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Apoio
As histórias e os personagens do mundo das instalações elétricas
Volume 3
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CAPA ed 3.pdf 23.10.08 23:21:12
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ín
di
cegrandes questões
Choques elétricos ainda são realidade no Brasil e no mundo. 
Como o corpo reage à eletricidade e métodos para evitar a 
fuga de corrente são objetos desta reportagem. 
história
A origem e a difusão dos fusíveis e dos disjuntores, 
dispositivos de proteção fundamentais às instalações elétricas 
em todos os níveis de tensão.
biografia
As aventuras e as contribuições do engenheiro português 
Armando Reis Miranda para as instalações elétricas brasileiras.
dentro da lei
Presente em praticamente todos os países e em todos os 
segmentos econômicos, a pirataria e a contrafação de produtos 
têm uma longa história, diferentemente das Leis que as 
coíbem, que são relativamente recentes.
evolução
Dos árduos e cansativos projetos elétricos desenhados a mão 
em papéis de seda aos rápidos e também eficazes softwares 
de projetos. Como o avanço tecnológico conferiu enérgicas e 
profundas transformações à profissão do projetista.
identidade
As raízes culturais do Brasil são uma das justificativas para a 
despreocupação do brasileiro com normas, leis e regulamentos 
técnicos. Veja como o comportamento baseado no “jeitinho 
brasileiro” acaba comprometendo, muitas vezes, a qualidade 
de projetos e das instalações elétricas, afetando, de modo 
geral, o desenvolvimento do País.
descontração
Jogo desafia o leitor a identificar os sete erros na instalação 
elétrica ilustrada
Diretores
Adolfo Vaiser
José Guilherme Leibel Aranha
 
Gerência de planejamento 
Sergio Bogomoltz
sergio@atitudeeditorial.com.br 
 
Circulação
Emerson Cardoso
emerson@atitudeeditorial.com.br
Marina Marques
marina@atitudeeditorial.com.br
Administração 
Paulo Martins Oliveira Sobrinho
adm@atitudeeditorial.com.br
Jornalista responsável
Flávia Lima
MTB 40.703
flavia@atitudeeditorial.com.br
Coordenador técnico
Hilton Moreno
Direção de arte e produção
Leonardo Piva
leo.piva@terra.com.br
Colaboradores
Bruno Moreira, Leonardo Faria, 
Mauro Júnior, Sergio Bogomoltz 
Revisão
Gisele Folha Mós
Publicidade
Diretor comercial
Adolfo vaiser
adolfo@atitudeeditorial.com.br
Contatos Publicitários
Ana Maria Rancoleta
anamaria@atitudeeditorial.com.br
Vanessa Marquiori
vanessa@atitudeeditorial.com.br
Cesar Dallava 
cesar@atitudeeditorial.com.br
Capa
 Kanji Design
Impressão
Gráfica Ipsis 
Distribuição
Correios
Atitude Editorial Ltda.
Rua Piracuama, 280 cj. 72 / Pompéia
CEP 05017-040 / São Paulo - SP
Fone/Fax - (11) 3872-4404 
www.atitudeeditorial.com.br
atitude@atitudeeditorial.com.br
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Hilton Moreno, engenheiro eletricista, consultor 
e presidente da Associação Nacional de 
Fabricantes de Produtos Elétricos - Nema Brasil
Caro amigo(a) do setor de instalações elétricas,
 Começo esta carta agradecendo mais uma vez a todos que continuam 
apoiando o projeto da Coleção Elétrica, seja por meio de mensagens 
eletrônicas, cartas, telefonemas ou durante conversas pessoais. Fico 
também muito feliz por saber que novos colegas passaram a receber e 
apreciar o conteúdo desta publicação.
 Permanentemente estimulados pelos leitores e motivados a trazer 
novos e úteis conhecimentos aos profissionais, preparamos para esta 
terceira edição da Coleção Elétrica algumas matérias que atendem aos 
objetivos do projeto. Você encontrará interessantes textos sobre a história 
dos fusíveis e dos disjuntores, componentes indispensáveis à proteção 
das instalações elétricas; sobre a evolução do projetista, profissional que 
sofreu diversas transformações com os avanços tecnológicos; sobre os 
efeitos da eletricidade no corpo humano; entre outras temáticas.
 Como nas vezes anteriores, destaco a seção “Biografia”, em que o 
homenageado é uma figura ímpar do setor: o engenheiro eletricista, 
nascido em Portugal e com brilhante carreira no Brasil, Armando 
Reis Miranda, ou, como carinhosamente o tratamos no dia-a-dia, 
simplesmente, Engenheiro Miranda. Como poderá ser apreciado ao 
longo do texto, sua história de vida é um aprimorado exemplo de luta, 
dedicação, persistência, coragem e desafios. E tudo isso recheado de muita 
competência, conhecimento teórico e complementados por vivência 
prática inigualável. Pessoalmente, tem sido um grande aprendizado 
conviver profissionalmente com o Engenheiro Miranda, particularmente 
nas reuniões da ABNT, nas quais ele se destaca com suas posições técnicas 
firmes e conceitos sólidos, que muito têm contribuído para o avanço da 
normalização técnica nacional. 
 Faço votos para que você, amigo(a) leitor(a), aprecie este terceiro 
fascículo da Coleção Elétrica e aguardamos com todo interesse seus 
comentários, críticas e sugestões.
Boa leitura e abraços!
Hilton Moreno
Apoio
 Visitas esporádicas a jornais impressos e televisivos facilmente reforçam a afirmação de que 
acidentes domésticos causados por choques elétricos são há anos fatos corriqueiros no Brasil e no 
mundo. A fatalidade ocorre, na maioria das vezes, quando a pessoa encontra-se com o corpo molhado, 
como foi o caso do menino argentino Farid Affad. A criança de sete anos nadava na piscina de um 
hotel luxuoso da Bahia quando, ao avistar um refletor que se encontrava próximo à borda da piscina, 
esforçou-se para alcançá-lo. O equipamento estava com um fio desencapado e a passagem de corrente 
elétrica para o garoto foi inevitável. 
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 Outro caso, este com grande destaque na mídia, curiosamente, 
aconteceu também na Bahia. O músico da banda Olodum, José 
Nilton Teixeira de Souza, 22 anos, conhecido como Zóião, havia 
acabado de sair do banho, quando, ainda molhado, encostou-
se no refrigerador, recebendo a descarga elétrica. Em ambos os 
casos, o desfecho da história foi fatal. Tanto o músico quanto o 
menino argentino chegaram a ser levados ao hospital com vida, 
mas não resistiram. 
Como o corpo reage
 Grande parte das pessoas sabe, ou deveria saber, que 
choques elétricos podem ser fatais. Mas o que exatamente 
acontece com nosso corpo e em quais condições ele nos leva 
à morte? Para que a resposta possa ser dada com propriedade, 
primeiro, deve-se ressaltar, conforme nos informa o engenheiro 
eletricista e professor Hilton Moreno, que todas as sensações 
do corpo humano, de uma forma ou de outra, são produzidas 
por sinais elétricos que são enviados pelas células nervosas ao 
cérebro.
 Assim funciona nosso coração. A grosso modo, ele recebe 
estímulos elétricos causados por reações químicas internas e se 
contrai; o sangue circula e todos os outros órgãos começam a 
trabalhar. A peculiaridade da situação é que a passagem de uma 
corrente elétrica externa, causada por um choque, é sentida pelo 
coração da mesma forma, interferindo no batimento cardíaco 
regular. A contração se desorganiza e, em alguns casos, pode 
ser impossível restabelecer o batimento coordenado necessário 
para promover a circulação do sangue; conseqüentemente o 
corpo entra em colapso e a pessoa não resiste.
 A intensidade que uma corrente elétrica deve ter para que 
seja percebida conscientemente por uma pessoa é chamada de 
“limiar de percepção”. De acordo com Hilton Moreno, esse 
limite depende de muitos fatores, como a área do corpo que 
está em contato com o condutor de eletricidade, a temperatura, 
as condições psicológicas do indivíduo, se ele está calmo ou 
estressado e se a pele está seca ou molhada. De qualquermodo, 
em freqüências de 50 Hz e 60 Hz, que são as mais usuais nas 
instalações elétricas em todo o mundo, o “limiar de percepção” 
f icará em torno de 0,5 mA. 
 Há também, de acordo com Moreno, o “limite de largar”, 
ponto além do qual a corrente elétrica que f lui pelo corpo 
provoca um estímulo nervoso, paralisando os músculos, 
fazendo uma pessoa em contato com um condutor vivo não ser 
mais capaz de soltá-lo, fenômeno chamado de “tetanização”. 
A corrente supera os impulsos elétricos que são enviados pela 
mente e os anula, podendo bloquear um membro ou o corpo 
inteiro, ignorando totalmente a consciência do indivíduo e a 
sua vontade de interromper o contato. Este limiar também 
depende de diversos fatores, mas, em geral, f ica entre 6 mA 
e 14 mA (média 10 mA) em mulheres e entre 9 mA e 23 mA 
(média de 16 mA) em homens.
 Em relação aos efeitos cardíacos, há também um limite 
para que o batimento comece a se descompassar. O chamado 
limiar da f ibrilação ventricular depende igualmente de vários 
fatores próprios de cada indivíduo, mas, da mesma forma, de 
parâmetros elétricos como duração, caminho e tipos de corrente 
(alternada ou contínua). No caso da corrente alternada, diz 
o engenheiro Hilton Moreno, há uma considerável redução 
neste limiar quando ela circula por mais de um ciclo cardíaco. 
Experiências práticas têm mostrado que correntes de 5 mA já 
provocam choques desconfortáveis.
Sem as devidas precauções técnicas e sem a merecida atenção, especialmente, 
em ambientes molhados, o corpo humano, desprotegido, funciona como um 
verdadeiro imã de corrente elétrica. São nestas situações que a eletricidade passa 
de benéfica para malévola em um piscar de olhos.
Com a passagem de corrente elétrica pelo 
corpo, a contração do coração se desorganiza. 
Em alguns casos, é impossível restabelecer 
o batimento coordenado necessário para 
promover a circulação sangüínea.
Apoio
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Para garantir
 Em determinados circuitos da instalação, a norma ABNT NBR 
5410 indica que a proteção contra choques elétricos deve ser realizada 
obrigatoriamente por DRs de alta sensibilidade, ou seja, com corrente 
diferencial-residual nominal igual ou inferior a 30 mA. É o caso dos 
seguintes circuitos:
• que servem a pontos de utilização situados em locais contendo 
banheira ou chuveiro; 
• que alimentam tomadas de corrente situadas em áreas externas à 
edificação; 
• de tomadas de corrente situadas em áreas internas que possam 
alimentar equipamentos no exterior; 
• que, em locais de habitação, servem a pontos de utilização situados 
em cozinhas, copas-cozinhas, lavanderias, áreas de serviço, garagens e 
demais dependências internas molhadas em uso normal ou sujeitas a 
lavagens;
• que, em edificações não-residenciais, servem a pontos de tomada 
situados em cozinhas, copas-cozinhas, lavanderias, áreas de serviço, 
garagens e, no geral, em áreas internas molhadas em uso normal ou 
sujeitas a lavagens.
Como se proteger
 Para evitar riscos à vida do ser humano, faz-se mais do que 
necessária a adoção de medidas de proteção contra possíveis 
passagens de corrente elétrica proveniente de equipamentos para 
o corpo humano. A ABNT NBR 5410 – norma de instalações 
elétricas de baixa tensão – indica que o princípio fundamental 
relativo à proteção contra choques elétricos compreende que as 
partes vivas perigosas não devem ser acessíveis (para evitar o 
contato direto) e que as massas ou partes condutoras acessíveis 
não devem oferecer perigo, seja em condições normais, seja em 
caso de alguma falha que as tornem acidentalmente vivas (para 
evitar o contato indireto).
 Para evitar contatos diretos, a norma prescreve a proteção 
básica, que consiste na isolação das partes vivas; no uso de barreiras 
ou invólucros de proteção; em obstáculos; na colocação fora do 
alcance das pessoas; no uso de dispositivos de proteção à corrente 
diferencial-residual de alta sensibilidade; e na limitação de tensão. 
Para evitar contatos indiretos, deve haver a proteção supletiva, 
que inclui medidas, como eqüipotencialização e seccionamento 
automático da alimentação, o uso de isolação suplementar e o de 
separação elétrica. 
 De modo geral, informa o engenheiro eletricista Sérgio 
Bogomoltz que a proteção básica de uma instalação elétrica 
incorpora todos os anteparos contra a eletricidade, como a parte 
plástica da tomada, a cobertura dos condutores e o soquete. “O 
intuito é que a pessoa encontre barreiras”, diz. Já a proteção 
suplementar leva em conta a possibilidade de a parte metálica 
do condutor encostar, por exemplo, em uma tubulação metálica. 
Invariavelmente, uma corrente passará por esse condutor que, ao 
estar em contato com outro material condutivo, irá energizá-lo. 
Em uma reação em cadeia, a corrente passará do equipamento 
para uma pessoa que tocá-lo.
 A proteção supletiva, de acordo com Bogomoltz, é um 
conjunto de ações que tem início com o aterramento das partes 
metálicas de uma instalação. Com isso, a corrente que passaria 
diretamente para a pessoa em números menores devido à alta 
resistência ôhmica do corpo humano é transformada em uma 
“grande” corrente que é escoada pela terra. O engenheiro 
informa que esse valor mais elevado da corrente será responsável 
por acionar o seccionamento automático da alimentação que é 
a medida suplementar na proteção das instalações elétricas. O 
objetivo do seccionamento é evitar que uma tensão de contato 
(UB) superior à tensão de contato limite (UL) se mantenha por 
um tempo suficiente para resultar em risco de efeito fisiológico 
adverso às pessoas. 
 Os fusíveis e os disjuntores podem funcionar como dispositivos de 
proteção contra choques elétricos, contudo, como suas sensibilidades 
para detectar alguma falta na corrente que perpassa os condutores 
são baixas, normalmente, o dispositivo utilizado – apontado pela 
NBR 5410 – é o Diferencial Residual, mais conhecido como DR. O 
funcionamento deste dispositivo, explica resumidamente, Bogomoltz, 
consiste na verificação da soma vetorial de todas as correntes que 
percorrem os condutores de uma instalação elétrica. Em condições 
normais, o somatório será igual a zero. Caso haja alguma falta de 
corrente, o DR acusará e desligará os aparelhos.
 De acordo com Hilton Moreno, a NBR 5410 aponta que 
esses equipamentos podem ser de dois tipos: de alta sensibilidade 
(até 30 mA inclusive) e de baixa sensibilidade (acima de 30 mA). 
Segundo o engenheiro, em esquemas de aterramento TN, que são 
os mais utilizados nas instalações brasileiras, a proteção supletiva 
sempre é garantida, conforme determina a NBR 5410, pelo DR, 
seja de alta ou de baixa sensibilidade. 
Tipos de DR
 Nos Estados Unidos e no Japão, é muito difundido o uso dos DRs eletrônicos, 
os quais possuem nível da proteção maior, com valores de correntes de sensibilidade 
de 5 mA, especialmente nas proteções incorporadas diretamente nas tomadas. Já 
na Europa, assim como nos países que seguem a norma IEC, o uso do dispositivo 
eletrônico é limitado a uma proteção adicional, conforme prescreve a ABNT NBR 
5410, que não proíbe o uso do DR eletrônico, todavia impõe que ele poderá ser 
utilizado desde que haja também uma proteção diferencial eletromecânica.
Definições:
- DR eletromecânico
É um dispositivo diferencial que possui um sensor eletromagnético de correntes residuais e um sistema 
disparador mecânico que faz atuar o desligamento dos contatos do dispositivo. A atividade deste produto não 
depende da tensão de alimentação.
- DR eletrônico
É um dispositivo que possui, no seu sistema sensor, um circuito eletrônico que faz a soma vetorial das 
correntes diferenciais e que pode aumentar a sensibilidade do sensor, impondo a necessidade de uma tensão de 
alimentação para que o dispositivo funcione.
 O DR eletromecânico, por não depender da tensão de alimentação, estará sempre supervisionandoa 
situação da instalação, independentemente da condição de tensão de entrada ou sua alimentação. Já o eletrônico, 
em caso de perda da alimentação, além de não prover a proteção, também impõe a necessidade de religamento 
(reset) ao retorno na tensão de alimentação.
 O DR é tido pelos engenheiros eletricistas como um dispositivo 
que traz segurança ao projeto e tranqüilidade ao projetista e ao 
usuário. Como não há garantias de que, após um longo uso das 
instalações, a corrente passe adequadamente pelos condutores sem 
que haja uma descarga de energia para qualquer aparelho, e como 
não é possível saber se somente o sistema de aterramento dará 
conta de uma falta na passagem da corrente, emprega-se o DR 
como uma medida imprescindível para a prevenção de acidentes. 
 Funcionando como um verdadeiro inspetor de qualidade da 
instalação elétrica, o DR pode, justamente por isso, trazer alguns 
inconvenientes àqueles que o tiverem instalado em sua residência. 
Isso porque, caso uma determinada instalação não esteja nas 
melhores condições de funcionamento, apresentando elevadas 
correntes de fuga, o dispositivo será sempre acionado, seccionando 
a alimentação de energia elétrica, ou seja: o jantar à luz de velas 
virará rotina. Dessa forma, faz-se necessário, obviamente, uma 
análise minuciosa das condições da instalação antes que seja 
colocado o DR.
 Para evitar que acidentes relacionados a choques elétricos 
ocorram, o engenheiro eletricista Hilton Moreno recomenda que o 
morador chame um profissional para verificar se seu edifício possui 
um DR instalado e, caso exista, se está funcionando corretamente, 
se há um sistema de aterramento adequado e ativo, se todas as 
caixas, tanto nas áreas comuns quanto nos apartamentos, têm um 
fio terra em seu interior. Por último, mas não menos importante, 
que a atenção redobre, principalmente, ao manejar equipamentos 
elétricos em ambientes molhados ou sujeitos a lavagens, áreas de 
maior risco.
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 Relativamente simples, embora com mecanismo complexo, os disjuntores e os fusíveis são, 
provavelmente, os dispositivos mais conhecidos de uma instalação elétrica e indispensáveis à sua 
proteção. Nasceram de uma necessidade gerada a partir do desenvolvimento da energia elétrica. 
Primeiro, para proteger o filamento da lâmpada recém descoberta, inventou-se o fusível. Mais tarde, o 
avanço industrial motivou a criação dos disjuntores. 
 Os dispositivos ganharam escala e tornaram-se indispensáveis em praticamente todas as instalações 
elétricas. Ambos têm a missão primária de proteger os componentes dos sistemas elétricos contra 
sobrecargas e curtos-circuitos. 
 Não se sabe quando exatamente surgiu o primeiro fusível. É fato que, nos anos 1860, fios de 
platina desempenhavam seu papel, sendo empregados para proteger cabos submarinos. Oficialmente, 
o primeiro fusível teria aparecido com a patente de Thomas Edison, em 1880, mas há indícios de que 
a primeira alusão ao equipamento data de, pelo menos, cem anos antes. 
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Frutos da 
necessidade
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O fusível 
 As primeiras referências ao fusível que se tem notícia são 
de 1774, em textos de Edward Nairne, quando este menciona 
proteção elétrica em experiências com energia eletrostática. 
Conforme relata o livro Electric fuses, editado pela IEE Power 
& Energy Series, a próxima citação do dispositivo ocorreria 
apenas em 1887, durante a apresentação de um trabalho de A. 
C. Cockburn à Sociedade de Engenheiros Telegráficos. Nesse 
momento, veio a público a informação de que fios de platina 
eram utilizados com o objetivo de proteger cabos submarinos 
em 1864.
 Aproximadamente uma década depois, em 1879, um 
considerável número de “fusíveis” começou a ser utilizado, mas 
descobriu-se que essa simples construção de fios não era adequada 
para algumas aplicações. Foi então que, naquele ano, o professor 
S. P. Thompson introduziu um novo e melhorado modelo de 
fusível. Consistia em dois fios de aço conectados juntos a uma 
esfera metálica. Acreditava-se que a esfera poderia ser uma liga de 
chumbo ou estanho ou algum material condutor com baixo ponto 
de fusão. Quando uma corrente elevada atravessasse o fusível por 
um longo período, derretendo o chumbo, as gotas caiam dos fios, 
interrompendo o circuito. 
 Em um modelo mais sofisticado, Cockburn usou um peso 
para tracionar um fio de platina que se fundia a partir de um 
determinado nível de corrente. Com isso, explica o engenheiro 
eletricista Paulo de Almeida Junior, gerente de marketing da 
Para suprir a necessidade de proteger a lâmpada, nasceu o fusível. Anos mais 
tarde, para atender a uma demanda industrial, o disjuntor foi criado. Com a 
função de oferecer segurança às instalações elétricas, ambos os dispositivos 
logo passaram a ser empregados em larga escala e em todo o mundo.
Bussmann, atuações com correntes eram possíveis entre 1,5 e 2,0 
vezes a corrente nominal atribuída a cada conjunto.
 Uma variação desse sistema foi patenteada em 1883 por C. 
V. Boys e H. H. Curryngham. No seu arranjo, a corrente fluía 
por meio de dois filamentos que eram soldados juntos em suas 
extremidades.
 Alguns mecanismos que desempenhavam a função de 
proteção foram desenvolvidos, mas nada muito parecido ao 
conhecido fusível. Foi então que demonstrações de lâmpadas 
de filamentos incandescentes ocorridas na Grã Bretanha, pelo 
físico Joseph Swan, em 1878, e quase simultaneamente por 
Thomas Edison, nos Estados Unidos, estimularam o surgimento 
dos primeiros fusíveis efetivamente.
 De acordo com o livro Electric fuses, os fusíveis de Swan 
não eram muito empregados para proteger instalações elétricas 
contra sobrecargas ou curtos-circuitos, mas para salvaguardar as 
lâmpadas contra falhas no filamento. O dispositivo compreendia 
um filamento de cobre-latão envolvido em um material arco 
extinguível.
 Já, em 1880, Thomas Alva Edison teria criado o primeiro 
fusível mais parecido com o que vemos no mercado, com o 
encapsulamento de um fio delgado em um cartucho de vidro, 
protegendo as partes adjacentes, ou mesmo algum operador 
próximo, de eventuais faíscas resultantes da atuação do fusível. 
O invento de Edison, segundo o gerente de marketing do Grupo 
Legrand, Antonio Eduardo de Souza, teria sido incitado por um 
problema. Thomas Edison construiu sua primeira central elétrica, 
Fusível desenvolvido por 
Thompson, em 1879.
Modelo de fusível criado por 
Cockburn, no fim do século XIX.
Apoio
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5
A primeira patente do fusível foi adquirida por Thomas Edison em abril de 1881.
Fonte: Bulbcollector.com
 A história define o fusível como um invento de Thomas Edison, mas o físico 
Joseph Swan participou significativamente dessa criação. A dúvida sobre quem 
seria o inventor do fusível foi, inclusive, tema de algumas cartas trocadas entre 
físicos no início do século XX. Parte de uma dessas correspondências, assinada 
por J. H. Holmes, e escrita em 1932, é reproduzida a seguir e evidencia a dúvida 
sobre quem efetivamente teria introduzido o fusível.
 “Relembrando a origem dos fusíveis, eu sempre encontro incertezas sobre quem 
realmente deveria levar o crédito de ser o seu primeiro inventor. Trata-se de um 
caso muito claro de que ‘a necessidade foi a mãe da invenção’.
 Estive procurando registros sobre o que se sabe acerca de fusíveis no início dos 
anos de 1880 e o primeiro volume do livro Electric Illumination – compilado por 
J. Dredge e publicado em agosto de 1882, em Ofícios da Engenharia – revela, na 
página 630, que a patente de Edison, adquirida em 1881, parece ser a primeira 
notificação de fios de proteção. Diz também que o invento de Edison era 
chamado de ‘safety guard’.
 Creio, entretanto, que Swan tenha usado um artifício para o mesmo 
propósito antes de abril de 1881. Isso porque ‘Cragside’ (primeira casa a ser 
iluminada com energiaelétrica, localizada na Inglaterra) perto daqui, foi 
iluminada com as lâmpadas de Swan em meados de dezembro de 1880. (...)
 Na descrição de iluminação elétrica do sistema de Swan, encontrada no 
projeto do Teatro Savoy, de 3 de março de 1882, os fusíveis de segurança 
(shunts) estão referidos ‘não demasiado intencionado a proteger contra os 
perigos, os quais estão próximos à impossibilidade de ocorrer no trabalho 
prático, mas de proteger as lâmpadas contra a destruição por sobrecarga’. Isso 
confirma o que Campbell Swinton disse sobre o Drawing Office at Elswick, 
em 1882, de que já havia ‘um vasto número de chaves, fusíveis, interruptores e 
outros aparatos’ ”.
Origem: Estados Unidos
Data: 1890
Acabamento: vidro transparente
Base: média, ideal para lâmpadas de T. Edison
Curiosidade: Até o ano de 1900, todos os fusíveis de Edison 
eram feitos de vidros transparentes.
Fabricante: General Electric
Origem: Estados Unidos
Data: 1897
Acabamento: porcelana
Cor: latão
Base: média, ideal para lâmpadas de T. Edison
Curiosidade: os fusíveis da GE, de até 25 A, possuíam coberturas 
removíveis de latão. A patente deste fusível permaneceu de 1882 
a 1897.
Fabricante: General Electric
Origem: Estados Unidos
Data: 1919
Tensão: 125 V
Acabamento: porcelana
Cor: latão
Base: média, ideal para lâmpadas de T. Edison
Curiosidade: Os fusíveis de 15 A / 125 V possuíam uma 
cobertura removível de latão e janela de inspeção com formato 
hexagonal. Sua patente teve duração de 1911 a 1919.
Fabricante: General Electric
Origem: Estados Unidos
Data: 1919
Tensão: 125 V
Acabamento: porcelana
Cor: lartão
Base: média, ideal para lâmpadas de T. Edison 
Curiosidade: Os fusíveis de 30 A / 125 V possuíam cobertura 
removível de vidro e janela de inspeção redonda. Sua patente 
teve duração de 1911 a 1919.
Primeiros fusíveis
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Convivência harmônica: fusíveis e disjuntores são empregados 
em instalações elétricas de diferentes níveis de tensão.
em escala industrial, o que corresponde ao final do século 19 e 
começo do século 20. Melhorias foram observadas na primeira 
metade do século 20 relativas à corrente nominal do dispositivo e 
ao tempo de interrupção das sobrecorrentes. Antes de 1926, esses 
tempos eram de cerca de 45 ciclos, sendo que, em 1960, já havia 
disjuntores com tempos de interrupção de dois ciclos.
 Uma das primeiras patentes que se sabe do disjuntor refere-se 
ao voltado para alta tensão, conhecido como SF6, que teria sido 
desenvolvido na Alemanha em 1938 por Vitaly Grosse e, mais tarde, 
em 1951, nos Estados Unidos. No Brasil, os disjuntores começaram 
a ser utilizadas com maior freqüência a partir da década de 1970.
 A retomada da urbanização na Europa e nos Estados Unidos permitiu 
a expansão do setor elétrico e a consolidação de grandes multinacionais 
do segmento, permitindo o desenvolvimento dos disjuntores.
Fusível versus disjuntor
 Os fusíveis apresentam, em geral, menor custo e são mais 
simples do que os disjuntores. O fusível, tendo atuado uma vez, 
deve ser substituído, ao passo que o disjuntor, após o seu desarme, 
pode ser utilizado novamente. No entanto, esta ação pode 
conduzir o usuário comum a simplesmente rearmar o disjuntor 
e ignorar a falha elétrica, assim como substituir o fusível sem 
solucioná-la pode ser perigoso, particularmente, se o problema 
que ocasionou a queima foi um curto-circuito. 
 Na opinião de Almeida Junior, onde há correntes de curto-
circuito mais altas, o fusível ainda tem uma excelente relação 
O disjuntor
 Os disjuntores se distinguem dos fusíveis, pois são dispositivos 
que podem ser rearmados após sua atuação. “São muito mais práticos 
e adequados para aplicações residenciais e mesmo para algumas 
aplicações industriais, onde se tem correntes de curto-circuito 
presumíveis relativamente baixas”, afirma Paulo de Almeida Junior.
 Com função semelhante à dos fusíveis, os disjuntores possuem 
uma corrente nominal definida. Ultrapassado este limite, após 
algum tempo, há o desligamento automático do dispositivo, 
protegendo, dessa maneira, os componentes da instalação. 
 Não se sabe ao certo quando o disjuntor, como o conhecemos, 
teria efetivamente sido inventado. Almeida Junior conta que o 
engenheiro e professor Ademaro Cotrim – biografado da primeira 
edição desta Coleção – costumava dizer que os disjuntores teriam 
sido inventados após a crise de 1929. Segundo ele, nesse período, 
houve um aumento significativo do número de incêndios, pois os 
fusíveis queimados eram substituídos por moedas e outros objetos 
metálicos. Nesse instante, a Westinghouse teria começado a fabricar 
os disjuntores a sopro.
 Uma forma aproximada de disjuntor foi patenteada nos 
Estados Unidos por Thomas Edison, em 1879, muito embora seus 
sistemas usassem fusíveis. O objetivo do dispositivo patenteado era 
proteger a fiação dos circuitos de iluminação contra sobrecargas e 
curtos-circuitos acidentais.
 Há indicações de que os disjuntores começaram a aparecer nos 
Estados Unidos assim que a distribuição de energia se desenvolveu 
em Nova York, movida a carvão, conseguindo acender 7.200 
lâmpadas por vez, mas esses produtos possuíam um filamento 
muito sensível às variações elétricas. Com a missão de resolver a 
questão, nasceu o fusível. 
 O conceito utilizado foi o mesmo empregado nas lâmpadas: 
fusíveis de vidro, com filamentos com base de algodão e ligas 
metálicas, que se rompem após o aquecimento provocado por uma 
sobrecarga ou curto-circuito.
 O consultor técnico da Schneider Electric, Miguel Rosa 
Junior, conta que, no final do século XIX, houve um grande 
avanço quanto ao design dos fusíveis, quando um engenheiro 
da Brush Electrical Engineering Company, W. M. Mordy, 
patenteou o primeiro fusível elétrico tipo cartucho. Este 
dispositivo era preenchido com um material que extinguia o 
arco elétrico gerado na atuação do dispositivo, seccionando e 
protegendo o circuito em caso de falta.
 Com o tempo, os fusíveis ganharam alto desempenho, designs 
modernos e tamanhos reduzidos, mantendo o mesmo conceito, mas 
agora composto por um envoltório cerâmico e por um elemento 
que se funde, no caso de uma sobrecarga ou curto-circuito. Este 
elemento está imerso em um material arco extinguível arenoso, 
que elimina o arco elétrico gerado durante sua fundição.
 Os fusíveis ganharam emprego em todo o mundo, protegendo 
instalações domésticas, automotivas e industriais em larga escala 
e em todos os níveis de tensão. A evolução das normas técnicas 
e o desenvolvimento tecnológico industrial foram os principais 
contribuintes para o aperfeiçoamento do dispositivo.
Disjuntor – alguns dados históricos
1902 Fábricas começam a investir na produção de linhas de fusíveis
1904 Cutter Manufacturing Co., localizada na Philadelphia (EUA), começa a produzir 
 interruptores de circuitos. A companhia introduziu um produto que se tornou um 
 sucesso industrial. Este novo dispositivo protetor, primeiro utilizado como elemento 
 interruptor de tempo inverso, passou a ser conhecido como I-T-E interruptor 
 (I-T-E breaker) 
1921 Merlin Gerin fabrica o primeiro disjuntor a óleo para alta tensão
1925 O Código Norte-Americano de Eletricidade (NEC) exige que os disjuntores 
 sejam encapsulados e de fácil operabilidade
1932 Westinghouse inicia comercialização de seu disjuntor a sopro modular
1935 Square D fabrica o primeiro disjuntor para uso residencial
1951 Square D introduz os disjuntores do tipo plug-in no mercado
benefício-custo, pois são muito mais baratos e compactos que 
os disjuntores correspondentes. “Hoje podemos ter um fusível 
atuando dentro de uma seccionadora para uso em redes de até 
200 kA de curto-circuito presumido e com tamanho idêntico a 
um minidisjuntor modular de 18 mm”.
 Ele acrescenta que, com o crescente uso de automação, 
com o uso de inversores de freqüência e outros dispositivosde partida e parada suave à base de componentes eletrônicos 
de potência (tiristores, transistores, diodos e IGBTs), o 
fusível ainda se mantém como um dispositivo atual, pois é o 
único que consegue atuar em menos de meio ciclo de onda, 
limitando adequadamente o I2t, que é a energia que fluiria para 
os componentes eletrônicos sensíveis. São os fusíveis “ultra-
rápidos”, indicados para uso em correntes de curto-circuito de 
até 300 kA. Tais fusíveis são confeccionados com elementos 
de prata, enclausurados em um corpo de um tipo de cerâmica 
especial, chamada esteatita, preenchido com areia impregnada 
com resina curada em autoclaves. 
 A maior evolução nos disjuntores nos últimos anos foi, de 
acordo com Miguel Rosa Junior, os limitadores, que possuem a 
capacidade de atuar de forma muito rápida em curtos-circuitos 
de alta intensidade. Quanto maior o nível de curto-circuito, mais 
rápida é a atuação de disparos do disjuntor. Com isso, foi possível 
utilizar os disjuntores em aplicações heavy-duty (mineração, 
siderurgia) ou sensíveis (hospitais, data centers), em razão do 
alto grau de eficiência na resposta às ocorrências anormais que 
possam surgir nas instalações elétricas.
Apoio
 Quando chegou em terras brasileiras para começar uma nova etapa de sua vida, o engenheiro 
eletricista português Armando Reis Miranda já não era mais nenhuma criança. Tinha 52 anos, 
uma família formada e uma carreira estruturada em Lisboa, cidade na qual nascera e vivera até 
aquele momento. Com tudo isso, por que mudar então? Trocar a solidez conquistada com duro 
esforço na Europa por um caminho movediço em um país estrangeiro parecia insensatez mesmo 
para o mais aventureiro e destemido dos homens. 
 Entretanto, o engenheiro não tinha muitas alternativas: ou procurava outro país para viver ou 
ficava em Lisboa e enfrentava os dias tumultuados da Revolução dos Cravos, movimento liderado 
por comunistas, que começou em 1974, e exigia severas reformulações na estrutura sociopolítica 
de Portugal. Por já ter uma vida estabilizada e algumas posses, Miranda tornou-se um dos alvos 
dos revolucionários que tinham o intuito de balançar as estruturas. “Mais de uma vez recebi 
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Repetindo seus antepassados, o engenheiro português Armando Reis Miranda 
cruzou o oceano atlântico para desbravar novas terras. Conseguiu o seu espaço e 
atualmente é um profissional respeitado no país que escolheu para viver.
telefonemas em casa com ameaças de morte”, conta. “Não pude 
aguentar àquela loucura toda e por isso resolvi ir embora”. 
 Em março de 1975, Miranda despediu-se de sua esposa e 
dos seis filhos e viajou para a Bélgica, ficando pouco tempo por 
lá. “Naquela época, a Europa inteira passava por um momento 
conturbado”, diz. Em julho do mesmo ano, ele já estava no 
Brasil, país que havia sido destino de seu irmão mais novo 
algum tempo antes. Ao contrário de seu irmão, que ficou pouco 
tempo por aqui, Miranda ficou e acreditava que podia contribuir 
muito com sua vasta experiência para um país relativamente 
jovem como o Brasil. Acertou.
Em Portugal
 A experiência de Armando Reis Miranda, em sua grande 
parte, foi conseguida em Portugal, mais especificamente, em 
Lisboa, cidade na qual nasceu em 1923. Com 24 anos, Miranda 
formou-se engenheiro eletricista pelo Instituto Superior Técnico 
e começou a trabalhar na área, como assistente, no laboratório 
da universidade em que havia estudado. A primeira atitude 
que tomou logo depois de se formar, porém, não foi arrumar 
um emprego e sim casar-se com Maria Fernanda. Estão juntos 
desde então. “Já são 61 anos de união”, conta o engenheiro.
 Logo depois, Miranda foi servir o exército português, 
obrigatoriedade como aqui, com a diferença de que, no Brasil, 
o jovem deve alistar-se ao completar 18 anos e, em Portugal, 
é possível esperar o término dos estudos universitários. O 
engenheiro conta que os militares lusitanos prezam pela 
qualificação de seus novos integrantes, utilizando-a em 
benefício das forças armadas. No entanto, Miranda não quis 
seguir carreira e, findado o tempo obrigatório de serviço militar, 
ele foi empregado como técnico em acústica do Laboratório de 
Engenharia Civil de Lisboa, função que exerceu até o ano de 
1954.
 Antes de finalizar seu período como técnico no laboratório, o 
engenheiro abriu, em 1953, com alguns colegas, uma sociedade 
para a realização de projetos na área elétrica. A empresa de 
Miranda não se limitava apenas a isso e fabricava também 
quadros elétricos de média e baixa tensão . “Projetávamos e 
comercializávamos também instalações elétricas para carros”, 
acrescenta o engenheiro. “Chegamos a ter mais de 300 
funcionários”.
Navegar é preciso
Miranda introduziu no País a técnica de utilizar as ferragens das fundações dos edifícios para realizar a proteção contra descargas atmosféricas.
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 O crescimento e o sucesso da empresa de Miranda também 
refletiram na internacionalização de seus negócios. A fábrica 
chegou a ter até uma sucursal em Angola e, por conta disso, o 
engenheiro português chegou a morar seis meses no país africano. 
Outros países para os quais Miranda vendia seus equipamentos 
e prestava serviços eram Bélgica, Inglaterra e Alemanha. Para 
este último, por conta dos negócios, o engenheiro eletricista 
chegou a ir muitas vezes. “Cheguei até a aprender o idioma 
alemão”, diz. 
 A aventura empresarial de Miranda terminou com a venda 
de sua empresa de painéis elétricos a uma gigante alemã, a 
Siemens. O engenheiro relata que, mesmo após a passagem do 
comando da fábrica aos alemães, ele continuou trabalhando na 
área, como prestador de serviços à Siemens. Posteriormente, 
veio a Revolução dos Cravos, o descontentamento com a 
situação de Portugal e o exílio. Como um navegador da época 
do descobrimento, Miranda aportou em terras tupiniquins.
No Brasil
 O começo foi difícil. Praticamente sozinho na cidade de São 
Paulo, Miranda teve de se virar. Além de seu irmão, o engenheiro 
eletricista conhecia poucas pessoas em solo brasileiro, somente 
alguns engenheiros, professores da Universidade de São Paulo 
(USP), para os quais, em Portugal, já havia escrito cartas 
com o intuito de se inteirar a respeito do mercado brasileiro. 
Deu certo, conseguiu um emprego no Consórcio Nacional 
de Engenheiros Consultores (Cenel), mas ficou pouco tempo 
por lá, sendo contratado, em 1976, pela Themag Engenharia 
e Gerenciamento, na qual participou da construção da usina 
hidrelétrica de Itaipu.
 A experiência conquistada na Themag ficou, mas o emprego 
não. Menos de um ano depois de ter iniciado suas atividades 
na empresa, Miranda conseguiu um novo: em uma companhia 
finlandesa que realiza projetos elétricos na área de papel e 
celulose chamada Jäakko Poyry. Dessa vez, o engenheiro veio 
para ficar e só deixou a empresa onze anos depois, em 1988. 
Neste intervalo, houve mais histórias para contar que reiteram 
sua competência. 
 Miranda relembra que, certa vez, na Jääkko Poyry, ao 
desenvolver programas de computação na área elétrica para 
estabilidade, fluxo de carga e aterramento, que seriam utilizados 
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a“Schelkunoff entendeu que a teoria da 
energia irradiada para a luz solar poderia 
ser utilizada na eletrodinâmica. Eu aprendi 
desse jeito na faculdade, mas não está certo” 
Armando Reis Miranda
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Querela com Schelkunoff
 Propiciar que Armando Reis Miranda participasse 
do projeto de um dos maiores empreendimentos 
geradores de energia elétrica do mundo não foi a única 
coisa que a Themag fez pelo engenheiro, pois, segundo 
ele, foi trabalhando pela empresa que ele se deu conta 
de que aquilo que haviam lhe ensinado na faculdade de 
engenharia estava errado. Miranda refere-se à utilização, 
porparte do matemático russo, Sergei Alexander 
Schelkunoff, dos estudos sobre eletromagnetismo feitos 
pelo físico e matemático escocês James Clerk Maxwell 
sobre a Lei da Indução Magnética e do físico e químico 
inglês Michael Faraday.
 De acordo com o engenheiro eletricista português, 
Schelkunoff acreditou que se podia empregar as teorias 
de Maxwell sobre energia irradiada e energia conduzida. 
“Ele generalizou; tirou que a luz natural era eletricidade. 
Ele entendeu que a teoria de energia irradiada para luz 
solar poderia ser utilizada na eletrodinâmica. Eu aprendi 
desse jeito na faculdade, mas não está certo”, desabafa 
Miranda, que, desde então, tenta convencer as pessoas 
da área sobre isso. “Mas convencer os professores das 
universidades é muito difícil. Eles acham que é mais 
cômodo deixar como está”.
 Segundo o engenheiro eletricista, o que lhe falta de 
apoio entre os acadêmicos sobra entre os profissionais 
das indústrias. E este suporte foi um dos fatores que 
levou Miranda a publicar, em 1994, o livro Instalações 
Elétricas Industriais, publicação que, conforme o 
engenheiro, versa, entre outros assuntos, a respeito das 
teorias do cientista russo e de suas impossibilidades. 
 Em relação aos leitores, Miranda não tem dúvidas 
de que muitos deles seguem o que está escrito em sua 
publicação. “Isso está claro porque não podem acreditar 
nas fantasias que os professores universitários ensinam”, 
afirma. O livro do engenheiro teve, até o momento, 
somente uma edição, mas, caso haja mudanças referente 
aos ensinamentos de Schelkunoff, Miranda promete 
uma revisão e a segunda edição de seu livro. 
 Com o intuito de difundir ainda mais sua crítica 
em relação ao cientista russo, Miranda não se limitou 
apenas ao livro e escreveu uma série de artigos para uma 
revista especializada. Em um deles analisou a eficácia 
de procedimentos de proteção contra os efeitos da 
corrente do raio, apresentou um caso real e resultados 
de ensaios, apontando o motivo de muitos erros e 
tropeços nessa abordagem. Nada mais que o estudo 
de Sergei Schelkunoff, considerado uma referência na 
matéria, e que ignora, segundo Miranda, de forma 
generalizada, a Lei da Indução Magnética, de Faraday, 
que é indispensável.
por ele na filial brasileira, o sucesso foi tanto que ele foi 
chamado para implantar o mesmo sistema na sede situada na 
Finlândia. Lá, mais uma outra oportunidade: realizar programas 
de computação para serem utilizados em linhas de alta tensão. 
Concomitantemente ao trabalho na companhia finlandesa, o 
engenheiro eletricista atuava como consultor privado na J. Alves 
Veríssimo, proprietária do Grupo Eldorado. Miranda entrou na 
empresa por volta de 1978 e prestou serviços até 1990, ano em 
que se aposentou definitivamente. 
 Foi na J. Alves Veríssimo que ele conheceu o engenheiro 
civil e eletricista Eurico Freitas Marques. Os dois fizeram 
parte da equipe de engenheiros responsável pela construção do 
tradicional shopping paulistano Eldorado e de seu supermercado, 
que agora pertence ao Carrefour. “Eu projetei a parte hidráulica 
e ele a elétrica”, conta Marques, que chegou ao Grupo em 1983, 
cinco anos depois da entrada de Miranda. 
 De acordo com Eurico Marques, o engenheiro português foi 
de extrema importância para o projeto do Shopping Eldorado. 
Expert na parte de aterramento, Miranda foi o responsável por 
todo o sistema de proteção contra descargas atmosféricas do 
shopping. Aliás, foi ele quem introduziu no País a técnica de 
utilizar as ferragens das fundações dos edifícios para realizar tal 
função. “Isso já era feito na Inglaterra e em alguns outros países, 
mas fui eu quem trouxe essa técnica para o Brasil”, afirma o 
engenheiro eletricista português. Antes, conforme Miranda, as 
construções brasileiras costumavam ter descidas externas para 
realizar a proteção.
 Marques destaca também a importante participação de 
Miranda na redução do fator de potência da energia consumida 
pelas instalações do Shopping Eldorado. Segundo o engenheiro 
eletricista e civil, essa era uma grande preocupação do Grupo, já 
que acarretava em um aumento da conta de energia elétrica paga 
pela empresa. Por meio de um processo de racionalização em que 
programava o início de funcionamento dos equipamentos do 
shopping, principalmente dos condicionadores de ar, Miranda 
conseguiu solucionar o problema. 
 Paralelamente ao trabalho como engenheiro eletricista na 
Jääkko Poyry e na J. Alves Veríssimo, Armando Reis Miranda 
também arrumou tempo para ajudar seus companheiros 
de profissão com questões relacionadas à normalização de 
equipamentos e instalações elétricas. “Eu participei durante 
muito tempo do Comitê Brasileiro de Eletricidade, Eletrônica, 
“Miranda era um participante ativo 
das reuniões do Cobei. É um profissional 
obstinado por essa área normativa” 
Paulo Barreto
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Iluminação e Telecomunicações (Cobei) na área de descargas 
atmosféricas, instalações elétricas prediais e subestações”, conta 
o engenheiro, que pelo Cobei ajudou também na elaboração da 
norma de caldeiras elétricas. 
 No Cobei, Miranda participou também da elaboração 
da famosa NBR 5410. Durante as reuniões, ele conheceu o 
engenheiro eletricista Paulo Barreto, que pôde acompanhar 
de perto o trabalho do engenheiro português. “Ele era um 
participante ativo”, avalia Barreto. Ainda é, pois, de acordo com 
Barreto, o engenheiro continua participando das reuniões. “Ele 
é um profissional obstinado por essa área normativa”, diz. 
Uma grande família
 Aos 85 anos, Miranda continua trabalhando. Aposentando 
há mais de 15 anos, ele, como haveria de ser, diminuiu o 
ritmo, mas sempre que pode, coloca sua vasta experiência em 
prática, prestando serviços com consultor. Menos trabalho, 
mais tempo para família. E que família! São seis filhos que se 
multiplicaram em 16 netos e dois bisnetos. 
 Miranda informa que, no entanto, nem todos moram 
aqui. Como já tinha mais de cinqüenta anos quando migrou 
para o Brasil, alguns de seus filhos, com raízes mais fincadas 
em Portugal, decidiram não seguir os passos do pai. “Quatro 
deles vieram para cá, mas um logo voltou”. E dos filhos que 
resolveram ficar no Brasil, um deles atualmente mora nos 
Estados Unidos. 
 No apartamento de um prédio na Alameda Casa Branca 
moram Armando Reis Miranda e sua esposa Maria Fernanda, 
que simpaticamente interrompe a entrevista para nos oferecer 
um cafezinho. Não obstante a idade avançada, o casal mostra 
vitalidade e bom humor. “Eu não quero café”, diz Miranda. 
“Para você é facultativo”, redargüi Maria Fernanda.
 Sobram histórias na trajetória de Miranda, histórias de 
uma vida que ele mesmo define como agitada. A agitação 
passou, parece, pelo menos diminuiu, como acontece com 
todo mundo, mas a energia de continuar tocando projetos 
ainda permanece, o mais arrojado deles é a revolução que o 
engenheiro pretende estabelecer na aplicação atualmente feita 
pelos engenheiros da Lei da Indução Magnética. Esperemos 
os próximos capítulos da vida do engenheiro português, ou 
melhor dizendo, brasileiro.
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Golpe baixo
Produtos falsificados de todos os segmentos econômicos são encontrados, sem 
grandes esforços, em toda parte. Além de oferecem riscos aos consumidores, 
sua existência é criminosa, incita a concorrência desleal e desmotiva empresas a 
investirem em pesquisa e desenvolvimento
 O primeiro a usar o termo “pirata” foi Homero, na Grécia antiga, para descrever aqueles que depredavam e 
roubavam navios e cidades costeiras. Piratas navegavam pelos mares, especialmente, seguindo rotas comerciais 
com o objetivo de saquear outros navios e apoderar-se de riquezas. O termo tornou-se popular, sofreu algumas 
transformações ou atualizações ao longo do tempo, mas não perdeu seu caráter ilícito. Assim, piratarias e outras 
formas de contravençãoganharam espaço, atingindo diversas esferas da economia. O segmento de materiais 
elétricos não ficou de fora.
 Grandes empresas do mercado de instalações elétricas enfrentam, há anos, problemas com cópias de produto 
e de marca e, ainda, com propriedade industrial. O mais visível é o caso dos artigos eletrônicos, como softwares, 
CDs e DVDs, cujas cópias são encontradas fácil e abundantemente no Brasil e em praticamente todos os 
lugares do mundo. Vindos principalmente de países da Ásia, os produtos copiados são também frutos do 
desenvolvimento tecnológico. Nunca foi tão fácil copiar alguns produtos, especialmente os eletrônicos. Criam-
se mecanismos com o objetivo de coibir e tornar mais difícil a cópia, mas, sem grande demora e dificuldade, 
o método criado é burlado ou também é copiado. É o caso, por exemplo, de selos holográficos e de marcas de 
certificação de produtos. 
 Leis que dão direitos de uso de uma criação exclusivamente ao seu criador são relativamente recentes, 
principalmente no Brasil. Primeiro, teria nascido uma preocupação com a propriedade intelectual. Na 
Antiguidade e na maior parte da Idade Média, as dificuldades inerentes aos processo de reprodução dos originais, 
por si só, já exerciam um poderoso controle da divulgação de idéias, pois o número de cópias de cada obra era 
naturalmente limitado pelo trabalho manual dos copiadores.
 Com a invenção da imprensa, os soberanos sentiram-se ameaçados ao ser democratizada a informação. 
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Então, em 1557, depois que Wiliam Caxton introduziu a máquina 
de escrever na Inglaterra, Filipe e Maria Tudor concederam 
à associação de donos de papelaria e livreiros o monopólio real 
para garantir-lhes a comercialização de escritos, a fim de evitar a 
cópia desenfreada dos livros. Esse privilégio recebeu o nome de 
copyright, que garantia o direito aos comerciantes e não aos autores 
dos textos.
 Foi a primeira lei inglesa, de 1710, que dava ao criador o direito 
exclusivo sobre um livro por 14 anos, renovável por mais 14. A 
legislação americana baseou-se na inglesa e, nos atos de patentes 
e de direitos autorais de 1790, retomou os períodos de 14 anos, 
também renováveis por outros 14. 
 A propriedade intelectual pode ser dividida em duas categorias: 
direito autoral e propriedade industrial. O inventor, entretanto, 
só passa a ter direito à propriedade industrial depois de adquirir a 
patente do invento.
No Brasil
 As primeiras cópias em massa teriam surgido nos anos 1960, 
no segmento da confecção. O advogado e sócio-proprietário do 
escritório especializado Nobel Marcas e Patentes, Geraldo Evandro 
Papa, conta que camisetas e peças de roupas em geral são muito 
simples de serem copiadas. A partir de então, outros produtos 
passaram a ser pirateados. 
 Ele diz que o causador dessa ação criminosa foi o fechamento 
do mercado brasileiro em 1976. “Até essa data era possível a 
importação, mas com o fechamento do mercado começou a 
aparecer os produtos falsificados”. Segundo ele, até os anos 1980, 
por exemplo, não havia cópia de músicas. “O vinil não era algo 
fácil de se copiar, mas quando chegamos à tecnologia do CD a 
pirataria ganhou dimensões elevadas”, diz.
 Outro ponto para a proliferação do mercado pirata no Brasil 
deve-se ao baixo poder aquisitivo da população. “As pessoas acabam 
escolhendo produtos mais baratos, mesmo que não sejam os 
originais”, diz Papa. Além disso, o custo da pirataria hoje é muito 
baixo e os copiadores aproveitam-se da lentidão do sistema judiciário. 
“A impunidade gera certa segurança para quem comete o ato ilícito”, 
afirma. Ele conta que, de maneira diferente do que ocorre aqui, em 
outros países, o poder judiciário é rápido e rigoroso, o que acaba 
coibindo, em parte, a infração. 
 No Brasil, o tema é regido pelas Leis 9.279/96 (marcas e patentes), 
9.609/98 (software) e 9.610/98 (direitos autorais), além de tratados 
internacionais, como as Convenções de Berna, sobre direitos autorais, 
e de Paris, sobre propriedade industrial. O Instituto Nacional da 
Propriedade Industrial (Inpi) é o órgao brasileiro responsável pelas 
marcas, patentes e desenhos industriais.
Implicações jurídicas
 Basicamente, existem duas formas de pirataria: a pirataria pura, ou 
seja, a cópia exata de um produto; e a contrafação da marca, isto é, a 
violação da marca por imitação ou reprodução.
 No caso da cópia idêntica, a intenção é ludibriar inteiramente 
o consumidor. A idéia é que se compre um produto falso como 
se ele fosse original, é o conhecido “tomar gato por lebre”. Até as 
marcas de certificação viraram alvo dos copiadores. Selos, como 
do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade 
Industrial (Inmetro), da ISO 9001 e de laboratórios que atestam 
determinado grau de qualidade ou a conformidade com uma 
norma ou regulamento são copiados e anexados a produtos não 
qualificados por esses organismos com o claro objetivo de enganar 
o consumidor.
 Alguns materiais elétricos, por exemplo, só podem ser 
comercializados se forem certificados, atestando sua conformidade 
a uma norma técnica. Para livremente circular no mercado, 
produtos de origem duvidosa levam o selo falso do órgão avaliador 
ou certificador. Ou seja, nem sempre um produto “certificado” 
 A concorrência desleal e a 
conseqüente perda de mercado para 
as empresas - frutos da pirataria - 
desmotivam o desenvolvimento de 
produtos nacionais.
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está de acordo com o que os regulamentos exigem. Evandro Papa 
acrescenta: “a empresa diz que está em conformidade, mas não 
está. Isso pode gerar um processo criminal contra esse fabricante”.
 O chefe substituto da Divisão de Programas de Avaliação da 
Conformidade da Diretoria de Qualidade do Inmetro, Leonardo 
Machado Rocha, conta que uma maneira encontrada para evitar 
a contravenção da marca Inmetro foi extinguir a certificação 
voluntária no âmbito do Instituto. Com a Portaria 73/2006, 
os produtos com conformidade avaliada voluntariamente por 
organismos acreditados pelo Inmetro, e não decorrente de 
Programas de Avaliação da Conformidade do Instituto, devem 
conter unicamente a marca do organismo avaliador.
 Há ainda a violação de uma marca pela imitação. Empresas 
que usam nomes parecidos, que retiram, por exemplo, uma 
letra da marca, usam cores e fontes parecidas com o intuito de 
confundir o consumidor. Papa explica que a contrafação da marca 
ocorre somente dentro do mesmo segmento econômico, ou seja, 
a Lei proíbe que marcas parecidas ou iguais coexistam dentro de 
um mesmo setor, mas permite a existência da segunda marca se 
elas atuarem em áreas distintas. Há, entretanto, uma exceção. A 
Justiça não consente o registro de uma marca semelhante ou igual a 
outra marca considerada especial, chamada de “auto-renome” pela 
legislação, mesmo se forem em segmentos diferentes. Trata-se das 
marcas conhecidas nacionalmente. Por exemplo, não se pode dar a 
um carro o nome de Coca-cola, marca de auto-renome. 
 Não é crime, entretanto, copiar produtos que já caíram no 
domínio público. O crime acontece apenas quando há cópia 
parcial ou integral de produtos e marcas que estão protegidos pela 
propriedade intelectual. Mas como funciona na prática?
 Não existe fiscalização para a pirataria. O que existe é a denúncia. 
O advogado Evandro Papa conta que há ações das prefeituras e 
da polícia que coletam produtos nas prateleiras para análise e que 
reprimem a atividade do comércio ambulante, mas para vistoriar 
uma fábrica especializada em uma linha de produção de peças 
falsificadas só é mesmo possível a partir de uma denúncia. 
 Existe uma delegacia especializada em propriedade intelectual. O 
fabricante, dono do direito e que teve seu produto copiado, deve fazer 
uma denúncia e, com uma autorização judicial, o oficial de justiça faz 
uma busca e apreensão do material falsificado.É preciso provar que 
o seu produto é original, por meio da patente ou de outros recursos. 
Para isso, há ainda uma perícia técnica que deve comprovar ou não 
a violação da patente. Com o laudo pericial, o titular pode, então, 
apresentar uma queixa e entrar com uma ação cível ou criminal. “O 
problema é que a pena para esse tipo de crime é muito pequena, por 
isso, os titulares das causas, normalmente, apresentam queixas cíveis”, 
afirma Papa. Para o crime de violação de marcas, a pena é de três a 12 
meses de reclusão ou uma multa.
 No caso de uma ação cível, os resultados podem ser mais 
satisfatórios, considerando que, caso não se consiga quantificar o 
montante de produtos falsos vendidos, a legislação determina que a 
indenização seja o valor original de duas mil cópias da peça. “Esse 
aspecto, de indenização, acaba sendo uma forma mais atrativa, até como 
meio de forçar o concorrente a deixar de praticar este ato”, enfatiza. 
Comprovando-se o crime, a linha de produção do determinado 
material é suspensa ou a fábrica é fechada. A Justiça define, ainda, uma 
multa diária para o infrator enquanto ele não suspender a produção.
 O advogado ressalta a importância de se obter a patente. De acordo 
com o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), “patente é 
um título de propriedade temporária sobre uma invenção ou modelo 
de utilidade, outorgados pelo Estado aos inventores ou autores ou 
outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras de direitos sobre a criação. 
Em contrapartida, o inventor se obriga a revelar detalhadamente todo 
o conteúdo técnico da matéria protegida pela patente”.
 Existem duas formas de patentes: de invenção e de modelo de 
utilidade (aperfeiçoamento de produtos existentes). A primeira tem 
duração de 20 anos, já a patente de modelo de utilidade vigora pelo 
prazo de 15 anos. Há, ainda, um terceiro tipo de proteção que é o 
registro do desenho industrial, que se refere apenas ao formato externo, 
estético do produto. A esse direito dá-se dez anos de exclusividade, 
prorrogável por mais três períodos de cinco anos cada. 
Outras conseqüências 
 As conseqüências da pirataria e da contrafação de produtos têm 
sido catastróficas para o País, gerando perda de empregos formais, 
sonegação de impostos e redução dos lucros legítimos. Além disso, 
outro efeito considerável dessa ação criminosa é o desestímulo à 
criação industrial, o que, por sua vez, traz danos à economia, à cultura 
e ao desenvolvimento nacional de modo geral. 
 A indústria nacional fica desmotivada perante a concorrência 
desleal e a conseqüente perda de mercado. Diante disso, as empresas 
deixam de investir tempo e dinheiro no desenvolvimento de produtos 
que, logo, serão copiados.
 A não aquisição de patentes pode ser, inclusive, prejudicial à 
empresa. Papa conta que era comum, nos anos 1970, a empresa lançar 
um produto que sofre uma cópia e a fabricante original sofrer uma 
ação por cópia. “A patente é sempre uma garantia”, ratifica. É preciso 
ter um cuidado com os prazos. Lançado o produto, a empresa deve 
imediatamente adquirir a sua patente, pois, passado o prazo de um 
ano, o produto não pode mais ser objeto de patente por deixar de ser 
uma novidade. 
Herança cultural
 Além dos preços elevados dos produtos originais, contrapondo-se 
ao baixo poder aquisitivo brasileiro, da alta carga tributária e de outros 
fatores, uma das explicações para a difusão do mercado da falsificação 
no Brasil vai ao encontro da teoria de que o brasileiro recorre à sua 
cultura de sempre buscar o caminho mais fácil. Estará no sangue do 
brasileiro a preferência pela maneira alternativa, ilegal, mais fácil e 
conveniente do que seguir a lei e fazer a coisa certa? Os traços culturais 
certamente oferecem um campo saudável para a germinação da 
pirataria, mas o Brasil é uma soma de características, de raças, culturas, 
povos, em que tudo e todos encontram um “jeitinho” de dar certo. 
 No mundo, em 2006, a pirataria movimentou US$ 516 bilhões, 
60% a mais que a indústria de drogas. Inúmeras organizações são 
formadas a fim de impedir a expansão desse movimento. É o caso 
do Comitê Interministerial de Combate à Pirataria, criado em 
2001, a CPI da Pirataria em 2003, mais tarde o Conselho Nacional 
de Combate à Pirataria e Delitos Contra a Propriedade Intelectual 
(CNCP), entre outras entidades. Na contramão, estão as ramificações 
do Partido Pirata, que já existe em vários países da Europa, como 
Espanha, França, Alemanha e Suécia, além de Austrália, Estados 
Unidos e também da América Latina, como a Argentina, Chile, Peru 
e Brasil. O seu objetivo é politizar a discussão e, de alguma forma, 
estimular e legalizar algumas ações da pirataria.
 Como vimos, a pirataria e a contrafação de produtos e marcas 
não são exclusividades brasileiras. Pelo contrário, é fato que a maioria 
dos produtos contrafeitos comercializados aqui é produzida em outros 
países, como China, Taiwan, Bolívia, entre outros. No caso dos 
materiais elétricos, os chineses batem de frente com grandes indústrias 
do setor. Mas como será que eles enxergam essa atividade?
 Na opinião de Evandro Papa, assim como os japoneses não 
eram vistos com bons olhos, há alguns anos, quando começaram a 
desenvolver seu parque tecnológico, os chineses também enfrentam 
hostilidades. “Mas a tecnologia deles progrediu e, hoje, quem não tem 
um televisor japonês em casa?”, conclui. O consultor técnico senior da 
Schneider Electric, Luiz Rosendo Tost Gomez, concorda: “Há anos os 
produtos chineses eram realmente ruins, mas já temos produtos bons 
também”. Segundo ele, assim como os japoneses, os chineses vão se 
aperfeiçoar e desenvolver a sua tecnologia própria, sem precisar copiar. 
É o que veremos.
Rua Santa Ifigênia, em São Paulo (SP), tornou-se referência em produtos 
eletrônicos importados e falsificados.
"A impunidade brasileira confere 
certa segurança para quem comete a 
pirataria e a contrafação de produtos" 
Advogado Geraldo Papa
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 É fato histórico que, nos primórdios de sua existência, o homem levava uma vida nômade, não possuía 
ainda a técnica da agricultura e vagava a esmo pelo território em busca de alimento, que poderia vir por meio 
da caça ou pela coleta. Sem laços que o prendessem a um determinado lugar, o homem errava. Dessa forma, a 
construção de moradias se fazia desnecessário e quando elas existiam eram instalações precárias, improvisadas, 
com o objetivo não de fixar residência, mas como uma espécie de solução emergencial.
 Aos poucos, no entanto, a situação mudou e o homem aderiu às práticas sedentárias. Sua vida deixou de 
ser uma eterna peregrinação e fincou raízes. Pequenos agrupamentos humanos acabaram por se encorpar e 
sociedades cada vez mais complexas se estabeleceram. Com elas surgiram habitações rudimentares, que deram 
lugar a construções mais rebuscadas, além de cabanas, que cederam espaço para habitações de pedra e tijolos, 
o que refletia o desejo por uma rotina estável e duradoura. 
 Certamente, as primeiras construções não primavam pelo refinamento estilístico e deveriam ser realizadas 
muito mais na base da intuição do que no emprego sistemático de uma técnica. Entretanto, como homem tem 
a peculiaridade de aprender com seus erros, muitas edificações tiveram de cair para que o homem descobrisse a 
fórmula correta. A prática levou à teoria, que consolidou a técnica, o que permitiu, com o decorrer do tempo, 
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Da rudimentaridade dos instrumentos analógicos à eficiência obtida pelas novas 
tecnologias computacionais:a transformação das atividades realizadas pelo engenheiro 
projetista de instalações elétricas através dos tempos.
a utilização de desenhos, esboços, projetos com o intuito de facilitar a 
construção de edificações.
 O engenheiro e arquiteto romano, Marcus VitruviusPollio, 
conhecido popularmente apenas como Vitrúvio, aparece como o 
primeiro a transmitir, por meio de um documento, certas regras para a 
construção. No século I a.C., ele elaborou o tratado “De Architectura”, 
em que abordava os requisitos mecânicos e estruturais de habitabilidade 
das edificações. O texto de Vitrúvio apontava também quais deveriam ser 
as características construtivas, a geometria e as propriedades dos materiais 
utilizados nas edificações. A partir dele, a atividade de construção, que 
até o momento era realizada de forma prática, com conhecimentos 
passados oralmente, passa a ter um tratamento teórico e formal.
Um novo profissional
 Como tudo se transforma, também as novas invenções aparecem 
modificando o modo de vida de cada indivíduo. Conseqüentemente, 
as moradias são adaptadas para comportarem o surgimento de novas 
engenhocas e os projetos a serem desenvolvidos após estas transformações 
devem apresentar espaços antes não pensados. Obviamente, no que 
se refere às instalações elétricas, os projetos de construção passam a 
contemplá-las quando a eletricidade torna-se aplicável, ou seja, quando 
o homem inventa um uso para ela. 
 Com a sedimentação desta prática, a sociedade passa, em pouco 
tempo, a desenvolver-se fortemente baseada na eletricidade e, quando 
se percebe, praticamente, nada em casa, ou no trabalho, pode funcionar 
sem ela. Como não poderia deixar de ser, a atividade de quem é 
responsável pelo desenvolvimento da parte elétrica de um projeto 
de construção ganha em importância. Sua trajetória desenvolve-se, 
basicamente, como a de todos os outros projetistas e irá passar por uma 
radical transformação com o advento da informática.
 No que tange à atividade do projetista de instalações elétricas, 
ela pode ser dividida, a grosso modo, em duas áreas: a teórica, 
na qual o engenheiro realiza os cálculos, e a prática, em que ele 
elabora os desenhos. Na parte de cálculos, não há muitos mistérios, 
o profissional aprende na faculdade as teorias e as aplica quando 
exigido. Contudo, na vida profissional, aprende-se que é preciso 
otimizar o tempo e instrumentos foram criados com a finalidade 
de facilitar o trabalho do engenheiro, que pôde se dedicar a um 
número maior de projetos. 
Da régua à supercalculadora
 Um dos equipamentos mais antigos para ajudar os projetistas de 
instalações elétricas nas contas é a régua de cálculo. Criada em 1638 
pelo padre inglês William Oughtred e tendo como base a tábua de 
logaritmos, a régua foi utilizada com regularidade até a década de 1970, 
quando cedeu lugar às calculadoras eletrônicas. As réguas de cálculo 
sempre foram de muita ajuda, principalmente quando era necessário 
o cálculo com números muito grandes, mas apresentam uma certa 
limitação, já que não fornecem valores aproximados.
 Formado em 1955, o engenheiro eletricista e proprietário da 
consultoria Engenharia SC Ltda., Carlos Vieira, trabalhou bastante 
com réguas de cálculo. Ele conta que havia uma matéria na faculdade 
apenas para aprender a lidar com a ferramenta. “No primeiro ano de 
engenharia, havia o curso de desenho técnico onde aprendíamos a fazer 
todos os cálculos na régua”, conta. Segundo Vieira, em sua época de 
faculdade, ainda havia alguns poucos privilegiados de sua classe que já 
tinham uma calculadora da marca Curta. “Era um modelo analógico, 
que funcionava por meio de uma manivela”, diz. 
 Contudo, conforme o engenheiro, a maioria dos alunos se virava 
mesmo com a régua de cálculo. E assim foi até a calculadora a manivela 
tornar-se mais acessível. Logo, porém, esta foi substituída pela calculadora 
eletrônica e, posteriormente, pelas chamadas supercalculadoras, que 
faziam também o papel de computadores no desenvolvimento de 
programas para otimizar as atividades na área elétrica. 
 O próprio biografado desta edição, o engenheiro eletricista português, 
Mário Reis Miranda, utilizava calculadoras para implantar programas 
de computação na área elétrica. Quando trabalhava para uma empresa 
finlandesa de projetos, o engenheiro desenvolveu programas para fornecer 
dados sobre fluxo de carga e aterramento em uma máquina de calcular 
HP 11. “Deu tão certo que eu fui convidado a implantar o mesmo sistema 
na matriz finlandesa”, conta. Quando estava lá, uma outra oportunidade 
surgiu: realizar programas de computação para serem utilizados em linhas 
de alta tensão e, mais uma vez, a calculadora foi seu suporte. “Dessa vez 
utilizei uma HP 3000, que era mais potente”, lembra.
“A quantidade de horas para efetuar 
um cálculo, devido ao advento dos 
softwares, caiu a 1% do que era” 
Cláudio Teixeira
Apoio
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Da prancheta ao CAD
 Após o término de todos os cálculos necessários, é preciso 
desenhar o projeto. Antes da era da informática e dos avançados 
programas de desenho, os projetistas, munidos de lápis ou canetas, 
debruçavam-se em suas pranchetas inclinadas e, artesanalmente, 
colocavam no papel os pontos referentes à elétrica de uma instalação. 
Apesar de, na faculdade, o engenheiro eletricista Ítalo Batista já ter 
tido acesso aos computadores e a softwares, como o Computer-
Aided Design (CAD), ou desenho auxiliado por computador, esses 
mecanismos ainda não existiam em sua rotina, que continuava a 
contar com a prancheta, o esquadro e a régua T.
 O engenheiro lembra que era um sistema trabalhoso. Segundo 
Batista, recebida a cópia heliográfica do projeto arquitetônico, o 
engenheiro fazia outra cópia em papel vetal e desenhava a parte das 
instalações elétricas. Como curiosidade, vale dizer que a cópia era feita 
com detalhes no papel vegetal, que ficava sobre a cópia heliográfica. 
Para isso, era necessário o uso de gabaritos, réguas com símbolos da 
área elétrica, que facilitavam o trabalho do projetista no momento de 
desenhar os pontos de luz, conta. Finalizada essa etapa, entrava em cena 
o desenhista que, com papel vegetal e caneta nanquim, dava o último 
tratamento ao desenho.
 De acordo com Batista, o advento do CAD mudou para melhor a 
atividade profissional do engenheiro projetista. Se antes, por exemplo, o 
profissional percebesse um erro de cálculo em um desenho já pronto, era 
necessário raspar com uma gilete o detalhe e refazê-lo. Atualmente, não é 
nem preciso explicar, acostumado que estamos com a informática. Caso 
haja uma modificação a ser feita, basta apenas procurar no computador 
o arquivo do projeto e efetuar a correção. 
 O gerente geral da S&C Electric do Brasil, o engenheiro eletricista 
Cláudio Teixeira, também compartilha do mesmo entusiasmo que 
Batista pelos softwares de projetos. “Os cálculos que no passado 
demoravam horas, hoje são feitos em segundos”, diz. Não só o tempo, 
mas o custo também encolheu. Teixeira lembra que, na década de 1970, 
um engenheiro civil contratado para realizar o cálculo estrutural de um 
edifício cobrava o mesmo que o preço de um carro de luxo. “Isto por 
causa da quantidade de horas que ele dispendia para fazer tal tarefa”, 
conta. Atualmente, segundo o engenheiro, o profissional cobra muito 
menos pela mesma tarefa. “A quantidade de horas para efetuar um 
cálculo, devido ao advento dos softwares, caiu a 1% do que era”.
 Segundo Teixeira, mais uma tarefa do projetista que teve seu 
custo reduzido com o surgimento dos softwares foram os estudos de 
coordenação de proteção de sistemas elétricos. Anteriormente, segundo 
ele, os cálculos eram feitos artesanalmente, em papéis de seda. Hoje em 
dia, os softwares, carregando dentro de si uma série de normalizações, já 
fornecem ao projetista curvas normalizadas dos mais diferentes produtos, 
o que te permite simular as mais variadas situações e realizar o estudo 
em questão de minutos. “Pelo software, você escolhe uma liga metálica 
já normalizada e consegue realizar diversos testes com ela, vendo se ela 
entortará ou quebrará”, diz.
 Os softwares que permitem simulação de situaçõestiverem o maior 
impacto, segundo Teixeira, nos projetos referentes a peças mecânicas. 
Os desenhos de estruturas que antes eram feitos no papel seda e em 
formas bidimensionais, com o suporte computacional, tornaram-se 
tridimensionais e possibilitaram a simulação de movimentos e esforços, 
fazendo com que a construção do equipamento seja mais precisa. A 
possibildade de simular situações e posicionamento de equipamentos 
já ajudou Teixeira, que, certa vez, ao projetar o arranjo de seccionadores 
em uma rede de alta tensão pôde realizar todas as vistas de projetos que 
ele achou que deveriam ser feitas. 
 Outro ponto de importante evolução refere-se ao 
armazenamento: a situação é ainda mais positiva para os engenheiros. O 
surgimento de mídias cada vez menores e com mais capacidade fizeram 
os diversos canudos, contendo plantas de projetos de engenharia, 
serem aposentados. Isso fez não só sobrar mais espaço nos escritórios 
dos engenheiros, mas, principalmente, tornou mais rápida a busca por 
projetos antigos. 
 Outra transformação ocorrida com o advento de novos tecnologias 
encontra-se na troca de informações entre cliente e prestador de 
serviço. O engenheiro eletrônico e gerente de planejamento e controle 
de estoques da Rockwell Automation, Cláudio Baldoni, conta que 
hoje é possível enviar um arquivo por e-mail contendo o projeto, o 
que permite ao cliente flexibilizar as transformações que ele deseje 
fazer em sua empresa. Se antes, por causa da rudimentariadade dos 
meios de comunicação, o cliente precisava pensar uma mudança na 
estrutura com três anos de antecedência, hoje ele pode planejar em um 
horizonre mais curto, porque sabe que a realização do projeto será feita 
de forma mais rápida.
Tudo se transforma
 A passagem dos desenhos em prancheta para os projetos feitos 
em programas de computador significou também, como salienta o 
engenheiro eletricista Carlos Vieira, uma mudança drástica na maneira 
de atuação de um outro profissional da área: o desenhista. Ele conta 
que as inovações tecnológicas trazidas pela era da computação fizeram 
o desenhista se tornar um cadista, especialista no software destinado a 
elaborar projetos de construção. 
 Vieira conta que a função do profissional do desenho continua a 
mesma; ele atua a partir do projeto idealizado pelo engenheiro, usando 
seus conhencimentos técnicos para deixar o esboço mais apresentável. 
A questão, de acordo com o Viera, é que, de um artista acostumado a 
trabalhar com determinados tipos de materiais, o desenhista tornou-se 
um especialista na utilização de sistemas computacionais. 
 Isso fez a função do desenhista mudar totalmente de paradigma. 
“Existem muitos cadistas, atualmente, que não sabem nem desenhar 
da forma tradicional, pois não é preciso”, comenta. Para ele, muitos 
profissionais se perderam durante a transição. “Eu mesmo, no meu 
escritório, paguei para que desenhistas fizessem cursos de habilitação 
em CAD, mas muitos não quiseram”, conta Vieira. 
 Uma certa resistência é normal quando se percebe que sua profissão 
está sumindo do mapa, mas é preciso, caso haja o interesse de permanecer 
na área, uma adaptação rápida. Segundo Vieira, quem não fez isso 
tornou-se obsoleto e não conseguiu mais emprego como desenhista de 
projetos de construção.
O raciocínio permanece
 Se o advento de novas tecnologias, como a supercalculadora e 
os softwares de engenharia, vieram facilitar a vida do projetista de 
instalações elétricas, também praticaram um desserviço a este mesmo 
profissional. Para Carlos Vieira, foi tirada desse profissional parte da 
capacidade de raciocinar, mas ele insiste que a capacidade de promover 
soluções inteligentes ainda deve prevalecer. 
 De nada irá adiantar o auxílio das mais avançadas fer-
ramentas se o profissional não tiver a capacidade de empregar 
os ensinamentos recebidos durante a faculdade da maneira mais 
adequada possível. Segundo o engenheiro, não se pode esquecer 
que calculadoras e softwares ajudam na elaboração prática do 
projeto, mas quem resolve os problemas, encontrando as melhores 
soluções ainda é o ser humano e sua atividade intelectual. “A 
máquina é burra”, define.
 Somente a prática que levará o profissional da área ao uso 
inteligente das teorias adquiridas nos cursos preparatórios. De 
acordo com o engenheiro, somente trabalhando com questões 
reais que o projetista vai descobrir qual a melhor decisão a ser 
tomada. E esses conhecimentos somente são adquiridos com a 
experiência e com o dia-a-dia da profissão.
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Aula de desenho, no início do século XX, em uma escola técnica paulista
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 Quando o assunto é a situação das instalações elétricas brasileiras, a opinião dos especialistas 
da área é triste e unânime: a maioria delas apresenta qualidade duvidosa e, quase sempre, oferece 
riscos aos seus usuários. Até aqui, nenhuma novidade. A questão que fica é: se temos uma norma de 
instalações elétricas considerada moderna e coerente e bons produtos disponíveis no mercado, por 
que o brasileiro tem dificuldade em seguir as diretrizes normativas? E, por que, comparado a outros 
países, ainda engatinhamos no quesito qualidade e segurança nas instalações? A resposta não é nada 
simples e pode ter suas raízes entranhadas em uma cultura de atraso, principiada há mais de 500 
anos, na época do descobrimento do Brasil.
 Não podemos, entretanto, colocar a culpa sobre os portugueses. Muitos outros fatores, como 
veremos adiante, vêm contribuindo, ao longo dos anos, para a formação cultural, social e econômica 
do brasileiro, que, certamente, influencia as tomadas de decisões e o comportamento do povo como 
um todo.
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Paradoxo
 Há no Brasil um grande paradoxo: instalações bem evoluídas 
e instalações primárias executadas por profissionais despreparados e 
despreocupados com os mandamentos normativos. O gerente de produto 
da Siemens, Luiz Eustáquio Perucci, supõe que 70% das instalações sejam 
de qualidade duvidosa. Embora admita ter havido uma evolução nos 
últimos anos, Eustáquio reconhece que ainda estamos longe do ideal.
 Para o engenheiro eletricista Hilton Moreno, há, entretanto, 
um considerável número de instalações elétricas adequadas e bem 
feitas. “O atraso está fechado na autoconstrução e nas construções 
mais simples”, diz. O atraso, nas instalações industriais, por 
exemplo, é, para ele, pequeno ou inexistente.
 O engenheiro eletricista e diretor da Fischmann Engenharia, 
Victor Fischmann, concorda: “as instalações de responsabilidade 
das boas construtoras, em geral, estão em conformidade com as 
normas técnicas”. Ele conta que, há algum tempo, era comum o 
projeto, depois de ter sido aprovado na prefeitura, sofrer diversas 
alterações. “Não havia tanta preocupação com o projeto as built, 
diferentemente de hoje, quando o projeto elétrico, por exemplo, 
é iniciado antes mesmo de seguir para a prefeitura, justamente 
para que a construção esteja de acordo com o que foi aprovado”.
 O que ainda acontece, na opinião de Fischmann, é que, 
mesmo com projetos bem elaborados, algumas construtoras e 
instaladoras acabam seguindo o mínimo que a norma de instalação 
recomenda, até em empreendimentos que exigem um pouco 
mais do que isso. “Por exemplo, a norma prescreve um mínimo 
de pontos de tomada por ambiente (em função do perímetro) em 
uma residência, mas o padrão de conforto do empreendimento 
eventualmente pode exigir mais”, analisa. Este, segundo ele, é um 
exemplo de projeto não adequado, pois apesar de ter se cumprido 
a norma – que é o mínimo de segurança e qualidade – o projeto 
poderia ter sido melhor, considerando o nível da construção. 
 Nos últimos anos, tem sido comum as construtoras realizarem 
intervenções nos apartamentos novos de acordo com o cliente, 
isto é, o comprador

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