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Artigo de Opnião tTeoria da Constituição - Norma constitucional sobrepõe-se sobre outra de mesma natureza

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O comando de inconstitucionalidade proferido por tribunais superiores e sua relação com a interpretação Constitucional de Peter Haberle.[2: 	Artigo de opinião produzido como fim de obtenção de nota na disciplina de Teoria da Constituição disponibilizada pelo Instituto de Ciências Jurídicas do Curso de Bacharelado em Direito e orientada pelo professor Fernando Cesar Costa Xavier.]
Ícaro Vitório Viana Braga.[3: 	Aluno do Curso de Bacharelado em Direito disponibilizado pelo Instituto de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Roraima.]
Recentemente, foi divulgada a polêmica decisão do Tribunal Superior da Bolívia acerca da possibilidade de reeleição de Evo Morales em 2019. O acórdão diz que a vetação do direito do candidato de se reeleger fere suas garantias constitucionais, sendo, portando uma norma com conteúdo inconstitucional e que deve ser revogada. Como consequência da decisão, foi estendida a todos membros do executivo (prefeitos e governadores) a possibilidade de reeleição sem um limite, o que foi considerado por muitos uma aberração jurídica, um texto constitucional sendo caracterizado como inconstitucional pela própria constituição.
Com a exposição do caso concreto, deve-se indagar, há mesmo a possibilidade de um texto constitucional revogar outro? Quais os critérios para a interpretação de normas constitucionais? E, somente tribunais superiores podem fazer interpretações desse cunho?
Pois bem, como modelo clássico de direito tem-se como referencial, no que diz respeito à relação entre normas, conhecida pirâmide de Kelsen, na qual normas constitucionais flutuam no topo, intangíveis, e abaixo as ordinárias e complementares. Desse entendimento nota-se que, toda legislação deve se submeter a constituição, mas um parêntese fica em aberto, como ocorre a modificação ou revogação de texto constitucional já que este encontra-se no topo? Com este questionamento faz-se necessário remeter aos textos de Haberle, acerca da interpretação de normas constitucionais. Para o autor todos na sociedade estão aptos a serem intérpretes, não somente tribunais compostos de uma seleta elite de conhecedores do Direito, que observam de um só ponto de vista o âmbito jurídico, não permitindo a chamada pluralidade de opiniões. 
Desse modo, a referida decisão seria de cunho inconstitucional e passível de anulação ao passo que não levou em consideração a vontade dos que mais sofreriam com essas mudanças, os eleitores. Pode-se contra argumentar que dado o direito de reeleição o povo pode tanto elegê-lo quanto não votar no candidato, fechando assim o círculo da democracia. Porém, olvida-se que no que tange às relações políticas na América Latina tem de se considerar variáveis como a troca de influências, a compra de voto das massas e os interesses do político em torno de si, não da população.
Logo, percebe-se que abrindo margem para ilimitadas reeleições para membros do poder executivo abre-se margem para uma verdadeira dinastia de politicária. Basta lembrar de casos não muito longínquos de Nepotismo, como o ocorrido no Rio de Janeiro onde a família Sampaio dominou a política de Santa Maria Madalena por setenta anos por meio de eleições e reeleições de familiares. Se, sem a possibilidade de se reeleger mais que duas vezes houve a concretização de uma verdadeira hegemonia política quem dirá com a concretização de tal garantia.
De forma conclusa, pode-se dizer que, a decisão é constitucional por usar do texto legal da própria Carta Magna, mas, ao mesmo tempo, é inconstitucional por não ter a devida consulta popular exigida em temas controversos que afetam a nação como um todo. Ressalta-se, porém, que aqui não se visa criticar o direito de se eleger constantemente, mas sim esse fato sob a luz da realidade latino-americana, cerceada por anos de coronelismo nas suas mais diversas formas, corrupção e ilegitimidades políticas outorgadas para a população.

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