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RESUMO: LIDANDO COM OS DERESPEITO E BULLYING EM SALA DE AULA (O PROJETO BICHO-QUE-IRRITA) Trata-se de uma variedade de práticas inovadoras, que possibilita o trabalho com o bullying e o abuso entre crianças e adolescentes. Através de atividades, com diversão e respeito, convida para uma reflexão a respeito dos efeitos do bulying, estimulando a promoção da tolerância e a colaboração em sua convivência. Acredita-se que tanto em sala de aula quanto em uma sala de consultório, lidar com o bulying de forma individual não resolve, já que as práticas de desrespeito sempre acontecem no cenário grupal, em sala de aula, dentro da escola. Sendo necessário trabalhar tais questões no contexto onde elas ocorrem. Esse projeto tem como objetivo a redução de bloqueios contextuais, favorecendo um clima de colaboração e respeito na relação adulto aluno. Inicialmente auxilia os alunos a ter consciência dos efeitos do bulying e do desrespeito, exteriorizando o problema (o Bicho que Irrita). Posteriormente convida os alunos a decidirem que tipo de pessoa querem ser e porquê. Apesar de tratar de um projeto semanal cabe ao facilitador adaptar o projeto as necessidades do grupo. É preciso ser estabelecido um vínculo com a experiência dos alunos para o sucesso do projeto. Nesse processo é crucial haver também uma colaboração entre professor e facilitador. É importante que o professor se interesse pelas ideias do processo, e se sinta confortável para examinar suas próprias práticas de ensino, que involuntariamente pode contribuir para um ciclo de desrespeito. Tenta-se conhecer o professor em nível pessoal e coletar informações sobre ele, sobre a turma e a visão dele a respeito do problema. Na segunda semana, insere-se a discussão da importância da diversidade e das pessoas não serem iguais. Podendo ser abordado com questões de múltipla escolha ou abertas, precisando observar o que funcionará melhor. O facilitador deve reconhecer e valorizar a ideia de todos os alunos não permitindo que se torne uma palestra sobre diversidade. Posteriormente o grupo resume as vantagens de um mundo que tem pessoas diferentes, enfatizando as experiências concretas dos alunos com essas vantagens, usando de questionamentos do dia a dia válidos na realidade dos alunos. Escrever as ideias dos alunos no quadro valida a ideia de respeito e reconhecimento das exposições. Depois do entendimento do conceito de diferenças pode ser falado sobre as diferenças específicas que existe no grupo e a importância delas. Questiona-se das consequências da não compreensão das diferenças, discutindo os efeitos do problema, para que assumam uma postura contra esse tipo de comportamento, compreendendo os efeitos deles em sua vida pessoal e na vida do colega, podendo ainda estabelecer um contato com sua sensibilidade e empatia em relação ao outro. Fazer perguntas, além de ser útil no processo torna-se extremamente necessário para manter os alunos ativamente envolvidos no projeto. É importante separar tempo para ouvir as respostas. Pode-se, principalmente com crianças pequenas ilustrar as consequências “do Bicho que Irrita”, onde os alunos possam assumir papeis, mas o facilitador deve ser ativo, e o próprio deve representar o que irrita. Tanto o uso do termo “Bicho que Irrita” quanto o hábito de irritar também pode auxiliar crianças maiores que não vejam lógica em um bicho. O objetivo é separar o problema da sua identidade, para que possam firmar uma postura contra ele. Caixas de perguntas anônimas também pode auxiliar o facilitador a falar do problema através do ponto de vista dos alunos. Deve-se ter cautela no uso do “Bicho que Irrita”, evitando a repetição contínua do termo. Na terceira semana objetiva-se desmascarar o bicho que irrita. A turma pode ser convidada a criar um slogan de prevenção, propiciando que os alunos expressem com clareza sua maneira de pensar a respeito do tema, tomando o cuidado para que a atividade não se torne uma disputa. Na quarta semana deve acontecer exposição dos pôsteres, sendo importante o reconhecimento de cada um e a explanação da ideia que pretendeu-se passar. Pode ser proposto até mesmo como uma tarefa para casa, uma reflexão, onde os alunos devem avaliar se são capazes de resistir ao “bicho que irrita”. Já na quinta semana deve-se iniciar a construção dos sucessos dos alunos. Eles falarão das suas experiências durante a semana e se conseguiram ou não resistir à tentação do desrespeito. Convidando os a levantarem a mão e estimulando-os a contarem suas histórias de sucesso, pedindo-os que não seja citado os nomes de pessoas envolvidas. Os alunos dispostos a se exporem devem ser ouvidos e aplaudidos com entusiasmo, um a um, em um esforço de apreciar e estimular a luta contra o desrespeito. Após todos terem tido a oportunidade de falar, o facilitador pode inserir o “Quadro de sucessos individuais”, convidando-os a notar as vezem em que poderiam ter agido com desrespeito, mas escolheram não agir dessa forma. A sexta semana tem como objetivo identificar as estratégias utilizadas, e também se inicia com o reconhecimento das histórias de sucesso. Nessa etapa é importante que o facilitador veja as anotações individualmente. É comum acontecer casos em que eles assumam que para não atacar o colega utilizam-se da automutilação, o que deve ser discutido e trabalhado. Mais uma vez é através de questionamentos que o assunto precisa ser abordado, sempre adaptando- as para o contexto presente. Cada uma das estratégias criativa podem ser expandidas para toda a equipe, e até mesmo o próprio facilitador pode sugerir boas estratégia para ser utilizada no combate ao “Bicho que Irrita”, como o uso da respiração profunda, podendo ser expandida em tom de brincadeira como uma metáfora do “sopro de tornado”, que pode ser ilustrado em conjunto por toda turma. Na sétima semana mais uma vez o facilitador incentiva os alunos a contarem suas histórias de sucesso, ampliando a lista de estratégias da equipe. A partir desse ponto, deve ser introduzido a pergunta do que significa uma equipe. Depois de compreendido e internalizado o conceito, pode-se trabalhar com diversas atividades como determinar um nome para a equipe e até mesmo a criação de uma receita de bolo imaginário com a propriedade de induzir o respeito. No início da oitava semana deve ser exposto como foi para o grupo a experiência de ser uma equipe. No caso de relatarem não ter esse sentimento, deve-se dedicar mais tempo para investigar como “o Bicho que Irrita” interfere na vida do grupo e qual atitude os alunos preferiam tomar. A medida em que os alunos vão tornando-se especialistas em desmascarar “o Bicho que Irrita”, em trabalhar em equipe e em perceber seus sucessos, a discussão avança aos jeitos de ser que demonstrem respeito. Pode ser empregado atividades para fazerem definição da palavra respeito e também propor uma entrevista em que os alunos entrevistem dois adultos sobre as experiências que eles tiveram com o Respeito, podendo ser exigido que um dos entrevistados seja um dos pais, sendo uma forma de trazer a participação e contribuição deles para o projeto. A nona semana é dedicada aos resultados das entrevistas. Os alunos relatam o que descobriram e também sua opinião sobre essas ideias. O procedimento de recontar as entrevistas da significado a realidade dos alunos, permitindo às crianças saírem da posição de observadores das ideias para donos das ideias. Em seguida os alunos devem ter a oportunidade de entrevistar o professor e o facilitador e de conhecerem as suas experiências e pontos de vista sobre o Respeito e “o Bicho que Irrita”. O arranjo físico dessa atividade deve levar em conta todo o grupo, alcançando sucesso sem propiciar danos futuros paraequipe. A entrevista inevitavelmente faz crescer o vínculo entre professor e aluno. Para muitos, essa experiência serve como forma de renovar o respeito para com os seus alunos e de reviver a sua juventude, lembrando-os que um dia também se sentiram não compreendidos pelos os adultos. Na décima semana pede-se a observação a respeito das mudanças na equipe. Se a equipe passou a demonstrar mais respeito e se sentem-se mais respeitados. Após ser registrado as observações dos alunos pode ser feito duas fotografias. Uma representando a presença do Bicho que Irrita prejudicando a relação dos alunos e outra do Respeito facilitando e estimulando uma boa relação entre as pessoas. O ideal é que o facilitador e o professor estejam na fotografia, já que são membros da equipe, e que cada membro receba uma cópia de cada uma das fotos, podendo ser feito ainda uma arte com o registro. Como preparação para a semana seguinte, os alunos podem ser convidados a criar um poema sobre o Respeito. Os poemas feitos em equipe são construídos na décima primeira semana. Pede-se que cada um escolha o seu verso preferido e que seja lido aleatoriamente, e enquanto o professor o estiver escrevendo no quadro permite-se o aplauso a cada contribuição. O texto poderá ser utilizado como está ou juntos podem definir a ordem de cada verso, qual se encaixa melhor no início, meio ou fim. A próxima etapa é copiar o poema em equipe na montagem fotográfica do processo anterior. Agora na décima segunda semana, quando os alunos não apenas são especialistas em notar a presença do Bicho que Irrita e a ele resistir, mas também em perceber e compreender o Respeito, podemos convidá-los a serem observadores secretos de sucesso para recrutar um novo público para a nova história preferida. Geralmente é mais fácil notar os próprios esforços, é preciso que os alunos já tenham prática em observar os próprios sucessos, para depois envolve- los na pratica de observar os sucessos do outro. Cada aluno ficará responsável em observar secretamente o sucesso de dois outros colegas, em demonstrar respeito e combater o Bicho que Irrita, e essas observações serão registradas em um formulário específico que será entregue aos alunos. Pode ser interessante que o observador faça e envie bilhetes de identificações de sucesso do observado, sendo uma forma do observado perceber sucessos que ele talvez não tenha identificado. É útil discutir as inúmeras maneiras que o Bicho que Irrita pode interferir nessa atividade. Existem questões importantes a serem abordadas, como ser apontado a observar alguém de quem eles não gostem, de se concentrarem em saber quem está observando quem, de esquecer de entregar os bilhetes, de ficar perguntando a todo mundo se é o seu observador e de ser revelado como observador de alguém e mentir sobre isso. Em muitos aspectos, essa atividade cria um olhar positivo que impede o olhar crítico habitualmente encontrado na sala de aula. Na décima terceira semana pode-se começar uma discussão cujo o foco esteja em como eles são afetados pelo fato de receberem os bilhetes e de saber que as pessoas estão esperando para saber de suas realizações. Dependendo de como foi a experiência o facilitador pode escolher continuar o processo ou redesignar novos espiões para cada um. Agora, já na décima quarta semana a turma está pronta para prosseguir com um jogo de adivinhação destinado a descobrir quem observou quem. É fundamental evitar uma atmosfera de competição e comparação, onde uns aparecem menos ou mais espertos. Pode-se pedir que cada criança escreva o nome de cinco colegas que acredite ter sido seu observador. Depois aleatoriamente chama-se cada um a frente para ler os cinco nomes em voz alta, e pede-se para que o verdadeiro observador se faça conhecido. Então aplaude-se o observador por ter sido um observador de sucesso. Posteriormente faz-se entre todos uma superobservação e convida-se que cada observador assine os seus bilhetes informativos de sucesso, e é preciso que aqueles que prefiram se manter em secreto assim façam. Encerra-se com o processo de documentação, que deve ser feito de acordo com as possibilidades e preferencias da turma. A décima quinta semana, é o momento de apreciação. Após passarem quase dois meses desenvolvendo relacionamentos baseados no respeito e na tolerância, os alunos estarão empolgados em falar do desenvolvimento da sua turma. O objetivo é convidar os alunos a fazerem uma breve explanação em público dos sucessos que observaram nos seus colegas. O encontro termina com os alunos sendo informados de que irão iniciar sua última semana de superespionagem. Na decima sexta semana, os alunos verão quais e quantos foram os sucessos notados. Nesta fase pode ser feito um jogo com os bilhetes de sucesso, onde cada um tira um ou até três sucessos, fazendo com que todos tenham seus sucessos reconhecidos. É feito então uma premiação visando recompensar o maior número de alunos possível. O grupo também deve ser convidado a continuar a compartilhar sua apreciação, simplesmente dizendo aos seus colegas de classe quando observam um sucesso. Já na decima sétima semana, pode-se convidar os alunos a apresentar um espetáculo contra o Bicho que Irrita para os pais, a administração e até mesmo outras turmas, fazendo uma representação de alguns dos seus sucessos concretos, uma entrevista com o Bicho que Irrita, um detetive em busca do Bicho que Irrita, entre outras coisas que podem ser pensadas e desenvolvidas junto com toda a equipe. O objetivo dessa atividade é criar um contexto no qual a habilidade dos alunos com o Bicho que Irrita e o Respeito seja reconhecido publicamente. Os alunos poderão dar muitas ideias e devem participar integralmente da organização de cada detalhe. Deve-se levantar com os alunos possíveis momentos em que o Bicho que Irrita possa aparecer nesse processo que envolve tanta euforia. Pode ser feito com as autorizações necessárias a gravação do espetáculo, propiciando um alcance maior do projeto e podendo ser apreciado também pelos pais que não possam ir no evento. A decima oitava e a decima nona semana podem ser dedicadas a realização e gravação do espetáculo planejado na decima sétima semana. A representação proporciona um público para a distribuição de certificados de progresso. Os certificados podem ser feitos pelos próprios alunos, podendo escrever frases de sucesso e enfeitá-lo como quiserem. No próximo encontro posterior a apresentação pode ser assistido o vídeo. É interessante discutir nesse momento o que eles mais gostaram, como se sentiram, o que fizeram para evitar o Bicho que Irrita, o que fez com que eles se sentissem fazendo parte de uma equipe e o que a turma faria de diferente se fizessem um outro espetáculo. Depois de todos tiverem tido a oportunidade de expressarem pode ser discutido sobre o processo de ver o vídeo e o de compartilhar o vídeo. No processo de assistir ao vídeo pode ser que o Bicho que Irrita tente fazer os alunos se sentirem mal ao ver o vídeo. Podendo aparecer a auto crítica, a necessidade de fazer críticas, constrangimentos, entre outros. Todas essas inquietações devem ser abordadas com antecedência, a fim de garantir que a experiência de ver o vídeo juntos seja algo positivo. O compartilhamento dos vídeos por precisar de esforços monetários poderá ser feito por acordos entre o grupo. Uma corrente do vídeo pode facilitar e tornar possível que todos vejam o vídeo individualmente, fazendo a corrente por crianças que moram no mesmo bairro ou mais próximo, devendo contar com o auxílio dos pais para alcançar sucesso no repasse do vídeo. Colocar o vídeo na biblioteca onde um aluno de cada vez poderá pegar emprestado é outra opção quedeve ser considerada. Chegado na vigésima semana, os alunos já se sentem mais confortáveis com o conflito Bicho que Irrita versus Respeito. Os alunos agora já adquiriram conhecimento em todos os aspectos do desrespeito, aprendendo a identifica-lo, a notar seus efeitos e a criar estratégias para enfrenta-lo, vivendo a vida sem a presença dele e observando os sucessos dos outros e de si. Sugere-se que todo esse conhecimento seja resumido em histórias, pode ser apresentado exemplos de histórias para inspirá-los a criação da sua própria história nessa caminhada de autoconhecimento. Na vigésima primeira semana acontece a leitura pública da história. Deve-se levar em consideração que mesmo que todos tenham escrito a história, por timidez nem todos vão querer torna-la pública. Pode-se pedir voluntários para ler a história de quem não quer se identificar ou o próprio professor ou o facilitador pode assumir esse papel. Finalizado a contação das histórias deve ser apresentado aos alunos uma ficha de feedback, afim de ajudar o facilitador a melhorar o projeto. Agora, orgulhosos de seus conhecimentos e experiências, as histórias dos alunos poderão ser utilizadas como instrumento de ensino para outras crianças. Pode-se fazer ainda um recrutamento de alunos que estejam interessados a atuar como facilitadores do programa em outras turmas. Todos os processos que envolvem tamanha participação do aluno fora de sala de aula ou exposição, deve ser feito com prévia autorização dos pais. As funções assumidas por eles como auxiliares do facilitador devem ser funções simples que não ultrapassem os seus limites pessoais. O trabalho em sala de aula exige que o facilitador tenha o cuidado extra de acompanhar a experiências dos alunos, de criar um formato seguro para as discussões minimizando o espaço para a ocorrência do problema, de manter o interesse da turma, de respeitar as ideias dos alunos, de evitar a marginalização e de minimizar a violência em relação ao Bicho que Irrita. Assim, os facilitadores que se envolvem nesse projeto devem entender as ideias que orientam a escolha e a criação das atividades. É necessário que educadores e professores envolvidos tenham uma boa compreensão dos conceitos narrativos que estão por trás das atividades. Sem esse conhecimento teórico, os exercícios poderiam involuntariamente reproduzir certas estruturas de poder, em vez de desafiar o problema do desrespeito.
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