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Nietzsche

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A ética em Nietzsche
Após Kant, que trabalha com o imperativo categórico, uma lei moral universal para todos os homens, Nietzsche propõe uma estilística da existência, o homem como obra de arte, aproximando-se da “ética do cuidado de si”.
Friedrich Nietzsche e o seu estilo peculiar
Em Nietzsche não há uma neutralidade estilística, não há uma linguagem neutra que pudesse sugerir uma linguagem impessoal. Não pretende simular um pensamento não motivado, não originado. Ele se apresenta como um pensador desencarnado.
O leitor de Nietzsche identifica os seus escritos, sabe quem está escrevendo e qual a sua motivação, percebe a personalidade que se constitui. Ele já criticava um pretenso desinteresse do filósofo. A neutralidade equivale a uma dissimulação, abstinência fingida; para ele nunca há desinteresse, não há verdade desinteressada. Ele não pretende falar em nome de uma verdade, ou uma verdade neutra, ele fala em nome próprio, na primeira pessoa do singular. Isso não significa que ele seja um pensador autocentrado ou subjetivista. Muito pelo contrário, ele dissolveu a própria pessoa (o eu já são muitos, essa voz já são muitas que falam pela boca de Nietzsche). Daí muitos impulsos, muitas inclinações e pontos de vistas e perspectivas.
Mesmo quando ele escreve sobre a história (Genealogia da moral), não é da maneira dos historiadores. Quando ele fala dos nobres e dos escravos, da besta loura, do asceta, dos deuses e dos artistas, não são descrições factuais, mas um esforço de trazer à tona a emergência de certa noção de bem e de mau, etc. 
Os vários estilos de Nietzsche devem ser entendidos como uma luta contra um estilo dominante em filosofia. O esforço deste pensador é de se insinuar entre seus leitores e o mundo, e de mostrar que se fomos convencidos de alguma coisa, foi por causa de seus escritos. Concordar, portanto, não é tanto uma questão de argumento. A escolha do leitor em relação a um texto não se pauta em submeter-se a um argumento, mas uma afinidade a um modelar a um modo de vida. Não há pensamento abstrato e vazio, há um pensamento enraizado num corpo, expressão de um tipo de vida.
A visão de Nietzsche não está disponível facilmente, é necessário interpretá-lo, com todas as armadilhas anunciadas pelo autor. “O caminho não existe”. Existem vários. O caminho é uma ficção, assumida e defendida pela maioria dos filósofos, para dissimular que o caminho é deles. 
Mostrando-se um filósofo experimentador e fragmentário, contrário ao estatuto da verdade, ele assume os vários perspectivismos. Cada um dos filósofos propõe uma verdade sistemática para superação dos predecessores. Nietzsche não questiona outro filósofo, põe em questão o valor da verdade. O que está em jogo é a importância da verdade, o desejo de verdade, a vontade de verdade que caracteriza o pensamento Ocidental desde Platão.
“A justiça liga-se, para Nietzsche, a uma relação de confronto entre homens que lhes reclama a capacidade de avaliação e de medição de uma pessoa e outra. Essa relação primeira aparece entre comprador e vendedor, entre credor e devedor. Aí é o primeiro momento em que uma pessoa defronta-se com a outra, precisando medir, estabelecer preços, medir valores, imaginar equivalências, e todo esse procedimento constitui o que hoje chamamos pensamento. Daí porque, para Nietzsche, talvez a própria palavra ´homem´ designasse o ser que mede valores, o animal avaliador, expressando um sentimento de si do homem. É com base nessa forma rudimentar de direito pessoal, da troca, que, transposto posteriormente a complexos sociais, chega-se à grande generalização de que cada coisa tem seu preço, de que tudo deve ser pago, estabelecendo-se o mais velho cânone da justiça como a boa vontade entre homens de poder aproximadamente igual de entender-se entre si mediante um compromisso e, quanto aos de menor poder, forçá-los a um compromisso entre si. Tira-se, portanto, a primazia do direito penal como fonte de justiça, como pretendia Dühring, para atribuí-la ao direito das obrigações” (MELO, Eduardo Resende, Nietzsche e a Justiça, p.137).

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