a m que n ã o pod e m d esa fi a r a d e qu a d a m ente a injustiç a d e g ênero se p erm a ne c ere m no j á a c e ito qu a dro do Esta do territori a l. Porque esse qua dro limita o a lc anc e d a justiç a às instituições d e n tro d o Est a d o q u e org a n iz a m a s re l a ç õ es e n tre os c i d a d ã os, e l e siste m a t i c a m e n te o bsc ure c e fon tes d e in justiç a qu e a tra vessa m fronte iras e qu e c om p õ e m as re l a ç õ es so c i a is tra nsn a c ion a is. O resulta d o é exc luir d o a lc a nc e d a justiç a as forç as que form a ta m as re l a ç õ es d e g ênero que rotine ira m ente a travessa m fronte iras territori a is. Atua lmente , muitas feministas tra nsn a c ion a is re je ita m o qu a dro do Esta do territori a l. El as p erc e b e m que d e c isõ es tom a d as d entro d e um território fre qüente m ente provo c a m imp a c to n a vid a d e mulheres fora d e le , assim c omo o fazem org a niza ç õ es inter e supra n a c ion a is, g overn a m enta is ou n ã o-govern a m enta is. As fe m inistas ta mb é m p erc e b e m a forç a d a o p in i ã o p ú b l i c a tra nsn a c ion a l , q u e f lu i c o m supremo d esprezo por fronte iras a través dos me ios d e m assa g lob a is e d a c ib erte cno log i a . C omo c onse qüênc i a te mos um a nov a a pre c i a ç ã o d o p a p e l d as forç as tra nsn a c ion a is n a m a n u t e n ç ã o d a in just i ç a d e g ê n e ro . D i a n t e d o a q u e c im e n to g lo b a l , p ro p a g a ç ã o d a AIDS, te rrorismo intern a c ion a l e unil a tera lismo d e sup erpotênc i as, fem inistas d est a f a se a c re d it a m qu e a s c h a n c es d e a s mu lh e res NAN CY FRASER 304 Estudos Fe m inistas, Flori a nópo lis, 15(2): 291-308, m a io-a gosto/2007 vivere m um a bo a vid a d e p end e m ta nto dos pro c essos que a tr a v e ss a m fro n t e ir a s d os Est a d os t e rr i to r i a is q u a n to d a que les que a c onte c e m d entro d e les. So b t a is c o n d i ç õ e s , i m p o r t a n t e s c o rr e n t e s d o f e m in ism o e st ã o d e s a f i a n d o o q u a d ro d e d e m a n d a s p o lític as d o Esta d o territori a l. D a form a c omo e l as vê e m , esse qu a dro é um gra nd e ve ículo d e injustiç a , p o is re p a rte o esp a ç o p o lític o d e m a ne ira a b lo que a r a c ontesta ç ã o, p e l as mulheres, d as forç as que as o prim e m . C a n a liza nd o su as d e m a nd as p a ra os esp a ç os po lític os dom éstic os d e Esta dos d ese mpod era dos, qu a ndo n ã o tota lm ente fa lidos, t a l q u a d ro iso l a os p o d e res exte riores d a c ríti c a e d o c on tro l e . En tre a qu e l es qu e est ã o p ro te g id os c on tra o a lc a nc e d a justiç a estã o os pod erosos Esta dos pre d a dores e pod eres tra nsn a c ion a is priv a dos, inc luindo investidores e c re d o re s e str a n g e iros , e sp e c u l a d o re s e c o rp o r a ç õ e s tra nsn a c ion a is. Ta mb é m prote g id as estã o as estruturas d e govern a nç a d a e c onom i a mund i a l, que c o lo c a m termos e xp lo r a d o re s d e in t e r a ç ã o e os e x im e m d e c o n tro l e d e mo crá tic o. Fin a lm ente , o qu a dro do Esta do territori a l é a uto-iso l a nte; a a rquite tura do sistem a inter-Esta dos prote g e a p a rt ilh a d o esp a ç o p o lít i c o q u e e l a inst itu c ion a liz a , e fe tiva mente exc luindo a tom a d a d e d e c isã o d emo crá tic a tra nsn a c ion a l n as questõ es d e justiç a d e g ênero. A tu a l m e n t e , a s d e m a n d a s f e m i n ist a s p o r re d istri b u i ç ã o e re c onh e c im e n to est ã o c a d a v ez m a is c one c ta d as a lutas p a ta a ltera r esse qu a dro . Di a nte d a produç ã o tra nsn a c ion a liza d a , muitas fe m inistas v ã o a lé m d a s e c o n o m i a s n a c i o n a is . N a Euro p a , p o r e x e m p l o , fe m inistas m ira m as po lític as e estruturas e c onôm ic as d a Uni ã o Europ é i a , enqu a nto c orrentes fe m inistas entre os que p ro t e st a m c o n tr a a O M C d e s a f i a m a s e stru tur a s d e g overn a nç a n a e c onom i a g lo b a l. De form a a n á lo g a , lutas fe m inistas por re c onhe c im ento c a d a vez m a is o lh a m a lé m d as fronte iras do Esta do territori a l. Sob o a bra ng ente slog a n “d ire itos d as mulheres, d ire itos hum a no”, fem inistas a o re dor do mundo estã o c one c ta ndo as lutas c ontra as prá tic as p a tri a rc a is lo c a is a c a m p a nh as p a ra re form a r o d ire ito intern a c ion a l.15 O resulta d o é um a nov a fase d a p o lític a fe m inista e m que a justiç a d e g ênero está send o re enqu a dra d a . Nesta fase , um a pre o cup a ç ã o m a ior é c om o d esa fio às in just i ç a s – in t e r l i g a d a s – d e m á d istr i b u i ç ã o e n ã o- re c onhe c im ento . Ac im a e a lé m d essas form as d e injustiç a , fe m inistas estã o m ira ndo um a m e ta-injustiç a que a p en as re c ente m ente se tornou visíve l, a que eu ch a mo d e m a u enqu a dra m ento .16 O m a u enqu a dra m ento surg e qu a nd o o q u a d ro d o Est a d o t e rr i t o r i a l é i m p o st o a f o n t e s tra nsn a c ion a is d e injustiç a . C omo resulta do , te mos d ivisã o 15 Bro ok e A . A CKERLY e Sus a n M o l l e r OK IN , 2 0 0 2 ; D o n n a D I CKENSO N , 1997 . Pa r a d u a s ava li a ç õ es d a po lític a d e g ênero do movimento a nti-g lob a liza ç ã o, ver Virg ini a VARGAS, 2003; e Judy REBICK, 2002. 16 N a ncy FRASER, 2005. Estudos Fe m inistas, Flori a nópo lis, 15(2): 291-308, m a io-a gosto/2007 305 MAPEANDO A IMAG INAÇÃO FEMINISTA d esigu a l d e á re as d e p o d e r às exp e nsas d os p o bres e d espreza d os, a que m é n e g a d a a ch a n c e d e c o lo c a r d e m a nd as tra nsn a c ion a is. Em ta is c asos, as lutas c ontra a m á d istribuiç ã o e o n ã o-re c onhe c im ento n ã o sã o lev a d as a d i a nte , e m enos a ind a sã o b e m-suc e d id as, a n ã o ser que se ligue m a lutas c ontra o m a u enqu a dra m ento . O m a u e n qu a d ra m e n to , a ssim , e m e rg e c omo a lvo c e n tra l d a po lític a fe m inista n a su a fase tra nsn a c ion a l. Ao c onfronta r o m a u enqu a dra m ento , esta fase do fe m inismo torn a visíve l um a terc e ira d im ensã o d a justiç a do g ênero , a lé m d a re d istribuiç ã o e do re c onhe c im ento . C h a mo essa terc e ira d im ensã o d e re presenta ç ã o . C omo a entendo , re presenta ç ã o n ã o é a p en as um a questã o d e asse gura r voz p o lític a igu a l a mulheres e m c omunid a d es p o l í t i c a s j á c o nst i tu í d a s . Ao l a d o d isso , é n e c e ss á rio re enqu a dra r as d isputas so bre justiç a que n ã o p o d e m ser pro pri a m ente c ontid as nos re g im es esta b e le c id os. Lo g o , a o c o n t e st a r o m a u e n q u a d r a m e n t o , o f e m i n ism o tra nsn a c ion a l está re c onfigura nd o a justi ç a d e g ê n e ro c omo um prob le m a trid im ension a l, no qu a l re d istribuiç ã o , re c onhe c im ento e re presenta ç ã o d eve m ser inte gra dos d e form a e quilibra d a .17 O esp a ço po lítico tra nsn a c ion a l em d esenvo lvimento n a Uni ã o Europ é i a prom e te ser um importa nte c a mpo p a ra essa terc e ira fase d o fe m inismo . N a Euro p a , a ta re fa é , d e a l g um a m a n e ir a , f a ze r três c o is a s a o m esm o te m p o . Prim e iro , as fe m inistas tê m d e tra b a lh a r c om outras forç as pro gressistas p a ra c ri a r pro te ç õ es d e se gurid a d e so c i a l igu a litá ri as e sensíve isa o g ênero . Alé m d isso , d eve m se junta r a a li a d os p a ra inte gra r ta is p o lític as d istributiv as c om p o líti c a s d e re c onh e c im e nto igu a lit á ri a s e se nsíve is a o g ênero que fa ç a m justiç a à multip lic id a d e cultura l europ é ia . Fin a lmente , d evem fazer tudo isso sem enrije c er as fronte iras extern as, c ertific a nd o-se d e que a Euro p a tra nsn a c ion a l n ã o se torne a Europ a forta leza , p a ra que n ã o se re p liquem as injustiç as d e m a u enqu a dra mento em um a esc a l a m a ior. A Euro p a , c ontud o , n ã o é o únic o c a mp o p a ra essa te rc e ira f a se . Ig u a lm e n te im p ort a n tes sã o os esp a ç os tra nsn a c ion a is que c erc a m as v á ri as a g ênc i as d as N a ç õ es Unid as e do Fórum So c i a l Mund i a l. Aqui, ta mb ém , feministas estã o se a lia ndo a outros a tores tra nsn a c ion a is progressistas, in c luind o a m b ie nta listas, a tivistas d o d ese nvo lvim e nto e p ovos in d í g e n a s p a r a c on fron t a r a s in just i ç a s d e m á d istribu iç ã o , n ã o-re c onh e c im e nto e m á re prese nta ç ã o . A q u i , t a m b é m , a t a re f a é d e se nv o lv e r u m a p o l í t i c a trid im ension a l que e quilibre e inte gre ta is pre o cup a ç õ es. Lev a r a c a bo essa po lític a trid im ension a l n ã o é ne m um p ou c o f á c il . C on tu d o , e l a c on té m e m si um a g ra n d e prom essa p a ra a terc e ira fase do fe m inismo . De um l a do , 17 N a ncy FRASER, 2005. NAN CY FRASER 306 Estudos Fe m inistas, Flori a nópo lis, 15(2): 291-308, m a io-a gosto/2007 essa a b ord a g e m p o d e ultra p assa r as m a iores fra quezas d a fase d o is, a o re e quilibra r as p o lític as d e re d istribuiç ã o e re conhe c imento. Por outro la do, pod e sup era r o ponto c e go d e a m b a s a s f a s e s a n t e r i o r e s d o f e m i n ism o , a o e x p l i c i t a m e n t e c o n t e st a r a s i n j ust i ç a s d e ss e m a u e nqu a dra m e nto . Ac im a d e tud o , ta l p o líti c a ta lvez nos p e rm it a c o lo c a r e , q u e m sa b e , resp on d e r à q u est ã o po lític a-ch a ve d e nossa é po c a : c omo pod e mos inte gra r d e m a n d a s p o r r e d ist r i b u i ç ã o , r e c o n h e c i m e n t o e re presenta ç ã o d e form a a c ontesta r o a mp lo esp e c tro d e injustiç as d e g ênero e m um mund o que se g lo b a liza?* RRRRRe fe rê n c i as b ib lio grá fic ase fe rê n c i as b ib lio grá fic ase fe rê n c i as b ib lio grá fic ase fe rê n c i as b ib lio grá fic ase fe rê n c i as b ib lio grá fic as ACKERLY, Brooke A., a nd OKIN, Susa n Mo ller. “Fe m inist So c i a l C ritic ism a nd the Intern a tion a l Move m ent for Wom en’s Rights as Hum a n Rights.” In: SHAPIRO , Ia n, a nd HACKER- C O RD Ó N , C a s i a n o ( e d s . ) . D e m o c r a c y ’s E d g e s . C a mbrid g e: C a mbrid g e University Press, 2002. p . 134- 162. 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Um a outra versã o foi a presenta d a e m u m a c o n f e r ê n c i a so b r e “ G ê n e ro e m M o v i m e n t o ” n a Universid a d e d e Base l, Suíç a , e m m a rç o d e 2005 . A g r a d e ç o a Julie t Mitche ll, Andre a M a ihofer e a os p a rtic ip a ntes d essas c onfe- r ê n c i a s q u e d is c u t ir a m e ss a s id é i as c om ig o. Agra d e ç o , ta m- b é m , a N a ncy N a p les; a p esa r d e n ã o c omung a rmos d as m esm as id é i as, nossas c onversas influen- c ia ra m muito o meu p ensa mento, c omo fic a c l a ro em nosso pro je to c onjunto: “To Interpre t the World a nd To C h a ng e It: An Inte rview with N a ncy Fraser,” d e a utori a d e N a ncy Fraser e N a ncy A. N a p les (S i g ns : J o urn a l o f Wo m e n i n C ulture a nd So c ie ty, v. 29, n. 4, Summ er 2004. p . 1103-1124). Eu t a m b é m f i c o g r a t a a K e i th H a yso m , p e l a a ss ist ê n c i a d e p esquisa b e m-humora d a e e fic i- ente , e a Veronika Ra ll, cuj a tra- duç ã o p a ra o a le m ã o m e lhorou ta nto o orig in a l (“Fra ue n, d e nkt ökonom isch!” Die Ta g esz e itung , n. 7633, April 7, 2005. p . 4-5) que eu a c a b e i incorporando p arte d e se u fra se a d o . O b ri g a d a , f in a l- m ente , a o Wissensch a ftsko lle g zu Berlin, que d eu a p o io fin a nc e iro, est ímu lo in te l e c tu a l e um a m- b iente id e a l d e tra b a lho. Estudos Fe m inistas, Flori a nópo lis, 15(2): 291-308, m a io-a gosto/2007 307 MAPEANDO A IMAG INAÇÃO FEMINISTA GALLAGHER, Sa lly. Evang e lic a l Id entity and G end ere d Fa mily Life . New Brunswick, NJ: Rutg ers University Press, 2003. G ORD O N , Lin d a (e d .). Wom e n , th e Sta te , a nd We lfa re : H istor i c a l a n d Th e or e t i c a l Pe rsp e c t iv e s . M a d iso n: University of Wisc onsin Press, 1990. GRIFFITH, R. 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US fe m inism finds itse lf a t a n imp asse , stym ie d by the hostile , post-9/11 po litic a l c lim a te . The cutting e d g e of g end er strug g le h as shifte d away from the Unite d Sta tes to tra nsn a tion a l sp a c es, such as “Europ e”. Wh a t lies b ehind this g e ogra phic a l shif? wh a t a re its po litic a l imp lic a tions for the future of the fe m inist pro je c t? Key WKey WKey WKey WKey Wordsordsordsordsords: C onte mporary Fe m inism; Post-11 Se p te mb er; Re d istribuition a nd Re c ognition. Tra duç ã o: Ra m a y a n a Lira
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