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1 1 SISTEMA NERVOSO Caio Átila Saloio 1.1 DIVISÕES DO SISTEMA NERVOSO 1.1.1 Divisão anatômica A parte do sistema nervoso central (SNC) contida, delimitada e protegida pelo esqueleto axial chama-se sistema nervoso central. A parte situada fora do esqueleto axial chama-se sistema nervoso periférico. A parte do sistema nervoso central contida, delimitada e protegida pelo crânio é o encéfalo. A parte contida, delimitada e protegida pelo canal vertebral é a medula espinhal. O encéfalo subdivide-se em cérebro, cerebelo e tronco encefálico. Cérebro é o conjunto de telencéfalo mais diencéfalo. Tronco encefálico é o conjunto de mesencéfalo, ponte e bulbo. O sistema nervoso periférico é composto de nervos, glânglios e terminações nervosas. Os nervos podem ser cranianos ou espinhais, de acordo com a região do SNC com a qual fazem conexão. Glânglios podem ser sensitivos ou motores viscerais. Terminações nervosas são sensitivas ou motoras. O esquema a seguir resume a divisão do sistema nervoso pelo critério anatômico: sistema nervoso central 1. encéfalo - cérebro telencéfalo diencéfalo - cerebelo - tronco encefálico mesencéfalo ponte bulbo 2. medula espinhal sistema nervoso periférico 1. nervos - cranianos - espinhais 2. glânglios - sensitivos - motores viscerais 3. terminações nervosas - sensitivas - motoras 1.1.2 Divisão embriológica prosencéfalo telenféfalo + diencéfalo (cérebro) mesencéfalo mesencéfalo rombencéfalo metencéfalo (ponte e cerebelo) + mielencéfalo (bulbo) 1.1.3 Divisão funcional Existe o sistema nervoso somático (da vida de relação) e o sistema nervoso visceral (da vida vegetativa). Cada um deles possui um componente aferente e outro eferente. A parte eferente do sistema nervoso visceral recebe uma denominação especial: sistema nervoso autônomo, o qual se subdivide em simpático e parassimpático. sistema nervoso somático - aferente - eferente sistema nervoso visceral - aferente - eferente (sistema nervoso autônomo) - simpático - parassimpático 1.1.4 Divisão segmentar (metamérica) sistema nervoso suprassegmentar - cérebro - cerebelo sistema nervoso segmentar - tronco encefálico - medula espinhal Essa divisão considera a relação entre os nervos e o sistema nervoso central, no sentido de haver correspondência por níveis horizontais (segmentos) ou não. O sistema nervoso segmentar é subordinado ao sistema nervoso suprassegmentar. Além disso, o sistema nervoso suprassegmentar apresenta a característica de possuir córtex — uma fina camada de substância cinzenta externamente à substância branca. 1.2 SISTEMA NERVOSO CENTRAL 1.2.1 Anatomia macroscópica da medula espinhal 1.2.1.1 Forma, relações e superfície A medula espinhal tem o formato de um cilindro achatado anteroposteriormente com comprimento de aproximadamente 45cm e se estende do forame magno no osso occipital até o nível da vértebra L2. O calibre da medula não é constante e possui duas dilatações relacionadas à inervação dos membros: intumescência cervical e intumescência lombossacral. A extremidade distal da medula é afilada e recebe o nome de cone medular. A superfície da medula é marcada pelos seguintes relevos: - fissura mediana anterior - sulco mediano posterior - sulco lateral anterior - sulco lateral posterior - sulco intermédio posterior (região cervical apenas) - septo intermédio posterior - septo mediano posterior 2 A substância cinzenta da medula fica dentro da substância branca e possui o formato de uma borboleta ou letra H. substância cinzenta - coluna (corno) anterior - coluna lateral (toracolombar) - coluna posterior - canal central da medula (canal do epêndima) substância branca - funículo (cordão) anterior - funículo lateral - funículo posterior - fascículo grácil (medial) - fascículo cuneiforme (lateral) 1.2.1.2 Nervos espinhais Existem 31 pares de nervos espinhais: 8 cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacrais e 1 coccígeo. Cada nervo é formado por uma raiz ventral e uma raiz dorsal. Na raiz dorsal, existe um glânglio espinhal (sensitivo). Cada raiz é subdividida em filamentos radiculares. Os filamentos radiculares da raiz ventral fazem conexão no sulco lateral anterior, enquanto os filamentos radiculares da raiz dorsal fazem conexão no sulco lateral posterior. A medula espinhal não preenche todo o canal vertebral em virtude de ritmos de crescimento diferentes entre ela e a coluna vertebral durante o período de desenvolvimento intrauterino. Em consequência disso, as raízes dos nervos espinhais são progressivamente alongadas e oblíquas. O conjunto de raízes distais ao cone medular recebe o nome de cauda equina. Cada nervo espinhal corresponde a um segmento medular. Para se relacionar o número da vértebra com o número do segmento medular, existe a seguinte regra prática: - entre C2 e T10, soma-se 2 - T11 e T12 correspondem aos 5 segmentos lombares - L1 corresponde aos 5 segmentos sacrais Interpreta-se essa regra considerando que o segmento medular encontra-se abaixo do processo espinhoso da vértebra em questão. Assim, o processo espinhoso de T7 corresponde ao segmento medular T9; os processos espinhosos de T11 e T12 correspondem aos segmentos medulares L1–L5. 1.2.1.3 Meninges e espaços As membranas fibrosas que envolvem o SNC são três: dura-máter (paquimeninge), aracnoide e pia-máter (leptomeninges). A dura-máter espinhal é uma membrana rica em colágeno, espessa e resistente. Ela é contínua com a dura-máter craniana através do forame magno e reveste toda a medula como um dedo de luva, chamado saco dural. A dura-máter termina em um fundo- de-saco ao nível da vértebra S2 e é também contínua com o epineuro dos nervos espinhais. A aracnoide é uma membrana aposta à dura-máter e aderida à pia-máter através das trabéculas aracnóideas. A pia-máter é a membrana mais interna e delicada. Ela é fina e translúcida, aderindo intimamente ao tecido nervoso subjacente. Prolongamento bilaterais triangulares da pia-máter que se interpõe entre a emergência dos nervos espinhais consitutem o ligamento denticulado, num total de cerca de 21 digitações. Esse ligamento serve para fixar a medula no interior do canal vertebral. Quando a medula termina no cone medular, a pia-máter continua como filamento terminal (parte pial), em conjunto com a cauda equina. Quando o filamento atinge o fundo do saco dural, recebe prolongamentos da dura- máter e passa a se chamar filamento da dura-máter espinhal ou filamento terminal parte dural. Esse filamento entra no canal sacral e se insere na face dorsal do cóccix como ligamento coccígeo. Entre a dura-máter espinhal e o periósteo das vértebras, existe um espaço real preenchido por tecido adiposo e pelo plexo venoso vertebral interno chamado espaço epidural (ou extradural). Entre a dura-máter e a aracnoide, existe um espaço virtual ocupado por pequena quantidade de líquido lubrificante chamado espaço subdural. Já entre a aracnoide e a pia-máter, existe o espaço subaracnóideo. Trata-se de um espaço real onde circula o líquido cerebrospinhal (LCS), também denominado liquor. 1.2.1.4 Cisterna lombar e anestesias Como a medula terminal ao nível de L2 e a dura-máter termina apenas ao nível de S2, existe um espaço rico em líquido cerebrospinhal contendo apenas o filamento terminal e a cauda equina chamado cisterna lombar do espaço subaracnóideo. Isso significa que não há risco de lesão medular, assim, é uma região segura para se introduzir agulhas, com os seguintes propósitos: 1. Coleta de liquor (exames laboratoriais) 2. Aferir a pressãodo liquor 3. Injetar contraste radiológico 4. Administrar fármacos (via intratecal) 5. Aplicar anestésicos Na anestesia raquidiana (subaracnóidea), a agulha atravessa a pele, tela subcutânea, ligamento interespinal, ligamento amarelo, dura-máter e aracnoide. Tem-se certeza de que a agulha atingiu o espaço subaracnóideo quando o liquor começa a gotejar. Uma desvantagem dessa anestesia é a perfuração da dura-máter e o vazamento de liquor que causam cefaleia. Por outro lado, a anestesia epidural (extradural) se limita ao espaço epidural, e o anestésico se difunde no tecido adiposo até atingir os nervos espinhais na região do forame intervertebral. A agulha atravessa pele, tela subcutânea, ligamento interespinal e ligamento amarelo. Durante a perfuração, a queda súbita de resistência indica que a agulha atravessou o ligamento amarelo. É um procedimento que requer mais técnica e limita-se a partos. 3 1.2.2 Anatomia macroscópica do bulbo O bulbo, também denominado medula oblonga, tem o formato de um tronco de cone e é contínuo caudalmente com a medula espinhal e cranialmente com a ponte. Se por um lado o sulco bulbo-pontino é o limite cranial do bulbo, não existe demarcação precisa entre bulbo e medula. Considera-se que o limite seja o forame magno, ou mais precisamente, o filamento radicular mais cranial do primeiro nervo espinhal (C1). - fissura mediana anterior - sulco mediano posterior - sulco lateral anterior - sulco lateral posterior - sulco intermédio posterior - septo intermédio posterior - septo mediano posterior - área ventral - área lateral - área dorsal A área ventral do bulbo possui as pirâmides e a decussação das pirâmides, que representam o trato corticoespinhal. A área lateral do bulbo possui as olivas, que correspondem ao núcleo olivar inferior. Na área dorsal, estão presentes os fascículos grácil (medial) e cuneiforme (lateral), bem como os tubérculos [dos núcleos] grácil e cuneiforme e o pedúnculo cerebelar inferior. A metade caudal do bulbo é a porção fechada e contém o canal central do bulbo. Já a metade rostral do órgão é a porção aberta e forma parte do assoalho do IV ventrículo. 1.2.3 Anatomia macroscópica da ponte A ponte repousa sobre a parte basilar do osso occipital e se interpõe entre o bulbo caudalmente e o mesencéfalo cranialmente. A parte ventral da ponte possui o sulco basilar, que aloja a artéria basilar, e estrias transversais as quais convergem de ambos os lados para formar os grandes pedúnculos cerebelares médios. A parte dorsal da ponte entra na formação do assoalho do IV ventrículo em conjunto com a porção aberta do bulbo. 1.2.4 Quarto ventrículo O IV ventrículo é uma cavidade romboide no interior do rombencéfalo. Comunica-se com o III ventrículo através do aqueduto cerebral do mesencéfalo e com o canal central da medula através do canal central do bulbo. O IV ventrículo possui recessos laterais onde se encontram as aberturas laterais do IV ventrículo (forames de Luschka). Existe, ainda, a abertura mediana do IV ventrículo (forame de Magendie). É por meio dessas aberturas que o líquido cerebrospinhal passa da cavidade ventricular para o espaço subaracnóideo. O assoalho do IV ventrículo é formado pela porção aberta do bulbo em sua metade caudal e pela ponte em sua metade rostral. Seus relevos são os seguintes: - sulco mediano - eminência medial / colículo facial - sulco limitante / fóvea superior / fóvea inferior - área vestibular - locus ceruleus - estrias medulares do IV ventrículo - trígono do nervo hipoglosso (medial, ápice para baixo) - trígono do nervo vago (lateral, ápice para cima) - funiculus separans - área postrema - óbex A área vestibular corresponde aos núcles vestibulares do nervo vestíbulo-coclear. O locus ceruleus possui os neurônios mais ricos em noradrenalina do encéfalo. O trígono do nervo hipoglosso corresponde ao núcleo do nervo hipoglosso, da mesma forma que o trígono do nervo vago corresponde ao núcleo dorsal do vago. Por fim, a área postrema está relacionado ao mecanismo do vômito. O teto do IV ventrículo é formado pelo véu medular superior em sua metade rostral, entre os dois pedúnculos cerebelares superiores, e pelo véu medular inferior com a tela corioide em sua metade caudal. A tela corioide é a união do epitélio ependimário com a pia-máter sobrejacente. Projeções irregulares da tela densamente vascularizadas para a luz do ventrículo formam o plexo corioide do IV ventrículo, cuja função é produzir o líquido cerebroespinhal. 1.2.5 Anatomia macroscópica do mesencéfalo O mesencéfalo é atravessado pelo aqueduto cerebral (aqueduto do mesencéfalo ou aqueduto de Sylvius), o qual divide o órgão em teto dorsalmente e pedúnculo cerebral ventralmente. O pedúnculo cerebral, por sua vez, também é subdividido em tegmento dorsalmente e base ventralmente (pilar do cérebro), separados pela substância negra, rica em melanina. Na superfície do órgão, o limite entre base e tegmento é definido pelo sulco lateral do mesencéfalo e pelo sulco medial do pedúnculo cerebral. Entre os dois pedúnculos cerebrais, existe a fossa interpeduncular, cujo assoalho é a substância perfurada posterior (passagem de vasos). Anteriormente à fossa, ficam os corpos mamilares do diencéfalo. Já no teto do mesencéfalo, há quatro eminências arredondadas, dois colículos superiores e dois colículos inferiores. O colículo inferior se liga ao corpo geniculado medial do diencéfalo pelo braço do colículo inferior e faz parte da via auditiva, enquanto o colículo superior se liga ao corpo geniculado lateral do diencéfalo pelo braço do colículo superior e faz parte da via óptica. 1.2.6 Emergência dos nervos cranianos no tronco encefálico Existem 12 pares de nervos cranianos, sendo que 10 deles fazem conexão no tronco encefálico: - nervo oculomotor (III): sulco medial do pedúnculo cerebral no mesencéfalo 4 - nervo troclear (IV): véu medular superior inferiormente aos colículos inferiores no teto do mesencéfalo - nervo trigêmeo (V): entre a ponte e o pedúnculo cerebelar médio, através de uma raiz sensitiva (maior) e uma raiz motora (menor) - nervo abducente (VI): sulco bulbo-pontino, entre a ponte e as pirâmides - nervo facial (VII): sulco bulbo-pontino, lateral ao NCVI - nervo intermédio (raiz sensitiva de NCVII): sulco bulbo- pontino, lateral ao NCVII - nervo vestíbulo-coclear (VIII): sulco bulbo-pontino, próximo ao flóculo do cerebelo - nervo glossofaríngeo (IX): sulco lateral posterior do bulbo - nervo vago (X): sulco lateral posterior do bulbo, caudal ao NCIX - nervo acessório (XI): sulco lateral posterior do bulbo (raiz craniana ou bulbar), caudal ao NCX - nervo hipoglosso (XII): sulco lateral anterior do bulbo 1.2.7 Anatomia macroscópica do cerebelo A palavra cerebelo vem do latim e significa pequeno cérebro. Apesar de sua importância, ele pode ser completamente destruído sem causar a morte do indivíduo. O órgão possui uma massa mediana chamada vérmis e duas massas laterais chamadas hemisférios. Enquanto o cérebro possui giros e sulcos, o cerebelo possui folhas e fissuras. O interior do órgão é formado pelo corpo medular, lâminas brancas e córtex cerebelar, dando o aspecto de "árvore da vida". Os núcleos centrais do cerebelo são massas de substância cinzenta dentro do corpo medular do cerebelo: núcleo denteado, núcleo interpósito (emboliforme e globoso) e núcleo fastigial. De lateral para medial: denteado, emboliforme, globoso e fastigial. São importantes os lóbulos: nódulo (do vérmis), flóculo (do hemisfério) e tonsila (do hemisfério). O flóculo e o nódulo são unidos pelo pedúnculo do flóculo para formar o lobo flóculo-nodular. A fissura posterolateral separao lobo flóculo-nodular do corpo do cerebelo. A fissura prima, por sua vez, divide o corpo do cerebelo em lobo anterior e lobo posterior. Outras fissuras são a pós-clival e a horizontal. Nódulo é o lóbulo X do vérmis, enquanto o I é a Língula. Existem três pedúnculos cerebelares. O pedúnculo cerebelar superior une cerebelo e mesencéfalo. O pedúnculo cerebelar médio une cerebelo e ponte. Já o pedúnculo cerebelar inferior une cerebelo e bulbo. 1.2.8 Anatomia macroscópica do diencéfalo 1.2.8.1 Terceiro ventrículo O III ventrículo é a cavidade do diencéfalo que se comunica com o IV ventrículo através do aqueduto cerebral e com os ventrículos laterais através dos forames interventriculares (de Monro). As paredes laterais do III ventrículo são formadas por tálamo e hipotálamo, separados pelo sulco hipotalâmico. Este sulco se estende do aqueduto cerebral até o forame interventricular. O assoalho do ventrículo é formado por quatro estruturas: quiasma óptico, infundíbulo, túber cinéreo e corpos mamilares. A parede anterior é a lâmina terminal do telencéfalo. A parede posterior é composta pelo epitálamo. O teto do III ventrículo é formado pela tela corioide, com fixação nas estrias medulares do tálamo e na comissura das habênulas. Os plexos corioides que se invaginam para a luz do ventrículo são contínuos também com os plexos dos ventrículos laterais por meio dos forames interventriculares. Existe uma trave de tecido nervoso entre os dois tálamos chamada aderência intertalâmica, a qual pode estar ausente em alguns indivíduos. 1.2.8.2 Tálamo São duas massas ovoides de substância cinzenta, contendo uma eminência anterior chamada tubérculo anterior do tálamo e uma eminência posterior chamada pulvinar do tálamo. Fazem parte do tálamo os corpos geniculados medial e lateral, além da estria terminal. 1.2.8.3 Hipotálamo As quatro estruturas que formam o assoalho do III ventrículo pertencem ao hipotálamo. O quiasma óptico é a região onde os nervos ópticos decussam e continuam em direção aos corpos geniculados laterais como tratos ópticos. O tubér cinéreo é a estrutura que dá origem ao infundíbulo ao qual se prende a hipófise. Já os corpos mamilares são duas eminências arrendondadas anteriormente à fossa interpenducular. 1.2.8.4 Epitálamo Composto pela glândula epífise (pineal), trígono das habênulas, comissura das habênulas e comissura posterior. O trígono das habênulas une o epitálamo aos tálamos, enquanto a comissura das habênulas une os trígonos entre si. Essa comissura é também a origem das estrias medulares do tálamo. Em contrapartida, a comissura posterior é considerada o limite entre mesencéfalo e diencéfalo, situada posteriormente à origem do sulco hipotalâmico. 1.2.8.5 Subtálamo É a região do diencéfalo que não faz relação com as paredes do III ventrículos, situada inferiormente ao tálamo, assim como o hipotálamo, porém lateralmente a esse último. Isso significa que hipotálamo e subtálamo ficam lado a lado abaixo do tálamo, porém apenas o hipotálamo entra na delimitação do III ventrículo. 1.2.8.6 Metatálamo Considerado por alguns autores como a quinta divisão do diencéfalo, constituída pelos corpos geniculados mediais (via auditiva) e corpos geniculados laterais (via óptica). 1.2.9 Anatomia macroscópica do telencéfalo O telencéfalo forma a maior parte dos dois hemisférios cerebrais, sendo composto de sulcos e giros que aumentam a superfície do órgão sem grande aumento do 5 volume, tal que apenas um terço da superfície telencefálica é aparentemente visível, pois os outros dois terços estão ocultos dentro dos sulcos. 1.2.9.1 Divisão em lobos O telencéfalo possui três polos — frontal, temporal e occipital — e cinco lobos: frontal, parietal, temporal, occipital e insular. O lobo insular (ínsula ou ilha de Reil), é o único que não faz relação com os ossos da calvária. As três faces do cérebro são dorsolateral (convexa), medial e inferior (base do cérebro). A fissura longitudinal separa os dois hemisférios. Em cada hemisfério, o sulco lateral (sulco de Sylvius, também chamado de fissura) separa os lobos temporal e frontal. Esse sulco possui um ramo anterior, um ramo ascendente e um ramo posterior. Os dois primeiros são curtos, enquanto o terceiro é longo. O sulco central (sulco de Rolando) tem origem na face medial do cérebro e passa para a face dorsolateral terminando antes do sulco lateral. Ele separa os lobos frontal e parietal. O sulco parieto-occipital tem origem na face dorsolateral e se dirige ao esplênio do corpo caloso na face medial separando os lobos parietal e occipital na face medial do cerébro. Na face dorsolateral, é necessário traçar uma linha imaginária entre a origem desse sulco e a incisura pré-occipital para separar esses dois lobos. Outra linha imaginária parte da extremidade do ramo posterior do sulco lateral até o ponto médio dessa primeira linha imaginária para delimitar os lobos temporal, parietal e occipital. 1.2.9.2 Sulcos e giros da face dorsolateral - lobo frontal sulco pré-central sulco frontal superior sulco frontal inferior giro pré-central giro frontal superior giro frontal médio giro frontal inferior O sulco pré-central pode estar divido em dois segmentos. Para diferenciá-lo do sulco central, observe que ele não tem origem na face medial do cérebro. O giro pré-central é a principal área motora do cérebro. O giro frontal inferior é divido pelos ramos do sulco lateral em parte orbital, parte triangular e parte opercular. O giro frontal inferior esquerdo é uma área de linguagem e recebe o nome de giro de Broca. - lobo parietal sulco pós-central sulco intraparietal giro pós-central giro supramarginal giro angular O sulco pós-central também pode ser divido em dois segmentos, sendo que ele intersecta o sulco lateral. O sulco intraparietal divide o lobo parietal em lóbulo parietal superior e lóbulo parietal inferior. O giro pós-central é sensitivo, enquanto o giro pré-central é motor. No lóbulo temporal inferior, encontram-se os giros supramarginal e angular na extremidade dos sulcos lateral e temporal superior, respectivamente. - lobo temporal sulco temporal superior sulco temporal inferior giro temporal superior giro temporal médio giro temporal inferior giro temporal transverso anterior O giro temporal inferior continua na face inferior do cérebro, onde é delimitado pelo sulco occipito-temporal. O giro temporal transverso anterior (GTTA) é uma área da audição encontrada no assoalho do sulco lateral. - lobo occipital extremidade do sulco parieto-occipital extremidade do sulco calcarino incisura pré-occipital - lobo insular sulco central sulco circular (limiar ou límen) giros curtos giro longo 1.2.9.3 Sulcos e giros da face medial - lobos frontal e parietal sulco do corpo caloso sulco do cíngulo sulco paracentral ramo marginal sulco subparietal lóbulo paracentral giro do cíngulo giro frontal medial pré-cúneus área septal (subcalosa) O lóbulo paracentral é divido em duas partes pela extremidade superior do sulco central. A metade anterior corresponde à área motora do pé e da perna, ao passo que a metade posterior corresponde à área sensitiva do pé e da perna. O sulco do corpo caloso é contínuo com o sulco hipocampal. A área septal (subcalosa) é um dos centros do prazer do cérebro. - lobo occipital sulco parieto-occipital sulco calcarino cúneus giro occipitotemporal medial Os sulcos parieto-occipital e calcarino se encontram no istmo do giro do cíngulo. O cúneus é um giro complexo localizado entre esses dois sulcos. 6 1.2.9.4 Corpo caloso, fórnix, comissura anterior, lâmina terminale septo pelúcido O corpo caloso é dividido em tronco, esplênio, joelho e rostro. O rostro continua com a comissura anterior e a lâmina terminal. A área septal fica abaixo do rostro e adiante da lâmina terminal. O fórnix possui corpo, colunas e pilares (pernas). As colunas são prolongamentos anteriores que terminam nos corpos mamilares. Já os pilares são prolongamentos posteriores que se ligam ao hipocampo através da fímbria do hipocampo. O giro denteado participa da união entre o hipocampo e o giro parahipocampal. A comissura do fórnix une as duas metades dessa estrutura. O septo pelúcido é formado por duas lâminas de tecido nervoso que se interpõe entre o corpo caloso e o fórnix separando os ventrículos laterais. 1.2.9.5 Sulcos e giros da face inferior - lobo temporal sulco occípto-temporal sulco rinal / sulco colateral sulco hipocampal sulco calcarino giro temporal inferior giro occípto-temporal lateral giro occípto-temporal medial giro parahipocampal giro denteado úncus istmo do giro do cíngulo O giro do cíngulo, o istmo do giro do cíngulo, o giro parahipocampal e o úncus constituem o lobo límbico, que circunda todas as estruturas inter-hemisféricas. - lobo frontal sulco olfatório giro reto sulcos e giros orbitais O bulbo e trato olfatório repousam sobre o sulco olfatório. O trato olfatório se bifurca nas estrias olfatórias medial e lateral, as quais determinam o trígono olfatório, cujo assoalho é a substância perfurada anterior (passagem de vasos). 1.2.9.6 Ventrículos laterais O ventrículo lateral é a cavidade do telencéfalo. Ele possui uma parte central, um corno anterior (frontal), um corno posterior (occipital) e um corno inferior (temporal). O corno anterior começa no forame interventricular. Sua parede medial é o septo pelúcido, o teto e a parede anterior são formados pelo corpo caloso, e o assoalho e a parede lateral são formados pelo núcleo caudado. A parte central vai desde o forame interventricular até o trígono colateral, onde ocorre a bifurcação em corno posterior e inferior. O teto é formado pelo corpo caloso, a parede medial é o septo pelúcido e o assoalho em conjunto com a parede lateral é composto de: tálamo, fórnice e núcleo caudado. O corno posterior termina em ponta e descreve uma curvatura medial, sendo seus limites estabelecidos por irradiações do corpo caloso. O sulco calcarino determina uma prega chamada calcar avis, ao passo que as irradiações do corpo caloso são representadas pelo bulbo do corno posterior. O corno inferior é delimitado pela substância branca do hemistério, sendo que ele faz relação com a cauda do núcleo caudado e o corpo amigdaloide (amígdala cerebral, associada ao medo). Seu assoalho é formado pelo hipocampo e pela eminência colateral (causada pelo sulco colateral). Os plexos corioides dos ventrículos laterais são contínuos com os plexos do III ventrículo nos forames interventriculares. Eles se distribuem na parte central e no corno inferior do ventrículo, estando ausentes nos cornos anterior e posterior. 1.2.9.7 Núcleos da base É característica do sistema nervoso suprassegmentar possuir uma camada externa de substância cinzenta e uma camada interna de substância branca, no caso do cérebro chamadas, respectivamente, de córtex cerebral e centro branco medular do cérebro. Os núcleos da base são massas de substância cinzenta no interior do centro branco medular na base do cérebro. São eles: núcleo caudado, núcleo lentiforme, núcleo accumbens, claustrum e corpo amigdaloide. De modo geral, os núcleos da base tem relação com a motricidade. O núcleo caudado possui cabeça, corpo e cauda. A cabeça do corpo caudado funde-se com o putame para formar o estriado. O corpo e a cauda são fortemente arqueados, acompanhando a curvatura do ventrículo lateral em cada hemisfério cerebral e fazendo relação com a amígdala. O núcleo lentiforme é composto de duas partes separadas por uma delgada lâmina do centro branco medular. O putame é a região lateral e mais volumosa. O globo pálido é a região medial e menos volumosa, dividida em parte externa e parte interna. Em conjunto com o núcleo caudado, o núcleo lentiforme constitui o corpo estriado. núcleo caudado + putame = estriado núcleo caudado + putame + globo pálido = corpo estriado O núcleo lentiforme possui o tamanho e o formato de uma castanha-do-Pará. Ele é limitado medialmente pela cápsula interna / tálamo e lateralmente pela cápsula externa / claustrum. O claustrum é uma lâmina de substância cinzenta interposta entre o córtex da ínsula e o núcleo lentiforme. A substância branca que o separa do primeiro é a cápsula extrema, e a substância branca que o separa do segundo é a cápsula externa. Assim, de lateral para medial temos: córtex da ínsula, cápsula extrema, claustrum, cápsula externa, putame, parte 7 externa do globo pálido, parte interna do globo pálido, cápsula interna, tálamo e III ventrículo. O núcleo accumbens é a região de transição entre a cabeça do núcleo caudado e o putame. É uma área de prazer do cérebro. Já o corpo amigdaloide (amígdala cerebral) é uma massa aproximadamente esférica no interior do lobo temporal fazendo relação anatômica com a cauda do núcleo caudado, medialmente aos pés do hipocampo. Sua função está relacionada com as emoções, principalmente o medo. Por outro lado, o centro branco medular organiza-se em fibras de projeção e fibras de associação. As fibras de projeção fazem a relação córtex–centros subcorticais e são representadas pelo fórnice e pela cápsula interna. O fórnice une o córtex do hipocampo aos corpos mamilares, enquanto a cápsula interna contém a maior parte das fibras que entram e saem do cérebro. A cápsula interna possui um ramo anterior, um joelho e um ramo posterior, separando o núcleo lentiforme do tálamo e do núcleo caudado. Acima do nível dos núcleos da base, a cápsula interna continua como coroa radiada (corona radiata). Em contrapartida, as fibras de associação fazem a relação córtex–córtex, sendo exemplos de fibras de associação que unem partes simétricas do telencéfalo o corpo caloso, a comissura anterior e a comissura do fórnice — a comissura posterior pertence ao diencéfalo (epitálamo). 1.2.10 Nervos cranianos Tabela 1.1 — Origem aparente dos nervos cranianos Par craniano Origem aparente no encéfalo Origem aparente no crânio I bulbo olfatório lâmina crivosa do osso etmoide II quiasma óptico canal óptico III sulco medial do pedúnculo cerebral fissura orbital superior IV véu medular superior fissura orbital superior V entre a ponte e o pedúnculo cerebelar médio fissura orbital superior (oftálmico); forame redondo (maxilar) e forame oval (mandibular) VI sulco bulbo-pontino fissura orbital superior VII sulco bulbo-pontino (lateralmente ao VI) forame estilomastóideo VIII sulco bulbo-pontino (lateralmente ao VII) penetra no osso temporal pelo meato acústico interno, mas não sai do crânio IX sulco lateral posterior do bulbo forame jugular X sulco lateral posterior caudalmente ao XI forame jugular XI sulco lateral posterior do bulbo (raiz craniana) e medula (raiz espinhal) forame jugular XII sulco lateral anterior do bulbo, adiante da oliva canal do hipoglosso Fonte: MACHADO, 2014. 1.2.11 Meninges – Liquor A pia-máter e a aracnoide do embrião são uma membrana única, chamada leptomeninge. À medida que elas se afastam, surgem as trabéculas aracnóideas e a distinção das duas meninges. Por outro lado, a dura- máter (paquimeninge) é uma membrana conjuntiva espessa, rica em colágeno, contendonervos e vasos sanguíneos. A artéria meníngea média é o principal vaso da dura-máter. Os nervos da dura são os responsáveis pelas dores de cabeça, além das terminações nervosas vasculares, já que o parênquima nervoso é praticamente indolor. A dura-máter craniana possui um folheto interno e um folheto externo. O folheto interno da dura-máter craniana é contínuo com a dura-máter espinhal (folheto único) através do forame magno. O folheto externo comporta-se como periósteo interno do crânio, contudo, sem função osteogênica. Se por um lado não há reposição de massa óssea, as fraturas da região também não consolidam por meio de calos ósseos que eventualmente elevariam a pressão intracraniana. Assim, o espaço epidural real na coluna vertebral é virtual no crânio. Eventuais coleçõs de sangue são os hematomas epidurais. 1.2.12 Pregas da dura-máter craniana São dobras que o folheto inteno da dura-máter forma em algumas regiões da cavidade craniana ao se desprender do folheto externo: - foice do cérebro - tenda (ou tentório) do cerebelo / incisura da tenda - foice do cerebelo - diafragma da sela túrcica A foice do cérebro ocupa a fissura longitudinal. A tenda do cerebelo divide a cavidade craniana em compartimentos supratentorial e infratentorial. A incisura da tenda encaixa-se no mesencéfalo, podendo causar lesão no nervo troclear que se origina no véu medular superior ou no nervo oculomotor do sulco medial do pedúnculo cerebral. A foice do cerebelo divide parcialmente os hemisférios cerebelares. Já o diafragma da sela cobre a glândula, permitindo a passagem apenas da haste hipofisária (infundíbulo). Outra região em que os folhetos se separam é no cavo trigeminal (ou loja do gânglio trigeminal), formando uma 8 cavidade ocupada por corpos de neurônios do V par craniano. 1.2.13 Seios da dura Da mesma forma que as pregas e o cavo trigeminal, os folhetos da dura-máter craniana podem se separar para formar seios (cavidades) preenchidos por sangue e revestidos por endotélio. São estruturas semelhantes a veias, com algumas diferenças: - secção transversa triangular; - paredes finas (mais delgadas que veias); - paredes suficientemente rígidas para não colabar. Esses seios possuem comunicações com veias superficiais (couro cabeludo, por exemplo) para extravasar sangue quando a pressão interna do sistema aumenta. Essas comunicações são feitas pelas chamadas veias emissárias que cursam através de forames próprios nos ossos do crânio (como os forames parietais). Pode acontecer, ainda, de os seios possuírem espécies de divertículos laterais, conhecidos como lacunas sanguíneas. Dividem-se em dois grandes grupos: - seios da abóbada sagital superior sagital inferior reto occipital transverso sigmóideo - seios da base cavernoso intercavernosos (ant. e post.) esfenoparietal petroso superior petroso inferior plexo basilar A confluência dos seios é formada pelos seios: sagital superior, reto, transversos e occipital. Existem variações anatômicas nessa formação. O seio reto é formado pela união do seio sagital inferior com a veia cerebral magna (de Galeno). O seio cavernoso é atravessado pela artéria carótida interna e pelo nervo abducente. Isso significa que existe sangue fluindo em direções opostas no interior do seio, com risco de fístula aterio-venosa, manifesta como exoftalmia. Além disso, os nervos oculomotor, troclear, oftálmico e maxilar fazem relação com a parede do seio cavernoso, porém separados da luz deste pelo endotélio. Ainda é possível que ocorram distúrbios dos movimentos oculares por acometimento desses nervos. O seio cavernoso recebe sangue também das veias oftálmica superior e central da retina. O plexo basilar comunica-se com o plexo vertebral interno na coluna vertebral através do forame magno. 1.2.14 Aracnoide e pia-máter A aracnoide é uma fina camada de tecido conjuntivo com os prolongamentos trabeculares. A dura-máter e a aracnoide acompanham grosseiramente a superfície do encéfalo, ao contrário da pia-máter, intimamente aderida, tal que a profundidade do espaço subaracnóideo é variável. Essa características das meninges determina as seguintes cisternas do espaço subaracnóideo: - cisterna cerebelo-medular (cisterna magna) - cisterna pontina - cisterna interpeduncular (cisterna basal) - cisterna quiasmática - cisterna superior (cisterna da veia cerebral magna, em parte cisterna ambiens, entre o cerebelo e o esplênio do corpo caloso) - cisterna da fossa lateral do cérebro Existem regiões da aracnoide que se invaginam para o interior dos seios durais formando protuberâncias chamadas granulações aracnóideas, principalmente no seio sagital superior. Trata-se de expansões do espaço subaracóideo que colocam o liquor muito próximo do sangue venoso, separados apenas por uma fina lâmina de aracnoide e endotélio, por isso são estruturas especializadas na reabsorção do mesmo. Com o envelhecimento, podem ocorrer calcificações que deixam impressões na calvária, chamadas fovéolas granulares. A pia-máter acompanha tão de perto a superfície cerebral que acompanha até as artérias que penetram no parênquima nervoso por alguns milímetros, fundindo-se com a adventícia desses vasos. Tal fato somado à imersão das artérias em líquido amortece a pulsação arterial nos tecidos circunvizinhos. 1.2.15 Circulação liquórica O líquido cerebrospinhal (LCS, liquor) é límpido e incolor, no volume total de 100 a 150mL. Sua função primordial é a proteção mecânica do sistema nervoso central, amortecendo choques por uma fator de 30 vezes: o sistema de 1.500 gramas (encéfalo + medula espinhal) comporta-se como se pesasse apenas 50 gramas. Outras funções do liquor dizem respeito à estabilidade química do meio em comparação com as variações às quais o plasma é sujeito, além de funcionar como meio coletor de resíduos e transportador de hormônios no sistema nervoso central. Ele não é produzido apenas nos plexos corioides (60%), mas também pelas células ependimárias de forma geral (40%). A circulação é determinada por dois fatores: 1) produção em uma extremidade e absorção noutra; 2) pulsação arterial no espaço subaracnóideo. O liquor dos ventrículos laterais passa pelo III e IV ventrículo antes de atingir o espaço subaracnóideo através das aberturas mediana e laterais do IV ventrículo. São correntes de circulação lenta, com orientação predominantemente ascendente, devido à absorção sobretudo no seio sagital superior. Uma pequena parte é absorvida nas bainhas durais da raiz dos nervos espinhais também por 9 granulações aracnóideas, ocasionando espirais ascendentes ao longo da medula. 1.2.16 Considerações gerais sobre os nervos espinhais A raiz ventral do nervo espinhal é motora e formada por filamentos radiculares que fazem conexão no sulco lateral anterior da medula. Já a raiz dorsal é sensitiva, possui um gânglio sensitivo (espinhal) e é formada por filamentos radiculares que fazem conexão no sulco lateral posterior. Os corpos dos neurônios da raiz ventral encontram-se nas colunas anterior e lateral da medula, enquanto os corpos dos neurônios pseudo-unipolares da raiz dorsal encontram-se no gânglio sensitivo. Assim, a raiz dorsal pode ser entendida como o prolongamento central desses neurônios pseudounipolares. As duas raízes (motora e sensitiva) se unem para formar o tronco do nervo espinhal (misto). Vale lembrar que o gânglio sensitivo pertence à raiz dorsal, antes da formação do tronco. Esse tronco, então, divide-se num ramo ventral (anterior) e um ramo dorsal (posterior), ambos mistos. Em outras palavras, a raiz dorsal é sensitiva, mas o ramo dorsal é misto; a raiz ventral é motora, mas o ramoventral também é misto. Em geral, o ramo anterior é maior que o ramo posterior, com exceção dos três primeiros nervos cervicais. Por exemplo, o nervo suboccipital (ramo posterior de C1). Os nervos periféricos podem ser unissegmentares ou plurissegmentares, no que tange à composição por fibras nervosas de um ou mais segmentos medulares. Os nervos intercostais são exemplos de nervos unissegmentares. Os nervos dos plexos braquial e lombossacral representam nervos plurissegmentares. Nesse sentido, dermátomo é o território cutâneo inervado por uma única raiz dorsal (sensitiva). Pode ser entendido também como a região da pele que corresponde a um único segmento medular. Em contrapartida, fala-se também em território cutâneo de inervação periférica: a superfície suprida por cada nervo periférico sensitivo, geralmente plurissegmentares. A comparação entre esses dois mapas é útil na diferenciação de lesões da medula e dos nervos periféricos. De forma similar, miótomo é a porção do ventre muscular inervada por uma única raiz ventral. A maioria dos músculos é plurissegmentar, com exceção dos intercostais (unissegmentares). O músculo reto do abdome tem a particularidade de possuir intersecções tendíneas na transição entre os miótomos, normalmente indistinguíveis na superfície muscular. 1.2.17 Comparação entre o sistema nervoso somático eferente e o sistema nervoso visceral eferente (autônomo) No sistema nervoso somático, o órgão efetor é músculo estriado esquelético, o controle é voluntário e existe apenas um neurônio entre o SNC (medula) e a fibra muscular. Diferentemente, o sistema nervoso autônomo é involuntário e tem como órgãos-alvo músculo estriado cardíaco, músculo liso e glândulas. Além disso, existem dois neurônios entre o SNC e a periferia: 1) neurônio pré- ganglionar (fibras mielínicas) e; 2) neurônio pós- ganglionar (fibras amielínicas). 1.2.18 Diferenças entre as partes simpática e parassimpática da divisão autônoma do sistema nervoso Critério anatômico — o SN simpático é toracolombar, pois os corpos dos neurônios pré-ganglionares localizam- se nos segmentos T1–L2 da medula espinhal, constituindo a coluna lateral. O SN parassimpático é craniossacral, visto que os corpos dos neurônios pré- ganglionares encontram-se nos núcleos dos nervos cranianos (III, VI, IX e X) e nos segmentos S2–S4 da medula (não há coluna lateral nesses níveis). Quanto aos corpos dos neurônios pós-ganglionares, o SN simpático forma gânglios para-vertebrais e pré-vertebrais, ao passo que o SN parassimpático possui gânglios muito próximos ou dentro dos órgãos-alvo. Isso significa que as fibras pré-ganglionares simpáticas são curtas e as fibras pós- ganglionares longas. Acontece o contrário com as fibras parassimpáticas: pré-ganglionares longas e pós- ganglionares curtas. Critério farmacológico — tanto o SN simpático quanto o SN parassimpático possuem fibras pré-ganglionares colinérgicas (acetilcolina como neurotransmissor). As fibras pós-ganglionares parassimpáticas também são colinérgicas, mas as fibras pós-ganglionares simpáticas diferenciam-se por serem predominantemente adrenérgicas (noradrenalina como agonista). As exceções são as fibras simpáticas para as glândulas sudoríparas, músculos eretores dos pelos e vasos sanguíneos da musculatura estriada esquelética. Critério fisiológico — de forma geral, simpático e parassimpático são antagonistas. Diz-se que o SN simpático prepara o organismo para reações de fuga ou luta (fight or flight), e o SN parassimpático reações de repouso e saciedade. É importante notar que, mesmo quando o sistema nervoso simpático não supre uma glândula, ele pode interferir na secreção da mesma em função da inervação dos vasos sanguíneos. Além disso, o SN simpático possui efeitos difusos contra efeitos localizados do SN parassimpático. Atribui-se essa diferença aos tamanhos das fibras pós-ganglionares e proporção entre fibras pós e pré-ganglionares (maior no simpático). 10 Tabela 1.2 — Diferenças entre as divisões simpática e parassimpática do SNA Órgão Simpático Parassimpático Coração taquicardia, aumento da contratilidade e vasodilatação coronariana bradicardia, diminuição da contratilidade e vasocontrição coronariana Brônquios broncodilatação broncoconstrição Sistema digestivo diminuição da peristalse, diminuição das secreções e vasoconstrição mesentéria aumento da peristalse e aumento das secreções Fígado quebra de glicogênio (glicogenólise) síntese de glicogênio Bexiga relaxamento do músculo detrusor e contração do músculo esfíncter interno da uretra contração do músculo detrusor e relaxamento do músculo esfíncter interno da uretra Genitais masculinos ejaculação e remissão (vasoconstrição) ereção (vasodilatação) Íris midríase (dilatação da pupila) miose (constrição da pupila) Cristalino acomodação para longe acomodação para perto Glândulas salivares secreção viscosa e pouco abundante, vasoconstrição secreção fluida e abundante, vasodilatação Órgãos linfoides imunossupressão imunoativação Vasos sanguíneos do tronco e extremidades vasocontrição inervação ausente Glândulas sudoríparas secreção copiosa (fibras colinérgicas) inervação ausente Músculos eretores dos pelos ereção dos pelos inervação ausente Tecido adiposo lipólise inervação ausente Glândula suprarrenal secreção de adrenalina (fibras pré-ganglionares) inervação ausente Fonte: modificado de MACHADO, 2014. 11 1.2.19 Anatomia do sistema nervoso simpático A principal formação do SN simpático é o tronco simpático, uma cadeia bilateral de gânglios paravertebrais unidos por ramos interganglionares. As duas cadeias se estendem da base do crânio até o cóccix, onde se fundem para formar o gânglio ímpar (coccígeo). Existem 2–3 gânglios cervicais, 10–12 gânglios torácicos, 3–5 gânglios lombares e 4–5 glânglios sacrais, além do gânglio ímpar. Ao todo são de 19–25 pares de gânglios mais o gânglio ímpar. Isso acontece porque frequentemente gânglios adjacentes fundem- se. Os gânglios cervicais são chamados superior, médio e inferior, sendo que o gânglio médio pode estar ausente e o gânglio cervical inferior pode fundir- se com o primeiro gânglio torácico para formar o gânglio estrelado (cervicotorácico). O tronco simpático faz relação com o ramo anterior dos nervos espinhais por meio dos ramos comunicantes brancos e cinzentos. Os ramos brancos são de fibras pré-ganglionares mielínicas, por isso só encontradas de T1–L2. Já os ramos comunicantes cinzentos são de fibras pós-ganglionares e são encontrados ao longo de toda a coluna vertebral. Na região cervical, existe mais de um ramo comunicante cinzento por gânglio, pois são três gânglios para oito nervos espinhais. Além dos gânglios para-vertebrais (tronco simpático), há 6 gânglios pré-vertebrais em relação com a superfície anterior da aorta abdominal e seus ramos: 1. gânglio celíaco direito 2. gânglio celíaco esquerdo 3. gânglio aorticorrenal direito 4. gânglio aorticorrenal esquerdo 5. gânglio mesentérico superior 6. gânglio mesentérico inferior Existem prolongamentos dos troncos simpáticos para a inervação das vísceras abdominais e pélvicas chamados nervos esplâncnicos. O nervo esplâncnico maior é formado por fibras de T5–T9, o nervo esplâncnico menor é formado por fibras de T10–T11, o nervo esplâcnico imo por fibras de T12 e os nervos esplâncnicos lombares (2) e sacrais (2) por fibras de L1–L2. A diferença entre esses dois últimos é a região do tronco simpático a partir da qual emergem. Os três primeiros nervos (maior, menor e imo) são considerados torácicos. De modo geral, os nervos esplâncnicos dirigem-se para o plexo pré-vertebral.As fibras pré-ganglionares do SN simpático com origem nos segmentos medulares T1–L2 possuem quatro opções ao chegar no tronco simpático através de um ramo comunicante branco: 1) fazer sinapse com fibras pó-ganglionares no glânglio de mesmo nível; 2) fazer sinapse em glânglios superiores, subindo pelos ramos interganglionares; 3) fazer sinapse em glânglios inferiores, descendo pelos ramos interganglionares ou; 4) passar pelo tronco simpático sem fazer sinapse e formar nervos independentes. Dessa forma, o tronco simpático amplia o alcance das fibras pré-simpáticas inicialmente limitadas a T1–L2 para todos os níveis medulares. Os ramos interganglionares são formados justamente por essas fibras ascendentes e descendentes. Os nervos independentes supracitados são os nervos esplâncnicos, os quais podem ser entendidos como ramos comunicantes brancos prolongados que se dirigem aos gânglios pré-vertebrais para, então, fazer sinapse. Já as fibras pós-ganglionares do SN simpático possuem três opções: 1) sair do glânglio paravertebral por meio de um ramo comunicante cinzento e acompanhar a distribuição do ramo anterior do nervo espinhal ("pegar carona"); 2) sair do glânglio paravertebral ou pré-vertebral acompanhando uma artéria (como a carótida interna) ou; 3) sair do glânglio através de um nervo independente, como os nervos cardíacos. 1.2.20 Anatomia do sistema nervoso parassimpático A parte craniana do SN parassimpático está relacionada aos nervos oculomotor, facial, glossofaríngeo e vago. O gânglio ciliar fica dentro da cavidade orbitária e recebe as fibras do nervo oculomotor para inervar o músculo esfíncter da pupila e o músculo ciliar. O glânglio pterigopalatino fica na fossa de mesmo nome e recebe fibras do nervo facial para inervar a glândula lacrimal. O glânglio submandibular faz relação com a glândula submandibular e também recebe fibras do nervo facial para inervar as glândulas submandibulares e sublinguais. O glânglio ótico está posicionado inferiormente ao forame oval e recebe fibras do nervo glossofaríngeo para suprir a glândula parótida. Os quatro glânglios fazem relação com os ramos do nervo trigêmeo (NC V). O glânglio ciliar comunica-se com o nervo oftálmico (NC V1), o glânglio pterigopalatino com o nervo maxilar (NC V2), o glânglio ótico com o nervo mandibular (NC V3) e o glânglio submandibular com o nervo lingual (ramo do NC V3). Isso acontece porque o trajeto das fibras pré- ganglionares é complexo e existem anastomoses entre os nervos cranianos. Os glânglios do nervo vago situam-se nas vísceras por ele inervadas, sendo que no tubo digestivo correspondem aos plexos submucoso e mioentérico. A parte sacral do SN parassimpático corresponde aos segmentos S2–S4 da medula espinhal. As fibras pré- ganglionares com origem nesses níveis destacam-se dos ramos anteriores dos respectivo nervos espinhais para constituir os nervos esplâncnicos pélvicos. Eles 12 diferem dos nervos esplâncnicos sacrais porque não tem origem no tronco simpático — pelo contrário, fazem parte do sistema nervoso parassimpático — e suas fibras fazem sinapse diretamente nos órgãos- alvo, em vez de fazer sinapse no plexo celíaco. O plexo celíaco (plexo solar ou pré-vertebral) é formado por fibras simpáticas pré-ganglionares e pós- ganglionares, fibras parassimpáticas pré- ganglionares e glânglios pré-vertebrais. 1.3 SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO 1.3.1 Nervos intercostais, subcostais e toracoabdominais Os nervos espinhais possuem um ramo anterior e um ramo posterior. Na região do tórax, os ramos anteriores chamam-se nervos intercostais (11 pares). O 12º par recebe o nome de subcostal. Os ramos posteriores, por sua vez, inervam articulações, músculos e pele no dorso (lei de Hilton). Os nervos intercostais típicos (3–6) seguem seu trajeto no espaço intercostal na margem inferior da costela de mesmo número (sulco da costela), entre os músculos intercostais internos e íntimos. O nervo intercostal típico possui 5 ramos: 1) ramo cutâneo lateral, que possui uma ramificação anterior e outra posterior; 2) ramo cutâneo anterior, que possui uma ramificação medial e outra lateral; 3) ramos comunicantes branco e cinzento (tronco simpático); 4) ramo colateral, que segue na margem superior da costela inferior e; 5) ramos musculares, para toda a musculatura torácica propriamente dita. O 1º nervo intercostal é atípico porque, nesse caso, o ramo anterior possui uma divisão superior e outra inferior, sendo a primeira contribuição para o plexo braquial e a segunda o nervo intercostal propriamente dito. Ademais, o 1º nervo intercostal geralmente não possui os ramos cutâneos. No que se refere ao 2º nervo intercostal, também considera-se atípico devido à existência de um ramo cutâneo lateral mais calibroso que o usual, o nervo intercostobraquial. Quanto aos nervos intercostais restantes (7–11), possuem um percurso diferente do usual e dão origem aos nervos toracoabdominais. Eles são a continuação dos nervos intercostais, a partir do momento em que saem dos espaços intercostais e entram no plano neurovascular entre os músculos oblíquo interno e transverso do abdome. Possuem um ramo cutâneo lateral com ramificações anterior e posterior; e um ramo cutâneo anterior com ramificações medial e lateral assim como os nervos intercostais típicos. 1.3.2 Nervos vago e frênico Os nervos vagos (NC X) seguem na bainha carótica posteriormente à artéria carótida comum e à veia jugular interna e cursam posteriormente à raiz dos pulmões. Eles emitem, de cada lado, ramos cardíacos torácicos e um nervo laríngeo recorrente. Se, por um lado, o nervo laríngeo recorrente direito tem origem inferiormente à artéria subclávia direita, o nervo laríngeo recorrente esquerdo possui raiz inferiormente ao arco da aorta. Isso significa que o nervo laríngeo recorrente direito é mais alto que o esquerdo. Os nervos frênicos, por sua vez, são os principais ramos do plexo cervical (C1–C4) e começam seu trajeto na superfície anterior dos músculos escalenos anteriores lateralmente ao nervo vago e passando anteriormente à raiz de cada pulmão para suprir o pericárdio e o diafragma. 1.3.3 Plexo lombossacral Ao conjunto dos plexos lombar e sacral (coccígeo também) dá-se o nome de plexo lombossacral. O plexo lombar é composto pelos ramos anteriores de L1–L4 e forma os seguintes nervos: - n. iliohipogástrico - n. ilioinguinal - n. genitofemoral - n. femoral - n. obturatório - n. cutâneo femoral lateral - n. obturatório acessório - tronco lombossacral O nervo iliohipogástrico (superior) e o nervo ilioguinal (inferior) são ramificações terminais do ramo anterior do nervo espinal L1; seguem paralelamente à crista ilíaca. O nervo genitofemoral perfura o músculo psoas maior e divide-se em um ramo genital e um ramo femoral. O nervo femoral é o maior ramo do plexo lombar e emerge lateralmente ao músculo psoas maior atravessando profundamente o ligamento inguinal no compartimento lateral do espaço retroinguinal (ver 4.4.3). Já o nervo obturatório emerge medialmente ao músculo psoas maior e atravessa o forame obturado. O nervo cutâneo femoral lateral possui trajeto anterolateral em relação ao nervo femoral. O nervo obturatório acessório está presente em 10% dos indivíduos. O tronco lombossacral, por fim, é formado pelos ramos anteriores de L4–L5 e representa a contribuição do plexo lombar para o plexo sacral. 13 O plexo sacral é formado pelos ramos anteriores de S1–S4, enquanto o plexo coccígeo é formado pelos ramos anteriores de S4, S5 e Co. Os principais nervos dos plexos sacral e coccígeo são: - n. isquiático - n. cutâneo femoral posterior- n. glúteo superior - n. glúteo inferior - n. pudendo - n. cutâneo perfurante O nervo isquiático é o maior nervo do corpo humano e passa na parte inferior do forame isquiático maior, abaixo do músculo piriforme. O nervo cutâneo femoral posterior também passa na parte inferior do forame isquiático maior, assim como o nervo glúteo inferior que supre o músculo glúteo máximo. O nervo glúteo superior é o único que passa acima do músculo piriforme no forame isquiático maior e inerva os músculos glúteo médio, glúteo mínimo e tensor da fáscia lata. Existem ramos menores diretamente do plexo sacral para os músculos profundos da região glútea. O nervo pudendo atravessa ambos os forames, primeiro o isquiático maior e depois o menor. Por fim, o nervo cutâneo perfurante, não passa por nenhuma das aberturas — em vez disso, perfura o ligamento sacrotuberal. 1.3.4 Inervação dos membros inferiores O compartimento muscular anterior da coxa é suprido pelo nervo femoral. O compartimento medial, pelo nervo obturatório. O posterior, pelo nervo isquiático. Os músculos do dorso do pé são supridos pelo nervo fibular profundo, enquanto as quatro camadas de músculos plantares são supridas pelos nervos plantar medial e plantar lateral. O nervo safeno começa no trígono femoral como ramo do nervo femoral e acompanha a veia safena magna ao longo de seu trajeto descendente pelo membro inferior. O nervo isquiático representa, na verdade, os nervos tibial e fibular compartilhando o revestimento conjuntivo do epineuro. Eles são os ramos terminais do nervo isquiático. O nervo tibial (maior ramo) emite o nervo cutâneo sural medial, enquanto o nervo fibular comum emite o nervo cutâneo sural lateral. O nervo cutâneo sural lateral, então, dá origem a um ramo fibular comunicante para formar o nervo sural em conjunto com o nervo cutâneo sural medial. Em outras palavras, o nervo sural é a união do nervo cutâneo sural medial e do ramo fibular comunicante do nervo cutâneo sural lateral. Esse ramo fibular comunicante pode ter uma origem diferente. Além disso, é possível que os nervos cutâneos surais não se unam para formar um único nervo sural em cada membro. O nervo tibial termina dividindo-se em nervo plantar medial, nervo plantar lateral e ramos calcâneos mediais. Os ramos calcâneos laterais partem do nervo sural. Por outro lado, o nervo fibular comum emite os nervos fibular superficial e fibular profundo. O nervo fibular profundo supre o compartimento anterior da perna. O nervo fibular superficial supre os músculos do compartimento lateral. Já o nervo do compartimento posterior é o tibial. No dorso do pé, o nervo fibular profundo emite o primeiro nervo digital dorsal comum. O nervo fibular superficial origina os outros três nervos digitais dorsais comuns e o nervo digital dorsal próprio medial do hálux. O nervo digital dorsal próprio lateral do dedo mínimo é ramo do nervo cutâneo dorsal lateral (ramo do nervo sural). Cada nervo digital dorsal comum ramifica-se em dois nervos digitais dorsais próprios. Em contrapartida, na planta do pé, o nervo plantar medial supre os três dedos e meio mediais, restando ao nervo plantar lateral suprir o dedo e meio lateral. 1.3.5 Plexo braquial O plexo braquial é formado pelos ramos anteriores de C5–T1, podendo ser pré-fixado (C4–C8) ou pós- fixado (C6–T12). As raízes do plexo formam os troncos superior (C5 e C6), médio (C7) e inferior (C8 e T1). Cada tronco possui uma divisão anterior e uma divisão posterior. O fascículo lateral é formado pelas divisões anteriores dos troncos superior e médio e emite: 1) nervo musculocutâneo e; 2) raiz lateral do nervo mediano. O fascículo medial, por sua vez, é a continuação da divisão anterior do tronco inferior e emite: 1) nervo ulnar e; 2) raiz medial do nervo mediano. Já o fascículo posterior reúne as três divisões posteriores para formar os nervos radial e axilar. A clavícula divide as ramificações não-terminais do plexo braquial em ramos supraclaviculares e ramos infraclaviculares. Os ramos supraclaviculares são: nervo torácico longo, nervo dorsal da escápula, nervo supraescapular e nervo para o músculo subclávio. Por outro lado, os ramos infraclaviculares são: nervo peitoral lateral do fascículo lateral; nervos 14 subescapular superior, toracodorsal (subescapular médio) e subescapular inferior do fascículo posterior; e nervos peitoral medial, cutâneo medial do braço e cutâneo medial do antebraço do fascículo medial. 1.3.6 Inervação dos membros superiores Existem quatro grandes nervos no braço: musculocutâneo, radial, mediano e ulnar. O nervo musculocutâneo perfura o m. coracobraquial para suprir todos os músculos do compartimento anterior do braço e emerge lateralmente como nervo cutâneo lateral do antebraço. Já o nervo radial segue inferolateralmente no sulco do nervo radial para inervar todo o compartimento posterior do braço passando anteriormente ao epicôndilo lateral do úmero. Por outro lado, o nervo ulnar não possui ramos no braço e passa posteriormente ao epicôndilo medial do úmero. O nervo mediano também não possui ramos no braço. O compartimento anterior do antebraço é inervado pelo nervo mediano com contribuições do nervo ulnar, ao passo que todo o compartimento posterior é inervado pelo nervo radial. Após passar anteriormente ao epicôndilo lateral, o nervo radial divide-se em ramo superficial e ramo profundo, sendo que o ramo profundo é denominado nervo interósseo posterior do antebraço. O nervo interósseo anterior do antebraço é um ramo não terminal do nervo mediano. Na palma da mão, o nervo mediano supre três dedos e meio laterais, e o nervo ulnar supre um dedo e meio medial. No dorso da mão, o nervo radial supre dois dedos e meio laterais, e o nervo ulnar supre dois dedos e meio mediais. Da mesma forma que no pé, fala-se em nervos digitais dorsais e palmares, comuns e próprios. Além disso, os nervos (e também artérias) digitais palmares próprios emitem ramos dorsais para as falanges média e distal. Ou seja, os nervos digitais dorsais próprios inervam apenas a falange proximal. Isso também se aplica para os pés. O nervo ulnar, com contribuições do nervo mediano, supre os músculos intrínsecos da mão. 1.3.7 Nervos da face e do couro cabeludo O nervo trigêmeo (NC V) é o principal responsável pela inervação sensitiva da face. Já o nervo facial (NC VII) é o responsável pela inervação dos músculos da expressão facial. Os músculos da mastigação estão a cargo do nervo mandibular (NC V3). Toda a face e a região anterossuperior do couro cabeludo são supridas pelo trigêmeo, enquanto as outras regiões da cabeça e do couro cabeludo são supridas pelos ramos anteriores (plexo cervical) e posteriores dos nervos espinais cervicais. O nervo facial (NC VII) possui tanto fibras sensitivas quanto motoras (nervo misto) e passa pelo forame estilomastóideo antes de dar origem ao nervo auricular posterior. Então, o tronco principal do nervo é envolvido pela substância da glândula parótida para formar o plexo intraparotídeo do nervo facial, que possui cinco ramos: temporal, zigomático, bucal, marginal da mandíbula e cervical. Este último supre o músculo platisma. Cada ramo possui várias ramificações menores. REFERÊNCIAS MOORE, Keith L.; DALLEY, Arthur F; AGUR, Anne M. R. Anatomia Orientada para a Clínica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. NETTER, Frank Henry. Atlas de Anatomia Humana. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. DRAKE, Richard L.; VOGL, Wayne; MITCHELL, Adam W. M. Gray's Anatomia para Estudantes. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. MACHADO, Angelo B. M.; HAERTEL, Lucia Machado.Neuroanatomia Funcional. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2014. VALERIUS, Klaus-Peter; DUNCKER, Hans-Rainer. Atlas de Neuroanatomia. 1. ed. São Paulo: Santos, 2011.
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