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Análise das Obras Literárias - Unicamp e USP - Profª Sônia Targa

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OBRAS FUVEST/ UNICAMP-2013 
 Profª Sônia Targa 
 
 1-A cidade e as Serras- Eça de queirós 
 2-Til– José de Alencar 
 3 Memórias Póstumas de Brás Cubas -Machado de Assis. 
 4- Memórias de um sargento de Milícias- Manuel A de Almeida 
 5- Viagens na minha terra- Almeida Garrett 
 6- O Cortiço- Aluísio Azevedo 
 7- Capitães da Areia- Jorge Amado 
 8- Vidas Secas – Graciliano Ramos 
 9- Sentimento do Mundo- Carlos Drummond de Andrade 
 
1-A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós 
 
Publicado em 1901, no ano seguinte ao da morte de Eça de Queirós, o romance A Cidade e as Serras 
foi desenvolvido a partir da ideia central contida no conto 
“Civilização”, datado de 1892. Na verdade, o escritor pretendia publicar uma série de pequenos 
volumes em que analisaria flagrantes na vida real. Havia ainda, por parte do autor, a promessa de 
que o volume não passaria de quatro capítulos e cerca de 130 páginas. Ao que parece, os editores 
demoravam muito para editar obras muitos extensas, dificultadas pelo trabalho de composição 
tipográfica. 
 Em 1895, durante cerca de cinco meses, Eça revisou as provas deste volume e introduziu inúmeras 
modificações. Após a morte do escritor, em 1900, os primeiros capítulos já se encontravam 
compostos e os demais, ainda em manuscrito, incluindo alguns capítulos inacabados. Coube a 
Ramalho Ortigão, grande amigo do escritor, rever os originais, decifrá-los, revisar as provas já 
compostas e, inclusive, emendar algumas partes que careciam de sentido. 
 A estrutura do romance A Cidade e as Serras nos remete à dialética dos filósofos alemães: Tese (a 
civilização industrial, a cidade) x Antítese (a vida no campo- as serras)= Síntese ( a vida 
rural,bucólica, incrementada pelo telefone, telégrafo,livros e concepções modernas de produção 
rural e relações de trabalho) São ainda perceptíveis as referências ao Positivismo(a ciência como 
critério absoluto da verdade- suma ciência x suma potência=suma felicidade);ao Evolucionismo ( a 
localização dos aspectos biofisiológicos e á submissão do ser humano às leis do instinto e da 
hereditariedade);ao Determinismo(a concepção de que o comportamento humano é determinado 
pelos fatores mesológicos- o meio, a raça e o momento (histórico); o Socialismo- utópico, romântico 
em que é projetado nas falas e em algumas atitudes de Jacinto e de Zé Fernandes. 
Ainda, Eça retoma alguns valores clássicos, tais como Fugere Urbem, o Aurea Mediocritas, Inutilia 
Truncat e o Locus Amoenus. 
Ajuste da civilização 
 Na abertura o revisor registra uma advertência:’Desde a página 126 até o final, não houve revisão 
(nota-se esse crivo nos 2 últimos capítulos). 
Temos 16 capítulos sem titulação. O livro pode ser dividido em duas partes: a 1ª que vai do capítulo I 
AO VII a narrativa ocorre em Paris- repleta de sátiras aos tipos e episódios da alta burguesia urbana; 
na segunda que vai do capítulo VIII ao final da narrativa , a ação se passa nas serras de Tormes, 
interior de Portugal, e também rica em episódios burlescos. 
Observa-se a obra dividida em três tempos nítidos: 
1- Jacinto aprecia e exalta a civilização 
2- Zé Fernandes, o narrador retorna de Portugal 7 anos depois 
3- Quando ambos vão para Portugal- reencontro das raiízes. 
Tempo Narrativo-Cronológico O início é um flash back, pois o protagonista nasce em Paris. O tempo 
da narrativa gira em torno de 20 anos,pois no início Jacinto tem 23 anos.Depois Zé Fernandes retorna 
a Portugal, por doença do tio.Ao voltar, depois de 7 anos , Zé Fernandes volta a Paris e reencontra 
Jacinto com 30 anos e no capítulo sétimo ele faz 34 anos. No capítulo XV já se passaram 5 anos sobre 
Tormes e as serras. 
Foco Narrativo- O romance é escrito em primeira pessoa por José Fernandes, um personagem 
secundário.ângulo de visão limitada. O narrador é coadjuvante- narrador testemunha (eu interno á 
narrativa). 
Linguagem- branda com aproximações poéticas. linguagem correta, perfeita,frases curtas,ordem 
direta e coloquial. O estilo flui sem interrupções, preciso, contínuo e maleável..Incorpora palavras até 
então em desuso (pessoas que falam cuspindo na cara da gente) Ex: Gouveia quando fala 
cospe”...jatos melancólicos de saliva.”(hipálage) 
Espaço- Cidade- civilização- Paris- Apto 202- Avenida Campos Elíseos-( metonímia do tecnicismo e do 
artificialismo) X Serras (natureza)- Portugal de Guiães e Tormes- ambiente convencional e preservado. 
Comentário 
O narrador centraliza seu interesse na figura de certo Jacinto, descrevendo-o como um homem 
extremamente forte e rico, que, embora tenha nascido em Paris, no 202 dos Campos Elíseos, tem 
seus proventos recolhidos de Portugal, onde a família possui extensas terras, desde os tempos de D. 
Dinis, com plantações e produção de vinho, cortiça e oliveira, que lhe rendem bem. O avô de Jacinto, 
também Jacinto, gordo e rico, a quem chamavam D. Galeão, era um fanático miguelista. Quando D. 
Miguel deixou o poder, Jacinto Galeão exilou-se voluntariamente em Paris, lá morrendo de 
indigestão. D. Angelina Fafes, após a morte do marido, não regressou a Portugal, e, em Paris, criou 
seu filho, o franzino e adoentado Cintinho que se casou com a filha de um desembargador, nascendo 
desta união nosso protagonista. 
 Desde pequeno Jacinto brilhara, quer por sua inteligência, quer por sua capacidade. Aos 23 anos 
tornou-se um soberbo rapaz, vestido impecavelmente, cabelos e bigodes bem tratados,e feliz da vida. 
Tudo de melhor acontecia com ele, sendo chamado pelos companheiros de “Príncipe da Grã-
Ventura”. Positivista animado, Jacinto defendia a ideia de que “o homem só é superiormente feliz 
quando é superiormente civilizado”. 
 A maior preocupação de Jacinto era defender a tese de que a civilização é cidade grande, é máquina 
e progresso que chegavam através do fonógrafo, do telefone cujos fios cortam milhares de ruas, 
barulhos de veículos, multidões... Civilização é enxergar à frente.. Em fevereiro de 1880, Zé Fernandes 
foi chamado pelo tio e parte para Guiães e, somente após sete anos de vida na província, retorna e 
reencontra Jacinto no 202 dos Campos Elíseos. O narrador presenciou coisas espantosas: um elevador 
para ligar dois andares do palacete; no gabinete de trabalho havia aparelhos mecânicos cheios de 
artifício; e, enquanto Jacinto escreve para Madame d’Oriol, José Fernandes visita uma enorme 
biblioteca de trinta mil títulos, os mais diversos possíveis, dos mais renomados autores às mais 
diferentes ciências. A visita termina com uma refeição em que foram servidas as mais sofisticadas 
iguarias e um convite de Jacinto ao narrador que ele se hospede no 202. 
Primeiros desencantos 
 Zé Fernandes, a partir daí, pôde observar com maior atenção o amigo; suas intensas atividades o 
desgastavam e, com o passar do tempo, constatou que Jacinto foi perdendo a credulidade, 
percebendo a futilidade das pessoas com quem convivia, a inutilidade de muitas coisas da sua tão 
decantada civilização. Nos raros momentos em que conseguiam passear, confessava ao amigo que o 
barulho das ruas o incomodava, a multidão o molestava: ele atravessava um período de nítido 
desencanto. Alguns incidentes contribuíram sobremaneira para afetar o estado de ânimo de Jacinto: 
o rompimento de um dos tubos da sala de banho, fazendo jorrar água quente por todo o quarto, 
inundando os tapetes, foi o bastante para aparecer uma pilha de telegramas, alguns inclusive com um 
riso sarcástico, com o do Grão-duque Casimiro, dizendo que não mais apareceria pelo 202 sem que 
tivesse uma bóia de salvação. 
 As reuniões sociais estavam ficando maçantes. Em uma recepção ao Grão-Duque, Jacinto já não 
agüentava o farfalhar das sedas das mulheres quandolhes explicava o uso dos diferentes aparelhos, o 
tetrafone, o numerador de páginas, o microfone... O criado veio lhe informar que o peixe a ser 
servido ficara preso no elevador e os convidados puseram-se a pescá-lo, inutilmente, porque o peixe 
acabou não indo para a mesa, fato que deixou ainda mais aborrecido o anfitrião. 
 Preocupado, Zé Fernandes consulta o fiel criado Grilo sobre o que está ocorrendo com Jacinto. 
O homem respondeu com tamanho conhecimento de causa que espantou o narrador. Uma simples 
palavra poderia definir todo o tédio de que era acometido: o patrão sofria de “fartura”. 
 Era fartura! O meu Príncipe sentia abafadamente a fartura de Paris; e na Cidade, na simbólica 
Cidade, fora de cuja vida culta e forte (como ele outrora gritava, iluminado) o homem do século XIX 
nunca poderia saborear plenamente a "delícia de viver", ele não encontrava agora forma de vida, 
espiritual ou social, que o interessasse, lhe valesse o esforço de uma corrida curta numa tipóia fácil. 
Pobre Jacinto......” 
 Certo dia, enquanto esperavam ser recebidos por Madame d'Oriol, José Fernandes e Jacinto 
subiram à Basílica do Sacré-Coeur, em construção no alto de Montmartre. Ao se recostarem na borda 
do terraço, puderam contemplar Paris envolta em uma nuvem cinzenta e fria, motivando profundas 
reflexões, pois a cidade - tão cheia de vida, de ouro, de riquezas, de cultura e resplandecência, 
incluindo o soberbo 202, com todas as suas sofisticações - estava agora sucumbida sob as nuvens 
cinzentas,com caliça de pó de argamassa, branca, abafada.Dí a conclusão:” a cidade não passava de 
uma ilusão.”. Paris foi a capital do século XIX, centro cultural e progressista. Em razão das reformas 
urbanas de Haussmann- incorporação da tecnologia- vida social- poder de sedução. Hoje diante de 
seus olhos, a cidade jazia toda cinzenta...... 
 (...) uma ilusão! E a mais marga, porque o homem pensa ter na cidade a base de toda a sua 
grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria. Vê, Jacinto! Na Cidade perdeu ele a força e 
beleza harmoniosa do corpo e se tornou esse ser ressequido e escanifrado ou obeso e afogado em 
unto de ossos moles como trapos, de nervos trêmulos como arames, com cangalhas, com chinós, com 
dentauros de chumbo sem sangue, sem febre, sem viço, torto, corcunda - esse ser em que Deus, 
espantado, mal pôde reconhecer o seu esbelto e rijo e nobre Adão!... A sua tranqüilidade (bem tão 
alto que Deus com ele recompensa os santos) onde está, meu Jacinto........ 
Zé Fernandes continuou a filosofar, acrescentando preocupações de caráter pessoal, indagando a 
posição dos pequenos que, como vermes, arrastavam-se pelo chão, enquanto os poderosos os 
massacravam; eles iam às óperas aquecidos, lançando aos pobres não mais que algumas migalhas. 
Religiosamente, acreditava ser necessário um novo Messias que ensinasse às multidões a humildade 
e a mansidão. 
 “...Pensativamente deixou a borda do terraço, como se a presença da Cidade, estendida na 
planície, fosse escandalosa. E caminhamos devagar, sob a moleza cinzenta da tarde, filosofando - 
considerando que para esta iniqüidade não havia cura humana, trazida pelo esforço humano...” 
De Schopenhauer ao Eclesiastes: pessimismo 
 Como já havia planejado, o narrador partiu para uma viagem pela Europa e, ao retornar, procurou 
o amigo e tentou descobrir o que lhe passava na lama, pois, encontrou-o mais pessimista que nunca, 
depressão revelada pelas leituras do Eclesiastes e do filósofo pessimista Schopenhauer. Nestas 
leituras, encontrava certo amparo aos comprovar que todo mal era resultante de uma lei universal e, 
a partir daí, encontrou uma grata ocupação - maldizer a vida. Ao mesmo tempo, sobrecarregou sua 
existência com fervores humanísticos. Mas de nada adiantava, pois Jacinto estava desolado. No 
inverno escuro e pessimista, Jacinto acordou certa manhã e comunicou a José Fernandes que estava 
de partida para Tormes. 
 Decidiu viajar ao receber uma carta de Silvério, seu procurador, que dizia estarem concluídos os 
trabalhos de reerguimento da capela para onde seriam traslados os restos mortais de seus avós que 
ele não conhecera, mas que o 202 estava cheio de recordações. 
 Os preparativos para a viagem envolveram uma mudança da civilização para as serras. Jacinto 
encaixotou camas de penas, banheiras, cortinas, divãs, tapetes, livros, despachou tudo para poder 
enfrentar com conforto um mês nas serras. Le4va consigo Grilo, seu fiel empregado e Anatole. 
Enquanto isso; renascia nele o amor pela cidade. 
 Partiram os dois amigos de volta a Portugal. As cidades passavam pelas janelas do trem: da França 
para a Espanha, da Espanha para Portugal... Tomado por uma suave emoção, José Fernandes estava 
feliz em rever a pátria; Jacinto, aborrecido e enfadado principalmente porque, em Medina (Espanha), 
as malas ficaram em compartimentos errados quando foi feita a baldeação. O narrador, com o intuito 
de aclamar o amigo, diz-lhe que a Companhia cuidaria de tudo. E ficaram os dois só com a roupa do 
corpo. Enfim, chegaram a Tormes. 
 “...e ambos em pé, às janelas, esperamos com alvoroço a pequenina estação de Tormes, termo 
ditodoso das nossas provaçõe4s. Ela apareceu enfim, clara e simples, à beira do rio, entre rochas, com 
sues vistoso girassóis enchendo um jardinzinho breve, as duas altas figueiras assombreando o pátio, e 
por trás, a serra coberta de velho e denso arvoredo”. 
 Desembarcaram em Tormes, onde o narrador encontrou o velho amigo, Pimenta, chefe da 
estação. Após apresentar-lhe o senhor de Tormes, indagou por Silvério, o procurador de Jacinto em 
terras portuguesas. Começaram então outros desastres da viagem. Silvério não os aguardava: havia 
partido há dois meses para o Castelo de Vide. Os criados: Grilo e Anatole,aparentemente estavam 
com as 23 malas em outro compartimento, não foram encontrados, o trem apitou e partiu, deixando 
os dois sem nada. Não havia cavalos para atravessarem a serra, pois Melchior, o caseiro, não os 
esperava senão para o mês seguinte. Pimenta arranjou-lhes uma égua e um burro e ambos seguiram 
serra cima, esquecendo, por alguns instantes, os infortúnios passados enquanto contemplavam a 
beleza da paisagem. O pior ainda estava por acontecer: os caixotes despachados de Paris há quatro 
meses não haviam chegado, e o mais civilizado dos homens estava totalmente à mercê das serras. 
Como ninguém os esperava, a casa não estava pronta para recebê-los, a reforma acontecia devagar, 
os telhados ainda continuavam sem telhas, a vidraças sem vidros. Zé Fernandes sugeriu que 
rumassem para a casa de sua tia Vicência em Guiães e Jacinto retrucou que ia mesmo para Lisboa. 
 Melchior arranjou como pôde um jantarzinho, caseiro e simples, longe das comidas sofisticadas, 
das taças de cristal, dos metais e porcelanas. Uma comida que serviu para matar gostosamente a 
fome dos viajantes. O senhor de Tormes regalou-se com o jantar que lhe parecera, à primeira vista, 
insuportável; e o caseiro, diante das manifestações de regozijo perante a comida, pensou que seu 
senhor passava fome em Paris. 
 Após o jantar, ambos ficaram contemplando o céu cheio de estrelas, passaram a ver os astros que 
na cidade não se dignavam ou não conseguiam observar. O narrador ia-se deixando levar por um 
contato tão estreito com a paisagem, que em breve surgia uma identificação total do homem com a 
natureza e em tudo se percebia Deus, num claro processo panteísta muito comum entre os 
românticos e que Eça passou a assumir. 
 O cansaço vence os dois viajantes. José Fernandes adormece sob os apelos de Jacinto para que lhe 
enviasse algumas peças brancas e lhe reservasse alojamento em um bom hotel de Lisboa. Uma 
semana depois que José Fernandes havia partido para Guiães, recebeu suas malas e imediatamente 
enviou um telegrama para Lisboa, endereçadoao hotel Bragança, agradecendo pela bagagem que foi 
encontrada e alegrando-se pelo amigo estar novamente gozando os privilégios de seres civilizados. 
No entanto, não obteve resposta. Certo dia, o narrador voltando de Flor da Malva, da casa de sua 
prima Joaninha, parou na venda de Manuel Rico, e ficou sabendo algo surpreendente através do 
sobrinho de Melchior: Jacinto permanecia em Tormes já há cinco semanas. 
 Ao visitar Jacinto, José Fernandes o encontrou totalmente mudado, física e mentalmente. Nada nele 
denunciava um homem franzino; estava encorpado, corado, como um verdadeiro montês. 
 Mas o meu novíssimo amigo, debruçado da janela, batia as palmas – como Catão para chamar os 
servos, na Roma simples. E gritava: 
 - Ana Vaqueira! Um copo de água, bem lavado, da fonte velha! 
 Pulei, imensamente divertido: 
 - Oh Jacinto! E as águas carbonatadas? E as fosfatadas? E as esterilizadas? E as sódicas?... 
 O meu Príncipe atirou os ombros com um desdém soberbo. E aclamou a aparição de um grande 
copo, todo embaciado pela frescura nevada da água refulgente, que uma bela moça trazia num prato. 
 Um homem de bem com a vida 
 Era outro Jacinto a quem o campo já não mais era insignificante. Cada momento novo era uma 
nova e alegre descoberta. Enfim, era um homem de bem com a sua vida. Aproveitando a presença do 
amigo, Jacinto providenciou a transladação dos corpos de seus antepassados para a Capelinha da 
Carriça, agora reconstruída. Zé Fernandes, hábil observador do amigo, percebeu que Jacinto não se 
contentava em ser o apreciador passivo dos encantos da natureza. Ele queria participar de tudo, e lhe 
surgiam grandes idéias como encher pastos, construir currais perfeitos, máquinas para produzir 
queijos... 
 Certo dia, ao percorrer seus domínios, Jacinto conheceu o outro lado da serra: uma criança muito 
franzina viera pedir socorro para a mãe agonizante. A partir desse momento, as decisões de Jacinto 
tomaram novo rumo, pois ele começou a se preocupar com o lado triste da serra, e passou a fazer 
caridade, reconstruir casa, dar novo alento à vida dos humildes. Em uma das inúmeras visitas que lhe 
fez o narrador, Jacinto confessou que pretendia introduzir um pouco de civilização naqueles cantos 
tão rústicos. O povo da região começou a agradecer as benfeitorias e logo passou a circular a lenda 
que o senhor de Tormes era D. Sebastião que havia voltado para ressuscitar Portugal. 
 Convidado por Zé Fernandes para o aniversário de tia Vicência, Jacinto encontraria aí a 
oportunidade de conhecer seus vizinhos, outros proprietários. No entanto, a recepção não foi aquilo 
que o narrador esperava. Havia uma frieza por parte dos habitantes da região, exceto tia Vicência que 
o recebeu como verdadeiro sobrinho. Ao terminarem a ceia, vieram saber o porquê daquela frieza: 
eles pensavam que o senhor de Tormes fosse miguelista como o avô e que pretendia restituir D. 
Miguel ao poder. Este fato ocorreu porque um tal louco João Torrado espalhou que Jacinto era um 
monarquista, que sendo neto de Galeão vinha dar continuidade ao conservadorismo. 
 A manhã seguinte estava fresca e clara,. José Fernandes levou o amigo até Flor da Malva, para 
visitar sua prima Joaninha que não pudera comparecer à reunião, pois o pai, Adrião, estava acamado. 
No caminho, encontraram João Torrado, um velho eremita que supôs estar diante de D. Sebastião. 
Esta figura ilustrava o lado da profundidade do mito na mentalidade simples, saudando Jacinto como 
um profeta, e tratando-o como “pai dos pobres”. Nele estão representadas a sabedoria e a 
simplicidade do povo. 
 Andamos.....”Mas, à porta, que de repente se abriu, apareceu minha prima Joaninha, corada do 
passo e do vivo ar, com um vestido claro um pouco aberto no pescoço, que fundia mais docemente, 
numa larga claridade, o esplendor branco da sua pele, e o louro ondeado dos seus belos cabelos, - 
lindamente risonha, na surpresa que alargava os seus largos, luminoso olhos negros, e trazendo ao 
colo uma criancinha, gorda e cor-de-rosa, apenas coberta com uma camisinha, de grandes laços 
azuis.” 
 E foi assim que Jacinto, nessa tarde de setembro, na Flor da Malva, viu aquela que era conhecida 
como “flor de malva”com quem casou, em maio, na capelinha de azulejos, quando o grande pé de 
roseira se cobrira já de rosas. 
 “Cinco anos se passaram em plena felicidade por ver correrem por aquelas terras duas fidalgas 
crianças, Teresinha e Jacinto. Os caixotes embarcados de Paris enfim chegaram a Tormes e serviam 
para demonstrar o total equilíbrio do protagonista, aproveitando o que poderia ser aproveitado e 
desprezando as inutilidades da civilização, justificando deste modo a observação feita por Grilo: Sua 
Excelência brotara”. Certamente Jacinto descobrira seus melhores valores: era feliz e fazia os outros 
felizes. Algumas vezes Jacinto falou em levar a esposa para conhecer o 202 e a civilização, mas o 
projeto, por um motivo ou por outro, era sempre adiado. 
 Quem voltou a Paris foi Zé Fernandes e lá, sentindo-se abandonado e entendia do, descobriu uma 
porção de fantoches a viverem uma vida falsa e mesquinha. Percebeu que os antigos conhecidos 
eram seres frágeis e vazios, idênticos entre si e massas impessoais, amorfas, feitas para agradar ou 
desagradar os outros conforme seus interesses. Não suportando a cidade, retornou a Portugal. Este 
serrano que anteriormente valorizava os encantos da civilização foi tomado pelos mesmos 
sentimentos de Jacinto e confirmou uma simples verdade: no fundo, reabilitou Eça de Queirós com o 
seu Portugal. 
Personagens 
 
Jacinto de Tormes- Príncipe da Grã Ventura- nascido em Paris, filho de portugueses 
Cintinho- pai de Jacinto. Morreu de tuberculose três meses e três dias antes do filho nascer. 
Jacinto Galeão- avô de Jacinto, um dia cai na rua e, é levantado por D.Miguel. 
D.Angelina Fafes- avó de Jacinto, que o criou. 
Grilo- criado negro, fiel e dedicado. 
Joaninha- prima de Zé Fernandes- esposa de Jacinto. Personagem que não tem quase palavra na 
obra, pois se trata de uma moça recatada diferente das mulheres da sociedade. 
Tipos Humanos 
Silvério- procurador de Jacinto em Tormes 
Melchior- o caseiro solar de Tormes. 
João Torrado- um profeta das serras – semelhança com o Velho do Restelo ( Os Lusíadas) 
Para guardar: 
 
 Começou com um conto “Civilização” (saiu na Gazeta de Notícias- escritor anônimo) 
 A seguir escreveu: A cidade e as serras- visão da cidade tediosa. Não reviu o final da obra. Ramalho 
Ortigão, amigo de Eça de Queirós formatou o livro. 
 A obra teve influência de Flaubert ,o pai do Realismo no mundo- 
 Teorias que marcam as obras realistas:Evolução de Darwin,Determinismo de Taine; 
Positivismo de Conte. 
 Para uma obra ser realista deve ter fundamento nessas teorias do século XIX. 
 A obra de Eça apresenta uma crítica á futilidade e ao conservadorismo da elite portuguesa. Estas 
elites deveriam ter uma relação assistencialista com as classes subalternas, 
 Época de revalorização., por parte do autor, das tradições portuguesas- espécie de reconciliação 
com o país e com o povo. 
 Jacinto nasceu em Paris, porque o avô abandonou o país de origem quando soube que D. Miguel 
fora exilado 
 Jacinto cresce feliz no 202 e diz que o homem só é superiormente feliz quando é superiormente 
civilizado- Príncipe da Grã Ventura. 
 Grilo tem muita importância na vida de Jacinto, pois é seu criado que anota toda sua agenda, pois 
ele exerce funções sociais e econômicas. 
 No capítulo VIII, observa-se Jacinto chegando á festa de Zé Fernandes ,sendo hostilizado pelos 
presentes, pois por ser neto de Galeão (miguelista)- as pessoas pensaram na volta do 
conservadorismo monárquico.Quando percebe a situação explica ser socialista e que sua única 
intenção era ajudar seusfuncionários a ter uma vida melhor- daí ser aclamado como “Pai dos Pobres 
“ 
 Jacinto vai a Portugal, pois a capela que estavam os ossos de seus antepassados devem ser 
transladados, 
 Joaninha,a flor da flor da Malva , fora chamada por Jacinto de lavradeirona. A primeira vez que a 
vê ela está com uma criança no colo- Intertextualiza-se com Pandora , a natureza, mãe de todos os 
homens, sentimentos e circunstâncias- aquela que completa os ciclos, faz brotar as plantas. 
 O namoro com Joaninha dura só seis meses. Casam-se e têm dois filhos: Terezinha e Jacintinho. 
 Ao falar do casal que cuida de sua quinta em Tormes- Ana Vaqueira- fêmea- animalidade- refere- 
se a personagens de classes sociais inferiores- intertextualidade com personagens do Cortiço 
 Eça de Queirós critica a hipocrisia dos valores portugueses,observa o cotidiano,desfila uma 
galeria de tipos sociais.É irônico- diz uma coisa querendo dizer outra. 
 Cenário: os círculos mais abastados de Paris e as serras de Tormes, em Portugal, no final do século 
XIX. 
 Personagem principal- Jacinto de Tormes- Príncipe da Grã ventura; -o homem só é “superiormente 
feliz quando é superiormente civilizado” 
 Fórmula ::SUMA CIÊNCIA x SUMA POTÊNCIA =SUMA FELICIDADE 
 Homem vive isolado –fechado em Paris- nasceu e viveu ali ; 
 Homem ricoi e poderoso. Recebe proventos de Portugal (desde o tempo de D.Dinis); 
 É rodeado de gente falsa; 
 Benefício da tecnologia-não tem felicidade. Tecnologia : elevador,máquina de escrever,de 
calcular,contador de documentos,telégrafo,arrancador de cabinhos de morango., abotoador de 
ceroulas 
 José Fernandes: é amigo do protagonista. São amigos de longa data. Ele o chama de “Meu 
Príncipe” Acompanha o amigo em toda sua jornada.Ele é narrador e personagem secundário.Foi 
expulso de Coimbra e mandado pelo tio para Paris para estudar .Acamaradou-se com 
Jacinto,tornando-se atento observador das transformações por que passa o amigo. 
 Após a conversão do amigo Jacinto, Zé Fernandes retorna a Paris e,já não vendo encanto na 
cidade,resolve regressar a sua terra. 
 O Palácio de Sr. Jacinto sofre uma inundação .O elevador emperra e outros incidentes 
tecnológicos.-Nisso olha Paris e chega à conclusão que a cidade é uma ilusão ; 
 Jacinto faz 34 anos- Festa Artificial– pessoas ali estão só por convenção; 
 Resolve partir para Tormes .Manda para lá toda parafernália da tecnologia. 
 Reconcilia-se com a vida ao desembarcar em Tornes e defrontar-se com as belezas da 
natureza. Chega a Tormes só com a roupa do corpo, pois sua bagagem se extravia 
 Depara-se com a pobreza dos camponeses de suas terras. Dotado de inegável capacidade 
filosofante, está o criado Grilo. Do lado oposto, estão os representantes da serra, a nobreza rural e os 
trabalhadores braçais miseráveis que são focalizados para acirrar os contrastes. 
 Manda construir boticário, creche, escola,e tudo mais . 
 O povo o chama de “Nosso Benfeitor”,- “Pai dos Pobres” pois pensam ele ser a reencarnação 
de D.Sebastião. 
 INTERTEXTUALIDADE COM SAGARANA- lado místico 
 Em contato com a miséria procura reformar e remodelar a estrutura arcaica de Portugal. 
 CIDADE 
 símbolo de progresso –requinte,artificialismo- de interesse e infelicidade 
 SERRA 
 Felicidade- tradição- naturalidade. 
 Eça faz APOLOGIA DA VIDA NA SERRA .RESGATAR O POVO PORTUGUÊS PARA PORTUGAL (o 
povo que sai do campo) 
 
Observem! 
Os romances de Eça de Queirós costumam apresentar críticas e aspectos importantes da sociedade 
portuguesa,freqüentemente acompanhadas de propostas explícitas e implícitas de reforma social . 
Em “As cidades e as serras o aspecto que se é criticado é o atraso e o conservadorismo”. 
O Romance propõe uma reforma social, encabeçada pelos mais privilegiados,que promovesse a 
assistência social através do amparo e proteção aos menos favorecidos. 
Quando Jacinto tem seu apelido modificado de “Príncipe Grã Ventura” para “Pai dos Pobres” esse 
caráter paternalista fica evidenciado. 
 
 EXERCÍCIOS 
 
1. (UNICENTRO) A única passagem que NÃO encontra apoio em A Cidade e as Serras, de Eça 
de Queirós, é· 
·(A) Em A Cidade e as Serras, José Fernandes, de rica família proveniente de Guiães, região serrana de 
Portugal, narra a história de Jacinto de Tormes, seu amigo também fidalgo, embora nascido e criado 
em Paris. 
B) A Cidade e as Serras explora uma grave tese sociológica: ser-nos preferível viver e proliferar 
pacificamente nas aldeias a naufragar no estéril tumulto das cidades. 
C) Para Jacinto, Portugal estava associado à infelicidade, enquanto Paris associava-se à felicidade; ao 
longo do romance, contudo, essa opinião se modifica. 
D) No romance dois ambientes distintos são enfocados ao longo das duas partes em que o livro pode 
ser dividido: a civilização e a natureza. 
E) Já avançado em idade, Jacinto se aborrece com as serras e tenciona reviver as orgias parisienses, 
mas faltam-lhe, agora, saúde e riqueza. 
 
2. (FOVEST) O romance A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, publicado em 1901, é 
desenvolvimento de um conto chamado “Civilização”. Do romance como um todo pode afirmar-se 
que 
A) apresenta um narrador que se recorda de uma viagem que fizera havia algum tempo ao Oriente 
Médio, à Terra Santa, de onde deveria trazer uma relíquia para uma tia velha, beata e rica. 
B) caracteriza uma narrativa em que se analisam os mecanismos do casamento e o comportamento 
da pequena burguesia da cidade de Lisboa. 
C) apresenta uma personagem que detesta inicialmente a vida do campo, aderindo ao 
desenvolvimento tecnológico da cidade, mas que ao final regressa à vida campesina e a transforma 
com a aplicação de seus conhecimentos técnicos e científicos. 
D) revela narrativa cujo enredo envolve a vida devota da província e o celibato clerical e caracteriza a 
situação de decadência e alienação de Leiria, tomando-a como espelho da marginalização de todo o 
país com relação ao contexto europeu. 
E) se desenvolve em duas linhas de ação: uma marcada por amores incestuosos; outra voltada para a 
análise da vida da alta burguesia lisboeta. 
Comentário: Em A Cidade e as Serras, o narrador conta a vida de seu amigo, Jacinto, defensor da vida 
urbana hipercivilizada, repleta de tecnologia e artificialismos. Inicialmente, Jacinto acreditava que "o 
homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado", porém ao partir para o campo, 
Tormes, cidade fictícia, em Portugal, ele recupera suas origens, torna-se mais compreensivo com o 
que antes rejeitava e integra-se à vida rural, trabalhando nos campos elevando para a vida campesina 
o que a sociedade urbana e a tecnologia ofereciam de melhor. 
3. (FUVEST) Já a tarde caía quando recolhemos muito lentamente. E toda essa adorável paz do céu, 
realmente celestial, e dos campos, onde cada folhinha conservava uma quietação contemplativa, na 
luz docemente desmaiada, pousando sobre as coisas com um liso e leve afago, penetrava tão 
profundamente Jacinto, que eu o senti, no silêncio em que caíramos, suspirar de puro alívio. 
 Depois, muito gravemente: 
 Tu dizes que na Natureza não há pensamento... 
 Outra vez! Olha que maçada! Eu... 
 Mas é por estar nela suprimido o pensamento que lhe está poupado o sofrimento! Nós, 
desgraçados, não podemos suprimir o pensamento, mas certamente o podemos disciplinar e impedir 
que ele se estonteie e se esfalfe, como na fornalha das cidades, ideando gozos que nunca se realizam, 
aspirando a certezas que nunca se atingem!... E é o que aconselham estas colinas e estas árvores à 
nossa alma, que vela e se agita que viva na paz de um sonho vago e nada apeteça, nada tema, contra 
nada se insurja, e deixe o mundo rolar, não esperando dele senão um rumor de harmonia, que a 
embale e lhe favoreça o dormir dentro da mão de Deus. Hem, não te parece, Zé Fernandes?Talvez. Mas é necessário então viver num mosteiro, com o temperamento de S. Bruno, ou ter cento 
e quarenta contos de renda e o desplante de certos Jacintos... 
 Eça de Queirós, A cidade e as serras. 
 
Considerado no contexto de A cidade e as serras, o diálogo presente no excerto revela que, nesse 
romance de Eça de Queirós, o elogio da natureza e da vida rural··(a) indica que o escritor, em sua 
última fase, abandonara o Realismo em favor do Naturalismo, privilegiando, de certo modo, a 
observação da natureza em detrimento da crítica social. 
b) demonstra que a consciência ecológica do escritor já era desenvolvida o bastante para fazê-lo 
rejeitar, ao longo de toda a narrativa, as intervenções humanas no meio natural. 
c) guarda aspectos conservadores, predominantemente voltados para a estabilidade social, embora o 
escritor mantenha, em certa medida, a prática da ironia que o caracteriza. 
d) serve de pretexto para que o escritor critique, sob certos aspectos, os efeitos da revolução 
industrial e da urbanização acelerada que se haviam processado em Portugal nos primeiros anos do 
Século XIX. 
e) veicula uma sátira radical da religião, embora o escritor simule conservar, até certo ponto, a 
veneração pela Igreja Católica que manifestara em seus primeiros romances. 
 
 
4. (PUC) O romance A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, publicado em 1901, é desenvolvimento 
de um conto chamado “Civilização”. Do romance como um todo pode afirmar-se que··( 
 A) apresenta um narrador que se recorda de uma viagem que fizera havia algum tempo ao Oriente 
Médio, à Terra Santa, de onde deveria trazer uma relíquia para uma tia velha, beata e rica. 
B) caracteriza uma narrativa em que se analisam os mecanismos do casamento e o comportamento 
da pequena burguesia da cidade de Lisboa. 
C) apresenta uma personagem que detesta inicialmente a vida do campo, aderindo ao 
desenvolvimento tecnológico da cidade, mas que ao final regressa à vida campesina e a transforma 
com a aplicação de seus conhecimentos técnicos e científicos. 
D) revela narrativa cujo enredo envolve a vida devota da província e o celibato clerical e caracteriza a 
situação de decadência e alienação de Leiria, tomando-a como espelho da marginalização de todo o 
país com relação ao contexto europeu. 
E) se desenvolve em duas linhas de ação: uma marcada por amores incestuosos; outra voltada para a 
análise da vida da alta burguesia lisboeta. 
 
COMENTÁRIOS: A obra A Cidade e as Serras relatam as transformações na maneira de o protagonista 
Jacinto encarar o mundo. Inicialmente ele se encontra inserido na modernidade, vivendo em Paris, 
entusiasta das novidades tecnológicas. Depois de uma crise de “fartura”, muito deprimido, 
reencontra o prazer de viver nas serras de Tormes, em uma vida simples que anteriormente criticava. 
Essa nova fase conscientiza o protagonista dos problemas sociais, levando-o a procurar conciliar os 
avanços tecnológicos com o modo de vida local. 
 
5-- O romance A cidade e as serras pode ser dividido em duas partes.Quais são elas e quais as 
principais características de cada uma? 
 
6- No oitavo capítulo do livro A cidade e as serras, Jacinto planeja e executa uma viagem a 
Portugal.Responda ao que se pede: 
a) A viagem acontece da forma como o narrador a planejara? 
b) Qual a importância desse capítulo na estruturação da narrativa? 
 
7- Os tipos femininos apresentados pelo narrador possuem diferenças significativas de caráter e tais 
diferenças são devidas ao fato de elas residirem em localidades diferentes.Mencione ao menos uma 
personagem de cada localidade e explique as diferenças entre elas. 
8- A vida de Jacinto em Paris, no apartamento 202, é marcada por uma série de episódios 
cômicos.Mencione ao menos um deles e relate a crítica do autor sobre o episódio. 
 
2-Til de José de Alencar 
. 
 
Quem foi Alencar? 
 
José de Alencar foi antes de tudo um inovador, o primeiro que, destemidamente, mostrou-se rebelde 
à tradição portuguesa. Sem dúvida um precursor da revolução modernista de 1922. Uma das marcas 
registradas de sua obra é o sentimento brasileiro. O índio que ele tanto cantou e exaltou, é a 
personificação de seu entranhado nacionalismo. Tanto que Machado de Assis declara que "nenhum 
escritor teve em mais alto grau a alma brasileira". O seu estilo revela-se retórico, sonoro e brilhante, 
o que nada mais é do que o espírito de sua escola - o Romantismo. As suas paisagens, além do 
sentimento brasileiro, têm cores maravilhosas da nossa exuberante vegetação tropicas. Ele não 
descreve cenas, quadros: pinta-os molhando o pincel nas mais vivas e variadas tintas. Conhecia o 
Português e conhecia a Gramática, mas sua preocupação estava acima disto: quis criar um estilo 
brasileiro, independente, pessoal, reflexo dos nossos modismos sintáticos e vocabulares, um linguajar 
brasileiro. Isso ele conseguiu; se não para os seus contemporâneos, mas para os pósteros que cada 
vez mais reconhecem sua originalidade e modernidade. A obra romanesca de Alencar costuma ser 
dividida pela crítica em quatro áreas: a indianista, a histórica, a urbana e regionalista. 
 
 a) os romances indianistas apresentam três fases do índio: civilizado e dominado pelos 
portugueses na luta pela conquista da terra - O Guarani; os primeiros contatos dos brancos com os 
nativos na civilização do Ceará - Iracema; e o índio em seu estado natural, sem interferência do 
branco, longe da civilização, em época indeterminada - Ubirajara. 
 b) Os romances históricos evocam nosso passado com As minas de prata, o primeiro romance 
histórico de nossa literatura; A guerra dos mascates, narrativa da famosa revolução de 1710, em 
Pernambuco, e, ainda através das crônicas dos tempos coloniais e das novelas O garatuja e 
Alfarrábios. 
 c) Os romances regionalistas focalizam as paisagens e tipos humanos do norte e do sul do país, 
através de O sertanejo e O gaúcho, reproduzindo costumes típicos e folclóricos dessas regiões. 
 O tronco do ipê e Til, considerados romances sociais, patenteiam também a corrente regionalista 
de Alencar. Com Til, retrata os costumes dos ambientes paulistas nas grandes épocas do café. Com O 
tronco do ipê, apresenta o panorama das fazendas do Rio de Janeiro. 
 d) Os romances urbanos caracterizam a corte e o meio social carioca do Segundo Reinado. São 
romances de amor, que espelham a mentalidade romântica da época, capaz dos maiores sacrifícios 
para solidificar esse sentimento. Neles, o autor cria diversos perfis de mulheres, vivendo no trato 
íntimo da sociedade, mas sem grande penetração psicológica. Exemplificam esse gênero: Cinco 
minutos, A viuvinha, A pata da gazela, Sonhos d'ouro, Lucíola, Diva, Senhora e Encarnação. 
 Além de romancista, Alencar foi teatrólogo, merecendo destaque as comédias: Verso e Reverso, O 
demônio familiar, As asas de um anjo, Noite de João além dos dramas Mãe e O jesuíta. Como poeta, 
deixa-nos o poema indianista Os filhos de Tupã. 
 
TIL - José de Alencar 
 
Retrata os costumes, a linguagem e a vida rural da época, e segue os moldes românticos, abordando 
a inocência, o amor, a fragilidade, a idealização da natureza e a subjetividade. 
 
Escrita em 1872 por José de Alencar, Til pertence à fase regionalista do autor. Na obra, são retratados 
os costumes, a linguagem e a vida rural da época abordando a inocência, o amor, a fragilidade, a 
idealização da natureza e a subjetividade. 
 O enredo de Til 
Em um passeio pela fazenda, Berta - jovem pequena, esbelta - e Miguel - alto, ágil e robusto - 
encontram Jão Fera, com fama de bandido. Após um desentendimento entre eles, Jão vai embora a 
pedido da menina. Os dois amigos vão ao encontro de Linda e Afonso, irmãos gêmeos e filhos de Luís 
Galvão, homem inteligente, e de Ermelinda. Linda ama Miguel, mas Berta e Migueljá se amam. 
Contudo, para não ver o sofrimento da amiga, Berta faz de tudo para que Miguel fique com Linda. 
 Todos gostavam muito de Berta - apelidada de Til -, pois era alegre e de bom coração. Num outro 
trecho da obra, ela visita constantemente Zana, uma mulher com problemas mentais. Brás, menino 
de 15 anos, também com problemas mentais tentar matar Zana por sentir ciúme de Berta, mas não 
consegue. 
 A história é marcada por tentativas de assassinatos. Pelo assassinato de Aguiar, seu filho oferecera 
uma recompensa a quem matar o assassino Jão Fera. Já o personagem Barroso e seu bando planejam 
provocar um incêndio na casa de Luis Galvão para matá-lo e, depois, apagando o incêndio Barroso 
pretende oferecer seus serviços à viúva e conquistá-la, vingando assim a traição do passado, pois 
ficaria com a esposa daquele que manchara a honra de sua esposa Besita. 
 Ribeiro que trocara seu nome para Barroso tinha agora uma irrupção no rosto, Jão e Ribeiro tinham-
se visto poucas vezes na época de Besita, por isso não se reconheceram quando se encontraram. 
 À noite João, Gonçalo, o pajem Faustino e Monjolo, trancam a senzala e ateiam fogo no canavial, Luis 
tenta apagar o fogo e é agredido pelas costas por Gonçalo, mas Jão o salva, e mata os três bandidos. 
Barroso foge e, conforme o combinado, Jão se entrega ao filho de Aguiar, diz que irá pra onde ele 
quiser desde que ninguém toque nele, pois se isso acontecer este desfeito o acordo e ele estará livre 
novamente. Os capangas tentam amarrá-lo, ele espanca todos e vai embora. Barroso que ficara 
sabendo dessa prisão volta para tentar matar Berta, Jão que estava solto novamente consegue pegá-
lo e o mata de forma violenta. 
 Brás que presenciara tudo leva Berta pra ver a cena, mas ela foge horrorizada, enquanto Jão se 
entrega a policia. Luís resolve contar tudo a esposa, ela chora e decide que ele deve reconhecer Berta 
como filha. Eles contam tudo a Berta, omitindo, porém as circunstâncias desagradáveis, Berta sente 
que estão escondendo algo. 
 Jão foge da prisão e procura Berta, ela o faz prometer que nunca mais matará ninguém. Ele fala de 
Besita sua mãe e ela lhe implora que conte tudo. Ele assim o faz, revelando que Besita casou-se com 
Ribeiro que desapareceu logo depois do casamento. Alguns meses depois, Besita é avisada por Zana 
que seu marido chegara. Como era noite, no escuro ela se entrega às caricias do marido, e depois 
descobre que não era ele e, sim, Luís Galvão. Jão pensa em matá-lo por isso, mas ela o impede. Meses 
depois Luís casa-se com D. Ermelinda e nasce Berta, filha de Besita. 
 Um dia Besita pede a Jão que vá comprar coisas para o bebê. Durante sua ausência, aparece Ribeiro, 
que a acusa de traição e a estrangula. Neste momento, Jão chega e consegue salvar Berta, mas 
Ribeiro foge. 
 Luís quer que Berta vá morar com ele e sua família em São Paulo, mas ela se nega e pede que leve 
Miguel que ama Linda. Miguel tenta convencê-la a ir junto, mas ela recusa, ficando no interior. 
 Os personagens de Til 
A principal personagem da obra é Berta, que recebeu o apelido de Til, pois quando aprendeu a ler 
achava o acento til gracioso. Miguel é um rapaz robusto e apaixonado por Berta. Jão Fera tem fama 
de bandido, mas é o personagem que salva Berta e Luis Galvão, dono da fazenda em que a história é 
ambientada. 
 Síntese de Viagens Til 
Til é uma narrativa que envolve os personagens Berta, Miguel, Linda e Afonso. Eles são adolescentes 
despreocupados. Regionalista, a obra supervaloriza o interior do Brasil e da vida bucólica. Til é o 
apelido de Berta, a heroína capaz de imensos sacrifícios por um ideal. 
 Desenvolvimento da obra Til 
A história se desenvolve na fazenda no interior de São Paulo em meio a uma história de amor e 
descobertas sobre o passado de Berta. 
Problemática da obra Til- A filha de Besita é fruto de uma noite de amor com Luís Galvão, 
imaginando que ele é seu marido que voltara de viagem. 
 Clímax da obra Til- Quando Jão Fera revela o segredo sobre a mãe de Berta. 
 Desfecho da obra Til- Luís e a família se mudam para São Paulo, enquanto Berta fica no interior do 
estado. 
 A linguagem de Til- Regionalista. 
 O espaço/tempo em Til- A história se passa no interior paulista, em uma fazenda do século XIX. 
 Narrador e foco narrativo de Til- Obra narrada em terceira pessoa. Narrador Onisciente. 
Contexto histórico de Til- No ano de publicação da obra, o Brasil estava às voltas com a aprovação da 
Lei do Ventre Livre, que garantia a liberdade a filhos de escravos nascidos no Brasil. 
 Sobre o autor de Til- José de Alencar nasceu em 1° de maio de 1829, em Mecejana, no Ceará, e 
faleceu dia 12 de dezembro de 1877, no Rio de Janeiro. Formou-se advogado escreveu para jornais da 
época. Foi eleito deputado federal pelo Ceará e Ministro da Justiça. Alencar escreveu romances 
indianistas, urbanos, regionais, históricos, obras teatrais, poesias, crônicas, romances-poemas de 
natureza lendária e escritos políticos. Sua principal obra é Iracema. 
 
1) -Ação- Til, de José de Alencar, é uma obra caracterizada como romance- novela; possui uma 
dramaticidade dinâmica. Sua temática é baseada na época do Brasil Colonial. Embora não tendo, uma 
sequência cronológica dos fatos, o romance possui coerência e coesão que torna o drama 
compreensível, porém exigindo do leitor muita atenção para não se perder no decorrer da narração 
que torna o romance muito movimentado e em um pequeno espaço de tempo cria inúmeros 
acontecimentos envolvendo muitos personagens. Há uma pequena intertextualidade com as tragédias 
gregas ao narrar a “Ave-Maria” ,muitas mortes e muitos órfãos interligando assim vários núcleos 
existentes no enredo: A família de Guedes, a família de D.Tudinha, Luiz Galvão, o Tinguá e ainda os 
capangas : Jão Fera e Gonçalo Pinta. 
 
 2) –Espaço- Tudo acontece em um lugar chamado Santa Bárbara, próximo a Campinas no estado de 
São Paulo, mas o romance faz referência também à cidade de Itu; à Vila de Piracicaba e à fazenda do 
Limoeiro. A floresta, assim como o bar à beira da estrada, o Bacorinho e o lugar chamado Ave-Maria 
são recursos particulares dentro do romance. Os sentimentos que o romance causa no leitor são: 
Piedade, indignação e choro e algumas vezes satisfação quando há uma vingança. O autor se mostra 
um artista da palavra quando através dela utiliza de vários adjetivos para reforçar característica das 
personagens e lugares fazendo o leitor “viajar em imaginação na história”, e também quando toca o 
emocional do leitor. 
 
 3)-Tempo- O narrador utiliza disfarces físicos e mudança de nomes em seus personagens. De acordo 
com a chegada de cada personagem na trama, o tempo é manejado pelo narrador que torna o tempo 
passado sempre presente. Portanto o tempo predominante é o psicológico. 
 
 4) -Personagens- Personagens planas- Não tem iniciativa, não tem ação significativa no romance. 
(Linda, Miguel, D. Ermelinda, Besita e D. Tudinha). 
 
Personagens redondas- Tudo gira em torno da personagem principal (Berta). 
Jão Fera- Ação de heroísmo. 
 
5) – Trama- O romance é a história de Berta, uma menina que fica órfã ainda bebê; sua mãe é 
assassinada pelo próprio marido, por ciúme ao saber que não era pai da criança. A menina cresceu 
inocente de sua própria história e era uma pessoa muito amável, justa e bondosa. Vivia com 
D.Tudinha, uma senhora que a adotou e a amamentou junto com seu filho Miguel. Berta era muito 
amiga de Afonso e Linda, ambos, filhos de Luiz Galvão: grande fazendeiro, e D. Ermelinda. Jão Fera é 
um personagem muito importante na trama, pois ele no início é um “bandido”, assassino e cruel. No 
decorrer da novela, ele vai se revelando como um herói. Ele é um guardião para Berta, pois desde 
quando ficou órfã, ele a defendera e continuava sempre por perto. Berta era muito amada por Miguel 
e Afonso; mas não se decidia por nenhum,pois Linda era apaixonada por Miguel e sua grande amiga. 
Berta chega a convencer Miguel a namorar Linda, embora sinta ciúme. Til, é um apelido que a própria 
Berta se dá para facilitar o aprendizado de Brás, pois era o símbolo que ele mais gostava no alfabeto. 
Por ser deficiente, Brás não conseguia aprender com clareza e por isso apanhava de palmatória nas 
aulas, e só Berta conseguiu ensiná-lo. Portanto eis o nome da obra. O romance não se enquadra na 
característica linear ou progressivo e sim como vertical ou analítico, pois dá maior ênfase aos 
personagens e no drama que eles vivem. Exemplo: Berta é tão marcada por sua história quando a 
descobre, que decide não aceitar a paternidade de Luiz Galvão e sua riqueza e fica com D.Tudinha, 
cuidando dos excluídos a sua volta. 
 
6) -Verossimilhança- A ação dos personagens tem grande importância dentro do romance, pois são 
eles e principalmente Jão Fera, que faz a novela acontecer, ele possui um heroísmo fantástico, 
exemplo: Consegue vencer uma manada de Caitetus com Berta sobre os ombros e ainda salva o Pai-
Quicé; se entrega à prisão e consegue sair livre. Por se tratar de fazendeiros, capangas, escravos, 
lavouras de cana e café, a trama tem uma semelhança com a verdade, pois isso faz parte da história 
do Brasil. 
 
7) -Ponto de Vista- A narração do romance é feita em terceira pessoa. O narrador é onisciente; ele 
conhece, sabe todos os pensamentos e planos dos personagens e os revela ao leitor. Não é um 
personagem e nem um simples espectador. 
 
8) Tipo de romance- Romance aberto- A trama apresenta características de um romance aberto, Pois 
o narrador traz ao longo da história, personagens próximos da realidade, por exemplo: Pessoas 
bondosas como Berta, D.Tudinha, e maldosas como Ribeiro e Gonçalo Pinta, que retratam 
sentimentos e ações comuns de pessoas reais. O narrador faz com que o leitor tenha profundas 
reflexões sobre o preconceito, a exclusão, a injustiça, e permite ao leitor participar da trama, pois faz 
o leitor pensar, refletir pressupor o que irá acontecer em alguns capítulos, ao mesmo tempo cria 
“armadilhas” durante seu “percurso” que pode confundir o leitor se não estiver atento. O leitor pode 
ainda continuar imaginando uma sequência mesmo após o final do romance. 
 
 O Romance não é monofônico e também não é polifônico, pois não apresenta características. Essa 
oposição, a monofonia e a polifonia são observadas por M. Bakhtin como aquelas que se diferenciam 
no discurso como verdades fechadas e abertas. O discurso monofônico é próprio do discurso 
autoritário, que não permite o diálogo ou a relação entre o eu e o outro. Em contrapartida, na 
polifonia, própria da linguagem poética, a verdade surge como possibilidade discursiva em diálogo 
com a multiplicidade de vozes textuais. 
 
 
9-)Resumo de Til- José de Alencar 
 
Em um passeio pela fazenda, Berta, jovem pequena, esbelta, ligeira, buliçosa, grandes olhos, negros, 
boca mimosa. E Miguel que era, alto, ágil, de talhe robusto e bem conformado, encontram Jão Fera, 
homem de grande estatura e vigorosa compleição, que tinha fama de bandido. Após um 
desentendimento entre Jão Fera e Miguel ele vai embora a pedido de Berta. 
Os dois amigos vão ao encontro de Linda e Afonso, irmãos gêmeos de cabelos castanhos e olhos 
pardos, filhos de Luís Galvão que era um bonito homem, de fisionomia inteligente e regular estatura, 
e de D. Ermelinda de 38 anos. Linda ama Miguel. Berta e Miguel se amam. Mas pra não fazer sofrer a 
amiga Linda, Berta faz de tudo para que Miguel ame Linda. E consegue. 
Ficam sabendo que Luís Galvão vai fazer uma viagem para Campinas e que a mãe deles estava com 
mau pressentimento. Berta fica assustada, pois acha que Jão Fera está por trás disso, e parte pela 
floresta para evitar a emboscada. Chegando lá discute com ele que lhe tem muito amor, e consegue 
evitar o assassinato. Havia sido contratado por Barroso homem de cinquenta anos, uma barba ruiva e 
áspera, de mediana estatura e excessivamente magro. Este fica furioso ao saber que ele não cumprira 
o acordo. Jão fica em débito com Barroso e precisa de cinquenta mil réis para saldar a divida. 
Todos gostavam muito de Berta, pois era alegre e de bom coração. Visitava constantemente Zana, 
uma mulher com problemas mentais. 
Brás de 15 anos era feio, e descomposto em seus gestos. Tinha um ar pasmo, um olhar morno, com 
expressão indiferente e parva, ele também tem problemas mentais, ao sentir ciúme de Berta ele 
tenta matar Zana, é repreendido por Berta e se arrepende. Brás era filho de uma irmã de Luís Galvão, 
que morrera viúva, e por isso ele vivia na casa de seu tio. Ele dera a Berta o apelido de Til, pois 
quando ela lhe ensinava o abc ele achava o til do alfabeto gracioso, então o associou a Berta a quem 
queria muito bem. 
Pelo assassinato de Aguiar, do Limoeiro, seu filho oferecera uma recompensa a quem matar o 
assassino Jão Fera. Avisado do acontecido por Chico, Jão pede que este vá ate o filho de Aguiar do 
limoeiro e peça cinquenta mil reis em troca Jão Fera ira a seu encontro. 
Barroso e seu bando planejam provocar um incêndio na casa de Luís Galvão para matá-lo e depois 
apagando o incêndio Barroso pretende oferecer seus serviços à viúva e conquistá-la. Vingando assim 
a traição do passado, pois ficaria com a esposa daquele que manchara a honra de sua esposa Besita. 
Ribeiro trocara seu nome para Barroso, tinha agora uma irrupção no rosto, Jão e Ribeiro tinham-se 
visto poucas vezes na época de Besita, por isso não se reconheceram quando se encontraram. 
Na noite são João, Gonçalo, o pajem Faustino e Monjolo trancam a senzala e ateiam fogo no 
canavial, Luís tenta apagar o fogo e é agredido pelas costas por Gonçalo, Jão o salva, e mata os três 
bandidos. Barroso foge. 
Conforme o combinado, Jão se entrega ao filho de Aguiar, diz que ira pra onde ele quiser desde que 
ninguém toque nele, pois se isso acontecer está desfeito o acordo e ele estará livre novamente. 
Os capangas tentam amarrá-lo, ele espanca todos e vai embora. 
Barroso que ficara sabendo dessa prisão, volta para tentar matar Berta, Jão que estava solto 
novamente consegue pegá-lo e o mata de forma violenta. “Quem o visse dilacerando a vítima com as 
mãos transformadas em garras pensaria que a fera de vulto humano ia devorar a presa e já palpitava 
com o prazer de trincar as carnes vivas do inimigo.” 
Brás que presenciara tudo e como não gosta dele, leva Berta pra ver a cena. Ela foge horrorizada. Ele 
tenta explicar o ocorrido, ela bate-lhe no rosto. Percebendo que ela agora lhe tem asco, Jão se 
entrega a policia. 
Luís resolve contar tudo a esposa, ela chora e decide que ele deve reconhecer Berta como filha. 
Contam tudo a Berta, omitindo porem as circunstancia desagradáveis, Berta sente que estão 
escondendo algo. 
Jão foge da prisão e procura Berta, ela o faz prometer que nunca mais matara ninguém. Ele fala 
de Besita sua mãe e ela lhe implora que conte tudo. Ele conta. 
Besita era a moça mais bonita da cidade, vivia com seu pai Guedes, Luís Galvão e Jão Fera, que eram 
amigos, apaixonam-se por ela, Jão achando que ela nunca o amaria abre mão desse amor para Luís, 
este só quer divertir-se não pretende casar-se, ela conhece Ribeiro e aceita casar-se com ele, Jão fica 
Furioso e se afasta de Luís. Besita casa-se com Ribeiro que desaparece logo depois do casamento, 
após receber um bilhete chamando-o com urgência a Itu. Alguns meses depois Besita e avisada 
por Zana que seu marido chegara, era noite, e no escuro ela se entrega as caricias do marido, depois 
descobre que não era ele e sim Luís Galvão. Jão pensa em matá-lo por isso, mas ela o impede. Meses 
depois Luís casa-se com D. Ermelinda e nasce Berta filha de Besita. Elas vivem isoladas, moram com 
ela Zana que amamenta o bebe e Jão Fera, que cuida delas como um cão fiel. 
Um dia Besita pede a Jão que vá a Itu comprar algumas coisas para o bebe. Durante sua ausência,aparece Ribeiro, que a acusa de traição e a estrangula, Jão chega e consegue salvar Berta, Ribeiro 
foge. 
Nhá Tudinha, mãe de Miguel, ouve choro vindo da casa de Besita e vai ate lá, Jão conta o acontecido 
e ela adota Berta como sua filha. Zana enlouquece e continua morando na casa de Besita e tendo 
alucinações com a morte dela. Jão torna-se capanga e matador, tentando aplacar a furiosa sede de 
vingança que tem. 
Ela o abraça e diz que ele cuidou dela e que e seu pai. Jão passa a trabalhar na terra. 
Luís quer que Berta vá morar com ele e sua família, ela se nega e pede que leve Miguel que ama 
Linda. Miguel tenta convencê-la a ir junto, mas ela recusa. “Não, Miguel. Lá todos são felizes! Meu 
lugar é aqui, onde todos sofrem.” Eles partem para São Paulo. Berta fica. 
“Como as flores que nascem nos despenhadeiros e algares, onde não penetram os esplendores da 
natureza, a alma de Berta fora criada para perfumar os abismos da miséria, que se cavam nas almas, 
subvertidas pela desgraça.” 
 
 3- Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis 
-INTRODUÇÃO 
Maior escritor brasileiro de todos os tempos, Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) era um 
mestiço de origem humílima, filho de um mulato e de uma lavadeira portuguesa dos Açores. Moleque 
de morro, magro, franzino e doentio, o maior escritor brasileiro se fez sozinho, adquirindo a sua vasta 
e espantosa cultura de forma inteiramente autodidata. 
 Ao estudar a obra de Machado de Assis, a crítica divide-a em duas fases bem distintas cujo marco 
deliminatório é o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas publicado em 1881. Até essa data, a 
obra machadiana é marcante romântica, e nela sobressai poesia, conto e romances como 
Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878). Tais obras pertencem, 
pois, à chamada primeira fase. 
 A partir de 1881, com a publicação das Memórias, Machado de Assis muda de tal forma que Lúcia 
Miguel Pereira, biógrafa e estudiosa do escritor, chega a afirmar que "tal obra não poderia ter saído 
de tal homem", pois, "Machado de Assis liberou o demônio interior e começa uma nova aventura": a 
análise de caracteres, numa verdadeira dissecação da alma humana. É a Segunda fase, fase 
perpassada dos ingredientes do estilo realista. 
 Além de contos, poesia, teatro e crítica, integram essa fase os romances seguintes, entre os quais 
está o nosso Dom Casmurro (1900): Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), 
Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908), seu último livro, pois morre nesse mesmo ano. Toda 
essa obra está ligada ao estilo realista, embora seja correto reconhecer que um escritor da categoria 
ao estilo realista, embora seja correto reconhecer que um escritor da categoria de Machado de Assis 
não pode ficar preso às delimitações de um estilo de época. 
 
Memórias Póstumas de Brás Cubas 
 
O autor 
 
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em junho de 1839, no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, 
filho de Francisco de Assis, pintor de paredes que descendia de mulatos libertos, e de uma lavadeira 
açoriana. Perdeu a mãe muito cedo, mas a madrasta, Maria Inês, preta extremamente carinhosa, 
amparou o menino, auxiliando-o inclusive no processo de alfabetização. Com a morte do pai, e as 
consequentes dificuldades financeiras, Machado, aos doze anos, vendia na rua os doces que Maria 
Inês fazia; para aumentar a pequena renda, fazia também serviços de coroinha, e ainda, nos poucos 
intervalos de tempo, buscava assistir a algumas aulas, lia muitos livros emprestados, e procurava 
aprender francês com os padeiros franceses do bairro imperial. Quando "descobriu" a livraria Paula 
Brito, passou a frequentá-la, e foi na revista A Marmota Fluminense, editada pela livraria, que 
Machado fez sua estreia literária, publicando, em 1855, um poema exageradamente romântico. No 
ano seguinte é admitido como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Oficial, onde ganha um salário de 
fome. Dormia e comia mal, e vivia lendo nas horas de trabalho, o que motivou as queixas de seu 
chefe ao diretor. Esse diretor era Manuel Antônio de Almeida; em vez de puni-lo, tratou de melhorar-
lhe a vida. Assim, Machado pode tentar completar sua educação e frequenta as reuniões "lítero-
humorísticas" da sociedade Petalógica, que se faziam na Paula Brito. Aí, esse jovem franzino, tímido e 
gago, mulato de origem obscura e humilde, trava relações com literatos prestigiados: Gonçalves Dias, 
Joaquim Manuel de Macedo, Casimiro de Abreu e José de Alencar. Em 1860, Machado, que já vinha 
colaborando com jornais, alcança o alto jornalismo no Diário do Rio de Janeiro, em que se revela um 
jornalista de formação liberal, afinado com as causas populares, engajado, inclusive, na campanha 
abolicionista. Ao mesmo tempo, produz contos, comédias, críticos literários. Aos vinte e oito anos, 
muda-se para o centro da cidade, deixando para trás as lembranças da origem humilde. Nomeado 
funcionário do Diário Oficial, experimenta, pela primeira vez, a segurança econômica. Já reconhecido 
por seus méritos, é condecorado com a Ordem da Rosa. Aos trinta anos, encontra a mulher que seria 
sua grande companheira e colaboradora: Carolina Xavier de Novais, mulher culta e sensível, que o 
orientava em suas leituras e apresentou-lhe o clássico inglês. Em 1873, a publicação de Ressurreição 
consagra Machado como romancista. Nesse mesmo ano, é nomeado oficial da Secretaria da 
Agricultura, iniciando uma carreira burocrática exemplar: ao longo de trinta e cinco anos, foi 
alcançando todos os níveis de promoção. Com quase quarenta anos, Machado, que desde a infância 
sofria de crises epilépticas, é obrigado a internar-se em Friburgo para tratamento. Quando superou a 
crise, Machado reapareceu no vigor de sua capacidade criadora, e produziu as obras-primas da 
maturidade: os contos e romances da dita fase realista, inaugurada em 1881, com Memórias 
Póstumas de Brás Cubas. Envelhecendo com serenidade, procura patrocinar jovens talentos literários, 
cultiva os amigos, aprende alemão, joga gamão e xadrez e frequenta, agora como a figura mais 
ilustre, as rodas intelectuais. 
Quando o grupo da Revista Brasileira decide fundar a Academia Brasileira de Letras, Machado é o 
nome imediatamente lembrado para presidi-la. "Com as barbas brancas disfarçando os lábios grossos 
e o penteado sonegando os cabelos crespos, o antigo 'Machadinho' tinha então uma aparência 
olímpica, encarnação simultânea da respeitabilidade vitoriana e da suprema excelência das letras 
brasileiras.(...) A ascensão social fora completa. (...) A curva da velhice foi para Machado o desdobra-
mento de uma apoteose, onde a única nota dissonante foi uma nota íntima: as saudades invencíveis 
com que o deixou a morte de Carolina, quatro anos antes da arteriosclerose que o levou, em meio à 
tristeza profunda do país e da cidade” (1), em 1908. 
"Mulato? - dirá seu querido Joaquim Nabuco - só vi nele o grego!" 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Enredo 
 
Antes de iniciar a narração de sua autobiografia, o narrador, Brás Cubas, dedica-a: 
 
"Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico com saudosa lembrança estas 
MEMÓRIAS PÓSTUMAS" 
 
Consciente de que sua narrativa haveria de provocar um estranhamento no leitor, habituado às 
narrativas lineares e verossímeis do século XIX, adverte-o: 
 
"Ao leitor 
 
Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e 
consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem 
leitores de Stendhal, nem cinquenta, nem vinte e, quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na 
verdade uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne ou de um 
Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obrade finado. 
Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair 
desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao 
passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos 
graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião. 
Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um prólogo 
explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro 
e trancado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição 
destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, e aliás 
desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-
me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus. 
 Brás Cubas.” 
 
 
Obra: 
Machado de Assis cultivou quase todos os gêneros literários 
Poesia Crítica Literária Narrativas 
Crisálidas, Falenas, Americanas e 
Ocidentais 
 
Crítica Fase romântica: Ressurreição, A 
Mão e a Luva, Helena, laia Garcia 
(romances), Contos Fluminenses, 
Histórias da Meia-Noite (contos). 
 
Fase realista: Memórias Póstumas 
de Brás Cubas, Quincas Borba, 
Dom Casmurro, Esaú e Jacó, 
Memorial de Aires (romances), 
Papéis Avulsos, Várias Histórias, 
Páginas Recolhidas, Relíquias de 
Casa Velha (contos). 
 
 
Teatro Crônica 
Não Consultes Médico 
O Protocolo 
Os Deuses de Casaca 
O Caminho da Porta 
Quase Ministro 
Queda que as Mulheres têm pelos 
Tolos 
A Semana 
 
 
 
Capítulo I – Óbito do autor 
 
Brás Cubas declara que, por ser um defunto autor e não um autor defunto, resolveu começar sua 
narração pela própria morte, que se dera às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto 
de 1869, em sua bela chácara de Catumbi. Tinha 64 anos "rijos e prósperos" e fora acompanhado ao 
cemitério por 11 amigos. 
A sua morte haviam assistido poucas pessoas: a irmã Sabina, o cunhado Cotrim, a sobrinha e uma 
senhora, cuja identidade recusa-se a revelar, informando, apenas, que sofreu mais que os outros 
presentes. O leitor a conheceria quando o narrador evocasse os tempos moços. 
Informa, ainda, que morrera tranquila e metodicamente: 
 
 
"A vida estrebuchava-me no peito, com uns ímpetos de vaga marinha, esvaía-se-me a consciência, eu 
descia à imobilidade física e moral, e o corpo fazia-se-me planta e pedra, e lodo, e coisa nenhuma.” 
 
A causa da morte fora uma pneumonia, mas Brás Cubas diz dever-se mais a uma grandiosa ideia que 
tivera e que vai apresentar em seguida. 
 
Capítulo II - O emplasto 
Brás Cubas revela, que, um dia, uma idéia pendurou-se no trapézio que ele tinha no cérebro e 
provocou-o: "Decifra-me ou devoro-te". 
Essa ideia era a criação de um emplasto anti-hipocondríaco, "destinado a aliviar nossa melancólica 
humanidade". Para o governo, afirmara que esse resultado era verdadeiramente cristão; aos amigos, 
falara das vantagens pecuniárias que o emplasto traria, mas, já que havia morrido, podia confessar a 
verdade: o que o movera fora a vaidade, queria alcançar fama e glória. 
 
"Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra para 
mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro lado, sede de nomeada. Digamos: — amor da Glória." 
 
Aspectos Modernos 
 
 Enredo rarefeito; 
 Quebra da linearidade; 
 Narrativa Fantástica; 
 Metalinguagem; 
 Leitor incluso; (é personagem na obra Machadiana) 
 Estrutura de obra aberta; (várias leituras e interpretações) 
 Valorização do espaço branco do papel. 
 
Capítulo III – Genealogia 
 
Evocando seu passado remoto, Brás Cubas fala das origens de sua família. 
O fundador havia sido um certo Damião Cubas, nascido no Rio de Janeiro na primeira metade do 
século XVIII, tanoeiro de profissão, que, ao tornar-se lavrador, enriquecera; ao morrer, deixara grande 
herança ao filho, Luís Cubas. A família só se referia aos antepassados até esse avô, que estudara em 
Coimbra e tivera prestígio social, omitindo Damião que, afinal, havia sido simples tanoeiro. 
O pai de Brás Cubas, de início, para esconder sua origem, inventara que a família provinha da mesma 
de que nascera o capitão-mor fundador da Vila de São Vicente, e para reforçar a falsificação dera ao 
filho o nome de Brás. 
A família do capitão-mor Brás Cubas se opusera a essa inverdade, por isso o pai do narrador forjou 
outra mentira: a família descendia de um cavaleiro premiado com o sobrenome Cubas por ter, 
heroicamente, subtraído trezentas cubas aos mouros, durante as batalhas da África. 
Observa Brás Cubas que seu pai, homem digno e de bom caráter, tinha esses fumos de vaidade. 
 
Capítulo IV - A ideia fixa 
 
Brás Cubas confessa que a ideia do emplasto tornara-se uma obsessão. Não lhe ocorre nada que seja 
tão fixo; talvez a lua ou as pirâmides. Sugere, então, ao leitor que escolha a comparação que mais o 
agrade e não torça o nariz, embora reconheça que o leitor deve estar impaciente porque a narrativa 
propriamente dita ainda não teve início, mas afirma que chegará a ela, justificando: 
"Creio que prefere a anedota à reflexão, como os outros leitores, seus confrades, e acho que faz muito 
bem. Pois lá iremos. Todavia, importa dizer que este livro é escrito com pachorra, com a pachorra de 
um homem já desafrontado da brevidade do século, obra supinamente filosófica, de uma filosofia 
desigual, agora austera, logo brincalhona, coisa que não edifica nem destrói, não inflama nem regela, 
e é todavia mais do que passatempo e menos do que apostolado.” 
 
Capítulo V - Em que aparece a orelha de uma senhora 
 
Durante os preparativos para a criação do emplasto, Brás Cubas recebeu um golpe de ar; adoeceu e 
não se tratou, pois só pensava na glória que o emplasto lhe traria. Como piorasse, resolveu tratar-se, 
mas sem cuidado nem persistência, sobrevindo a pneumonia que o matou. 
Diz-nos que, no leito de morte, enquanto refletia sobre o fato de uma simples corrente de ar pôr a 
perder qualquer projeto humano, despediu-se da mulher a quem se referira no primeiro capítulo, a 
qual, embora entrada em anos, havia sido a mais bela entre suas contemporâneas; faz, então, uma 
surpreendente revelação: 
"Tinha então 54 anos, era uma ruína, uma imponente ruína. Imagine o leitor que nos amamos, ela e 
eu, muitos anos antes, e que um dia, já enfermo, vejo-a assomar à porta da alcova..." 
 
Capítulo VI - Chimène, qui l'eüt dit? Rodrigue, qui 1'eút cru? 
 
À porta da alcova, a mulher hesitou, pois havia um homem no quarto; Brás Cubas não a via há dois 
anos, e contemplava-a mudo, olhando-a não como era, mas como ela (e ele) haviam sido. 
A mulher entrou e ficou em pé, ao lado do leito. O homem retirou-se. Brás Cubas e Virgília — 
chamava-se Virgília — continuavam a olhar-se calados: 
"Quem diria? De dois grandes namorados, de duas paixões sem freios, nada mais havia ali, vinte anos 
depois; havia apenas dois corações murchos, devastados pela vida e saciados dela, não sei se em igual 
dose, mas enfim saciados.” 
Quebrando o silêncio, Brás Cubas perguntou-lhe se andava a visitar defuntos. Virgília, com um 
muxoxo, respondeu — "Ora, defuntos!" 
Sentou-se; com voz amiga e doce, comentou com Brás Cubas alguns acontecimentos, com graça e um 
pouco de maldade, o que deu prazer ao enfermo: 
"(...) eu, prestes a deixar o mundo, sentia um prazer satânico em mofar dele, em persuadir-me que 
não deixava nada." 
Às três horas, retirou-se, dizendo que voltaria no dia seguinte ou no outro. Diante da observação de 
Brás Cubas de que talvez não conviesse — ele era solteirão e na casa não havia senhoras —- Virgília 
disse não se importar — estava velha! — mas voltaria com o filho. 
Quando voltou com Nhonhô, o filhobacharel, Brás Cubas ficou constrangido: o menino, aos cinco 
anos, havia sido cúmplice inconsciente do amor clandestino de Brás e Virgília. 
Virgília adivinhou a causa do constrangimento que mantinha Brás Cubas calado, e dissimulou, dizendo 
ao filho que Brás Cubas não falava para fazer crer que estava à morte. Todos sorriram. Virgília tinha o 
aspecto "das vidas imaculadas": 
 
"(...) nenhum gesto que pudesse denunciar nada; uma igualdade de palavra e de espírito, uma 
dominação sobre si mesma, que pareciam e talvez fossem raras." 
Casualmente falaram de amores ilegítimos e Virgília referiu-se à mulher de que se tratava — aliás, sua 
amiga — com desdém e indignação. 
 
 
Capítulo VII - O delírio 
 
Brás Cubas conta que, antes de morrer, delirou por vinte ou trinta minutos. Em seu delírio, viu-se 
transformado em um barbeiro chinês; escanhoava um mandarim que lhe pagava com beliscões e 
confeitos. Depois se viu transformado na Summa Theológica de S. Tomás de Aquino. De volta à forma 
humana, viu-se arrebatado por um hipopótamo que informou irem à origem dos séculos. Brás Cubas 
ia de olhos fechados e sentia aumentar a sensação de frio. Ao abrir os olhos viu que galopavam numa 
planície de neve, onde vegetação e animais também eram de neve. 
De repente, apareceu uma figura imensa de mulher, cujos contornos perdiam-se no ambiente, e que 
se apresentou: 
“— Chama-me Natureza ou Pandora; sou tua mãe e tua inimiga”. 
(...) 
— Não te assustes, disse ela, minha inimizade não mata; é sobretudo pela vida que se afirma. 
Vives: não quero outro flagelo." 
 
A figura estendeu o braço, segurou Brás Cubas pelos cabelos e levantou-o ao ar. 
 
“Só então pude ver-lhe de perto o rosto, que era enorme. Nada mais quieto; nenhuma contorção 
violenta, nenhuma expressão de ódio ou ferocidade; afeição única, geral, completa, era a da 
impassibilidade egoísta, a da eterna surdez, a da vontade imóvel. Raivas, se as tinha, ficavam 
encerradas no coração. Ao mesmo tempo, nesse rosto de expressão glacial, havia um ar de juventude, 
mescla de força e viço, diante do qual me sentia eu o mais débil e decrépito dos seres”. 
— Entendeste-me? disse ela, no fim de algum tempo de mútua contemplação. 
— Não, respondi; nem quero entender-te; tu és absurda, tu és uma fábula. Estou sonhando, decerto, 
ou, se é verdade que enlouqueci, tu não passas de uma concepção de alienado, isto é, uma coisa vã, 
que a razão ausente não pode reger nem palpar. Natureza, tu? a Natureza que eu conheço é só mãe e 
não inimiga; não faz da vida um flagelo, nem, como tu, traz esse rosto indiferente, como o sepulcro. E 
por que Pandora? 
— Porque levo na minha bolsa os bens e os males, e o maior de todos, a esperança, consolação dos 
homens. Tremes? 
— Sim; o teu olhar fascina-me. 
— Creio; eu não sou somente a vida; sou também a morte, e tu estás prestes a devolver-me o que 
te emprestei. Grande lascivo, espera-te a voluptuosidade do nada." 
 
Incrédulo, Brás Cubas pondera que ela lhe havia incutido o amor à vida; como poderia golpear a si 
própria, matando-o? 
Natureza ou Pandora respondeu que já não precisava dele, o egoísmo era sua única lei. 
Levando-o ao alto de uma montanha, obrigou-o a acompanhar o desfile dos séculos: 
 
"Imagina tu, leitor, uma redução dos séculos, e um desfilar de todos eles, as raças todas, todas as 
paixões, o tumulto dos impérios, a guerra dos apetites e dos ódios, a destruição recíproca dos seres e 
das coisas. Tal era o espetáculo, acerbo e curioso espetáculo. A história do homem e da terra tinha 
assim uma intensidade que lhe não podiam dar nem a imaginação nem a ciência, porque a ciência é 
mais lenta e a imaginação mais vaga, enquanto que o que eu ali via era a condensação viva de todos 
os tempos. Para descrevê-la seria preciso fixar o relâmpago. Os séculos desfilavam num turbilhão, e, 
não obstante, porque os olhos do delírio são outros, eu via tudo o que passava diante de mim, —
flagelos e delícias, — desde essa coisa que se chama glória até essa outra que se chama miséria, e via 
o amor multiplicando a miséria, e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que 
devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a 
fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até 
destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia 
o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. 
A dor cedia alguma vez, mas cedia à indiferença, que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era 
uma dor bastarda. 
Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das coisas, atrás de uma figura 
nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de 
invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura, — nada menos 
que a quimera da felicidade, —ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o 
homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão. " 
 
Os séculos passavam cada vez mais aceleradamente. Brás Cubas fixou o olhar porque veria passar o 
último século, mas a rapidez era tal que ele viu os objetos mudarem: uns cresciam, outros diminuíam 
e um nevoeiro cobriu tudo; o próprio hipopótamo também começou a diminuir, ficando do tamanho 
de um gato. Brás Cubas saía do delírio, pois era mesmo seu gato Sultão que brincava à porta do 
quarto. 
 
Capítulo VIII - Razão contra Sandice 
 
A Razão voltava e insistia que a Sandice saísse: 
 
"La maison est à moi, c 'est à vous d'en sortir.” 
 
Brás Cubas, porém, pondera que a Sandice toma amor às casas alheias e é difícil ser despejada. 
Queria ficar, pois tentava descobrir o mistério da vida e o da morte... 
 
Capítulo IX – Transição 
 
Brás Cubas informa que fará, com destreza e arte, a maior transição do livro: como seu delírio 
ocorrera na presença de Virgília; como Virgília havia sido seu pecado da juventude; como não há 
juventude sem meninice; como não há meninice sem nascimento, assim ele chega ao dia do seu 
nascimento: 20 de outubro de 1805. 
 
"De modo que o livro fica assim com todas as vantagens do método, sem a rigidez do método." 
 
Capítulo X - Naquele dia 
 
"Naquele dia, a árvore dos Cubas brotou uma graciosa flor. " 
 
O nascimento de Brás Cubas havia sido intensamente festejado; o tio João, oficial de infantaria, via 
nele um olhar de Bonaparte, o tio Ildefonso, simples padre, já o via cônego. O pai, orgulhoso, 
perguntava a todos se Brás não era inteligente e bonito. 
 
Capítulo XI - O menino é pai do homem 
 
Acatando a afirmação de um poeta, segundo a qual o menino é o pai do homem, Brás Cubas confessa 
ter sido "dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso", e, desde os 
cinco anos, era chamado "menino diabo". Maltratava os escravos, fazia de Prudêncio seu cavalo de 
todos os dias, fustigando-o com uma varinha, indiferente a seus gemidos. 
O pai tinha por Brás Cubas grande admiração; repreendia-o por mera formalidade diante dos outros 
mas, em particular, beijava-o. A mãe, piedosa, fazia decorar orações, mas "era uma senhora fraca, de 
pouco cérebro e muito coração (...) temente às trovoadas e ao marido". 
O tio cônego fazia, em vão, reparos à educação que Brás Cubas recebia; tinha muita austeridade e 
pureza, que apenas compensavam um espírito medíocre. O outro tio, João, era um homem de vida 
libertina, que importunava as escravas com ditos e gestos maliciosos. Era dele que Brás Cubas, desde 
os onze anos, ouvia anedotas obscenas. 
A tia Emerenciana era bem diferente desses tios e tinha grande autoridade sobre Brás, mas com ela o 
convívio fora breve, apenas dois anos. 
 
"o que importa é a expressão geral do meio doméstico, e essa aí fica indicada,

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