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1 SÉRIEa ENSINO MÉDIO Caderno do Professor Volume 3 SOCIOLOGIA Ciências Humanas Nome: Escola: 1 edição revistaGOVERNO DO ESTADO DE SãO PAULO SECRETARIA DA EDUCAçãO MATERIAL DE APOIO AO CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO CADERNO DO PROFESSOR SOCIOLOGIA ENSINO MÉDIO – 1ª SÉRIE VOLUME 3 a São Paulo, 2013 Governo do Estado de São Paulo Governador Geraldo Alckmin Vice-Governador Guilherme Afif Domingos Secretário da Educação Herman Voorwald Secretário-Adjunto João Cardoso Palma Filho Chefe de Gabinete Fernando Padula Novaes Subsecretária de Articulação Regional Rosania Morales Morroni Coordenadora da Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores – EFAP Silvia Andrade da Cunha Galletta Coordenadora de Gestão da Educação Básica Maria Elizabete da Costa Coordenador de Gestão de Recursos Humanos Jorge Sagae Coordenadora de Informação, Monitoramento e Avaliação Educacional Maria Lucia Guardia Coordenadora de Infraestrutura e Serviços Escolares Ana Leonor Sala Alonso Coordenadora de Orçamento e Finanças Claudia Chiaroni Afuso Presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE Barjas Negri CONCEPÇÃO E COORDENAÇÃO GERAL COORDENADORIA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA – CGEB Coordenadora Maria Elizabete da Costa Diretor do Departamento de Desenvolvimento Curricular de Gestão da Educação Básica João Freitas da Silva Diretora do Centro de Ensino Fundamental dos Anos Finais, Ensino Médio e Educação Profissional – CEFAF Valéria Tarantello de Georgel Coordenação Técnica Roberto Canossa Roberto Liberato EQUIPES CURRICULARES Área de Linguagens Arte: Carlos Eduardo Povinha, Kátia Lucila Bueno, Pio de Sousa Santana e Roseli Ventrela. Educação Física: Marcelo Ortega Amorim, Maria Elisa Kobs Zacarias, Mirna Leia Violin Brandt, Rosangela Aparecida de Paiva e Sergio Roberto Silveira. Língua Estrangeira Moderna (Inglês e Espanhol): Ana Paula de Oliveira Lopes, Jucimeire de Souza Bispo, Neide Ferreira Gaspar e Sílvia Cristina Gomes Nogueira. Língua Portuguesa e Literatura: Angela Maria Baltieri Souza, Claricia Akemi Eguti, Idê Moraes dos Santos, João Mário Santana, Kátia Regina Pessoa, Mara Lúcia David, Marcos Rodrigues Ferreira, Roseli Cordeiro Cardoso e Rozeli Frasca Bueno Alves. Área de Matemática Matemática: João dos Santos, Juvenal de Gouveia, Otavio Yoshio Yamanaka, Patrícia de Barros Monteiro, Sandra Maira Zen Zacarias e Vanderley Aparecido Cornatione. Área de Ciências da Natureza Biologia: Aparecida Kida Sanches, Elizabeth Reymi Rodrigues, Juliana Pavani de Paula Bueno e Rodrigo Ponce. Ciências: Eleuza Vania Maria Lagos Guazzelli, Gisele Nanini Mathias, Herbert Gomes da Silva e Maria da Graça de Jesus Mendes. Física: Carolina dos Santos Batista, Fábio Bresighello Beig, Renata Cristina de Andrade Oliveira e Tatiana Souza da Luz Stroeymeyte. Química: Ana Joaquina Simões S. de Matos Carvalho, Jeronimo da Silva Barbosa Filho, João Batista Santos Junior e Natalina de Fátima Mateus. Área de Ciências Humanas Filosofia: Tânia Gonçalves e Teônia de Abreu Ferreira. Geografia: Andréia Cristina Barroso Cardoso, Débora Regina Aversan e Sérgio Luiz Damiati. História: Cynthia Moreira Marcucci, Lydia Elisabeth Menezello e Maria Margarete dos Santos. Sociologia: Alan Vitor Corrêa, Carlos Fernando de Almeida, Sérgio Roberto Cardoso e Tony Shigueki Nakatani. PROFESSORES COORDENADORES DO NÚCLEO PEDAGÓGICO Área de Linguagens Educação Física: Ana Lucia Steidle, Daniela Peixoto Rosa, Eliana Cristine Budisk de Lima, Fabiana Oliveira da Silva, Isabel Cristina Albergoni, Karina Xavier, Katia Mendes, Liliane Renata Tank Gullo, Marcia Magali Rodrigues dos Santos, Mônica Antonia Cucatto da Silva, Patrícia Pinto Santiago, Sandra Pereira Mendes, Sebastiana Gonçalves Ferreira, Silvana Alves Muniz, Thiago Candido Biselli Farias e Welker José Mahler. Língua Estrangeira Moderna (Inglês): Célia Regina Teixeira da Costa, Cleide Antunes Silva, Ednéa Boso, Edney Couto de Souza, Elana Simone Schiavo Caramano, Eliane Graciela dos Santos Santana, Elisabeth Pacheco Lomba Kozokoski, Fabiola Maciel Saldão, Isabel Cristina dos Santos Dias, Juliana Munhoz dos Santos, Kátia Vitorian Gellers, Lídia Maria Batista Bomfim, Lindomar Alves de Oliveira, Lúcia Aparecida Arantes, Mauro Celso de Souza, Neusa A. Abrunhosa Tápias, Patrícia Helena Passos, Renata Motta Chicoli Belchior, Renato José de Souza, Sandra Regina Teixeira Batista de Campos, Silmara Santade Masiero e Sílvia Cristina Gomes Nogueira. Língua Portuguesa: Andrea Righeto, Angela Maria Baltieri Souza, Edilene Bachega R. Viveiros, Eliane Cristina Gonçalves Ramos, Graciana B. Ignacio Cunha, João Mário Santana, Letícia M. de Barros L. Viviani, Luciana de Paula Diniz, Márcia Regina Xavier Gardenal, Maria Cristina Cunha Riondet Costa, Maria José de Miranda Nascimento, Maria Márcia Zamprônio Pedroso, Patrícia Fernanda Morande Roveri, Ronaldo Cesar Alexandre Formici, Selma Rodrigues e Sílvia Regina Peres. Área de Matemática Matemática: Carlos Alexandre Emídio, Clóvis Antonio de Lima, Delizabeth Evanir Malavazzi, Edinei Pereira de Sousa, Eduardo Granado Garcia, Evaristo Glória, Everaldo José Machado de Lima, Fabio Augusto Trevisan, Inês Chiarelli Dias, Ivan Castilho, José Maria Sales Júnior, Luciana Moraes Funada, Luciana Vanessa de Almeida Buranello, Mário José Pagotto, Paula Pereira Guanais, Regina Helena de Oliveira Rodrigues, Robson Rossi, Rodrigo Soares de Sá, Rosana Jorge Monteiro, Rosângela Teodoro Gonçalves, Roseli Soares Jacomini, Silvia Ignês Peruquetti Bortolatto e Zilda Meira de Aguiar Gomes. Área de Ciências da Natureza Biologia: Aureli Martins Sartori de Toledo, Claudia Segantini Leme, Evandro Rodrigues Vargas Silvério, Fernanda Rezende Pedroza, Regiani Braguim Chioderoli e Sofia Valeriano Silva Ratz. Ciências: Davi Andrade Pacheco, Franklin Julio de Melo, Liamara P. Rocha da Silva, Marceline de Lima, Paulo Garcez Fernandes, Paulo Roberto Orlandi Valdastri, Rosimeire da Cunha e Wilson Luís Prati. Física: Ana Claudia Cossini Martins, Ana Paula Vieira Costa, André Henrique Ghelfi Rufino, Cristiane Gislene Bezerra, Fabiana Hernandes M. Garcia, Leandro dos Reis Marques, Marcio Bortoletto Fessel, Marta Ferreira Mafra, Rafael Plana Simões e Rui Buosi. Química: Armenak Bolean, Cirila Tacconi, Daniel B. Nascimento, Elizandra C. S. Lopes, Gerson N. Silva, Idma A. C. Ferreira, Laura C. A. Xavier, Marcos Antônio Gimenes, Massuko S. Warigoda, Roza K. Morikawa, Sílvia H. M. Fernandes, Valdir P. Berti e Willian G. Jesus. Área de Ciências Humanas Filosofia: Álex Roberto Genelhu Soares, Anderson Gomes de Paiva, Anderson Luiz Pereira, Claudio Nitsch Medeiros e José Aparecido Vidal. Geografia: Ana Helena Veneziani Vitor, Célio Batista da Silva, Edison Luiz Barbosa de Souza, Edivaldo Bezerra Viana, Elizete Buranello Perez, Márcio Luiz Verni, Milton Paulo dos Santos, Mônica Estevan, Regina Célia Batista, Rita de Cássia Araujo, Rosinei Aparecida Ribeiro Libório, Sandra Raquel Scassola Dias, Selma Marli Trivellato e Sonia Maria M. Romano. História: Aparecida de Fátima dos Santos Pereira, Carla Flaitt Valentini, Claudia Elisabete Silva, Cristiane Gonçalves de Campos, Cristina de Lima Cardoso Leme, Ellen Claudia Cardoso Doretto, Ester Galesi Gryga, Karin Sant’Ana Kossling, Marcia Aparecida Ferrari Salgado de Barros, Mercia Albertina de Lima Camargo, Priscila Lourenço, Rogerio Sicchieri, Sandra Maria Fodra e Walter Garcia de Carvalho Vilas Boas. Sociologia: Aparecido Antônio de Almeida, Jean Paulo de Araújo Miranda, Neide de Lima Moura e Tânia Fetchir. GESTÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO EDITORIAL FUNDAÇÃO CARLOS ALBERTO VANZOLINI Presidente da Diretoria Executiva Antonio Rafael Namur Muscat Vice-presidente da Diretoria ExecutivaAlberto Wunderler Ramos GESTÃO DE TECNOLOGIAS APLICADAS À EDUCAÇÃO Direção da Área Guilherme Ary Plonski Coordenação Executiva do Projeto Angela Sprenger e Beatriz Scavazza Gestão Editorial Denise Blanes Equipe de Produção Editorial: Ana C. S. Pelegrini, Cíntia Leitão, Mariana Góis, Michelangelo Russo, Natália S. Moreira, Olivia Frade Zambone, Priscila Risso, Regiane Monteiro Pimentel Barboza, Rodolfo Marinho, Stella Assumpção Mendes Mesquita e Tatiana F. Souza. Direitos autorais e iconografia: Débora Arécio, Érica Marques, José Carlos Augusto, Maria Aparecida Acunzo Forli e Maria Magalhães de Alencastro. COORDENAÇÃO TÉCNICA Coordenadoria de Gestão da Educação Básica – CGEB COORDENAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DOS CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS DOS CADERNOS DOS PROFESSORES E DOS CADERNOS DOS ALUNOS Ghisleine Trigo Silveira CONCEPÇÃO Guiomar Namo de Mello Lino de Macedo Luis Carlos de Menezes Maria Inês Fini (coordenadora) Ruy Berger (em memória) AUTORES Linguagens Coordenador de área: Alice Vieira. Arte: Gisa Picosque, Mirian Celeste Martins, Geraldo de Oliveira Suzigan, Jéssica Mami Makino e Sayonara Pereira. Educação Física: Adalberto dos Santos Souza, Carla de Meira Leite, Jocimar Daolio, Luciana Venâncio, Luiz Sanches Neto, Mauro Betti, Renata Elsa Stark e Sérgio Roberto Silveira. LEM – Inglês: Adriana Ranelli Weigel Borges, Alzira da Silva Shimoura, Lívia de Araújo Donnini Rodrigues, Priscila Mayumi Hayama e Sueli Salles Fidalgo. LEM – Espanhol: Ana Maria López Ramírez, Isabel Gretel María Eres Fernández, Ivan Rodrigues Martin, Margareth dos Santos e Neide T. Maia González. Língua Portuguesa: Alice Vieira, Débora Mallet Pezarim de Angelo, Eliane Aparecida de Aguiar, José Luís Marques López Landeira e João Henrique Nogueira Mateos. Matemática Coordenador de área: Nílson José Machado. Matemática: Nílson José Machado, Carlos Eduardo de Souza Campos Granja, José Luiz Pastore Mello, Roberto Perides Moisés, Rogério Ferreira da Fonseca, Ruy César Pietropaolo e Walter Spinelli. Ciências Humanas Coordenador de área: Paulo Miceli. Filosofia: Paulo Miceli, Luiza Christov, Adilton Luís Martins e Renê José Trentin Silveira. Geografia: Angela Corrêa da Silva, Jaime Tadeu Oliva, Raul Borges Guimarães, Regina Araujo e Sérgio Adas. História: Paulo Miceli, Diego López Silva, Glaydson José da Silva, Mônica Lungov Bugelli e Raquel dos Santos Funari. Sociologia: Heloisa Helena Teixeira de Souza Martins, Marcelo Santos Masset Lacombe, Melissa de Mattos Pimenta e Stella Christina Schrijnemaekers. Ciências da Natureza Coordenador de área: Luis Carlos de Menezes. Biologia: Ghisleine Trigo Silveira, Fabíola Bovo Mendonça, Felipe Bandoni de Oliveira, Lucilene Aparecida Esperante Limp, Maria Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Olga Aguilar Santana, Paulo Roberto da Cunha, Rodrigo Venturoso Mendes da Silveira e Solange Soares de Camargo. Ciências: Ghisleine Trigo Silveira, Cristina Leite, João Carlos Miguel Tomaz Micheletti Neto, Julio Cézar Foschini Lisbôa, Lucilene Aparecida Esperante Limp, Maíra Batistoni e Silva, Maria Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Paulo Rogério Miranda Correia, Renata Alves Ribeiro, Ricardo Rechi Aguiar, Rosana dos Santos Jordão, Simone Jaconetti Ydi e Yassuko Hosoume. Física: Luis Carlos de Menezes, Estevam Rouxinol, Guilherme Brockington, Ivã Gurgel, Luís Paulo de Carvalho Piassi, Marcelo de Carvalho Bonetti, Maurício Pietrocola Pinto de Oliveira, Maxwell Roger da Purificação Siqueira, Sonia Salem e Yassuko Hosoume. Química: Maria Eunice Ribeiro Marcondes, Denilse Morais Zambom, Fabio Luiz de Souza, Hebe Ribeiro da Cruz Peixoto, Isis Valença de Sousa Santos, Luciane Hiromi Akahoshi, Maria Fernanda Penteado Lamas e Yvone Mussa Esperidião. Caderno do Gestor Lino de Macedo, Maria Eliza Fini e Zuleika de Felice Murrie. EQUIPE DE PRODUÇÃO Coordenação executiva: Beatriz Scavazza. Assessores: Alex Barros, Antonio Carlos de Carvalho, Beatriz Blay, Carla de Meira Leite, Eliane Yambanis, Heloisa Amaral Dias de Oliveira, José Carlos Augusto, Luiza Christov, Maria Eloisa Pires Tavares, Paulo Eduardo Mendes, Paulo Roberto da Cunha, Pepita Prata, Renata Elsa Stark, Solange Wagner Locatelli e Vanessa Dias Moretti. EQUIPE EDITORIAL Coordenação executiva: Angela Sprenger. Assessores: Denise Blanes e Luis Márcio Barbosa. Projeto editorial: Zuleika de Felice Murrie. Edição e Produção editorial: Adesign, Jairo Souza Design Gráfico e Occy Design (projeto gráfico). APOIO Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE CTP, Impressão e Acabamento Esdeva Indústria Gráfica S.A. A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo autoriza a reprodução do conteúdo do material de sua titularidade pelas demais secretarias de educação do país,desde que mantida a integridade da obra e dos créditos, ressaltando que direitos autorais protegidos* deverão ser diretamente negociados com seus próprios titulares, sob pena de infração aos artigos da Lei nº- 9.610/98. * Constituem “direitos autorais protegidos” todas e quaisquer obras de terceiros reproduzidas no material da SEE-SP que não estejam em domínio público nos termos do artigo 41 da Lei de Direitos Autorais. Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas S239c São Paulo (Estado) Secretaria da Educação. Caderno do professor: sociologia, ensino médio - 1ª- série, volume 3 / Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; equipe, Heloísa Helena Teixeira de Souza Martins, Melissa de Mattos Pimenta, Stella Christina Schrijnemaekers. São Paulo: SEE, 2013. ISBN 978-85-7849-370-7 1. Sociologia 2. Ensino Médio 3. Estudo e ensino I. Fini, Maria Inês. II. Martins, Heloísa Helena Teixeira de Souza. III. Pimenta, Melissa de Mattos. IV. Schrijnemaekers, Stella Christina. V. Título. CDU: 373.5:316 * Nos Cadernos do Programa São Paulo faz escola são indicados sites para o aprofundamento de conhecimentos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados e como referências bibliográficas. Todos esses endereços eletrônicos foram checados. No entanto, como a internet é um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo não garante que os sites indicados permaneçam acessíveis ou inalterados. * As fotografias da agência Abblestock/Jupiter publicadas no material são de propriedade da Getty Images. * Os mapas reproduzidos no material são de autoria de terceiros e mantêm as características dos originais, no que diz respeito à grafia adotada e à inclusão e composição dos elementos cartográficos (escala, legenda e rosa dos ventos). Senhoras e senhores docentes, A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo sente-se honrada em tê-los como colabo- radores na reedição do Caderno do Professor, realizada a partir dos estudos e análises que per- mitiram consolidar a articulação do currículo proposto com aquele em ação nas salas de aula de todo o Estado de São Paulo. Para isso, o trabalho realizado em parceria com os PCNP e com os professores da rede de ensino tem sido basal para o aprofundamento analítico e crítico da abor- dagem dos materiais de apoio ao currículo. Essa ação, efetivada por meio do programa Educação — Compromisso de São Paulo, é de fundamentalimportância para a Pasta, que despende, neste programa, seus maiores esforços ao intensificar ações de avaliação e monitoramento da utilização dos diferentes materiais de apoio à implementação do currículo e ao empregar o Caderno nas ações de formação de professores e gestores da rede de ensino. Além disso, firma seu dever com a busca por uma educação paulista de qualidade ao promover estudos sobre os impactos gerados pelo uso do material do São Paulo Faz Escola nos resultados da rede, por meio do Saresp e do Ideb. Enfim, o Caderno do Professor, criado pelo programa São Paulo Faz Escola, apresenta orien- tações didático-pedagógicas e traz como base o conteúdo do Currículo Oficial do Estado de São Paulo, que pode ser utilizado como complemento à Matriz Curricular. Observem que as atividades ora propostas podem ser complementadas por outras que julgarem pertinentes ou necessárias, dependendo do seu planejamento e da adequação da proposta de ensino deste material à realidade da sua escola e de seus alunos. O Caderno tem a proposição de apoiá-los no planejamento de suas aulas para que explorem em seus alunos as competências e habilidades necessárias que comportam a construção do saber e a apropriação dos conteúdos das disciplinas, além de permitir uma avalia- ção constante, por parte dos docentes, das práticas metodológicas em sala de aula, objetivando a diversificação do ensino e a melhoria da qualidade do fazer pedagógico. Revigoram-se assim os esforços desta Secretaria no sentido de apoiá-los e mobilizá-los em seu trabalho e esperamos que o Caderno, ora apresentado, contribua para valorizar o ofício de ensinar e elevar nossos discentes à categoria de protagonistas de sua história. Contamos com nosso Magistério para a efetiva, contínua e renovada implementação do currículo. Bom trabalho! Herman Voorwald Secretário da Educação do Estado de São Paulo SUMáRIO Ficha do Caderno 7 Orientação sobre os conteúdos do volume 8 Situações de Aprendizagem 10 Situação de Aprendizagem 1 – O caráter culturalmente construído da humanidade 10 Situação de Aprendizagem 2 – Por que somos diferentes? 19 Situação de Aprendizagem 3 – Como o homem se tornou homem? 26 Recursos para ampliar a perspectiva do professor e do aluno para a compreensão dos temas 40 FICHA DO CADERNO Cultura: Unidade e Diferença Nome da disciplina: Sociologia área: Ciências Humanas Etapa da educação básica: Ensino Médio Série: 1ª Volume: 3 Temas e conteúdos: O que nos diferencia como humanos Conteúdos simbólicos da vida humana – Cultura Características da cultura A humanidade na diferença 7 ORIENTAçãO SOBRE OS CONTEúDOS DO VOLUME Caro professor, No volume anterior, observamos que a Sociologia tem como objeto o estudo do ho- mem nas suas relações e interações com outros homens. O homem é, portanto, um ser social, e para viver em sociedade passa pelos proces- sos de socialização primária, secundária, pela incorporação de papéis e pela construção de sua identidade. Mas será então que é o viver em sociedade que nos diferencia dos outros animais? Certamente não. O homem só existe enquanto ser social, mas muitos animais tam- bém vivem em sociedade. Logo, não é viver em sociedade que torna o homem diferente Conhecimentos priorizados Para responder as questões O que nos une como seres humanos? e O que nos diferencia?, os conhecimentos priorizados aqui serão divi- didos em três Situações de Aprendizagem. Na Situação de Aprendizagem 1, será abordada a questão de que “quase nada é natural no ser humano”. Outro tema que será introduzido para discussão com os jovens é: o que nos une como seres humanos é o fato de que somos diferentes por natureza. Mas para compreen- der isso teremos que evitar o etnocentrismo e adotar o relativismo como postura metodoló- gica que nos ajuda a compreender o outro. dos outros animais. Na Situação de Aprendizagem 2, será apro- 8 O que distingue o homem dos outros ani- mais é o fato de que ele é o único ser que tem e produz cultura. As questões que nortearão este volume são: f O que nos une como seres humanos? f O que nos diferencia? O que nos diferencia dos outros animais é o fato de que o homem é o único capaz de adquirir cultura. Mas o que é cultura? Quais são suas características? Qual é o papel do instinto na vida do homem? E o do meio geográfico? O homem é totalmente influen- ciado pelos seus genes? Estas são algumas das questões que procuraremos tratar neste volume para contemplar o que nos une e o que nos diferencia como seres humanos. fundada a discussão iniciada na Situação de Aprendizagem 1, que examina o fato de que o que nos une são as nossas diferenças. Daí decorre outra questão − Por que somos dife- rentes? −, a qual não será respondida nessa Situação de Aprendizagem, embora se fará a menção da existência de duas respostas equi- vocadas para ela. Uma é a que aponta as dife- renças entre os seres humanos como resultado apenas do meio físico onde o homem foi cria- do: é o chamado determinismo geográfico; e a outra, o determinismo biológico, que conside- ra que as diferenças genéticas explicam as dife- renças culturais. Na Situação de Aprendizagem 3, será defi- nido o que é cultura, quais são suas caracte- rísticas, bem como será debatida a relação do homem com seus instintos. Sociologia - 1a série - Volume 3 Competências e habilidades As competências e habilidades que devem ser desenvolvidas pelos alunos neste volume 3 da 1ª série do Ensino Médio priorizam a discussão em torno do tema da cultura. No volume anterior os jovens apreenderam que, para existir, o homem precisa passar por um processo de socialização, por meio do qual internaliza as regras e costumes socialmen- te estabelecidos. Mas viver e se organizar em grupo não é uma atividade tipicamente hu- mana. O que distingue o homem dos outros animais é o fato de que somos seres culturais. E as competências e habilidades neste volume Metodologias e estratégias A estratégia metodológica para este volume é a de intercalar aulas dialogadas com leituras de texto e imagens. Avaliação Neste volume a avaliação priorizará a elaboração, por parte dos alunos, de textos dissertativos argumentativos. Deverão res- ponder como forma de avaliação às ques- tões que contemplem a matéria trabalhada em sala. tratam justamente dessa temática, para que os alunos possam distinguir entre o compor- tamento animal e o humano. 9 SITUAçõES DE APRENDIZAGEM SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 1 O CARÁTER CULTURALMENTE CONSTRUÍDO DA HUMANIDADE Na Situação de Aprendizagem 1, os jovens deverão tomar consciência de que quase nada é natural no ser humano e que nossas maneiras de agir, pensar e sentir são culturalmente esta- belecidas. Para isso serão conduzidos à com- preensão de que será preciso adotar a postura do relativismo para conseguir compreender o outro e evitar o etnocentrismo. Tempo previsto: 3 aulas. Conteúdos e temas: a unidade entre todos os seres humanos; o caráter social e culturalmente construído da humanidade. Competências e habilidades: desenvolver o espírito crítico dos alunos e sua capacidade de obser- vação da sociedade; desenvolver habilidades de leitura, produção de textos contínuos e expressão oral; compreender que a unidade entre todos os seres humanos é o fato de que o homem é um ser cultural; reconhecer o caráter social, histórica e culturalmente construído da humanidade. Estratégias:aula dialogada; interpretação de imagens. Recursos: discussão com a sala, imagens e texto para leitura. Avaliação: texto dissertativo. 10 Sondagem e sensibilização Esta sensibilização tem como objetivo intro- duzir os alunos na discussão deste volume, cujas questões centrais são: O que nos une como seres humanos? O que nos diferencia? Verifica- remos que o que nos une como seres humanos é também o que nos diferencia e que isso nada mais é do que o fato de sermos seres culturais. Peça aos alunos que observem as fotos a seguir e retome com eles a discussão do volume anterior sobre a importância de viver em socie- dade para o homem. O homem existe como ser social e, por isso, passa por um processo de socialização primária e secundária à medida que cresce. Dessa for- ma, ele se insere em um grupo e na sociedade. Nas fotos mostradas a seguir, veremos que outros animais também vivem em grupo. As fotos não mostram, mas sabemos que cada um deles passou por um pequeno processo de socia- lização para poder viver com o grupo e que, portanto, não pode simplesmente agir confor- me a sua vontade. Logo, os animais também vivem em sociedade, assim como nós. Mas os animais não são totalmente iguais a nós, apesar de muitos viverem em grupo e pre- cisarem aprender a viver juntos. a) © Peter Beavis/Stone-Getty Images, b) © K & K Amman/Taxi-Getty Images, c) © Sue Flood/The Image Bank-Getty Images, d) © WorldFoto/Alamy-Otherimages.Sociologia - 1a série - Volume 3 a) b) c) d) Figuras 1 a 4 – Grupos de animais Questione: f O que vocês acham que nos distingue dos outros animais? Deixe os alunos se expressarem. Verifique se algum deles responderá de maneira correta que o que nos distingue dos outros animais é o fato de que temos cultura e os animais, não. Ou seja, muitos deles se organizam em grupos para viver, mas isso não os diferencia de nós, seres humanos. Formule, então, para a turma outra questão que orientará a discussão do volume: O que é natural no ser humano? É recomendável escrever a pergunta na lousa para não dispersar a aten- ção dos jovens. Você pode dizer que esta questão os ajuda- rá a compreender as questões centrais do vo- lume: O que nos une como seres humanos? e O que nos diferencia? Mas esclareça que a pergun- ta escrita na lousa não será totalmente respon- dida nessa aula, pois, para compreender o que une e o que diferencia os seres humanos, eles terão, primeiramente, que refletir sobre o que é natural para o ser humano, qual é a relação que temos com nossos instintos e o que é que nos separa dos outros animais. Para fechar a sensibilização, explique o que é natural no ser humano: a sua capacidade para a diferenciação. O que todos nós temos em comum é a capacidade de nos diferenciarmos uns dos outros e de vivermos essa experiência, que é a de ser humano da forma mais variada possí- vel, por meio da imersão nas mais diferentes culturas. Logo, o que nos liga são as nossas diferenças, e elas são dadas pela cultura. 11 © C K Ltd/Photonica-Getty Images © Iara Venanzi/KinoEtapa 1 – Os homens e a natureza Os alunos precisarão compreender que o que consideramos como natural em nós é, de fato, cultural, o que parece ser óbvio não o é. Toda cultura é uma construção histó- rica e social. Nossos hábitos, costumes, maneiras de agir, sentir, viver e até mor- rer são culturalmente estabelecidos. Dizer que eles são uma construção não é aleató- rio. Pois construção tem a ver com mon- tagem, com algo que passa pela mão do homem, que não está pronto, ou seja, que não é dado pela natureza, mas sim que passa por algum processo até se transfor- mar no que é. É histórica porque varia de uma época para outra, porque demorou muito para ser o que é. Mas será que existe uma natureza huma- na que seria a mesma para todos? Para os antropólogos está claro que não há uma natureza humana única e imutável. É fato que a cultura nos molda como uma espé- cie única, e ela também nos modela como indivíduos separados. Ou seja, não há ser humano que possa existir sem estar imerso em uma determinada cultura. Somos todos seres culturais. Pode-se dizer que não há uma natureza humana igual para todos os seres humanos, para além da constatação de que todos temos a capacidade de ser dife- rentes entre nós. Para dar continuidade a essa discussão, leia para a sala o que diz a legenda de cada uma das figuras a seguir. Não é natural: É social porque é partilhada por um grupo. Grupos humanos diferentes, portanto, têm culturas diferentes; isso significa dizer que quase nada no homem é natural. Os jovens precisam compreender que, se um comportamento é considerado natural para uma sociedade e não para outra, isso significa que ele não é natural e, sim, cultural. É importante não esquecer de dizer que: Figura 5 – Vestir jeans e camiseta Se apenas um grupo ou alguns gru- pos consideram uma forma de agir, pen- sar e sentir como natural, então o aluno pode ter certeza de que não se trata de algo natural e, sim, cultural. Tudo o que é natural para uns e não para outros, não é natural. Pois natural seria o que faz parte da natureza humana, ou seja, deveria ser o que é compartilhado por todos os seres humanos. Figura 6 – Comer arroz e feijão 12 © Ryan McVay/Stone-Getty Images © Zubin Shroff/Stone-Getty Images © Rosa Gauditano/Studio R © Wolfgang Kaehler/Corbis-Latinstock © Stefan Kolumban/Pulsar ImagesSociologia - 1a série - Volume 3 Figura 7 – Casar de branco Figura 8 – Enterrar os mortos Em outras culturas: Figuras 9 e 10 – O jeans e a camiseta não são roupas naturais para o ser humano. Na Índia, por exemplo, é comum as mulheres usarem o sari; já no Brasil, muitos povos indígenas andam nus Figura 11 – Comer arroz e feijão também não é algo natural, existem grupos no deserto que se alimentam de gafanhotos, e o escargot (tipo de lesma) é uma iguaria na França 13 © Tim Macpherson/Rise-Getty Images © Richard Powers/Corbis-LatinstockFigura 12 – Na nossa sociedade a noiva veste-se de branco, mas em muitas sociedades a cor da roupa da noiva não é o branco Como para os jovens pode ser difícil acei- tar que nossas maneiras de agir, pensar e sentir não são naturais, dê mais um exem- plo para a sua argumentação. Fale, então, sobre o simbolismo das cores e explique que ele também não é natural. Isto é, tal simbo- lismo é fruto do senso comum e de crenças de cada cultura e por isso mesmo pode variar de uma cultura para a outra. Ou seja, é cos- Figura 13 – Não são todos os povos que enterram seus mortos. Os indianos, por exemplo, costumam queimá-los tume associar as cores a diferentes emoções, estados de espírito ou acontecimentos, como se isso fosse perfeitamente natural a todos os seres humanos, o que não é verdade. Como exercício em sala, peça para que os alunos escrevam o que cada uma das cores a seguir pode usualmente simbolizar no Brasil. Figura 14 – Ouro, riqueza, dinheiro Figura 15 – Paixão, amor Figura 16 – Pureza, vida, luz, paz etc. Figura 17 – Morte, escuridão, trevasFigura 18 – Amor 14 Verifique com a turma as respostas que foram dadas e mostre que, por exemplo, no caso do branco e do preto esse simbolismo pode mudar muito, dependendo da cultura de um povo. Sociologia - 1a série - Volume 3 Muitos povos orientais não associam o branco à vida e à luz. Para eles, o branco “naturalmente” é associado à morte e é usado como cor de luto. Nas culturas ocidentais, como é a nossa, ocorre o con- trário. Associamos “naturalmente” o branco à luz, ao sol e à vida, e o preto, às trevas, à escuridão, à noite e à morte. Nenhuma dessas associações é natural ao ser humano, pois, caso isso fosse realmente natural, todos os indivíduos, em todas as sociedades, fariam as mesmas associações. Se isso não ocorre, é por- que quase nada é natural no ser humano, e o simbolismo das cores é um exemplo de como o que mui- tos consideram como “natural”, na verdade, é fruto de uma construção histórica, social e cultural. Peça agora para cada aluno, como pesquisa individual a ser feita em casa, que escreva em seu Caderno exemplos de: a) roupas ou adereços usados por diferentes povos; b) hábitos diferentes dos brasileiros. Etapa 2 − Etnocentrismo e relativismo cultural Para podermos aprofundar nossa discussão sobre o homem como ser cultural, deve- mos discutir a respeito de duas posturas: a do etnocentrismo e a do relativismo cultural. O primeiro refere-se a uma postura que temos e que deve ser evitada, e o segundo, a uma postu- ra metodológica sugerida quando alguém quer olhar outro povo ou grupo diferente do seu. Para começar essa explicação, você pode escrever na lousa a seguinte frase: “[...] cada qual denomina de bárbaro o costume que não pratica na própria terra”1. Ela é de Montaigne, um filósofo do século XVI. Essa frase nos mostra que todos nós olha- mos para o mundo com os olhos ou as lentes dados por nossa cultura. Por meio dela olha- mos o mundo e avaliamos os outros. Isso se chama etnocentrismo. Como, provavelmente, essa é uma palavra que os alunos não conhecem e um termo mui- to importante em seu aprendizado, sugerimos que você primeiro discuta com eles o que com- preendem da frase de Montaigne: f O que vocês acham que ele quis dizer com isso? Espere as respostas e continue a explicação. Comece falando sobre o sentido do ter- mo bárbaro. Ele pode ser usado de várias formas: a) “Nossa, olha só que roupa legal! Ela não é bárbara?” ou b) “O que esse homem fez com os reféns foi um ato bárbaro e cruel!”. Peça que cada aluno escreva em seu Caderno: em a) a roupa é bárbara porque é..., e em b) o que o homem fez é um ato bárbaro porque... (dê um tempo para que eles completem as frases). Verifique as respostas dadas; na primeira fra- se, a roupa é bárbara porque é legal, moderna, diferente etc. Essa primeira conotação do uso do termo tem um sentido positivo. Já a segunda frase mostra o uso do mesmo termo, mas com uma conotação negativa. Bárbaro ali é alguém que fez algo muito ruim para as outras pessoas, algo que quase não é considerado humano. 1 MONTAIGNE, Michael de. Les Essais, livre I. Chapitre XXX – Des cannibales. Tradução Stella Cristina Schrijnemaekers. Disponível em francês: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra =3384>. Acesso em: 14 mar. 2013. 15 A palavra bárbaro é de origem greco- -latina. Os romanos a usavam para desig- nar todos os povos que não eram romanos. Todos os que não fossem romanos seriam bárbaros. Com o tempo essa palavra adqui- riu a conotação de alguém que age de forma errada, imprópria, quase não humana. No caso da frase de Montaigne e com base nas aulas anteriores e na experiência pessoal dos alunos, peça que respondam se o uso do termo é negativo ou positivo e por quê. Agora você já pode explicar que a frase de Montaigne fala sobre o etnocentrismo. Destaque essa palavra na lousa e depois ques- tione a sala sobre o seu significado. f Algum de vocês conhece essa palavra? Al- guém sabe o que ela significa? Os alunos talvez se lembrem da discussão feita na aula de Filosofia, no volume anterior. Deixe-os se manifestarem e aproveite as inter- venções mais importantes para então dar o blema quando se quer compreender o outro, quando se quer pensar sociologicamente. Logo, o etnocentrismo é uma postura que devemos evitar. Mas como evitar os próprios valores? Como evitar nossa maneira de agir, pensar e sentir? Na Antropologia há um recurso metodoló- gico para isso e ele tem a ver com uma atitude mental que os pesquisadores adotam diante do que é diferente. O antropólogo deve tornar exótico o que é familiar e tornar familiar o que é exótico. Ou seja, é preciso assumir uma postura de distanciamento ou afastamento diante de seu modo de pensar, agir e sentir. Ela está ligada ao estranhamento que os alunos aprenderam nos volumes 1 e 2. É tentar se colocar no lugar do outro e compreender como ele pensa. Isso é o relativismo cultural. sentido etimológico da palavra etnocentrismo: Essa atitude não é fácil, pois são poucas as pessoas dispostas a questionar ou ao menos 16 etno = é uma palavra grega que significa povo. centr = vem de centro. ismo = sufixo que designa prática de algo. Etnocentrismo é a postura segundo a qual você avalia os outros povos a partir de sua própria cultura. Nesse sentido, todos nós somos etnocêntri- cos. Uns mais e outros menos. O problema do etnocentrismo é que ele não nos permite com- preender como os outros pensam, já que de antemão eu julgo os outros conforme os meus padrões, de acordo com os valores e ideias par- tilhados pela minha cultura. E isso é um pro- deixar de lado sua maneira de agir, pensar e sentir. É chegado o momento de questionar a classe a respeito de por que é tão difícil nos colocarmos no lugar do outro. f Por que vocês acham que é tão difícil para nós nos colocarmos no lugar do outro? f Por que até hoje nós confundimos diferença com inferioridade? f Por que ao olhar alguém que se veste dife- rente e tem hábitos diferentes a nossa ten- dência é tachá-lo como inferior? Sociologia - 1a série - Volume 3 Estimule-os a dar o maior número de respos- tas possíveis. Diga para a turma que existe um feixe de causas para isso, ou seja, que por várias razões temos tal atitude. Provavelmente uns dirão que isso é pró- prio do ser humano; outros, que tem a ver com egoísmo, ou com individualismo; outros, ain- da, que isso está relacionado à nossa cultura, pois estranhamos o que é diferente. E todas essas respostas estão certas. Mas talvez eles se esqueçam de que uma das razões mais impor- tantes para termos uma postura etnocêntrica está ligada ao medo. Medo do outro e, acima de tudo, medo de nós mesmos. Por que isso está ligado ao medo? Porque, quando nós dizemos que o outro é inferior, automaticamente nos colocamos em uma posição de superioridade. E, se somos superiores, somos os corretos, os melho- res. Logo, não precisamos questionar nossa maneira de agir, pensar ou sentir. Pois, quan- do olhamos o outro e procuramos genui- namente compreendê-lo na sua diferença, muitas vezes não olhamos somente para este outro. Olhamos também para nós mesmos. Ao aceitar o outro na sua diferença, mui- tas vezes somos levados a refletir sobre nós. Verificamos que existem outras possibilidades de existência, outras formas de ver e pensar o mundo e que a nossa é uma entre muitas. Não é a única possível e talvez nem a melhor. E por que não queremos fazer isso?Porque aceitar o outro na sua diferença leva muitas vezes a refletir sobre a própria existên- cia, e as pessoas nem sempre estão preparadas ou simplesmente não querem rever ou repen- sar seu ponto de vista. Gostamos de achar que esse ponto de vista é o único possível, pois assim esquecemos que é somente uma possibilidade, uma entre outras. Com isso fugimos da respon- sabilidade de pensar sobre as escolhas que fa- zemos dizendo que: “não temos escolha”, que “o mundo deve ser assim”, “sempre foi assim”, “não há o que mudar” e que o “diferente está sempre errado”, “é sempre inferior”. Peça que façam como Lição de Casa uma redação sobre o medo e sobre como ele pode atrapalhar a nossa vida. Retome, por fim, a discussão sobre o rela- tivismo cultural. Ter essa atitude não signifi- ca deixar de ser quem você é, e sim, aceitar o outro na sua diferença, colocar-se no lugar do outro. A essa postura damos o nome de relativismo cultural. O relativismo cultural é a postura segundo a qual você procura relativizar sua maneira de agir, pensar e sentir e assim se colocar no lugar do outro. “Relativizar” sig- nifica que você estabelece uma espécie de afastamento, distanciamento ou estranha- mento diante de seus valores, para conseguir compreender a lógica dos valores do outro. Um importante antropólogo chamado Claude Lévi-Strauss pode ajudá-lo nesta dis- cussão sobre o etnocentrismo. Em um artigo que escreveu em 1952 para a Unesco, ele disse que a interpretação e a visão da diver- sidade se faz em função da própria cultura, e para essa discussão ele usa como metáfora explicativa o trem e o andar do cavalo no jogo de xadrez (LÉVI-STRAUSS, 1980). Ele com- parou as culturas com os trens, para falar do etnocentrismo, e, ainda, o desenvolvimento das culturas com o andar do cavalo no jogo de xadrez2. Como exercício em sala de aula O cavalo no jogo de xadrez anda em L, ou seja, duas casas para a frente e uma ou para a direita ou para a esquerda,2 ou pode andar uma casa para a frente e duas para a esquerda ou para a direita. 17 sobre a questão do etnocentrismo, peça aos alunos que leiam o texto a seguir e respondam em seus Cadernos: O que Lévi-Strauss quis dizer quando sugeriu que as culturas são como trens e se desenvolvem assim como anda o cava- lo no jogo de xadrez? Claude Lévi-Strauss é um dos mais importantes antropólogos do século XX. Ainda jovem, em 1934, veio ao Brasil e ajudou a fundar a Universidade de São Paulo (USP). Ele fez pesquisas em Mato Grosso com os índios Bororo e Kadiwéu, entre outros. Quatro anos depois, foi embora do nosso país e desenvolveu, posteriormente, uma das mais importantes correntes da Antropologia: o estruturalismo. Em 1952, a pedido da Unesco, ele escreveu um artigo chamado Raça e história, em que criticava a ideia de raça e o etnocentrismo entre os povos, além de outros pontos. Para falar sobre a ideia de que existiriam culturas que não se moveriam ou se transformariam e o etnocentrismo, ele deu o exemplo do viajante do trem: imaginem que cada cultura é um trem e nós somos os passageiros. Nós olhamos o mundo a partir do nosso trem. Mas os trens caminham em direções opostas, em diferentes velocidades. Um viajante verá de modo diverso um trem que vai ao sentido contrário, um trem que ultrapassa o seu ou outro que caminha em uma outra direção. Qual é o trem que nós podemos olhar melhor? Aquele que caminha na mesma direção que o nosso e na mesma velocidade, ou seja, de forma paralela. Mas, se cada trem é uma cultura, sabemos que as culturas não caminham todas na mesma dire- ção e nem na mesma velocidade. Umas caminham mais rápido, outras caminham em direções quase opostas. As culturas possuem formas diferentes de observar o mundo. Cada uma tem o seu caminho, a sua direção e a sua velocidade. Se uma nos parece parada, isso ocorre porque não conseguimos compreender o sentido do seu desenvolvimento. É aquela que caminha paralela à nossa que nos permite a melhor observação, e que nos fornece a autoidentificação. Mas quem é que pode dizer qual é a melhor direção? O caminho mais avançado? Será que o que parece parado para nós está realmente parado? Como saber? Na verdade, com isso ele quis dizer que é muito difícil para alguém de uma determinada cultura querer avaliar alguém de outra cultura. Pois, já que a minha cultura é como um trem, muitas vezes não consigo enxergar e compreender o que se passa nos outros trens (nas outras culturas). Isso ocorre porque as culturas não têm todas elas as mesmas preocupações e nem os mesmos objetivos. É mais fácil entender a cultura que mais se parece com a nossa, ou seja, aquela que anda de forma paralela à nossa, partilhando os mesmos interesses e a mesma direção. Mas, como as culturas são diferentes, se muitas vezes não conseguimos compreender uma delas, não é porque ela esteja parada, ou errada, e sim, porque a direção que ela toma muitas vezes não faz sentido segundo a nossa lógica de raciocínio. Lévi-Strauss diz, ainda, que as culturas se desenvolvem como anda o cavalo no jogo de xadrez. No jogo de xadrez cada peça caminha de uma maneira: a torre em linha reta, o bispo na diagonal e o cavalo em L, ou seja, aos saltos. Logo, se as culturas andam em L ou aos saltos, elas não andam todas em linha reta, nem seguem todas a mesma direção. Cada uma segue um sentido e uma linha de raciocínio que lhe é própria. É equivocado considerar errada e pouco evoluída a cultura que segue uma direção diferente da nossa, como se todas devessem seguir a mesma direção, como se todas devessem andar da mesma forma. Cada cultura tem seus interesses próprios e, assim, um ritmo, velocidade e direção de desenvolvimento que são seus. Não andam, ou se desenvolvem, em linha reta. 18 Sociologia - 1a série - Volume 3 O que é mais importante? Para um pigmeu1, mais importante do que saber quem descobriu o Brasil, ou quais são os tipos de clima do mundo, é saber quais plantas são comestíveis e quais são venenosas, quais podem ser usadas como remédio e quais não podem. Para um brasileiro que almeja se tornar advogado, mais importante é adquirir os conhecimentos necessários para entrar na facul- dade. Conhecer quais são as plantas venenosas numa floresta pode não lhe ser de muita utilidade. Logo, o que é importante saber varia de um ponto para outro. 1 Homem que pertence a uma etnia da África Central e que possui baixa estatura. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. Você pode pedir para que respondam em seus Cadernos às seguintes questões: 1. Com base na leitura de texto de Lévi-Strauss e nas explicações de seu professor, responda o que ele quis dizer com: a) as culturas são como trens; b) as culturas se movem assim como anda o cavalo no jogo de xadrez. Assim, por meio das metáforas usadas por Lévi-Strauss foi possível mostrar aos alunos que as culturas não são só diferentes entre si, mas são também difíceis de ser compreendidas e avaliadas. Cada uma fornece uma visão de mundo, uma maneira de observar a rea- lidade, de viver e de pensar. E, se quisermos realmente compreender o outro, devemos ter consciência disso e adotar, na medida do pos- sível, o relativismo como uma postura meto- dológica que nos ajude a nos desvencilhar do etnocentrismo. Proposta de Questão para Avaliação Como forma de avaliação dessa Situação de Aprendizagem, peça aos alunos que escre- vam, em uma folha avulsa, um texto disserta- tivo e argumentativo que relacione a discussão de sala de aula à Lição de Casa que fizeram sobre o medo, ao etnocentrismo, ao relativis- mo e às metáforasusadas por Lévi-Strauss no sentido de ver “as culturas como trens” e de que “elas se movem assim como anda o cavalo no jogo do xadrez”. SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 2 POR QUE SOMOS DIFERENTES? O objetivo nesta segunda Situação de Aprendizagem é mostrar aos alunos duas pos- turas que devem ser evitadas: o determinismo geográfico e o determinismo biológico. 19 Tempo previsto: 2 aulas. Conteúdos e temas: determinismo geográfico; determinismo biológico. Competências e habilidades: compreender os problemas e limitações do determinismo biológico e do determinismo geográfico; desenvolver o espírito crítico dos alunos e sua capacidade de observação da sociedade; desenvolver habilidades de leitura, produção de textos contínuos e expressão oral. Estratégias: aula dialogada. Recursos: discussão com a sala e textos para leitura. Avaliação: texto dissertativo. Sondagem e sensibilização Para a sensibilização desta Situação de Aprendizagem, você pode escrever na lousa e lançar para a sala a seguinte questão: Por que somos diferentes? Deixe os alunos se manifestarem; uns dirão que isso ocorre porque as pessoas têm costumes diferentes; outros, porque há indivíduos que têm mais dinheiro e aqueles que têm menos; outros, ainda, porque as pessoas vêm de meios diferentes ou porque somos geneticamente dife- rentes, entre muitas outras possíveis respostas. De qualquer forma, esclareça aos alunos que o objetivo desta Situação de Aprendizagem é o de criticar duas posturas radicais que costu- mam dar uma explicação simplista para essa questão. Essas posturas são: o determinismo geográfico e o determinismo biológico. Etapa 1 − Por que somos diferentes? Se quase nada é natural no ser humano, outra questão apresenta-se para nós: Por que somos diferentes? Esta Situação de Aprendizagem será mais um passo na tentativa de responder a tal ques- tão. Na maioria das vezes o senso comum acre- dita que a diferença é fruto do meio físico e/ ou de fatores biológicos. Os que acreditam que a diferença ocorre por conta do meio físi- co são os adeptos do determinismo geográfico e os que dizem que é uma questão biológi- ca são adeptos do determinismo biológico. Ambas são posturas ou explicações a serem evitadas. Você pode começar explicando o determinismo geográfico. Peça a um aluno que leia o texto a seguir. O determinismo geográfico pode ser definido como a postura segundo a qual se acredita que as diferenças de ambiente físico condicionam totalmente a diversidade cultural. Ou seja, segundo essa pos- tura, os homens são diferentes, pois habitam áreas geográficas diferentes: umas mais frias, outras mais quentes, umas mais próximas ao mar, outras altas etc. Para os adeptos dessa postura, o meio físico condiciona totalmente o comportamento do homem. Assim, acreditam, por exemplo, que pessoas que moram em regiões quentes são mais preguiçosas, por conta do calor, entre outros preconceitos. 20 Sociologia - 1a série - Volume 3 A Antropologia mostrou que existem limites para a influência do ambiente físico em uma deter- minada cultura. Ou seja, o meio físico pode influenciar o homem e seus costumes, mas não o con- diciona totalmente. Os hábitos, costumes e conteúdos simbólicos da vida de um povo podem sofrer influência do meio físico. Existem elementos em nossa cultura que são influenciados pelo meio, como, por exem- plo, a maior parte das nossas roupas. Elas são adaptadas ao nosso clima. Ou, ainda, o fato de nos alimentarmos de mandioca, que é uma raiz que constitui a base da alimentação em muitas regiões do Brasil. Em países de clima mais frio é comum que as casas tenham sistema de aquecimento central, para que as pessoas não sofram com as baixas temperaturas, e que elas se alimentem de vegetais que se desenvolvem em temperatura mais baixa do que aquela aqui encontrada. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. Peça para os alunos explicarem o que en- tenderam do texto e mostre a eles por que o determinismo geográfico é uma postura a ser evitada. Você pode fazer isso, primeiro, admitindo que o meio físico, em parte, influencia uma cultura. Ou seja, existem elementos em nos- sa cultura que são influenciados pelo meio. Mas o meio físico não condiciona totalmen- te uma cultura. Como exercício em sala, solicite aos alu- nos que respondam em seus Cadernos o que eles entendem por determinismo geográfico e que escrevam exemplos diferentes dos contidos no texto de como o meio físico condicio- na a nossa cultura em parte. Eles podem ler o que fizeram para que se verifique se os exemplos estão corretos. Depois, mostre que há um limite para esse condicionamento. Em um mesmo meio geográfico podem se desen- volver culturas diferentes. Como exemplo você pode citar os países escandinavos: Suécia, Noruega, Finlândia e Dinamarca. Suécia, Noruega e Finlândia são os países que compõem a Península Escan- dinava e a Dinamarca fica na Jutlândia. Eles têm o mesmo clima e um relevo muito pare- cido, assim como a flora e a fauna. Mesmo assim, possuem culturas diferentes e línguas diferentes: há o sueco, o dinamarquês, o fin- landês e o norueguês. Se fosse verdade que o meio físico con- diciona totalmente o comportamento dos seres humanos, só haveria uma cultura na Península Escandinava, e não é o que acontece. Por que isso ocorre? Porque, ao contrário do que acreditam os adeptos do determinismo geográfico, o meio físico não influencia totalmente a cultura. Na verdade, há limites para a influência do meio físico sobre a cultura. Esses limites são dados pelos interesses de cada cultura. Peça aos alunos que leiam o texto a seguir e respondam em seus Cadernos às questões: 1. Segundo o texto, de que maneira a cul- tura age em relação ao meio físico? 2. Cite um exemplo do texto que mostre isso e explique por quê. 3. Descreva um exemplo, que não seja tirado do texto, de como a cultura age de forma seletiva em relação ao meio físico. 21 a) © Ovia Images/Alamy-Otherimages, b) © Catherine Ledner/Stone-Getty Images, c) © Fernando Favoretto. a) © ABPL/Photolibrary/Fresh Food-Latinstock, b) © David A. Northcott/Corbis-Latinstock, c) © Julie Fisher/Taxi-Getty Images.Toda cultura age seletivamente em relação ao meio físico em que ela se desenvolve e, por isso, existem elementos culturais que, apesar de aceitos, não estão de acordo com o meio geográfico. Um exemplo notório é o uso do terno e gravata em um país quente como é o Brasil na maioria dos meses do ano. Essa roupa é adequada aos países de clima temperado, mas totalmente inadequada, na maior parte do ano, ao clima do nosso país. a) b) c) Figuras 19 a 21 – O uso do terno Mesmo assim, os homens, seja por razões de trabalho, seja porque têm de comparecer a um deter- minado evento social, muitas vezes usam terno e gravata. Por que eles fazem isso? Não é porque essa roupa seja adequada ao nosso clima, mas, sim, porque ela tem um significado cultural. Trata-se do exemplo de uma vestimenta mais formal. Ela proporciona certo status social para quem a veste, pois não é uma roupa barata. Se o meio físico influenciasse totalmente as culturas, como querem acreditar os adeptos do deter- minismo geográfico, os homens usariam roupas adequadas ao nosso clima. Isso também pode ser refletido na nossa alimentação. a) b) c) Figuras 22 a 24 – Alimentação Existem animais que habitam o Brasil e outros países, como a China, o Camboja, a Tailândia,o Vietnã e o México, por exemplo. Mas isso não significa que eles sejam considerados passíveis de ser- vir como alimento aqui e lá. É o caso, por exemplo, do rato. No Brasil, é praticamente impensável para uma pessoa se alimentar da carne de ratos. Já na China, no Camboja, no Vietnã e na Tailândia eles são normalmente consumidos como alimento. Na Tailândia também é comum comer espetos 22 Sociologia - 1a série - Volume 3 de certas larvas na rua, assim como aqui se come churrasco. Há ainda o caso do México: lá é possí- vel comer tacos (prato típico mexicano feito de farinha de milho, parecido com uma panqueca, com vários tipos de recheios e molhos) recheados com certo tipo de grilo comestível. Se o determinismo geográfico realmente existisse, nós nos alimentaríamos igualmente desses animais também existentes em nosso território. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. Pode-se concluir que o meio físico age sobre a cultura, embora não a condicione totalmen- te, pois esta age de forma seletiva em relação aos elementos que aquele fornece. Agora é o momento de abordar a outra postura a ser evitada, que é o determinismo biológico. Segundo essa postura, as pessoas É importante destacar que essa é uma pos- tura errada, pois diferenças genéticas não determinam diferenças culturais. Infelizmente, muito do preconceito existente está relaciona- do a esse raciocínio equivocado. Para trabalhar tal questão com a classe, comece com a leitura do texto a seguir. seriam totalmente condicionadas por fatores biológicos, ou seja, a genética. Outro grande equívoco é a postura do determinismo biológico, segundo a qual as diferenças gené- ticas determinam as diferenças culturais. Essa é a velha história de que “o homem é o que é, pois isso estaria no sangue”, ou seja, todas as diferenças entre duas pessoas seriam estabelecidas por meio dos nossos genes. A partir desse tipo de raciocínio, cria-se uma série de estereótipos, tais como: os judeus e os árabes nascem para negociar; os alemães são bons de cálculo; os norte-americanos são todos empreendedores etc. E a justificativa é a de que isso estaria no seu sangue. Mas isso é um grande engano, por várias razões. A primeira razão é dada pelos avanços dos estudos genéticos que mostraram que os seres humanos são muito parecidos e muito diferentes entre si do ponto de vista genético. Em termos da porcentagem total de material genético, a variação genética entre dois seres humanos é inferior a 1%. Entretanto, se verificarmos em números, será possível observar que há milhões de diferenças no código genético entre dois indivíduos escolhidos ao acaso. Ou seja, apesar de sermos muito parecidos em termos rela- tivos (uma diferença menor do que 1%), em termos absolutos, isto é, considerando o número de dife- renças genéticas, somos muito diferentes (milhões de diferenças entre dois indivíduos). Em outras palavras, esses milhões de diferenças genéticas representam menos de 1% do total do código genético, não importando a origem geográfica ou étnica deles. No entanto, mais de 90% dessa variação ocorre entre indivíduos e menos de 10% ocorre entre grupos étnicos (“raças”) diferentes. Em outras pala- vras, há apenas uma raça de Homo sapiens: a raça humana! Com base em tais informações é possível dizer que cada um de nós é um ser humano único e tão dife- rente de outro ser humano que procurar juntar as pessoas para formar grupos distintos (como, por exem- plo, “raças humanas”) não faz sentido. Não existem diferenças suficientes entre os grupos humanos para permitir separar ou juntar os seres humanos em “raças”. As diferenças visualizadas entre populações de diferentes continentes são muito pequenas e superficiais, não se refletindo no genoma (constituição gené- tica total de uma pessoa). 23 © Chris Ratcliffe/Alamy-OtherimagesMas, mesmo assim, há aquelas velhas questões: se isso é verdade, então por que tantos por- tugueses são padeiros? Por que tantos descendentes de árabes são comerciantes? Isso não está mesmo no seu sangue? É claro que não. Acha isso quem ainda não viajou pelo mundo ou quem não leu sobre outros lugares do mundo. Afinal de contas, se isso fosse verdade, então Portugal seria um país de padei- ros e em todos os lugares onde os portugueses fossem morar eles seriam padeiros. Isso acon- tece? Não. Se aqui há muitos descendentes de portugue- ses que são padeiros, isso se deve ao fato de que esta foi uma profissão em que vários imigrantes se deram bem, e estes a ensinaram a outros imi- grantes, mas não porque estaria no sangue deles ser padeiro. O pão é um alimento de consumo em todas as regiões do mundo, mas isso não quer dizer que só os portugueses façam pão, ou que o façam melhor do que outros povos. Há padeiros chineses, malaios, indianos, botsuanos, alemães, franceses, gregos, es- panhóis, russos, chilenos, bolivianos, argentinos, holandeses, japoneses, australianos, moçambica- nos etc. E não só portugueses. Há padeiros em todas as sociedades, em todas as culturas. E, se há portu- gueses em todos esses lugares citados, isso não sig- nifica que eles sejam padeiros. Em outras regiões do mundo, eles podem ter se especializado em ou- tras profissões. Logo, é equivocado achar que pro- fissões tenham uma determinação biológica e que exista o determinismo biológico. 24 Figura 25 – Padeiro Deixe a classe se manifestar a respeito da leitura e direcione a discussão para as seguin- tes questões a ser respondidas no Caderno do Aluno. 1. O que é o determinismo biológico e por que esta é uma postura que deve ser evitada. 2. Retire do texto e explique um exemplo que mostre por que a postura do determinismo biológico é equivocada. 3. Descreva um exemplo diferente do apre- Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. sentado no texto para mostrar o problema do determinismo biológico. Não explore muito a questão da raça com a classe, pois ela será mais aprofundada no volume 4. Para fechar esta discussão, dê o exemplo da criação de uma criança. Toda criança ao nascer é fruto da combinação de elementos genéticos do pai e da mãe. Isso é verdade, mas a sua maneira de agir, pensar e sentir não está relacionada com esse código genético. a) © Bill Bachmann/Alamy-Otherimages, b) © Mira/Alamy-Otherimages, c) © Martin Harvey/Alamy-Otherimages. d) © David Hancock/Alamy-Otherimages, e) © D.Hurst/Alamy-Otherimages, f) © Anonymous Donor/Alamy-Otherimages.Sociologia - 1a série - Volume 3 Na verdade, se transportarmos para a Bolívia um bebê inglês e o criarmos ali com outros pais, ele desenvolverá os hábitos, a maneira de falar e de raciocinar típicos do lugar. Não gostará de comer a comida que seus pais biológicos ingleses apreciam e nem pensa- rá como um inglês, pois assumirá os hábitos e costumes da família boliviana que o criou. A carga genética vinda de seus pais não influenciará seu comportamento. Mesmo determinadas doenças, para as quais ele porventura tenha predisposição genética, poderão não se manifestar, impe- didas possivelmente pelos hábitos alimenta- res e de vida adquiridos no novo país. Isso demonstra, mais uma vez, que o determinismo biológico é uma postura equi- vocada a ser evitada, pois a cultura pode interferir no plano biológico. Do ponto de vista biológico, em geral os homens são mais fortes do que as mulhe- res, mas em várias culturas é a mulher quem realiza o trabalho braçal e não o homem. A Antropologia tem mostrado que muitas ativi- dades atribuídas aos homens em determinadas culturas são realizadas pelas mulheres em outras. Portanto, apesar de existiremdiferen- ças biológicas entre homens e mulheres, a cul- tura pode interferir no plano biológico. Outro exemplo é o do riso. O riso é uma propriedade do homem e dos primatas mais desenvolvidos. Mas o que é con- siderado risível varia de cultura para cultura: para os americanos, por exemplo, o engra- çado é o gênero pastelão com tortas na cara; na Itália é a piada picante, com duplo senti- do. Ou seja, o riso é totalmente condicionado pelos padrões culturais, apesar de toda a sua fisiologia (LARAIA, 2009, p. 69). a) b) c) d) e) f) Figura 26 a 31 – O riso 25 Como Lição de Casa, você pode pedir aos alunos que façam uma pesquisa complemen- tar individual e tragam para a sala de aula um comentário crítico de um programa humorís- tico da TV brasileira, discutindo o conceito de “engraçado”. Discuta com a sala o fato de que o que é considerado engraçado no Brasil pode não ser, e provavelmente não é, consi- derado engraçado em outros lugares. Se no Brasil, por exemplo, as pessoas satirizam os portugueses por preconceito, na França são os belgas os ridicularizados. Proposta de Questão para Avaliação Peça aos alunos que escrevam um texto explicando o que é o determinismo bioló- gico e o determinismo geográfico e quais os problemas de cada uma dessas posturas. SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 3 COMO O HOMEM SE TORNOU HOMEM? Nesta Situação de Aprendizagem, serão dis- cutidas a ideia de cultura, as características das culturas e a relação entre os homens, o instinto e a cultura. Tempo previsto: 3 aulas. Conteúdos e temas: ideia de cultura, separação entre instinto e cultura, características da cultura. Competências e habilidades: compreender a ideia de cultura de um ponto de vista antropológico; distin- guir instinto de cultura; reconhecer o papel da cultura e do instinto na vida dos homens; compreender que a humanidade só existe na diferença; identificar as características da cultura; conteúdos simbóli- cos da vida humana; desenvolver o espírito crítico dos alunos e sua capacidade de observação da socie- dade; desenvolver habilidades de leitura, produção de textos contínuos e expressão oral. Estratégias: aula dialogada. Recursos: discussão com a sala e textos para leitura. Avaliação: questões. 26 Sondagem e sensibilização Como forma de sensibilização para a discus- são sobre as características culturais e o papel da cultura na vida do homem, você pode pedir para um aluno ler em voz alta o texto seguinte: Sociologia - 1a série - Volume 3 “O cidadão norte-americano desperta num leito construído segundo padrão originário do Oriente Próximo, mas modificado na Europa Setentrional, antes de ser transmitido à América. Sai debaixo de cobertas feitas de algodão, cuja planta se tornou doméstica na Índia; ou de linho ou de lã de car- neiro, um e outro domesticados no Oriente Próximo; ou de seda, cujo emprego foi descoberto na China. Todos esses materiais foram fiados e tecidos por processos inventados no Oriente Próximo. Ao levantar da cama faz uso dos ‘mocassins’ que foram inventados pelos índios das florestas do Leste dos Estados Unidos e entra no quarto de banho cujos aparelhos são uma mistura de invenções europeias e norte-americanas, umas e outras recentes. Tira o pijama, que é vestuário inventado na Índia, e lava-se com sabão que foi inventado pelos antigos gauleses, faz a barba que é um rito maso- quístico que parece provir dos sumerianos ou do antigo Egito. Voltando ao quarto, o cidadão toma as roupas que estão sobre uma cadeira do tipo europeu meri- dional e veste-se. As peças de seu vestuário têm a forma das vestes de pele originais dos nômades das estepes asiáticas; seus sapatos são feitos de peles curtidas por um processo inventado no antigo Egito e cortadas segundo um padrão proveniente das civilizações clássicas do Mediterrâneo; a tira de pano de cores vivas que amarra ao pescoço é sobrevivência dos xales usados aos ombros pelos croatas do século XVII. Antes de ir tomar o seu breakfast, ele olha a rua através da vidraça feita de vidro inventado no Egito; e, se estiver chovendo, calça galochas de borracha descoberta pelos índios da América Central e toma um guarda-chuva inventado no sudoeste da Ásia. Seu chapéu é feito de fel- tro, material inventado nas estepes asiáticas. De caminho para o breakfast, para para comprar um jornal, pagando-o com moedas, invenção da Líbia antiga. No restaurante, toda uma série de elementos tomados de empréstimo o espera. O prato é feito de uma espécie de cerâmica inventada na China. A faca é de aço, liga feita pela primeira vez na Índia do Sul; o garfo é inventado na Itália medieval; a colher vem de um original romano. Começa o seu breakfast, com uma laranja vinda do Mediterrâneo Oriental, melão da Pérsia, ou talvez uma fatia de melancia africana. Toma café, planta abissínia, com nata e açúcar. A domestica- ção do gado bovino e a ideia de aproveitar o seu leite são originárias do Oriente Próximo, ao passo que o açúcar foi feito pela primeira vez na Índia. Depois das frutas e do café vêm waffles, os quais são bolinhos fabricados segundo uma técnica escandinava, empregando como matéria-prima o trigo, que se tornou planta doméstica na Ásia Menor. Rega-se com xarope de maple inventado pelos índios das florestas do leste dos Estados Unidos. Como prato adicional talvez coma o ovo de alguma espé- cie de ave domesticada na Indochina ou delgadas fatias de carne de um animal domesticado na Ásia Oriental, salgada e defumada por um processo desenvolvido no norte da Europa. Acabando de comer, nosso amigo se recosta para fumar, hábito implantado pelos índios americanos e que consome uma planta originária do Brasil; fuma cachimbo, que procede dos índios da Virgínia, ou cigarro, proveniente do México. Se for fumante valente, pode ser que fume mesmo um charuto, trans- mitido à América do Norte pelas Antilhas, por intermédio da Espanha. Enquanto fuma, lê notícias do dia, impressas em caracteres inventados pelos antigos semitas, em material inventado na China e por um processo inventado na Alemanha. Ao inteirar-se das narrativas dos problemas estrangeiros, se for bom cidadão conservador, agradecerá a uma divindade hebraica, numa língua indo-europeia, o fato de ser cem por cento americano”. LINTON, Ralph. O homem: uma introdução à antropologia. 12. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 313-314. Pergunte aos alunos qual mensagem eles acham que o texto procura passar e peça pa- ra escreverem a resposta em seus Cadernos. O texto nos mostra que aquele homem que se considera cem por cento americano na ver- dade é fruto de muitos cruzamentos culturais. 27 Ou seja, se é verdade que o homem é fruto de uma cultura e que as culturas diferem entre si, também é fato que as culturas não são fe- chadas. Os seus gestos e hábitos são os de um norte-americano, mas como não há cultura que exista sem ter contato com outras, esses gestos, hábitos e costumes resultam de cruza- mentos e contatos muitas vezes longínquos. Por isso é possível dizer que o ser humano é fruto de uma herança cultural, pois mesmo os gestos mais típicos de uma determinada cul- tura originam-se de ligações, cruzamentos e contatos dos quais muitas vezes não temos consciência por serem distantes no tempo. muito cuidado ao usar um termo ou um conceito. E o termo “cultura” é muito difí- cil de ser definido. Muitas são as definições de cultura. No volume 2 os alunos já compreende- ram que parte essencial do desenvolvimento humano é o nosso processo de inserção nos grupos sociais,ou seja, a socialização. E que o homem, para existir, precisa estar em contato com outros homens. Logo, o homem é um ser social como o são diversos outros animais que também precisam viver em sociedade para sobreviver, como os elefantes, as gira- fas, os lobos e tantos outros. As culturas estão constantemente se comu- nicando, estabelecendo trocas. Umas influen- ciam mais do que são influenciadas, mas não há nenhuma que exista fechada em si, por mais que ela tente. Este texto nos mostra que a ideia de cultura como algo fechado no tem- po e no espaço e que não se modifica é, no mínimo, ingênua. Apesar de podermos falar em uma cultura brasileira, francesa ou tailandesa, e de hábitos e costumes partilhados por um povo, deve-se ter em mente que isso é fruto de um longo pro- cesso histórico e que, portanto, se altera com o passar do tempo de acordo com as trocas culturais que são estabelecidas. Mas o que é cultura? Quais são as características de todas as culturas? Como elas nasceram? Até onde existe o instinto? Estas são algumas das ques- tões que serão respondidas por esta Situação Mas há algo que distingue o homem dos outros animais, e este algo é o fato de que, diferentemente dos animais, o homem é um ser cultural. Ou seja, assim como muitos ou- tros animais, o homem também precisa viver em sociedade para sobreviver. Contudo, não é viver em grupo ou passar pelo processo de socialização que nos diferencia dos outros animais, e sim, o fato de que somos seres cul- turais, e eles, não. Mas o que é um ser cultural? Por que isso distingue o homem dos outros animais? Para tanto deveremos analisar o significa- do de cultura e por que ela é o elemento que nos distingue dos outros animais. de Aprendizagem. É muito difícil aceitar que aquilo que nós 28 Etapa 1 − A palavra cultura e a ideia de cultura Os alunos já perceberam que uma carac- terística do senso comum é a imprecisão terminológica, ou seja, a falta de uma preo- cupação em definir bem o que uma palavra quer dizer. Mas em ciência deve-se tomar aprendemos não é natural, uma vez que o in- ternalizamos de tal forma que se torna quase uma segunda natureza para nós. Mas, para re- fletir sociologicamente, é necessário ter cons- ciência de que “quase nada é natural no ser humano”. Já vimos que, para pensar sociolo- gicamente, é preciso ter consciência do caráter social, histórico e cultural de nossas maneiras de agir, pensar e sentir. Sociologia - 1a série - Volume 3 Ou seja, o que todos os seres humanos têm em comum é a sua capacidade de se diferenciar uns dos outros. O que há de natural no homem é a sua aptidão para a variação cultural, a diversidade, a escolha de múltiplos caminhos. Comecemos esta discussão pelos muitos significados que o termo cultura pode ter. Per- gunte para a sala: O que o termo cultura pode significar para nós? Solicite aos alunos que escrevam em seus Cadernos o que eles acham que o termo cultu- ra pode significar. Depois, você pode pedir que escrevam alguns dos sentidos desse termo. a) Cultura pode significar um conhecimento diferenciado: no senso comum muitas vezes associamos o termo cultura a uma série de conhecimentos que diferenciam as pessoas. E por isso é comum dizer “fulano tem cul- tura, ele leu muitos livros” ou “aquela é uma pessoa que não tem cultura, pois não sabe nada”, “fulano é culto”. Nesse sentido cultura tem a ver com uma espécie de saber que algumas pessoas adquirem, e outras, não. Essa forma de entender a cultura está ligada à raiz da palavra cultura. Cultura é uma palavra que vem do latim, “cultura”, e que significava cuidado com o campo até o século XIII. Depois ela não significa mais um estado da coisa cultivada, mas a ação de cultivar a terra. Já no século XVIII ela passa a designar o cuidado de trabalhar algo. Logo, cultura seria tudo aquilo que as pessoas cultivam (CUCHE, 2002, p.19). É por isso que se pode falar em uma cultura de fungos, ou cultivo de fungos. O significado do termo pode variar de uma língua para outra. b) Cultura pode ser compreendida como o cultivo de algo: essa outra concepção do termo cultura se liga ainda mais à sua raiz. É usada em agricultura quando se quer falar a respeito de uma planta- ção. Para se ter uma plantação de algo é necessário fazer o cultivo de determi- nada espécie. c) Cultura pode ser entendida como as mani- festações artísticas de um povo, como quando se usa o termo cultura nas expres- sões: “teatro é cultura, cinema é cultura”. d) Cultura também pode ser entendida como os hábitos e costumes de um povo: seria aquilo que as pessoas aprendem como membros de uma sociedade. Ou seja, as pessoas dizem, por exemplo, “os alemães comem salsicha, pois isso é uma caracterís- tica de sua cultura”. Apesar dos múltiplos significados do termo e das inúmeras variações, pode- mos dizer, genericamente, que cultura, tanto para a Antropologia como para a Sociologia, significa tudo aquilo que o homem vivencia, realiza e transmite por meio da linguagem. Ou seja, a cultura está relacionada com os conteúdos simbóli- cos da vida. Ou, como alguns diriam, com os mecanismos de controle dos indivíduos em sociedade, isto é, sistemas de símbolos entrelaçados e interligados entre si que for- necem para os indivíduos um modo de pen- sar, de agir e sentir. Logo, o comportamento humano é re- gido por meio desses símbolos que são passados de geração para geração e que também se modificam. Não há ser humano cujo comportamento não seja regido por meio de símbolos. 29 30 Mas e os animais? Os animais não são tam- bém regidos por símbolos? Na natureza, o vermelho e o preto muitas vezes não são sinô- nimos de perigo? Os animais não transmitem mensagens para os outros animais? Não e sim. Comece pelo não. Os animais não são regidos por meio de símbolos, o que não quer dizer que não possam transmitir mensagens. Sim, eles podem transmitir mensagens. Mas essas mensagens são sempre as mesmas para a espécie, por isso são sinais. Já entre os ho- mens, as mensagens variam de grupo para grupo, pois são compostas de símbolos socialmente estabelecidos que variam de so- ciedade para sociedade. O comportamento dos animais é regi- do predominantemente por meio de sinais, enquanto o do homem é regido predominan- temente por meio de símbolos. Isso ocorre porque os sinais são organicamente programa- dos, geneticamente transmissíveis e intransfor- máveis (RODRIGUES, 2003, p. 25-26). Comece explicando por que o sinal é orga- nicamente programado. Isso ocorre porque faz parte da constituição biológica desses animais se comunicarem da forma como se comunicam. A maioria dos animais, mesmo quando tirados do seu meio, desenvolve as características da espécie, ou seja, age como um membro criado pelo grupo, mesmo que tenham sido separados ao nascer. Já os nossos símbolos são socialmen- te programados. Um homem separado de seus pais ao nascer não agirá como eles, mas, sim, como membro do grupo que o criou. Daí decorre o fato de que o comportamen- to dos animais é geneticamente transmissível. Afinal, a maioria deles vai se comportar sempre da mesma forma, não interessa em qual gru- po seja criado. Assim, todos os tigres
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