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Resumo Constitucionalização do Direito das Obrigações

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Resumo: Constitucionalização do Direito das Obrigações
A constitucionalização do Direito Civil nada mais é que a leitura do deste em face da constituição. Se anteriormente, tínhamos como centro do ordenamento jurídico a propriedade, e cuidava-se da pessoa a partir desta, hoje após grandes enlaces jurídicos é notória a evolução do seu entendimento e a importância de uma análise muito cuidadosa, basicamente a pessoa passa a ser o centro do ordenamento jurídico e o direito é todo voltado para ela. Isso reflete na construção de um direito mais sensível a sociedade, incluindo o direito contratual, de maneira que seja garantido, principalmente, a dignidade do indivíduo.
Diante desse panorama, observamos as mudanças ocorridas no Direito das Obrigações, que era fundamentado na livre iniciativa, na autonomia da vontade e na propriedade privada, para se basear na pessoa humana, na livre iniciativa, vendo a propriedade como função social. Assim, não deve se analisada em termos absolutos, mas sim ser um instrumento para promover a realização do ser humano.
Essas transformações foram parte de um processo que aconteceu ao longo da história, propiciado por diversos acontecimentos que serviram para transformar os limites entre o Direito Público e Privado. Se iniciou durante o século XIX, com o rompimento com o regime absolutista, surgindo o liberalismo jurídico, que pregava o Estado de Legalidade e Liberdade. Esses dois princípios criaram uma codificação que seria suficiente para organizar toda a sociedade civil de forma igualitária, sendo, consequentemente, geral e impessoal. A vontade era a única fonte para o estabelecimento da relação entre direitos e obrigações, vindos da relação jurídico-contratual.
A Ciência do Direito tinha a função de proteger e assegura a realização dos fatores requeridos pelas partes contratantes e a teoria das obrigações se baseava na ideia de que a obrigação era a necessidade jurídica, pela qual uma pessoa se subordinava a outra, de maneira a cumprir esses fatores. O Código Civil era conhecido como a Constituição do Direito Privado, como regulador das relações privadas e os insucessos das transações eram atribuídos ao próprio indivíduo.
No Brasil, foi adotado esse paradigma do Direito Civil. O Estado mantinha uma neutralidade estática no domínio econômico e dos contratos, sem considerar as desigualdades econômicas e aplicando o regime de igualdade entre todos perante a Lei, com uma ética individualista. Esta incoerência contribuiu para as desigualdades e para a exclusão social da maior parcela que é considerada como povo.
Com a crescente complexidade do Direito e de suas instituições, o social e o estatal assumem contornos de difícil separação, fazendo com que a distinção entre Direito Público e Direito Privado, não pudesse mais sustentar o “ideário jurídico” atual. Após a Segunda Guerra Mundial, verificou-se que as técnicas de proteção à pessoa humana elaboradas pelo Direito Privado não eram suficientes, sendo necessário proteger a pessoa diante da atividade econômica.
O Estado, então, passou a legislar sobre matérias antes delegadas à exclusividade do âmbito civil. O Direito Civil perdeu seu caráter de exclusividade na regulação das relações patrimoniais privadas. Em outras palavras, houve a perca da função de Constituição do Direito Privado do Código Civil e a apresentação de textos constitucionais com princípios que antes eram encontrados somente nas leis civis, matérias exclusivas do Direito Privado passaram a interagir com a ordem pública, constitucional.
 A dicotomia do direito positivo em Público e Privado se faz, então, de suma importância, entretanto é uma divisão que gerou grande polêmica, sendo adotada de maneira diferente, com base em diversas teorias. A que merece maior destaque por ser a melhor doutrina é a teoria das relações jurídicas. Ela divide o Direito em público e privado, segundo a classe de relações jurídicas. Dessa forma, Direito Público seria aquele que cuida do funcionamento do e cuida das relações entre as pessoas jurídicas de Direito Público e das relações entre estas e os particulares. Já o Direito Privado regula as relações entre os particulares.
 A opção por uma teoria ou outra deve se basear no entendimento pessoal, pois tudo depende do ponto de vista e do referencial que será utilizado. Essa divisão serve essencialmente para orientar estudiosos na busca de informações que ficam divididas em grupos e por razões principiológicas, por exemplo, pois os princípios que regem o Direito Público são diferentes dos que regem o Direito Privado. Mas deve-se ter em mente que o direito é um só, com todos os seus fatores interagindo de forma harmônica. Dessa forma, público e privado se complementam.
Não pode mais ser aceito um sistema que separa a Constituição como Lei do Estado e o Direito Privado como ordenamento da sociedade civil. A superação dessa dicotomia favorece que se reconheça a incidência dos valores e princípios constitucionais na disciplina civilística, priorizando a pessoa humana, sua dignidade, sua personalidade e seu livre desenvolvimento.
Nessa esfera, surge a despatrimonialização no Direito Civil, que não deve ser entendida como a retirada do conteúdo patrimonial do Direito Privado, mas na funcionalização do sistema econômico no sentido de produzir riquezas respeitando a dignidade humana, estabelecendo restrições e limites voltados para a preservação dos direitos coletivos e dignidade do cidadão. O Direito Civil passa a ter como interesse final o homem, não só nas situações existenciais, como também nas situações patrimoniais, referentes à propriedade, ao crédito, dentre outras. O centro de gravidade é a pessoa humana, que deve ser promovida e protegida.
No Brasil, como em muitos países após a guerra, a Constituição adota como fundamento da República a dignidade da pessoa humana, no art. 1º, III da Constituição Federal. Assim, fala-se em uma cláusula geral de proteção e promoção da personalidade, com base na qual deve orientar-se o intérprete, sempre no sentido de proteger e promover a dignidade humana, ainda que em situações tipicamente patrimoniais. Essa proteção se dá justamente no sentido de garantir alguns valores que são indispensáveis ao homem.
Com base em todos os fatores apresentados, formou-se a interpretação do Direito Civil sob os valores constitucionais, um Direito Civil “constitucionalizado, socializado e despatrimonializado”, que confirma a hierarquia superior da Constituição em relação aos demais dispositivos legais. Esta, por sua vez, é a norma suprema que tem a finalidade de zelar pela unicidade do sistema, mas que não deve ser vista como uma norma pura, mas como uma estrutura que envolve um conjunto de valores. No Brasil, a constituição é taxativa ao afirmar que a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça são valores supremos em nossa sociedade. Dessa forma, esses princípios fundamentais presidem toda a interpretação do Direito e qualquer outra interpretação seria inconstitucional. 
O Código Civil deixa de ser o berço do protecionismo à pessoa, porque a Constituição da República trabalha com temas que visam defendê-la e promovê-la, seja nas relações familiares, dominais ou contratuais, fazendo com que a pessoa humana seja vista em uma dimensão comunitária. Vemos então o Direito Constitucional cuidando de matérias que seriam, tipicamente de Direito Privado, o que firma o fim da grande dicotomia entre o Direito Público e Direito Privado, fazendo com que este último também tenha seu conteúdo alargado.
De acordo com o art. 5º, §1º da Constituição brasileira, “as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”. Em outras palavras, as normas da constituição estão sobre todos os ramos jurídicos e agem sobre eles. Portanto, é inevitável a releitura do Código Civil à Luz da Constituição, com a identificação de um Direito Civil mais sensível aos problemas e às exigências da sociedade. Vale ressaltar que o Direito Civil constitucional é Direito Civil,pois não há como divisar nenhum de seus ramos que fique imune à incidência dos valores e princípios constitucionais. 
O centro nuclear do Direito Civil passa a ser a pessoa humana, sendo necessária uma hermenêutica constitucionalizada em situações jurídicas contratuais e de propriedade, no âmbito familiar, empresarial e outros, sendo o Código do Consumidor o grande símbolo da humanização das relações contratuais e do Direito Privado. Ele determina que a política nacional de relações de consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito a sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria de sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia nas relações de consumo, garantias que não poderiam ser atendidas apenas com o Código Civil. Na verdade, o Direito do Consumidor é uma releitura do Direito Contratual clássico, com base nos princípios e valores constitucionais.
A visão clássica do contrato individualista cede lugar a um novo modelo, voltado aos valores e princípios constitucionais relacionados a personalidade humana. A proteção à pessoa humana através do reconhecimento de uma gama de direitos chamados direitos da personalidade é recente e toma grande impulso após as grandes guerras deste século. A pessoa humana não deve ser entendida como apenas um fator, mas analisada como algo que possui uma série de valores relacionados a ele, que devem ser vistos de maneira unitária. O centro desses valores se traduz na sua dignidade e a existência de um direito objetivo da personalidade não se limita apenas ao Direito Civil, mas integra todo o ordenamento de forma unitária.
O elemento que foi utilizado nesse sistema foi a boa-fé. A boa-fé objetiva é um dever legal, dever de agir de acordo com determinados padrões, socialmente recomendados, de correção, de lisura e honestidade para não frustrar a confiança de outra parte. Três são as características da boa-fé objetiva: a existência de duas pessoas ligadas por uma determinada relação jurídica que lhes imponha especiais deveres de conduta, de pelo menos uma delas em relação à outra; o comportamento exigível do bom cidadão, do profissional competente; a observância sobre o fato de a situação criada ter produzido ou não na contraparte um estado de confiança no negócio celebrado.
O princípio da boa-fé pode justificar a extinção das obrigações e a resolução dos contratos: é a denominada frustração do fim contratual objetivo. Ela exige que se dê o contrato por sem efeito quando a finalidade que as partes tinham em vista se torna definitivamente irrealizável. Ela também impõe os deveres laterais, que têm função auxiliar. São deveres funcionalizados ao fim do contrato. O seu descumprimento acarretará o do dever principal. Entre os deveres que permanecem, quando termina uma relação obrigacional, está o do sócio que se retira, de evitar prejudicar com sua atividade o funcionamento da sociedade de que participara e de que se retirou.
Assim, o conceito tradicional de obrigação, tendo como finalidade única a prestação, sofreu importantes modificações, devendo ser vista como processo dinâmico, que se movimenta constantemente, pondo em marcha a cadeia produtiva, gerando e circulando riquezas, criando empregos, dignificando o homem. Destaca-se a importância do princípio da boa-fé como dever global de agir de acordo com determinados padrões de lisura e lealdade. Os princípios dispostos na Constituição devem sobrepor-se, de modo que a atividade interpretativa deve atender, antes de tudo, aos valores constitucionais, a fim de que se promovam a justiça social e a dignidade humana, sendo necessária a leitura e interpretação das normas do Direito Civil sob à luz da Constituição Federal, a fim de se promover a justiça social e a dignidade humana, preservando a sua personalidade em todas as relações contratuais, seguindo como exemplo os princípios adotados no Código do Consumidor.

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