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BION E FREUD

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A “DINÂMICA DE GRUPOS” DE BION E FREUD 
A Trajetória dos Grupos de Bion Psiquiatra militar durante a segunda guerra mundial e ex-combatente da primeira guerra, Bion iniciou seus trabalhos com grupos na ala de reabilitação de militares do Hospital Northfield (durante a segunda guerra mundial) e, depois, estudou inúmeros grupos terapêuticos na Clínica Tavistock e em seu consultório. Ele a divide em períodos: o período grupal, o período psicótico, o período epistemológico e o último período. O Grupo de Northfield Bion foi designado como psiquiatra para a ala de reabilitação do Hospital Northfield, durante a segunda guerra mundial. Neste pavilhão ele contava com pacientes que já haviam passado pelo pavilhão de tratamento e, sua função original era apenas de supervisão. Ele iniciou seu trabalho rompendo com a função e o papel que desempenhava, baixando regulamentos para os internos que seguiam as seguintes diretrizes: 
a) Haveria uma hora diária de treinamento físico;
b) Os internos se organizariam em um ou mais grupos de atividades determinadas; A “Dinâmica de Grupos” de Bion e as Organizações de Trabalho 279 
c) Novos grupos poderiam ser formados mediante o interesse dos internos;
 d) Os internos que se considerassem incapazes iriam para a sala de repouso, onde haveria leitura, escrita, jogos de damas e conversas em voz baixa para não perturbarem os demais;
 e) Haveria uma formatura de 30 minutos às 12h10min horas onde Bion esperava que os pacientes pudessem se tornar expectadores do que estava acontecendo. Bion adotou a postura de evitar resolver os conflitos que começassem a surgir e a de evitar interferir até que os reclamantes tivessem amadurecido os problemas e suas soluções
 Criou-se um grupo de limpeza (que ele avaliava como uma manifestação neurótica) e um grupo de dança (que ele entendeu estar associado a uma sensação de inferioridade com relação às mulheres). 
Ele procurava convencer “grupos de doentes a aceitar como tarefa o estudo de suas tensões”. Como, aparentemente, o grupo não tinha nada a fazer, tinha tempo para observar um fenômeno análogo ao da associação livre. Os participantes se voltavam a ele esperando que ele fizesse alguma coisa. Baseado na psicanálise, Bion enfrentava esta espera com uma interpretação. Transformado no centro do grupo, ele comunicava aos outros participantes o que sentia na situação. (Bléandonu, 1993,) Ele se expressava em uma linguagem clara e direta, fazendo-se compreender por todos os membros do grupo. Destes grupos Bion retirou o material empírico para constituir a sua teoria de funcionamento dos grupos.
Grupo de trabalho
O grupo de trabalho é a reunião de pessoas para a realização de uma tarefa especifica, onde se consegue manter um nível redefinido de comportamento distinguido pela cooperação. Cada um dos membros contribui com o grupo de acordo com suas capacidades individuais, e neste caso, consegue-se um bom espírito de grupo. Para Bion o espírito de grupo se trata de:
· A existência de um propósito comum;
· Reconhecimento comum dos limites de cada membro, sua posição e sua função em relação ás unidades e grupos maiores;
· Distinção entre os subgrupos internos;
· Valorização dos membros individuais por suas contribuições ao grupo;
· Liberdade de locomoção dos membros individuais dentro do grupo;
· Capacidade do grupo de enfrentar descontentamentos dentro de si e de ter meios de lidar com ele;
Um grupo se encontra em trabalho terapêutico quando ele adquire conhecimentos e experiências sobre os fatores que contribuem para o desenvolvimento de um bom espírito de grupo.
Na visão deste autor, o grupo é essencial para a realização da vida mental do homem – tão essencial para isto quanto para a economia e a guerra.
Entretanto, o grupo que ele foi observando na sua experiência clinica não se comportavam desta forma. Eles pareciam mobilizados por forças estranhas, que levavam os participantes a agirem de formas diversas à que era esperada deles na busca da realização dos objetivos em torno dos quais eles próprios concordam em reunir-se. Este fenômeno levou- o a observar atentamente aquilo que ele denominou inicialmente como mentalidade de grupos.
Para que pudesse entender melhor os aspectos ocorridos em grupo, Bion utilizou-se da criação de algumas expressões, como por exemplo, Mentalidade grupal que é a atividade mental desenvolvida dentro de um grupo. Significa o funcionamento do grupo como uma unidade, mesmo que os membros não tenham consciência disso. É uma atividade mental coletiva própria e que muitas das vezes se conflita com a mentalidade de cada um dos indivíduos componentes do todo grupal. É definida por Bion como: “a expressão unânime da vontade do grupo, à qual o indivíduo contribui por maneiras das quais ele não se dá conta, influenciando-o desagradavelmente sempre que ele pensa ou se comporta de um modo que varie de acordo com os pressupostos básicos”, ou seja, o indivíduo contribui com o grupo não percebendo quando pensa e se comporta favoravelmente a vontade do grupo. Ela funcionaria de forma parecida ao inconsciente para o indivíduo.
 Em suas pesquisas, Bion destaca diversas situações nas quais o grupo parece estar mobilizado pela mentalidade de grupo, como por exemplo: conversas banais, ausência de crítica, situações “sobrecarregadas de emoções” que podem exercer influência sobre o indivíduo e a irracionalidade do grupo. Bion também criou a expressão Cultura grupal que é a forma que o grupo reage aos efeitos da mentalidade do grupo elaborando uma cultura própria sua Bion usou essa expressão para descrever os aspectos que nasciam do conflito entre a mentalidade do grupo e as vontades do indivíduo. Bion também utiliza o termo “padrão de comportamento” para definir a mentalidade dos grupos. 
Este conceito articula a idéia de herança genética às contribuições dadas pela cultura, diferentemente do conceito de instinto. Podendo ser comparado ao inconsciente coletivo de Jung, onde ele não desenvolve individualmente, é herdado. É um conjunto de sentimentos, pensamentos e lembranças compartilhadas por toda a humanidade. Ao prosseguir seus estudos, Bion foi distinguindo três padrões distintos, mas intercambiáveis, que seriam uma constante na mentalidade de grupos. Ele os denominou pressupostos básicos. A teoria dos pressupostos básicos possui suas raízes na teoria freudiana, que tenta explicar os fenômenos grupais a partir da libido (instinto sexual).
Um dos primeiros fenômenos observados por Bion (1975) foi à demanda que seus grupos apresentavam por um líder, capaz de satisfazer aos seus membros. “O grupo é bastante incapaz de enfrentar as emoções dentro dele, sem acreditar que possui alguma espécie de Deus que é inteiramente responsável por tudo o que acontece”. Este pressuposto básico é o de que “existe um objeto externo cuja função é fornecer segurança para o organismo imaturo”. Este objeto pode ser uma pessoa, uma idéia ou a história do grupo. O líder que age segundo este pressuposto básico se comporta como se fosse “onipotente” ou “onisciente”, características próprias de uma divindade. Bion (1975) acredita que as pessoas aceitam estar em um grupo de dependência para “evitar experiências emocionais peculiares aos grupos de acasalamento e de luta-fuga”. 
Características: Dependência
√ Objetivo principal é atingir a segurança e ter seus membros protegidos por um indivíduo;
√ Evidencia que os indivíduos procuram os grupos pela necessidade primária de segurança;
√ Esta fase caracteriza-se pela necessidade de ter alguém que diga o que o grupo deve fazer, centrando o poder sobre alguém que geralmente é a figura de autoridade;  
√ Existe também a necessidade de se estabelecer normas de funcionamento que sejam respeitadas por todos do grupo. 
O segundo pressuposto básico é o de luta-fuga e pode ser exposto da seguinte forma: “estamos reunidos para lutar com alguma coisa ou dela fugir”. Os membros do grupo discutem sobre pessoas ausentes (que são um perigo para a coerência do grupo),estão tomados pela sensação de que a adesão do grupo é um fim em si mesmo. Eles ignoram outras atividades, que não sejam este debate infrutífero, fogem delas.
Características: Luta e Fuga
√ Refere-se ao desejo de não mais depender, a relação de dependência é vista como ameaça e a forma de neutralizá-la passa a ser a luta ou fuga do grupo; 
√ A ação é essencial tanto para a luta como para a fuga. 
√ Nesta fase a luta e fuga, consciente ou inconsciente, o grupo demonstra seu desconforto com manifestações de sentimentos de raiva, hostilidade e agressividade dirigidas aos membros internos ou ainda para o líder;
√ Os conflitos tornam-se mais presentes e se acentuam as diferenças individuais;
√ Esta fase aparece aspectos de natureza paranóide e assim requer uma liderança com características tirânicas que defende o suposto inimigo ameaçador. 
O terceiro pressuposto básico identificado por Bion denominou como “acasalamento” em uma clara acepção à origem psicanalítica do termo. O grupo de acasalamento foi inicialmente observado em pares que conversavam assuntos diversos, à parte, sem que o grupo se incomodasse com eles ou chamasse a sua atenção, aceitando-os. O líder do grupo, neste pressuposto básico, está por nascer, e pode ser uma “pessoa ou idéia” que salvará o grupo. Bion entende que esta “salvação” é, na verdade, dos sentimentos de ódio, destrutividade e desespero com relação ao seu próprio grupo ou a outro. Os membros de um grupo que está agindo sob a influência deste pressuposto básico, de forma geral, não estabelecem conversas com o “líder formal” ou chefe do grupo. A emoção mais presente no grupo de acasalamento é a esperança, e a atenção de seus membros, acha-se voltada ao tempo futuro.
Características: Acasalamento
√ Estágio onde os membros do grupo já não se sentem ameaçados e buscam uma forma mais saudável de se agrupar com vistas ao Ideal de grupo; 
√ Surge maturidade para lidar com os conflitos, com as diferenças individuais, as incertezas, as emoções e com todas as outras variáveis; 
√ Esta fase de união significa que o grupo foi capaz de atingir o nível possível de realização, principalmente integrando as diferenças em prol de um objetivo comum que é a tarefa do grupo e não necessariamente que o grupo atingiu o ideal de grupo.
Para Freud...
Freud o fundador da psicanálise, durante sua carreira, nunca trabalhou diretamente com grupos. Mas sua contribuição para o entendimento psicanalítico de grupos foi fundamental, pois sua teoria serve de base para todas as outras que surgiram a partir dali.
Freud destaca ao longo de suas obras que a partir do inconsciente que a sociedade organiza as suas leis, também acredita que os processos identificam tórios vinculam o sujeito aos grupos existindo forças de coesão e desagregação, que às vezes unem, às vezes afastam os indivíduos dentro de um grupo.
Freud concorda que há uma influência dos fenômenos sócia na construção do sujeito.
Freud afirma que no decorrer da vida do indivíduo ele vai estar sempre se relacionando seja com um personagem do seu mundo psíquico, seja com o "outro" no mundo objetivo.
Freud supõe que o indivíduo perderia dentro da multidão sua capacidade de pensar por si mesmo. 
As idéias de Freud atendem tanto a demanda de um indivíduo quanto a de uma sociedade de grupos.
A influência, sobre o indivíduo, de um grande número de pessoas simultaneamente, pessoas com quem se acha ligado por algo, embora, sob outros aspectos e em muitos respeitos, possam ser-lhe estranhas.
Para Freud, a psicologia de grupo "interessa-se assim pelo indivíduo como membro de uma raça, de uma nação, de uma casta, de uma profissão, de uma instituição, ou como parte componente de uma multidão de pessoas que se organizaram em grupo, numa ocasião determinada, para um intuito definido".

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