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Prof(a):Carla A. P. Schmidt Engenharia de Produção Processo I A cana-de-açúcar teve sua origem, provavelmente, em Nova Guiné entre 8000 a 6000 a.C. Foi levada para a Europa a partir da Índia. As primeiras mudas de cana-de- açúcar que foram trazidas ao Brasil provinham da Ilha da Madeira (Martim Afonso de Souza). O primeiro engenho brasileiro foi instalado em São Vicente no ano de 1533. Chegou ao Brasil logo após o seu descobrimento (1515/1532) e foi cultivada quase simultaneamente em Pernambuco e São Paulo. O cenário internacional é favorável com relação aos preços do açúcar. Adoção do álcool combustível na matriz energética de alguns países pode consolidar um processo de comoditização desse produto. Porém, a crise financeira internacional de 2008 provocou uma retração dos investimentos nesse setor. O Brasil é o maior produtor de cana-de- açúcar do mundo representando 25% da produção e 50% das exportações mundiais. O Brasil é também o segundo maior produtor de Etanol sendo responsável por 20% da produção mundial e 20% das exportações mundiais. A produção de Cana de Açúcar na safra 2014/15, de acordo com o IBGE (2015) foi de 688,67 milhões de toneladas. Estrutura produtiva: 430 unidades produtoras Produtores de cana-de-açúcar: 70 mil Empregos diretos: 1,2 milhão PIB setorial: US$ 48 bilhões Exportações: US$ 15 bilhões. Atualmente a cana de açúcar é cultivada em todos os estados brasileiros, mas no estado de São Paulo encontra-se mais de 50% da área de cana do Brasil. Fonte: CANASAT, 2014. Primeiro Levantamento, Brasília, abr. 2015. Fonte: CANASAT, 2014. O Paraná estava na quarta posição com uma produção de 42.216 mil toneladas. Porém as projeções para 2015 apontam para uma queda para quinta posição no ranking nacional. Fonte: Fonte: Fonte: IBGE, 2015. A produtividade da Cana de Açúcar ao longo dos anos também aumentou muito até o ano de 2009. A queda depois desse ano pode ser explicada pela redução nos investimentos no setor e o envelhecimento das lavouras. Crise! É uma planta da família das gramíneas, do gênero Saccharum, principalmente das espécies: Canas Nobres e susceptíveis ao Mosaico S. officinarum S. sinensis S. spontaneum S. barberi S. robustum Canas Chinesas Canas Indianas Canas Silvestres Problemas com pragas e doenças nas variedades plantadas sempre acabam aparecendo e a história vai se repetindo até os dias atuais, com as variedades sendo substituídas num espaço de 10 a 15 anos. Mas, substituição vantajosa só se consegue quando existem programas de melhoramento genético que continuamente buscam variedades de melhor adaptação a clima, solo e maior resistência às pragas e doenças. O aumento da produtividade que se consegue com tais variedades melhoradas é que tem possibilitado a contínua evolução da agroindústria canavieira no mundo. Produção Os sulcos de plantio devem ter profundidade de 30 cm. O espaçamento varia ao redor de 1,20 m entre sulcos. A distribuição dos colmos nos sulcos deve ser feita de modo a permitir a emergência de 12 a 18 gemas por metro linear. Para a colheita mecanizada são adotadas as linhas duplas, dispostas a 0,9 m entre si e espaçadas entre 1,5 a 1,6 m da outra fileira dupla. A cana-de-açúcar exige calor e umidade. Sem essas condições não produzirá bem. A melhor temperatura para a cana é de 30 a 34°C. Abaixo de 20°C o crescimento é muito lento. Acima de 35°C também é lento, e além de 38°C é nulo. A diversidade de climas determina períodos de plantio e colheita distintos para as diversas regiões. No Nordeste a irrigação é importante para que o canavial se desenvolva bem. A cana-de- açúcar é exigente quanto à umidade: ela precisa de 1 500 mm de chuvas anuais. O ponto de colheita ocorre na estação fria (estados do sul do país) ou na estação seca (demais estados), quando a planta paralisa seu crescimento e alcança elevados teores de sacarose, geralmente essa época coincide com os meses de maio a novembro. O tempo do plantio até a colheita varia com o clima e com a variedade escolhida e o ponto ideal de colheita é comumente encontrado com o auxílio de refratômetro de brix. Admitem-se para a cana-de-açúcar, os seguintes estágios de maturação: IM = 𝐵𝑟𝑖𝑥 𝑑𝑒 𝑃𝑜𝑛𝑡𝑎 𝑑𝑜 𝐶𝑜𝑙𝑚𝑜 𝐵𝑟𝑖𝑥 𝑑𝑎 𝐵𝑎𝑠𝑒 𝑑𝑜 𝐶𝑜𝑙𝑚𝑜 O corte de cana crua tem o rendimento de 3 a 4 toneladas/homem/dia. Enquanto o corte de cana queimada rende de 7 a 10 toneladas/homem/dia. O rendimento efetivo de colhedora varia de 700 a 800 toneladas/dia por colhedora. No caso do Estado de São Paulo, o Governo Estadual e a União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo - UNICA firmaram um acordo no qual foi previsto que: As áreas mecanizáveis, com declividade menor que 12%, não serão mais queimadas após 2014. As áreas não mecanizáveis, com declividade superior a 12%, não serão mais queimadas após 2017. Vantagens: • O maior teor de matéria orgânica disponível no solo. • A menor compactação do solo. • A maior retenção de umidade. • A menor incidência de plantas daninhas. • Favorece o desenvolvimento dos inimigos naturais. A qualidade da cana cortada mecanicamente é superior quando o corte é feito em cana crua. Desvantagens: • A maior incidência de pragas, principalmente cigarrinha devido ao acumulo de palha no solo. • O risco de incêndio da palhada. • A dificuldade de brotação de algumas variedades dado o menor aquecimento e maior sombreamento do solo. A cana é transportada às indústrias através de caminhões adaptados para o serviço. Os caminhões são pesados antes e após o descarregamento para se obter o peso de cana recebida. O objetivo de se pesar a cana é permitir o controle agrícola, o controle da moagem e o cálculo de rendimento industrial. Além de pesada, a cana é também analisada para que se possa definir características como a quantidade de açúcares, de água e de fibra nela contida, a partir das quais o pagamento da cana é efetuado. SACARÍMETRO BRIXOMETRO O descarregamento da cana pode ser feito diretamente nas mesas alimentadoras da moenda através de guindastes do tipo hilo ou no pátio de estocagem para posterior alimentação no caso de falhas de transporte ou como “pulmão” para moagem no período noturno. O tempo máximo de estocagem deve ser de 24 horas. Cana picada Cana Inteira A cana descarregada nas mesas alimentadoras pode ser lavada ou não dependendo da usina. Descarregador tipo hilo Cana descarregada com garras A cana colhida mecanicamente não é lavada pois, devido a sua forma de toletes, o arraste de sacarose pela água seria muito grande. Logo após a lavagem, a cana é conduzida através de esteiras rolantes para um jogo de facas niveladoras, seguido do picador, do desfibrador e do eletroimã. A extração dos sólidos da cana é feita pelo esmagamento nos rolos das moendas que exercem forte pressão. As moendas separam água e sólidos da fibra que formará o bagaço. A sacarose está dissolvida no caldo, portanto, o objetivo da moagem é extrair a maior quantidade possível de sólidos da cana. Na prática, extrai-se 94 - 96% do caldo da cana, que é utilizado para produzir açúcar ou álcool. No intuito de diluir os sólidos remanescentes no bagaço para aumentar a extração, adiciona-se água ao bagaço antes de passar pelos últimos rolos, constituindo o processo denominado embebição.Um segundo objetivo da moagem, porém de extrema importância, é a produção de um bagaço final com baixa umidade para ser queimado nas caldeiras visando a produção de energia mecânica na forma de vapor de água a alta pressão. Este bagaço é conduzido, através de esteiras até a caldeira onde é queimado para a produção de vapor d’água, com pressão média de 21 kgf/cm2 e temperatura de 300ºC. Este vapor é utilizado no acionamento de turbinas a vapor, transformando energia térmica em energia mecânica. O vapor liberado nas turbinas, denominado vapor de escape, é um vapor de baixa pressão (1,5 kgf/cm2) e é utilizado como fonte básica de energia ao longo do processo de fabricação do açúcar e do álcool. O bagaço que sobra do processo para obtenção do etanol de primeira geração não é descartado, e sim queimado em caldeiras e transformado em energia elétrica. A eletricidade excedente, não consumida pelas usinas, é de cerca de 40%, geralmente vendida para o sistema interligado de distribuição elétrica nacional. O que acontecerá no futuro com o bagaço será determinado pelo mercado. Se o mercado estiver pagando mais por eletricidade, vamos queimar o bagaço e a palha para produzir eletricidade. Mas, se o etanol for mais bem pago, então vamos usá-los para produzir etanol de segunda geração. Este caldo é peneirado, para remoção das impurezas mais grosseiras. No entanto, impurezas menores (solúveis, insolúveis ou coloidais) não são removidas apenas com a utilização de peneiras. No caso desse tipo de impurezas, uma sequência de procedimentos é adotado, no intuito de coagulá-las, de maneira que a decantação possa separá- las. A sulfitação consiste na absorção de SO2 pelo caldo, inibindo reações que causam a formação de cor, coagulando matérias coloidais, auxiliando na formação de precipitados que farão o arraste de impurezas durante a sedimentação, diminuindo a viscosidade do caldo e desinfetando o meio. A caleagem é feita através da adição de leite de cal (Ca(OH)2) que também coagula material coloidal, auxilia na precipitação e arraste de impurezas solúveis e insolúveis e eleva o pH para valores neutros evitando a inversão da sacarose no processo de aquecimento. O caldo é então aquecido até aproximadamente 105ºC para acelerar e facilitar as reações de coagulação e floculação dos colóides e não-açúcares protéicos e emulsificação das graxas e ceras. O aquecimento nesta etapa do processo visa essencialmente aumentar a eficiência do processo de decantação e promover a posterior retirada de ar. No balão de flash, uma diminuição brusca de pressão provoca uma ebulição espontânea do caldo eliminando assim o ar nele dissolvido que, quando presente, dificulta a decantação das impurezas mais leves. A decantação, também chamada de clarificação, é a etapa de purificação do caldo pela remoção das impurezas floculadas nos tratamentos anteriores. O caldo, livre das impurezas, é chamado caldo decantado e segue para a etapa de evaporação. As impurezas constituem o que é chamado de lodo. O lodo é enviado à etapa de filtragem. Para recuperar o açúcar contido no lodo, procede-se com a sua filtragem. Dessa forma separa-se o caldo filtrado do que é retido no filtro: a torta, formada basicamente pelos resíduos retirados na decantação. O caldo retorna ao processo e a torta é utilizada como adubo na lavoura. Constitui o primeiro estágio de concentração do caldo proveniente da etapa de tratamento. O caldo clarificado contém cerca de 85% de água. A evaporação tem como objetivo reduzir essa porcentagem para aproximadamente 40%. O caldo concentrado é chamado de xarope. Esta evaporação é feita em evaporadores de múltiplo efeito contracorrente, isto é, o vapor gerado pela evaporação da água do caldo (vapor vegetal) presente na caixa de evaporação anterior é utilizado como fonte de aquecimento para a caixa posterior. Saindo da etapa de evaporação, o xarope é enviado ao cozimento que é uma nova etapa de concentração só que agora com a formação de cristais em virtude da precipitação da sacarose dissolvida na água. Os cozedores são equipamentos semelhantes aos evaporadores e seu produto final, cristais de açúcar envolvidos em mel (solução açucarada), é chamado de massa cozida. Nessa etapa atinge-se uma concentração entre 90 e 95 ºBrix (porcentagem em peso de sólidos) à temperatura entre 58 a 65 oC. A massa cozida é então enviada a cristalizadores que a resfriam lentamente com o auxílio de água. Dessa maneira, consegue-se recuperar parte da sacarose que ainda estava contida no mel por sua deposição nos cristais já existentes gerando o consequente aumento dos mesmos. Dos cristalizadores, a massa cozida segue às centrifugas. A força centrífuga promove a separação do açúcar. O mel removido é coletado e retorna aos cozedores para um maior esgotamento. O açúcar descarregado das centrífugas apresenta alto teor de umidade (0,5 a 2%) e temperatura elevada (65 a 95ºC). Por meio de um elevador de canecas, os cristais de açúcar seguem para a secagem em tambores rotativos, levemente inclinados em relação à horizontal, e usando ar quente em contracorrente com o açúcar a ser seco. Ou então, utilizado para a fabricação de outros produtos como o açúcar invertido, o açúcar refinado ou o açúcar líquido. Este açúcar pode ser comercializado desta forma como açúcar cristal. A partir da cana-de-açúcar pode-se também produzir álcool ou etanol. O etanol é obtido através de um processo bioquímico chamado fermentação. De maneira semelhante à produção de açúcar, para a obtenção do álcool é necessário que o caldo receba um tratamento de purificação. O tratamento do caldo destinado à produção de etanol é o mesmo tratamento realizado com o caldo destinado à produção de açúcar, excetuando- se a etapa de sulfitação. Ao contrário do que ocorre na fabricação do açúcar, o caldo que servirá como matéria-prima na produção de etanol deve ser resfriado até atingir a temperatura de aproximadamente 30ºC. Preparo do mosto: O mosto é uma solução de açúcar cuja concentração foi ajustada de maneira a tornar a fermentação mais eficiente. O mosto é preparado a partir de méis, caldo e água de modo que a mistura apresente uma concentração final por volta de 16 a 23ºBrix. Esse processo tem como principal característica a recuperação de leveduras Saccharomyces cerevisiae através da centrifugação do vinho. De modo a propiciar condições ótimas de fermentação e evitar a infecção bacteriana, a levedura recuperada sofre um tratamento antes de retornar ao processo. Este tratamento consiste da adição de água, reduzindo o teor alcoólico, e de ácido sulfúrico até pH = 2,5, gerando uma mistura conhecida como pé-de-cuba. A fermentação ocorre em tanques denominados dornas de fermentação onde o mosto é misturado com o pé-de-cuba na proporção de 2:1, respectivamente. Os açúcares (sacarose, glicose e frutose) são transformados em álcool segundo a reação de Gay-Lussac: A fermentação libera gás carbônico e calor. O gás é lavado de modo a recuperar o álcool evaporado arrastado pelo CO2. Devido ao calor liberado e a necessidade de se manter a temperatura da fermentação por volta de 32ºC um sistema de resfriamento é utilizado. Após um tempo de 4 a 12 horas, a fermentação termina gerando um produto final de teor alcoólico entre 7 e 10%, denominado vinho fermentado. Das dornas de fermentação, o vinho é centrifugado de modo a separar o fermento. Este fermento recuperado é denominado leite de levedura e retorna às cubas detratamento. O vinho delevedurado é enviado à dorna volante e posteriormente às colunas de destilação. Centrífuga de Discos: O vinho que vem da fermentação é composto basicamente por componentes em fase líquida, dentre os quais destacam-se o álcool (7 a 10 ºGL) e a água (89 a 93%). A operação é realizada em três etapas: destilação propriamente dita, retificação e desidratação. Nessa etapa, o etanol é separado do vinho. O vinho, inicialmente com 7 a 10ºGL, é decomposto em duas correntes: flegma (vapores com 40 a 50 ºGL) e vinhaça (que segue para a lavoura como fertilizante com menos de 0,03 ºGL). A etapa de retificação visa concentrar o flegma proveniente da destilação de forma a obter um grau alcoólico de 96 ºGL à saída e retirar impurezas como álcoois homólogos superiores, aldeídos, ésteres, aminas, ácidos e bases. O álcool a 96ºGL é chamado álcool hidratado. Para a produção de álcool anidro, a 99,7ºGL, é preciso utilizar ciclo-hexano como desidratante. Essa necessidade surge do fato de que o álcool hidratado constitui uma mistura azeotrópica. Os álcoois produzidos, hidratado e anidro, são quantificados e enviados a tanques de grande volume onde são estocados para posterior comercialização. BNDES; CGEE. Bioetanol de cana-de-açúcar: Energia para o desenvolvimento sustentável. Coordenação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e do Centro de Gestão e Estudos Estratégiocos. 1.ed., 2008. INPE. Projeto Canasat. Mapeamento da Cana via imagens de satélite de observação da Terra. Disponível em: <http://www.dsr.inpe.br/canasat/>. Acesso em: 12 mai. 2015. CONAB. Cana de Açucar. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/conabweb/download/sureg/pr/cana_de_acucar/cana_de_acucar_abril_2006.pdf>. Acesso em: 12 mai. 2015. VIEIRA, M. C. A. Setor Sucroalcooleiro Brasileiro: Evolução e Perspectivas. BNDES. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/liv_perspectivas/07.pdf>. Acesso em: 12 mai. 2015. RIDESA. UFSCar. Disponível em: http://www.etanol.ufscar.br/palestras-01-09-08/variedades-e-manejo-varietal. Acesso em: 12 mai. 2015. MUSEU DO AÇÚCAR. Moçambique. Disponível em: http://museu.mct.gov.mz/acucar/. Acesso em: 12 mai. 2009. ÚNICA. Disponível em: http://www.unicadata.com.br/. Acesso em 20/11/2013. BNDES. energia para o desenvolvimento sustentável / organização BNDES e CGEE. – Rio de Janeiro : BNDES, 2008.Disponível em: http://www.bioetanoldecana.org/pt/download/bioetanol.pdf. Acesso em: 14 mai. 2015.
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