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Profª Kelle Magalhães Definição Considera-se abortamento a interrupção da gestação antes que o produto conceptual atinja a viabilidade. A OMS define abortamento como a expulsão ou extração do feto antes de 20 semanas ou pesando menos de 500 g. Classificação O abortamento pode ser classificado quanto a intensão e quanto a cronologia: Intenção: O abortamento pode ser espontâneo, se ocorrer sem ação deliberada de qualquer natureza; ou induzido (provocado) caso a interrupção da gestação seja de interferência intencional. Cronologia: o abortamento é denominado precoce se a perda ocorrer até 12 semanas e tardio entre 13 e 20 semanas de IG. Incidência A gravidez humana é processo deficiente porque 70% das concepções deixam de atingir a viabilidade, com taxa estimada de 50% antes da próxima falha menstrual. Do ponto de vista clínico 10 – 15% das gestações terminam espontâneamente no 1º trimestre ou início do 2º. Etiologia A grande maioria dos casos de abortamento espontâneo esporádico é determinado por cromossomopatias, responsáveis por 50 -60 % das interrupções até 15 semanas de IG. As trissomias são as causas mais comuns das anomalias cromossomiais, todos os cromossomos podem estar envolvidos (ex: síndrome de Tuner, triploidias, trissomia 21, 18 e 13). Qualquer doença materna grave ou traumatismo pode levar ao abortamento. Assim como intoxicações e infecções. Patogenéticamente, o primeiro evento que leva ao sangramento é a hemorragia da descídua basal, com necrose tecidual, que estimulam contrações miometriais e descolamento placentário. Formas Clínicas de Abortamento Ameaça de Abortamento (ou abortamento evitável): refere-se a gravidez clinicamente possível acompanhada de sangramento vaginal de origem intra-uterina, decorrente de hematoma subcoriônico após descolamento parcial da placenta. O quadro clínico se caracteriza por sangramento vaginal em pequena quantidade, acompanhado ou não de cólica na região hipogástrica. No exame ginecológico, o colo uterino se encontra fechado e o tamanho do útero é compatível com atraso menstrual. O exame ultra-sonográfico mostra atividade cardíaca e se IG for inferior a 6 semanas, mostra a presença do saco gestacional. Tratamento: Solicitar repouso relativo; Proibição do coito enquanto houver ameaça de abortamento; tranquilizar a paciente; no caso de cólicas administrar anitiespasmódicos e analgésicos. Abortamento Invevitável: Nas amenorréias de curta duração, pequeno ovo, pode o processo ser confundido com menstruação, que se diferencia por maior volume de sangue, juntamente com o material eliminado é possível visualizar o embrião, e produtos da concepção. A sintomatologia é sangramento moderado a intenso, acompanhado de dor abdominal tipo cólica, de forte intensidade. Ao exame físico pode ser evidenciada anemia, taquicardia e hipotensão. Ao exame especular, observa-se sangramento ativo proveniente do canal cervical, geralmente com restos do produto da concepção. O colo uterino se encontra dilatado ao toque. Tratamento: a conduta depende da IG. Até 12 semanas são procedimentos de escolha a dilatação seguida de aspiração a vácuo ou curetagem. Após 12 semanas pode ser feita curetagem ou indução da expulsão com o uso de ocitocina (10 UI) e misoprostol 400 mg a cada 4 horas. O material de abortamento deve ser enviado para estudo histopatológico. Abortamento Completo: Quando o abortamento ocorre no primeiro trimestre, em especial nas 10 semanas iniciais, é comum a expulsão completa dos produtos da concepção. Rapidamente o útero se contrai e o sangramento juntamente com as cólicas diminui de intensidade. O orifício interno do colo uterino, tende a fechar-se em poucas horas. Ao exame ultrassonográfico, pode não haver evidencias de conteúdo uterino. Geralmente não necessitam de esvaziamento cirúrgico. Abortamento incompleto: É mais frequente após a 10ª semana de IG e nesses casos ocorre a remoção parcial dos produtos da concepção. O sangramento vaginal persiste e as vezes se torna intermitente, devido aos restos ovulares que impedem a contração uterina, o volume uterino é menor que o esperado para IG e ao toque o colo uterino se mostra pérvio, podendo algumas vezes estar fechado, possibilitando seu diagnóstico apenas por USG. Por não eliminar completamente o produto da concepção, pode causar infecção. Tratamento: Pode ser feito por aspiração manual intra-utero, curetagem ou uso de misoprostol. Colo de útero no abortamento incompleto Abortamento retido: É a morte fetal antes de 20 semanas, associada a retenção do produto conceptual por período prolongado de tempo, que pode durar dias ou semanas. Geralmente é relatado parada dos sintomas associados a gravidez, como náuseas e vômitos. Pode ocorrer sangramentos, em geral de pequena quantidade, o volume uterino é menor que o esperado para a IG e o colo está fechado ao toque. Geralmente é descoberto através de USG ou BCF não audível. Tratamento: no caso da mulher ser Rh – deve receber imunoglobulina. Em alguns casos há expulsão do concepto em até 2 semanas, caso isso não ocorra, utilizar misoprostol ou curetagem. Abortamento Habitual: Também denominado recorrente, é definido como a ocorrência consecutiva de três ou mais abortamentos espontâneos e incide em cerca de 1% das mulheres. Etiologia: As causas são várias e podem ser divididas em genéticas, anatômicas, endócrinas, infecciosas e imunológicas. Porém a causa de maior destaque é a de Incompetência Istmo-cervical, que é a incapacidade da cérvice de manter o produto conceptual até o final da gestação. A incidência é de 4,5:1000 partos. A dilatação cervical é indolor, e o concepto é morfologicamente normal. Geralmente é precedida de história de trauma cervical causado por conização, laceração cervical no parto, dilatação cervical exagerada. Apresenta dilatação cervical de 4-5 cm, sem desconforto ou percepção de contrações uterinas. As perdas gestacionais ocorrem no 2º ou no início do 3º trimestre de gestação, com cada interrupção ocorrendo mais precocemente que a anterior. Tratamento: pode ser realizada a circlagem cervical. Técnica de circlagem: Sutura do colo uterino com fio de mersilene nº3. Usa-se profilaxia de infecções locais (clindamicina). A remoção da circlagem deverá ser realizada entre 36-37 semanas, no caso de roprema a sutura deve ser retirada imediatamente, a via de parto deverá ser cesárea. Abortamento Infectado: Quase sempre sucede a interrupção provocada da gestação, em más condições, intimamente ligado a ilegalidade. Cerca de 13% das mortes maternas são decorrentes de aborto induzido de forma clandestina. Está associado com alta morbidade materna, pelo menos 1:5, 20% das mulheres terão infecção do trato genital podendo acarretar em futura infertilidade. As bactérias envolvidas são aeróbias e anaeróbias, destacando-se: Estreptococos, Enterococcus, Escherichia coli, Clostridium. A infecção se inicia no útero (endometrite), podendo se propagar para os anexos, peritônio pélvico, cavidade peritonial, podendo causar uma sepse. O quadro clínico depende do grau de comprometimento, nos casos de endometrite, geralmente se observa hipertermia, sangramento vaginal discreto, dores abdominais em cólica e útero doloroso à palpação. Ao toque vaginal o colo do útero apresenta-se pérvio e doloroso. No exame especular observa-se saída de material purulento e lacerações cervicais, denunciando o aborto clandestino. Nos casos mais graves a pacientepode apresentar peritonite generalizada, sepse, insuficiência renal e coagulopatia. O tratamento é clínico e cirúrgico, consistindo em tratar a hipovolemia, combater a infecção e reparar cirurgicamente as lesões e lacerações decorrentes do método para realizar o abortamento. Na presença de sangramento vaginal moderado ou intenso decorrente de hipotonia ou atonia uterina, deve- se realizar cateterismo de veia calibrosa e infusão de ringer lactado ou solução salina 0,9%. Administra-se ocitocina em altas doses (50 UI) em 50 mL de solução salina ou glicosada (125 mL/hora). Se necessário administrar também metilergonovina na dose de 0,2 mg IM. A antibioticoterapia deve ser abrangente, devido a maioria das infecções serem polimicrobianas, com bactérias aeróbias e anaeróbias provenientes das floras intestinal e genital. As drogas mais usadas são: ampicilina, penicilina, gentamicina, metronidazol e clindamicina. Em pacientes com problemas renais pode-se substituir gentamicina por cefalosporina (ceftriaxona). O tratamento cirúrgico está indicado nas seguintes condições: Restos ovulares: realizar curetagem ou AMIU. Laceração cervical: realizar sutura do colo uterino e revisão das paredes vaginais. Perfuração uterina: laparotomia exploradora e correção cirúrgica das lesões. Histerectomia: retirada do útero caso necessário devido lesões. Válvula Simples Válvula Dupla Aspiração Manual Intra-Uterina AMIU Fechamento das válvulas 1 Formação do vácuo 2 Liberação do vácuo 3 Aspiração Manual Intra-Uterina-AMIU 1. dilatação cervical 2. introdução da cânula 3. conexão com a seringa de vácuo 4. realização do vácuo e aspiração. CURETA X AMIU Referência Bibliográfica: BUSSÂMARA, Neme. “Obstetrícia básica”, 3 edição. Editora savier, 2006 REZENDE, Carlos. “Obstetrícia Fundamental”, Editora Goanabara koogan, 10 edição, 2006 ZUGAIB, Marcelo. Obstetrícia. Editora Manole, 2008
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