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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CIVEL DA COMARCA DE TEIXEIRA DE FREITAS/BAHIA BELEZURA SOARES DOS SANTOS, brasileira, solteira, modelo profissional, inscrita no CPF sob o nº 5302367 e RG sob nº 89023578-89 SSP/BA, residente e domiciliada na, Rua Governador Antônio Balbino, nº 320- A, bairro Jardim Caraípe, Teixeira de Freitas/BA, por meio dos seus advogados devidamente constituídos, conforme procuração anexa, com fulcro no artigo 4º do Código de Defesa do Consumidor, vem a presença de Vossa Excelência, muito respeitosamente, propor a presente: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS Em face de ASTROGILDO SOUZA SILVA, brasileiro, solteiro, cirurgião- dentista, inscrito no CPF sob o nº 673905930 e no RG sob o nº 342908745-34 SSP/BA, residente e domiciliado na Rua Izaque Azevedo, nº 321, bairro Monte Castelo, Teixeira de Freitas/BA, com endereço profissional na Rua Águas Claras, nº 71, Bela Vista, Teixeira de Freitas/BA, CEP: 20230-070, e em face da CLÍNICA SORRISO FELIZ, pessoa jurídica de direito privado, CNPJ 33.000.118/0001-79, Inscrição Estadual n.º 81.680.469, com sede na Rua Águas Claras, nº 71, Bela Vista, Teixeira de Freitas/BA, CEP: 20230-070, e do na pessoa de seu representante legal, pelas razões de fato e de direito que passa a expor. 1. PRELIMINARMENTE 1.1 DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA: Inicialmente, verificamos que o presente caso trata-se de relação de consumo, sendo amparada pela lei 8.078/90, que trata especificamente das questões em que fornecedores e consumidores integram a relação jurídica, principalmente no que concerne a matéria probatória. Tal legislação faculta ao magistrado determinar a inversão do ônus da prova em favor do consumidor conforme seu artigo 6º, VIII: "Art. 6º São direitos básicos do consumidor: [...] VIII- A facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova (grifo nosso), a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência". Assim, presente a verossimilhança do direito alegado no presente caso, dá-se como certo o seu deferimento. 1.2 DA COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL No presente caso, temos, indiscutivelmente, a competência do Juizado Especial Cível, de acordo com a Lei 9.099/95, em seu artigo 3º, inciso I, que dispõe que o Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo. 2. DOS FATOS No dia 04 (quatro) de julho de 2015, por volta de 10h, a autora, BELEZURA SOARES DOS SANTOS, modelo profissional, atualmente com 19 (dezenove) anos de idade, procurou a clínica odontológica Sorriso Feliz, 2ª promovida na presente ação, para um atendimento de caráter urgente com o cirurgião-dentista ASTROGILDO SOUZA SILVA, ora 1º promovido, tendo em vista que sentia fortes dores em um dos seus dentes frontais. Durante o atendimento com o 1º promovido, a promovente relatou a dor que sentiu no decorrer do dia e, após o cirurgião-dentista analisar a situação da paciente, concluiu que a forte dor foi ocasionada por um problema na raiz do dente frontal, razão pela qual havia a necessidade de realizar-se o procedimento cirúrgico-odontológico popularmente conhecido como canal. Ressalta-se que, após o Dr. ASTROGILDO relatar a causa da dor à paciente, este sugeriu que o “canal” fosse ser realizado de forma urgente, afirmando que este seria o único meio para a paciente deixar de sentir as fortes dores. Sem pesar, a promovente aceitou submeter-se ao procedimento, que foi realizado no mesmo dia, pelo 1º promovido, na sede da 2ª promovida. 3. DO DIREITO 3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA DO CIRURGIÃO- DENTISTA: OBRIGAÇÃO DE MEIO A responsabilidade do profissional liberal deverá será apurada mediante a verificação de culpa, conforme preceitua o artigo 14, §4º do Código de Defesa do Consumidor. Segundo o doutrinador Nelson Nery Júnior, para se caracterizar a responsabilidade do profissional liberal, devemos distinguir obrigações de meio e de resultado. Para o referido autor, quando a obrigação for de resultado, sua responsabilidade e pelo acidente de consumo ou vício é objetiva. Ao revés, quando se tratar de obrigação de meio, aplica-se o §4º do art. 14 em sua inteireza, devendo ser examinada a responsabilidade do profissional liberal sob a teoria da culpa. O instituto da culpa é caracterizada pela negligência, imprudência ou imperícia. No presente caso, restou comprovada a imprudência do 1º promovido, através de um simples parecer técnico, anexado aos autos, devidamente elaborado por um profissional especialista, que comprovou a ação precipitada e sem cautela do cirurgião-dentista. O parecer técnico concluiu que o 1º promovido deveria ter realizado o Raio-X da arcada dentária da paciente antes de proceder ao canal, para confirmar se realmente era necessária a realização de tal procedimento. Ocorre que, considerando a fragilidade que se encontrava o dente frontal da autora, não era caso de se proceder ao canal, pois a realização de tal procedimento colocaria em risco o dente da paciente. Com isso, a falta de cautela (imprudência) fez com que o profissional realizasse o procedimento de forma precipitada, culminando na queda do dente frontal e acarretando prejuízos na seara material, moral e estética da paciente. 3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SOLIDÁRIA DA CLÍNICA SORRISO FELIZ O artigo 37, parágrafo 6º, da Constituição Federal, assim dispõe: "As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado (grifo nosso), prestadoras de serviço público, responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurando o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa." Considerando que a Clínica Sorriso Feliz é pessoa jurídica de direito privado e presta serviço público (saúde), àquela deverá responder pelos danos que seus agentes - que no presente caso é o Dr. Astrogildo, causarem a terceiros, conforme dispõe o artigo 37, parágrafo 6º, da Constituição Federal. A responsabilidade objetiva, consubstanciada no artigo supracitado, não depende da comprovação da culpa ou dolo do agente, pois as pessoas jurídicas de direito privado, prestadoras de serviço público, responderá pelo dano causado por seus agentes, uma vez comprovada, os elementos da responsabilidade civil, ou seja, nexo de causalidade, dano e conduta. Segundo o Código de Defesa do consumidor, a Clínica Sorriso Feliz é um fornecedor de serviços, pois o seu artigo 3º, caput, dispõe que fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Partindo desta concepção, temos que a responsabilidade da Clínica Sorriso Feliz será objetiva e solidária, conforme se verifica no artigo 14, caput, do Código de Defesa do Consumidor. Vejamos: Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. O defeito relativo à prestaçãode serviços mencionado no caput do artigo supracitado, é conceituado no parágrafo primeiro do artigo 14: § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido. Conforme será demonstrado a seguir, a jurisprudência pátria é farta no sentido de confirmar a responsabilidade solidária das clínicas odontológicas em casos de má prestação dos serviços: TJ-DF - Apelacao Civel APC 20130110284674 DF 0007928- 76.2013.8.07.0001 (TJ-DF) Data de publicação: 26/11/2013 Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL. CLÍNICA ODONTOLÓG ICA. PRESTAÇÃO DEFEITUOSA DE SERVIÇO. INEXECUÇÃO PARCIAL. DEVOLUÇÃO DOS VALORES. DANOS MORAIS. I. NÃO OBSTANTE A PREVISÃO DE RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DOS PROFISSIONAIS LIBERAIS (ART. 14 , § 4º , DO CDC ), NO CASO DAS CLÍNICAS MÉDICAS OU ODONTOLÓGICAS, A RESPONSABILIDADE É OBJETIVA, INDEPENDENTE DE CULPA, EXIGINDO-SE, TODAVIA, QUE TENHA HAVIDO DEFEITUOSA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, DANO E NEXO CAUSAL. II. EM REGRA, O SIMPLES INADIMPLEMENTO CONTRATUAL NÃO GERA DANO MORAL. TODAVIA, NO CASO EM QUE A DEMORA E A DEFICIÊNCIA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ODONTOLÓGICOS POR CLÍNICAESPECIALIZA DA PRODUZ SOFRIMENTO PROFUNDO AO CONSUMIDOR, CAUSANDO-LHE PADECIMENTO PSICOLÓGICO INTENSO E OFENSA À SUA DIGNIDADE, HÁ O DEVER DE COMPENSAR O OFENDIDO PELO DANO MORAL CAUSADO. III. DEU-SE PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. TJ-MA - APELAÇÃO CÍVEL AC 219462008 MA (TJ-MA) Data de publicação: 29/01/2009 Ementa: CONSTITUCIONAL. CIVIL E PROCESSO CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CLÍNICA ODONTOLÓGICA. DANOS RESULTANTES DA MÁ- PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. CONFIGURAÇÃO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ART. 14 DO CDC. DANO MORAL. CRITÉRIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. ATENDIMENTO. NÃO PROVIMENTO. I - O hospitais, clínicas e assemelhados, por serem fornecedores de serviços, respondem objetivamente, nos termos do art. 37 , § 6º , da Constituição Federal , e do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, por danos morais ocasionados em decorrência da má-prestação do serviço, ainda mais quando não houve a devida comprovação de culpa exclusiva da vítima ou de terceiro; II - face às circunstâncias que norteiam o caso em análise, o valor fixado a título de danos morais não se mostra exasperado, posto que balizado em critérios de prudência e razoabilidade; III - apelação não provida. 3.3 DANOS MATERIAIS O dano emergente compreende a perda ou diminuição de valores já existentes no patrimônio da promovente. Com a ocorrência do evento danoso, a autora necessitou proceder à um implante dentário no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), conforme recibo anexado aos autos, realizado no dia 10 de agosto de 2015 por outro cirurgião-dentista. Ademais, cumpre relembrar, que BELEZURA SOARES DOS SANTOS é modelo profissional, atualmente com 19 anos de idade e no auge da sua carreira. Com a perda do dente frontal, a autora teve a paralisação da sua atividade lucrativa de forma quase total, com o cancelamento de campanhas fotográficas e presença em eventos e festas, conforme cópia de e-mails recebidos pelas empresas anexados aos autos, o que a impossibilitou de obter os rendimentos esperados, resultando em grande prejuízo financeiro. Nesse sentido, dispõe o Código Civil Brasileiro em seu artigo 402: Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidos ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu o que razoavelmente deixou de lucrar. Sérgio Cavalieri Filho, explana sobre o dano material na categoria de lucros cessantes: “O lucro cessante pode decorrer não só da paralisação da atividade lucrativa ou produtiva da vítima, como, por exemplo, a cessação de rendimentos que alguém já vinha obtendo da sua profissão, como, também, da frustração daquilo que era razoavelmente esperado”. O ordenamento jurídico, por meio dos lucros cessantes, tutela o direito do lesado, em virtude da perda de oportunidade de lucrar ou continuar lucrando, ocasionada pela prática de um ato ilícito, concedendo-lhe, por conseguinte, direito à indenização. Temos, por fim, a incidência da responsabilidade civil pela perda de uma chance no preste caso, haja vista que com a ocorrência do evento danoso, a modelo perdeu a oportunidade de fotografar para diversas campanhas profissionais, que já estavam devidamente agendadas para a semana seguinte após a queda do dente frontal, conforme contratos anexados aos autos. 3.4 DANOS MORAIS Com a queda do dente, além de perder diversos contratos profissionais, a autora passou por sofrimento e dor intensos, com a consequente redução da autoestima e da vontade de viver. Para agravar a situação, a modelo foi humilhada perante a mídia, que divulgou o ocorrido em diversos sites de renome nacional, que contabilizam mais de milhões de acessos por dia. A ilustre civilista Maria Helena Diniz, já preceitua: “Não se trata, como vimos, de uma indenização de sua dor, da perda sua tranquilidade ou prazer de viver, mas de uma compensação pelo dano e injustiça que sofreu, suscetível de proporcionar uma vantagem ao ofendido, pois ele poderá, com a soma de dinheiro recebida, procurar atender às satisfações materiais ou ideais que repute convenientes, atenuando assim, em parte seu sofrimento”. 3.5 DANOS ESTÉTICOS O dano estético é a lesão à beleza física, ou seja, à harmonia das formas, deformidades ou deformações outras, as marcas e os defeitos ainda que mínimos que podem implicar, sob qualquer aspecto, um ‘afeamento’ da vítima ou que pudessem vir a se constituir para ela numa simples lesão ‘desgostante’ ou em permanente motivo de exposição ao ridículo ou de inferiorizantes complexos. A promovente, sem qualquer dúvida, teve uma significativa alteração e lesão física após a queda do seu dente frontal, o que a agrediu em seus sentimentos de autoestima, sendo motivo suficiente de sua exposição ao ridículo e de complexo de inferioridade. 4. DOS PEDIDOS Diante do exposto requer, muito respeitosamente, a Vossa Excelência: a) O recebimento da presente ação; b) Seja concedido, de forma liminar, a inversão do ônus da prova; c) A citação dos promovidos para, querendo, responderem tempestivamente a presente ação, sob pena de revelia; d) Que os promovidos sejam condenados ao pagamento, a título de DANOS MATERIAIS (lucros emergente e cessantes), no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). e) Que os promovidos sejam condenados ao pagamento, a título de DANOS MORAIS, no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais). f) Que os promovidos sejam condenados ao pagamento, a título de DANOS ESTÉTICOS, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). g) A condenação dos promovidos a pagarem o valor de 20% sob o valor da causa a título de honorários sucumbenciais; h) Que a presente ação seja julgada procedente em todos os seus termos. Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos. Dá à causa o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais). Nestes termos, Pede Deferimento. xxxx, 06 de setembro de 2015.
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