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Didática Pedagogia III Paulistana PI

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Prévia do material em texto

Curso de Extensão na Área da 
Pedagogia 
 
Didática 
 
 
Professor (a):___________________________________ 
 
NÚCLEO DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL 
Av. Senador Helvídio Nunes, 2986, Junco – Picos/PI 
Fixo: (89) 3422-8091 / Vivo: (89) 8113-5768 
ideal.secretaria@hotmail.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIDÁTICA 
 
Vera Bahiense Elisabeth 
Feitosa da Silva Adriana Andrade 
Bahiense 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Em seu sentido amplo, a Didática é compreendida como a técnica de ensinar. A 
maneira de preparar professores a estarem aptos a desenvolver as suas aulas. No entanto, 
no decorrer desta apostila, veremos que a Didática vai muito além. 
 
Dessa forma, é preciso que ela seja compreendida desde o contexto histórico em que 
surgiu, até a contemporaneidade, observada em seus diversos aspectos, especialmente no 
que diz respeito à forma de organização dos saberes escolares. 
 
Para um bom educador, o conhecimento em Didática é indispensável para que ele possa 
desenvolver com segurança e competência a sua prática pedagógica, sobretudo de uma maneira 
crítica-reflexiva, formando cidadãos conscientes, críticos e principalmente atuantes na sociedade. 
 
 
 
OBJETIVOS 
 
 
 
 
Objetivo geral 
 
Desenvolver conhecimentos que possibilitem a formação de educadores 
competentes e dinâmicos capazes de construírem uma prática crítica-reflexiva. 
 
 
 
Objetivos específicos 
 
- Buscar uma conceituação de Didática; 
 
- Compreender a Didática por meio de sua história; 
 
- Identificar o objeto de estudo da Didática; 
 
- Levantar as contribuições da Didática na formação do professor. 
 
 
 
QUESTÕES NORTEADORAS 
 
 
 
O que é Didática afinal? Como ocorre a organização dos saberes escolares? De que 
maneira a relação entre professor e aluno interfere no processo de aprendizagem? 
DIDÁTICA 7 
 
 
 
1. Conceituando Didática 
 
 
 
 
Antes de partirmos para uma conceituação de Didática, vamos refletir sobre o que 
sabemos a seu respeito. Para tanto, faça a leitura dos textos do professor Iran Abreu Mendes 
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 
O primeiro deles é uma conversa fictícia entre dois alunos do curso de graduação de 
História. Já o segundo, é entre um pesquisador e um aluno do Ensino Médio. 
 
Texto 1: 
 
Texto 2: 
 
Mendes, Iran Abreu. Didática.– Natal (RN) : EDUFRN – Editora da UFRN, 2006. 
 
 
 
Agora reflita sobre as questões a seguir: 
 
 
 
De acordo com o que pode ser notado no primeiro texto, e que provavelmente você 
também tenha observado, a palavra Didática está quase sempre relacionada a uma técnica 
de ensino. Dessa maneira, o bom professor acaba sendo reconhecido pela sua forma de dar 
aula, pela maneira que desenvolve a sua prática pedagógica. 
 
Por outro lado, existe também a ideia de que Didática está ligada a dom: enquanto 
algumas pessoas levam jeito para dar ótimas aulas, outras nem tanto. 
 
Buscar uma definição de Didática, uma conceituação objetiva não é uma tarefa 
simples. Afinal, cada um a concebe à sua maneira. Vejamos por exemplo, o que pensa 
Masetto a esse respeito: 
 
Didática para nós é uma reflexão sistemática sobre o processo de ensino-
aprendizagem que acontece na escola e na aula, buscando alternativas para 
os problemas da prática pedagógica(MASETTO, 1997, p. 13) 
 
 
Já Libâneo define a Didática como sendo 
 
[...] o principal ramo de estudos da Pedagogia. Ela investiga os fundamentos, 
condições e modos de realização da instrução e do ensino. A ela cabe 
converter objetivos sócio-políticos e pedagógicos em objetivos de ensino, 
selecionar conteúdos e métodos em função desses objetivos, estabelecer os 
vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das 
capacidades mentais dos alunos. (LIBÂNEO, 1994, p. 25-26). 
8 DIDÁTICA 
 
 
 
Piletti, outro grande contribuinte da educação brasileira define a Didática como sendo: 
 
[...] o ramo específico da pedagogia que tem como objetivo dirigir 
tecnicamente o ensino em direção à aprendizagem, ou seja, a didática é 
a parte da pedagogia que tem como objeto de estudo o ensino e sua 
relação com a aprendizagem. (PILETTI, 2010, p.55). 
 
 
 
 
 
 
Certamente que a concepção desses três autores sobre o termo Didática não representam um 
conceito formado sobre o termo, no entanto, nos ajudam a construir o nosso próprio entendimento do que 
vem a ser a Didática. Conhecimento esse que será construído no decorrer desta disciplina. 
 
Ainda que não sejam duas definições acabadas sobre o termo Didática, as citações 
anteriores deixam bem clara a ligação que há entre a Didática e a educação, sobretudo com 
a forma de ensinar. 
 
Ora, se a Didática se relaciona ao “como ensinar” ela também está ligada a outras 
ciências além da Pedagogia. Isso porque ensinar implica em aprender e ambos são processos 
de certa forma complexos. 
 
Assim, a Didática relaciona-se em parte com a psicologia, com a filosofia, a sociologia 
e a própria antropologia, como que formando sub-categorias relacionadas especificamente à 
educação como pode ser visto na Figura 1: 
DIDÁTICA 9 
 
 
 
Figura 1 – A Didática como disciplina integradora de diversos saberes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Diante da figura é possível dizer que a Didática acaba sendo uma disciplina integradora, 
que relaciona as demais ciências à Educação, ajudando a compô-la sob os mais diversos 
aspectos. No entanto, nem sempre a Didática foi compreendida dessa maneira. E acreditamos 
que para melhor compreendê-la seja imprescindível conhecer a Didática por meio de sua 
perspectiva histórica, como surgiu e suas transformações ao longo da história. 
 
1.1 As origens da Didática 
 
Entendemos aqui que para que se possa construir um significativo aprendizado sobre 
algo, é importante conhecê-lo bem. Diante disso, faremos agora uma viagem ao passado com o 
objetivo de compreender melhor a Didática, de seu surgimento à contemporaneidade. 
 
E quando se fala em compreender algo por meio de sua história, Cambi nos diz o seguinte: 
 
 
 
[...] a história é um organismo: o que está antes condiciona o que vem depois; 
assim, a partir do presente, da Contemporaneidade e suas características, seus 
problemas, deve-se remontar para trás, bem para trás, até o limiar da 
civilização e reconstruir o caminho complexo, não-linear, articulado, colhendo, 
ao mesmo tempo, seu processo e seu sentido. O processo feito de rupturas e 
de desvios, de inversões e de bloqueios, de possibilidades não-maturadas e 
expectativas não-realizadas; o sentido referente ao ponto de vista de quem 
observa e, portanto, ligado à interpretação: nunca dado pelos 
“fatos”, mas sempre construído nos e por meio dos “fatos”, precário sub 
judice(CAMBI, 1999, p. 37). 
10 DIDÁTICA 
 
 
 
Bem, sabe-se que o ensinar e o aprender fazem parte da sociedade desde os seus primeiros 
tempos, sempre ligados à sua religião, suas tradições e, certamente, às suas necessidades. 
 
No entanto, a Didática em si, como um ensinar intencional remonta o século XVII, ainda que já 
na Antiguidade mais especificamente na Grécia Antiga, o termo Didática já era conhecido e relacionado 
à educação, como procedimentos relacionados ao ensino e aprendizagem do aluno. 
 
Num primeiro momento, ainda na Antiguidade, a Didática ficou conhecida como difusa, 
isso porque o ensino se dava de forma intuitiva. 
 
Somente no século XVII é que a Didática surge como um campo de estudos, uma 
ciência propriamente dita, como afirma Libâneo:Na chamada Antiguidade Clássica (gregos e romanos) e no período medieval, 
também se desenvolvem formas de ação pedagógica, em escolas, mosteiros, 
igrejas, universidades. Entretanto, até meados do século XVII não podemos 
falar de Didática como teoria do ensino, que sistematize o pensamento didático 
e o estudo científico das formas de ensinar. (LIBÃNEO, op.cit., p. 57). 
 
 
 
No que diz respeito ao surgimento da Didática como o que pode ser chamado de um 
campo de estudos, Castro (2011, p. 2) afirma que: 
 
 
 
A inauguração de um campo de estudos com esse nome tem uma 
característica que vai ser reencontrada na vida histórica da Didática: surge de 
uma crise e constitui um marco revolucionário e doutrinário no campo da 
Educação. Da nova disciplina, esperam-se reformas da Humanidade, já que 
deveria orientar educadores e destes, por sua vez, dependeria a formação das 
novas gerações. Justificam- se, assim, as muitas esperanças nela depositadas, 
acompanhadas, infelizmente, de outras tantas frustrações. 
 
 
 
É possível dizer que a busca por uma delimitação do termo Didática nada mais foi do que uma 
tentativa de se unir todos os conhecimentos relacionados à educação, à pedagogia, visando 
proporcionar a formação de professores e até mesmo de novas técnicas e métodos de ensino. 
 
Já se mencionou aqui que a Didática como um campo de estudo e conhecimento passa 
a ser reconhecida somente no Século XVII. Trata-se de uma época bastante marcante da 
história da sociedade, marcada por muitas transformações nos mais diversos campos: social, 
político, econômico, filosófico, religioso, entre outros. 
 
O mercantilismo continuava impulsionando a expansão marítima europeia; motivados 
pela busca de novas riquezas e interessados nos lucros obtidos com o comércio. 
DIDÁTICA 11 
 
 
 
No campo político, estavam em pleno processo de formação os Estados Nacionais e a 
Reforma Protestante e as descobertas da ciência contribuíam ainda mais para fazer dessa 
uma época de grandes transformações. 
 
E nesse contexto de mudanças tão significativas, a Didática surge pelas mãos de dois 
educadores que fizeram história: Ratíquio e Comênio. 
 
João Amós Comenius (1592-1670) escreveu a primeira obra clássica sobre Didática: a 
Didática Magna, publicada em 1657. 
 
 
De acordo com Martins e Mendes (2006, p.9): 
 
 
 
Comenius era um “homem do século XVII”, sintonizado parcialmente com os ideais 
da Modernidade que estavam por surgir. Pastor protestante, natural da Boêmia 
(atual República Tcheca), considerava a educação como um caminho para a 
salvação, uma formação para a vida eterna. “Ser homem” era, para ele, conhecer 
as coisas do mundo, e não apenas uma pequena área do saber. Disso decorre a 
importância do processo educativo tanto para a criação da identidade individual 
quanto para a socialização do indivíduo. A educação teria como uma de suas 
finalidades a transformação do indivíduo e da sociedade. 
 
 
 
Dessa maneira, a sua obra Didática Magna reflete muito a maneira de pensar e agir de 
Comênio. Nesse livro, Comênio tinha a intenção - que pode se considerar de certa forma 
pretensiosa - de propor uma série de princípios e regras com as quais acreditava poder tornar 
qualquer um apto à “arte de ensinar tudo a todos”. 
 
Comênio é considerado um homem à frente do seu tempo, até mesmo por propor, 
através dessa tal teoria didática, a universalização do ensino, baseando-se no princípio da 
igualdade de todos perante a lei, que começava a despertar na Europa daquela época. 
 
A escola para ele era considerada um local específico e privilegiado para a educação, 
uma vez que ali havia o necessário para se efetivar a aprendizagem: um professor específico 
e preparado para ensinar. Em virtude disso, Comênio preocupou-se também com a 
organização do ensino, propondo o chamado planejamento do ensino e propondo graus de 
ensino de acordo com as dificuldades e desenvolvimento do indivíduo. 
 
Sua Didática Magna trata-se de uma obra bastante rica, pois mostra a realidade da educação 
daquela época e nos permite fazer uma série de reflexões sobre nosso trabalho hoje em dia. Ainda 
com relação à obra de Comênio (Martins e Mendes, 2006, p. 10) colocam ainda que, para ele 
12 DIDÁTICA 
 
 
 
 
 
[...] o conhecimento vem dos sentidos, é trabalhado pela razão e iluminado pela 
fé. Em função disso, considera que o conhecimento verdadeiro provém de uma 
“observação correta” das coisas. Daí que o seu método de ensino – que ele 
pretendia “claro e único” – fosse baseado na observação da natureza e dos 
fenômenos, no olhar das próprias coisas e não na consulta aos livros. É por 
meio dos sentidos que se estabelece o contato entre a natureza e a mente. 
Esta, por sua vez, não é uma “tábula rasa”, mas “moldável”. 
 
Vemos, assim, que a epistemologia subjacente à proposta comeniana apresenta 
uma forte ênfase empirista e sensorialista (nesse terreno, Comenius foi 
influenciado pelo pensamento de Francis Bacon e pela ideia de “indução”). 
 
 
 
 
 
Pautados então em novos ideais éticos e acima de tudo religiosos, Comênio acreditava ter 
encontrado um verdadeiro método para ensinar. Vale lembrar aqui que a instrução da população 
tinha grande significado para a Reforma Protestante, sobretudo para permitir a leitura e 
compreensão da Bíblia, dos sermões e assim disseminar ainda mais os seus ideais religiosos. 
 
Afinal, naquela época o Latim ainda era a língua predominante, e um dos desafios foi 
propor um ensino por meio da língua materna. Assim, os textos religiosos protestantes ficariam 
também mais acessíveis do que os católicos que eram apenas em Latim. 
 
Como se pode imaginar, a Didática nessa época acabou servindo como elemento 
contribuinte à Reforma Protestante, sobretudo por se opor claramente à forma de ensino comum 
a desenvolvida pela Igreja Católica, que visava apenas ao preparo para a vida eterna. 
 
 
Reforma Protestante: 
 
A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão iniciado no início do século XVI 
por Martinho Lutero, quando através da publicação de suas 95 teses, em 31 de outubro de 
1517 na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, protestou contra diversos pontos da 
doutrina da Igreja Católica, propondo uma reforma no catolicismo. Os princípios 
fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco solas. O resultado 
da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos 
romanos e os reformados ou protestantes, originando o Protestantismo. 
 
 
Indução: 
 
Francis Bacon (1561- 1626) procurou, no alvorecer da ciência moderna, estabelecer um 
método de investigação da natureza baseado na indução experimental. Para ele, deveria 
se partir da experimentação para se chegar às hipóteses que, testadas, levariam à 
formulação de leis e princípios gerais. Sinteticamente, o método baconiano iria da 
experiência para a racionalização, e do particular para o geral. 
DIDÁTICA 13 
 
 
 
No entanto, na Europa Ocidental, ainda de maioria católica por mais que se 
preservasse o seu modelo de educação, aos poucos iam surgindo pensadores dotados de 
novas ideias, os chamados ‘humanistas’, que passariam a contestar a maneira medieval de 
educar, partindo de uma visão mais centrada no homem. 
 
Somente no final do século XVIII é que se tem notícias de novas perspectivas com 
relação à Didática, o que pressupõe que as teorias de Comênio tenham perdurado com louvor 
até esse momento. 
 
Surge nesse contexto o Jean Jacques Rousseau como o segundo grande autor da 
Didática. Não que ele tenha reinventado a Didática, ou lhe atribuído um novo conceito, mas 
sim, propôs um novoconceito de infância. 
 
Rousseau foi um dos pensadores mais marcantes da história. No entanto, Rousseau 
conseguiu, em alguns pontos, chamar a atenção dos pensadores iluministas da época, por 
meio de contrapontos e apresentando uma nova visão de infância. 
 
Até então, a criança era vista como um adulto em miniatura. Mas Rousseau apresenta o 
contrário: de que a criança é um ser em evolução, que um dia se tornará adulto. Mas que sua 
infância é carregada de particularidades que em muitos pontos a diferencia do indivíduo adulto. 
 
Assim, Rousseau coloca que o ensino para as crianças não deve se desenvolver exatamente nos 
mesmos moldes que ocorre com os adultos. Dessa maneira, Rousseau coloca a aprendizagem como 
um procedimento natural, que ocorre, nesse caso, sem pressa e principalmente sem livros. 
 
Por meio dos escritos de Rousseau, essa nova concepção de infância foi sendo 
compreendida por outros educadores, como no caso de Pestalozzi, que acabou por incluir as 
dimensões sociais à educação, e principalmente à problemática do ensino. 
 
Dessa forma, a Didática passa a ser vista como um conjunto de processos 
metodológicos variados, e não apenas em regras. Com isso, a atenção foi aos poucos sendo 
voltada para o aluno, visando então o seu desenvolvimento num sentido mais amplo. 
 
Para Castro, 
 
 
 
A valorização da infância está carregada de consequências para a pesquisa e a ação 
pedagógica, mas estas vão ainda aguardar mais de um século para concretizar- se. 
Enquanto COMÊNIO, ao seguir as «pegadas da natureza», pensava em «domar as 
paixões das crianças», ROUSSEAU parte da ideia da bondade natural do homem, 
corrompido pela sociedade. É em sua obra O Contrato Social que discute a reforma da 
sociedade, tão necessária quanto à reforma da Educação: por essa vertente de seu 
pensamento é que participa da renovação ideológica que precedeu a Revolução 
Francesa.(CASTRO, 2011, p. 4). 
14 DIDÁTICA 
 
 
 
Por mais que muitas das ideias de Comênio sejam consideradas ultrapassadas, hoje 
em dia, não se pode deixar de mencionar que a maneira como relaciona o processo de ensino 
e aprendizagem com a psicologia foi bastante inovadora, fazendo com que sua obra seja até 
hoje objeto de estudo para muitos pesquisadores. 
 
Importante dizer que até mesmo aqui no Brasil a obra de Comênio foi bastante utilizada 
como um verdadeiro manual de ensino, ainda no início da República. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Jan Amos Komenský 
 
(28/03/1592 – 15/11/1670) 
 
 
 
Comênio foi um professor, cientista e escritor checo, considerado o fundador da 
Didática Moderna. 
 
Propôs um sistema articulado de ensino, reconhecendo o igual direito de todos os 
homens ao saber. O maior educador e pedagogo do século XVII produziu obra fecunda e 
sistemática, cujo principal livro é a DIDÁTICA MAGNA. São suas propostas: 
 
- A educação realista e permanente; 
 
- Método pedagógico rápido, econômico e sem fadiga; 
 
- Ensinamento a partir de experiências quotidianas; 
 
- Conhecimento de todas as ciências e de todas as artes; 
 
- Ensino unificado. 
DIDÁTICA 15 
 
 
 
 
 
 
Leitura Complementar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na internet... 
 
Leia o texto: 
 
Didática 
 
Disponível em: http://www.infoescola.com/pedagogia/didatica/ 
 
 
 
 
Dica de vídeo! 
 
1. Didática Geral: A Identificação da Didática 02/05/11 
 
 
 
 
Qual a história desse campo de conhecimento chamado Didática? Quais são suas 
intenções? O programa tenta responder estas questões buscando algumas respostas em 
Comenius e Rousseau, apontados como precursores da disciplina. Quem conduz o assunto 
são os especialistas Cesar Aparecido Nunes, da Faculdade de Educação da Unicamp e Selma 
Garrido, da Faculdade de Educação da USP. 
 
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=pDMjytkuJJw&feature=relmfu 
16 DIDÁTICA 
 
 
 
 
 
Atividades 
 
1 - Quem foi Comênio? Com suas palavras, descreva a maneira de pensar e agir de Comênio. 
 
____________________________________________________________________________ 
____________________________________________________________________________ 
____________________________________________________________________________ 
____________________________________________________________________________ 
____________________________________________________________________________ 
DIDÁTICA 1 7 
 
 
 
 
 
2 - Compreendendo o objeto de estudo da Didática 
 
 
 
É chegado o momento de buscarmos uma melhor e maior compreensão do verdadeiro 
objeto de estudo da Didática. Isso é importante, pois sem sua compreensão ficará difícil 
desenvolver qualquer outro estudo ou prática a ela relacionado. 
 
No entanto, a compreensão do objeto de estudo da Didática está diretamente ligado a uma 
concepção de ensino e aprendizagem que seja capaz de articular as diversas perspectivas (humana, 
política, social e técnica) capazes não somente de valorizar, mas principalmente de integrar o saber, 
o ser e o fazer docentes, sempre buscando novos modos de se pensar, ensinar e aprender. 
 
Assim, a Didática se apresenta como um enorme desafio: como superar a dimensão técnica 
do ensinar e do aprender, compreendendo o aluno com um ser em constante evolução? 
 
Sabe-se que o aluno não aprende somente na sala de aula, nem tão pouco somente com 
a ajuda de um professor. O ensino da sala de aula é o chamado ensino formal, mas como aliar o 
conhecimento formal ao conhecimento de mundo? E como não valorizar o ensino que ocorre de 
maneira informal, sem planejamento prévio? Como lidar com tudo isso? 
18 DIDÁTICA 
 
 
 
 
 
Figura 2 – Diferentes formas de ensino 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Marcia L. Conner (2004) 
 
Refletir sobre todas essas questões nos leva a buscar soluções, adequação a essa realidade 
que está cada vez mais presente, uma vez que as informações estão cada vez mais acessíveis às 
pessoas, sobretudo graças ao avanço das tecnologias de informação e comunicação. 
 
Adequar-se a essa nova realidade requer primeiramente uma mudança na forma de pensar e 
de agir do professor hoje em dia. Paulo Freire foi um dos educadores mais importantes da história 
desse país justamente por nos mostrar que o ensinar é uma forma de intervenção na sociedade. 
 
Assim, de acordo com o saudoso mestre Paulo Freire, o ato de ensinar vai muito mais 
além do que a simples transmissão de conteúdos. Vejamos o que ele disse a esse respeito: 
 
 
 
Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não poder ser 
neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de decisão. (...) 
Assim, não posso ser professor sem me achar capacitado para ensinar certo e bem 
os conteúdos de minha disciplina; não o posso por outro lado reduzir minha prática 
docente ao puro ensino daqueles conteúdos. (FREIRE, 1997, p. 40). 
 
Mas e a Didática? 
 
Como já dissemos, hoje em dia ensinar é uma tarefa de certa forma complicada graças a 
facilidade que as pessoas tem em acessar as mais diferentes informações. Diante disso, a Didática 
acaba exigindo uma maior articulação, buscando cada vez mais dinâmica em seu trabalho que envolve 
ação-reflexão-ação. Além disso, torna-se indispensável propor uma verdadeira contextualização para 
a educação. Tudo precisa de um sentido para ser compreendido. 
 
De acordo com Morin (2003, p. 107): 
DIDÁTICA 19 
 
 
 
 
 
A missão da educação consiste em reforçar as condições que tornarão possíveis 
emergências de uma sociedade-mundo composta por cidadãos protagonistas, 
envolvidos de forma conscientee crítica na construção de uma civilização planetária. 
 
 
 
E que desafio é mesmo? Formar cidadãos ativos e conscientes de seu papel na 
sociedade, na busca de uma civilização planetária. E isso é possível pelas mãos da educação! 
 
 
 
Gilberto Dimestein, outro estudioso da educação, alerta sobre uma prática que tem 
sido recorrente nas salas de aula hoje em dia: 
 
 
 
Acho importante dizer que os professores estão cada vez mais incomodados. (...) 
Eles estão preocupados com a indisciplina dos alunos. Não da indisciplina do aluno 
que faz ‘zona’ (...). Mas sim, daquele aluno que não está ouvindo o discurso do 
professor, daí a necessidade de uma escola que busque sentido e significados na 
sua prática educativa. (ALVES E DIMENSTEIN, 2003, p. 99). 
 
 
 
 
Mais uma vez caímos na contextualização. Na busca de sentido e significado. Afinal, 
como despertar o interesse do aluno para uma coisa que sequer ele conhece ou que sabe 
que não será primordial em sua futura profissão? Aquilo que lhe interessa saber está 
acessível. A informação está por todos os lados, seduzindo... 
 
E justamente por isso podemos dizer que a menor parte da aprendizagem é a que 
acontece em sala de aula, a que ocorre de maneira formalizada. 
20 DIDÁTICA 
 
 
 
Figura 3 – Formas de aprendizagem 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Marcia L. Conner (2004) 
 
O professor precisa aprender a lidar com as diversas formas de aprendizado dos alunos 
e principalmente aprender a valorizar o conhecimento que eles constroem dia a dia com suas 
experiências fora da escola. 
 
Não cabe mais o desenvolvimento de uma prática educativa conteudista, mas sim de 
uma prática capaz de motivar, induzir o aluno a construir cada vez mais conhecimento e não 
só dentro da escola. 
 
O professor precisa aprender a aprender com os seus alunos e quando se perceber 
aprendendo, vai se sentir de fato dentro da dinâmica do ensino. 
 
 
 
É importante entender que a escola e o professor têm que trabalhar com as 
possibilidades, os limites e a curiosidade dos alunos, além de fazer a ligação 
entre o mundo, os significados e os sentidos desse mundo para o aluno. Para 
isso o professor precisa se tornar um aprendiz, esquecer o aprendido e ir à 
busca de novos saberes. (FONSECA & FONSECA, 2007, p. 24). 
 
 
 
 
Mas será que todo professor compreende que também é um aprendiz? Que não existe nenhum 
conhecimento pronto e acabado e que somos seres em constante processo de aprendizado? 
 
Vamos refletir sobre um pequeno texto: 
DIDÁTICA 21 
 
 
 
 
 
No Curso de Medicina, o professor se dirige ao 
aluno e pergunta: 
-Quantos rins nós temos? -
Quatro! - Responde o aluno. 
-Quatro? - Replica o professor, arrogante, daqueles que 
sentem prazer em tripudiar sobre os erros dos alunos. 
 
-Traga um feixe de capim, pois temos um asno na sala. - 
ordena o professor a seu auxiliar. 
-E para mim um cafezinho! - Replicou o aluno ao auxiliar 
do mestre. 
O professor ficou irado e expulsou o aluno da sala. 
 
O aluno era, entretanto, o humorista Aparício Torelly Aporelly 
(1895-1971), mais conhecido como o ‘Barão de Itararé’. 
 
Ao sair da sala, o aluno ainda teve a audácia de 
corrigir o furioso mestre: 
 
- O senhor me perguntou quantos rins ‘nós temos’. ‘Nós’ 
temos quatro: dois meus e dois seus. ‘Nós’ é uma 
expressão usada para o plural. 
 
Tenha um bom apetite e delicie-se com o capim 
A vida exige muito mais compreensão do que conhecimento! 
 
 
 
 
E tornar-se um professor preocupado em aprender não é tarefa fácil, uma vez que a 
sociedade ainda teima em conceber o professor como aquele que detém o conhecimento e 
apenas o repassa aos seus alunos. 
 
O objeto de ensino da Didática pode ser compreendido então como a forma que o professor 
lida tanto com o conteúdo, como com os alunos, de maneira a propiciar um aprendizado cada vez 
maior, não se esquecendo, porém, de valorizar o conhecimento discente e que ele, ainda que na 
condição de professor, também é um ser em processo de aprendizado. 
 
Dica de vídeo! 
 
1. Os sete saberes necessários para a educação do futuro – Edgar Morin. 22/06/10 
 
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=ymiRbV2qXv8&feature=related 
22 DIDÁTICA 
 
 
 
2.1 Didática: processo e produto 
 
 
 
 
Vamos usar fragmentos do texto dos autores Sônia Maria Henrique Fonseca e João 
José Saraiva da Fonseca (2007) para compreendermos um pouco mais a Didática. 
 
Quais os níveis de responsabilidade do professor na consecução da sua proposta didática? 
 
Vamos iniciar o tema propondo uma reflexão sobre a responsabilidade política do educador e 
os reflexos dessa responsabilidade na consecução da sua proposta didática, a partir do conto: 
 
“O grande magistrado Péricles”: 
 
“O grande magistrado grego, Péricles, cuja personalidade dignificou todo o século V a.C., 
que se conhece precisamente como Século de Péricles, entendeu cabalmente a missão do mestre 
como forjador da personalidade e da consciência dos povos. Em certa ocasião, Péricles mandou 
reunir todos os gênios e artistas que tinham contribuído para engrandecer Atenas. 
 
Foram chegando os arquitetos, engenheiros, escultores, os guerreiros que defenderam a 
cidade, os filósofos que propuseram novos sentidos para a vida... Todos estavam ali: do severo 
matemático que apreciava, no número, o sentido helênico da exatidão e da harmonia, ao 
astrônomo que perscrutava o universo para contemplar e estudar a harmonia das estrelas. 
 
Mas Péricles percebeu uma ausência notável: faltavam os pedagogos, homens muito 
modestos que se encarregavam de conduzir as crianças pelo caminho de sua aprendizagem. 
 
- Onde estão os pedagogos? – perguntou Péricles. 
 
– Não vejo em lugar algum. Vão buscá-los. 
 
- Quando por fim chegaram os pedagogos. 
 
Péricles falou: 
 
- Aqui se encontravam aqueles que, com seu esforço e perícia, transformam, 
embelezam e protegem a cidade. Mas faltavam vocês, que têm a missão mais importante e 
elevada de todas: a de transformar e embelezar a alma dos atenienses. 
DIDÁTICA 3 
 
 
Agora vamos refletir 
 
 
 
 
Em que momento durante a leitura do conto, você percebeu o valor social da didática 
enquanto processo na formação do cidadão? 
Vamos conversar sobre a relação entre o produto e o processo em 
educação! Por que a dicotomia entre produto e processo em educação? 
Mas antes, vamos saber quem foi Péricles? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Wikipédia 
 
Péricles (495 a.C. - Atenas 429 a.C.) foi um dos principais líderes democráticos de 
Atenas, e talvez o mais célebre. Consagrou-se como a maior personalidade política do século 
V a.C. durante a Era de Ouro de Atenas. Eleito e reeleito várias vezes como estratego-chefe, 
ele acumulou a chefia civil e a liderança militar da cidade, fazendo com que Atenas alcançasse 
a maior projeção política, econômica e cultural em toda a sua história. 
 
_ . _ . _ . _ . _ . _ . _ . _ . _ 
 
Uma professora ao final do primeiro dia de aula do ano letivo fez o seguinte comentário: 
“Para o senhor ver, professor, hoje temos aqui na sala de aula trinta e três estudantes, desses, 
somente dezesseis serão aprovados no final do ano”. (PARO, 2002, p. 24). 
 
O discurso da professora é de quem “investe no processo” ou de quem “espera resultados?”. A 
educação tradicional esqueceu os conhecimentos e habilidades que os estudantes deviam 
efetivamente adquirir, focalizada que estava nos resultados da aprendizagem ao final de um 
determinado período de tempo letivo. Apesar da necessária atençãoà produção de resultados 
significativos em termos de desempenho dos alunos em face do que é ensinado e do que deve ser 
aprendido, necessitamos também de estar atentos aos processos, para que sejam coerentes com o 
nível dos resultados desejados, e ao produto como parâmetro para o dimensionamento e controle 
 
de nossos processos de atuação. 
24 DIDÁTICA 
 
 
 
Na educação tradicional o aluno quando não conseguia reproduzir o comportamento 
desejado é punido como forma de estímulo para a mudança. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Um bom resultado será função de um processo adequado, e processos adequados 
produzem resultados eficazes. Os resultados não aparecem do nada; eles são construídos 
como um investimento no processo. (LUCKESI, 2005). 
 
O que é mesmo investir no processo e não no produto? 
 
O processo corresponde a um conjunto de procedimentos que adotamos para a 
obtenção do melhor resultado. 
 
Produto significa o resultado final ao qual chegamos. (LUCKESI, 2005). Investindo no produto, 
estará a escola encarando a realidade da educação como processo de conscientização e libertação? 
 
A história contada por Paulo Freire (1992) poderá contribuir para a sua resposta: 
DIDÁTICA 5 
 
 
 
Uma das estórias que eles me repetiram, rindo, com um gosto 
quase de criança, mas críticos da ideologia que a empapava, falava da 
vida simples e feliz de uma família de suínos. O casal e os três filhos. 
 
O mais novo, curioso, nada rotineiro, provava tudo e se achava 
sempre à procura de algo novo, diferente. 
 
Nunca, porém, era exitoso. Seus irmãos mais velhos seguiam 
à risca as determinações estabelecidas e tudo lhes corria bem. Num 
certo domingo de outono, de céu aberto e azul, o filhote resolveu 
escapar do sítio em que vivia a família para dar vazão à sua 
curiosidade. Nada deu certo. 
 
Assim que ultrapassou o primeiro espaço proibido, foi atacado 
por um cachorro. Mordido, conseguiu salvar-se por um triz. Mais 
adiante, curioso novamente, “cutucou o cão com vara curta” e o cão 
era um enxame de abelhas. O pobre quase se acaba com as picadas 
horríveis das abelhas endiabradas e ferozes. De insucesso a 
insucesso, volta a casa à noitinha, cabisbaixo, metido dentro dele 
mesmo. Coragem nenhuma de sequer pensar em nova aventura. 
 
Sisudo, mas com ar bondoso de pedagogo manso, o pai o esperava e, 
sábio, lhe diz: “Eu sabia que você faria isso um dia. Era preciso que você fizesse 
para aprender que não temos de sair dos trilhos que já encontramos para 
caminhar. Qualquer tentativa de mudar nos expõe a riscos e a dores que nos 
custam muito, como deve ter ocorrido a você hoje”. 
 
Silencioso, arrependido, cheio de culpa, o porquinho escutava 
o discurso “sensato” e bem comportado de seu pai. 
 
(FREIRE, 1992). 
26 DIDÁTICA 
 
 
 
Ao contrário do relatado na história, a educação deve constituir um processo de 
libertação que possibilite o conhecimento crítico da realidade e a transformação da mesma, 
rumo à concretização de um novo modelo da sociedade. 
 
A educação decorre do fato de as pessoas serem incompletas e procurarem a vida toda 
modificar-se na busca de se completarem, ajudando simultaneamente os outros no mesmo 
objetivo, num processo de conscientização mediada pelo diálogo que possibilita a posse do 
conhecimento. (SCOCUGLIA, 1999). 
 
O conhecimento é social e resulta do agir no mundo. (BARRETO, 1998). Sendo assim 
ninguém é vazio de conhecimento. (GADOTTI, 1995). 
 
O conhecimento se produz questionando a razão de ser da realidade. (FREIRE, 2000). A 
educação aberta e democrática visa promover a libertação do homem a partir da problematização da 
realidade concreta do educando, estimulando o gosto da pergunta, a paixão do saber, da curiosidade, 
a alegria de criar e o prazer do risco, sem o que não há criação. (FREIRE, 1992). 
 
Na dinâmica de trabalhar a educação como processo, como encarar a “contradição 
educador x educando”. 
 
_ . _ . _ . _ . _ . _ . _ . _ . _ 
 
“Logo após a Revolução Russa, em 1917, Vygotsky visitou as zonas rurais e fazendas 
coletivas, verificando diferenças entre as comunidades que tinham passado por um processo 
de alfabetização e aquelas que não tinham experiências educacionais. 
 
Ficou impressionado com a diversidade de atitude entre os indivíduos ainda intocados 
pelas transformações em processo e aqueles que, resultado de [...] cursos de alfabetização, 
estavam já se transformando em “sujeitos” da sua história. 
 
As pessoas que não tinham experiências educacionais e sociais recentes relutavam contra o diálogo 
e a participação em discussões como pessoas críticas. Quando convidadas a fazer perguntas aos visitantes 
sobre a vida além da vila, respondiam: “não posso imaginar sobre o que perguntar... 
 
para perguntar você tem de ter conhecimento e nós só sabemos limpar os campos das ervas 
daninhas”. 
 
Os camponeses que tinham participado do processo transformador da revolução, no 
entanto, tinham muitas perguntas: “como podemos ter uma vida melhor? Por que a vida do 
operário é melhor do que a vida do camponês? 
DIDÁTICA 
 
 
 
“Quando o povo se convence de que pode mudar 
sua própria realidade social e de que não está mais 
isolado, começa a participar.” (Gadotti, 2006). 
 
 
A tônica da educação tradicional incide preponderantemente na narração da realidade 
desconectada da totalidade, apresentada como algo parado, estático, compartimentado e bem 
comportado ou no dissertar sobre algo alheio à vivência dos educandos, esvaziado de 
dimensão concreta, transformado em “verbosidade alienada e alienante”. 
 
A educação assume uma visão “bancária” em que a única margem de ação oferecida 
aos educandos é a de receberem a doação dos que se julgam sábios de valores e 
conhecimentos, manifestação instrumental da ideologia da opressão e promotora da alienação 
em que os homens são “simplesmente no mundo e não com o mundo e com os outros” e se 
constituem “espectadores e não recriadores do mundo.” (FREIRE, 2002, p.58). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Todo educador que diga ao educando que é igual ao 
educando ou é ingênuo ou está mentindo ou fazendo 
demagogia, porque na verdade não é igual. Se ambos 
fossem iguais, não se reconheceriam.” 
 
Fonte: Paulo Freire 
 
A ação pedagógica transforma-se numa violência simbólica, dos grupos dominadores 
da formação social que instauram uma ação pedagógica de imposição e de inculcação de 
uma arbitrariedade cultural. (BOURDIEU, 2001). 
 
Na dimensão da “educação bancária” os educandos não são chamados a conhecer, 
mas a memorizar o conteúdo narrado pelo educador. A intenção é no sentido da acomodação 
ao mundo da opressão: 
28 DIDÁTICA 
 
 
 
a) o educador é o que educa; os educandos, os que são educados; 
 
b) o educador é o que sabe; os educandos, os que não sabem: 
 
c) o educador é o que pensa; os educandos, os pensados; 
 
d) o educador é o que diz a palavra; os educandos, os que a escutam, docilmente; 
 
e) o educador é o que disciplina; os educandos, os disciplinados; 
 
f) o educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos os que seguem a 
prescrição; 
 
g) o educador é o que atua; os educandos os que têm a ilusão de que atuam, na 
atuação do educador; 
 
h) o educador escolhe o conteúdo programático; os educandos, jamais ouvidos 
nesta escolha, se acomodam a ele; 
 
i) o educador identifica a autoridade do saber com sua autoridade funcional, que 
opõe antagonicamente à liberdade dos educandos; estes devem adaptar-se às 
determinações daquele; 
 
j) o educador, finalmente, é o sujeitodo processo: os educandos, meros objetos. 
 
(FREIRE, 1978). 
 
 
 
 
A libertação autêntica é a práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o 
mundo para transformá-lo. Só ocorre criatividade, transformação, saber na invenção, na 
reinvenção, na busca inquieta, esperançosa, impaciente, permanente, a partir do momento 
que os homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros. 
 
A educação problematizadora apresenta o educador e educando numa relação em que 
os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo. 
 
Desta maneira, o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é 
educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. (FREIRE, 1978). 
DIDÁTICA 
 
 
 
Atividades 
 
 
 
 
1. Reflita sobre produto e processo no âmbito de uma educação emancipatória. 
 
2. A partir da leitura do tema, apresente propostas de ação do professor na sala de aula que 
possam ser eficazes para evitar a educação bancária. Faça um pequeno texto com no 
máximo 10 linhas. 
 
3. Pesquise sobre processo e produto e aprofunde seus estudos trazendo outros conceitos. 
 
4. Destaque no tema estudado abordagens significativas para uma mudança de paradigma 
no trabalho do professor. 
 
 
 
5- Marque Verdadeiro ou falso para as afirmativas: 
 
 
 
 
( ) O aluno não aprende somente na sala de aula, nem tampouco somente com a ajuda de 
 
um professor. 
 
( ) Para aprender o aluno necessita somente de um bom professor, que seja capaz de motivá- 
 
lo. 
 
( ) O ensino da sala de aula é o chamado ensino informal, que acontece sem planejamento. 
 
( ) O ensino da sala de aula é o chamado ensino formal. 
 
( ) O professor não precisa aprender a lidar com as diversas formas de aprendizado dos alunos 
 
e principalmente aprender a valorizar o conhecimento que eles constroem dia a dia com 
suas experiências fora da escola. 
 
( ) O professor precisa aprender a aprender com os seus alunos, e, quando se perceber 
aprendendo, vai se sentir de fato dentro da dinâmica do ensino. 
 
 
 
6- Como o objeto de ensino da Didática pode ser compreendido? 
 
__________________________________________________________________________________ 
 
__________________________________________________________________________________ 
 
__________________________________________________________________________________ 
30 DIDÁTICA 
 
 
7- Quais os níveis de responsabilidade do professor na consecução da sua proposta didática? 
 
__________________________________________________________________________________ 
 
__________________________________________________________________________________ 
 
__________________________________________________________________________________ 
 
 
 
 
8- A educação aberta e democrática tem o objetivo de: 
 
__________________________________________________________________________________ 
 
__________________________________________________________________________________ 
 
__________________________________________________________________________________ 
 
 
 
 
Dica de vídeo! 
 
1. Didática Geral: O ensino e o aprendizado. 02/05/11 
 
Durante uma reunião de professores da Escola Ernani Silva Bruno, em Taipas (periferia de 
São Paulo), surgem as questões: “Qual é o perfil do aluno das escolas públicas?”; “A didática dos 
professores dá conta desse novo perfil de aluno?”. A partir desse questionamento professores e 
especialistas (Ana Lúcia Guedes, da Faculdade de Educação da Unicamp e José Cerchi Fusari, 
da Faculdade de Educação da USP) desenvolvem seus argumentos. 
 
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=ILy_PZ1e2y4&feature=related 
DIDÁTICA 31 
 
 
 
3. Os Quatro Pilares da Educação Moderna 
 
Um dos mais interessantes livros que trata da educação moderna, organizado por Jacques 
Delors, intitulado Educação: um tesouro a descobrir, traz de forma bastante significativa quatro 
pontos fundamentais, os chamados quatro pilares da educação para o século XXI. 
 
De forma bastante didática, associa cada um desses pilares à Pedagogia, e assim, 
contribui para subsidiar um trabalho mais dinâmico e significativo em sala de aula. 
 
Assim, de acordo com o autor, a prática pedagógica deve trazer consigo a preocupação 
constante de desenvolver nos alunos as quatro aprendizagens que ela considera fundamental 
para o século XXI: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Delors deixa claro que uma vez vivendo na sociedade do conhecimento, o indivíduo de 
hoje precisa compreender que existe uma necessidade de aprendizado constante, que dura 
toda a sua vida. 
 
Vejamos mais detalhadamente esses pilares: 
 
• Aprender a Conhecer – é necessário tornar prazeroso o ato de compreender, 
descobrir, construir e reconstruir o conhecimento para que não seja efêmero, para 
que se mantenha ao longo do tempo e para que valorize a curiosidade, a autonomia 
e a atenção permanentemente. É preciso também pensar o novo, reconstruir o velho 
e reinventar o pensar. 
 
• Aprender a Fazer – Não basta preparar-se com cuidados para inserir-se no setor do 
trabalho. A rápida evolução por que passam as profissões pede que o indivíduo esteja apto 
a enfrentar as novas situações de emprego e a trabalhar em equipe, desenvolvendo espírito 
cooperativo e de humildade na reelaboração conceitual e nas trocas, valores 
32 DIDÁTICA 
 
 
 
necessários ao trabalho coletivo. Ter iniciativa e intuição, gostar de uma certa dose 
de risco, saber comunicar-se e resolver conflitos e ser flexível. Aprender a fazer 
envolve uma série de técnicas a serem trabalhadas. 
 
• Aprender a conviver - No mundo atual, este é um importantíssimo aprendizado a 
ser valorizado: aprender a viver com os outros, a compreendê-los, a desenvolver a 
percepção da interdependência, a administrar conflitos, a participar de projetos 
comuns, a ter prazer no esforço comum. 
 
• Aprender a ser – É importante desenvolver sensibilidade, sentido ético e estético, 
responsabilidade pessoal, pensamento autônomo crítico, imaginação, criatividade, 
iniciativa e crescimento integral da pessoa em relação à inteligência. A aprendizagem 
precisa ser integral, não negligenciando nenhuma das potencialidades do indivíduo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cada um dos “quatro pilares do conhecimento” deve ser objeto de igual atenção, a fim 
de que a educação seja concebida como uma experiência a se levar a cabo ao longo de toda 
a vida, no plano cognitivo e no desenvolvimento de competências. 
 
Essa perspectiva de aprender sempre deve inspirar e orientar as reformas educativas 
integradas, tanto em nível da elaboração de atividades educacionais como da definição de novas 
DIDÁTICA 33 
 
 
 
políticas pedagógicas. (DELORS, 2003). 
 
O preceito da educação relacionado no relatório da comissão da UNESCO não faz 
menção sobre a modalidade de educação que pode ser utilizada para alcançar tais objetivos, 
porque, independente da modalidade, a qualidade, e não apenas a quantidade de oferta, deve 
ser observada e garantida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Leitura Complementar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na internet... 
 
Leia o texto: 
 
Os pilares de Jacques Delors 
 
Disponível em: http://4pilares.net/text-cont/delors-pilares.htm 
 
 
 
 
 
 
 
Dica de vídeo! 
 
Os 4 pilares da Educação 
 
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Fog3AA1EERE 
34 DIDÁTICA 
 
 
 
3.1 Como, então, ensinar? 
 
 
Antes de tentarmos encontraressa resposta, vamos fazer a leitura de um texto bastante 
interessante: 
“Vivemos momentos de grande inquietação resultantes de uma sociedade em profunda 
e rápida transformação. A escola, como tantas outras instituições sociais, tem tido dificuldade 
em adaptar-se a estas mudanças, restando-lhe apenas duas alternativas: esconder a cabeça 
na areia fingindo que os problemas não existem, ou tentar, por diversas vias, mudar, deixando 
de trabalhar um ensino uniforme e uniformizante; aumentando a relevância daquilo que ensina 
através de uma maior ligação à sociedade onde está inserida e fazendo um esforço para obter 
ganhos significativos de produtividade.” 
 
Prof. Dr. Altamiro Machado 
Texto publicado na Revista Professor Mestre (2006) 
 
A escola ainda tem uma preocupação em formar pessoas que no futuro ocuparão 
postos de trabalho. Mas até mesmo as profissões têm sido cada vez mais transformadas 
graças ao avanm mudado t Diante disso, o professor de hoje tem que ser um constante 
pesquisador, estar “antenado” às novidades, procurar conhecer e saber coisas novas, tanto 
quanto os seus alunos. Estar em constante aprendizado... 
 
Vivemos a ‘Era da Informação e da Tecnologia’. Fica difícil ser professor nesse novo 
contexto quando não se sabe nada a esse respeito, ou quando se nega, na sala de aula, a 
existência dessa nova realidade. 
Nesse sentido, torna-se imprescindível ao professor conceber a sala de aula na 
sociedade tecnológica como um ponto de encontro onde há uma constante troca de saberes: 
entre alunos e professores. 
Frente a isso, torna-se decisivo que se amplie o espaço de ensinar e de aprender. 
Limitá-lo somente à sala de aula não faz mais sentido, a informação está em todos os lugares 
e cada vez mais acessível, como já dissemos anteriormente. É necessário então, rever a sala 
de aula, enquanto espaço para essa troca de saberes. 
José Manuel Moran (2004), pesquisador na área das novas tecnologias, afirma que: 
 
 
O professor, em qualquer curso presencial, precisa hoje aprender a gerenciar vários 
espaços e a integrá-los de forma aberta, equilibrada e inovadora. O primeiro espaço é 
o de uma nova sala de aula equipada e com atividades diferentes, que se integra com 
a ida ao laboratório para desenvolver atividades de pesquisa e de domínio técnico-
pedagógico. Estas atividades se ampliam e complementam à distância, nos ambientes 
virtuais de aprendizagem e se complementam com espaços e tempos de 
experimentação, de conhecimento da realidade, de inserção em ambientes 
profissionais e informais. (Moran, 2004, p.32) 
DIDÁTICA 35 
 
 
 
Na obra “Escola sem sala de aula” Ricardo Semler, Gilberto Dimestein e Antônio Carlos 
Gomes da Costa (2004) defendem o fim da escola compartimentada, transformando-a num 
amplo espaço de aprendizagem onde todos os seus sujeitos (professores, alunos, 
funcionários e comunidade) se integrem numa verdadeira rede de aprendizagem comum. 
 
Então, diante da percepção de José Manuel Moran (2004), podemos entender que “os 
textos” que muitos professores ainda estão lendo na sala de aula, se encontram no contexto 
do passado, no tempo em que gestão da aula era apenas no espaço entre as quatro paredes 
de uma sala. 
 
O cenário atual exige competências para gerenciar várias atividades em espaços 
diferentes, numa sala de aula equipada com computador, com acesso à Internet e projetor 
multimídia para além de outros recursos que possibilitam aos professores e alunos atividades 
didáticas adequadas ao desejo de aprender do aluno da geração atual. Este é um campo de 
possibilidades para novas propostas didáticas a que você precisa ter acesso urgente, sob 
pena de sua aula ser apenas uma caixinha de recordações do passado. 
 
 
 
O que você acha que é preciso para mudar esse atual cenário da educação e 
principalmente da sala de aula? 
 
 
 
Pode-se dizer que ele precisa adquirir a coragem de ir além da busca da competência 
e mudar sua postura, mudar o foco do seu olhar, pois o futuro é agora. 
 
No século passado, uma pesquisa revelou o tempo em que uma criança ou um jovem 
prestava atenção numa aula, o resultado entre 40 a 45 minutos; portanto a duração da aula 
ficou em torno de 45 minutos. A mesma pesquisa realizada indica que atualmente o tempo de 
concentração está entre cinco e sete minutos. 
 
Semler, Costa e Dimenstein (2004) afirmam que o aluno atualmente quando entra na escola e 
na sala de aula sai de uma realidade tridimensional para entrar num mundo unidimensional. 
 
Por esse fato a prática didática na sala de aula precisa assumir um novo jeito de lidar 
com este tempo de concentração dos alunos e com a forma como eles buscam conhecimento, 
muito mais ligado ao campo transversal e interdisciplinar. 
 
“O professor canadense Kieran Egan no livro ‘A mente educada’ escreve que apesar dos enormes 
investimentos realizados por todos os países na procura de melhores resultados para a área educacional, 
usando o conhecimento e a experiência dos mais famosos pensadores e pesquisadores acadêmicos, a 
consequência final, infelizmente, ainda deixa a desejar. Leva-se pouco em conta a realidade existente. A 
ela agrega-se muito pouco valor. E os principais prejudicados continuam sendo 
36 DIDÁTICA 
 
 
 
os alunos que, apesar de todo o aparato tecnológico atual, de todos os investimentos realizados 
e de toda a teoria apresentada, continuam a frequentar a mesma sala de aula de 50 anos atrás.” 
 
 
 
Gabriel Mário Rodrigues ( 2000, p.22) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Podemos indagar: até que ponto os conhecimentos que a escola transmite têm a ver 
com a realidade desse aluno? 
 
Entre diversos pesquisadores da área social e educacional, existe quase que 
unanimidade sobre o fato de o conteúdo ensinado na escola não estar em articulação com a 
vida sócio-cultural do aluno. 
 
Perrenourd (2000) apresenta as práticas necessárias à ação do educador dos nossos dias. São 
 
elas: 
 
 
 
 
1) organizar e dirigir situações de aprendizagem; 
 
2) administrar a progressão das aprendizagem; 
 
3) conceber e fazer com que os dispositivos de diferenciação evoluam; 
 
4) envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho; 
 
5) trabalhar em equipe; 
 
6) participar da administração da escola; 
 
7) informar e envolver os pais; 
 
8) utilizar novas tecnologias; 
 
9) enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; 
 
10) administrar a própria formação contínua. 
 
 
 
 
Tania Zagury (1999, p.25) 
DIDÁTICA 
 
 
 
Então, como ensinar? 
 
 
 
 
Rubem Alves, em entrevista à Revista ‘Profissão Mestre’ (2006), de que 
apresentamos a seguir um trecho, reflete sobre essa questão: 
 
- Qual é o principal objetivo da educação? 
 
- O objetivo da educação não é transmitir informações, é ensinar a pensar. A gente aprende 
 
é fazendo, com as mãos. Na escola, as crianças aprendem nomes, mas não aprendem o que 
eles significam. 
 
Estudei numa escola do Rio de Janeiro e tive de decorar vários nomes para passar nas provas. Só 
que o Jardim Botânico ficava a dez quarteirões da escola e o professor nunca nos levou lá. 
 
– Na sua opinião, o que é ensinar? 
 
– A palavra ensinar é imprecisa porque tem várias coisas que a gente tem de ensinar. 
Por exemplo, pode-se ensinar as coisas aprendidas pelas gerações passadas para que as 
gerações novas não tenham de partir da estaca zero, do tipo amarrar o sapato, somar, 
diminuir. Depois tem de ensinar aquilo que a gente não sabe. Se alguém pergunta onde fica 
rua tal eu não sei onde fica, mas sei ensinar como ela pode descobrir. 
 
– Que tipo de ensino o senhor acredita ser o mais importante? Por quê?– O segundo, porque o que a gente sabe fica obsoleto muito rapidamente. E está nos livros. O 
importante hoje é aprender a descobrir. Mas há ainda um terceiro tipo de coisa que se ensina que 
 
é completamente diferente das duas primeiras e tem a ver com a sensibilidade. Gostar de música, 
aprender a apreciar, ensinar a gostar da poesia. E esses ensinos de sensibilidade não nos 
ensinam a fazer nada, mas ensinam a sentir, e isso é realmente importante na vida. As primeiras 
coisas que citei nos dão meios para viver, mas somente a sensibilidade nos dá razões para viver, 
e é justamente isso que é mais ausente nos nossos sistemas educacionais. (...) 
 
– Nesse sentido, o que falta nas escolas brasileiras? 
 
– Cada um deve trabalhar no seu ritmo. Os alunos não devem ter tempos delimitados 
por campainha em que a professora diz: “pára de pensar isso, vai pensar aquilo”. É isso que 
falta nas nossas escolas. 
 
Continue a busca para encontrar resposta para a questão “Como ensinar”. Propomos 
agora a leitura das ideias expressas sobre a temática por Antônio Nóvoa (2001) numa 
entrevista ao Programa ‘Salto para o Futuro’: 
38 DIDÁTICA 
 
 
 
“Podíamos listar aqui um conjunto enorme de competências do ponto de vista da ação 
profissional dos professores. (...) eu tenderia a valorizar duas competências: a primeira, é a 
competência de organização. Isto é, o professor não é, hoje em dia, um mero transmissor de 
conhecimento, mas também não é apenas uma pessoa que trabalha no interior de uma sala de aula. 
 
O professor é um organizador de aprendizagens, de aprendizagens via os novos meios 
informáticos, por via dessas novas realidades virtuais. (...) Há aqui, portanto, uma dimensão da 
organização das aprendizagens, do que eu designo a organização do trabalho escolar, e esta 
organização do trabalho escolar é mais do que o simples trabalho pedagógico, é mais do que o 
simples trabalho do ensino, é qualquer coisa que vai além destas dimensões, e estas 
competências de organização são absolutamente essenciais para um professor. 
 
Há um segundo nível de competências (...) importantes também; são as competências 
relacionadas com a compreensão do conhecimento. (...) Não basta deter o conhecimento para o 
saber transmitir a alguém; é preciso compreender o conhecimento, ser capaz de reorganizar, de 
reelaborar e de transpô-lo em situação didática da sala de aula. Esta compreensão do 
conhecimento é, absolutamente, essencial nas competências práticas dos professores. 
 
Eu tenderia, portanto, a acentuá-las em dois planos: o plano do professor como um 
organizador do trabalho escolar, nas suas diversas dimensões, e do professor como alguém que 
compreende, que detém um determinado conhecimento e é capaz de o reelaborar no sentido da 
sua transposição didática, ou seja, na sua capacidade de ensinar a um grupo de alunos”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na escola de hoje, o aluno “precisa ter a 
oportunidade de saborear cada conteúdo que 
estuda e cada experiência que vivencia. Devemos 
recriar o sabor do estudar e o sabor do aprender. 
 
. 
 
(WERNECK, 2002, p.42) 
 
 
 
FONSECA, Sonia Maria Henrique P. da & FONSECA, João José Saraiva da. Didática Geral. Fortaleza, 2007. 
DIDÁTICA 39 
 
 
 
Dicas de vídeos! 
 
1. Rubem Alves - A Escola Ideal 
 
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=IEX9bOeTMZg&feature=related 
 
2. Tarefa do professor - Rubem Alves 
 
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=DgBPEnkL1fI&feature=related 
 
3. Entrevista com Rubem Alves - Nesta entrevista Rubem Alves fala de sua vida e o 
que é ser professor. 
 
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=A9Fm3EA4m9c&feature=results_video&pl 
aynext=1&list=PL476C6B4C101BCE21 
40 DIDÁTICA 
 
 
 
Atividades 
 
 
 
 
1- De acordo com “os Quatro Pilares da Educação Moderna”, complete o quadro abaixo: 
 
Pilares Descrição dos pilares 
 
 
Aprender a Conhecer 
 
 
 
 
 
Aprender a Fazer 
 
 
 
 
 
Aprender a conviver 
 
 
 
 
 
Aprender a ser 
 
 
 
 
2- No texto lido, o autor Perrenoud apresenta as práticas necessárias à ação do educador 
dos nossos dias. Quais são elas? 
 
__________________________________________________________________________________ 
 
__________________________________________________________________________________ 
 
__________________________________________________________________________________ 
 
__________________________________________________________________________________ 
 
3- Para o autor Rubem Alves, qual é o principal objetivo da educação? 
 
__________________________________________________________________________________ 
 
__________________________________________________________________________________ 
 
4- Faça uma pequena síntese do texto de Antônio Nóvoa, descrevendo as competências 
da ação profissional dos professores. 
 
__________________________________________________________________________________ 
 
__________________________________________________________________________________ 
 
__________________________________________________________________________________ 
 
__________________________________________________________________________________ 
DIDÁTICA 1 
 
 
 
4. Saberes docentes sobre a organização do ensino aprendizagem 
 
 
 
 
Entendimento sobre o currículo 
 
 
 
 
Os novos mapas político-culturais da sociedade, na atualidade, pressupõem que 
compreendamos o currículo na relação entre escola, cultura e sociedade, de forma a se valorizar 
os saberes plurais que se entrecruzam nas diversas práticas cotidianas dos sujeitos educativos. 
 
Nessa perspectiva, a compreensão sobre currículo que desenvolvemos nos estudos já 
referidos, e que vamos adotar nesta proposta de pesquisa, caminha, desde uma perspectiva dada 
pela teorização crítica, que evidenciou as relações de poder na seleção dos conhecimentos 
escolares, até o sentido de um currículo como uma realidade sempre provisória e híbrida. O 
currículo se materializa na realidade escolar como uma práxis e prática pedagógica. 
 
Como práxis, significa que muitos tipos de ações intervêm em sua configuração, ou 
seja, que o processo de construção do currículo ocorre dentro de certas condições concretas, 
que se configura dentro de um mundo de interações sociais. (Sacristán, 2000). 
 
Como prática, trata-se de um campo complexo, pois ao modelar-se dentro de um 
sistema, cristaliza um contexto que lhe dá significado real; “a prática tem uma existência real 
[...] um território de intersecção de subsistemas diversos. Essa realidade prática complexa se 
substancia ou se concretiza em realidades e processos diversos.” (Sacristán, 2000, p.21). 
 
Assim, “o currículo é uma prática que se expressa em comportamentos práticos diversos. 
[...] na qual se pode estabelecer um diálogo, por assim dizer, entre agentes sociais, elementos 
técnicos, alunos, professores [...]” (Sacristán, 2000, p.16). Realçando-se o âmbito prático do 
currículo, tem-se a oportunidade de poder estabelecer as funções que cumpre e o modo como as 
realiza. Enfim, o currículo representa o contexto de uma prática, ao mesmo tempo em que é 
contextualizado por ela, isto é, caracteriza-se por desenvolver uma relação dialética e processual 
com o contexto que lhe dá origem e o representa, e por aquilo que é representado. 
 
Significa, pois, que o currículo não pode ser entendido à margem do contexto no qual 
se configura, tampouco distante das condições em que se desenvolve. 
 
 
 
Saberes docentes e a Prática pedagógica: a função mediadora do professor na 
materialização do currículo nas aulas. 
42 DIDÁTICAPartindo da perspectiva teórica dos trabalhos desenvolvidos na atualidade, em âmbito nacional 
e internacional, compreendemos, inicialmente, que o saber é sempre o saber de alguém, que trabalha 
com algum objetivo. E, em se tratando dos professores, o saber deles é um saber que está relacionado 
com a sua identidade, sua experiência de vida, com a sua história profissional, com as suas relações 
com os alunos em sala de aula e com os outros atores escolares na escola. 
 
Nessa perspectiva, o saber dos professores é um saber social, embora dependa dos 
professores enquanto atores individuais empenhados numa prática. É social porque é partilhado 
por todo um grupo de agentes; porque seus próprios objetos são objetos sociais, isto é, práticas 
sociais; mostram a história (das disciplinas, programas escolares, ideias e práticas pedagógicas), 
pois o que os professores ensinam evolui com o tempo e as mudanças sociais, e por ser adquirido 
no contexto de uma socialização profissional. (Tardif, 2000). 
 
O autor referido acima destaca ainda que as relações que se estabelecem com esses saberes, 
são relações que mantêm confluência com vários outros saberes (pedagógicos, curriculares, práticos) 
e que também são originados tanto na sociedade, como na instituição escolar e dos outros atores 
educacionais. Sendo assim, as relações geradas através das relações dos professores com esses 
diversos saberes são, ao mesmo tempo, relações com grupos sociais. 
 
Os estudos desenvolvidos sobre a prática pedagógica docente permitem compreendê-
la como uma prática social entrecruzada, que se desenvolve num espaço social complexo, 
entendida numa relação indissociável entre a prática que o sujeito desenvolve e os contextos 
nos quais se encontra inscrita. 
 
Esse sentido atribuído à prática pedagógica docente parte do pressuposto de que o 
currículo, que se manifesta na prática dos(as) professores(as), não parte de uma única 
prática, mas do cruzamento de práticas diversas, conforme revela Sacristán (2000, p. 26): 
 
O currículo acaba numa prática pedagógica [...]. Sendo a condensação ou 
expressão da função social e cultural da instituição escolar, é lógico que, por 
sua vez, impregne todo tipo de prática escolar. O currículo é o cruzamento de 
práticas diferentes e se converte em configurador, por sua vez, de tudo o que 
podemos denominar como prática pedagógica nas aulas e nas escolas. 
 
 
 
Portanto, entender os saberes docentes, expressos no processo de construção do saber 
escolar, requer prestar atenção às práticas político-curriculares que se expressam em seu 
desenvolvimento. Compreende-se que, na prática docente, se entrecruzam muitos tipos de 
saberes e de práticas, configuradas em ações que são de ordem política, administrativa, de 
supervisão, de produção de meios, de criação intelectual, de avaliação, enquanto subsistemas, 
em parte, autônomos, e, em parte, interdependentes, que geram forças diversas que incidem na 
ação pedagógica. Isso significa pensar que os saberes e a prática pedagógica docente não podem 
ser entendidos separadamente das condições em que se desenvolvem. 
DIDÁTICA 3 
 
 
Como o objeto de nossa investigação são os saberes docentes mobilizados no processo 
de organização do ensino-aprendizagem, e compreendendo que toda prática pedagógica gira em 
torno de um currículo no qual se entrecruzam práticas diversas, compreendemos que, na 
materialização do currículo, todos são sujeitos - professores, alunos, equipe técnico-
administrativa, pais. No entanto, o professor é um dos atores principais, um dos agentes ativos 
nesse processo, vez que se pode afirmar que “o currículo molda os docentes, mas é traduzido na 
prática por eles mesmos - a influência é recíproca.” (Sacristán 2000, p.164). 
 
Nessa perspectiva, estamos partindo de uma concepção do professor como mediador 
do currículo, que se materializa na prática pedagógica a partir de uma rede de saberes e 
fazeres cotidianos. 
 
Desse modo, trazemos aqui as ideias de Sacristán (2000) que, ao defender o professor como 
um mediador entre o aluno e a cultura, alerta sobre a importância de se considerar nas pesquisas 
sobre os saberes docentes, as condições institucionais, o nível das experiências que, a princípio, o 
professor tem; os significados que atribui ao currículo em geral e ao conhecimento, em particular. 
 
Nesse sentido, a partir dos papéis possíveis e previsíveis do professor frente ao 
desenvolvimento de um currículo estabelecido ou frente à implantação de uma inovação, podem 
se localizar, a partir das análises que Sacristán (2000) realiza, dos estudos de Tanner e Tanner, 
os papéis do professor em três níveis, de acordo com o grau de independência profissional: 
 
 
 
a) de imitação-manutenção, no qual os professores são seguidores de livros-texto e 
guias. Confiam que possuem habilidades para desempenhar tarefas a cumprir, conforme 
algum padrão, ou seja, é um papel que serve à manutenção da prática estabelecida ou à 
implantação de qualquer outro modelo; 
 
b) o professor como mediador, que atua na adaptação dos materiais, dos currículos ou 
das inovações nas condições concretas nas quais atua; 
 
c) o professor criativo-gerador que, junto com seus companheiros, pensa sobre o que faz 
e trata de encontrar melhores soluções, diagnosticar os problemas e formular hipóteses de 
trabalho, ou seja: seria aquele professor que trabalha dentro de esquema de pesquisa na ação. 
 
Ao considerar o professor como um mediador, Sacristán (2000) sugere que analisemos os 
saberes docentes e a prática pedagógica na relação com os saberes escolares, a partir de uma 
base triangular da práxis pedagógica, que pode ser assim explicitada: 
 
a) o professor possui significados adquiridos explicitamente durante sua formação e, também, 
outros que são resultados de experiências continuadas e difusas sobre os mais variados aspectos 
(conteúdos, habilidades, orientações metodológicas, pautas de avaliação etc.), onde qualquer 
inovação que se lhe proponha pressupõe alterar as suas bases conceituais, os mecanismos de 
44 DIDÁTICA 
 
 
 
segurança pessoal e o próprio autoconceito dos professores; 
 
b) a interação entre os significados e usos práticos do professor (condicionados por sua 
formação e experiência); 
 
c) as condições da prática na qual exerce o seu trabalho e as novas ideias configuram 
um campo-problema do qual surgem soluções ou ações do professor; que são resultantes ou 
compromissos a favor de um extremo ou outro desse triângulo. 
 
Na configuração desse triângulo de investigação, encontra-se em sua base o saber 
escolar, uma vez que esse saber sintetiza os demais, articulando todo o movimento da ação 
pedagógica que se desenvolve numa realidade de um ambiente de trabalho com suas normas 
e rituais de funcionamento. 
 
NASCIMENTO, Débora Maria & RIBEIRO, Marcia Maria. Saberes docentes sobre a 
organização do ensino aprendizagem. 2008. VI Congresso Português de Sociologia. 25 a 28 
de junho de 2008. Lisboa. Portugal. Disponível em: 
 
Extraído e adaptado de: http://www.aps.pt/vicongresso/pdfs/446.pdf 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4.1 A didática na formação pedagógica de professores 
 
 
 
 
Usando o artigo produzido pelas autoras Pura Lúcia Oliver Martins e Joana Paulin 
Romanowski (2007), vamos entender a didática na formação pedagógica de professores. 
 
Colocar em discussão a formação de professores, neste início de século, implica 
considerar as prioridades estabelecidas para a formação dos professores nos cursos de 
licenciaturas, diante das novas diretrizes estabelecidas para estes cursos pelo Conselho 
Nacional de Educação, no ano de 2002, e o papel da Didática nesse processo.Isso porque partimos do pressuposto de que as sistematizações teóricas das abordagens 
distintas das práticas de formação de professores são produzidas socialmente a partir de 
determinadas circunstâncias históricas. Tais circunstâncias determinam os tipos de relações 
sociais que vão forjar as tecnologias utilizadas através da relação pedagógica. Assim, a realização 
da formação de professores, viabilizada por um determinado tipo de organização curricular, está 
intimamente vinculada às finalidades desta, num contexto social mais amplo e expressa a relação 
social básica no interior do modo de produção capitalista. (MARTINS, 1998). 
 
Desse ponto de vista, em estudo recente apresentado na VII Reunião da ANPEd Sul em 
DIDÁTICA 5 
 
 
Itajaí-SC, Martins e Romanowski (2008) fazem um balanço sobre o estado do conhecimento na área 
da didática, apresentado nas teses do período de 2004 a 2006, e constatam que a disciplina de 
didática, diferentemente do que se verificou na década de oitenta do século passado, nos meios 
acadêmicos, volta a valorizar questões mais específicas, deixando de abordar a didática numa 
dimensão de totalidade. Os poucos estudos que abordam as questões do ensino – objeto de estudo 
da Didática – limitam-se a focos pontuais com a valorização de estratégias de ensino, ora focalizando 
os recursos didáticos e o uso de tecnologias da informação e comunicação, ora tomando o método 
numa determinada orientação teórica, focalizando uma disciplina ou área de conteúdo. 
 
A relação da formação inicial de professores com as práticas desenvolvidas nas escolas de 
educação básica, marca importante da década de oitenta do século passado, não é priorizada, ainda 
que as novas diretrizes curriculares para os cursos de Licenciaturas determinem a ampliação da carga 
horária destinada às atividades práticas que, via de regra, acontecem nos espaços escolares. 
 
Em pesquisa realizada sobre a formação pedagógica do professor nas novas propostas 
para os cursos de licenciatura, Romanowski e Martins (2009) mostram que a maioria dos 
cursos das cinco universidades investigadas deixa de oferecer a disciplina Didática Geral e 
volta a trabalhar o processo de ensino – seu objeto de estudo – em disciplinas específicas 
voltadas para as metodologias das áreas de conhecimento. Além disso, a concepção de 
relação teoria e prática que orienta essas disciplinas tende a priorizar a aplicação dos 
conhecimentos teóricos na prática. Em outros termos, é a concepção de teoria como guia da 
ação, que reafirma a dicotomização desses dois pólos do conhecimento. 
 
Para encaminhar nossa reflexão sobre a didática na formação de professores, o texto está 
estruturado em quatro partes fundamentais intimamente relacionadas, quais sejam: I) A didática na 
formação de professores: momentos históricos; II) Prioridades estabelecidas para a formação dos 
professores nos cursos de licenciaturas; III) a Didática nas propostas curriculares das licenciaturas; 
(IV) tendência da didática nos processos de formação de professores no momento atual. 
 
I) A didática na formação de professores: momentos históricos 
 
Um breve resgate histórico da Didática no Brasil é de fundamental importância para 
compreender o lugar que essa área do conhecimento ocupa na formação do professor hoje. 
Isso porque entendemos que a organização curricular dos cursos de licenciatura, em suas 
novas propostas, expressa a relação social básica do sistema nesse momento histórico. 
 
Data de 1972 o I Encontro Nacional de Professores de Didática realizado na Universidade de 
Brasília, período pós-64, momento histórico em que o planejamento educacional é considerado “área 
prioritária”, integrado ao Plano Nacional de Desenvolvimento, e a educação passa a ser vista como 
fator de desenvolvimento, investimento individual e social. Nesse momento, discute-se a necessidade 
de formar um e comprometido com o programa político e econômico do país. 
 
E a formação do professor passa a se fazer por meio de treinamentos, em que são transmitidos os 
46 DIDÁTICA 
 
 
 
instrumentos técnicos necessários à aplicação do conhecimento científico, fundado na qualidade dos 
produtos, eficiência e eficácia. A racionalização do processo aparece como necessidade básica para 
o alcance dos objetivos do ensino e o planejamento tem papel central na sua organização. 
 
Dez anos depois, em 1982, realiza-se no Rio de Janeiro o I Seminário num período 
marcado pela abertura política do regime militar instalado em 1964 e pelo acirramento das lutas 
de classe no país. Nesse momento histórico, enfatiza-se a necessidade de formar do papel da 
educação na sociedade, e mais, comprometidos com as necessidades das camadas populares 
cada vez mais presentes na escola, e cedo dela excluídos. A dimensão política do ato pedagógico 
torna-se objeto de discussão e análise, e a contextualização da prática pedagógica, buscando 
compreender a íntima relação entre a prática escolar e a estrutura social mais ampla, passa a ser 
fundamental. Esses desafios marcaram a década de oitenta como um período de intenso 
movimento de revisão crítica e reconstrução da Didática no Brasil. 
 
Ao longo da década de oitenta, as produções teóricas dos educadores expressam tentativas 
de dar conta dessa nova situação. Tomando como parâmetro a questão da relação teoria-prática, 
podemos identificar processos distintos que procuram ampliar a discussão da Didática, iniciada por 
Candau (1984), em reação ao modelo pedagógico centrado no campo da instrumentalidade. A autora 
propõe uma , que, nas palavras de Freitas (1995, p. 22), “(...) mais do que um enfoque propriamente 
dito, foi um amplo movimento de reação a um tipo de didática baseada na neutralidade”. 
 
Desta forma, o movimento que inicialmente incluiu uma crítica e uma denúncia ao caráter 
meramente instrumental da Didática, avançou em seguida para a busca de alternativas e 
reconstrução do conhecimento da área. E, em oposição ao modelo pedagógico centrado no campo 
da instrumentalidade, grupos de educadores passam a discutir a importância de formar uma 
consciência crítica nos professores para que estes coloquem em prática as formas mais críticas 
de ensino, articuladas aos interesses e necessidades práticas das camadas populares, tendo em 
vista garantir sua permanência na escola pública. Propostas expressivas como a Pedagogia 
Histórico-crítica, de Dermeval Saviani (1983), base teórica da sistematizada por José Carlos 
Libâneo (1985), caminham nessa direção. Do ponto de vista didático, o ensino orienta-se pelo eixo 
da transmissão-assimilação ativa de conhecimentos. Dirá Libâneo (1985 p. 127-128): 
 
 
[...] a pedagogia crítico -social dos conteúdos valoriza a instrução enquanto 
domínio do saber sistematizado e os meios de ensino, enquanto processo de 
desenvolvimento das capacidades cognitivas dos alunos e viabilização da 
atividade de transmissão/ assimilação ativa de conhecimentos. 
 
 
 
 
Nessa proposta, o elemento central está calcado na concepção segundo a qual a aprendizagem se 
faz fundamentalmente a partir do domínio da teoria. A prática decorre da teoria. Daí a importância do 
racional, do cognitivo, do pensamento. Nessa concepção, a ação prática é guiada pela teoria. 
DIDÁTICA 
 
 
 
Valoriza-se o pensamento sobre a ação. 
 
Por outro lado, grupos mais radicais se voltam para a alteração dos próprios processos de 
produção do conhecimento; das relações sociais. A , de Oder José dos Santos (1992), base teórica 
da , proposta por Martins (1998), caminha nessa direção. Passa-se a discutir a importância de se 
romper com o dos conteúdos, ainda que críticos, buscando um processo de ensino que altere, na 
prática, suas relações básicas na direção

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