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RESENHA ALIENISTA

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Nome: Matheus Weis T3
O ALIENISTA
	A obra de Machado de Assis, o Alienista, faz uma crítica social sobre a aplicação da medicina em seu tempo e retrata quais são os potenciais riscos da aplicação da ciência, de forma fervorosa e sem autocrítica, pode ocasionar negativamente para a sociedade. Através da trajetória de um profissional médico, recém-formado, que ganha o direito, concedido pelas autoridades públicas, de aplicar suas teorias acerca da saúde mental na população e acaba por internar quase a totalidade da população, o autor propõe uma crítica aos métodos utilizados naquele momento. 
	. Através do personagem Dr. Simão Bacamarte é realizado um retrato sobre a percepção social do médico, mas especificamente do cientista, abordando sua posição de prestígio sobre a sociedade, de conduta ética, aqui retratada, pelo menos em um primeiro momento, como inquestionável. É certo que o indivíduo que domine as técnicas e os procedimentos do processo de cura, historicamente, na abordagem científica ou mesmo religiosa, ocupa essa posição de prestígio e respeito do grupo social em que pertence. A doença é representa um período de grande aflição na trajetória de vida do ser humano, é compreensível, portanto, a importância social depositada historicamente sobre os profissionais da saúde.
	Essa representação histórica implicada na necessidade dessas pessoas em agir com responsabilidade em seus atos profissionais, podendo atuar como agente de atos que tragam benefícios ou prejuízos a pessoas por ele atendido. Contrariando esse princípio, Simão Bacamarte, o protagonista dessa obra, aproveita de sua condição social para autoritariamente decidir sobre a saúde mental dos seus conterrâneos. Essa postura de patriarcal, de decidir monocraticamente sobre decisões de vida dos pacientes, não é o que se espera de qualquer profissional na atualidade e vem sendo debatida na formação dos novos profissionais da saúde que chegam ao mercado.
	 Mesmo que, supostamente, seja embasado no progresso da ciência, o personagem não deveria ter transposto os principais e mais fundamentais direitos humanos, decidindo monocraticamente, pela internações de pessoas, restringindo sua liberdade e o direito de autodeterminação dessas pessoas. É certo que nem todos os indivíduos possuem condições de decidirem sobre si próprio, e que internações compulsórias podem ser uma ferramenta de auxílio, desde que obedecendo critérios mínimos determinados pela sociedade, o que certamente não acontecia nesse caso.
	É necessário se atentar para o aspecto que o ser humano, mesmo que bem-intencionado e dedicando esforço na busca de diminuir seus erros, é, sim, sujeito a erros na sua conduta. Se todos somos sujeitos a erros, é curioso o fato da cidade de Itaguaí, e até mesmo seus representantes legais, os vereadores e a Câmara Municipal, tenham autorizado uma única pessoa, mesmo que detentora de notáveis formações acadêmicos e prestígio social, a delegar de maneira unilateral sobre a saúde mental da população, podendo determinar sua internação da Casa Verde.
	Possivelmente embasado no prestígio social da profissão, e na condição de ter estudado no exterior, o protagonista alcançou essa posição de poder e conseguiu avançar com seus ideais até a situação ter se agravado consideravelmente. Não há menção na obra de uma má intenção clara de Simão Bacamarte, pelo contrário, ele demonstra estar convicto que seus atos são em nome do progresso da ciência e pela saúde dessas mesmas pessoas que ele aprisionou. Mas não por isso menos graves, as ações do personagem, baseada na aplicação sem autocrítica de suas teorias, e sem qualquer forma de controle social, ocasionou uma convulsão social na cidade.
	Se mesmo bem-intencionados podemos cometer erros graves, surge, então, o questionamento sobre como avaliar as consequências das nossas práticas sobre a sociedade, mas principalmente com os que nos cercam mais diretamente. No atendimento clínico, nenhuma medida terapêutica deve ser imposta, mas é dever do profossional, sim, apontar o melhor trajetória que acredita-se ser eficaz para a situação que se apresenta. Não é nenhum demérito, portanto, se essa pessoa decidir seguir por outro caminho ou até mesmo ser atendida por outro profissional. Do contrário não se respeitaria o direito de cada pessoa decidir sobre sua própria vida.
	Por essa razão, os profissionais da saúde devem realizar, de maneira constante, um processo de reflexão acerca de suas atitudes e, consequentemente, das consequências para as pessoas atendidas por ele. Não há mais espaço para decisões com rompantes autoritários dos profissionais quando se trata de promoção à saúde, não é possível relevar os aspectos que tornam cada pessoa um ser humano como singular em seu meio. O protagonista dessa obra, por diversas vezes, desconsidera os aspectos humanos e passa a visualizar as pessoas em sua volta como meras ferramentas de teste para validação de seu teoria. Os moradores do local, bem como suas autoridades, erraram, também, ao não estabelecer nenhuma forma de controle e fiscalização dos atos do profissional em questão.
	Mas se o ser humano, então, for sujeito a erros, invariavelmente, e considerando que a sociedade é constituida por um conjunto dessas pessoas, poderia surgir, então, o questionamento se a sociedade seria capaz de determinar um ‘limite’ para a atuação de pessoas como Simão Bacamarte, se ela mesmo está exposta a falhas. Possivelmente, se os vereadores de o ‘O Alienista’ tivessem delegado a, no mínimo, um grupo de profissionais as decisões sobre a saúde mental, a situação abusiva das internações não teria evoluído ao ponto de chegou.
	Mesmo sendo suscetível a erros, um grupo possui a tendência de abranger uma maior pluralidade de opiniões e de buscar consensos na aplicação de suas medidas. Certamente, alguém com grande convívio sobre essas decisões notaria exageros na conduta de internações mais antecipadamente que a própria população demrou para perceber na história e poderia, no próprio grupo, propor uma resistência a essas decisões e, mesmo que falhasse, poderia tornar público, a situação que constatou, ao restante da população em menor tempo.
	Entre as medidas defendidas pelo protagonista está a Casa Verde, tratada no conto como uma inovação no tratamento de pessoas com o transtorno mental. Nessa mesma história o local já é vista com medo pela população, que temia cair na avaliação do médico e perder sua liberdade. As internações em instituições com caráter asilar, demonstraram ser, com o passar dos anos, locais de perda de autonomia e até mesmo de individualidade pelas pessoas ali atendidas. O modelo de assistência à saúde que vigora no país busca, justamente, desestimular a internação a longo prazo, claramente uma contraponto com a teoria do Alienista, restringindo as internações a episódios pontuais quando sua necessidade fica demonstrada, sempre há curto prazo, e somente a partir determinação do profissional de saúde responsável.
	Ainda hoje a imprensa notícia casos de abuso de autoridade que, mesmo em pequenas proporções, causa prejuízos, deve ser combatida e deve ser alvo de debate pelo setores sociais que integram o país. A sociedade caminha, de modo geral, e mesmo que em alguns episódios haja demonstração ao contrário, para um melhor tratamento de pessoas com transtornos mentais e, principalmente, na criação de mecanismos que buscam coibir o abuso de qualquer forma de autoridade sobre a população. Os pacientes com transtornos mentais, nos dias atuais, são vistos como participantes ativos na sociedade, possuindo o direito de conviver e relacionar com os seus familiares e seu entorno social.
	O conto ainda retrata a total dedicação do cientista às suas pesquisas, não desenvolvendo claramente um vínculo afetivo profundo com os personagens. Mesmo sendo casado, a escolha da esposa foi decidida exclusivamente por critérios biológicos, condições de poder gerar filhos saudáveis, e quando, em algum momento, ela representou algum obstáculo, Simão rapidamente arrumava alguma pretexto
para mantê-la longe, seja por viagem ao Rio de Janeiro ou mesmo a internação. O médico, ao restringir seus ideais apenas a abordagem científica, e torna lós de certa forma como sua própria vida, perdeu as características humanas de vínculo, do desenvolvimento de laços afetivos com seus iguais.
	A ciência, ao longo da história, vem produzindo avanços consideráveis na vida humana, de modo que, a sociedade como conhecemos, é resultado dessas conquistas oriundas dos séculos passados. E é de essencial importância o domínio do conhecimento científico por parte dos médicos, mas, acima de tudo, não deve ser desconsiderado que a compreensão do ser humano vai muito além do conhecimento anatômico ou fisiológico da espécie em si. 
	O Alienista, publicado pela primeira vez no século XIX, retrata, portanto, o monopólio do conhecimento científico como critério para ações na medicina humana. Ainda hoje, um grande desafio para os médicos contemporâneo, e para os currículos acadêmicos, é aliar o conhecimento técnico com a habilidade de comunicação e a compreensão do ser humano na sua singularidade. Apesar do debate sobre essa questão ser consideravelmente antigo, o próprio conto representa esse dado, as primeiras tentativas concretas de mudanças ocorreram ao longo das últimas décadas no nosso país. 
	É necessário ouvir os diversos setores da sociedade em busca da modificação do atendimento à saúde, da humanização e da formação de novos profissionais que saibam trabalhar com essas novas diretrizes. Um profissional que compreenda a saúde como uma construção coletiva de uma equipe multiprofissional, que una esforços e consiga alcançar consensos juntamente ao paciente, para que a transposição do conhecimento para a realidade ocorra de maneira não traumática e benéfica para os indivíduos envolvidos na relação.
	A sociedade, por sua vez, tem na Constituição de 1988 o direito assegurado de participar ativamente na gestão da saúde pública a partir dos Conselhos e Conferências de Saúde promovidos pelos gestores locais, estudais e nacionais do Sistema Único de Saúde. É a partir dessa contribuição que o próprio sistema público pode apontar suas falhas e procurar seu aprimoramento em busca de melhorias para toda a população brasileira.

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