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2 SÉRIEa ENSINO MÉDIO Caderno do Professor Volume 4 SOCIOLOGIA Ciências Humanas Nome: Escola: 1 edição revistaGOVERNO DO ESTADO DE SãO PAULO SECRETARIA DA EDUCAçãO MATERIAL DE APOIO AO CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO CADERNO DO PROFESSOR SOCIOLOGIA ENSINO MÉDIO – 2ª SÉRIE VOLUME 4 a São Paulo, 2013 Governo do Estado de São Paulo Governador Geraldo Alckmin Vice-Governador Guilherme Afif Domingos Secretário da Educação Herman Voorwald Secretário-Adjunto João Cardoso Palma Filho Chefe de Gabinete Fernando Padula Novaes Subsecretária de Articulação Regional Rosania Morales Morroni Coordenadora da Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores – EFAP Silvia Andrade da Cunha Galletta Coordenadora de Gestão da Educação Básica Maria Elizabete da Costa Coordenador de Gestão de Recursos Humanos Jorge Sagae Coordenadora de Informação, Monitoramento e Avaliação Educacional Maria Lucia Guardia Coordenadora de Infraestrutura e Serviços Escolares Ana Leonor Sala Alonso Coordenadora de Orçamento e Finanças Claudia Chiaroni Afuso Presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE Barjas Negri CONCEPÇÃO E COORDENAÇÃO GERAL COORDENADORIA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA – CGEB Coordenadora Maria Elizabete da Costa Diretor do Departamento de Desenvolvimento Curricular de Gestão da Educação Básica João Freitas da Silva Diretora do Centro de Ensino Fundamental dos Anos Finais, Ensino Médio e Educação Profissional – CEFAF Valéria Tarantello de Georgel Coordenação Técnica Roberto Canossa Roberto Liberato EQUIPES CURRICULARES Área de Linguagens Arte: Carlos Eduardo Povinha, Kátia Lucila Bueno, Pio de Sousa Santana e Roseli Ventrela. Educação Física: Marcelo Ortega Amorim, Maria Elisa Kobs Zacarias, Mirna Leia Violin Brandt, Rosangela Aparecida de Paiva e Sergio Roberto Silveira. Língua Estrangeira Moderna (Inglês e Espanhol): Ana Paula de Oliveira Lopes, Jucimeire de Souza Bispo, Marina Tsunokawa Shimabukuro, Neide Ferreira Gaspar e Sílvia Cristina Gomes Nogueira. Língua Portuguesa e Literatura: Angela Maria Baltieri Souza, Claricia Akemi Eguti, Idê Moraes dos Santos, João Mário Santana, Kátia Regina Pessoa, Mara Lúcia David, Marcos Rodrigues Ferreira, Roseli Cordeiro Cardoso e Rozeli Frasca Bueno Alves. Área de Matemática Matemática: Carlos Tadeu da Graça Barros, Ivan Castilho, João dos Santos, Otavio Yoshio Yamanaka, Rodrigo Soares de Sá, Sandra Maira Zen Zacarias e Vanderley Aparecido Cornatione. Área de Ciências da Natureza Biologia: Aparecida Kida Sanches, Elizabeth Reymi Rodrigues, Juliana Pavani de Paula Bueno e Rodrigo Ponce. Ciências: Eleuza Vania Maria Lagos Guazzelli, Gisele Nanini Mathias, Herbert Gomes da Silva e Maria da Graça de Jesus Mendes. Física: Carolina dos Santos Batista, Fábio Bresighello Beig, Renata Cristina de Andrade Oliveira e Tatiana Souza da Luz Stroeymeyte. Química: Ana Joaquina Simões S. de Matos Carvalho, Jeronimo da Silva Barbosa Filho, João Batista Santos Junior e Natalina de Fátima Mateus. Área de Ciências Humanas Filosofia: Tânia Gonçalves e Teônia de Abreu Ferreira. Geografia: Andréia Cristina Barroso Cardoso, Débora Regina Aversan e Sérgio Luiz Damiati. História: Cynthia Moreira Marcucci e Maria Margarete dos Santos. Sociologia: Alan Vitor Corrêa, Carlos Fernando de Almeida, Sérgio Roberto Cardoso e Tony Shigueki Nakatani. PROFESSORES COORDENADORES DO NÚCLEO PEDAGÓGICO Área de Linguagens Educação Física: Ana Lucia Steidle, Eliana Cristine Budisk de Lima, Fabiana Oliveira da Silva, Isabel Cristina Albergoni, Karina Xavier, Katia Mendes, Liliane Renata Tank Gullo, Marcia Magali Rodrigues dos Santos, Mônica Antonia Cucatto da Silva, Patrícia Pinto Santiago, Regina Maria Lopes, Sandra Pereira Mendes, Sebastiana Gonçalves Ferreira Viscardi, Silvana Alves Muniz, Thiago Candido Biselli Farias e Welker José Mahler. Língua Estrangeira Moderna (Inglês): Célia Regina Teixeira da Costa, Cleide Antunes Silva, Ednéa Boso, Edney Couto de Souza, Elana Simone Schiavo Caramano, Eliane Graciela dos Santos Santana, Elisabeth Pacheco Lomba Kozokoski, Fabiola Maciel Saldão, Isabel Cristina dos Santos Dias, Juliana Munhoz dos Santos, Kátia Vitorian Gellers, Lídia Maria Batista Bomfim, Lindomar Alves de Oliveira, Lúcia Aparecida Arantes, Mauro Celso de Souza, Neusa A. Abrunhosa Tápias, Patrícia Helena Passos, Renata Motta Chicoli Belchior, Renato José de Souza, Sandra Regina Teixeira Batista de Campos e Silmara Santade Masiero. Língua Portuguesa: Andrea Righeto, Edilene Bachega R. Viveiros, Eliane Cristina Gonçalves Ramos, Graciana B. Ignacio Cunha, Letícia M. de Barros L. Viviani, Luciana de Paula Diniz, Márcia Regina Xavier Gardenal, Maria Cristina Cunha Riondet Costa, Maria José de Miranda Nascimento, Maria Márcia Zamprônio Pedroso, Patrícia Fernanda Morande Roveri, Ronaldo Cesar Alexandre Formici, Selma Rodrigues e Sílvia Regina Peres. Área de Matemática Matemática: Carlos Alexandre Emídio, Clóvis Antonio de Lima, Delizabeth Evanir Malavazzi, Edinei Pereira de Sousa, Eduardo Granado Garcia, Evaristo Glória, Everaldo José Machado de Lima, Fabio Augusto Trevisan, Inês Chiarelli Dias, Ivan Castilho, José Maria Sales Júnior, Luciana Moraes Funada, Luciana Vanessa de Almeida Buranello, Mário José Pagotto, Paula Pereira Guanais, Regina Helena de Oliveira Rodrigues, Robson Rossi, Rodrigo Soares de Sá, Rosana Jorge Monteiro, Rosângela Teodoro Gonçalves, Roseli Soares Jacomini, Silvia Ignês Peruquetti Bortolatto e Zilda Meira de Aguiar Gomes. Área de Ciências da Natureza Biologia: Aureli Martins Sartori de Toledo, Claudia Segantini Leme, Evandro Rodrigues Vargas Silvério, Fernanda Rezende Pedroza, Regiani Braguim Chioderoli e Sofia Valeriano Silva Ratz. Ciências: Davi Andrade Pacheco, Franklin Julio de Melo, Liamara P. Rocha da Silva, Marceline de Lima, Paulo Garcez Fernandes, Paulo Roberto Orlandi Valdastri, Rosimeire da Cunha e Wilson Luís Prati. Física: Ana Claudia Cossini Martins, Ana Paula Vieira Costa, André Henrique Ghelfi Rufino, Cristiane Gislene Bezerra, Fabiana Hernandes M. Garcia, Leandro dos Reis Marques, Marcio Bortoletto Fessel, Marta Ferreira Mafra, Rafael Plana Simões e Rui Buosi. Química: Armenak Bolean, Cirila Tacconi, Daniel B. Nascimento, Elizandra C. S. Lopes, Gerson N. Silva, Idma A. C. Ferreira, Laura C. A. Xavier, Marcos Antônio Gimenes, Massuko S. Warigoda, Roza K. Morikawa, Sílvia H. M. Fernandes, Valdir P. Berti e Willian G. Jesus. Área de Ciências Humanas Filosofia: Álex Roberto Genelhu Soares, Anderson Gomes de Paiva, Anderson Luiz Pereira, Claudio Nitsch Medeiros e José Aparecido Vidal. Geografia: Ana Helena Veneziani Vitor, Célio Batista da Silva, Edison Luiz Barbosa de Souza, Edivaldo Bezerra Viana, Elizete Buranello Perez, Márcio Luiz Verni, Milton Paulo dos Santos, Mônica Estevan, Regina Célia Batista, Rita de Cássia Araujo, Rosinei Aparecida Ribeiro Libório, Sandra Raquel Scassola Dias, Selma Marli Trivellato e Sonia Maria M. Romano. História: Aparecida de Fátima dos Santos Pereira, Carla Flaitt Valentini, Claudia Elisabete Silva, Cristiane Gonçalves de Campos, Cristina de Lima Cardoso Leme, Ellen Claudia Cardoso Doretto, Ester Galesi Gryga, Karin Sant’Ana Kossling, Marcia Aparecida Ferrari Salgado de Barros, Mercia Albertina de Lima Camargo, Priscila Lourenço, Rogerio Sicchieri, Sandra Maria Fodra e Walter Garcia de Carvalho Vilas Boas. Sociologia: Aparecido Antônio de Almeida, Jean Paulo de Araújo Miranda, Neide de Lima Moura e Tânia Fetchir. GESTÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO EDITORIAL FUNDAÇÃO CARLOS ALBERTO VANZOLINI Presidente da Diretoria Executiva Antonio Rafael Namur Muscat Vice-presidente da Diretoria Executiva Alberto Wunderler Ramos GESTÃO DE TECNOLOGIAS APLICADASÀ EDUCAÇÃO Direção da Área Guilherme Ary Plonski Coordenação Executiva do Projeto Angela Sprenger e Beatriz Scavazza Gestão Editorial Denise Blanes Equipe de Produção Editorial: Ana C. S. Pelegrini, Cíntia Leitão, Karinna Alessandra Carvalho Taddeo, Mariana Góis, Marina Murphy, Michelangelo Russo, Natália S. Moreira, Olivia Frade Zambone, Priscila Risso, Regiane Monteiro Pimentel Barboza, Rodolfo Marinho, Stella Assumpção Mendes Mesquita e Tatiana F. Souza. Direitos autorais e iconografia: Beatriz Fonseca Micsik, Érica Marques, José Carlos Augusto, Maria Aparecida Acunzo Forli e Maria Magalhães de Alencastro. COORDENAÇÃO TÉCNICA Coordenadoria de Gestão da Educação Básica – CGEB COORDENAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DOS CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS DOS CADERNOS DOS PROFESSORES E DOS CADERNOS DOS ALUNOS Ghisleine Trigo Silveira CONCEPÇÃO Guiomar Namo de Mello Lino de Macedo Luis Carlos de Menezes Maria Inês Fini (coordenadora) Ruy Berger (em memória) AUTORES Linguagens Coordenador de área: Alice Vieira. Arte: Gisa Picosque, Mirian Celeste Martins, Geraldo de Oliveira Suzigan, Jéssica Mami Makino e Sayonara Pereira. Educação Física: Adalberto dos Santos Souza, Carla de Meira Leite, Jocimar Daolio, Luciana Venâncio, Luiz Sanches Neto, Mauro Betti, Renata Elsa Stark e Sérgio Roberto Silveira. LEM – Inglês: Adriana Ranelli Weigel Borges, Alzira da Silva Shimoura, Lívia de Araújo Donnini Rodrigues, Priscila Mayumi Hayama e Sueli Salles Fidalgo. LEM – Espanhol: Ana Maria López Ramírez, Isabel Gretel María Eres Fernández, Ivan Rodrigues Martin, Margareth dos Santos e Neide T. Maia González. Língua Portuguesa: Alice Vieira, Débora Mallet Pezarim de Angelo, Eliane Aparecida de Aguiar, José Luís Marques López Landeira e João Henrique Nogueira Mateos. Matemática Coordenador de área: Nílson José Machado. Matemática: Nílson José Machado, Carlos Eduardo de Souza Campos Granja, José Luiz Pastore Mello, Roberto Perides Moisés, Rogério Ferreira da Fonseca, Ruy César Pietropaolo e Walter Spinelli. Ciências Humanas Coordenador de área: Paulo Miceli. Filosofia: Paulo Miceli, Luiza Christov, Adilton Luís Martins e Renê José Trentin Silveira. Geografia: Angela Corrêa da Silva, Jaime Tadeu Oliva, Raul Borges Guimarães, Regina Araujo e Sérgio Adas. História: Paulo Miceli, Diego López Silva, Glaydson José da Silva, Mônica Lungov Bugelli e Raquel dos Santos Funari. Sociologia: Heloisa Helena Teixeira de Souza Martins, Marcelo Santos Masset Lacombe, Melissa de Mattos Pimenta e Stella Christina Schrijnemaekers. Ciências da Natureza Coordenador de área: Luis Carlos de Menezes. Biologia: Ghisleine Trigo Silveira, Fabíola Bovo Mendonça, Felipe Bandoni de Oliveira, Lucilene Aparecida Esperante Limp, Maria Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Olga Aguilar Santana, Paulo Roberto da Cunha, Rodrigo Venturoso Mendes da Silveira e Solange Soares de Camargo. Ciências: Ghisleine Trigo Silveira, Cristina Leite, João Carlos Miguel Tomaz Micheletti Neto, Julio Cézar Foschini Lisbôa, Lucilene Aparecida Esperante Limp, Maíra Batistoni e Silva, Maria Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Paulo Rogério Miranda Correia, Renata Alves Ribeiro, Ricardo Rechi Aguiar, Rosana dos Santos Jordão, Simone Jaconetti Ydi e Yassuko Hosoume. Física: Luis Carlos de Menezes, Estevam Rouxinol, Guilherme Brockington, Ivã Gurgel, Luís Paulo de Carvalho Piassi, Marcelo de Carvalho Bonetti, Maurício Pietrocola Pinto de Oliveira, Maxwell Roger da Purificação Siqueira, Sonia Salem e Yassuko Hosoume. Química: Maria Eunice Ribeiro Marcondes, Denilse Morais Zambom, Fabio Luiz de Souza, Hebe Ribeiro da Cruz Peixoto, Isis Valença de Sousa Santos, Luciane Hiromi Akahoshi, Maria Fernanda Penteado Lamas e Yvone Mussa Esperidião. Caderno do Gestor Lino de Macedo, Maria Eliza Fini e Zuleika de Felice Murrie. EQUIPE DE PRODUÇÃO Coordenação executiva: Beatriz Scavazza. Assessores: Alex Barros, Antonio Carlos de Carvalho, Beatriz Blay, Carla de Meira Leite, Eliane Yambanis, Heloisa Amaral Dias de Oliveira, José Carlos Augusto, Luiza Christov, Maria Eloisa Pires Tavares, Paulo Eduardo Mendes, Paulo Roberto da Cunha, Pepita Prata, Renata Elsa Stark, Solange Wagner Locatelli e Vanessa Dias Moretti. EQUIPE EDITORIAL Coordenação executiva: Angela Sprenger. Assessores: Denise Blanes e Luis Márcio Barbosa. Projeto editorial: Zuleika de Felice Murrie. Edição e Produção editorial: Jairo Souza Design Gráfico e Occy Design (projeto gráfico). APOIO Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE CTP, Impressão e Acabamento Esdeva Indústria Gráfica S.A. A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo autoriza a reprodução do conteúdo do material de sua titularidade pelas demais secretarias de educação do país,desde que mantida a integridade da obra e dos créditos, ressaltando que direitos autorais protegidos* deverão ser diretamente negociados com seus próprios titulares, sob pena de infração aos artigos da Lei nº- 9.610/98. * Constituem “direitos autorais protegidos” todas e quaisquer obras de terceiros reproduzidas no material da SEE-SP que não estejam em domínio público nos termos do artigo 41 da Lei de Direitos Autorais. Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas S239c São Paulo (Estado) Secretaria da Educação. Caderno do professor: sociologia, ensino médio - 2ª- série, volume 4 / Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; equipe, Heloísa Helena Teixeira de Souza Martins, Melissa de Mattos Pimenta, Stella Christina Schrijnemaekers. São Paulo: SEE, 2013. ISBN 978-85-7849-447-6 1. Sociologia 2. Ensino Médio 3. Estudo e ensino I. Fini, Maria Inês. II. Martins, Heloísa Helena Teixeira de Souza. III. Pimenta, Melissa de Mattos. IV. Schrijnemaekers, Stella Christina. V. Título. CDU: 373.5:316 * Nos Cadernos do Programa São Paulo faz escola são indicados sites para o aprofundamento de conhecimentos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados e como referências bibliográficas. Todos esses endereços eletrônicos foram checados. No entanto, como a internet é um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo não garante que os sites indicados permaneçam acessíveis ou inalterados. * As fotografias da agência Abblestock/Jupiter publicadas no material são de propriedade da Getty Images. * Os mapas reproduzidos no material são de autoria de terceiros e mantêm as características dos originais, no que diz respeito à grafia adotada e à inclusão e composição dos elementos cartográficos (escala, legenda e rosa dos ventos). Senhoras e senhores docentes, A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo sente-se honrada em tê-los como colabo- radores na reedição do Caderno do Professor, realizada a partir dos estudos e análises que per- mitiram consolidar a articulação do currículo proposto com aquele em ação nas salas de aula de todo o Estado de São Paulo. Para isso, o trabalho realizado em parceria com os PCNP e com os professores da rede de ensino tem sido basal para o aprofundamento analítico e crítico da abor- dagem dos materiais de apoio ao currículo. Essa ação, efetivada por meio do programa Educação — Compromisso de São Paulo, é de fundamentalimportância para a Pasta, que despende, neste programa, seus maiores esforços ao intensificar ações de avaliação e monitoramento da utilização dos diferentes materiais de apoio à implementação do currículo e ao empregar o Caderno nas ações de formação de professores e gestores da rede de ensino. Além disso, firma seu dever com a busca por uma educação paulista de qualidade ao promover estudos sobre os impactos gerados pelo uso do material do São Paulo Faz Escola nos resultados da rede, por meio do Saresp e do Ideb. Enfim, o Caderno do Professor, criado pelo programa São Paulo Faz Escola, apresenta orien- tações didático-pedagógicas e traz como base o conteúdo do Currículo Oficial do Estado de São Paulo, que pode ser utilizado como complemento à Matriz Curricular. Observem que as atividades ora propostas podem ser complementadas por outras que julgarem pertinentes ou necessárias, dependendo do seu planejamento e da adequação da proposta de ensino deste material à realidade da sua escola e de seus alunos. O Caderno tem a proposição de apoiá-los no planejamento de suas aulas para que explorem em seus alunos as competências e habilidades necessárias que comportam a construção do saber e a apropriação dos conteúdos das disciplinas, além de permitir uma avalia- ção constante, por parte dos docentes, das práticas metodológicas em sala de aula, objetivando a diversificação do ensino e a melhoria da qualidade do fazer pedagógico. Revigoram-se assim os esforços desta Secretaria no sentido de apoiá-los e mobilizá-los em seu trabalho e esperamos que o Caderno, ora apresentado, contribua para valorizar o ofício de ensinar e elevar nossos discentes à categoria de protagonistas de sua história. Contamos com nosso Magistério para a efetiva, contínua e renovada implementação do currículo. Bom trabalho! Herman Voorwald Secretário da Educação do Estado de São Paulo SUMáRIO Ficha do Caderno 7 Orientação sobre os conteúdos do volume 8 Tema 1 – Desconstruindo o conceito de violência 10 Situação de Aprendizagem 1 – O que é violência? 10 Tema 2 – Vitimização e violência 18 Situação de Aprendizagem 2 – Violência contra o jovem 18 Tema 3 – Violência de gênero 29 Situação de Aprendizagem 3 – Violência contra a mulher 29 Tema 4 – Os conflitos na vivência escolar 37 Situação de Aprendizagem 4 – Violência escolar 37 Recursos para ampliar a perspectiva do professor e do aluno para a compreensão dos temas 46 FICHA DO CADERNO Violência em Sociedade Nome da disciplina: Sociologia área: Ciências Humanas Etapa da educação básica: Ensino Médio Série: 2ª Volume: 4 Temas e conteúdos: O que é violência Violência física, psicológica e simbólica Violência contra o jovem Violência contra a mulher Violência escolar 7 ORIENTAçãO SOBRE OS CONTEúDOS DO VOLUME 8 Caro professor, Fechamos a 2ª série do Ensino Médio com um dos grandes temas da Sociologia contem- porânea: a violência em suas múltiplas formas e dimensões. Nosso objetivo é tratar essa ques- tão delicada de maneira pertinente, instigante e problematizadora, ou seja, em vez de propiciar um tratamento midiático tão comumente dado à violência nos meios de comunicação, procu- raremos trazer o debate para a realidade mais próxima do cotidiano do aluno jovem: a vio- lência que o afeta diretamente, a violência que acontece dentro de casa, especialmente contra a mulher, e a violência escolar. Trata-se, por- tanto, de buscar compreender o que é a violên- cia, seus significados, suas dimensões sociais e jurídicas, discutir as razões pelas quais ela ocorre e de que formas ela nos afeta, tanto do ponto vista da esfera pública quanto da pri- vada. Neste volume, serão tratadas as proble- máticas da violência contra o jovem, e da qual o jovem também é autor, da violência contra a mulher e, não menos importante, da violên- cia escolar. A concepção de violência será des- construída e serão analisadas suas formas e dimensões: o objetivo é compreender as dife- renças entre violência física, psicológica e sim- bólica. A importância desse debate reside não apenas em situar o jovem em relação à condi- ção de vítima e de agressor, mas, sobretudo, na conscientização sobre a responsabilidade de cada um em relação ao outro, para que possa haver, efetivamente, o exercício da cidadania. Conhecimentos priorizados O objetivo deste volume é abordar de forma crítica a violência no contexto brasi- leiro, priorizando, para isso, o reconheci- mento da existência de diferentes dimensões e formas de violência. Espera-se que, ao final do volume, os alunos estejam aptos a identifi- car e distinguir o que é violência física, psico- lógica e simbólica, assim como algumas das formas por meio das quais elas se manifes- tam. Além disso, pretende-se que os alunos sejam capazes de identificar e compreender de forma crítica como a violência contra o jovem, contra a mulher e a violência escolar são exercidas em suas diversas formas (sim- bólica, física e psicológica). Competências e habilidades As atividades propostas têm o intuito de buscar o aprimoramento das seguintes habili- dades: leitura e interpretação de textos; análise e interpretação de tabelas e gráficos; associa- ção de temas, ideias e conteúdos apreendidos em sala de aula à realidade cotidiana. Metodologias e estratégias Para tratar da problemática da violên- cia, propomos neste volume a utilização de materiais e recursos pedagógicos varia- dos que propiciem e estimulem a reflexão crítica e o debate sobre o tema de maneira instigante e problematizadora. Desse modo, são propostas atividades diversificadas que dependem do conteúdo a ser trabalhado. Há desde a análise de imagens e reportagens de jornal até a leitura e interpretação de tex- tos, tabelas e gráficos, buscando combinar atividades de discussão com aulas expositi- vas e dialogadas. Sociologia - 2a série - Volume 4 Avaliação A avaliação deve valorizar o empenho, a criatividade e a capacidade dos jovens de darem conta das atividades propostas da melhor forma possível. Elas diferem, dependendo da Situação de Aprendizagem. De forma geral, é sugerida a elaboração, por parte dos alunos, de textos dis- sertativos argumentativos, mas também foram incluídas atividades de pesquisa e análise de reportagens de jornal, leitura e interpretação de textos e um projeto de solução de conflitos. 9 TEMA 1 – DESCONSTRUINDO O CONCEITO DE VIOLÊNCIA SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 1 O QUE É VIOLÊNCIA? Nesta Situação de Aprendizagem, o aluno será introduzido em uma concepção geral da violência, suas principais formas e dimen- sões. Serão discutidos também seus desdo- bramentos sociais e jurídicos, de modo a se chegar a um consenso sobre em que consiste a violação de direitos e o que efetivamente acarreta sanções do ponto de vista da lei. O objetivo é propiciar um olhar de estranha- mento em relação à violência enquanto prá- tica e ação social humana, tipificá-la e compreendê-la em seus diferentes âmbitos, de modo a produzir uma reflexão ampla e crítica sobre o problema. Tempo previsto: 2 aulas. Conteúdos e temas: o que é violência; dimensões da violência (violência física, psicológica e simbólica); formas de violência; a quem a violência se dirige; quando ela se torna violação de direitos e crime. Competências e habilidades:abordar criticamente a problemática da violência no contexto bra- sileiro; compreender o que é violência em suas diferentes dimensões; reconhecer a existência de diferentes formas de violência: física, psicológica e simbólica. Estratégias: análise de imagens; leitura e interpretação de textos; debates em sala de aula. Recursos necessários: recortes de jornal. Avaliação: análise de reportagens de jornal. 10 Sondagem e sensibilização A violência é hoje parte de nosso coti- diano: de maneira direta ou indireta, diaria- mente, somos expostos a todo tipo de informação alusiva a atos de violação à inte- gridade física, psicológica e moral de outros seres humanos por meio dos noticiários tele- visivos, da mídia impressa, do cinema, das séries policiais e da própria realidade à nossa volta. Somos testemunhas de atos violentos, conhecemos pessoas que foram vítimas e tam- bém agressoras, ou somos nós próprios vítimas ou responsáveis por ações que deixam seque- las físicas e psicológicas. Por essa razão, tratar do tema violência envolve sempre o risco da sua banalização e do uso do senso comum. Pensar o problema de maneira sociológica requer, antes de tudo, adotar um distancia- mento apropriado, procurando analisá-lo sob © David Crausby/Alamy-Otherimages © Roberto Vinícius/Ag. Free Lancer/Futura Press © Danilo Verpa/FolhapressSociologia - 2a série - Volume 4 um enfoque objetivo. Mais uma vez, recorre- mos ao exercício do estranhamento para abordar o assunto, como se a violência esti- vesse sendo discutida pela primeira vez. Como sensibilização, sugerimos utilizar como referência a atenção dada pelos meios de comunicação à violência nos noticiários. Você pode trabalhar com os alunos de duas formas: f trazendo seus próprios recortes de jornal; f utilizando os textos sugeridos neste Caderno. Para isso, elaboramos três reportagens fictícias, que fazem menção a atos violentos Figura 1 – Briga (referência ao Texto 2). Figura 2 – Ação dos policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) (referência ao Texto 3). ocorridos em um mesmo dia, em três locali- dades diferentes. O objetivo é basear-se no repertório sobre violência que os alunos tra- zem para a sala de aula e procurar mapear o que eles não sabem sobre o assunto. Ao final do exercício, deverá ter ficado claro que é fácil falar sobre o assunto, mas é difícil ir além da notícia e explicar os fenômenos. Afinal de contas, por que a violência ocorre? Caso tenha optado por utilizar os textos do Caderno, chame a atenção da turma para as três imagens a seguir e solicite que eles: a) identifiquem o que cada imagem representa; b) imaginem e descrevam o que aconteceu. Figura 3 – Resgate com ambulância (referência ao Texto 1). 11 Em seguida, solicite a um voluntário para ler os seguintes trechos. Caso esteja utilizando entre os alunos. Sugerimos que você faça uma leitura compartilhada. recortes de jornal, distribua as reportagens Texto 1 Homem é baleado durante tentativa de assalto em shopping na Zona Oeste de São Paulo Um homem ainda não identificado foi atingido por cinco tiros no início da tarde desta quin- ta-feira, no estacionamento de um shopping localizado no bairro Continente, Zona Oeste de São Paulo. Segundo informações da Polícia Civil, o homem foi vítima de uma tentativa de assalto, por volta das 12 horas, após deixar um caixa eletrônico no interior do shopping. Ainda de acordo com a polícia, a vítima reagiu ao assalto e foi atingida pelos tiros na região do abdômen. O homem foi socorrido por guardas que passavam pelo local e encaminhado ao pronto-socorro mais próximo, onde passou por uma cirurgia para retirada das balas. Segundo os médicos, seu estado de saúde é grave. O suspeito de realizar a tentativa de assalto fugiu em uma moto. Não há informações se algo foi roubado da vítima. Texto 2 Pais de estudante agridem diretor de escola e ameaçam crianças e professores em Minas Gerais Os pais de um dos estudantes de uma escola estadual em Jurisprunópolis, interior de Minas Gerais, estão deixando alunos e professores amedrontados. Os dois têm ameaçado de agressão outros pais e também alunos e professores. O diretor da unidade chegou a ser agredido. O estudante tem 13 anos e seus pais vão constantemente à escola e fazem ameaças a crianças de 5ª a 8ª séries/6º ao 9º anos. Um professor, que não quis ser identificado, contou como ocorre a intimidação. – Ele (pai) me chamou de palhaço e perguntou se eu achava que o filho dele não tinha pai. Ele disse que eu bati no filho dele, mas eu não fiz isso – afirmou. O caso mais grave, porém, aconteceu com o diretor da escola. Ele levou um soco do pai da criança e denunciou o caso à polícia. – Eu, de repente, senti apenas o impacto do golpe. Em comum acordo, nós decidimos entre- gar à família do menino o documento de transferência dele para outra escola. A decisão é cole- tiva – lembrou a vítima, ainda com os lábios inchados. De acordo com a coordenadora pedagógica, uma equipe multidisciplinar será formada para tentar resolver a situação. Texto 3 Família é mantida refém por duas horas na Zona Norte de São Paulo SÃO PAULO – Quatro pessoas da mesma família foram mantidas reféns por três homens durante cerca de duas horas dentro de casa na Zona Norte de São Paulo, na manhã desta quinta-feira. De acordo com a Polícia Militar, por volta das 8 horas o trio invadiu a residência com a intenção de praticar um assalto. Os vizinhos perceberam a ação dos suspeitos e chamaram a polícia. Com a chegada dos PMs, os três tomaram a família como refém, que ficou sob a mira de três revólveres. Após quase duas horas de negociação com a PM, os ladrões renderam-se e libertaram as vítimas. O Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) e o helicóptero Águia da PM também foram acionados para o local. Não houve troca de tiros e ninguém se feriu. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. 12 Sociologia - 2a série - Volume 4 Após a leitura, peça aos alunos que iden- tifiquem qual imagem corresponde a qual texto. Em seguida, proponha as seguintes questões para serem respondidas como Lição de Casa: Sugestão! As questões também podem ser utilizadas caso você tenha optado por trazer seus próprios recortes de jornal. 1. Identifique as ações praticadas em cada caso que podem ser consideradas violentas e quais foram suas consequências, inclusive aquelas que julgar prováveis. 2. Qual das situações narradas você consi- dera a mais violenta? Por quê? 3. Na sua opinião, qual dos casos deixou sequelas mais sérias nas vítimas? Justifique sua resposta. Etapa 1 – O que é violência? Nessa etapa, discutiremos a questão cen- tral da Situação de Aprendizagem, ou seja, a concepção do que é violência. É importante ter em mente que, tal como diversos outros conceitos da Sociologia, não há uma defini- ção única sobre o que seja violência, aceita de forma unânime pelos sociólogos em geral; diferentes autores a abordam sob enfoques diversos. Por essa razão, procuraremos come- çar por uma concepção geral, embasada na literatura sociológica. Essa noção, entretanto, não deve ser entendida como um conceito fechado e acabado, mas, sim, aberto ao debate e à reflexão crítica. Retome os textos ou recortes de jornal que tiver utilizado na sensibilizaçãoinicial. Você pode pedir aos alunos que os releiam em silêncio ou solicitar a voluntários que façam a leitura de forma alternada. É importante que você identifique as ações relacionadas à violência em cada caso. Escreva uma lista na lousa à medida que os textos forem lidos: Exemplo Texto 1: “foi atingido por cinco tiros”; “tentativa de assalto”. Ao final, solicite aos alunos que anotem ou grifem as expressões no corpo do texto em seus Cadernos. Em seguida, proponha a seguinte questão para a turma: Das expres- sões contidas na lista, o que pode ser conside- rado violência? Por quê? Essa questão pode ser trabalhada de diversas formas. Sugerimos que você faça uma votação. Para cada expressão, pergunte quantos acham que é violência e quantos acham que não. Anote os resultados na lousa e depois reorganize a lista em ordem decrescente segundo a opinião dos alunos. Aproveite essas informações ao máximo para o desenvolvimento desta etapa. 13 É possível que algumas das ações identifi- cadas na lista não sejam consideradas formas de violência, mas apenas agressões, xingamen- tos ou atos correlatos. Isso porque o senso comum tende a não identificá-las como agres- sões, dado que a violência é geralmente rela- cionada a atos criminosos, ou a atos que geram danos físicos para a pessoa que sofre a ação violenta. Porém, como discutiremos a seguir, a violência envolve muito mais do que as agres- sões físicas que levam aos ferimentos ou à morte e, pela concepção que defenderemos aqui, todas as expressões exemplificadas na lista podem ser consideradas formas de violência. Por quê? Porque em todas as situações, exemplificadas na sensibilização e enumeradas com base nos textos ou nos recortes de jornal, estão envolvidos seres humanos que, de uma forma ou de outra, foram afetados física, psicológica ou moralmente pelas ações per- petradas por outros indivíduos. Esta é a ideia central para a compreensão da violência: a noção de que ela constitui uma ação que causa alguma forma de dano a outro ser humano, direta ou indiretamente. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no Relatório Mundial sobre a Violência e Saúde, Genebra, 2002, a violência pode ser definida como: o uso intencional de força física ou do poder contra si mesmo, outra pessoa, um grupo ou uma comunidade. O uso da força ou do poder pode ser: a) real, ou seja, quando chega às vias de fato e resulta em dano; b) em forma de ameaça, isto é, quando re- presenta alta probabilidade de causar dano psicológico, lesão, deficiência de desenvolvimento, privação1 ou morte. Peça a um voluntário para ler o seguinte trecho: Para melhor compreensão do que é violência, sugerimos a leitura dos seguintes livros:A violência pode ser entendida como a ação de um indivíduo ou grupo contra uma ou mais pessoas a fim de causar danos. Essa violência pode ser direta, quando atinge imediatamente o corpo da pessoa que a sofre; ou indireta, quando se dá por meio da alteração do ambiente no qual ela se encontra; ou ainda, quando se retiram, destroem ou danificam os recursos materiais. Tanto a forma direta quanto a forma indireta prejudicam a pessoa ou o grupo alvo da violência. Além disso, existe violência quando a ação causa constrangimentos não apenas físicos, mas também psi- cológicos e morais. Finalmente, é preciso incluir a violência simbólica, que não causa a morte física, mas atenta contra as crenças, a cultura e a própria identidade dos indivíduos que dela são vítimas. Concluindo, entende-se como violência tudo aquilo que não é desejado pelo outro, e que lhe é imposto pela força concreta ou simbólica1. 1 ARENDT, Hannah. Sobre a violência. 3. ed. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2001. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: a história da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 1997. MAFFESOLI, Michel. Dinâmica da violência. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1987. MARRA, Célia Auxiliadora dos Santos. Violência Escolar: a percepção dos atores escolares e a repercussão no cotidiano da escola. São Paulo: Annablume, 2007. MICHAUD, Yves. A violência. São Paulo: Ed. Ática, 1989. VELHO, Gilberto. Violência, reciprocidade e desigualdade. In: VELHO, Gilberto e ALVITO, Marcos (Orgs.). Cidadania e violência. Rio de Janeiro: UFRJ/FGV, 1996. p.10-23. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. 14 1 Falta do necessário à vida; necessidade, fome, miséria. Figura 4. Figura 5. Figura 6. Violência organizada. Exemplo: invasão de Exército. Violência de grupo. Exemplo: vandalismo urbano. Violência contra a cultura e a religião de um povo. Exemplo: escultura de Buda gigante destruída pelos talibãs em março de 2001. Nicho do século V, Bamiyan, Afeganistão. © Fernando Favoretto © Tasso Marcelo/AE © David Bathgate/ Corbis-LatinstockSociologia - 2a série - Volume 4 Após a leitura, pergunte aos alunos o que eles entenderam do texto e procure obter exemplos baseados na sua interpretação. (No Caderno do Aluno essa pergunta é feita com espaço para resposta). Aproveite para explicitar que os atos violentos não necessariamente são rea- lizados por indivíduos de forma isolada, mas podem ser desempenhados por grupos orga- nizados ou não (como milícias e exércitos) e Estados, por exemplo. As ações podem ser Etapa 2 – Dimensões e formas da violência Assim, partindo do raciocínio apresentado, podemos perceber que a violência caracte- riza as ações humanas não somente no pla- no das interações entre os indivíduos, mas também nas relações entre grupos; ela pode se dar de forma direta, por meio de agressões propriamente ditas que geram danos físicos, ou por outros meios que não necessariamente afetam o corpo da pessoa, mas a prejudicam do ponto de vista moral e psicológico, ou ofendem suas crenças e seus costumes. Além disso, os efeitos da violência podem não ser dirigidas não às pessoas, mas às proprieda- des, causando prejuízos financeiros e conse- quências sérias, como no caso da destruição de campos de cultivo e colheitas. Finalmente, a perseguição e repressão por causa de cren- ças religiosas, por exemplo, seria um caso de violência sobre as participações simbólicas e culturais de uma população na vida de uma sociedade. Para ficar mais claro, associe cada um desses exemplos às imagens a seguir: sentidos ou percebidos imediatamente à sua consecução, mas após algum tempo ou ain- da perdurar por muitos anos, como é o caso de pessoas que sofrem sequelas ou ficam traumatizadas após terem sido vítimas de atos violentos. A dimensão mais imediatamente perceptí- vel da violência contra outro ser humano é aquela que gera danos – permanentes ou não – à sua integridade física. É o que denominamos de violência física. Alguns exemplos são: tapas, empurrões, chutes, mordidas, queimaduras, tentativas de asfixia, de afogamento, de homi- cídio etc. Boa parte dos atos entendidos como 15 formas de violência física são tipificados como crimes de lesão corporal, isto é, quando ofen- dem a integridade e a saúde corporal de outra pessoa. Nesse caso, ela pode ser leve ou grave, quando a pessoa: corre perigo de vida;passa a sofrer debilidade permanente de membro, sentido ou função; perde ou fica com um dos membros, sentidos ou funções inutilizados; fica incapacitada para o trabalho; fica defor- mada; aborta ou é levada ao parto prema- turo. No limite, a violência física leva à morte da vítima. Nesse caso, a violência física é tipi- ficada como crime de homicídio. A violência física também pode assumir conotação sexual, quando a pessoa é constran- gida a manter relações sexuais contra sua von- tade. Nesse caso, é denominada crime de estupro2. Embora a lei brasileira interprete o estupro como crime contra os costumes, esse ato não deixa de ser uma forma de violência que afeta profundamente as pessoas em sua perso- nalidade, desrespeitando os direitos humanos, ao ferir a integridade pessoal e o controle do próprio corpo. A violência não necessariamente precisa deixar marcas no corpo de uma pessoa. A própria ameaça de violência física gera trans- tornos de natureza psicológica que constran- gem a vítima a adotar comportamentos contra sua vontade ou, ao contrário, privam-na de sua liberdade. Por essa razão, esse tipo de vio- lência é denominada violência psicológica. Alguns exemplos são humilhações, ameaças de agressão, danos propositais ou ameaças de dano a objetos, animais de estimação ou pessoas queridas, privação de liberdade, assé- dio sexual3, entre outros. Porém, nem sempre uma pessoa que sofre de violência psicoló- gica percebe que é vítima. O uso constante de palavrões, expressões depreciativas, manifes- tações de preconceito, por exemplo, podem levar a tal degradação da autoestima que a pessoa passa a acreditar que ela é a respon- sável pela violência da qual é vítima. A percepção ou não da condição de vítima (e, por conseguinte, de agressor) é uma ques- tão fundamental para a compreensão da dimensão simbólica da violência; ou seja, quando as relações de dominação entre gru- pos sociais encontram-se tão enraizadas e naturalizadas que a violência exercida de uns sobre os outros é vista como uma parte “natural” da ordem social estabele- cida. Nesse caso, tanto o grupo social domi- nado como o dominante (uma vez que compartilham os mesmos instrumentos de conhecimento social da realidade) pensam e se relacionam de modo semelhante, aceitando padrões de comportamento que tendem a repro- duzir a dominação e, consequentemente, a vio- lência de uns sobre outros. Um exemplo de como isso ocorre em nossa sociedade são as relações entre homens e mulheres, nas quais se encontra enraizada a noção de que os homens são mais fortes, e as mulheres, fisicamente mais frágeis. Os com- portamentos violentos seriam uma caracte- rística “natural” do homem. A dificuldade em encontrar uma defini- ção precisa para essa questão está no fato de que a concepção de violência que temos atu- almente nem sempre foi a mesma e a percep- ção que uma população tem a respeito dela 16 2 3 A legislação brasileira distinguia, até recentemente, o estupro do atentado violento ao pudor, que significa constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Mas a partir do dia 7 de agosto de 2009, no Código Penal Brasileiro, os dois tipos de violência sexual passaram a ser considerados estupro. Ato de poder em que uma pessoa com a qual se convive em uma instituição aproveita-se dessa condição para insinuar ou fazer proposta sexual sob ameaças de perda do emprego, do cargo ou espaço ocupado, de não ter promoção, de delação, humilhação ou intimidação. Sociologia - 2a série - Volume 4 também muda no tempo, conforme a socie- dade, o Estado e as instituições responsáveis pela segurança se organizam para contro- lá-la. Além disso, as leis, ou seja, as normas e as regras que regulam as relações entre os indivíduos no interior de uma sociedade, também se modificam histórica e cultural- mente. Desse ponto de vista, o que é con- siderado uma forma de violência contra a pessoa, em um determinado país ou cultura, pode não ser em outro, e vice-versa. Um exemplo é o caso da pena de morte. Alguns países preveem em sua Constituição a pena de morte, enquanto outros, como o Brasil, não. Em uma mesma sociedade, diferenças regionais, sociais, econômicas e culturais contribuem para modificar as per- cepções sobre a violência. Por essa razão, é importante enfatizar aos alunos que nada pode ser considerado “normal” ou “natural” apenas porque hoje a violência faz parte do nosso cotidiano, em maior ou menor grau; é preciso sempre adotar um olhar de dis- tanciamento em relação ao fenômeno social da violência e uma postura reflexiva e crí- tica quanto aos seus efeitos e consequências para a sociedade como um todo. Proposta de Situação de Avaliação Divida a turma em duplas e solicite aos alunos que pesquisem, em revistas, jornais e na internet, reportagens e matérias que relatem episódios de violência variados. O objetivo da pesquisa é obter um caso de vio- lência física, outro de violência psicológica e uma situação que possa ser analisada do ponto de vista da concepção de violência sim- bólica. Ao final, os alunos deverão apresentar um trabalho em que estejam explicitados os seguintes pontos: a) assunto da reportagem; b) breve descrição dos fatos ocorridos; c) identificação das vítimas e dos agressores; d) identificação do(s) tipo(s) de violência abordado(s) na reportagem; e) justificativa da resposta anterior. Proposta de Situação de Recuperação Solicite aos alunos que elaborem um pequeno texto dissertativo, a ser entregue em uma folha à parte, sobre as formas de vio- lência mais frequentemente noticiadas pela mídia (jornais, revistas, noticiários televisivos, internet) e de que maneiras esse tratamento dado pelos meios de comunicação contribui para formar nosso conhecimento sobre o que é violência. 17 TEMA 2 – VITIMIZAçãO E VIOLÊNCIA SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 2 VIOLÊNCIA CONTRA O JOVEM Nesta Situação de Aprendizagem, passare- mos a discutir os fenômenos sociais da violên- cia que atingem especificamente adolescentes e jovens de 15 a 24 anos. Para isso, serão utili- zados dados estatísticos, textos de especialistas, tabelas, gráficos e outros materiais de caráter pedagógico, cujo objetivo é chamar atenção para um conjunto de problemas sociais que afetam diretamente o aluno jovem, propiciando ativi- dades de reflexão, crítica e debate. Tempo previsto: 2 aulas. Conteúdos e temas: a violência contra o jovem, mortalidade juvenil, mortes por causas externas (homicídios, acidentes de transporte, morte por armas de fogo). Competências e habilidades: desenvolver uma noção inicial do fenômeno da violência contra o jovem, tomando-se como base os índices de mortalidade juvenil por causas externas; com- preender o que são taxas de mortalidade e como são calculadas; capacitar os alunos a anali- sar e perceber os aspectos sociodemográficos que interferem nas disparidades entre taxas de homicídio, acidentes de transporte e mortes por armas de fogo entre jovens. Estratégias: análise de tabelas, gráficos, leitura e interpretação de textos, debates em sala de aula. Recursos necessários: retroprojetor (se a escola contar com esse recurso) e dados para análise. Avaliação: elaboração de textodissertativo. Sondagem e sensibilização Merece destaque particular a situação vivenciada pelos jovens aos quais se destina este Caderno. Embora tenha havido considerá- veis avanços no acesso à educação e à saúde, cabe chamar atenção para os altos índices de mortalidade por causas externas4, observados na faixa etária5 em que se encontram os jovens do Ensino Médio, especialmente os do sexo masculino. Esse dado é particularmente rele- vante para o debate sobre a problemática da violência, uma vez que a principal causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos por fatores externos em 2006 foi o homicídio (56%), seguida dos acidentes de trânsito (23,2%)6. 18 4 5 6 As causas externas de mortalidade "possibilitam a classificação de ocorrências de óbitos por lesões, envenenamentos e outros efeitos adversos". (IBGE. Conceitos. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/ criancas_adolescentes/notastecnicas.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2013.) Adotamos neste Caderno o critério da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para definir a faixa etária que compreende os adolescentes e os jovens: 15 a 24 anos. Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), Ministério da Saúde, 2006. Fotos: © Melissa de Mattos PimentaSociologia - 2a série - Volume 4 Por essa razão, essas duas questões serão alvo de discussão nesta Situação de Aprendizagem. Como sensibilização inicial, sugerimos uma atividade de reflexão sobre a mortalidade entre os jovens, suas causas e possíveis expli- cações, com base em um conjunto de imagens sugestivas. Chame a atenção dos alunos para as imagens a seguir e apresente as perguntas seguintes: Figuras 7 a 14. 19 a) O que essas imagens retratam? b) O que elas têm em comum? c) Que idade tinha a pessoa mais nova quando faleceu? E a mais velha? d) Qual a média de idade desses jovens quando faleceram? Em seguida, discuta com os alunos por que as imagens retratam apenas nomes de rapazes e quais seriam as principais razões que teriam levado esses jovens à morte. É possível que a turma responda que a escolha foi deliberada, para chamar atenção sobre o envolvimento de jovens com a violência, seja como autores de atos violentos (tráfico, crime), seja como víti- mas (violência policial, assassinatos, drogas). Embora não saibamos exatamente como mor- reu cada uma das pessoas cujos túmulos apare- cem nas fotos, elas fazem parte das estatísticas de mortalidade juvenil, que estudaremos a seguir. Etapa 1 – A violência contra o jovem O objetivo desta etapa é chamar a aten- ção dos alunos para o impacto social e demo- gráfico da violência sobre a população juvenil. Para isso, analisaremos alguns dados produzidos por pesquisadores a respeito da mortalidade no Brasil, que servirão como ponto de partida para uma reflexão sobre os fatores que levam a esses resultados. Como vimos na Situação de Aprendizagem 1, a vio- lência não se resume apenas à violência física e os atos violentos não necessariamente con- duzem à morte das vítimas. Porém, podemos dizer que a morte representa a violência levada ao seu grau extremo – daí sua utilização como indicador geral de violência em uma sociedade. No Brasil, mesmo considerando o impacto positivo das políticas de desarma- mento implementadas em 2004, a morta- lidade por causas externas – representada, sobretudo, pelas estatísticas de homicídios – continua extremamente alta. Os dados divulgados no Mapa da violência dos municí- pios brasileiros 2008 – referentes ao período de 1996–2006 – revelam que o número total de homicídios aumentou de 38 888 para 46 660, o que representa um incremento de 20%, mais do que o crescimento da população brasileira no período. Um dado importante a ser destacado é o fato de que, desde a década de 1980, embora as taxas de mortalidade entre jovens de 15 a 24 anos tenham se mantido praticamente inalte- radas, houve uma mudança radical na configu- ração das causas que levam os jovens à morte. Peça para um voluntário ler o seguinte trecho e, em seguida, chame a atenção da turma para a tabela. “Em 1980, as ‘causas externas’ já eram responsáveis por aproximadamente a metade (52,9%) do total de mortes dos jovens do país. Vinte e quatro anos depois, em 2004, dos 46 812 óbitos juvenis registrados no SIM/ SVS/MS1, 33 770 tiveram sua origem em causas externas, com esse percentual elevando-se de forma drástica: no ano de 2004, quase 3/4 de nossos jovens (72,1%) morreram por causas externas.” 1 SIM – Sistema de Informações sobre Mortalidade/SVS – Secretaria de Vigilância em Saúde/MS – Ministério da Saúde. WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da violência 2006 – Os jovens do Brasil. Brasília: Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2006. Disponível em: <http://www.mapadaviolencia.org.br/publicacoes/Mapa2006.pdf>. Acesso em: 20 maio 2013. 20 Tabela 1 – Estrutura da mortalidade por região, população jovem (15 a 24 anos) e não jovem (0 a 14 anos e 25 anos ou mais), 2004 Causas população jovem (%) Causas população não jovem (%) Região Norte 38,7 61,3 100 15,1 32,3 4,1 88,2 11,8 100 3,8 4,0 0,6 Nordeste 33,7 66,3 100 13,9 35,1 2,9 91,0 9,0 100 2,5 2,9 0,5 Centro-Oeste 25,5 74,5 100 23,0 37,7 5,8 86,7 13,3 100 5,1 4,0 1,0 Sudeste 23,7 76,3 100 15,6 46,2 2,8 90,7 9,3 100 2,4 3,2 0,5 Sul 24,5 75,5 100 26,4 33,5 6,3 90,7 9,3 100 3,5 2,1 1,1 Brasil 27,9 72,1 100 17,1 39,7 3,6 90,4 9,6 100 2,8 3,0 0,6 Acidentes de transporte Homicídios Externas Suicídios Naturais Acidentes de transporte Externas Homicídios Total Total Naturais SuicídiosSociologia - 2a série - Volume 4 Fonte: WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2006 – Os Jovens do Brasil. Brasília: Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2006. Disponível em: <http://www.mapadaviolencia.org.br/publicacoes/Mapa2006.pdf>. Acesso em: 20 maio 2013. Observe que o percentual de mortes por causas externas na população jovem é sem- pre maior que o por causas naturais, em to- das as regiões do Brasil, e que a região com o percentual mais alto foi a Sudeste (76,3% das mortes são por causas externas) e o mais baixo foi observado na Região Norte (61,3%). Dos três tipos mais frequentes de causas analisadas (acidentes de transporte, homicídios e suicídios), a causa externa mais observada entre os jovens foi o homicídio; o percentual mais alto foi observado na Região Sudeste (46,2%) e o mais baixo (32,3%) na Região Norte. populações e entre as regiões de maneira mais detalhada. Etapa 2 – Taxas de mortalidade A principal estatística utilizada nos estu- dos sobre violência envolvendo morte por causas externas é a taxa por 100 mil habitan- tes. Esse número é calculado ponderando-se o total de óbitos (mortes) observado em uma dada população, em um dado período, sobre o total da população. Em seguida, calcula-se a proporção de óbitos para uma população hipotética de 100 mil habitantes. Após essa análise preliminar da tabela, você pode pedir aos seus alunos como Lição de Casa que comparem ospercentuais observa- dos entre a população jovem e a população não jovem, analisando as diferenças entre os per- centuais por causas naturais e externas entre as Por exemplo: em 2004, foram contabi- lizadas pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, 18 599 mortes por agressão (homicídios) a jovens de 15 a 24 anos no Brasil. 21 O Ministério da Saúde utiliza como critério de classificação o sistema internacional CID-10, segundo o qual uma das causas possíveis para os óbitos são as mortes por agressão. Embora não sejam exatamente a mesma coisa, é possível utilizar o termo jurídico, do artigo 121 do Código Penal (homicídio), para qualificar morte por agressão. Para os fins deste Caderno, entendemos morte por agressão sempre como homicídio. X = ________________ = 51,722 Considerando-se que, segundo o IBGE, a população de jovens brasileiros, nessa faixa etária, era de 35 974 855 habitantes, a taxa de mortes por homicídio, para jovens de 15 a 24 anos, em 2004 foi de: 18 599 × 100 000 35 974 855 Isso significa que, de cada 100 mil jovens, 51,7 morreram por homicídio em 2004, em média, no Brasil. Porém, essa situação varia enormemente entre os Estados, as regiões metropolitanas e os municípios, de tal modo que se pode dizer que a violência é mais concentrada em determinados locais. Além disso, há variações importantes, dependendo da causa da morte e das características da pessoa. Na pesquisa, intitulada Mapa da violência 2006 – Os jovens do Brasil, foram comparadas as taxas de mortalidade por homicídio, aciden- tes de transporte, suicídios e armas de fogo e observou-se que há variações importantes, dependendo da idade do jovem, do sexo e da cor da pele. Um fato relevante a ser destacado aos alunos é a estrutura etária das mortes. No levantamento realizado em 2006, em que a preocupação era analisar especificamente as características da mortalidade juvenil por causas externas, observou-se que: f é na faixa etária designada como “jovem” (15 a 24 anos) que os homicídios atingem seu pico, principalmente na faixa dos 20 aos 24 anos, com um total de 65 homicí- dios por 100 mil jovens; f em relação à morte por acidentes de trans- porte, observou-se que as taxas aumen- tam drasticamente a partir dos 15 até os 24 anos, quando a taxa adquire máxima expressão: 30,8 óbitos em 100 mil. A par- tir deste ponto, a taxa permanece está- vel até os 29 anos de idade, iniciando uma leve queda até a faixa dos 45 aos 59 anos, quando cai e, então, volta a subir significativamente. Esses dados podem ser mais bem visuali- zados analisando-se os gráficos a seguir: Taxa de óbitos Taxa de óbitosSociologia - 2a série - Volume 4 Gráfico 1 – Taxas de óbitos por homicídios por faixas etárias – Brasil (1994 e 2004) 70 60 50 40 30 20 10 0 0a4 5a9 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49 50 a 59 60 a 69 70 ou mais Faixa etária (anos) 1994 2004 Fonte: WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2006 – Os Jovens do Brasil. Brasília: Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2006. Disponível em: <http://www.mapadaviolencia.org.br/publicacoes/Mapa2006.pdf>. Acesso em: 20 maio 2013. Gráfico 2 – Taxas de óbitos por acidentes de transporte por faixas etárias – Brasil (1994 e 2004) 40 35 30 25 20 15 10 5 0 0a4 5a9 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49 50 a 59 60 a 69 70 e mais Faixa etária (anos) 1994 2004 Fonte: WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2006 – Os Jovens do Brasil. Brasília: Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2006. Disponível em: <http://www.mapadaviolencia.org.br/publicacoes/Mapa2006.pdf>. Acesso em: 20 maio 2013. Observe que, no Gráfico 1, as taxas de óbitos por homicídio nas faixas etárias entre 15 e 29 anos são significativamente maiores do que as demais, tanto em 1994, quanto em 2004. Além disso, especificamente em relação aos jovens de 15 a 29 anos, elas 23 Tabela 2 – Taxas de óbitos (por 100 mil habitantes) por homicídios e acidentes de transporte, por regiões – População jovem: Brasil, 2004 Região Taxa de óbitos por homicídios Taxa de óbitos por acidentes de transporte Brancos Negros Brancos Negros Norte 20,9 43,4 20,6 17,2 Nordeste 10,2 46,3 10,9 15,4 Centro-Oeste 34,0 65,5 38,2 27,2 Sudeste 42,3 98,9 25,1 17,4 Sul 41,1 52,4 37,5 15,7 Brasil 34,9 64,7 26,0 17,3aumentaram consideravelmente entre 1994 e 2004. No Gráfico 2, observe como a taxa de óbitos por acidentes de transporte aumenta drasticamente a partir dos 20 anos e como, ape- sar da aprovação do Novo Código Brasileiro de Trânsito, em 1997, as mortes entre jovens de 20 a 29 anos, em 2004, eram mais altas do que as observadas em 1994. Outro fato relevante a ser destacado é a dife- rença nas taxas de mortalidade entre a popula- ção branca e a população negra. No estudo de 2006, considerou-se como negra a população que, segundo o IBGE, se autoidentifica como preta ou parda. As duas categorias, brancos e negros, abrangem 99,5% da população. Os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), articulados com as infor- mações sobre cor da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), produzida pelo IBGE, mostraram que: f a taxa de homicídios da população negra é bem superior à da população branca. Se, no conjunto da população, a vitimiza- ção de negros já é severa, entre os jovens, o problema agrava-se ainda mais: os índices de vitimização elevam-se para 85,3%. Isto é, a taxa de homicídios dos jovens negros (64,7 em 100 mil) é 85,3% superior à taxa dos jovens brancos (34,9 em 100 mil); f já no caso da mortalidade por acidentes de transporte, vemos que tanto na população total quanto entre os jovens preponderam as vítimas brancas. Se isso já resulta eviden- te na população total, entre os jovens essa diferença é maior ainda: 26 em 100 mil para os brancos e 17,3 para os negros. Porém, em todos os Estados da Região Nordeste a maior proporção é de vítimas negras. Esses dados ficam mais claros analisan- do-se a tabela a seguir: Fonte: WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2006 – Os Jovens do Brasil. Brasília: Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2006. Disponível em: <http://www.mapadaviolencia.org.br/publicacoes/Mapa2006.pdf>. Acesso em: 20 maio 2013. 24 Tabela 3 – Taxas de óbitos (por 100 mil habitantes), por regiões, segundo o sexo – População jovem: Brasil, 2004 Região Taxa de óbitos por homicídios Taxa de óbitos por acidentes de transporte Homens Mulheres Homens Mulheres Norte 71,8 4,6 28,4 7,3 Nordeste 79,0 5,1 27,9 5,5 Centro-Oeste 97,6 8,5 54,6 10,3 Sudeste 121,2 7,6 35,9 7,8 Sul 76,8 6,9 53,9 12,1 Brasil 96,7 6,6 36,7 7,8Sociologia - 2a série - Volume 4 Chame a atenção dos alunos para a Tabela 2 e observe que as taxas de homicí- dios entre jovens negros são sempre maiores do que entre jovens brancos,em todas as regiões do país, chegando a ser mais do que o dobro da população branca em determi- nadas regiões. Chame atenção para a dife- rença entre as taxas de homicídios de jovens brancos e negros observadas nas regiões Nordeste e Sudeste e procure discutir com os alunos as razões para essas disparidades. Em seguida, destaque o fato de as taxas de mortalidade por acidentes de transporte serem maiores entre jovens de cor branca, especialmente na Região Sul, e procure dis- cutir por que isso não ocorre no Nordeste. Outro aspecto a ser destacado em relação ao homicídio é a diferença observada entre homens e mulheres. Os dados disponibilizados pelo SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade) confirmam a tendência já identificada por diver- sos estudos nacionais e internacionais segundo a qual as mortes por homicídio e acidentes de transporte ocorrem especialmente entre pes- soas do sexo masculino. Isso gera não apenas uma disparidade nas taxas de homicídio entre os sexos, como um forte desequilíbrio demográ- fico na distribuição por sexo da população, espe- cialmente a partir dos 20 anos de idade. Esses dados ficam mais claros analisando-se a tabela a seguir: Fonte: WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2006 – Os Jovens do Brasil. Brasília: Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2006. Disponível em: <http://www.mapadaviolencia.org.br/publicacoes/Mapa2006.pdf>. Acesso em: 20 maio 2013. Chame a atenção dos alunos para a Tabela 3 e observe que as taxas de homicídios entre jovens do sexo masculino chegam a ser, em média, 15 vezes mais altas que entre as jovens. No caso dos óbitos por acidente, os jovens do sexo masculino tendem a morrer 4,7 vezes mais por acidente de transporte do que as jovens. Finalmente, cabe destacar a forma como os jovens morrem. O levantamento realizado 25 Tabela 4 – Mortalidade por arma de fogo, segundo a causa básica, por regiões. População jovem: Brasil, 2004 Região Taxas Acidentes Homicídios Indeterminado Suicídios Total Norte 0,8 22,4 0,2 0,7 24,1 Nordeste 0,2 32,5 2,9 0,4 36,0 Centro-Oeste 0,2 39,6 0,2 1,3 41,4 Sudeste 0,1 52,7 1,4 0,6 54,8 Sul 0,1 33,7 0,4 2,2 36,5 Brasil 0,2 40,6 1,5 0,8 43,1em 2006 revelou que, do total de homicídios perpetrados em 2004, 76,7% deles foram resultado de uso de arma de fogo; dos óbitos sem intencionalidade ou situação indetermi- nada, 1 478 resultaram de ferimentos a bala; 15,6% dos suicídios foram por arma de fogo. Entre os jovens, as mortes por arma de fogo mais que duplicam a média nacional para a população. Para finalizar, chame a atenção dos alunos para a tabela a seguir: Fonte: WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2006 – Os Jovens do Brasil. Brasília: Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2006. Disponível em: <http://www.mapadaviolencia.org.br/publicacoes/Mapa2006.pdf>. Acesso em: 20 maio 2013. 26 Destaque a participação dos homicídios por armas de fogo nas mortes por causas externas entre jovens de 15 a 24 anos, em com- paração com as demais causas envolvendo armas e discuta as diferenças entre as regiões. Etapa 3 – Por que os jovens se envolvem com a violência? Ao final da análise com as tabelas, você pode dar início a um debate sobre alguns dos fatores que levam ao envolvimento dos jovens com a violência. Longe de procurar esgotar as explicações para essa questão, cabe apontar alguns pontos de partida para uma reflexão. Na interpretação dos fatores que contri- buem para explicar as origens da violência, há duas correntes principais: de um lado há aqueles que entendem que ela é resultado da desigualdade social e da ausência de políticas sociais e públicas de transferência de renda dos grupos mais ricos para os mais pobres. Nessa perspectiva, portanto, não haveria sentido em distinguir vítimas de agressores: todos seriam potencialmente vítimas, pouco importando se atores passivos ou ativos da violência. Sociologia - 2a série - Volume 4 De outro lado, há aqueles que responsabili- zam o Estado e os governos pós transição democrática por sua incapacidade em asse- gurar a lei e a ordem, contribuindo assim para o crescimento dos crimes e da violên- cia, inclusive envolvendo crianças e adoles- centes. Nessa perspectiva, seria preciso formular e implementar políticas de repres- são e contenção, mesmo que para isso fosse necessário endurecer o tratamento penal até mesmo aplicável a crianças e adolescentes. Os estudos realizados no Brasil pelos mais diversos institutos de pesquisa, organizações não governamentais, órgãos do governo, uni- versidades e pesquisadores indicam que a maioria dos jovens, adolescentes e crianças vítimas da violência fatal não está envolvida, compromissada ou enraizada no mundo do crime. De fato, muitos são pobres, morado- res de bairros onde habita preferencialmente população de baixa renda em condições pre- cárias de infraestrutura urbana, com vínculos frágeis em relação à família, à escola e ao mer- cado de trabalho. Porém, a situação de vulne- rabilidade social em que se encontram expõe esses mesmos jovens à convivência muito pró- xima com o cotidiano do mundo do crime, em que os espaços urbanos são regulados por quadrilhas, grupos de traficantes, gangues ini- migas que atravessam comunidades e bairros com sua própria lei e ordem e interferem de forma contundente na vida dos moradores das chamadas periferias das regiões metropo- litanas (PERES et al., 2006). Mas seriam os jovens apenas vítimas da violência? O que dizer daqueles que se envol- vem em acidentes de trânsito, muitas vezes resultando em ferimentos graves ou até mesmo em morte? É interessante destacar aqui que nem todos os jovens se encontram em situação de vulnerabilidade social e, por essa razão, mais ou menos expostos a situa- ções de risco. O risco – expresso em ameaça à vida, à saúde e à integridade física – tam- bém é inerente a muitos comportamentos ou posturas adotados pelos jovens, que podem contribuir para afetar sua saúde e conduzir a uma morte prematura. Alguns exemplos de comportamentos identificados como fon- tes potenciais de risco são as práticas sexuais sem proteção, o consumo de álcool e drogas e o tabagismo. A questão que se coloca é: em uma socie- dade em que cada vez mais os jovens têm acesso à informação (como conhecimento sobre métodos anticoncepcionais, doenças associadas ao fumo, legislação sobre con- sumo de álcool associado à condução de veí- culos e efeitos das drogas sobre o organismo), por que alguns jovens adotam comportamentos considerados “de risco” ou colocam em “risco” sua saúde ou sua vida? Não há uma única res- posta para essa pergunta. O desejo de desco- brir e experimentar coisas novas, muitas vezes associado a uma atitude hedonista e despre- ocupada em relação ao futuro, pode levar alguns jovens a subestimar o risco inerente a essas práticas. Jovens com maior necessidade de autoafirmação e que desfrutam de maior liberdade de escolha, com pouco controle por parte da família ou dos pais, ajudam a expli- car maior tendência a uma atitude refratária à conformidade com normas sociais, às con- dutas ilegais e ao comportamento de risco (PAIS et al., 2003).De qualquer maneira, o que parece haver em comum entre esses jovens é uma aprecia- ção do risco – e da sensação de correr riscos – como algo positivo, e não necessariamente negativo. Nesse sentido, arriscar-se é parte importante da construção da identidade juve- nil, especialmente entre grupos, em que atre- ver-se a participar de determinadas práticas (participar de um racha, ingerir uma dose de bebida rapidamente de uma vez etc.) torna-se condição de pertencimento. 27 Proposta de Situação de Avaliação Os dados analisados com base nas tabelas e gráficos mostraram que as formas de violência que levam à morte atingem adolescentes e jovens, especialmente de 15 a 24 anos, de forma dife- rente conforme a região do país em que vivem, a cor da pele e o sexo. Para pensar de que maneiras essas questões estão relacionadas, sugerimos que os alunos se reúnam em grupos de até quatro pessoas e realizem uma atividade de reflexão com base no que foi discutido em sala de aula e nos seguintes textos, a fim de produzirem uma dissertação sobre: Que fatores contribuem para as altas taxas de mortalidade por causas externas entre jovens? Justifique sua resposta. Peça aos alunos que lhe entreguem o texto em uma folha à parte, em data previamente agendada. “Nesse universo, todos são vítimas, não apenas porque provenham do mesmo ‘meio social’ e este- jam igualmente submetidos às desfavoráveis condições sociais de vida, mas na condição de vítimas de um mundo social opressivo e despótico, como é o mundo do crime entre classes populares. Pode-se, por- tanto, argumentar que todos, indistintamente, são vítimas da pobreza de direitos, grosso modo enten- dida como conjunto de obstáculos enfrentados no acesso à justiça social, inclusive precária proteção social contra a derivação para a violência e para o crime. Se a derivação para a violência e para o crime configura-se como uma espécie de opção, escolha ou vontade de alguns, o que resulta na construção de carreiras criminais, é justamente porque, em algum momento, as leis deixaram de ser aplicadas.” ADORNO, S. [Trecho citado] In.: PERES, M. F.; CARDIA, N.; SANTOS, P. C. Homicídios de crianças e jovens no Brasil: 1980-2002. São Paulo: Núcleo de Estudos da Violência/Universidade de São Paulo, 2006. p. 31. “Uma das particularidades mais relevantes dos jovens cujos estilos de vida são mais marcados pelo risco é a sua recorrente subestimação e o reforço da sua atração. Sistematicamente verificamos que os jovens mais envolvidos nos comportamentos de risco tendem a não reconhecer ou a subestimar a sua periculosidade e as suas implicações em termos de saúde. O risco apresenta-se muitas vezes como atra- tivo e as possíveis consequências negativas, que a surgirem apenas se manifestarão, em muitos casos, muito mais tarde, são ignoradas. Por isso se verificou uma relação negativa entre os comportamentos de risco e a preocupação e o empenho face ao futuro. Subjacente à postura de risco perfilha-se muitas vezes uma atitude hedonista voltada para as gratificações que a ação no presente pode proporcionar.” FERREIRA, P. M. Comportamentos de risco dos jovens. In: PAIS, J. M. et al. Condutas de risco, práticas culturais e atitudes perante o corpo: resultados de um inquérito aos jovens portugueses, Oeiras: Celta Editora, 2003. p. 166. 28 Proposta de Situação de Recuperação Solicite aos alunos que elaborem um texto dissertativo com base no conteúdo apresentado nas tabelas e gráficos contidos na Situação de Aprendizagem, construindo argumentos para uma análise das disparidades observadas entre jovens com características diferentes. Sociologia - 2a série - Volume 4 TEMA 3 – VIOLÊNCIA DE GÊNERO SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 3 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER Nesta Situação de Aprendizagem aborda- remos, em linhas gerais, a problemática da violência contra a mulher, tomando-se por base o conceito de violência de gênero. Por meio de um exercício de sensibilização de práticas de violência contra a mulher que ocorrem coti- dianamente no ambiente doméstico, serão colo- cados em discussão os conflitos nas relações entre homens e mulheres, bem como os fatores sociais e culturais que ajudam a explicar a natureza dos atos violentos que emergem des- ses conflitos. Por fim, será introduzida de forma breve a Lei Maria da Penha, com o objetivo de propiciar uma reflexão sobre as medidas ado- tadas pelo Estado brasileiro no sentido de garantir e proteger os direitos da mulher. Tempo previsto: 2 aulas. Conteúdos e temas: o que é violência de gênero; tipos de violência contra a mulher; Lei Maria da Penha. Competências e habilidades: compreender o que é violência de gênero; reconhecer e identificar formas específicas de violência associadas às relações entre homens e mulheres; desenvolver uma reflexão abrangente acerca dos fatores que levam à violência contra a mulher; discutir a criação da Lei Maria da Penha e sua aplicação. Estratégias: análise de imagens, leitura e interpretação de textos e debates em sala de aula. Recursos necessários: retroprojetor (se a escola contar com esse recurso); textos para leitura Avaliação: leitura e interpretação de texto. Sondagem e sensibilização A ocorrência de atos violentos entre homens e mulheres é um fato em nossa sociedade. E a grande maioria desses atos é cometida por homens contra mulheres. “De acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, a cada 15 segundos uma mulher é agredida no Brasil. Estima-se que mais de dois milhões de mulheres são espancadas a cada ano por maridos ou namorados, atuais e antigos.” BRYM, R. J. et al. Sexualidade e gênero. In: BRYM , R. J. et al. Sociologia: sua bússola para um novo mundo. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 272. 29 © Design Pics/FotosearchPergunte aos alunos: Há uma tendência mostrando que as mulheres têm sido vítimas de violência mais frequentemente do que os homens. Por quê? E o que leva os homens a serem, preferencialmente, seus agressores? O objetivo dessa sensibilização inicial é cha- mar a atenção dos alunos para a realidade vivida por mulheres brasileiras reais e levantar alguns questionamentos com base em seus relatos, por meio dos quais será desenvol- vida a Situação de Aprendizagem. Antes de começar, solicite a um voluntário para ler o seguinte texto. Você pode realizar a leitura de forma individual, compartilhada ou comentada. “Eu nasci na Bahia, mas eu não fiquei lá muito tempo; eu vim embora para Minas. Minha mãe tra- balhava em casa de família; a gente morava num lugarzinho pequeno e meu pai trabalhava na roça, carregando, vendendo lenha para padaria, essas coi- sas assim. Meu pai era muito severo; meu pai me batia de sair sangue... Enquanto ele não via o sangue assim, ele não soltava. Com 12 anos eu conheci um cara, que não é meu marido. Aí já aprontei, fiquei grávida; aí que meus pais não queriam de jeito nenhum... Com 13 anos tive o meu primeiro filho. Esse cara foi um sofrimento... Só que quando eu aprontei, eu não sabia o que era ciclo, o que era a palavra menstruação, o que era ficar grávida. Ele falou – ‘Vou te levar na casa da minha parente, da minha tia...’; e eu não sabia ler. Ele me levou. Em vez de eu gritar, não, fiquei bem caladinha. Eu estava entendendo que ele ia aprontar comigo, mas também ele não tampou a minha boca. Ele falou – ‘Você não pode gritar, porque se você gritar a gente vai preso.’ E eu não sabia o que era ir preso; eu tinha medo.
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