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08 - UNIDADE VI

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UNIDADE VI. RESPONSABILIDADE CIVIL E EFEITOS DA SENTENÇA PENAL
6.1 – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS:
A responsabilidade civil é independente da criminal. Essa é a regra legal estabelecida na primeira parte do art. 935 do CC.
Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.
Frequentemente ambas as jurisdições são chamadas a decidir sobre o fato eu enseja demandas distintas. O Atropelamento da vítima, por exemplo, deu lugar a um processo criminal e a uma ação de indenização. Teremos, aí, e só então, a polêmica questão da interdependência das jurisdições penal e civil. 
Deve ressaltar que a segunda parte do art. 935 do dispõe: “.... não mais se poderá questionar no civil sobre a existência do fato, ou quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no crime.”
Esta norma tem por motivo a concepção unitária da jurisdição, que, dividida em muitos órgãos, subsiste fundamentalmente UNA.
A divisão em diversos órgãos, ou mesmo estruturas orgânicas especializadas, é meramente técnica e tem por fim dar a melhor solução às diferenças espécies de lides. Em decorrência dessa unidade da função jurisdicional, nem sempre é possível estabelecer uma total independência entre as instâncias penal e civil.
De outra parte, nos casos em que O FATO GERADOR da responsabilidade criminal e civil é uma UM SÓ, materialmente idêntico, a boa realização da justiça impões que a verdade sobre ele seja também UMA.
A ação penal e a indenizatória constituem, em última instância, um duplo processo de responsabilização pelo mesmo fato danoso, não sendo justificáveis decisões conflitantes. 
É regra básica admitida por todos os autores: A REPERCUSSÃO DA DECISÇÃO CRIMINAL NO JUÍZO CÍVEL naquilo que É COMUM às duas jurisdições e somente até este limite. O fato que não foi categoricamente afirmado ou negado no crime, a rigor, não foi julgado, sendo ampla a decisão do juízo cível a seu respeito.
6.2 – EFEITOS DA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA:
Entre os efeitos da condenação criminal, o CP , em seu art. 91, I, estabelece o de tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime. Vale dizer, condenado no crime, estará também o réu condenado no cível a reparar o dano. 
Ressalta-se que para alguns autores não seria possível falar aqui, em coisa julgada, pelos seguintes motivos:
1 – não houve pedido do ofendido nesse sentido;
2 – não houve formação de relação jurídico-processual com tal finalidade;
3 – não houve condenação expressa do juiz criminal;
4 – q coisa julgada afrontaria o princípio da separação da jurisdição penal e civil;
5 – a incompetência do juízo criminal para decidir matéria cível é absoluta, improrrogável;
6 – não há a tríplice identidade de partes, objeto e causa de pedir,sem o que não pode admitir a coisa julgada criminal com a mesma autoridade e eficácia no juízo cível.
Por essas e por outras razões, sustentam que a sentença penal condenatória funciona apenas como declaratória no tocante ao dever de indenizar, ou, no máximo, teria mero efeito preclusivo.
Ocorre que a lei pode passar por cima de tosas estas questões, e é o caso aqui patente.
OP art. 63 do CPP diz:
Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.
Por seu turno, o art. 475-N, II do CPC coloca a sentença penal condenatória transitada em julgado entre os títulos executivos judiciais.
6.3 – UNIDADE DA FALTA/ILÍCITO E VARIEDADE DE CONSEQUENCIAS:
O ilícito penal, não apresenta diferença substancial do ilícito civil. Ambos importam conduta voluntária (culposa ou dolosa) contrária à lei. A diferença entre ambos e apenas de grau. O ilícito penal é mais grave que o ilícito civil.
A punição de certos ilícitos na esfera do Direito Civil, ao invés de o serem na órbita do Direito Penal obedece a razões puramente de conveniência política.
Para o Direito Penal é transportado apenas o ilícito de maior gravidade objetiva ou que afeta mais diretamente o interesse público, passando assim, a ilícito penal.
O ilícito civil, de menor gravidade, não reclama a severidade da penal criminal, nem o vexatório stripitus judiciae.
É por isso que os autores falam em UNIDADE DE FALTA/ILÍCITO e variedade de consequências. O ato ilícito é um só, comum às esferas penal e civil; o que varia são as consequências a serem impostas ao infrator.
Daí a força preclusiva, verdadeira coisa julgada da sentença penal condenatória sobre as jurisdições civil e administrativa. Condenado pela falta mais grave, estará também o réu condenado pela falta residual ou menos grave. 
A instância criminal, mais exigente do que qualquer outra, até quanto a culpa, excede, naturalmente, todas as preocupações das demais jurisdições.
Tem-se em conta que a sentença penal condenatória tem força de coisa julgada apenas no eu diz respeito ao dever de indenizar, isto é, o na debeatur, já que o juízo criminal não cuida do valor da indenização. O quantum debeatur terá, pois que ser apurado no juízo cível mediante processo de liquidação da sentença.
A Lei 11.719/2008 alterou o art. 387, IV do CPP estabelecendo, de forma imperativa que na sentença condenatória criminal o juiz FIXARÁ VALOR MÍNIMO DOS DANOS CIVIS CAUSADOS pelo crime, a favor da vítima, mantendo certa a obrigação de indenizar estabelecida no art. 63, parágrafo único do CP
6.4 – A SENTENÇA PENAL ABSOLOUTÓRIA
No tocante à sentença penal absolutória, será preciso distinguir entre aquela que absolve o réu por falta de prova e aquela outra que o absolve por ter ficado provado não ser ele o autor do crime, ou que o fato não existiu.
6.4.1 – SENTENÇA ABSOLUTÓRIA FUNDADA EM PROVA DA INEXISTÊNCIA DO CRIME OU DA AUTORIA:
 Nestes dois casos a sentença penal absolutória tem força vinculativa sobre a instância civil. Trata disso a segunda parte do art. 935 CC “ a ação civil não poderá ser proposta quando a sentença penal absolutória tiver reconhecido, categoricamente, a inexistência material do fato”.
É fácil compreender a ratio legis: se o ilícito é o mesmo, se há UNIDADE DE FALTA, provado na justiça penal que o fato não existiu, ou que o acusado não foi o seu autor, vale dizer, não cometeu o crime, essas questões não mais poderão ser discutidas no cível.
O fato não pode existir no cível e inexistir no crime. O réu não pode ser considerado o seu autor no cível se a Justiça Criminal já o declarou que ele não foi o autor. 
Se assim não fosse, haveria colidência de decisões, incompatível com a lógica e a justiça. Se o FATO É O MESMO, repita-se, a boa realização da justiça impõe que A VERDADE SOBRE ELE SEJA TAMBÉM UMA.
6.4.2 – SENTENÇA ABSOLUTÓRIA FUNDADA EM FALTA DE PROVA:
O juiz criminal pode absolver o réu por falta de provas quanto: a) ao fato; b) à autoria; c) à culpa, Em nenhuma dessas hipóteses a sentença criminal repercutirá na esfera civil.
Por força da independência das responsabilidades civil e criminal, cada juiz aprecia livremente a prova dos autos e forma a sua convicção. Sendo assim, é perfeitamente possível que a prova produzida no processo penal seja insuficiente para uma condenação, mas suficiente a que produzida no cível. 
No que diz respeito à culpa, a sentença penal não vincula o juízo cível ainda que o juiz criminal absolva o réu por entender ter ficado provado que ele não teve culpa (e não por falta de prova).
Tenha-se sempre em mente que a culpa civil é menos grave que a penal, sem se falar nos caso de culpa presumida e até de responsabilidade objetiva, de sorte que não haverá nenhuma colisão ente uma absolvição criminal por inexistência de culpa e uma condenação cível.
Em suma, a absolvição criminal, quer por falta de prova, quer por ausência de culpa, não impede a ação de indenização, mas obriga o seu autor a produzirnova provas (do fato, da autoria, ou da culpa), sob pena de prevalecer a sentença penal. 
6.4.3 – SENTENÇA ABSOLUTÓRIA POR MOTIVO PECULIAR DO DIREITO PENAL:
O ilícito penal nem sempre coincide em seus elementos com o injusto civil. Além da sua maior gravidade, o crime está sujeito a princípios e institutos próprios, como o da reserva legal, da tipicidade, imputabilidade, culpabilidade etc., que podem ensejar a absolvição do réu.
Para todos esses casos pode-se estabelecer a seguinte regra: Sempre que a absolvição criminal tiver por fundamento motivo peculiar do Direito Penal (ou processo penal), a sentença não obsta à ação civil indenizatória.
Por exemplo, a morte do agente extingue a punibilidade, porque a pena não passa da pessoa do réu. Em nada afeta, todavia, a responsabilidade civil, porque, nesta, é o patrimônio do devedor que responde (e não a sua pessoa), de sorte que a ação indenizatória poderá ser ajuizada mesmo depois da morte do causador do dano, contra o seu espólio ou seus herdeiros, que responderão até a força da herança. 
6.4.4 – SENTENÇA ABSOLUTÓRIA FUNDADA EM EXCLUDENTE DE ILICITUDE:
O art. 65 do CPP diz “!faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de um direito.
Se não há distinção substancial entre ilícito penal e civil, logicamente , não haverá , também, distinção entre as causas que lá e cá excluem a ilicitude. Se o fato, em razão da incidência de uma dessas causas, deixa de ser ilícito na esfera penal, há que deixar de ser também na esfera civil.
Tanto é assim que o CC, tal como o CP, prevê as mesmas causas de exclusão de ilicitude em seu art. 188, ao dispor que não constituem atos ilícitos os praticados em legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de um direito.
Desta feita, reconhecida no crime a ocorrência de qualquer causa excludente de ilicitude, a questão torna-se preclusa no cível, onde não mais será possível discuti-la, nem fazer prova em sentido contrário.
O que há de peculiar nesta matéria é o que o CC em seu art. 929, não obstante configurado o estado de necessidade, manda indenizar o dono da coisa,pelo prejuízo que sofreu, se não for culpado do perigo, assegurando ao autor do dano o direito de regresso contra o terceiro que culposamente causou o perigo.
Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado.
Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188, inciso I).
6.5 – INDENIZAÇÃO POR ATO LÍCITO:
Autores há que consideram um contrassenso, verdadeiro paradoxo, a obrigação de indenizar o dano causado em estado de necessidade. 
Sustentam que a solução dos arts. 929 e 930 não deixa de estar em contradição com o art 188, , II, pois, enquanto este considera lícito o ato, aqueles obrigam o agente a indenizar.
Indaga-se: qual é a ideia dominante nessa construção jurídica? É que todo dano deve ser reparado, independentemente de culpa ou dolo. Intervindo culpa ou dolo, tem-se o ato ilícito, e o agente culpado ou doloso resonde pelo prejuízo causado.
Não havendo dolo ou culpa, o agente, ainda assim, obrigado a indenizar, salvo quando outrem se deve atribuir a culpa do ato danoso.
Se o culpado é o próprio dono da coisa deteriorada ou destruída, afasta-se, então, a ideia da indenização; ele sofre as consequências da sua culpa (art. 929).
Se o culpado é terceiro, o agente indeniza a quem for prejudicado, mas vai haver de quem , negligência, ou má-fé, criou a situação a quantia, que foi constrangido a pagar (art. 930).
Em suma, o que está em causa é uma questão elementar de JUSTIÇA COMUTATIVA, que se resume em saber quem é mai justo que suporte o dano, se o titular da coisa sacrificada ou do direito lesado, ou se aquele que se encontra em estado de necessidade. A lei optou por este último, desde o código de 1916, e nesse sentido se formou a jurisprudência.
6.5.1 TEORIAS ACERCA DA INDENIZAÇÃO DO ATO LÍCITO:
Existem três teorias para fundamentar a obrigação de indenizar diante da prática de um ato lícito que cause dano.
I – PRINCÍPIO DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA – sustentam que o ato praticado em estado de necessidade não fundamenta , de si só, a reparação civil, mas reconhecem , em face da alteração do direito do agente, que se traduza em vantagem para ele , e prejuízo de terceiro, a procedência da ação de in rem verso.
II – EXPROPRIAÇÃO PRIVADA
III – PRONCÍPIO DA EQUIDADE E SOLIDARIEDADE OU ASSITÊNCIA SOCIAL
6.6 – SENTENÇA ABSOLUTÓROA DO JÚRI:
 A decisão dos jurados, nãomotivada. Quando o Júri absolve, nunca se sabe se foi ou não por insuficiência de provas. Poderá até mesmo ocorrer decisão absolutória manifestamente contrária à prova dos autos. Por isso, tem-se entendido que a decisão absolutória do Júri sobre a questão do fato e da autoria, por não ser fundamentada, não tem nenhuma influência no juízo cível.
O que se conclui é que onde não houver sentença fundamentada, ou pelo menos circunstanciada, como no caso de legítima defesa, não é admissível que essa sentença venha a possuir a virtude de caracterizar uma divergência , a ponto de legitimar a influência sobre a outra instância. A razão é óbvia: O FUNDAMENTO DA REGRA É QUE AS DUAS JURISDIÇÕES NÃO SE PODEM DESINTEGRAR UMA DA OUTRA, DIVERGINDO NAQUILO QUE CONSTITUI A SUA MATÉRIA COMUM, QUE É A IDENTIDADE DO FATO MATERIAL.
6.7 – SOBRESTAMENTO DO PROCESSO CIVIL:
A ação indenizatória, em face do princípio da independência das instâncias civil e penal, pode ser ajuizada independentemente do ajuizamento da ação penal, ou mesmo no seu curso. Importa dizer que a vítima não precisa aguardar a decisão no Crime para pleitear a reparação do dano.
O CPP é expresso a esse respeito em seu art. 64 “A ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for o caso, contra o responsável civil”.
Excepcionalmente, a lei faculta (e não obriga) o sobrestamento da ação civil para aguardar o julgamento da ação penal (CPP art. 64, parágrafo único).
Isso só pode ser feito, todavia, nos casos e forma previstos no CPC, cujo art 110 dispõe que o sobrestamento do processo civil é admissível quando o conhecimento da lide depender necessariamente da verificação da existência de fato delituoso, isto é, constituir-se em autêntica questão prejudicial. 
Mesmo assim, o sobrestamento não pode Sr por prazo superior a um ano consoante o art. 265 , § 5º CPC.
Conclui-se desses dispositivos do CPC que a ação indenizatória jamais deverá ser sobrestada quando não existir dúvida quanto à existência do fato delituoso, nem quando inexistir possibilidade de decisões conflitantes.
6.8 – REPERCUSSÃO DA SENTENÇA PENAL NA ESFERA ADMINISTRATIVA:
No que respeita à repercussão da decisão criminal sobre a órbita administrativa, é preciso verificar se a infração praticada pelo funcionário configura, ao mesmo tempo ilícito penal e administrativa ou, ou se apenas ilícito penal.
Na primeira hipótese, a condenação penal fará coisa julgada também na esfera administrativa.
Ocorrendo a absolvição do funcionário no crime, nem por isso ficará livre de uma eventual punição administrativa, salvo se o juízo penal proclamar a inexistência do fato, ou que o servidor não foi o seu autor.
Mutatis mutandis, o ilícito administrativo é também um minus em relação ao penal, pelo que , embora não configurado o crime, poderá subsistir a infração administrativa.
A decisão penal só tem repercussão sobre a decisão administrativa quando nega a autoria do fato atribuído ao servidor público,quando se trata de inexistência do fato ou que houve o fato, mas o funcionário não é o seu autor
 
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