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Direitos dos nascituros x Direitos dos embriões congelados

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jusbrasil.com.br
19 de Setembro de 2016
Direitos dos nascituros x Direitos dos embriões congelados
Artigo escrito por: Alba Regina Maia; Jessica Sacramento Tiozzo; Julianna Carolina
Valério; Lourene Morais; Meiga Quintanilha Sobral; e Yery Park.
RESUMO
O presente trabalho diz respeito à utilização, para fins de pesquisa e terapia, de
células-tronco obtidas de embriões humanos produzidos mediante fertilização in
vitro e que não foram transferidos para o útero materno. Neste contexto, a
problemática gira em torno da existência ou não de Direitos para estes embriões.
PALAVRAS-CHAVE: Embriões; Pesquisas; Direitos.
Direitos dos nascituros x Direitos dos embriões congelados http://jcvalerio.jusbrasil.com.br/artigos/235041204/direitos-dos-nascituros-x-direitos-dos-embrioes-c...
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Introdução
As células-tronco embrionárias são células primárias que têm a capacidade de
transformar-se em células de qualquer tecido de um organismo, conforme artigo 3º,
inciso XI, da Lei 11.105/2005. Neste sentido, referidas células podem ser empregadas
para a cura de diversas doenças.
A temática central da presente pesquisa diz respeito às fortes críticas quanto à
utilização, para fins de pesquisa e terapia, de células-tronco obtidas de embriões
humanos produzidos mediante fertilização in vitro e que não foram transferidos para
o útero materno.
Referidos questionamentos estão fundados no Direito Constitucinal à Vida,
consagrado no caput do artigo 5º da Carta Magna, bem como em seu artigo 1º, inciso
III, que enuncia o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana como um dos
fundamentos do Estado Democrático de Direito. Neste contexto, diversos são os
questionamentos quanto ao momento de início da vida.
No primeiro e segundo capítulo, buscou-se a contextualização da problemática e a
conceituação do assunto em pauta diante da explicação das teorias referentes ao
início da vida, bem como, por intermédio da diferenciação entre embrião in vivo,
embrião in vitro e nascituro. Assim, distinguiu-se os momentos exatos do início da
vida, diante das visões da Teoria Concepcionalista, Neurológica e da Nidação,
adquirindo-se pleno conhecimento da doutrina que norteia a problemática.
Direitos dos nascituros x Direitos dos embriões congelados http://jcvalerio.jusbrasil.com.br/artigos/235041204/direitos-dos-nascituros-x-direitos-dos-embrioes-c...
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Em seguida, o terceiro capítulo adentrou melhor no âmbito legislativo,
averiguando-se o pensamento do legislador. Buscou-se expor sobre as pesquisas e
terapias com células-tronco embrionárias face à polêmica originada pela Lei n.
11.105/2005, diferenciando os tipos de células-tronco embrionárias.
O quarto e quinto capítulos adentraram no âmbito jurídico e na problemática central
do presente trabalho: A análise da existência ou inexistência dos Direitos
Constitucionais para os Embriões congelados à luz da Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) n. 3510. Nestes capítulos, buscou-se expor sobre os votos
majoritários e divergentes dos Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) quanto
à temática, relacionando-os com os princípios da Biotética e da Dignidade da Pessoa
Humana.
Enfim, no sexto e último capítulo buscou-se expor sobre os meios alternativos para o
uso dos embriões congelados ad infinitum.
Diante deste cenário, o objetivo da presente pesquisa é averiguar as teorias
relacionadas ao momento de início da vida; apresentar elementos que busquem
distinguir o nascituro, o embrião in vivo e o embrião in vitro; bem como, expor os
meios alternativos para o uso dos embriões excedentários e o entendimento do
Supremo Tribunal Federal quanto à Lei n. 11.105/2005, relacionando-o com os
Princípios da Bioética e da Dignidade da Pessoa Humana.
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Direitos dos Nascituros x Direitos dos
Embriões Congelados
1. O Início da Vida
De acordo com o que dispõe a Constituição Federal é dever do Estado proteger o
direito à vida, garantindo a dignidade da pessoa humana. A vida humana é um
direito fundamental e indisponível, sendo este garantido a todos aos brasileiros e
estrangeiros residentes no Brasil, pelo Art. 5º, caput, da Constituição Federal de 1988
(CF). Por ser essencial ao ser humano, o direito à vida condiciona os demais direitos
da personalidade.
A vida humana sempre recebeu proteção em nosso ordenamento jurídico, entretanto,
no tocante ao início da vida, podemos afirmar que não existe um consenso entre os
estudiosos de Direito acerca do momento exato a ser resguardado. Existem,
entretanto, diversas teorias acerca do tema, estando entre elas:
a) Teoria Concepcionalista: adotada pelo nosso ordenamento jurídico. Para os
adeptos dessa teoria, a vida humana merece plena proteção jurídica que deve ser
concedida ao embrião se dará desde a concepção, ou seja, desde o momento da
fecundação (seja essa natural ou artificial) do óvulo pelo espermatozoide.
Corroborando essa teoria temos a redação do artigo 2º do Código Civil de 2002
(CC)“A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe
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a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”. (grifo nosso)
A proteção prevista nos Artigos 124 a 128 do Código Penal (CP), que tipificam o
aborto, também refletem um entendimento concepcinaliata. Além disso, essa é a
teoria adotada pela igreja católica.
b) Teoria da Nidação: Segundo a qual, a vida começa com a fixação do embrião no
útero, uma vez que esse é o único ambiente em que se poderá desenvolver. Como a
nidação só acontece a partir do 40º dia, essa é uma visão bastante defendida por
pesquisadores de células-tronco em embriões congelados.
c) Teoria Neurológica: onde o marco inicial da vida humana é o inicio da atividade
cerebral, uma vez que a morte, ou seja, o fim da vida é marcada pelo fim das
atividades elétrica no cérebro.
2. Diferenças Entre Embrião e Nascituro
In vitro 
in vitro 
O ordenamento jurídico brasileiro, além de assegurar constitucionalmente o Direito à
Vida e à Dignidade da pessoa humana, assegura, em plano infraconstitucional, os
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direitos do nascituro.
Neste sentido, dispõe o artigo 2º, do Código Civil: “A personalidade civil da pessoa
começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos
do nascituro”.
A discussão que permeia a presente pesquisa diz respeito à extensão ou não destes
diretos também para os embriões. Assim, para maior compreensão, necessária a
distinção entre os conceitos de nascituro e embrião, bem como, a distinção entre os
conceitos de embrião in vivo e embrião in vitro.
Nascituro é o ser já concebido (óvulo fecundado) e que já está pronto para nascer,
mas que ainda encontra-se no ventre materno. E, conforme disposto acima, têm os
seus direitos assegurados desde a concepção, adquirindo personalidade civil apenas
por intermédio de seu nascimento com vida.
Neste contexto, conforme entendimento de Maria Helena Diniz, o nascituro tem
personalidade jurídica formal, mas somente terá aptidão para adquirir direitos e
deveres materialmente a partir de seu nascimento com vida.
Quanto ao momento em que o nascituro adquire personalidade jurídica formal, são
três as teorias que o definem, conforme já disposto emcapítulo anterior: A teoria
concepcionalista, da nidação e neurológica. Interessante ressaltar que o a teoria
adotada no Brasil é a primeira, conforme expresso no artigo 2º do Código Civil.
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Em âmbito penal, esta proteção atribuída aos direitos do nascituro também ocorre.
Referida proteção decorre da tipificação do aborto nos artigos 124 e seguintes do
Código Penal. Assim, o reconhecimento do direito à vida faz com que se proíba a
prática do aborto (interrupção da gravidez), excetuando-se apenas três casos: quando
há risco de morte para a gestante, quando a gravidez é resultante de estupro ou se o
feto for anencefálico.
Quanto à Gênese da Vida, Wesleuy Andrade, dispõe:
fases ovular,
embrionária fetal
Assim, enquanto nascituro é o ser concebido e pronto para nascer, mas que ainda
encontra-se no ventre materno, o embrião compreende apenas uma fase dentro deste
processo de gestação, podendo, ainda, nesta fase, não estar inserido no ventre
materno.
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3. Diferença entre embrião in vitro, embrião in
vivo
Necessário se faz para a continuidade da linha de raciocínio a diferenciação, técnica e
jurídica de embrião in vitro, in vivo e in útero.
Conforme exposto a cima, o primeiro diz respeito ao embrião produzido fora do corpo
humano, em laboratório, através da inseminação de um ovulo feminino por um
espermatozoide masculino em uma placa Petri.
Pela jurisprudência definida com a ADI 3.510, o embrião in vitro vai adquirir direitos
de embrião quando, e se, implantado no útero materno, visto antes deste marco ser
incapaz de se desenvolver sem a intervenção médica.
Já a segunda forma, in vivo, ‘e o embrião formado através da inseminação do
esperma masculino, tratado, mecanicamente, no útero feminino, que também recebeu
tratamento médico-hormonal para melhor recepciona-lo. Assim é dado um auxílio a
fecundação natural, e ocorre totalmente no útero feminino.
A proteção jurídica deste tipo embrionário se dá com a fecundação, visto a mesma já
ocorrer internamente e se desenvolver sem auxilio profissional.
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4. Das Pesquisas com Células-Tronco
4.1. A Polêmica Lei nº 11.105/2005
A Lei nº 11.105/2005, em seu artigo 5º, autorizou a utilização de células-tronco
embrionárias para fins de pesquisa e terapia, exigindo, expressamente, tais requisitos:
a) que os embriões sejam advindos do procedimento de técnica de fertilização “in
vitro”; b) que esses embriões sejam considerados inviáveis ou que estejam congelados
a mais de 3 anos; c) que exista prévio e inequívoco consentimento dos genitores; e d)
que a pesquisa científica seja atestada pelo comitê de ética responsável.
A mesma lei veda qualquer tipo de comercialização de embriões, células ou tecidos
humanos, proibindo ainda a clonagem humana e a prática de engenharia genética em
célula germinal, zigoto e embrião humano.
4.2. Diferenciação das Células-Tronco
As células-tronco são células indiferenciadas, que podem se auto-replicar, gerando
outras células-tronco (auto-renovação); ou ainda se transformar em outros tipos de
células. A Lei de Biosseguranca utilizou as definições médicas-biológicas de Marco
Antonio Zago e Dimas Tadeu Covas[1]. Sendo elas:
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As células-tronco adultas que são usadas em clínicas especializadas em reprodução
humana assistida têm como principais origens a medula óssea e o sangue do cordão
umbilical humano. Recebem a denominação de multipotentes por serem menos
versáteis que as embrionárias.
Em contrapartida, as células-tronco embrionárias derivam da fase do blastocisto do
embrião humano. Blastocistos são às células que se encontram entre o 4º e 5º dias
depois da fecundação, mas anteriormente à inserção do embrião no útero da mulher,
o que acontece somente a partir do 6º dia. A fase do blastocisto é antecedente à fase
embrionária chamada de gástrula, sendo considerada como uma célula
indiferenciada do estágio de mórula ou blástula de um embrião humano.
As células-tronco embrionárias possuem enorme plasticidade, sendo capaz de se
transformar em diversos tipos de tecidos humanos, devido ao fato do blastocisto ter
como principal característica a capacidade de dar origem a todos os órgãos do
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organismo humano.
Segundo constatado em pesquisas atuais, as células-tronco embrionárias tem maior
capacidade de “se converter em qualquer dos 216 tipos de células do corpo
humano”[2], podendo dessa forma apresentar melhores resultados na busca de
tratamentos ou da cura de doenças degenerativas, por exemplo.
5. ADI nº 3510: Constitucionalidade das
Pesquisas com Células-tronco Embrionárias
O presente caso tem por objeto o artigo 5º (e parágrafos) da Lei nº 11.105/2005,
conhecida como Lei de Biosseguranca. O dispositivo legal impugnado dispõe,
especificamente, sobre a utilização para fins de pesquisa e terapia, de células-tronco
obtidas de embriões humanos produzidos mediante fertilização in vitro e que não
foram transferidos para o útero materno.
A utilização das células-tronco é de suma importância, pois são células primárias que
tem a capacidade de transformar-se em células de qualquer tecido de um organismo
(artigo 3º, inciso XI, da Lei referida). Assim, podem ser empregadas na cura de
diversas doenças como câncer, doenças do coração, doenças hepáticas, diabetes,
Alzheimer, paralisia cerebral, entre tantas outras. Entretanto, as pesquisas genéticas e
os tratamentos com células-tronco embrionárias recebem fortes críticas de diversos
setores da sociedade, pois para a retirada dessas células, tem que haver destruição do
embrião e para muitos o embrião é considerado uma vida que se encontra em
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formação. Em países mais conservadores, as pesquisas estão paradas ou limitadas à
utilização das células adultas. Ocorre que, as chamadas células-tronco adultas são
retiradas do organismo já formado, por exemplo, medula óssea, fígado, sangue,
cordão umbilical, placenta, etc., mas não possuem alta capacidade de
diferenciação, assim como as células-tronco embrionárias. Assim, as pesquisas com
um tipo não excluem ou substituem o outro.
Segundo a Lei de Biosseguranca, a realização de pesquisas com células-tronco
embrionárias demanda a observância das seguintes exigências: a) que os embriões
tenham resultado de tratamentos de fertilização in vitro (art. 5º, caput); b) que os
embriões sejam inviáveis (art. 5º, I) ou não tenham sido implantados no respectivo
procedimento de fertilização, estando congelados há mais de três anos (art. 5º, II); c)
que os genitores deem seu consentimento (art. 5º, § 1º); e d) que a pesquisa seja
aprovada pelo comitê de ética da instituição (art. 5º, § 2º). Além disso, a lei proibiu:
(i) a comercialização de embriões, célulasou tecidos; (ii) a clonagem humana; e (iii) a
engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano e embrião humano.
Por entender que a norma seria incompatível com a Constituição, o então
Procurador-Geral da República (Dr. Cláudio Fonteles) ajuizou Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) nº 3510 no Supremo Tribunal Federal. A tese central
afirmada na ação foi a de que “a vida humana acontece na, e a partir da fecundação”.
Fundado em tal premissa, o Procurador-Geral sustentou que os dispositivos legais
impugnados violariam dois preceitos da Constituição da República: o art. 5º, caput,
que consagra o direito à vida; e o art. 1º, III, que enuncia como um dos fundamentos
do Estado brasileiro o princípio da dignidade da pessoa humana.
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Os argumentos desenvolvidos na peça inicial podem ser resumidos em uma
proposição: o embrião é um ser humano cuja vida e dignidade seria violada pela
realização das pesquisas que as disposições legais impugnadas autorizam. Na petição,
Fonteles também salienta que “a pesquisa com células-tronco adultas é, objetiva e
certamente, mais promissora do que a pesquisa com células-tronco embrionárias”.
Ao final, solicita a realização de audiência pública com a presença de especialistas
para que exponham suas opiniões acerca do tema. Em defesa da constitucionalidade
da norma, determinadas entidades pleitearam ingresso na ação na qualidade de
amicus curiae, dentre elas o Movimento em Prol da Vida – MOVITAE; Conectas
Direitos Humanos; Centro de Direitos Humanos - CDH; Instituto de Bioética Direitos
Humanos e Gênero - ANIS; Confederação Nacional Dos Bispos Do Brasil – CNBB.
Embora a divulgação do resultado do julgamento da ADI pela imprensa tenha feito
menção a uma vitória por 6 votos a 5, foram três as linhas de votação seguidas pelos
Ministros.
A corrente majoritária foi liderada pelo Ministro-Relator, Carlos Ayres Britto,
acompanhado pelos Ministros Cármen Lúcia, Joaquim Barbosa, Ellen Gracie, Marco
Aurélio e Celso de Mello, julgando o pedido integralmente improcedente. Portanto,
para a maioria da Corte, o artigo 5º da Lei de Biosseguranca não merece reparo.
No seu voto, o relator destacou alguns pontos, como os que se seguem: (i) as células-
tronco embrionárias oferecem maior contribuição em relação às demais, por se
tratarem de células pluripotentes; (ii) o bem jurídico vida, constitucionalmente
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protegido, refere-se à pessoa nativiva; (iii) não há obrigação de que sejam
aproveitados todos os embriões obtidos por fertilização artificial, em respeito ao
planejamento familiar e aos princípios da dignidade da pessoa humana e da
paternidade responsável; (iv) os direitos à livre expressão da atividade científica e à
saúde (que também é dever do Estado), bem como o § 4º do art. 199 da CF/88,
contribuem para afirmar a constitucionalidade da lei; e (v) já se admitiu que a lei
ordinária considere finda a vida com a morte encefálica (Lei nº 9.434/97), sendo que
o embrião objeto das normas impugnadas é incapaz de vida encefálica. E, em
desfecho, sustentou o Ministro Carlos Ayres Britto:
E mais:
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“ Lei de Biosseguranca
Em linhas gerais, os ministros argumentaram que o dispositivo legal impugnado não
afronta o direito à vida, pois o embrião resultante da fertilização in vitro, conservado
em laboratório: a) não é uma pessoa, haja vista não ter nascido; b) não é tampouco
um nascituro, em razão de não haver sido transferido para o útero materno, ou seja, o
embrião não tem aptidão para se tornar sujeito de direitos e deveres. Destarte/sendo
assim, considerando que são embriões excedentes de um processo de Fertilização in
vitro (FIV) e seriam de toda sorte destruídos, seu aproveitamento nas pesquisas e
terapias só traria benefícios, sendo infinitamente mais útil e nobre, que o descarte vão
dos mesmos.
Desse modo, as pesquisas com células-tronco embrionárias não violam o direito à
vida, muito pelo contrário, podem contribuir para o avanço da ciência e para a
superação do sofrimento de inúmeras pessoas, dignificando, assim, a vida humana.
A segunda corrente foi inaugurada pelo Ministro Carlos Alberto Menezes de Direito,
tendo sido seguida, igualmente, pelos Ministros Ricardo Lewandoswski e Eros Grau.
A ideia central a esta posição é a de que, no caso dos embriões congelados, não é
aceitável sua destruição para a realização da pesquisa. Em outras palavras, as
pesquisas podem ser feitas, mas somente se os embriões ainda viáveis não forem
destruídos para a retirada das células-tronco. Como, no estado atual da ciência, não é
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possível desenvolver pesquisas com células-tronco embrionárias sem a destruição do
embrião, esta posição significava, em última análise, a não admissão das pesquisas.
Confira-se a conclusão, sobre o ponto, do voto do Min. Menezes Direito:
Por fim, a terceira posição foi defendida pelos Ministros Cezar Peluso e Gilmar
Mendes. Ambos se alinharam a uma interpretação conforme a Constituição do artigo
impugnado, para exigir a prévia submissão das pesquisas com células-tronco
embrionárias a um órgão central de controle – um “Comitê Central de Ética” –,
subordinado ao Ministério da Saúde, enfatizando a importância da fiscalização
rigorosa nesses tipos de pesquisas. Nas palavras constantes do voto do Ministro
Gilmar Mendes:
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“
11.105
Portanto, a votação, em rigor, foi de seis votos favoráveis à pesquisa, sem qualquer
limitação aos termos da lei; dois votos favoráveis à pesquisa, mas com a exigência de
sua prévia aprovação por um comitê central de ética; e três votos no sentido de não
admissão das pesquisas que importassem na destruição do embrião, o que significa,
no estágio contemporâneo, a sua proibição.
Dessa forma, a ADI 3510, proposta por Carlos Fonteles junto ao STF, questionando a
inconstitucionalidade do art. 5º e parágrafos da Lei 11.105/05, travou um expressivo
debate entre cientistas e juristas, na busca de um consenso sobre a utilização de
embriões humanos congelados para desenvolver pesquisas com células-tronco. O
ponto principal da discussão residiu na falta de convenção acerca do momento de
início da vida, bem como do que se entende por vida. O Supremo, após um longo
debate e discussões sobre o tema, julgou a referida lei constitucional. Entretanto, a
partir da análise dos votos dos Ministros e com o advento das novas técnicas surgidas
na área biotecnológica, o presente estudo demonstra que a polêmica persiste.
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6. Análise da ADI nº 3510 em Face dos
Princípios Fundamentais da Bioética e da
Dignidade da Pessoa Humana
6.1. Princípio da Autonomia
Esse princípio determina que o profissional da saúde deve respeitar a vontade do
paciente,ou no caso, de seu representante, levando em conta, em certa medida, seus
valores morais e crenças religiosas.
Um dos requisitos da utilização dos embriões em pesquisas é o consentimento dos
genitores, conforme dispõe o Art. 5º, § 1º, Lei de Biosseguranca.
O lapso temporal de três anos imposto pela lei com base em dados científicos se faz
suficiente para que o casal pondere acerca da autorização da doação do embrião para
fins científicos.
Do ponto de vista do Ministro Ricardo Lewandowski o consentimento deve ser livre e
informado, conforme os princípios da liberdade e autonomia humana:
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6.2. Princípio da Beneficência
Com base nesse princípio o médico ou o geneticista deve realizar todas as medidas
possíveis em busca do bem-estar das pessoas envolvidas, evitando ao máximo
quaisquer danos. Provem da crença de que o profissional da medicina deve usar o
tratamento para o bem do enfermo e nunca praticar o mal ou a injustiça.
Segundo Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus Maluf: “A regra de ouro do principio
da beneficência é não causar danos e maximizar os benefícios, minimizando os
possíveis riscos”. (MALUF, 2014).
Levando em conta que, segundo dados científicos, após 3 (três) anos, os embriões
congelados se tornam inviáveis, uma vez que sua capacidade de se fixar na parede
uterina é reduzida a aproximadamente zero, não existiria uma pratica maligna por
parte dos pesquisadores.
Além disso, segundo o Relator Ministro Ayres Brito, não existiria dano, por não haver
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o desejo de se interromper a trajetória do material genético, uma vez que este não se
encontra em desenvolvimento por falta do auxilio do corpo feminino.
As células embrionárias podem ser úteis para a realização de pesquisa e terapia,
sendo infinitamente mais útil e nobre que o descarte dos mesmos. Tais pesquisas
poderiam ser utilizadas para salvar vidas.
O artigo 199 da Constituição Federal determina que o Estado deve facilitar a remoção
de substancias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, assim como
faz a lei de biosseguranca. Já o artigo 225 da Constituição Federal impõe o dever de
solidariedade entre gerações, cabendo ao Poder Público assegurar todos os métodos
possíveis de pesquisa de cura quaisquer doenças. Acerca disso, dispõe a Ministra
Carmen Lucia em seu voto:
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Segundo o Ministro Marco Aurélio, seria muito egoísmo jogar no lixo embriões que
poderiam ser usados para pesquisar a cura de diversas doenças (Min. Marco Aurélio,
Pág. 548). Em Harmonia a esse entendimento, o Ministro Joaquim Barbosa, declara
que a proibição das pesquisas com células embrionárias, significaria “fechar os olhos
para o desenvolvimento científico e os benefícios que dele podem advir” (Min.
Joaquim Barbosa, Pág. 474).
6.3. Princípio da Não-Maleficência
É um desdobramento do princípio da beneficência: Obrigação de não acarretar dano
intencional e por derivar da máxima da ética médica, ou seja, os médicos não podem
agir de modo que piore a situação do paciente.
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Conforme demonstrado anteriormente, não há prejuízo na realização de pesquisas em
embriões inviáveis. Uma vez que estes não poderiam ser aproveitados de outra forma,
restavam apenas três opções: a) Permanecerem congelados “ad infinitum”; b) Serem
descartados; ou c) Serem utilizados para pesquisa e terapia.
Para evitar que essas pesquisas tomem um rumo negativo, é imprescindível a criação
de limites claros acerca dessa atividade, como por exemplo, a obrigatoriedade de que
os estudos atendam ao bem comum, ou como já foi estabelecido, que os embriões
utilizados sejam inviáveis à vida e provenientes de processos de fertilização in vitro, e
que haja um consentimento expresso dos genitores para o uso dos embriões para este
fim. Além disso, é fundamental a fiscalização.
6.4. Princípio da Justiça
Requer a imparcialidade na distribuição dos riscos e benefícios, no que se refere à
prática médica. Por ser um dever do Estado, todos devem ter acesso à Saúde de forma
universal e igualitária.
O Ministro Ayres Brito, em seu voto traça um paralelo com a lei 9.434 que trata de
doação de órgão de pessoas falecidas á pessoas vivas, visto que em ambas se aplica
componentes de algo não-vivo para melhorar a existência do ser humano vivo. Em
ambos os casos, tem-se algo vegetativo, sem cérebro, sendo que seu aproveitamento
pode auxiliar um ser cerebrado. Ainda discursa que, Impedir o estudo, a ciência e o
direito a saúde é o mesmo que omitir socorro.
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Ao utilizar células-tronco embrionárias para pesquisa evita-se que o ser humano,
nascido, crescido, e acarretado de mal, se voluntarie para ser usado como cobaia na
esperança de encontrar um tratamento ou uma cura para a sua moléstia. A vida de
um ser humano nascido se sobressai sobre qualquer outra, mesmo porque, o
entendimento dominante é de que não há vida em um embrião in vitro.
Segundo a Ministra Ellen Gracie, a utilização do embrião excedentário para a
pesquisa e terapia é infinitamente mais útil e nobre que o descarte vão dos mesmos.
(Min. Ellen Gracie, p. 219).
6.5. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana
O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana é a base estrutural do Estado
Democrático Brasileiro, estando previsto no artigo 1º, inciso III, da Constituição
Federal: “a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados, Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamento a dignidade da pessoa humana”.
Tal princípio está intimamente ligado ao direito à vida, uma vez que, sem a esta não
teria como se falar em dignidade da pessoa humana. Além disso, o artigo 5º da
Constituição Federal, traz em sua extensa lista de direitos fundamentais, requisitos
para se ter uma vida digna.
A Constituição Federal não determina o momento exato do inicio da vida, entretanto,
Segundo o Ministro Celso Mello: “Ocorre, sim, o início da vida com fecundação, mas
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o blastocisto está muito longe de ser um ser humano”.
Segundo o Ministro Ayres Brito, ao tratar da “dignidade da pessoa humana”, esta faz
referencia a um ser humano já nascido, que faz jus aos direitos fundamentais
presentes no artigo 5o, e não aos residentes em “placas de Petri” (Min. Ayres Brito, p.
164). Ressalta ainda que o embrião merece proteção por ter potencialidade de vir ser
pessoa humana.
O embrião abordado pelo texto legal é o óvulos fecundado congelado, e não aquele
que esta dentro da mulher, se desenvolvendo de modo continuo e independente,
destinatário da proteção constitucional. As pesquisa, portanto, não ferem ao principio
da dignidade da pessoa humana, por conta da inviabilidade da vida.Cabe ressalta que o entendimento do Ministro Menezes Direito é contrario a tal
posicionamento, comparando o embrião sem qualquer tipo de estrutura neural, com
o ser humano falecido, que não apresenta mais estrutura neural, mas tem sua
dignidade protegida, mesmo que de forma reduzida. Para ele o embrião deve ter sua
dignidade protegida, ainda que de forma reduzida.
Em contra partida, a Ministra Carmen Lucia alega:
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Para compor o “sistema humano”, o embrião in vitro, deve ter um “fim”, ou uma
finalidade (pensamento atribuído a Kant), cumprindo um dever “social”. Dessa
forma, para ser digno, o embrião deveria: a) ser implantado; ou b) ser estudado.
7. Outras Alternativas
Os embriões excedentários, são aqueles que não foram implantados no útero
feminino, e estão com o destino “suspenso”, aguardando criopreservados sua função
na terra, e geram uma grave questão ética na comunidade médica e geral.
Eles ocorrem porque as técnicas in vitro são muito custosas, financeira e
emocionalmente, ao casal, e por segurança, os profissionais da área optam por
realizar o procedimento visando a obtenção de vários embriões, possibilitando mais
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de uma tentativa de gravidez.
Primeiramente cabe dizer que a implantação forcada no útero feminina ~e questão
cabalmente impossível. Nisso consonam todos os Dignos Ministros, que afirmam tal
ato como degradante, desumano, tortuosa, que reduziria a mulher a uma condição de
mera reprodutora, sem um dizer sobre o próprio útero, sendo incontestavelmente
inconstitucional.
Tal inconstitucionalidade resulta, entre outras, da prerrogativa que ninguém é
obrigado a fazer, ou deixar de fazer, algo a não ser em virtude de lei, da liberdade de
planejamento familiar, e da paternidade responsável, que seria gravemente ferido ao
se impor um, ou mais, filhos a um casal. Defende, ainda, o Ministro que não há o
apego simbiótico entre mulher e óvulo, assim como existe entre mulher e feto.
Define o Digno Relator em seu voto que são três os destinos possíveis aos embriões
excedentários.
5º Lei de Biosseguranca
O primeiro item, continuar infinitamente congelado, ‘e uma opção que nada traz de
bom a humanidade, não contribui para o avanço cientifico ou de qualquer outra
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coisa.
Consiste na permanência indefinida do embrião em nitrogênio líquido. Este método
segundo Stela Marcos de Almeida Neves Barbas (1998) é:
Ocorre que após certo período de armazenados os embriões humanos tem um
crescente acréscimo das chances de aborto espontâneo ou de má formação do
embrião. Assim não é prudente que embriões há muito preservados sejam
implantados e venham a ser vivos.
Por esta razão muitos países, em seus diplomas legais estipulam um prazo máximo
para o embrião humano fique congelado. Na Inglaterra, por exemplo, é proibido que
de maneira arbitrária e sem fundamentação convincente, seja usado embriões
humanos que estejam a mais de 3 anos congelados, devendo os mesmos serem
destruídos.
No Brasil, a crioconservação do embrião humano não é objeto especifico de nenhuma
legislação, mas defeso nos termos do que determina a Resolução nº 1358/92 do CFM,
que não estipula prazo, apenas limita-se tão a não permitir o descarte ou a destruição
do embrião humano.
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Porem em análise conjunta com a Lei de Biosseguranca, conclui-se que há o prazo
mínimo de 3 (três) anos para armazenamento do embrião, o qual quando extinto
permite o seu uso para finalidade específica de pesquisa científica e terapia.
A segunda opção, trazida pelo Relator é o descarte dos excedentários. No
ordenamento brasileiro, o embrião humano congelado nunca deverá ser
simplesmente destruído ou descartado, por ser parte humana, ‘e detentor de direitos,
respeito e tutela. Assim, o descarte tem que ser realizado de modo humano, seguindo
regras especificas nacionais.
Esta é, como muito dito nos votos, um desperdício de material potencialmente
benéfico ao ser humano, que será descartado como lixo ao invés de possibilitar um
crescimento cientifico a humanidade.
Já a terceira opção, a utilização do embrião excedentário nos termos do artigo 5º da
Lei de Biosseguranca, foi o tema central deste trabalho, e como demonstrado é a
melhor. Respeitando-se os limites impostos pela lei, bioética e moral, é o método que
mais atrai o progresso cientifico.
Com o advento da Lei de Biosseguranca e com o julgamento da ADI 3.510, a
legislação brasileira autoriza a utilização de células-tronco embrionárias
criopreservadas a serem utilizadas em pesquisa científicas e terapias, havendo a
possibilidade também de conseguir retorno cientifico e financeiro com o andamento
dessas pesquisas.
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Acrescenta-se as possibilidades propostas pelo Relator a possibilidade de doação
destes embriões excedentários ‘a outro casal, ou genitora, para que lhe deem vida.
Esta pode ser apresentada como sendo a resposta para os casais com problema de
infertilidade, os quais de outra maneira teriam a única opção a adoção ou então não
ter filhos. Ademais sacia a vontade de gerar da mulher, que sente toda a gestação,
apresentando felicidade ao casal.
Tal opção traz consigo questionamentos com relação ao sigilo da identidade dos
doadores, bem como a relação ao parentesco afetivo e jurídico do embrião com sua
família que aceitou a adoção.
A Resolução nº 1358/1992 do CFM apaga a discussão no quesito sigilo, visto garantir
o anonimato dos doadores, bem como dos receptores de embriões humanos, como
forma de se evitar questões de paternidade e direitos sucessórios entre as partes.
Resta ainda a disputa sobre o direito da pessoa de saber sua procedência biológica,
com resquícios de auto identidade psicológica. O Projeto de Lei nº 90/1999 procura
solucionar a resga, ao permitir que o filho obtenha todas as informações que no
tocante ao procedimento, inclusive a identidade civil do doador, no momento em que
atingir a maioridade, ou antes, em caso da morte de ambos os genitores. Contudo o
projeto encontra grandes barreiras ideológicas.
A adoção, ainda, coexiste com a utilização dos excedentários para pesquisa cientifica,
uma vez que a doação tem que ocorrer antes de 03 (três) anos, por precaução médica,
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e após tal período, se não utilizado, se daria a utilização cientifica.
Conclusão
A presente pesquisa averiguou as teorias relacionadas ao momento de início da vida;
apresentou elementos que buscaram distinguir o conceito de nascituro, o embrião in
vivo e o embrião in vitro; bem como, expôs os meios alternativos para o uso dos
embriões excedentários e o entendimento do Supremo Tribunal Federal quanto à Lei
n. 11.105/2005, relacionando-o com os Princípios da Bioética e da Dignidade daPessoa Humana. Desta forma, foram atingidos todos os objetivos propostos
inicialmente.
Quanto à temática, o ponto principal da discussão residiu na ausência de convenção
acerca do momento de início da vida, bem como do que se entende por vida. O
Supremo Tribunal Federal, após um longo debate e discussões sobre o tema, julgou a
Lei n. 11.105/2005 constitucional. Entretanto, a partir da análise dos votos dos
Ministros e com o advento das novas técnicas surgidas na área biotecnológica, o
presente estudo demonstra que a polêmica persiste.
Porém, apesar desta persistente polêmica, o entendimento majoritário do STF é que o
embrião excedente: a) não é uma pessoa, haja vista não ter nascido; b) não é
tampouco um nascituro, em razão de não haver sido transferido para o útero
materno, ou seja, o embrião não tem aptidão para se tornar sujeito de direitos e
deveres. E, uma vez que estes não poderiam ser aproveitados de outra forma, restam
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apenas três opções: a) Permanecerem congelados “ad infinitum”; b) Serem
descartados; ou c) Serem utilizados para pesquisa e terapia. Neste sentido, a Ministra
Ellen Gracien expõe que a utilização do embrião excedentário para a pesquisa e
terapia é infinitamente mais útil e nobre que o descarte vão dos mesmos. (Min. Ellen
Gracie, p. 219).
Ressalta-se, entretanto, que é imprescindível a criação de limites claros acerca destas
pesquisas e terapias, bem como fiscalização eficaz para que estas não tomem um
rumo negativo. Como exemplo de limitações, têm-se a obrigatoriedade de que os
estudos atendam ao bem comum ou, como já foi estabelecido, que os embriões
utilizados sejam inviáveis à vida e provenientes de processos de fertilização in vitro, e
que haja um consentimento expresso dos genitores para o uso dos embriões para este
fim.
Finalmente, conclui-se que as pesquisas com células-tronco embrionárias não violam
o Direito à Vida e à Dignidade da Pessoa Humana, visto que o embrião não é pessoa
nem nascituro. Assim, as pesquisas e terapias decorrentes dos embriões excedentários
podem contribuir para o avanço da ciência e para a superação do sofrimento de
inúmeras pessoas, dignificando o Bem Supremo - a Vida.
Bibliografia
DINIZ, Maria Helena. O Estado Atual do Biodireito. 9. Ed., rev., aum. E atual. São
Paulo: Saraiva, 2014;
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GARCIA, Maria; GAMBA, Juliane Caravieri; MONTAL, Zélia Cardoso (Coord.).
Biodireito Constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010;
MALUF, Adriana Calldas do Rego Freitas Dabus. Curso Bioética e Biodireito. São
Paulo: Atlas, 2010.
TANAKA, Sônia Yuriko Kanashiro (Coord.), et al. Estudos Avançados de
Biodireito. Rio de Janeiro: Campus, 2014.
JURISPRUDÊNCIA:
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21h19min.
[1] COVAS, Dimas Tadeu; ZAGO, Marco Antonio. “Células-Tronco, A Nova Fronteira
da Medicina”. São Paulo: Editora Atheneu, 2006. P. 18/19, Apud Min. Ayres Brito,
ADI nº 3510, p. 175.
[2] Revista Veja, Editora Abril, edição 2050 - ano 41 - n. 9, p. 11, Apud Min. Ayres
Brito, ADI nº 3510, p. 161
Disponível em: http://jcvalerio.jusbrasil.com.br/artigos/235041204/direitos-dos-nascituros-x-direitos-dos-embrioes-congelados
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