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As verdades e as formas jurídicas - focault

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Resumo do texto “A Verdade e as Formas Jurídicas” de Michel Foucault
Ele tenta explicar a formação da sociedade disciplinar, que pode ser caracterizada pelo aparecimento de dois aspectos contraditórios, a reforma, a reorganização do sistema judiciário e penal nos diferentes países da Europa e do mundo.
Para Beccaria, Benthan, Brissot e legisladores que foram autores do primeiro código civil francês da época revolucionária, o princípio fundamental é que a infração não deve ter nenhuma relação com a falta moral e religiosa, o crime é a ruptura com a lei civil explicitamente estabelecida no interior de uma sociedade pelo lado legislativo do poder político. O segundo principio é que as leis positivadas não devem retranscrever em termos positivos a lei natural, a lei religiosa ou a lei moral. A lei deve simplesmente definir como repreensível aquilo que é nocivo à sociedade. O terceiro é uma definição simples e clara do crime e do criminoso, o crime é um dano social e o criminoso é aquele que perturba, danifica a sociedade, é um inimigo social. É um individuo que no interior da sociedade rompeu o pacto que havia teoricamente estabelecido.
Como a lei penal deve tratar esse criminoso ou reagir a esse crime? Se o crime não tem a ver com a lei religiosa ou moral, não pode prescrever uma vingança, a redenção de um pecado. A lei penal deve apenas permitir a reparação da perturbação causada à sociedade, impedir que males semelhantes possam ser cometidos contra o corpo social.
Para esses teóricos são 4 os tipos possíveis de punição:
A punição ideal seria simplesmente expulsar as pessoas, exilá-las, bani-las ou deportá-las.
Exclusão no próprio local, punição ao nível do escândalo, mostrar ao público a pessoa que cometeu o crime e fazer o publico ter uma reação de desprezo, condenação. São os mecanismos para a vergonha e humilhação.
Trabalho forçado como reparação ao dano social, forçar a fazer uma atividade útil ao Estado ou à sociedade.
A pena consiste em fazer com que a dano não venha a ser cometido novamente. Fazer com que os indivíduos não tenham mais vontade de cometer o dano e repugnar para sempre. Para se obter esse resultado, a pena ideal seria a pena de talião. Matar quem matou, roubar quem roubou;
Por volta de 1820 o sistema de penalidades adotado pelas sociedades industriais em vias de formação, de desenvolvimento, foi inteiramente diferente do que tinha sido projetado alguns anos antes. Esses projetos foram substituídos pelo aprisionamento, a prisão. A prisão surge no início do século XIX como uma instituição de fato, quase sem justificação teórica.
A legislação penal se desvia do objetivo de utilidade social, ela não procurará mais o que é socialmente útil, ela se ajustará ao indivíduo. Um exemplo disso são as grandes reformas de legislação que ocorreram na França e outros países europeus que se organizaram de acordo com circunstâncias atenuantes: a aplicação da lei pode ser modificada pelo juiz ou pelo júri pelo fato de ser rigorosa tal como se acha no código. O principio de uma lei universal representando unicamente os interesses sociais é considerado falseado pela utilização de circunstâncias atenuantes que vão assumindo importância cada vez maior. A penalidade tem em vista menos a defesa geral da sociedade e procura o controle e a reforma psicológica e moral das atitudes e comportamentos dos indivíduos.
Assim, a grande noção da criminologia, em termos de teoria penal, foi a noção de periculosidade. Significa que o indivíduo deve ser considerado pela sociedade ao nível de suas virtualidades e não ao nível de seus atos; não ao nível das infrações efetivas a uma lei efetiva, mas das virtualidades de comportamento que elas representam. Para assegurar o controle dos indivíduos a instituição penal não pode mais estar inteiramente nas mãos de um poder autônomo, o poder judiciário.
Essa espécie de controle ao nível das virtualidades não pode mais estar no controle da justiça. Precisa-se de outros poderes a margem como a polícia e uma rede de vigilância e de correção (instituições psiquiátricas, médicas, pedagógicas). Todas essas instituições agora tem como objetivo corrigir as virtualidades, não mais de punir as infrações. Trata-se de um tipo de sociedade disciplinar.
Bentham apresentou um grande modelo dessa sociedade de vigilância, de grande ortopedia social: o PANOPTICON.
O Panopticon era um edifício em forma de anel que havia um pátio com uma torre no centro. O anel se dividia em pequenas celas que davam para o interior e exterior, em cada uma dessas celas havia um objetivo da instituição que era uma criança aprendendo a escrever, um operário trabalhando...na torre central havia um vigilante que observava o que todos faziam mas ninguém podia vê-lo.
O Panoptismo é uma forma de poder que repousa não mais sobre um inquérito, repousa sobre um exame. O inquérito é um procedimento no qual procura investigar o que ocorreu, o panapticon se reproduz em vigilância, controle e correção. Não se trata de reconstruir um acontecimento, se trata de vigiar sem interrupção, é vigilância permanente de indivíduos por alguém que exerce poder sobre eles. E enquanto exerce um poder constitui um saber a respeito deles. Esta é a base do poder, que vai dar lugar às ciências humanas como a psiquiatria, psicologia, sociologia...
Esses mecanismos de controle surgiram obscuramente na Inglaterra e na França, na Inglaterra apareceram comunidades religiosas que realizavam a dupla tarefa de vigilância e assistência, e paralelamente instituíram uma forma de controle das camadas mais ricas sobre as mais pobres. Outras instituíam regras de conduta moral com o objetivo de reformar as maneiras religiosamente inaceitáveis. Por fim, as sociedades econômicas começaram a organizar uma polícia privada para proteger seu patrimônio contra o banditismo. Na França, as lettres-de-cachet era uma ordem do rei para obrigar alguém a fazer alguma coisa. Qualquer pessoa ou comunidade poderia solicitar uma lettre-de-chachet contra quem as estivesse perturbando. Essa ideia de aprisionar para corrigir, de conservar a pessoa presa até que se corrija, tem origem nas lettres-de-cachet, a pessoa ficava presa por tempo indeterminado, não havia nenhum tipo de punição além da prisão. É uma ideia nascida fora da justiça.
Os novos sistemas de controle social estabelecidos pelo poder, pela classe industrial, pela classe dos proprietários foram tomados dos controles populares com uma versão autoritária e estatal. Surgiram devido a uma nova distribuição espacial e social da riqueza industrial e agrícola que tornou necessários novos controles sociais no fim do século XVIII.
Segunda parte:
O Panoptismo é uma forma de poder que se exerce sobre os indivíduos em forma de vigilância individual e contínua, em forma de controle de punição e recompensa e em forma de correção, isso é, formação e transformação dos indivíduos em função de certas normas. Essa vigilância se exerce a nível não do que se faz, mas do que se é; do que se pode fazer. O panoptismo se opõe à teoria da punição, que subordina o fato de punir, a possibilidade de punir, à existência de uma lei explícita, à constatação explícita de uma infração a esta lei e finalmente a uma punição que teria por função reparar ou prevenir, na medida do possível, o dano causado pela infração à sociedade.
Poderia se dizer que a reclusão do século XIX é uma combinação de controle moral e social, nascido na Inglaterra, com a instituição propriamente francesa e estatal da reclusão em um local, em um edifício, em uma instituição, em uma arquitetura. No século XVIII na Inglaterra, o fato do individuo pertencer a determinado grupo fazia com que ele fosse vigiado, nas instituições do século XIX ele é vigiado justamente pelo contrário, por ser individuo que se encontra colocado na instituição, constituindo uma coletividade que será vigiada. Pode-se, portanto opor a reclusão do século XVIII, que exclui os indivíduos do círculo social, à reclusão que aparece no século XIX, que tem por função ligar os indivíduosàs instituições. Todas as instituições – fábrica, escola, hospital psiquiátrico, prisão – tem por finalidade não excluir, mas fixar o indivíduo. Fixá-los ao aparelho de produção, de transmissão do saber, de correção e de normalização dos indivíduos. 
São formas de controle que se encarregam da dimensão temporal da vida dos indivíduos, intraestatal, denominadas de instituições de sequestro. A primeira função delas é a extração da totalidade do tempo, fazendo com que o tempo dos homens, o tempo de sua vida, se transformasse em tempo de trabalho. A segunda função é a de controlar os corpos dos indivíduos, fazendo com que se torne força de trabalho. Se fizéssemos uma história do controle social do corpo, poderíamos mostrar que, até o século XVIII inclusive, o corpo dos indivíduos é essencialmente a superfície de inscrição de suplícios e de penas; o corpo era feito para ser suplicado e castigado. Já nas instâncias de controle que surgem a partir do século XIX, o corpo adquire uma significação totalmente diferente; deve qualificar-se como corpo capaz de trabalhar, adquirindo aptidões.
A terceira função consiste na criação de um novo tipo de poder. Um poder polivalente, em todas elas há um poder econômico (salário) e politico, as pessoas que dirigem essas instituições se delegam o direito de dar ordens, estabelecer regulamentos, tomar medidas etc. Esse mesmo poder econômico e politico é também um poder judiciário (punir e recompensar). Esse poder é epistemológico, poder de extrair dos indivíduos um saber e extrair um saber sobre estes indivíduos submetidos ao olhar e já controlados por estes diferentes poderes.
Nesta terceira função das instituições de sequestro através de jogos do poder e do saber, poder múltiplo e saber que interfere e se exerce simultaneamente, temos a força do tempo e de trabalho e sua integração na produção. Que o tempo da vida se torne tempo de trabalho, que o tempo de trabalho se torne força de trabalho, que a força de trabalho se torne força produtiva; tudo isto é possível pelo jogo de uma série de instituições que são as de sequestro.
As conclusões são, em primeiro lugar, a prisão é apenas uma forma simbólica das instituições de sequestro, tem função muito mais simbólica e exemplar do que realmente econômica, penal ou corretiva. A prisão é a imagem da sociedade e a imagem invertida da sociedade, imagem transformada em ameaça. O primeiro discurso de prisão é a de que ela não é uma ruptura com o que se passa todos os dias, que seria a teoria da penalidade ou criminologia. A segunda é que a prisão se inocenta de ser prisão pelo fato de se assemelhar a todo resto, e inocenta outras instituições de serem prisões, já que ela se apresenta como válida só para aqueles que cometeram uma falta.
A segunda conclusão seria o fato de que o trabalho não é absolutamente a essência concreta do homem, ou a existência do homem em sua forma concreta, o sistema capitalista é o responsável por transformar o trabalho em lucro, em sobre-lucro ou em mais-valia. A última conclusão é que este sub-poder, condição do sobre-lucro (advindo do tempo e força de trabalho), ao se estabelecer, ao passar a funcionar, provocou o nascimento de uma série de saberes, fazendo surgir as chamadas ciências do homem e o homem como objeto da ciência.

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