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no exterior, beneficiando-se de suas vantagens comparativas. Poderia ocorrer, no entanto, que estas economias não desejassem o intercâmbio comercial com as nações européias mais desenvolvidas. Segundo Cohen (1976: 35): Na verdade, não haveria qualquer comércio entre elas, a menos que as economias capitalistas controlassem as economias não-capitalistas e as forçassem a negociar nestas condições desvantajosas. Portanto, para que o capitalismo pudesse 7 Rosa Luxemburgo era uma mulher judia polonesa revolucionária o que à época significava um triplo estigma, foi assassinada em janeiro de 1919, no decorrer da revolução alemã por opor-se ao rumos políticos do país determinados pelo então hegemônico Partido Social Democrata Alemão. {PAGE } sobreviver, tinha que se procurar a anexação colonial. Tiveram que criar impérios coloniais a fim de assegurar mercados para a superprodução interna. Aqui estava, supostamente, a razão do novo imperialismo. Os mercados externos tornaram-se indispensáveis para a realização da mais-valia dos países centrais. A insuficiência do consumo interno impedia a venda de todos os estoques no mercado interno e acabava induzindo os capitalistas a procurar realizar seus excedentes nos mercados externos, daí a necessidade do imperialismo. A conquista dos mercados no exterior dignificava também a conquista de mercados e setores pré-capitalistas dentro das próprias fronteiras nacionais (CATANI, 1985: 70, 76). Dessa brevíssima exposição do pensamento de Rosa Luxemburgo pode-se tirar pelo menos duas conclusões. A primeira, que a saída para o exterior não é um fato novo no capitalismo do século XX, mas uma condição permanente do modo de produção capitalista. A conquista de novos mercados é uma necessidade constante do imperialismo para fazer frente à tendência decrescente das taxas de lucro. A segunda, decorrente da primeira, é a contradição essencial do sistema expressa na necessidade constante de buscar novos mercados no exterior. A teoria de Rosa Luxemburgo foi aceita por alguns intelectuais marxistas – como o francês Lucien Laurat e o alemão Fritz Steinberg – mas não por outros. Para estes últimos, a razão fundamental do imperialismo não residia na questão do subconsumo e da superprodução, mas nas suas necessidades financeiras, ou seja, na necessidade que os países centrais tinham de encontrar situações vantajosas para a aplicação de seu excedente de capital. O egípcio Samir Amin acredita que a tese do subconsumo de Luxemburgo é equivocada, não só pelo fato dela não considerar o papel da moeda e do crédito, cuja argumentação já tinha sido desenvolvida por Nicolai Bukharin em o Imperialismo e a Acumulação de Capital, mas sobretudo porque “esta argumentación, que se situa en el plano de expansionismo del capital en general, no consigue definir las características propias del imperialismo”, entre as quais a questão do capital financeiro. Em seu modo de pensar, “Rosa Luxemburgo, . . . , confunde el imperialismo nuevo con el antiguo expansionismo” (AMIR, 1976: 135). Ao largo dessa discussão foi Rudolf Hilferding, em seu Capital Financeiro, escrito em 1910, dois anos antes de Rosa Luxemburgo publicar sua obra maior, quem colocou o {PAGE } papel dos bancos no centro do processo de produção e introduziu a noção da formação do capital financeiro – fusão do capital bancário com o capital industrial, com predominância do primeiro. Assim, uma parte cada vez maior do capital industrial não pertence mais aos empresários do setor produtivo. Podem dispor de capital apenas por intermédio dos bancos que são os verdadeiros proprietários do dinheiro. Ao controlar as fontes de crédito, os bancos assumiram o poder de determinar os rumos do desenvolvimento industrial, de promover fusões e aquisições, substituindo os empresários industriais no controle do grande capital. Visto que os bancos negociavam com a mercadoria-dinheiro e não com a mercadoria-produto, seu interesse maior estava nos dividendos oriundos das transações financeiras e não nos mercados produtivos. Isto tendia a criação do capitalismo rentista, cuja burguesia representativa tinha maiores lucros com a especulação financeira que com a produção de mercadorias. Como, de acordo com a tradição marxista, a taxa de lucro obtida internamente tendia a declinar no longo prazo, o capital financeiro foi levado a aplicar no exterior o capital excedente, na busca de maiores lucros. Isto teve como resultado o imperialismo, já que cada país central buscava estabelecer domínios exclusivos para os seus próprios investimentos externos (COHEN, 1976). Hilferding não indica, entretanto, que o aumento da concentração de capital e da produção em elevado grau conduz à formação dos monopólios. Ignora também o papel dos trustes no mercado mundial, a formação da classe parasitária que vive da renda das ações e o nexo entre o imperialismo e o movimento operário (CATANI 1985.). As idéias de Hilferding logo foram aperfeiçoadas por outros pensadores marxistas, como o alemão Karl Kautsky, que considerava o imperialismo um “modo particular” de como o capitalismo se expressava quando apresentava a tendência de anexar territórios agrícolas, o vienense Otto Bauer, o russo Bukharin e pelo mais importante líder russo da Revolução de 1917, V. I. Lênin (COHEN, 1976). O esquema analítico desenvolvido por Lênin em seu Imperialismo: Estágio Superior do Capitalismo, de 1916, foi inspirado nos estudos de Hilferding, como ele próprio reconheceu. Numa breve definição do imperialismo, Lênin o classificava como “o estágio monopolista do capitalismo”. O imperialismo podia ser também identificado como uma etapa da internacionalização do capital. Lênin definia esta fase do desenvolvimento {PAGE } capitalista como caracterizada pela concentração do capital a partir do surgimento e expansão das grandes companhias monopolistas (ibid.). Lênin publicou o Imperialismo primeiramente na Áustria, em 1917. Nesta obra ele fez um balanço do desenvolvimento do capitalismo no meio século decorrido desde a publicação do Capital de Karl Marx, em 1867. Apoiando-se na lei da dinâmica do capitalismo, que incorpora sua evolução – nascimento, desenvolvimento e decadência – fez uma profunda análise científica da essência econômica e política do imperialismo, caracterizando-o como sendo a etapa do capitalismo parasitário, em estado de decomposição e revelou as condições do seu desaparecimento e a inevitabilidade da substituição do capitalismo pelo socialismo que ele acreditava ser um regime social mais progressista e mais justo (CATANI, 1985.). Ele se debruçou sobre o tema do imperialismo entre 1912 e 1916, período que culminou na elaboração de vinte cadernos de notas – publicados após sua morte com o título Cadernos sobre o Imperialismo – que serviriam de base para o seu Imperialismo. Em sua obra máxima, Lênin afirmava que o imperialismo era, por sua essência, um fenômeno econômico, o capitalismo monopolista, nascido precisamente da livre concorrência. O monopólio é um produto da concentração do capital e da produção, formado pelas associações monopolistas dos capitalistas, pelos cartéis, pelos trustes e pelos sindicatos (ibid.). Estava consciente da estreita vinculação entre a hegemonia crescente dos monopólios, a expansão mundial do capitalismo e do colonialismo e a conseqüência política com o surgimento de uma aristocracia operária nos centros industriais imperialistas. Para Lênin, o início do século marcou a passagem para uma nova fase do sistema capitalista em que a predominância do setor produtivo cedia espaço para o capitalismo financeiro. Uma das características do capitalismo industrial concorrencial era a exportação de mercadorias. No capitalismo moderno, onde predomina