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Ciências Biológicas Fluidos Fluido: substância que pode escoar. Sólidos podem possuir estrutura microscópica organizada, a qual se chama de reticulado cristalino, e que é uma estrutura periódica no espaço. Fluidos (líquidos e gases) possuem sempre estrutura desorganizada. Eles se conformam ao recipiente que os contém (mesmo que lentamente, como o piche). Um fluido não suporta uma tensão de cisalhamento (uma força apropriada) sem escoar (sem se deformar). As células do nosso corpo estão imersas em fluidos, e mesmo dentro delas é cheio de fluido intracelular. Com isso, podem ser satisfeitas várias condições essenciais para o desempenho das funções fisiológicas, como ambiente estável, aporte de nutrientes e remoção de resíduos. Os fluidos corporais são soluções de água e substâncias dissolvidas (solutos). A primeira é o componente em maior abundância no nosso organismo. Massa Específica A primeira grandeza que introduzimos, que auxilia a descrever os fluidos, é a massa específica, ou densidade. Um corpo com massa m e volume V possui massa específica ρ definida por = m V . A unidade de massa específica no SI é kg m³ (quilograma por metro cúbico). A massa específica dos gases varia (gases são compressíveis), enquanto que a dos líquidos não (líquidos são incompressíveis). Pressão Uma força F exercida uniformemente sobre uma área A produz uma pressão P sobre esta superfície dada por P = F A . Unidade de pressão no SI: 1 Pa = 1 pascal. Tem-se que 1 Pa = 1 N/m2. Outra unidade muito utilizada para a pressão é a atmosfera.1 atm = 1,01 x 105 Pa. É usado ainda o torr (em homenagem a Evangelista Torricelli, inventor do barômetro de mercúrio. 1 atm = 760 torr. Conhece-se também como milímetro de mercúrio: 1 torr = 1 mm Hg). Densidade ou massa específica de alguns meios e substâncias: meio ou material densidade (kg/m3) espaço interestelar 10-20 melhor vácuo em laboratório 10-17 ar: 20°C e pressão de 1 atm 1,21 20°C e 50 atm 60,5 poliestireno 1 x 102 gelo 0,917 x 103 água: 20°C e 1 atm 0,998 x103 20°C e 50 atm 1 x 103 água do mar a 20°C e 1 atm 1,024 x 103 sangue 1,060 x 103 alumínio 2,7 x 103 ferro 7,9 x 103 mercúrio (metal) 13,6 x 103 Terra: média 5,5 x 103 núcleo 9,5 x 103 crosta 2,8 x 103 Sol: média 1,4 x 103 núcleo 1,6 x 103 estrela anã branca (núcleo) 1010 núcleo de urânio 3 x 1017 estrela de nêutrons (núcleo) 1018 Exemplo: Uma sala possui dimensões do piso de 3,5 m por 4,2 m e uma altura de 2,4 m. (a) Quanto pesa o ar contido na sala quando a pressão do ar é de 1 atm? Solução: Usamos que, se = m V , então m = V , e que o volume é o de um paralelepípedo (largura x profundidade x altura). Assim, sendo a força peso dado por peso = mg, peso = mg = V g = 1,21 kg /m³ 3,5m×4,2 m×2,4m9,8m /s² = 418 N (b) Qual a intensidade da força da atmosfera sobre o piso da sala? Solução: Sendo P = F A , então F = P A = 1atmárea do piso = 1,01×105 Pa 3,5 m4,2 m = 1,5×106 N Este é o peso da coluna de ar que vai do piso ao topo da atmosfera. Fluidos em Repouso Para obtermos expressões que descrevem o comportamento das variáveis de um fluido em repouso, considere uma determinada quantidade de líquido contido num recipiente. Dentro deste recipiente, considere um volume imaginário de líquido, como é mostrado na figura abaixo. Este volume imaginário é delimitado por cima pelo nível 1, e, por baixo, pelo nível 2. Agem sobre o líquido deste volume imaginário três forças: para baixo, atuam a força peso do líquido contido no volume imaginário, e a força F1, causada pelo líquido que está acima deste volume imaginário; para cima, atua a força F2, causada pelo líquido que está abaixo do volume imaginário. y ar 0 líquido y1 nível 1, p1 F 1 F 2 peso y2 nível 2, p2 volume imaginário de base A A condição para que o líquido nesta situação esteja em repouso é que a soma das intensidades das forças que atuam para baixo seja igual à intensidade da força que aponta para cima, ou seja, F 2 = F 1 peso . A seguir, lembramos que a força F pode ser expressa por F = P A , sendo P a pressão e A a área sobre a qual age a força. Lembrando ainda que o peso tem intensidade peso = mg, podemos reescrever a equação acima como P2 A = P1 A mg , A massa pode ser expressa como m = V , sendo ρ a densidade do líquido e V o volume, o qual tem expressão V = base x altura = A (y1 – y2). Substituímos V = A (y1 – y2) na expressão para m, e m na última expressão acima, para obter P2 A = P1 A A y1− y 2 g , da qual podemos simplificar a área A, resultando em P2 = P1 g y1− y2 , que relaciona as posições e as pressões entre os dois níveis do líquido. A pressão a uma profundidade h abaixo da superfície tem expressão dada por P = P0 g h onde se toma, para o nível 1, a superfície do líquido, e, para o nível 2, a distância h abaixo da superfície, ainda (y1 – y2) = h, e finalmente chamou-se P2 de P e P1 de P0. Pode-se obter também expressão para a pressão atmosférica a uma distância d acima do nível 1, que é dada por P = P0 − ar g d onde se toma, para o nível 1, o nível do mar, e, para o nível 2, a distância d para cima, ainda (y1 – y2) = -d, novamente chamou-se P2 de P e P1 de P0, e finalmente fez-se ρ = ρar. Exercício: Os membros da tripulação tentam escapar de um submarino danificado, estando a 100 m abaixo da superfície. (a) Qual a pressão que age sobre as paredes do submarino? (b) Que força deve ser aplicada a uma porta de saída de emergência de dimensões 1,2 m por 0,60 m, para que seja aberta para fora nesta profundidade? Respostas: (a) P = 1,125 x 106 Pa; (b) F = 7,37 x 105 N. Princípio de Pascal Blaise Pascal – 1652. “Uma mudança de pressão aplicada a um fluido incompressível confinado é transmitida integralmente a todas as partes do fluido e às paredes do seu recipiente.” Exemplos do princípio de Pascal podem ser encontrados no uso de um tubo de pasta de dente quando apertado, no funcionamento da alavanca hidráulica, ou elevador hidráulico, e no bombeamento do sangue pelo coração. Princípio de Arquimedes Quando um corpo está total ou parcialmente submerso em um fluido, o fluido ao redor exerce uma força de empuxo F e sobre o corpo. Esta força é dirigida para cima e possui uma intensidade igual ao peso do fluido que foi deslocado pelo corpo. Na figura abaixo, são apresentadas três situações em que diferentes corpos sofrem diferentes forças de empuxo, quando mergulhados em um fluido. F e F e F e saco com pedra v madeira fluido leve v fluido peso peso peso(a) F e=peso (b) F epeso (c) F epeso Na situação (a) acima, o corpo submerso permanece em repouso, pois as forças verticais de empuxo e peso se anulam uma à outra. Esta é a situação chamada de flutuação, onde o corpo flutuante desloca o seu próprio peso de fluido. Na situação (b), a força peso é maior do que a força de empuxo, e o corpo se move para baixo, afundando no fluido. Na situação (c), a força peso é menor do que a força de empuxo, e o corpo se move para cima, subindo à tona. No caso de flutuação, em que parte do corpo está fora do fluido, como apresentado na figura abaixo, a definição dada acima também é válida (o corpo flutuante desloca o seu próprio peso de fluido). A diferença é que o fluido deslocado tem volume igual apenas à parte submersa do corpo. F e madeira peso fluido A expressão matemática para a força de empuxo é F e = m f g , onde mf é a massa de fluido deslocada pelo corpo, e g a contante de aceleração da gravidade. No caso de flutuação, tem-se que peso = m f g . Chama-se peso aparente em um fluido o peso de um corpo submerso, com a intensidade diminuída devido ao empuxo. O peso aparente é expresso por peso aparente = peso − F e . Astronautas simulam um peso aparente nulo, treinando embaixo d'água tarefas a serem realizadas na Lua. Exemplo: A bexiga natatória é uma espécie de bolsa de gás que determinados peixes possuem na cavidade abdominal, cujo tamanho eles podem variar e, assim, variar seu próprio volume e densidade. Os peixes que não possuem bexiga natatória necessitam estar em constante movimento; enquanto que os que a possuem são capazes de permanecer em repouso em determinada profundidade da água - nesta situação, as densidades da água e do peixe são iguais. Considere um peixe de 3 kg, que desloca 3,1 kg de água doce, e que possui bexiga natatória. (a) Qual o volume e a densidade deste peixe? (b) Qual o valor da força de empuxo sofrida pelo peixe, e seu peso? (c) Este peixe ajustou sua bexiga natatória para subir mais próximo à superfície, ou para ganhar maior profundidade? Justifique a resposta. Resolução: (a) O volume do peixe é o mesmo volume de água doce deslocado, o qual pode ser obtido: V águadoce = mágua doce águadoce = 3,1kg 1.000 kg /m3 = 0,0031 m3 . O volume do peixe é, portanto, V peixe = 0,0031 m 3 . A sua densidade é peixe= m peixe V peixe = 3 kg 0,0031m3 = 967,74 kg m3 . (b) A força de empuxo que o peixe sofre é F e = mágua doce g = 3,1kg×10 m s2 = 31 N . A força peso exercida sobre o peixe é de peso = mpeixe g = 3kg×10 m s2 = 30 N . (c) O peixe ajustou sua bexiga natatória para subir mais próximo à superfície, pois a força de empuxo que ele sofre é maior do que seu peso, fazendo com que ele suba. Vapor e Umidade Evaporação é um processo de mudança da fase líquida para a fase gasosa, que ocorre na superfície do líquido. O processo: as moléculas do líquido se agitam continuamente. Quanto maior esta agitação (ou esta energia cinética), maior é a temperatura do líquido. As moléculas colidem durante esta agitação, e nisto algumas perdem energia, outras ganham, e, eventualmente, ganham energia suficiente para se liberar da superfície do líquido – tornam-se moléculas de vapor. As moléculas que permanecem no líquido após a colisão são as com menor energia, ou seja, menor temperatura. Portanto, a evaporação é um processo de resfriamento. ar moléculas moléculas colidem e se liberam do líquido líquido Condensação A condensação é um processo oposto à evaporação. Durante o processo de condensação, moléculas do gás próximas à superfície do líquido são atraídas por ele, e acabam grudando nele. A energia cinética das moléculas do líquido aumenta, aumentando a temperatura. A condensação é um processo de aquecimento. Em localidades onde a evaporação é maior do que a condensação, em um dia quente a evaporação produz uma sensação mais fria, ou menos quente, do que a temperatura numa localidade onde a condensação é maior do que a evaporação. Fluidos Ideais em Movimento Movimentos em fluidos reais são muito complicados para serem descritos. Facilita-se sua descrição idealizando o fluido. Consideram-se as seguintes idealizações: 1- Escoamento permanente (ou laminar): a velocidade num ponto do escoamento não varia no tempo. 2- Escoamento incompressível: a massa específica do fluido é uniforme, constante. 3- Escoamento não-viscoso: o fluido não resiste ao escoamento. Viscosidade é o análogo fluido do atrito. 4- Escoamento irrotacional: não há tendência de movimentos circulares. Escoamento Viscoso Em um fluido ideal, se o tubo com escoamento não variar de área de seção transversal e se permanecer na horizontal, a pressão permanece constante ao longo do tubo. Na prática, contudo, a pressão diminui ao longo do escoamento. Esta perda de pressão se deve à viscosidade do fluido. O escoamento deve vencer forças viscosas entre a parede do tubo e o fluido, e entre camadas do fluido. v Em virtude das forças viscosas, a velocidade do fluido é maior nas vizinhanças do eixo do tubo, e menor (tende a zero) em contato com as paredes do tubo. Coeficiente de viscosidade de um fluido (η) Fluido temperatura (°C) η (10-3Pa.s) água 0 1,8 20 1,00 60 0,65 sangue 37 4,0 óleo de motor 30 200 glicerina 0 1.410 60 81 ar 20 0,018 Tensão Superficial A tensão superficial é uma contração das superfícies dos líquidos. Ela é simbolizada por γ. A tensão superficial explica, entre muitas outras coisas, o formato aproximadamente esférico de gotas de líquidos: ela superficial contrai o volume, que busca ser mínimo, ou seja, o de uma esfera. Exemplos: névoa e orvalho. A causa da tensão superficial é que as moléculas da superfície do líquido são atraídas pelas moléculas abaixo delas, e não sofrem atração por cima, como sofrem as demais moléculas do líquido. Na figura abaixo, apresenta-se esta explicação. atração apenas para baixo superfície do líquido moléculas atração por todos os lados A tensão superficial permite que alguns insetos caminhem sobre a água, ou que se suspendam lâminas e agulhas sobre ela. Nestas situações, a superfície se verga como um plástico. Coesão – Adesão Forças de coesão (ou coesivas): forças atrativas entre as moléculas de uma mesma substância (Fc). Forças de adesão (ou adesivas): forças entre as moléculas da superfície de uma substância com as da superfície de outra substância (Fa). Consideremos uma gota de um líquido em contato com uma superfície sólida. - Se as forças de coesão forem menores que as de adesão, o ângulo θ entre a gota e a superfície sólida será maior do que 90°. (Ver figura abaixo.)Fc < Fa , θ > 90° ar gota d'água θ superfície sólida vidro - Se as forças de coesão forem maiores que as de adesão, o ângulo θ entre a gota e a superfície sólida será menor do que 90°. (Ver figura abaixo.) Fc > Fa , θ < 90° ar gota de mercúrio superfície θ sólida vidro Capilaridade Consideremos a situação de um tubo estreito parcialmente mergulhado em líquido. O nível da superfície do líquido e o do líquido dentro do tubo podem não ser os mesmos, conforme é mostrado nas figuras abaixo. tubo (canudo) P0 P0 P1 ar P0 h ar P0 h P1 água (ρ) mercúrio (ρHg) (a) P1 − P0 = g h (b) P1 − P0 = Hg g h No caso (a), a força de coesão da água é menor do que a força de adesão entre a água e a superfície do tubo. As forças de adesão fazem com que uma coluna de líquido suba pelo tubo, auxiliada pela força associada à tensão superficial, que tende a contrair a superfície interna do líquido. A coluna de líquido sobe até haver equilíbrio entre a força associada à tensão superficial e o peso da coluna. No caso (b), a força de coesão do mercúrio é maior do que a força de adesão entre o mercúrio e a superfície do tubo. Este fenômeno se chama capilaridade, ou ação capilar. Note que formam-se superfícies arredondadas também nas paredes externas do tubo, pela diferença entre adesão e coesão. Uma expressão para a altura h da coluna de líquido no tubo capilar é obtida na igualdade entre a força associada à tensão superficial e o peso da coluna, que expressa o equilíbrio entre estas forças. Esta altura é dada por h = 2 r g , onde γ é tensão superficial do líquido, r é o raio do tubo, ρ é a densidade do líquido e g é a constante de aceleração da gravidade. Exemplos de ação capilar: - o fenômeno da ação capilar é um dos responsáveis por levar seiva e nutrientes até os ramos mais altos das árvores, e água para as raízes; - o pavio do lampião é encharcado pelo combustível por capilaridade; - um cubo de açúcar se umidifica encostando uma ponta no café; - mergulhando parte dos cabelos, a água sobe por entre eles por capilaridade, assim como pelas cerdas de um pincel. Exemplo: Obter a altura a que a seiva da árvore é elevada, a partir do solo, considerando um caso em que a capilaridade seja o único fenômeno responsável pela subida da seiva. Tomar a tensão superficial γ da seiva igual a 0,073 N/m, aproximar a densidade ρ da seiva à da água doce, ou seja, 1.000 kg/m3, a aceleração da gravidade 10 m/s2, e fazer o diâmetro do xilema igual a 0,02 mm. Solução: Usamos h = 2r g , fazendo γ = 0,073 N/m, ρ = 1.000 kg/m 3, g = 10 m/s2, e r = diâmetro/2 = (0,02 mm)/2 = 0,01 mm = 0,00001 m. Com isso, tem-se h = 2 r g = 2×0,073 N /m 0,00001m ×1.000 kg /m3×10 m /s2 ≈ 1,5m . Exercício: Qual deveria ser o diâmetro dos condutores no xilema de uma árvore de 100 m, se fosse possível explicar satisfatoriamente, através do fenômeno de tensão superficial, o mecanismo pelo qual a seiva é transportada até seu topo? Dar a resposta em milímetros.
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