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Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 1 RECURSO EM SENTIDO ESTRITO (RESE) 1. CONCEITO E CARACTERÍSTICAS O Recurso em Sentido Estrito é o recurso através do qual se busca o reexame da decisão, despacho ou sentença do juiz, permitindo a este, um novo pronunciamento, nas hipóteses taxativamente previstas em lei. Entretanto, deve-se ter muito cuidado para não confundir quando será cabível o Recurso em Sentido Estrito ou o recurso de Apelação (este recurso será ainda explicado em um momento próprio), podendo-se fazer a seguinte diferenciação para não confundir a utilização destes dois recursos: • REGRA GERAL se a decisão for de mérito caberá APELAÇÃO e se for decisão interlocutória caberá RESE. (Esta DICA NÃO se aplica às decisões proferidas pelo Tribunal do Júri). • Também para saber se caberá RESE ou APELAÇÃO deve-se verificar se já existe uma sentença, pois, a depender do tipo de sentença, caberá um ou outro recurso. A doutrina ensina que pode haver os seguintes tipos de sentença: ► Sentença Stricto Sensu ou Sentença em termo próprio – é a decisão judicial propriamente dita sobre o mérito do feito, é a sentença que decide o MÉRITO da questão, decidindo de forma intrínseca as questões do processo. Desta sentença, via de regra, caberá Apelação. Vale lembrar que existe a seguinte classificação deste tipo de sentença: Sentença Absolutória Própria ou Perfeita Sentença Absolutória Imprópria ou Imperfeita Sentença Condenatória O juiz absolve o réu inocentando-o. É aquela que inocenta o acusado e O réu também é inocentado, mas a ele é imputada alguma medida São as sentenças em que o agente é responsabilizado criminalmente, existindo a Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 2 não acarreta mais nenhum ônus do ponto de vista penal. de segurança, normalmente será aplicada esta. aplicação de uma pena. Há o acolhimento da pretensão punitiva. OBS.: Medida de Segurança NÃO é pena, tendo em vista que a pena tem a ideia de reeducação do apenado, já a medida de segurança tem fins curativos. ► Sentença Latu Sensu – é qualquer decisão do juiz que NÃO resolva o MÉRITO, como as decisões interlocutórias. Todas as sentenças que foram feitas antes de decidir o feito serão consideradas sentenças latu sensu. Tal sentença é sinônimo de toda e qualquer sentença interlocutória, tudo que seja decisão emanada do juiz e que não verse sobre o mérito do feito. Como já foi dito, desta sentença, via de regra, caberá RESE. Como se pode observar, saber o tipo de sentença que foi proferida é de suma importância para poder identificar se será cabível o RESE. Além disso, o RESE possui outras características que podem ser cobradas tanto em questões práticas quanto em questões dissertativas nas provas da OAB e, por esta razão, serão devidamente explicadas. O prazo do RESE, via de regra, é de 5 dias para oferecer a petição de interposição e 2 dias para oferecer as razões do recurso, conforme arts. 586 e 588 do CPP, respectivamente. Art. 586. O recurso voluntário poderá ser interposto no prazo de cinco dias. Parágrafo único. No caso do art. 581, XIV, o prazo será de vinte dias, contado da data da publicação definitiva da lista de jurados. Art. 588. Dentro de dois dias, contados da interposição do recurso, ou do dia em que o escrivão, extraído o traslado, o fizer com vista ao recorrente, este oferecerá as razões e, em seguida, será aberta vista ao recorrido por igual prazo. Parágrafo único. Se o recorrido for o réu, será intimado do prazo na pessoa do defensor. Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 3 Excepcionalmente, o RESE terá o prazo de 20 dias para ser interposto, já com as razões inclusas, no caso de decisão que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir (art. 581, XIV), contado da data da publicação definitiva da lista de jurados, conforme art. 586, parágrafo único do CPP. No que se refere ao endereçamento do RESE, via de regra, a petição de interposição do RESE é endereçada ao juiz do feito, e as razões para o Tribunal respectivo (TJ ou TRF). A exceção é no caso de decisão que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir (Art. 581, XIV), quando a petição de interposição será endereçada ao Presidente do Tribunal (TJ ou TRF), assim como as razões. Por fim, outra característica peculiar do Recurso em Sentido Estrito é a de que ele possui efeito regressivo, pois o juiz do feito pode, após tomar conhecimento das razões e contrarrazões das partes, reavaliar e modificar sua decisão. Ou seja, no RESE é permitido ao próprio juiz prolator da decisão recorrida retratar-se desta antes da remessa do recurso ao juízo ad quem, nos exatos moldes do art. 589 do Código de Processo Penal. Art. 589. Com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz, que, dentro de dois dias, reformará ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso com os traslados que Ihe parecerem necessários. Parágrafo único. Se o juiz reformar o despacho recorrido, a parte contrária, por simples petição, poderá recorrer da nova decisão, se couber recurso, não sendo mais lícito ao juiz modificá-la. Neste caso, independentemente de novos arrazoados, subirá o recurso nos próprios autos ou em traslado. De forma resumida, pode-se fazer o seguinte esquema: O RESE é composto de duas peças: PETIÇÃO DE INTERPOSIÇÃO • Dirigida ao juiz da vara criminal que proferiu a sentença; Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 4 • No caso de inclusão ou exclusão do jurado, deve ser dirigida ao Presidente do Tribunal; • Deve ser pedido o recebimento e o processamento do RESE, a reforma da decisão recorrida e que, caso seja mantida a decisão, seja feita a remessa ao Tribunal competente. RAZÕES • Dirigida ao Tribunal competente; • Deve-se requerer o provimento do recurso e a reforma da decisão prolatada. ► O acusado deve ser intimado para apresentar suas contrarrazões no prazo de 2 dias. ► Caso o juiz venha a reformar sua decisão, caberá ao recorrido intentar petição, no prazo de 5 dias, para subida dos autos. Caso o magistrado não modifique a decisão, deverá ele mesmo fazer a remessa dos autos à instância superior. PARA FACILITAR: 1ª HIPÓTESE RESE ⇨ prazo de 5 dias (regra geral) para a interposição ⇨ 2 dias para as razões ⇨ intimação do acusado ⇨ 2 dias para contrarrazões ⇨ Juiz reforma a sua decisão ⇨ recorrido tem 5 dias para peticionar a subida dos autos. 2ª HIPOTESE RESE ⇨ prazo de 5 dias (regra geral) para a interposição ⇨ 2 dias para as razões ⇨ intimação do acusado ⇨ 2 dias para contrarrazões ⇨> Juiz não reforma a sua decisão ⇨ Juiz remete os autos a instância superior. 2. HIPÓTESES DE CABIMENTO DO RESE É de suma importância lembrar-se de que o rol das hipóteses de cabimento do RESE é TAXATIVO. Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 5 Vale ressaltar, também, que algumas das situações elencadas no artigo 581 do Código de Processo Penal não comportam mais RESE, submetendo-se ao Agravo em Execução. Outras, simplesmente não possuem mais aplicação prática ou foram revogadas tacitamente por outros dispositivos legais. Posto isto, vale analisar as hipóteses de cabimento do RESE que ainda estão plenamente em vigor: A) DECISÃO QUE NÃO RECEBER DENÚNCIA OU QUEIXA (ART. 581, I, CPP). Esta hipótese de RESE será cabível todas as vezes que a denúncia ou queixa for rejeitada nos termos do art. 395 do Código de Processo Penal, ou seja, basta que haja a rejeição liminar da denúncia ou queixa com fundamento nas hipóteses desteartigo para ser cabível o RESE. OBS.: Admite a jurisprudência, também, ser cabível o RESE com tal fundamento quando a decisão rejeita o aditamento da denúncia. HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO ORIGINÁRIA. SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO ESPECIAL CABÍVEL. IMPOSSIBILIDADE. RESPEITO AO SISTEMA RECURSAL PREVISTO NA CARTA MAGNA. NÃO CONHECIMENTO. 1. Com o intuito de homenagear o sistema criado pelo Poder Constituinte Originário para a impugnação das decisões judiciais, necessária a racionalização da utilização do habeas corpus, o qual não deve ser admitido para contestar decisão contra a qual exista previsão de recurso específico no ordenamento jurídico. 2. Tendo em vista que a impetração aponta como ato coator acórdão proferido por ocasião do julgamento de apelação criminal, contra a qual seria cabível a interposição do recurso especial, depara- se com flagrante utilização inadequada da via eleita, circunstância que impede o seu conhecimento. Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 6 3. Tratando-se de writ impetrado antes da alteração do entendimento jurisprudencial, o alegado constrangimento ilegal será enfrentado para que se analise a possibilidade de eventual concessão de habeas corpus de ofício. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL (ARTIGOS 66 E 67 DA LEI 9.605/1998). DECLINAÇÃO DA COMPETÊNCIA PELO JUÍZO FEDERAL. REJEIÇÃO DO ADITAMENTO À DENÚNCIA. PROVIMENTO DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO INTERPOSTO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. DETERMINAÇÃO DE RECEBIMENTO DA INICIAL E DO ADITAMENTO. AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO DO JUÍZO SINGULAR SOBRE O ACOLHIMENTO DA VESTIBULAR. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO. 1. O verbete 709 da Súmula do Supremo Tribunal Federal estabelece que “salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela”. 2. No caso dos autos, o magistrado singular realizou apenas o juízo de admissibilidade do aditamento à exordial, não tendo tecido qualquer consideração sobre a possibilidade de acolhimento ou não da denúncia inicialmente ofertada, uma vez que se declarou incompetente para processar e julgar os delitos nela narrados. 3. Não havendo juízo prévio do magistrado a quo acerca da possibilidade ou não de acolhimento da denúncia, o que foi feito apenas no que se refere ao aditamento proposto, impossível o recebimento direto pela segunda instância, não sendo possível a aplicação do verbete 709 da Súmula do Supremo Tribunal Federal, sob pena de supressão da instância. 4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício apenas para anular o acórdão impugnado no que se refere ao Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 7 recebimento da denúncia, mantendo-se o recebimento do aditamento à inicial e determinando-se que o magistrado singular decida acerca do processamento da incoativa nos termos do artigo 395 do Código de Processo Penal (HC 241677/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 19/11/2013, DJe 04/12/2013) Vale lembrar que não existe recurso previsto expressamente no Código de Processo Penal para a decisão que recebe a denúncia ou a queixa, sendo possível a parte intentar habeas corpus como ação autônoma, no intuito de trancar a ação penal. Por fim, havendo a interposição do RESE por parte da acusação, o denunciado deve ser intimado para apresentar suas contrarrazões, ainda que não exista sequer processo, tendo por fundamento a manutenção da ampla defesa. OBS.: Em caso de crimes de competência dos Juizados Especiais Criminais a rejeição da denúncia ou queixa ensejará APELAÇÃO, nos termos do art. 82 da Lei nº 9099/95 e o prazo será de 10 DIAS. Neste sentido vale lembrar o teor deste artigo: Art. 82 da Lei nº 9099\95 – Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado. § 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença pelo Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente. § 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias. Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 8 B) DECISÃO QUE CONCLUIR PELA INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO (ART. 581, II, CPP) Aplica-se este caso, quando o reconhecimento da incompetência for feito de ofício pelo juiz, ou seja, o próprio juiz, por iniciativa pessoal e sem o requerimento de nenhuma das partes, entende que não é competente para julgar o feito e profere decisão alegando a incompetência do juízo. Deve-se ficar atento ao detalhe acima, pois caso o reconhecimento da incompetência seja decorrente da arguição de uma exceção, NÃO haverá a fundamentação do RESE com base no inciso II do art. 581 do CPP e sim com base no inciso III do artigo 581 do CPP. OBS.: Caso o magistrado conclua pela competência do juízo, não existe recurso cabível, podendo a defesa ingressar com habeas corpus, tendo por fundamento o princípio do juiz natural. C) DECISÃO QUE JULGAR PROCEDENTE AS EXCEÇÕES, SALVO A DE SUSPEIÇÃO (ART. 581, III, CPP) As exceções, conforme previsão do art. 95 do CPP, podem ser de suspeição (ou impedimento) incompetência do juízo, litispendência, ilegitimidade da parte e coisa julgada. No que se refere às exceções de incompetência do juízo, litispendência, ilegitimidade da parte e coisa julgada, elas são processadas em apartado e decididas pelo próprio juiz da causa, nos exatos termos do art. 111 do CPP. Caso o juiz da causa decida pela procedência destas exceções será cabível a interposição do RESE com fundamento no inciso III, do art. 581 do CPP. Em relação à decisão que julga procedente a exceção de incompetência do juízo, deve-se ter cuidado, tendo em vista que neste caso NÃO é o próprio juiz que decide de ofício pela incompetência do juízo (o que ensejaria a interposição do RESE com base no inciso II, do art. 581 do CPP) e sim a decisão de incompetência é motivada pela Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 9 interposição de uma exceção, ou seja, há o reconhecimento da incompetência do juízo através de um requerimento da parte. Por sua vez, no que diz respeito à decisão que julgar procedente a exceção de suspeição existe uma ressalva trazida pelo próprio inciso III, do art. 581 do CPP. Neste caso NÃO será cabível a interposição do RESE, tendo em vista que nesta hipótese o duplo grau de jurisdição será automático, podendo ocorrer as seguintes situações: 1ª) Caso o magistrado concorde com a exceção de suspeição, decretará a suspensão do processo e a remessa dos autos ao substituto. Neste momento ocorrerá um controle jurisdicional, realizado pelo Tribunal, pois cabe ao Presidente designar qual o magistrado será o substituto. 2ª) Caso o juiz discorde da exceção de suspeição, os autos, obrigatoriamente, devem ser encaminhados a instância superior. Vale transcrever os artigos do CPP relacionados à exceção de suspeição que abordam a questão referida: Art. 99 do CPP – Se reconhecer a suspeição, o juiz sustará a marcha do processo, mandará juntar aos autos a petição do recusante com os documentos que a instruam, e por despacho se declarará suspeito, ordenando a remessa dos autos ao substituto. Art. 100 do CPP – Não aceitando a suspeição, o juiz mandará autuar em apartado a petição, dará sua resposta dentro em três dias, podendo instruí-la e oferecertestemunhas, e, em seguida, determinará sejam os autos da exceção remetidos, dentro em vinte e quatro horas, ao juiz ou tribunal a quem competir o julgamento. OBS.: Caso o juiz decida pela rejeição da exceção, não existe recurso cabível, podendo ser intentado habeas corpus. D) DECISÃO QUE PRONUNCIAR O RÉU (ART. 581, IV, CPP) Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 10 Por expressa disposição legal, da decisão que pronunciar o réu caberá a interposição do RESE com base no inciso, IV, do art. 581 do Código de Processo Penal. OBS.: Em relação às decisões que podem ser proferidas em sede de Tribunal do Júri, vale lembrar a possibilidade de interposição dos seguintes recursos: • Pronúncia – cabe RESE com fundamento no art. 581, IV, do CPP. • Desclassificação – cabe RESE com fundamento no art. 581, II ou III, do CPP. • Impronúncia – cabe APELAÇÃO com fundamento no art. 416 do CPP. • Absolvição Sumária – cabe APELAÇÃO com fundamento no art. 416 do CPP. E) DECISÃO QUE CONCEDER, NEGAR, ARBITRAR, CASSAR OU JULGAR INIDÔNEA A FIANÇA, INDEFERIR REQUERIMENTO DE PRISÃO PREVENTIVA OU REVOGÁ-LA, CONCEDER LIBERDADE PROVISÓRIA OU RELAXAR A PRISÃO EM FLAGRANTE; (ART. 581, V, CPP) Toda vez que couber RESE no caso de fiança deve-se verificar quais são os casos em que não cabe fiança previstos nos arts. 323 e 324 do CPP. Vale a pena transcrever os arts. 323 e 324 do CPP, já que eles foram modificados com o advento da Lei nº 12.403 de 2011: Art. 323. Não será concedida fiança: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). I – nos crimes de racismo; II – nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; III – nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; IV – (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011) V – (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011) Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 11 I – aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código; II – em caso de prisão civil ou militar; III – (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011) IV – quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 312). Outro ponto relacionado à fiança que é de grande relevância é o de que o delegado de polícia, atualmente, poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas, nos exatos termos do art. 322, caput e parágrafo único do Código de Processo Penal. O candidato deve ficar atento ao detalhe de que somente caberá RESE do indeferimento da prisão preventiva, caso a sentença venha a decretar a preventiva deve- se pedir a revogação da prisão preventiva. Fique ligado nas alterações relacionadas à prisão preventiva, sendo os seguintes artigos de grande relevância: Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 12 impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4º). (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). I – nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). II – se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). III – se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). IV – (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 13 Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre motivada. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). OBS.: Caso a liberdade provisória seja negada, caberá a defesa intentar habeas corpus. OBS.: O assistente de acusação não é parte legítima para intentar RESE, nas hipóteses em que o juiz conceder liberdade ao réu. F) DECISÃO QUE JULGAR QUEBRADA A FIANÇA OU PERDIDA SEU VALOR (ART. 581, VI, CPP) As hipóteses que acarretam a perda ou quebramento da fiança, de acordo com o CPP, estão trazidas nos seguintes artigos do CPP: Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). I – regularmente intimado para ato do processo, deixar de comparecer, sem motivo justo; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). II – deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento do processo; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). III – descumprir medida cautelar imposta cumulativamente com a fiança; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). IV – resistir injustificadamente a ordem judicial; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). V – praticar nova infração penal dolosa. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). Art. 342. Se vier a ser reformado o julgamento em que se declarou quebrada a fiança, esta subsistirá em todos os seus efeitos. Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 14 Art. 343. O quebramento injustificado da fiança importará na perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz decidir sobre a imposição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a decretação da prisão preventiva. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da fiança, se, condenado, o acusado não se apresentar para o início do cumprimento da pena definitivamente imposta. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). Art. 345. No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas ascustas e mais encargos a que o acusado estiver obrigado, será recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). Art. 346. No caso de quebramento de fiança, feitas as deduções previstas no art. 345 deste Código, o valor restante será recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). G) DECISÃO QUE DECRETAR A PRESCRIÇÃO OU JULGAR, POR OUTRO MODO EXTINTA A PUNIBILIDADE (ART. 581, VIII, CPP) Normalmente quem utiliza esta hipótese de RESE é o promotor de justiça ou o Assistente de Acusação, já que a extinção de punibilidade é benéfica ao agente. H) DECISÃO QUE INDEFERIR O PEDIDO DE RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO OU DE OUTRA CAUSA EXTINTIVA DE PUNIBILIDADE (ART. 581, IX, CPP) Esta hipótese de RESE ocorrerá nos casos de existir uma decisão que denegar o reconhecimento de uma causa extintiva de punibilidade. Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 15 Deve o candidato sempre ir para o art. 107 do Código Penal para ver quais são as hipóteses de extinção de punibilidade e se houve, no caso concreto, o indeferimento do seu pedido de reconhecimento. Ex. Houve decadência ao direito de queixa, mas o juiz NÃO a reconheceu, neste caso será cabível a impetração de RESE. I) DECISÃO QUE CONCEDER OU NEGAR ORDEM DE HABEAS CORPUS (ART. 581, X, CPP) Desta hipótese de RESE a situação que interessa à defesa é o caso de negação de ordem de habeas corpus. Vale ressaltar que a negativa de seguimento do habeas corpus deve ser realizada por um juiz singular para poder caber o RESE. Deve-se ter cuidado com esta hipótese de RESE, pois caso o habeas corpus seja negado pelo Tribunal de Justiça, pelo TRF ou por Tribunais Superiores (STJ, STM ou TSE), NÃO caberá RESE e sim o Recurso Ordinário Constitucional (ROC), nos termos dos artigos 102, II, “a” e 105, II, “a” da Constituição Federal. Neste último caso, NÃO haverá supressão de instância em face de previsão constitucional expressa deste último recurso. Desta forma, sempre que for o caso de denegação de Habeas Corpus deve-se ir para o art. 102 CF e 105 CF para verificar se há uma situação que motivaria o Recurso Ordinário Constitucional (ROC) para o STF ou STJ a depender do caso. No caso de ser hipótese de ROC, este recurso vai ser impetrado diretamente no STF ou STJ, não havendo que se falar em supressão de instância. J) DECISÃO QUE ANULAR, TOTAL OU PARCIALMENTE, O PROCESSO DA INSTRUÇÃO CRIMINAL (ART. 581, XIII, CPP) Nesta hipótese de RESE, segundo a doutrina, o que importa é que houve a anulação de algum ato processual, ou de todo o processo, e não apenas a anulação da instrução criminal. Ou seja, a expressão “instrução” foi utilizada de forma ampla. Neste caso será cabível a impetração de RESE tanto pela acusação, quanto pela defesa, a depender do interesse. Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 16 K) DECISÃO QUE INCLUIR OU EXCLUIR JURADO DA LISTA GERAL (ART. 581, XIV, CPP) Existe uma grande peculiaridade nesta hipótese de RESE, pois o prazo para intentá-lo, neste caso, é de 20 dias, nos termos do art. 586, parágrafo único, do CPP, a contar da publicação definitiva da lista de jurados. Além disso, o endereçamento da petição de interposição e as das razões é feito diretamente ao Presidente do Tribunal e as razões do recurso, exclusivamente nesta hipótese, serão apresentadas dentro do prazo de 20 dias, NÃO havendo o prazo de 2 dias para apresentação das razões recursais, como ocorre nas demais hipóteses de RESE previstas ao teor do artigo 581 do CPP. Vale lembrar que qualquer pessoa é parte legítima para intentar RESE nesta hipótese, tendo em vista que a lista de jurados é de interesse coletivo ou difuso. L) DECISÃO QUE DENEGAR A APELAÇÃO OU JULGÁ-LA DESERTA (ART. 581, XV, CPP) A hipótese de denegação de apelação ainda está plenamente em vigor e ocorrerá todas as vezes que a apelação NÃO for recebida pela ausência de pressupostos recursais de admissibilidade. Não é mais cabível o instituto da deserção da apelação em decorrência da revogação do art. 594 CPP. Este artigo previa que caso o réu apresentasse apelação e depois viesse a fugir, haveria a deserção da apelação. Corroborando com este entendimento, o STJ editou a Súmula 347 que afirma que “o conhecimento de recurso de apelação do réu independe de sua prisão”, razão pela qual, também em sede jurisprudencial, a hipótese de cabimento de RESE diante de decisão que julgou a apelação deserta encontra-se superada. M) DECISÃO QUE ORDENAR A SUSPENSÃO DO PROCESSO POR QUESTÃO PREJUDICIAL (ART. 581, XV, CPP) Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 17 As questões prejudiciais estão previstas nos artigos 92 e 93 do CPP, razão pela qual vale a pena transcrevê-los: Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição das testemunhas e de outras provas de natureza urgente. Parágrafo único. Se for o crime de ação pública, o Ministério Público, quando necessário, promoverá a ação civil ou prosseguirá na que tiver sido iniciada, com a citação dos interessados. Art. 93. Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão sobre questão diversa da prevista no artigo anterior, da competência do juízo cível, e se neste houver sido proposta ação para resolvê-la, o juiz criminal poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição das testemunhas e realização das outras provas de natureza urgente. § 1º O juiz marcará o prazo da suspensão, que poderá ser razoavelmente prorrogado, se a demora não for imputável à parte. Expirado o prazo, sem que o juiz cível tenha proferido decisão, o juiz criminal fará prosseguir o processo, retomando sua competência para resolver, de fato e de direito, toda a matéria da acusação ou da defesa. § 2º Do despacho que denegar a suspensão não caberá recurso. § 3º Suspenso o processo, e tratando-se de crime de ação pública, incumbirá ao Ministério Público intervir imediatamente na causa cível, para o fim de promover-lhe o rápido andamento. Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 18 A regra é a de que o juiz, no curso da instrução criminal, não está adstrito às provas apresentadas pelas partes, ou seja, o magistrado não é obrigado a se restringir ao que for alegado pelas partes, sendo uma prova lícita o juiz pode mandar produzi-la. Desta forma, entende-se que o juiz é livre para produzir as provas que bem entender, que julgue relevantes, necessárias e pertinentes, a única exigência é que a prova seja lícita. Ao magistrado cabe o conhecimento da verdade real, ele tem que chegar ao seu conceito sobre o fato e se a prova for lícita ele poderá determinar a produção de provas de ofício. Entretanto, existem casos em que o juiz, para decidir uma questão de mérito, necessita da produção de prova de outra esfera, diferente da esfera penal. Neste caso estamos diante de uma questão prejudicial de natureza extrapenal ou heterogênea. Diante de uma questão prejudicial heterogênea se o magistrado tiver que dirimir dúvida sobre o estado civil de pessoas e esta questão tiver que ser solucionada para caracterizar o crime (alguma de suas elementares) ele terá que remeter o caso ao juiz cível e deve suspender oprocesso (não corre prazo de nada), existindo o que a doutrina chama de questão prejudicial heterogênea obrigatória. Neste caso o juiz criminal manda para o juiz cível e espera que este seja resolvido. Há uma controvérsia sobre direito civil que verse sobre o estado de pessoa, a lei proíbe que o juiz solucione, devendo mandar o feito para a esfera civil, conforme os art. 92 e 93 do CPP. Ex. Caso de bigamia, somente haverá este crime se o primeiro casamento for válido. Se estiver havendo discussão sobre a nulidade do primeiro casamento no âmbito cível não haverá bigamia e esta controvérsia sobre o estado civil das pessoas é elementar do crime de bigamia e não pode ser resolvida pelo magistrado criminal. Neste caso, da decisão que ordenar a suspensão do processo por questão prejudicial heterogênea obrigatória caberá a interposição de RESE. Vale ressaltar que a controvérsia deve ser indispensável para caracterizar a elementar do crime, se não for indispensável, o juiz pode decidir sem necessidade de sustar o feito e remeter o processo para o juízo cível, existindo, neste caso, o que a doutrina chama de questão prejudicial heterogênea facultativa. Neste caso, o próprio juiz do feito criminal é que irá decidir a questão prejudicial mencionada. Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 19 Ex. Fulano que comete lesão corporal sobre uma pessoa, mas há dúvida se esta pessoa é filho ou não do autor do crime. Neste caso há questão prejudicial heterogênea facultativa, pois não é questão necessária para caracterizar a elementar do crime e sim uma circunstância agravante prevista no art. 61, II, e), do CP, podendo o próprio juiz criminal decidir sobre a questão, sem necessidade de sustação do feito e de remessa para o juízo cível. No caso de decisão que julgar questão prejudicial heterogênea facultativa, como não há a suspensão do processo, NÃO há o cabimento de RESE. N) DECISÃO DO INCIDENTE DE FALSIDADE. (ART. 581, XVIII, CPP) O incidente de falsidade está previsto nos artigos 145 a 148 do CPP, e caso o juiz profira uma decisão julgando este tipo de incidente, será cabível a apresentação do RESE. Vale transcrever os artigos do CPP referentes ao incidente de falsidade. Art. 145. Arguida, por escrito, a falsidade de documento constante dos autos, o juiz observará o seguinte processo: I – mandará autuar em apartado a impugnação, e em seguida ouvirá a parte contrária, que, no prazo de 48 horas, oferecerá resposta; II – assinará o prazo de 3 dias, sucessivamente, a cada uma das partes, para prova de suas alegações; III – conclusos os autos, poderá ordenar as diligências que entender necessárias; IV – se reconhecida a falsidade por decisão irrecorrível, mandará desentranhar o documento e remetê-lo, com os autos do processo incidente, ao Ministério Público. Art. 146. A arguição de falsidade, feita por procurador, exige poderes especiais. Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 20 Art. 147. O juiz poderá, de ofício, proceder à verificação da falsidade. Art. 148. Qualquer que seja a decisão, não fará coisa julgada em prejuízo de ulterior processo penal ou civil. 3. HIPÓTESES EM QUE NÃO CABE MAIS RESE Deve-se ter muito cuidado para não cair nas seguintes “cascas de banana”, tendo em vista que nas seguintes hipóteses NÃO é cabível mais o RESE: 1ª) Da decisão que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena (art. 581, XI, CPP) – caberá Agravo ou Apelação a depender de quem decidiu acerca da suspensão condicional da pena. Em caso de decisão, na sentença, pelo juiz sentenciante, caberá Apelação, com fundamento no art. 593, I do CPP. Em sendo a decisão proferida pelo juízo da execução, caberá Agravo em Execução com fundamento no art. 197 da Lei 7.210/84 – Lei de Execuções Penais; 2ª) Da decisão que conceder, negar ou revogar livramento condicional (art. 581, XII, CPP) – caberá Agravo em Execução (art. 197 da Lei 7.210/84 – Lei de Execuções Penais); 3ª) Da decisão que decidir sobre a unificação de penas (art. 581, XVII CPP) – caberá Agravo em Execução (art. 197 da Lei 7.210/84 – Lei de Execuções Penais); 4ª) Da decisão que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado (art. 581, XIX, CPP) – caberá Agravo em Execução (art. 197 da Lei 7.210/84 – Lei de Execuções Penais); 5ª) Da decisão que impuser medida de segurança por transgressão de outra (art. 581, XX, CPP) – caberá Agravo em Execução (art. 197 da Lei 7.210/84 – Lei de Execuções Penais); 6ª) Da decisão que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774 (art. 581, XXI, CPP) – NÃO cabe recurso pois o art. 774 do CPP foi revogado tacitamente pela Lei 7.210/84 – Lei de Execuções Penais; Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 21 7ª) Da decisão que revogar a medida de segurança (art. 581, XXII, CPP) – caberá Agravo em Execução (art. 197 da Lei 7.210/84 – Lei de Execuções Penais); 8ª) Da decisão que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a revogação (art. 581, XXIII, CPP) – caberá Agravo em Execução (art. 197 da Lei 7.210/84 – Lei de Execuções Penais); 9ª) Da decisão que converter a multa em detenção ou em prisão simples (art. 581, XXIV, CPP) – NÃO cabe recurso ALGUM, pois esta hipótese foi revogada tacitamente pela modificação do art. 51 do Código Penal, que converteu a multa em dívida de valor, não tornando mais possível a sua conversão em prisão. OBS.: Apesar de não constar no rol do art. 581 do Código de Processo Penal, é possível o intento do Recurso em Sentido Estrito (RESE), nos termos do art. 294, parágrafo único do Código de Trânsito Brasileiro. Nesse sentido, vale a pena informar o artigo: Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção. Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou da que indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem efeito suspensivo. É possível, ainda, o cabimento do (RESE), de acordo com o constante no Decreto- Lei 201/67, da decisão que concede ou denega a prisão preventiva, bem como do Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 22 afastamento do cargo, nos termos do art. 2º, III do referido decreto. Segue, nesse sentido, o artigo: Art. 2º. O processo dos crimes definidos no artigo anterior é o comum do juízo singular, estabelecido pelo Código de Processo Penal, com as seguintes modificações: III – Do despacho, concessivo ou denegatório, de prisão preventiva, ou de afastamento do cargo do acusado, caberá recurso, em sentido estrito, para o Tribunal competente, no prazo de cinco dias, em autos apartados. O recurso do despacho que decreta a prisão preventiva ou o afastamento do cargo terá efeito suspensivo. OBS.: A Decisão que concede, nega ou revoga a suspensão condicional do processo, nos termos do art. 89 da Lei 9.099/95 também caberá RESE. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. DECISÃO QUE REVOGA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. EXISTÊNCIA DE RECURSO PRÓPRIO. CABIMENTO DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. SÚMULA Nº 267/STF. I – Contra decisão que concede, nega ou revoga suspensão condicional do processo cabe recurso em sentido estrito (Precedentes desta Corte). II – Descabida,portanto, a utilização do mandado de segurança perante o e. Tribunal a quo, tendo em vista a existência de recurso próprio, ex vi da Súmula nº 267 do c. Pretório Excelso (“Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição”). Habeas corpus não-conhecido (STJ – HC: 103053 SP 2008/0066213-6, Relator: Ministro FELIX FISCHER, Data de Julgamento: 18/09/2008, T5 – QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 10/11/2008) 4. ESTRUTURA DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 23 4.1. Petição de interposição Endereçamento: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE _______________________ (Regra Geral) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ____ VARA CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE _____________________ (Crimes da Competência da Justiça Federal) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE __________________ (Crimes da Competência do Tribunal do Júri) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ____ VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE _____________ (Crimes da Competência da Justiça Federal) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO _____ JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA COMARCA _______________ (Endereçamento ao Juizado Especial) Processo número: (Nome do Recorrente), já qualificado nos autos do processo que lhe move o Ministério Público/Querelante, às fls. ___________, por seu advogado formalmente constituído que esta subscreve, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, inconformado com a respeitável sentença de _____________, conforme fls. _________________, interpor tempestivamente o presente RECURSO EM SENTIDO ESTRITO ou CONTRARRAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO com fundamento no art. 581, (indicar inciso) __ ou art. 588 (Contrarrazões), do Código de Processo Penal. Em se tratando do CTB, fundamentar no art. 294, parágrafo único da Lei 9.503/97 – Código de Trânsito Brasileiro. Interpondo RESE em face do constante no Decreto-Lei 201, a fundamentação será no art. 2º, III do Decreto-Lei 201/67. Requer a realização do juízo de retratação, nos termos do art. 589 do Código de Processo Penal e, em sendo mantida a decisão atacada, seja o presente recurso encaminhado a superior instância para o devido processamento e julgamento. ou Requer que, após o recebimento destas, com as contrarrazões inclusas (na prova elas serão feitas juntas), sejam os autos encaminhados ao Egrégio Tribunal de Justiça (ou Turma Recursal no caso do Juizado Especial Criminal), onde serão processados e não provido o presente recurso (Requerimento acerca das contrarrazões). Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 24 Termos em que, Pede deferimento. Comarca, data Advogado, OAB 4.2. Razões ou contrarrazões Endereçamento: RAZÕES (OU CONTRARRAZÕES) DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO RECORRENTE: RECORRIDO: PROCESSO NÚMERO: EGRÉGIO TRIBUNAL (DE JUSTIÇA OU REGIONAL FEDERAL) COLENDA CÂMARA ÍNCLITOS DESEMBARGADORES Endereçamento para Turma Recursal dos Juizados Especiais RAZÕES DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO RECORRENTE: RECORRIDO: PROCESSO NÚMERO: EGRÉGIA TURMA RECURSAL COLENDA TURMA ÍNCLITOS JULGADORES 1. Dos Fatos Seja mais resumido nos fatos, e mais enfático no resumo do processo. Cita-se o mínimo necessário para os fatos e o máximo para o processo. Deve-se expor como se chegou à sentença. No final dos fatos, é para, sem pular linhas, fazer um parágrafo com o seguinte teor: “A respeitável decisão proferida merece ser reformada pelos motivos de fato e direito a seguir aduzidos”. 2. Das Preliminares Se for o caso deve-se alegar preliminares. Como já foi explicado existe uma sequência a ser seguida. Abra os artigos na seguinte sequência: 1º) Art. 107 CP – Causas extintivas de punibilidade. 2º) Art. 109 CP – Prescrição 3º) Art. 564 CPP – Nulidades 4º) Art. 23 CP Causas de exclusão de ilicitude. Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 25 5º) Deve-se buscar todo e qualquer outro defeito que levaria a ocorrência rejeição liminar da peça acusatória. 3. Do Mérito Fale logo do mérito no primeiro parágrafo, diga o que você quer. Deve-se dizer logo o porquê de você está atacando a sentença. O recurso é uma peça pesada para investir no mérito. Após falar do mérito você deve logo em seguida falar do direito, mencionando o direito pertinente ao caso e os artigos correlatos. 4. Do Pedido Deve-se fazer um pedido principal de provimento do recurso e reforma da decisão e demais pedidos subsidiários possíveis. ou Nas contrarrazões deve-se fazer um pedido principal de não provimento do recurso e manutenção da decisão. Termos em que, Pede deferimento. Comarca, data Advogado, OAB 5. CASOS PRÁTICOS CASO PRÁTICO RESOLVIDO Felipe e Gabriel são amigos há vários anos e são fanáticos pela prática de alpinismo, fazendo, inclusive, inúmeras escaladas em várias montanhas do Brasil. No dia 22 de outubro de 2013, ao realizarem uma escalada na montanha do Estado de Alfa, Felipe percebeu que a corda que o sustentava começou a se romper, ocasião em que cortou o sustentáculo, impondo com isso a queda de Gabriel, também sustentado pela mesma corda. Tal conduta provocou a morte imediata de Gabriel, tendo Felipe sido salvo. Em virtude da situação apresentada, Felipe foi denunciado pelo crime de homicídio qualificado pelo recurso que tornou impossível a defesa do ofendido, nos termos do art. 121, § 2º, IV, do Código Penal, tendo em vista que, segundo o promotor de justiça competente, Felipe cortou dolosamente a corda que o sustentava e à vítima, quando os dois estavam escalando uma montanha, o que tornou impossível qualquer tipo de defesa por parte de Gabriel. Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 26 A denúncia foi apresentada com base em provas colhidas em um inquérito policial, tendo sido juntada perícia tanatoscópica comprovando a morte de Gabriel. O Juiz da 11ª Vara do Tribunal do Júri do Município Delta do Estado Alfa recebeu a denúncia e mandou citar o réu para apresentar defesa. Este apresentou resposta no prazo legal. Na audiência de instrução, realizada no dia 16 de julho de 2014, o réu foi ouvido e informou que realmente tinha escalado uma montanha junto com a vítima, entretanto, percebeu que estava em uma situação de extremo perigo, pois a corda que segurava os dois ia se romper, razão pela qual não teve alternativa senão cortar a corda para se salvar, o que ocasionou a morte de seu amigo. Além disso, foram ouvidas testemunhas da acusação que não viram o crime, mas informaram que Felipe e Gabriel, de fato, eram amigos desde crianças e não sabiam de nenhuma rixa entre os dois que pudesse ocasionar vontade por parte do réu de matar a vítima. Inexistindo testemunha de defesa arrolada ao processo, as alegações finais foram realizadas de maneira oral, tendo o representante do Parquet se manifestado pela pronúncia do réu, nos mesmos termos da denúncia, tendo requerido a defesa a absolvição sumária do agente. O magistrado, em audiência, prolatou sentença de pronúncia pelo crime de homicídio simples, retirando a qualificadora em virtude de sua manifesta ilegalidade, intimando as partes no referido ato. Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso concreto acima, na condição de advogado(a) de Felipe, redija a peça cabível à impugnação da mencionada decisão, respeitando as formalidades legais e desenvolvendo, de maneira fundamentada,as teses defensivas pertinentes. EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 11ª VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DO MUNICÍPIO (ou COMARCA) DELTA DO ESTADO ALFA Processo número: Felipe, já qualificado nos autos do processo que lhe move o Ministério Público, às fls. ____, por seu advogado formalmente constituído que esta subscreve, vem, Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 27 respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, inconformado com a respeitável sentença de pronúncia, conforme fls. ___, interpor tempestivamente o presente RECURSO EM SENTIDO ESTRITO com fundamento no artigo 581, IV, do Código de Processo Penal. Requer a realização do juízo de retratação, nos termos do art. 589 do Código de Processo Penal e, em sendo mantida a decisão atacada, seja o presente recurso encaminhado à superior instância para o devido processamento e julgamento. Termos em que, Pede deferimento. Município Delta, Estado Alfa, data. Advogado, OAB RAZÕES DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO RECORRENTE: RECORRIDO: PROCESSO NÚMERO: EGRÉGIO TRIBUNAL COLENDA CÂMARA ÍNCLITOS DESEMBARGADORES 1. Dos Fatos O recorrente foi pronunciado por ter supostamente cometido o crime de homicídio qualificado pelo recurso que tornou impossível a defesa do ofendido, nos termos do art. 121, § 2º, IV, do Código Penal, perante o Juiz da 11ª Vara do Tribunal do Júri do Município (ou Comarca) Delta do Estado Alfa, pois teria cortado dolosamente a corda que sustentava o recorrente e a vítima, quando os dois estavam escalando uma montanha, o que teria tornado impossível qualquer tipo de defesa por parte de Gabriel. Consta nos autos que o recorrente e a vítima estavam realizando uma escalada de uma montanha, quando Felipe percebeu que a corda que o sustentava junto à montanha estava prestes a se romper, ocasião em que cortou o sustentáculo, impondo com isso a queda da vítima, também sustentada pela mesma corda. Tal conduta provocou a morte imediata de seu amigo de muitos anos, propiciando o salvamento do recorrente. Na audiência de instrução, o recorrente foi ouvido e informou que realmente tinha escalado uma montanha junto com a vítima, entretanto, percebeu que estava em uma situação de extremo perigo, já que notou que a corda que segurava os dois ia se romper, razão pela qual não teve alternativa senão cortar a corda para se salvar, o que ocasionou a morte de seu amigo. A respeitável decisão proferida merece ser reformada pelos motivos de fato e direito a seguir aduzidos. 2. Das Preliminares Preliminarmente cumpre esclarecer a ocorrência manifesta do estado de necessidade, causa de exclusão da ilicitude do fato, nos termos do art. 23, I em combinação com o art. 24, ambos do Código Penal. Por último, cumpre esclarecer ainda em sede de preliminar, que não existe Prática de Processo Penal Bloco IX Prof. Fidelman Fontes 28 interesse de agir, faltando uma condição para o exercício da ação penal, nos termos do art. 395, II, do Código de Processo Penal. 3. Do Mérito Cumpre esclarecer que, no caso concreto, resta configurada a excludente de ilicitude de estado de necessidade, pela simples leitura das provas produzidas no decorrer do processo, razão pela qual o recorrente deveria ter sido absolvido sumariamente e não pronunciado. Consta dos autos que o recorrente tinha escalado uma montanha junto com a vítima, entretanto, percebeu que estava em uma situação de extremo perigo, já que verificou que a corda que segurava os dois ia se romper, razão pela qual não teve alternativa senão cortar a corda para se salvar, o que ocasionou a morte de seu amigo. Conforme ensina a melhor doutrina, percebe-se que todos os requisitos do estado de necessidade estão presentes no caso concreto, nos exatos termos dos arts. 23, I e 24 do Código Penal. O recorrente estava diante de um perigo atual (é o perigo que está ocorrendo, é o perigo presente, concreto), pois a corda que segurava o recorrente e a vítima ia se romper, o que causaria a morte do recorrente e da vítima. Houve ameaça a direito próprio já que a própria vida do recorrente estava em jogo. A situação de perigo não foi causada voluntariamente pelo recorrente, tendo em vista que o recorrente não criou a situação de perigo que passou. Não havia outra forma de proteger a própria vida do recorrente, ou seja, Felipe não tinha alternativa para evitar a morte de seu amigo e proteger o seu direito ameaçado, pois ou ele cortava a corda e se salvava, ou então tanto o recorrente quanto a vítima iriam morrer. E, por fim, o sacrifício do direito ameaçado do recorrente, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se, ou seja, a situação de perigo atual pela qual passou o agente não exigia que ele sacrificasse o seu direito (sua própria vida) que foi ameaçado. Desta forma, estão presentes todos os requisitos do estado de necessidade, razão pela qual a absolvição sumária se impõe a Felipe. Apenas por cautela, cumpre esclarecer a falta de uma condição para o exercício da ação penal, qual seja, o interesse de agir. Ora, como o recorrente está amparado pela excludente da ilicitude do fato de estado de necessidade, art. 23, I e art. 24, ambos do Código Penal, haverá a exclusão do crime, razão pela qual o processo penal não terá um fim útil, já que não será aplicada uma pena privativa de liberdade ao final do processo, restando configurada a falta de interesse de agir. 4. Dos Pedidos Diante do exposto, requer o provimento do recurso e a reforma da sentença para que seja Felipe absolvido sumariamente em virtude de causa de exclusão do crime, qual seja, o estado de necessidade, nos termos do art. 415, IV do Código de Processo Penal. Caso não seja acolhido o pedido acima, o que não se espera, requer-se a anulação da decisão de pronúncia, em virtude da nulidade de falta de condição para o exercício da ação penal, qual seja, o interesse de agir, ocasião em que o processo sequer deveria ter sido iniciado. Termos em que, Pede deferimento. Município Delta, Estado Alfa, data. Advogado, OAB
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