Buscar

2009 Panorama historico da difusao de inovaco

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 79 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 79 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 79 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

REVISTA GESTÃO E DESENVOLVIMENTO EM CONTEXTO - GEDECON 
 
 
ISSN 1982-3266 
http://www.unicruz.edu.br/gedecon/ 
 
 
UNIVERSIDADE DE CRUZ ALTA 
UNICRUZ – CRUZ ALTA 
 
 
Reitora: Elizabeth Fontoura Dorneles 
 
Vice-Reitora de Graduação: Profa. Sirlei de Lourdes Lauxen 
 
Vice-Reitor de Administração: Prof. Fábio Dal-Soto 
 
Vice-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão: Prof. Cléia Rosani Baiotto 
 
 
 
Coordenador do Curso de Administração: Carlos Eduardo Moreira Tavares 
 
Coordenador do Curso de Arquitetura e Urbanismo: Marco Antonio Ribeiro Edler 
 
Coordenador do Curso de Ciências Contábeis: Taciana Mareth 
 
Coordenador do Curso de Ciências Econômicas: Enedina Maria Teixeira da Silva 
 
Coordenador do Curso de Direito: Raquel Buzatti Souto 
 
Coordenador do Curso de Serviço Social: Isadora Wayhs Cadore Virgolin 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Comissão Editorial 
Prof. M. Sc. Adalberto Fernandes Falconi 
Prof. M. Sc. Everton Anger Cavalheiro 
Prof. M. Sc. Igor Norbert Soares 
Profa. M. Sc. Jaciara Treter 
Profa. M. Sc. Isadora Wayhs Cadore Virgolin 
Profa. M. Sc. Taciana Mareth (Coordenadora) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 R454 Revista Gedecon: gestão e desenvolvimento em contexto. 
 Cursos de Administração, Ciências Contábeis e Ciências 
 Econômicas. v.4, n.1 (jan/jun) – Cruz Alta: UNICRUZ, 
 2009. 
 Semestral. 
 
 ISSN 1982-3266 
 
 1.Administração - Gestão. 2. Economia. 3. Desenvolvimento 
 regional. 4. Gestão organizacional. 5. Gestão pública. 6. 
 Gestão rural. 7. Gestão agroindustrial. 
 
 
Catalogação na Fonte: Angela Saadi Machado – CRB10/1857 
Biblioteca Central - Unicruz 
 
 
A Revista Gestão e Desenvolvimento em Contexto – GEDECON é uma publicação semestral 
dos Cursos do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade de Cruz Alta 
(UNICRUZ) que visa a divulgação de trabalhos científicos produzidos por docentes, acadêmicos 
e pesquisadores adequados às suas linhas editoriais. 
 
 
Nota: O conteúdo dos trabalhos desta Revista é de responsabilidade de seus autores. 
 
 
 
 
Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ 
Rua Andrade Neves, 308 – Centro – 98025-810 – Cruz Alta/RS 
Fone/Fax: (0xx55) 3321-1500 – http://www.unicruz.edu.br 
 
 
 
3 
EDITORIAL 
 
 
Com a presente edição, a REVISTA GESTÃO E DESENVOLVIMENTO EM 
CONTEXTO – GEDECON, vinculada ao Centro de Ciências Sociais aplicadas (CCSA) da 
Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ, segue sua trajetória, fortalecendo o ideal para o qual 
foi projetada, de ser um espaço plural e interdisciplinar focada à complexidade e ao processo 
de construção dos saberes socais. 
Este número traz, como eixo central, temas referentes ao setor energético brasileiro e 
sua governança, inovações no meio rural brasileiro e sua historicidade bem como o meio 
ambiente no contexto rural. Os textos reúnem autores de renomado perfil, empenhados em 
analisar, de forma crítica e sob diferentes abordagens, as relevantes questões propostas. 
Desta feita, a presente edição da REVISTA GESTÃO E DESENVOLVIMENTO EM 
CONTEXTO, apresenta contribuições significativas para a promoção e a divulgação do 
conhecimento nessa área do conhecimento. Assim sendo, agradecemos o empenho de todo o 
corpo editorial na sua realização e, especialmente, a colaboração dos autores dos trabalhos 
que ora publicamos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. M. Sc. Adalberto Fernandes Falconi 
Prof ª M.Sc. Taciana Mareth 
Editores 
 
 
4 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
ARTIGOS 
 
Governança no setor de energia elétrica brasileira pós-2004 
Aulo Pércio Vicente Nardo e Amalia Maria Goldberg Godoy.....................................05 
 
Qual a âncora de carreira predominante numa área interna de um grande banco 
comercial do Brasil? 
Renato Manga Jacob.....................................................................................................28 
 
Governança corporativa em Sociedades De Economia Mista 
Luísa Cristina Carpovinski Pieniz................................................................................45 
 
Panorama histórico da difusão de inovações no meio rural brasileiro 
Verônica Crestani Viero e Ada Cristina Machado da Silveira.....................................59 
 
 
 
RESENHA 
 
Sociologia e meio ambiente rural 
Priscila Cembranel e Cecília Smaneoto .......................................................................73 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
GOVERNANÇA NO SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA BRASILEIRA PÓS-2004 
 
Aulo Pércio Vicente Nardo1 
Amalia Maria Goldberg Godoy2 
 
Resumo 
O setor energético brasileiro passou por grandes mudanças no ambiente institucional e em sua 
governança. Para os institucionalistas, como Coase (1937), North (1990) e Williamson 
(1986), as estruturas de governança (hierárquica, mercado ou híbrida) permitem as transações 
e o alcance de maior eficiência. A opção por uma estrutura depende dos custos de transação e 
das regras negociadas entre os diversos agentes. Nesse contexto, o objetivo do artigo é 
compreender as mudanças ocorridas, a partir de 2004, na estrutura de governança do setor 
elétrico brasileiro. A metodologia utilizada é a pesquisa exploratória, com análise descritiva 
dos fatores históricos. Discute-se que houve a passagem fundamental de monopólio estatal 
verticalizado para um ambiente com relações contratuais complexas e maiores custos de 
transação. Diante disso, a estrutura de governança descentralizada e híbrida, como a ANEEL, 
que se apresenta como a que permite melhor condição para o bom funcionamento ainda 
continua a apresentar problemas de eficiência (crise de oferta). 
Palavras-chave: Estrutura de Governança. Setor Elétrico. ANEEL. 
 
Abstract 
The Brazilian energy sector has undergone major changes in the institutional environment 
and its governance. For institutionalists, as Coase (1937), North (1990) and Williamson 
(1986), governance structures (hierarchical, market or hybrid) allows transactions and 
achieve greater efficiency. The choice of a structure depends on transaction costs and the 
rules negotiated between the various agents. In this context, the objective of the article is 
understand the changes from 2004 in the governance structure of the Brazilian electric 
sector. The methodology is exploratory research, descriptive analysis of historical factors. It 
is argued that there was a fundamental passage from state monopoly to a vertical 
environment with complex contractual relationships and higher transaction costs. Thus, the 
decentralized governance structure and hybrid, as ANEEL, which presents itself as the best 
condition that allows for the proper operation still presents problems of efficiency (supply 
crisis). 
Key words: Governance Structure. Electricity Sector. Economic Agents. 
 
 
1 Introdução 
A disponibilidade de energia tem papel central no desenvolvimento econômico, dado 
que este insumo é fundamental em todas as atividades produtivas e para o alcance da melhoria 
da qualidade de vida das populações. Nesse contexto, as políticas públicas e as novas 
estruturas de decisão para o setor merecem destaque. 
 
1 Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, grupo de pesquisa PEC – Planejamento Econômico e 
Crescimento. Endereço: Rua Maringá, 1200, Bloco I, sala 207, Francisco Beltrão – PR. CEP: 85605-010. E-
mail: a_p_v_n@yahoo.com.br; 
2 Universidade Estadual de Maringá – UEM. Endereço: Av. Colombo, 5790,Bloco C34, sala 5, Maringá – PR. 
CEP: 87020-900. E-mail: amggodoy@uem.br. 
 
 
 
6 
Até recentemente, no Brasil, a geração, transmissão, distribuição e comercialização da 
energia elétrica, considerada um bem público, eram organizadas e planejadas de forma 
centralizada pelo Estado. Atualmente, o Estado delega, concede e autoriza também a 
participação do setor privado no fornecimento de energia, tratada atualmente como um 
serviço público3. 
A passagem da energia como bem público para um serviço público, das decisões 
centralizadas pelo governo para descentralizadas, e a separação de ativos da cadeia energética 
(geração, transmissão, distribuição e comercialização), com a inclusão da iniciativa privada 
são questões fundamentais e sua discussão é o objetivo do artigo. Para isso, utiliza-se a teoria 
institucional na medida em que possui instrumentos que permitem entender o ambiente 
institucional em que as regras do jogo são definidas e os fatores que norteiam as mudanças, 
em particular a de 2004, que resultaram em nova forma de governança. A metodologia 
utilizada é a pesquisa exploratória, com análise descritiva dos fatores históricos que resultam 
em novas formas de intervenção e regulação pelo Estado. A análise está fundamentada em 
revisão bibliográfica assim como no levantamento de dados secundários. 
Para cumprir o objetivo, o presente artigo, além desta introdução, apresenta, no tópico 
dois, a teoria sobre a estrutura de governança desenvolvida por Williamson (1986, 1993, 
1996), que permite o entendimento das mudanças que ocorrem no setor de energia elétrica, o 
papel do setor público nas formas de decisão do setor, e a interação entre os diferentes agentes 
econômicos. O tópico três apresenta um panorama do setor elétrico brasileiro, suas 
especificidades e características. O tópico quatro trata das modificações ocorridas no setor 
elétrico brasileiro, em 2004, com a criação de espaço de participação para novos agentes 
econômicos, bem como a participação de cada agente econômico e a interação entre eles. Por 
fim, o tópico cinco trata da conclusão, na qual se destaca a importância da consolidação da 
estrutura hibrida de governança, com a descentralização das decisões, participação de diversos 
agentes encarregados da fiscalização e regulamentação, mas ainda sujeitas aos interesses 
propugnados pelo Estado. 
 
 
 
 
3 Entende-se por bem público o que pode beneficiar todos os consumidores, mas cuja oferta no mercado e pelo 
setor privado é insuficiente ou inexistente (Pindyck e Rubinfeld, 2006, p. 525), enquanto que serviços públicos 
são aqueles instituídos e mantidos pelo Estado, podendo ser executados por este ou por empresas privadas 
mediante concessão, com o objetivo de atender aos interesses da sociedade (MELLO, 1998). 
 
 
7 
2 Contratos e estruturas de governança em Williamson 
Existe a defesa de que a descentralização e a passagem de empresas estatais altamente 
verticalizadas para a iniciativa privada garantem a superioridade da coordenação e o alcance 
de maior eficiência econômica. Essa discussão começa, praticamente, com Coase (1935) que 
enfatiza que empresas e mercados são modos alternativos de coordenação das transações 
inerentes ao sistema econômico. No mercado, a coordenação ocorre pelo sistema de preços 
enquanto que na firma esta ocorre pela autoridade (comando). Há um custo em usar o 
mecanismo de preços, que são os custos de negociação e de elaboração do contrato. 
Coase (1937) afirma que as firmas existem porque é necessário firmar contratos de 
longo prazo entre empresas/pessoas ligadas à atividade, especialmente, quando não se 
consegue prever com exatidão quais serviços serão necessários no futuro. Consequentemente, 
concebe que os custos de uma firma compreendem tanto os custos de produção quanto os 
custos de transação, que são os custos de negociar, redigir e garantir o cumprimento de um 
contrato. Quando os custos de transação são maiores no mercado, a firma realiza a operação, 
mas quando os custos de transação são menores no mercado, a empresa compra no mercado. 
 
Once the costs of carrying out market transactions are taken into account it is clear 
that such a rearrangement of rights will only be under taken when the increase in 
the value of production consequent upon the rearrangement is greater than the costs 
which would be involved in bringing it about. When it is less, the granting of an 
injunction (or the knowledge that it would be granted) or the liability to pay 
damages may result in an activity being discontinued (or may prevent its being 
started) which would be undertaken if market transactions were costless (COASE, 
1960, p. 16). 
 
A firma existe devido a sua capacidade de reduzir custos de transação. Nela ocorre um 
esforço cooperativo para maior eficiência econômica da produção do que a obtida com a soma 
dos produtos de esforços individuais (mercado). As instituições emergem quando existem 
custos de transação (COASE, 1937). 
Nesse contexto, avançando a análise, Williamson (2005) conceitua governança como 
as instituições e as organizações que sustentam as transações, incentivam o cumprimento de 
contratos, protegem o direito de propriedade, e viabilizam a interação de diversos agentes para 
o provimento de regras, regulações e informações. Williamson (2000) descreve a existência 
de uma gama de fenômenos contratuais e organizacionais, que são compreendidos a partir dos 
custos de transação e da eleição da estrutura de governança. Para tanto, leva em consideração 
dois aspectos fundamentais: a) os agentes econômicos possuem racionalidade limitada e, por 
conseguinte, b) os contratos são complexos e incompletos. 
 
 
8 
 
Transaction cost economics agrees that our view of the human beings whose 
behavior we are studying has profound ramifications for the research agenda. It 
also concurs that human actors are subject to bounded rationality. Rather, however, 
than dwell on the analytical apparatus to be employed (that is, maximizing, 
satisficing, game theory, or whatnot), TCE [Transaction Cost Economics] asks 
instead what key conceptual moves in orthodoxy are disallowed upon admitting to 
limited cognitive competence. The TCE response to this query is this: the chief 
lesson of bounded rationality for the study of economic organization is that all 
complex contracts are unavoidably incomplete (WILLIAMSON, 2000, p. 6). 
 
A racionalidade limitada, afirma Williamson (1986), decorre do fato de os agentes 
econômicos, de posse de uma gama de informações para realização de quaisquer transações 
econômicas do dia-a-dia, formulam modelos subjetivos ou abstratos de forma incompleta, 
devido à capacidade limitada de cognição. Os agentes agem com racionalidade, que é limitada 
no acesso e/ou processamento de todas as informações disponíveis. 
De acordo com o autor (1985), os contratos sempre são imperfeitos, o que possibilita a 
presença do oportunismo por parte dos agentes econômicos, ou seja, em um ambiente de 
incerteza do contrato existe espaço para que os agentes econômicos tentem se beneficiar em 
detrimento da outra parte envolvida. O autor definiu oportunismo como “procurar seus 
interesses próprios com avidez”, o que compreende comportamentos de trapaça, mentira, 
assim como o não atendimento das cláusulas contratuais. Quanto maior a complexidade, os 
riscos envolvidos e a possibilidade de descumprimento dos contratos, maiores os custos de 
transação. 
 
The combination of incomplete contracts (by reason of bounded rationality) with 
unreliable reporting (by reason of opportunism) undermine the idea that common 
knowledge between the two parties to a contractsuffices to annihilate ex post 
contracting problems. Because it is implausible to ascribe common knowledge to 
ultimate arbiters of disputes (the courts), common knowledge between the principals 
does not preclude costly maladaptation and ex post bargaining (WILLIAMSON, 
1975, p. 31-37 apud WILLIAMSON, 2000, p. 6). 
 
Outro fator que interfere nos custos de transação é a especificidade dos ativos 
,entendida como ativos que não são reempregáveis em outra atividade, sem que ocorram altos 
custos de transação, devido ao reduzido número de produtores capazes de ofertar e de adquirir 
o bem. Quanto maior a especificidade do ativo, maiores os custos de transação envolvidos. No 
caso do setor de energia hidroelétrica, por exemplo, existe alta especificidade do ativo 
decorrente da sua localização, pois o seu deslocamento implica em altos custos de transação 
que poderão ser arcados por poucos ou pelo estado. Conforme Lee (2004 apud Correia et al., 
2006), o setor elétrico se caracteriza pelas restrições significativas para transportes ou de 
 
 
9 
grandes distâncias, e pela necessidade de grandes investimentos e consideráveis intervalos de 
tempo para a instalação de novas unidades geradoras. 
Uma firma, ao ofertar um bem ou serviço, também opta por uma estrutura de 
governança. Williamson (1985 - 1996) enfatiza que as estruturas de governança são definidas 
como formas organizacionais em que as transações são decididas. A estrutura de governança é 
escolhida com base na diminuição dos custos de produção e de transação, ou seja, em ganhos 
de eficiência. Alves e Staduto (1999, p. 4) enfatizam que mesmo os contratos não 
convencionais são vistos como forma de se ganhar eficiência, reduzindo os custos de 
transação. 
Diante da diversidade de firmas, Williamson descreve três modelos de estrutura de 
governança. A primeira é market governance (mercado), em que as transações são realizadas 
pelos compradores e vendedores, define-se pela estrutura de preços, o que implica menor 
nível de controle e maior nível de incentivo, apresentando-se como a forma mais eficiente na 
ausência de custos de transação. No extremo oposto, no qual a especificidade dos ativos e os 
custos associados ao não-cumprimento dos contratos são elevados, ou seja, a incerteza e a 
probabilidade da presença de oportunismo são elevadas à forma. Trata-se da Unified 
governance (hierárquica), em que ocorre a propriedade total do ativo, ou a integração vertical 
como no caso da indústria elétrica brasileira até os anos de 19804. Os contratos que 
representam acordos realizados entre diversos agentes envolvidos na transação são 
característicos da forma híbrida e representam arranjos de propriedade parciais entre firmas 
que compõem os estágios sucessivos da cadeia produtiva (ALVES e STADUTO, 1999, p. 
139; WILLIAMSON, 1985). 
A escolha da estrutura de governança adequada, portanto, visa à minimização tanto 
dos custos de produção, quanto dos custos de transação. Assim, quando uma indústria que era 
verticalmente integrada e regulada está em transição, aumentam os custos de transação na 
medida em que ela passa a realizar acordos (formais e informais) e a criar mecanismos de 
cumprimento dos mesmos devido à existência de incertezas e oportunismo. 
No caso do setor elétrico, a decisão de alcançar maior eficiência via mecanismo 
competitivo, significa alcançar o melhor resultado decorrente do trade off entre os potencias 
efeitos benéficos resultados das forças de mercado e os custos potenciais, que surgem a partir 
dos problemas contratuais que emergem da desintegração vertical (PINTO JR et al., 2007). 
 
4 A verticalização ocorre, conforme Freitas (2003, p. 23) quando “a empresa assume o controle sobre diferentes 
estágios (ou etapas) associados à progressiva transformação de insumos em produtos finais”. Trata-se, portanto, 
na atuação da indústria em mais de um estágio do processo produtivo. 
 
 
10 
A Figura 1 mostra a base conceitual da teoria dos custos de transação para 
Williamson, cuja especificidade dos ativos e o ambiente de incerteza (pela presença de 
oportunismo por parte de outros agentes e da racionalidade limitada) incorrem em custos de 
transação, obrigando a firma e o governo a optarem pela estrutura de governança mais 
adequada ao grau de combinação desses atributos. 
 
 
 Figura 1 - Estrutura Conceitual da Teoria dos Custos de Transação de Williamson 
 Fonte: Guedes (2000 apud Leão 2004, p. 30). 
 
A estrutura de governança é entendida como espaço e forma de organização que os 
diferentes atores privados, públicos e não-governamentais possuem para a definição das 
regras que criarão um ambiente mais seguro de investimentos e ações. A análise dessas 
regras, por sua vez, necessariamente deve levar em conta as diferentes inserções dos setores 
econômicos e sociais, seus poderes e seus conflitos, o que permite entender que a governança 
não é um processo isolado do que ocorre em seu entorno e no mundo. Ela é dinâmica, pois, as 
regras são negociadas continuamente. A governança ultrapassa a dimensão técnico-
institucional e se localiza nas relações de poder local, na cultura política, e nas políticas 
urbanas e sociais, conforme afirma Godoy (2009, p. 13). 
O aumento da complexidade social levou, além disso, à formalização das restrições. A 
criação do sistema legal/jurídico formal é fruto de disputas complexas. As regras formais 
 
 
11 
incluem as regras políticas (que definem a estrutura hierárquica da política, sua estrutura de 
decisão e explicita as características de sua agenda de controle) e as regras econômicas 
(definem os direitos de propriedade, que é a estipulação dos direitos sobre o uso e o lucro, 
assim como o de alienar um bem ou recurso). A função das regras é facilitar ou promover as 
trocas, políticas ou econômicas (NORTH, 1990, p.46 e 47). 
Nesse sentido, a autoridade para fazer cumprir as regras contratuais firmadas entre o 
Estado e o setor privado ligado à energia hidroelétrica está associado à passagem por diversas 
estruturas de governança e, portanto, ambientes institucionais diferenciados, que passarão a 
ser discutidos. 
 
3 O Setor de energia elétrica 
A geração de energia elétrica pode ocorrer através de fontes renováveis de energia 
(força das águas, dos ventos, do Sol e da biomassa), bem como por fontes não renováveis 
(carvão, petróleo, gás natural e nuclear). 
A utilização de energia elétrica, a partir de fontes renováveis, tem participação muito 
pequena no mundo. Conforme informações do BEN (2008, p.14), as unidades movidas por 
fontes não renováveis (carvão mineral, petróleo e derivados e gás natural) correspondem a 
81,7%, enquanto a geração de eletricidade por fontes renováveis corresponde apenas a 18,3% 
do total mundial, sendo que 16,0% corresponde à fonte hidroelétrica e 2,3% à energia solar e 
eólica. 
O Brasil, ao contrário, tem sua matriz de geração de energia elétrica 
predominantemente baseada em fontes renováveis. Segundo informações do BEN (2008, 
p.13), 74,3% da oferta é atendida por hidroeletricidade (1,7% proveniente de pequenas 
centrais hidrelétricas – PCH e 72,6% de hidrelétricas que fornecem energia acima de 30 
MW). Somando-se as importações, que essencialmente também são de origem renovável 
(pela Usina Hidrelétrica de Itaipu), 82,8% da eletricidade, no Brasil, são originados de fontes 
renováveis – sem considerar que parte da geração térmica é originada de biomassa. 
A tabela 1 mostra as dez maiores usinas hidrelétricas em operação no Brasil por 
potência instalada (medida em KW), bem como a região onde se localizam. Pode-se observar 
que, somente, a região Sudeste gera 12.003,2 MW5, o que equivale a31,97% do total das dez 
maiores usinas, seguida das regiões Norte (25,91%), Sul (24,69%) e Nordeste (17,4%). 
 
 
 
5 MW= 106 W; KW=103 W. 
 
 
12 
 Tabela 1 - Potência Instalada das dez maiores Hidrelétricas no Brasil. 
Nome Potência (KW) Região 
Tucuri I e II 8370000 Norte 
Itaipu (parte brasileira) 6300000 Sul 
Ilha Solteira 3444000 Sudeste 
Xingó 3162000 Nordeste 
Paulo Afonso IV 2462400 Nordeste 
Itumbiara 2082000 Sudeste 
São Simão 1710000 Sudeste 
Governador Bento Munhoz da Rocha Neto (Foz do Areia) 1676000 Sul 
Jupiá (Engo Souza Dias) 1551200 Sudeste 
Porto Primavera ( Engo SérgioMotta) 1540000 Sudeste 
Total 32297,6 Total 
 Fonte: Atlas de energia elétrica no Brasil (2008, p. 57). 
 
Conforme Possas et al. (1997), o processo de produção de energia elétrica pode ser 
subdividido em três etapas: geração, transmissão e distribuição. A primeira consiste na 
obtenção de energia elétrica, a qual pode ser feita a partir de diversas fontes (hidráulica, 
térmica, nuclear, etc.). Em seguida, a eletricidade gerada é transportada até os centros 
consumidores (transmissão), onde será distribuída aos demandantes (distribuição). 
O sistema elétrico brasileiro caracteriza-se pela existência de grandes usinas 
hidrelétricas, com reservatórios plurianuais, localizadas em diferentes bacias hidrográficas, 
em geral, interligadas por extensas linhas de transmissão devido à grande distância entre as 
fontes geradoras e os centros de carga. Além disso, frequentemente coexistem, em um mesmo 
rio, usinas de diferentes proprietários, o que ressalta importância da operação coordenada, 
conforme Santana e Oliveira (1999, p.380) 
A energia elétrica, conforme Sauer et al. (2003), juntamente com a educação ou saúde 
pública e defesa nacional, é um serviço público. O serviço de energia elétrica, segundo os 
mesmos autores ibid incluindo a geração, a transmissão e a distribuição, é considerado 
monopolista, ou seja, prestado diretamente pelo Estado ou por meio de concessões reguladas 
pelo Estado e outorgadas a agentes privados. 
Nesse contexto, entender a estrutura de governança adotada, bem como a passagem da 
estrutura hierárquica (monopólio do Estado) para a híbrida (estado e iniciativa privada), não é 
questão simples. O setor de energia elétrica possui certas características que tornam tal 
questão importante. 
A transição das estruturas de governança e a consolidação do novo modelo envolvem 
o estudo do ambiente institucional, apresentado a seguir. 
 
 
 
13 
 
4 As Novas regras institucionais 
Pode-se resumir que, de 1934 até 1995, o setor elétrico brasileiro tinha uma estrutura 
de governança hierárquica, ou seja, a presença de empresas estatais verticalizadas6, que 
atendiam as diretrizes e decisões tomadas centralizadamente pelo governo federal. A potência 
instalada de energia elétrica do Brasil, durante esse período, teve expansão de 6 355 MW, em 
1963, para 42 860 MW, em 1984, e 52 741 MW, em 1993 (BAER e McDONALD, 1997). A 
energia era considerada como setor estratégico (segurança nacional) e um dos mais 
importantes monopólios naturais estatais7, cujas tarifas eram determinadas pelo estado. A 
presença do Estado era essencial na medida em que se caracterizava por investimentos 
consideráveis nas usinas geradoras e montagem das redes de transmissão e distribuição com 
retornos a longo prazo. 
Em termos de estrutura de governança, as políticas eram traçadas pelo Ministério de 
Minas e Energia e executadas pela Eletrobrás, atuando o DNAEE como órgão normativo e 
fiscalizador. A estatal Eletrobrás, responsável por 90% da geração no país, estava no topo da 
estrutura hierárquica adotada devido à especificidade do ativo envolvido de intensivo em 
capital. Exercia o controle e tinha como função planejar a operação e a expansão do sistema, 
pois o setor exigia a coordenação centralizada de várias centrais espalhadas pelo Brasil de 
modo a garantir a cooperação entre os diversos segmentos e agentes envolvidos (na geração e 
distribuição) e a otimização dos recursos (humanos, técnicos, financeiros e hídricos) 
envolvidos. Possuía poder semelhante ao do Departamento Nacional de Água e Energia 
Elétrica- DNAEE. Essa estrutura de poder resultava em menores custos de transação, 
sobretudo os de negociação e, de certa forma, restringia o oportunismo, induzindo as partes à 
mútua cooperação (DOW, 1987 apud SANTANA e OLIVEIRA, 1999, p.282). A Eletrobrás 
tinha poder sobre as distribuidoras estaduais, inclusive, porque participava acionariamente das 
mesmas. 
 
6 Nessa fase, houve a implantação das grandes usinas geradoras como a de Tucurui e a binacional Itaipu e na 
área de transmissão foram realizadas várias interconexões entre os sistemas regionais de eletricidade. 
7 Segundo Banco Mundial (1997, p.26) monopólios naturais existem “[...] quando o custo unitário da provisão de 
um bem ou serviço para mais um usuário diminui numa ampla área de produção, reduzindo ou eliminando a 
margem de concorrência”. Nesse mesmo relatório, a geração de eletricidade (não a transmissão e distribuição), 
com o desenvolvimento tecnológico passa a ser um campo para a concorrência. 
 
 
14 
Essa estrutura de governança gerou ineficiência no sistema devido o não cumprimento 
dos contratos entre as geradoras e as distribuidoras8, as múltiplas funções exercidas pela 
Eletrobrás, altos custos e dificuldades em se autofinanciar. 
No período de 1996 a 2004, o setor passou por várias mudanças. Com a crise fiscal do 
Estado, o fortalecimento do setor privado internacional e nacional, e a adoção das diretrizes 
do Fundo Monetário Internacional, as empresas estatais foram divididas por atividades 
(geração, transmissão, distribuição e comercialização), com o objetivo de abrir espaço para as 
empresas privadas, tornando um setor competitivo nas áreas de geração e comercialização 
com forte regulação na área de transmissão. Segundo Fadul (1998), setores, antes explorados 
unicamente pelo setor público, passaram a ser considerados grandes negócios disputados por 
mega corporações mundiais, com as privatizações em andamento. 
A Lei N° 8.987, de 1995 (projeto do senador Fernando Henrique Cardoso), além da 
concessão9, instituiu a criação de autarquias reguladoras inclusive para proteger o consumidor 
quanto aos serviços. Criou também a figura do produtor independente com liberdade de 
comercializar energia diretamente com o consumidor. Estava dado o passo para que o Estado 
deixasse de ser o único investidor e gerenciador com o discurso de desonerar o contribuinte e 
permitir ao governo investir em áreas prioritárias como transporte, educação e saúde. No que 
tange à criação das agências reguladoras, Peci (1999, p. 4) comenta que estas antecederam a 
discussão do modelo de regulação em si, quer dizer, foram criadas as agências sem maiores 
discussões sobre o seu direcionamento e controle, o que gerou problemas em sua 
implementação e repercutiu em falhas no sistema e aumento dos custos de operação e 
transação. 
A Lei N° 9.246, de 26 de dezembro de 1996, regulamentada pelo Decreto N° 2.335, de 
06.10.97, constituiu a primeira autarquia ,sob regime especial, instituída pelo governo federal, 
a Agência Nacional de Energia Elétrica10 (ANEEL), com a finalidade de regular e fiscalizar a 
geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica. 
Posteriormente, com a lei n. 9.648, de 28/05/1998, implementou-se a nova estrutura de 
governança, composta por: Operador Nacional do Sistema (ONS), com a atribuição de operar 
 
8Segundo Baer e McDonald (1997), apesar do planejamento da ELETROBRÁS,a maior parte dos investimentos na 
década de 70, concentraram-se em geração de energia e os recursos para a transmissão e distribuição foram 
limitados. Isso criou sérios desequilíbrios setoriais e regionais na década de 80. 
9 A concessão pode ser entendida como uma relação contratual, por meio do qual o poder público transfere a 
determinada empresa (pública ou privada) a operação do serviço público. É uma delegação de poder, do poder 
concedente à concessionária, em que esta última fica responsável pela gestão da empresa e pela prestação do 
serviço público, durante um prazo determinado pelo contrato (prazo de concessão). Essa prestação é remunerada 
por uma tarifa e executada em decorrência do risco do concessionário (PIRES, 2000). 
10 Foi extinto o DNAEE. 
 
 
15 
o Sistema Interligado Nacional (SIN), administrar o sistema de transmissão por delegação a 
empresas de geração, transmissão e distribuição de energia, as quais seguiam regras 
aprovadas pelos próprios agentes privados e homologadas pela ANEEL. Essa mesma lei 
institui o Mercado Atacadista de Energia (MAE). Com isso, criou-se um ambiente de livre 
comercialização de energia entre geradores/comercializadores e distribuidores/consumidores 
livres, além do surgimento das empresas de transmissão de energia — responsáveis pela 
disponibilização de equipamentos e instalações para o transporte de energia elétrica desde as 
usinas até os centros de consumo. 
O modelo, portanto, caracterizou-se por uma estrutura de governança híbrida. 
Conforme Losekan (2003), parte era hierárquica (planejamento centralizado da operação) e 
parte mercado entre geradores e distribuidores. 
O modelo seguramente diminuía os custos de transação decorrentes do planejamento 
centralizado e da verticalização, na medida em que parte dos custos eram repassados ao setor 
privado. No entanto, essas mudanças foram insuficientes para evitar crises de fornecimento e 
credibilidade no setor. Empresas como a Light e a Cerj (distribuidoras de energia no Rio de 
Janeiro, privatizadas em 1996) deterioraram a qualidade dos serviços com constantes faltas de 
luz, em 1999, o que expôs as falhas no sistema de regulação implantado. Soma-se que as 
privatizações foram fonte de polêmicas e conflitos sobre a sua necessidade, conforme Peci 
(1999, 2007). Soma-se ainda que as novas regras contratuais referentes às cláusulas de 
contratos de concessões e os contratos iniciais entre geradoras e distribuidoras continham 
potenciais fontes de conflitos de interesses entre os agentes (CORREIA et al., 2006). 
No período de 2001 e 2002, ocorreu a pior crise de racionamento de energia11 
decorrente das indefinições resultantes do processo de privatização do setor elétrico 
brasileiro12, da diminuição de investimentos e do aumento da demanda. 
Destacam-se dois aspectos do relatório da Comissão de análise do sistema 
hidrotérmico de energia elétrica, instalada nesse período e apontadas por Ventura Filho (2007, 
p. 7): 
 
• Hubo fallas en el proceso de transición del modelo anterior – que identificó la 
necesidad de nuevas inversiones a través de los estudios de planificación de la 
expansión – para el nuevo modelo sectorial. En el nuevo ambiente, las 
Distribuidoras no tuvieron razones para promover la expansión porque los 
Contratos iniciales cubrían 100% del consumo previsto, sin que existiese respaldo 
 
11 Houve violenta diminuição do consumo com o racionamento, que durou perto de nove meses, administrado 
pelo Estado. 
12 O governo garantia a remuneração mínima ao setor, independentemente de terem cumprido as cláusulas 
estabelecidas no contrato. 
 
 
16 
físico adecuado. A su vez, las Generadoras, sin embargo expuestas a pérdidas 
financieras, tampoco invertirían; 
• El factor principal para el fracaso de las iniciativas gubernamentales para 
reducir la crisis, en particular el Programa Prioritario de Térmicas, fue la 
ineficacia de la gestión intra-gubernamental. Hubo fallas de percepción de la real 
gravedad del problema y de coordinación, comunicación y control; 
 
Consequentemente, houve falhas de transmissão de informações entre a ONS, a 
ANEEL e o MME, para a Presidência da Republica, sobre o risco da crise, o que resultou em 
grave crise de governança. A região Sul tinha energia excedente, portanto, não sofreu 
racionamento. No entanto, não havia linhas de transmissão desse excedente para o resto do 
país devido à falta de investimentos. 
O Governo Federal criou, através da Medida Provisória no 2.148-1, de 24 de maio de 
2001, a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica - GCE, com o objetivo de propor e 
implementar medidas emergenciais para compatibilizar a demanda e a oferta de energia 
elétrica. Com isso, houve a aprovação no Congresso da lei de Eficiência Energética (Lei 
10.025, de 17/10/2001), que dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional 
de Energia, visando a diminuir 20% do consumo de energia e promover a sustentabilidade no 
fornecimento de energia. Para isso, delegou-se maior poder ao Executivo, que passou a 
estabelecer níveis máximos de consumo de energia, ou mínimos de eficiência energética, de 
máquinas e aparelhos fabricados ou comercializados no País. 
O novo governo, de Luís Inácio Lula da Silva, diante das crises ocorridas instituiu o 
Sistema Integrado Nacional (Leis 10.847 e 10.848, de 16 de março de 2004 e Decreto 5.163 
de dezembro do mesmo ano) a afim de promover novo marco regulatório com o objetivo de 
assegurar o Abastecimento, promover a Modicidade Tarifária (lei 10.848, art. 1, parágrafos.7 
e 8) e a inserção social através da universalização de atendimento (Câmara de 
comercialização de Energia Elétrica, 2009). 
Para isso, ocorrem mudanças fundamentais no marco regulatório13: Como medida de 
mudança do direcionamento governamental, ocorre a exclusão do Programa Nacional de 
Desestatização (PND) das empresas estatais Furnas, Chesf, Eletronorte, Eletrosul, Eletrobrás 
CGTEE (Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica),bem como maior presença do 
Estado, no planejamento do setor de maneira a viabilizar uma rede de transmissão de 
qualidade e confiável, além da implementação de um ambiente de mercado (mecanismo de 
leilão de energia) para cumprir os objetivos (CURSINO NETO, 2007). 
 
13 Marco regulatório compreende o conjunto de regras formais (normas, leis e diretrizes) que norteiam as ações 
das empresas/agentes privados que prestam serviços públicos. 
 
 
17 
Em termos de estrutura de governança, ocorre nova centralização: o Governo Federal 
detém a fixação das políticas. A agência reguladora (ANEEL) mantém suas funções de 
implementar as diretrizes governamentais e de fiscalizar os agentes. Os agentes continuam 
participando das entidades responsáveis pela comercialização e operação do sistema, sem, 
contudo, exercer o mesmo controle previsto no antigo modelo. Permanece também o 
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). 
As modificações nas organizações participantes foram: a criação da Empresa de 
Pesquisa Energética-EPE (pela Lei 10.847) vinculada ao MME, com a finalidade de prestar 
serviços na área de estudos e pesquisas para subsidiar o planejamento do setor energético; a 
criação da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica-CCEE pela Lei 10.848 (que 
substitui o MAE), responsável pela viabilização dos mercados livre e regulado; e a criação do 
Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) pela Lei 5.175/2004, para acompanhar e 
avaliar a continuidade e a segurança do suprimento de energia em todo o território nacional 
(Agência Nacional de Energia Elétrica, 2008). 
A ANEEL (2010) tem como atribuições regulare fiscalizar a geração, a transmissão, a 
distribuição e a comercialização da energia elétrica, atendendo reclamações de agentes e 
consumidores com equilíbrio entre as partes e em beneficio da sociedade; mediar os conflitos 
de interesses entre os agentes do setor elétrico e entre estes e os consumidores; conceder, 
permitir e autorizar instalações e serviços de energia; garantir tarifas justas; zelar pela 
qualidade do serviço; exigir investimentos; estimular a competição entre os operadores; e 
assegurar a universalização dos serviços. 
A Figura 2 mostra a estrutura de governança do setor elétrico. 
 
 
 
18 
 
Figura 2 - Estrutura de Governança Atual do Setor Elétrico. 
Fonte: ANEEL, 2008, p. 20. 
G = Geradoras; T = Transmissoras; D = Distribuidoras; C = Consumidores. 
 
Cabe à ANEEL a fiscalização e regulação do funcionamento do setor elétrico, bem 
como a mediação de conflitos. A ANEEL conta com a participação de órgãos de fiscalização 
colegiados, como as agências estaduais de fiscalização, às quais a ANEEL delega parte de 
suas atribuições desde que tais órgãos disponham da competência técnica e necessária para 
tanto. É, também, auxiliadora das funções da ANEEL, a Agência Nacional do Petróleo, Gás 
Natural e Biocombustíveis (ANP), que é uma autarquia federal vinculada ao Ministério de 
Minas e Energia. A ANP é responsável pela execução da política nacional para o setor 
energético do petróleo, gás natural e biocombustíveis. Como essas energias primárias também 
podem ser utilizadas para produzir eletricidade, o que pode incorrer em conflitos regulatórios, 
a ANP mantém locos de cooperação com a ANEEL, embora tenha autonomia e não seja um 
agente institucional do setor elétrico especificamente. 
Os Conselhos de consumidores e entidades de defesa do consumidor acabam 
exercendo papel auxiliar na fiscalização e regulação da prestação de serviços do setor elétrico. 
A Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda (SEAE), a 
Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça (SDE/MJ), e o Conselho 
Administrativo de Defesa Econômica (CADE), conforme Abreu (1999), compõem o Sistema 
Brasileiro da Concorrência (SBDC). 
 
 
19 
Esses órgãos, segundo Abreu (1999), são responsáveis por analisar as fusões das 
empresas e verificar as denúncias de condutas anticompetitivas, objetivando garantir a 
concorrência, evitando a formação de cartéis, monopólios ou práticas restritivas à 
concorrência. 
O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), o Ministério do Meio 
Ambiente (MMA), a Secretaria Nacional de Recursos Hídricos (SNRH) e a Agência Nacional 
de Águas (ANA) têm como função, de acordo com Alfredo (2005), vincular a outorga da água 
a critérios socioambientais, bem como as renovações de licença, que dependem da efetiva 
operação dos equipamentos de controle da qualidade das afluentes. 
No que cabe ao funcionamento do mercado, a CCEE é responsável pela administração 
do mercado de energia, enquanto o ONS executa as atividades de coordenação e controle das 
operações de geração e transmissão de energia elétrica do SIN. Tanto o ONS quanto o CCEE 
estão sujeitos à fiscalização da ANEEL. 
A EPE é responsável pelos estudos que subsidiam o planejamento do setor energético, 
e a Eletrobrás exerce a função de holding das empresas Federais e Estaduais, bem como fica 
responsável pela comercialização da energia de Itaipu e das termonucleares. 
O que se observa, a partir de 2004, é a desvinculação do pensamento institucional de 
ênfase nas privatizações das empresas, que norteou toda a América Latina na década de 1990. 
Com a delegação de maiores poderes ao MME, o Estado brasileiro, além de centralizar 
aspectos políticos e econômicos relevantes sobre a oferta e demanda de energia, buscou 
manter a estrutura de governança híbrida, com a presença de empresas privadas e públicas, 
tentando garantir a eficiência das grandes geradoras federais e estatais, bem como honrar suas 
obrigações para com a Itaipu binacional. O Estado assume a responsabilidade de grande parte 
da geração de eletricidade. 
A comercialização de energia entre os agentes (concessionários, permissionários e 
autorizados dos serviços e instalações, bem como seus consumidores, no SIN) ocorre via 
contratação regulada ou livre (art.1 da Lei 10848/2004). 
As companhias distribuidoras, obrigatoriamente, adquirem a totalidade de suas 
necessidades de energia elétrica através de: (a) contratos regulados, firmados no ACR, e (b) 
contratos de compra e venda de energia proveniente de geração distribuída, de fontes 
alternativas (eólica, biomassa e PCH enquadradas na primeira etapa do Programa de Incentivo 
às Fontes Alternativas - “Proinfa”), ou da Itaipu Binacional-ACL. As companhias 
distribuidoras deverão informar ao Poder Concedente sobre a quantidade de energia 
 
 
20 
necessária para atendimento de seu mercado futuro e estarão sujeitas a penalidades por 
eventuais desvios (artigo 1). 
A nova lei também determina a desverticalização das companhias distribuidoras, que 
não mais poderão: (i) desenvolver atividades de geração e transmissão, (ii) vender energia 
para consumidores livres fora de sua área de concessão, (iii) participar em outras sociedades 
(exceto quando relacionadas a operações de financiamento em benefício da própria 
concessionária, sujeitas à autorização prévia da ANEEL), (iv) praticar atividades estranhas ao 
objeto da concessão. 
As companhias distribuidoras de pequeno porte (mercado inferior a 500 GWh/ano) e 
aquelas que atendem a sistemas isolados não estarão obrigadas a participar dos leilões do 
ACR, nem estarão sujeitas às exigências de desverticalização. 
As companhias geradoras de energia elétrica podem vender energia tanto no ACR 
quanto no ACL. A venda no ACR será feita por licitações. Haverá licitações distintas para 
contratação de energia proveniente de : (i) empreendimentos de geração existentes (a 
chamada “geração existente”), (ii) novos empreendimentos de geração (“geração nova”), e 
(iii) fontes alternativas ((LAFIS, 2004). 
São, portanto, definidos dois ambientes de contratação no mercado de energia com 
lógicas distintas: o ambiente de contratação regulada, ACR (também conhecido como pool), e 
o ambiente de contratação livre, ACL. 
No Ambiente de Contratação Regulada (ACR), participam concessionários de serviço 
público de distribuição e geração. A contratação se dá através de contratos bilaterais 
regulados (resultantes de leilões), denominados Contratos de Comercialização de Energia 
Elétrica no Ambiente Regulado (CCEAR), existentes entre os vendedores (comercializadores, 
geradores, produtores independentes ou autoprodutores) e compradores (distribuidores) que 
participam dos leilões de compra e venda de energia pelo critério de menor tarifa. Ainda no 
Ambiente de Contratação Livre (ACL), há a livre negociação entre os Produtores 
Independentes de Energia (PIEs), geradores, comercializadores livres e importadores e 
exportadores de energia. Os acordos de compra e venda são consolidados por contratos 
bilaterais (LAFIS, 2004). 
Todos os geradores, por se tratar de segmentos competitivos, de acordo com o 
Ministério de Minas e Energia (2003), sejam concessionários de serviços públicos ou 
produtores independentes de energia, incluindo os autoprodutores com excedentes, poderão 
comercializar energia nos dois ambientes. 
 
 
21 
No Ambiente de Contratação Regulada, a entrega, por parte das geradoras foi prevista 
para ocorrer em um, três ou cinco anos (chamados respectivamente de A-1, A-3, A-5), após a 
data de realização dos leilões, estes determinados pelo MME e realizados pela ANEEL e pela 
CCEE. Por meio de portaria, o MME fixa o preço teto parao MWh a ser ofertado, 
considerando se a fonte de energia é térmica ou hidráulica. A prioridade é dada ao vendedor 
que pratica o menor preço (Agência nacional de energia elétrica, 2008). 
No ACL comercializa-se a energia elétrica para atender aos consumidores livres, por 
intermédio de contratos bilaterais livremente negociados quanto aos preços, prazos, volumes e 
cláusulas de hedge a critério dos interessados. No entanto, as concessionárias de geração 
estatais e concessionárias de distribuição, mesmo quando contratando no ACL, deverão 
publicar editais de leilão público, previamente aprovados pela ANEEL (Ministério de minas e 
energia, 2003). 
A figura 3 mostra o ambiente de contratação instituído. 
 
 
Figura 3 - Ambiente de Contratação do Setor Energético Brasileiro. 
Fonte: Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (2009). 
 
Em agosto de 2009, participaram das operações, na CCEE, 950 Agentes, sendo 26 
Autoprodutores, 64 Comercializadores, 637 Consumidores Livres (66,7%), 43 Distribuidores, 
27 Geradores, 156 Produtores Independentes e 1 Agente da Classe Importador/Exportador 
(Câmara de comercialização de energia elétrica, 2009). 
Segundo Correia et al. (2006), o desenho de leilão, adotado a partir de 2004, buscou 
simplificar ao máximo o problema de decisão dos proponentes vendedores. Além disso, a 
nova legislação causou impactos significativos para praticamente todos os agentes do setor. A 
 
 
22 
atividade de compra de energia das empresas de distribuição teve seus limites de contorno 
bastante definidos, o universo de possibilidades de contratação foi restringido e a previsão do 
mercado tornou-se fator de alto risco na atividade de distribuição. 
A inserção de penalidades para eventuais erros, conforme Correia et al. (2006), 
aumentou a previsão do mercado. Essa rigidez na contratação, bem como o fato de a maior 
parcela da energia ser comprada em conjunto (nos leilões), fizeram com que os riscos de 
preço de energia provenientes de exercício de poder de mercado e compras no curto prazo 
fossem praticamente eliminados. 
Com relação aos consumidores, a nova lei segue a tendência histórica de se repassar 
ao consumidor final os custos do setor. Embora na Lei 10.848 existam as diretrizes de 
modicidade tarifária e a limites de repasse tarifário (art.2, item V), os consumidores arcarão 
com os custos das licitações promovidas no ambiente regulado, inclusive encargos e tributos 
incidentes. Serão também repassados os custos com a contratação de reserva de capacidade, 
com os contratos de disponibilidade de energia, pelos quais os geradores serão pagos 
independentemente de efetiva entrega de energia elétrica ao sistema (art.2, IV, parágrafo.4). 
Como foco conflituoso, a nova lei permite que as companhias distribuidoras fiquem 
impossibilitadas de revisar tarifas, bem como receber recursos públicos do CDE (art.10, Lei 
10.848). 
Esse cenário mostra mudanças institucionais importantes, como o intento, por parte do 
Estado, de criar e aumentar o número de agências estaduais de regulação, delegando parte das 
atividades da ANEEL aos órgãos estaduais. 
Ao mesmo tempo, procurou estimular a geração, por parte de agentes privados, com 
regulamentações claras e agentes institucionais dotados de poderes, a fim de agilizar a tomada 
de decisões no ambiente de contratações. Isso pode ocorrer de um lado, com preços 
livremente negociados na geração e comercialização no Ambiente de Contratação Livre 
(ACL), de outro, com leilões e licitação pelo menor preço no Ambiente de Contratação 
Regulada (ACR), bem como com a garantia do cumprimento dos contratos por meio de 
penalidades bem definidas. 
Ao aumentar o número de agentes institucionais na estrutura de governança do setor 
elétrico, o Estado almejava definir melhor os direitos de propriedade de cada agente 
econômico, em cada segmento, buscando simplificar a tomada de decisões dos diferentes 
agentes. 
As mudanças de 2004 indicam que ocorrem aumentos nos custos de transação devido 
ao surgimento de complexas relações contratuais entre os agentes e a presença de uma 
 
 
23 
governança híbrida, com a presença determinante do estado direcionador das regras e do 
mercado com empresas privadas e públicas. 
Ao mesmo tempo em que a diversificação dos agentes institucionais busca melhorar a 
qualidade dos serviços oferecidos e melhor delimitar os direitos e deveres dos agentes, 
buscando prover contratos mais transparentes e seguro, para facilitar as transações e estimular 
a iniciativa privada, pode-se apontar que existe a dificuldade de entender as complexas 
relações entre os agentes participantes somadas às incertezas com relação à garantia dos 
direitos de propriedade estabelecidos nos contratos (nos últimos 20 anos, as regras do jogo 
foram mudadas diversas vezes) e ao aumento dos custos de transação e potencial desestimulo 
ao investimento privado no setor. 
 
5 Conclusão 
O ambiente de geração, distribuição e comercialização de energia mostra a 
importância que existe nos estudos sobre a governança e os custos de transação. A economia 
institucional argumenta que a eleição da estrutura de governança é fundamental na redução 
dos custos de transação decorrentes da racionalidade limitada dos agentes econômicos 
envolvidos na transação (expresso pela elaboração de contratos incompletos), bem como das 
especificidades dos ativos e da possibilidade de surgimento do oportunismo. 
Esses aspectos da teoria institucional permitem compreender e mapear a complexidade 
da atual formação do setor elétrico brasileiro, as modificações na estrutura de governança que 
visam, no fundo, o equilíbrio entre a oferta e demanda de energia e a eficiência do setor. 
Somam-se a isso, as dificuldades resultantes da própria alteração na estrutura de governança, 
no que se refere ao poder; de uma estrutura centralizada, onde o setor é um monopólio natural 
estatal, para uma estrutura híbrida, com a presença de múltiplos agentes e interesses 
coordenados e regulamentados pela ANEEL. 
Salienta-se que as modificações, ocorridas em 2004, tiveram como fator motivador a 
correção das falhas que geraram a crise energética de 2001. Quer dizer, na medida em que 
havia brechas nos contratos, que permitiram o desequilíbrio no setor e o racionamento, o 
Estado centralizou os direcionamentos políticos e procurou delimitar, de maneira mais clara, 
as regras de contrato e de relação entre os diferentes agentes envolvidos e entre os agentes e o 
Estado. Se, por um lado, tais iniciativas, em tese, diminuem as incertezas e, 
consequentemente, os custos de transação envolvidos, por outro lado, tais aspectos legais 
surgiram no momento da crise e, portanto, podem estabelecer condições adversas para o 
Estado, setor privado, e consumidor, as quais o tempo mostrará. Não há dúvidas que a 
 
 
24 
estrutura de governança é mais participativa e propicia maior transparência aos processos de 
negociação relativamente à estrutura anterior. Os contratos e a coordenação da ANEEL tem 
como objetivos garantir que ocorram investimentos no setor. No entanto, as regras vigentes 
foram estabelecidas em um ambiente de alta pressão social, de necessidade de resposta rápida, 
o que significa menor reflexão e negociação entre os agentes. 
Consequentemente, as reformas têm como foco o aumento da competição entre os 
diversos agentes (através dos leilões, em particular) e a implementação de relações 
institucionais e organizacionais, tanto vertical quanto horizontalmente, aumentando a 
complexidade do setor, e exigindo um forte papel direcionador e fiscalizador do Estado, de 
maneira a gerar confiança e, principalmente, credibilidade da agência e dos agentes 
envolvidos. Além disso,deixando de lado os problemas técnicos, existem aspectos 
sociopolíticos que interferem na estrutura de governança, portanto, nos resultados a serem 
alcançados, tais como a necessidade de administrar as grandes diferenças regionais, os 
interesses diversos e conflitantes dos agentes públicos e privados, a assimetria de 
informações, entre outras. 
A complexidade do setor, seguramente, não é contemplada pela missão da ANEEL, 
que é bem restrita: proporcionar condições favoráveis para que o mercado de energia elétrica 
se desenvolva com equilíbrio entre os agentes e em benefício da sociedade. 
 
Referências 
ABREU, Yolanda Vieira de. Reestruturação e Privatização do Setor Elétrico Brasileiro 
(1999). 1. ed. Málaga: Grupo Eumed.net,v.1 2009. 
 
ALFREDO, J. Manguezal ameaçado: impactos sociais e ambientais da criação de camarões 
em cativeiro. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, 2005. 
 
ALVES, J. M.; STADUTO, J. A. R. Análise da estrutura de governança: o caso da Cédula do 
Produtor Rural (CPR). In: WORKSHOP BRASILEIRO DE GESTÃO DE SISTEMAS 
AGROALIMENTARES, 2.,1999, Ribeirão Preto. Anais... Ribeirão Preto: Programa de 
Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial: FEA: USP, 1999. 1 CD-ROM. 
 
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Atlas de energia elétrica. Disponível 
em: <http://www.aneel.gov.br>. Acesso em: 10 dez. 2008. 
 
______. Relatório ANEEL 2007. Disponível em: <http://www.aneel.gov.br/>. Acesso em: 
19 maio 2009. 
 
BAER, W.; MCDONALD, C. Um retorno ao passado? A privatização de empresas de 
serviços públicos no Brasil: o caso do setor de energia elétrica. In: Planejamento e políticas 
Públicas-PPP, n. 16, dezembro de 1997. 
 
 
 
25 
BANCO MUNDIAL. O Estado num mundo em transformação. Relatório sobre o 
desenvolvimento mundial. Washington: Oxford University Press, 1997. 
 
BRANCO, C. Energia elétrica e capital estrangeiro no Brasil. São Paulo: Alfa-Ômega, 
1975. 
 
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Balanço energético nacional 2008. Brasília, DF: 
MME, 2008. 
 
______. Câmara de Comercialização de Energia Elétrica - CCEE. Nossa história. 
Brasília, DF: CCEE, 2009. Disponível em: <http://www.ccee.org.br>. Acesso em: 10 jan. 
2009. 
 
______. Ministério de Minas e Energia. Modelo institucional do setor elétrico. Brasília, 
DF: 2003. 
 
CASTRO, M. A. L. Análise de risco de uma distribuidora associada a compra e venda de 
energia no novo modelo do setor elétrico. 2004. Dissertação (Mestrado)-Faculdade de 
Tecnologia, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2004. 
 
COASE, R. H. The Nature of the Firm. Economica n. 4, november, 1937. 
 
COASE, R. H. The problem of social cost. Journal of Law and Economics, Chicago, v. 3, 
Oct. 1960. 
 
CORREIA, T.; MELO, E.; COSTA, A.; SILVA, A. Trajetória das reformas institucionais da 
indústria elétrica brasileira e novas perspectivas de mercado. Revista Economia, Brasília 
(DF), v. 7, n. 3, p. 607-627, set./dez. 2006. 
 
CURSINO NETO, João. A estruturação e conformação do investimento na geração de 
energia elétrica por meio hidráulico uma contribuição ao estudo das variáveis influentes 
no retorno. Dissertação (Mestrado em Ciências contábeis). Fundação Alvares Penteado, 
2007. 
 
ESCELSA. O que é energia elétrica. Disponível em: <http://www.escelsa.com.br>. Acesso 
em: 14 maio 2009. 
 
FADUL, Elvira M. Cavalcânti. Reforma do Estado e serviços públicos: transformação de um 
modelo ou adaptação à uma nova ordem social? In: Seminário Internacional 
“Reestruturação e Reforma do Estado: Brasil e América Latina no Processo de 
Globalização” São Paulo, FEA/FIA/USP, 18-21 de maio 1998. 
 
FREITAS, K. R. V. As estratégias empresariais de cooperação e integração vertical: o 
caso da indústria de petróleo do Brasil. 2003. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação 
em Economia)-Instituto de Economia, Universidade Federal Fluminense, 2003. 
 
GODOY, Amalia M.G. Governança pública local: uma reflexão. In: GODOY, Amalia M. G.; 
DIAS, Maria H. A. Teoria econômica contemporânea: debates e reflexões. São Paulo: 
Coluna do Saber,p. 76-116. 2009. 
 
 
 
26 
GOLDEMBERG, J. Energia no Brasil. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1979. 
 
GUADAGNINI, M. A. Fontes alternativas de energia: uma visão geral. Rio de Janeiro: 
COPPE/UFRJ, 2006. 
 
LAFIS. Estudo setorial: energia elétrica - geração. São Paulo, 2004. Disponível em: 
<http://www.scribd.com/doc/16126199/Energia-Eletrica-Geracao>. Acesso em: 19 jun. 2008. 
 
LEÃO, C. J. S. Estrutura de Governança e Estratégia Empresarial no Setor Elétrico: o 
Caso da Atividade de Manutenção Elétrica da Coelba. 2004. Dissertação (Mestrado)-
Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal da Bahia, 2004. 
 
LOSEKAN, L.D. Reestruturação do setor elétrico brasileiro: coordenação e concorrência. 
Tese de Doutorado, Instituto de Economia da UFRJ, Rio de Janeiro, dezembro de 2003. 
 
MARTINS, A. R. S.; AGUIAR, S. C.; HADDAD, J. et al. Eficiência energética: integrando 
usos e reduzindo desperdícios. Brasília, DF: Agência Nacional de Energia Elétrica: Agência 
Nacional de Petróleo, 1999. 
 
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Privatização e Serviços Públicos. In: Revista 
Trimestral de Direito Público. N° 22. São Paulo: Malheiros, 1998. 
 
NORTH, D. Institutions, institutional change and economic performance. Cambridge: 
University Press, 1990. 
 
OLIVEIRA, Carlos, A. C. N. V. O surgimento da estruturas híbridas de governança na 
indústria de energia elétrica no Brasil: a abordagem institucional da Economia dos Custos 
de Transação. 1998. Dissertação (Mestrado)- Universidade Federal de Santa Catarina, 
Florianópolis, 1998. 
 
PECI, A. Novo marco regulatório para o Brasil da pós-privatização: o papel das agências 
reguladoras em questão. Revista de Administração Pública, v. 33 n. 4, p 121-135, Julho-
Agosto, 1999. 
 
PECI, A. Reforma regulatória brasileira dos anos 90 à luz do modelo de Kleber 
Nascimento. RAC. Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, n. 1, 
p. 11-30, 2007. 
 
PEREIRA, D.; CELENTANO, D.; PEREIRA, R. Fatos Florestais da Amazônia 2005. 
Belém: IMAZON, 2005. 
 
PINTO JR. (org.). Economia da Energia: fundamentos econômicos, evolução histórica e 
organização industrial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. 
 
PIRES, M. C. P. Regulação e concessão de serviços públicos de energia elétrica: uma 
análise contratual. 2000. Dissertação (Mestrado)-Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio 
de Janeiro, 2000. 
 
POSSAS, M. L. ET AL. Regulação da Concorrência nos Setores de Infra- estrutura no 
Brasil: Elementos para um Quadro Conceitual. Relatório de Pesquisa IPE,1997. 
 
 
27 
 
SANTANA, E. A. de; OLIVIERA, C. A. C. N. V. de. Análise da indústria de energia 
elétrica do Brasil: abordagem através da economia dos custos de transação. Revista Pesquisa 
e Planejamento Econômico, Rio de Janeiro, v. 29, n.2, p 372-294, ago, 1999. 
 
SAUER, I. L. et al. A reconstrução do setor elétrico brasileiro. São Paulo: Paz e Terra e 
UFMS, 2003. 
 
______. Estratégia de geração ao mínimo custo e assimetria de informações: o caso da 
operação do mercado de energia elétrica do Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DE 
ECONOMIA, 32., 2004. Salvador. Anais... Salvador: ANPEC, 2004. Disponível em: 
<http://www.anpec.org.br/encontro_2004.htm>. Acesso em: 18 abr. 2009. 
 
WILLIAMSON, O. E. Economic Organization: firms, markets and policy control. New York: 
Harvester Wheatsheaf, 1986. 
 
______. The economic institutions of capitalism. New York: Free Press, 1985. 
 
______. The economic of governance. American Economic Review, v. 95, Papers and 
Proceedings, p. 1-18, 2005. 
 
______. The mechanism of governance. New York: Oxford University, 1996. 
 
______. Transaction cost economics and organizational theory. Journal of Industrial and 
Corporate Change, v. 2, p. 107-156, 1993. 
 
______.Transaction cost economics: the governance of contractual relations. Journal of law 
and economics, v. 22, n. 2, p. 233-261, Oct. 1979. Disponível em: 
<http://www.nek.lu.se/NEKAHA/hemsida/Williamson.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2009. 
 
______.Why Law, economics and organization. UC Berkeley School of Law Public Law and 
Legal Theory Working Paper n. 37, 2000. Disponível em: 
<http://groups.haas.berkeley.edu/bpp/oew/wleaorg17b121800.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2009. 
VENTURA FILHO, A. Competencia de Mercados Energeticos: Estudio de Caso Brasil. 
Organización Latinoamericana de Energia – OLADE, 2007. Disponível em: 
http://www.olade.org.ec/documentos2/Estudio%20de%20Caso%20Brasil.pdf. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
QUAL A ÂNCORA DE CARREIRA PREDOMINANTE NUMA ÁREA INTERNA DE 
UM GRANDE BANCO COMERCIAL DO BRASIL? 
 
Renato Manga Jacob14 
 
Resumo 
Este artigo analisa a evolução da carreira e seus diversos significados, e em seguida, apresenta 
um estudo realizado com funcionários da área meio de um grande banco comercial, sobre as 
suas autopercepções e identificação da sua âncora de carreira. O objetivo da pesquisa foi 
identificar o tipo de âncora predominante e se haveria ligação com o tipo de serviço 
executado. Como metodologia, foi aplicado o Inventário de Âncoras de Carreira de Edgar 
Schein em 67 funcionários, lotados no setor de câmbio e superintendência comercial. O 
resultado deste estudo foi que nos dois grupos pesquisados, a principal âncora de carreira 
encontrada foi Estilo de Vida, contrastando com a hipótese deste artigo, de que haveria 
predominância do tipo "Técnico Funcional", em função do tipo de tarefa realizada. Isso 
demonstra que, independente da atividade executada, há uma aspiração e uma tendência no 
mercado de trabalho atual, por melhor qualidade de vida e equilíbrio entre a vida profissional 
e pessoal. Há outras análises abordadas neste estudo, como idade, sexo, experiência 
profissional, escolaridade, e outras características que possam refinar o resultado. A referência 
bibliográfica utilizada foi o próprio material do Edgar Schein, além de outros artigos e 
dissertações com aplicação do questionário em outros grupos de pessoas, como estudantes e 
profissionais de outros ramos de atividade. 
Palavras-Chave: Ancôra de Carreira. Estilo de Vida. Banco Comercial. 
 
Abstract 
This article analyses career evolution and its various meanings, additionally to a study 
carried out with employees of the internal area of a large commercial bank, about their self-
perceptions on and identification of their career anchor. The aim of the research was to 
identify the type of prevailing anchor and whether there might be any connection with the 
type of job performed. As methodology, Edgar Shein's Inventory of Career Anchor was 
applied in 67 employees, from the exchange sector and the commercial superintendence. In 
both groups surveyed, the main anchor found was Life Style, contrasting with the hypothesis 
of this article, that the “Technical-Functional“ type would prevail, as a result of the type of 
task carried out. This shows that, regardless of the activity performed, there is an aspiration 
for better quality of life and balance between the professional and the personal life. Other 
aspects have been considered in this study, like age, gender, time at the bank, level of formal 
education, and other characteristics which might refine the result. The bibliographical 
reference used was that of Edgar Schein’s own material, in addition to other articles with 
application of the questionnaire in other groups of individuals, like students and professionals 
of other fields of activity. 
Key-word: Career Anchor. Life Style. and Commercial Bank. 
 
 
1 Introdução 
O segmento bancário brasileiro se desenvolveu muito nos últimos anos, em grande 
parte, impulsionado, pela entrada de empresas estrangeiras no setor, que ocorreu em meados 
da década de 90, trazendo maior concorrência e novas técnicas de atuação dos bancos 
 
14 Instituição Pontifícia Universidade Católica – PUC-SP. 
 
 
29 
comerciais, além da estabilidade econômica alcançada pelo país, que incentivou a entrada 
destas empresas internacionais. Tal progresso trouxe uma nova dinâmica para o mercado e um 
forte impacto na cultura organizacional destas instituições, principalmente no que tange a 
carreira profissional de seus funcionários. 
Segundo Lopes (2008), as organizações têm vivenciado profundas mudanças para se 
ajustarem ao novo contexto competitivo e globalizado. Com estruturas mais horizontais, 
flexibilização do trabalho e adoção de novas tecnologias, a carreira profissional tem sido cada 
vez mais afetada, por isso torna-se imperativo que os trabalhadores e as organizações se 
preocupem e repensem constantemente as formas como lidam com as carreiras. 
Nesse campo de estudos, de mudanças e transformações nas empresas e das carreiras, 
há diversos autores que já realizaram pesquisas sobre o assunto, como Lisboa (2002), que 
discorre sobre os impactos das modificações ocorridas nos indivíduos como profissionais; e 
assim como no trabalho de Teixeira e Gomes (2005), o qual afirma que a decisão por uma 
carreira deve ser compreendida como a capacidade de identificar interesses, estabelecer 
objetivos profissionais e traçar um plano de ação para atingir seus objetivos. Já Dutra (1996) 
descreve que a administração da carreira é importante para adequar os projetos de vida das 
pessoas aos da organização e, com isso se obter suporte necessário para planejar uma 
trajetória profissional. 
Estudos sobre trajetória profissional e âncoras de carreira existem na literatura há 
décadas e em certa quantidade, como Super (1980), Chanlat (1995), Martins (2001) e Hall 
(2004), os quais estão sempre em pauta. Entretanto, segundo Lopes (2008), em relação ao 
setor bancário há poucos trabalhos que relacionam a trajetória profissional e âncora de 
carreiras, destacando-se a dissertação de mestrado de Keilla Petronilia Santos Lopes, sobre 
“Trajetória Profissional e Âncora de Carreira de Executivos do Setor Bancário”, de 2008, que 
descreve e relaciona estudo sobre este tema com profissionais da área financeira. 
Diante da afirmação de Lopes (2008), de que há pouca quantidade de estudos 
realizados sobre âncora de carreiras de profissionais do segmento bancário, principalmente 
em postos de baixa comissão, foi levantada a dúvida de qual âncora de carreira que predomina 
numa área interna de um grande banco comercial, como por exemplo, o setor de comércio 
exterior, e também qual o perfil desses profissionais. Além disso, com as mudanças que 
houve nos últimos anos no segmento bancário, é de se perguntar: será que o emprego num 
grande banco comercial ainda é visto como uma carreira tradicional, ou seja, marcado pela 
estabilidade e segurança de emprego? 
 
 
30 
Vale salientar que com o segmento bancário mais globalizado e concorrido, o 
atendimento ao cliente virou um diferencial de mercado para conquistar e manter a clientela, 
exigindo das organizações diferenciação no atendimento. Neste contexto, a área de apoio, 
como setor de câmbio, passou de mero executor de rotinas para uma área que além de 
executar, também presta consultoria para os profissionais ligados ao atendimento direto ao 
cliente, exigindo, desta forma, uma maior especialização dos funcionários da área meio. 
Diante do exposto, este artigo concentra-se na seguinte questão: Qual a âncora de 
carreira predominante de um grupo de funcionários de um grande banco comercial brasileiro, 
os quais atuam em áreas internas e prestam serviços de apoio? 
Espera-se que com este estudo, possa responder outras questões secundárias, mas nãomenos importantes, como: Será que estas instituições, que contam com grande número de 
funcionários, sabem utilizar todo o potencial de seu corpo funcional nos lugares apropriados? 
Será que a carreira de bancário ainda é considerada como tradicional? Será que nas unidades 
de apoio, em que se exige uma maior especialização, há predominância de pessoas com 
âncora de carreira ligada a "Técnico Funcional”, visto que as áreas de apoio necessitam de 
cada vez mais especialização de seus funcionários? Qual o perfil dos funcionários que atuam 
nas áreas meios? 
O objetivo desse artigo será identificar a âncora de carreira predominante entre os 
funcionários das estruturas de apoio, cuja exigência técnica é primordial para o atendimento e 
execução do serviço. Como objetivos específicos, foram definidos: criar relação entre o perfil 
dos profissionais com a âncora de carreira predominante, observando se há correlações, e 
verificar se o banco está valorizando o funcionário com perfil “técnico funcional” na área 
interna, já que existe exigência de maior especialização. 
O foco da pesquisa foi especificamente nos setores de câmbio e da superintendência 
comercial, numa instituição financeira de grande porte, um dos maiores bancos comerciais do 
país, com grande representatividade no mercado cambial e com 200 anos de experiência. 
Foram entrevistados 67 funcionários, no período de agosto de 2008 a setembro de 2008, que 
atuam em áreas internas do banco. Para coletar os dados, foi utilizado o questionário de 
âncora de carreira elaborado por Edgar Schein. 
 
2 Fundamentação teórica 
Segundo Lopes (2008), durante muitos anos, a trajetória profissional dos trabalhadores 
não pressupunha muita mobilidade e nem era alvo de inovações, ou muito menos 
pressionadas por mudanças como ocorre na atualidade. Evoluir dentro dessas trajetórias era 
 
 
31 
um privilégio concedido a poucos, haja vista serem reguladas pelas tradições e pelos sistemas 
sociais. Nesse contexto, a carreira tradicional, segundo Calvosa (2009), era tida como um 
modelo dentro das estruturas organizacionais das grandes companhias, principalmente em 
instituições financeiras. Nesse tipo de carreira, o caminho do indivíduo era linear dentro da 
organização, marcado, sobretudo, pela estabilidade, segurança e progressão hierárquica. 
Entretanto, com o passar do tempo, os indivíduos buscaram entender as razões para se 
trabalhar, construindo e buscando sentido para sua vida pessoal e profissional, e, para isso, 
procuraram traçar seus próprios planos de carreira. 
Na literatura podem ser identificados três tipos de carreiras, segundo Dutra (1996), a 
carreira em rede, carreira em linha e carreira em paralelo. A carreira em linha é identificada 
quando a empresa conduz seu funcionário para um caminho único, voltado para a 
especialização e para níveis escalonados, sequencias e estruturados de promoções, que o 
levam a posições gerenciais. Já uma carreira em rede, conforme Nelson (1984), permite que o 
profissional opte pela trajetória que mais lhe agrade, conforme critérios de acesso 
estabelecidos. A carreira em paralelo é uma sequencia de posições que uma pessoa pode 
assumir no interior de uma organização, orientada em duas direções, uma de natureza 
profissional e outra de natureza gerencial, sendo que o acesso aos maiores níveis de 
remuneração e de reconhecimento oferecidos pela empresa é garantido em qualquer uma das 
direções escolhidas. 
Apesar de vários estudos sobre a carreira, no presente artigo será explorado o trabalho 
de âncoras de carreiras desenvolvido por Schein (1978, 1993), por se apresentar como a mais 
completa entre as abordagens do gênero e também porque esta teoria possui maior 
identificação com os objetivos desta pesquisa. 
De acordo com Schein (1993), o conceito âncoras é uma combinação de áreas 
percebidas de talentos, competências, valores e motivos dos quais não se abre mão quando se 
confronta com a necessidade de fazer escolhas em sua profissão. Assim, âncora de carreira 
são inclinações pessoais que servem de guia para as decisões relativas à carreira individual e 
tem como ideal verificar o autoconhecimento da pessoa, baseado em suas motivações e 
habilidades ocupacionais, para orientar e integrar as experiências profissionais. 
Segundo Lopes (2008), o conceito de âncora de carreira é uma forma de explicar os 
padrões dos motivos que levam às tomadas de decisões da escolha profissional. Esses padrões 
consideram: autopercepção de talento, motivos e valores que servem para guiar, para mudar 
ou estabilizar as carreiras dos indivíduos. 
 
 
32 
“A âncora de carreira na vida profissional de uma pessoa pode ser utilizada como uma 
forma de organizar experiências, identificar áreas de contribuição ao longo de sua trajetória, 
gerar critérios para tipos de trabalho e identificar padrões de ambição e sucesso que a pessoa 
pode determinar para si mesma. Ela serve, portanto, para guiar, balizar, estabilizar e integrar a 
carreira de uma pessoa”, segundo Bouzada, Rodrigues E Kilimnik (2007). 
O conceito de SCHEIN (1978) teve sua origem a partir de seus estudos na Sloan 
School of Management, do Massachusetts Institute os Technology (MIT), com 44 alunos de 
MBA, todos do sexo masculino, durante doze anos, utilizando entrevistas para examinar a 
história de trabalho e as razões das decisões relativas à carreira no período de 1961 a 1973. 
Essas entrevistas relatavam a história da vida profissional desses alunos, e as razões de suas 
escolhas e decisões tomadas. Fazendo a análise das respostas atuais, o autor encontrou um 
padrão de respostas, o que lhe permitiu um enquadramento das similaridades. Constatou-se, 
também, que as razões tornavam-se mais claras, articuladas e consistentes com a acumulação 
de experiência no trabalho. 
Segundo Lopes (2008), com base nos depoimentos, Edgar Schein identificou 
inicialmente cinco categorias de razões e padrões de escolhas ao longo do desenvolvimento da 
carreira. Posteriormente, ao retornar à pesquisa com o mesmo Grupo, já exercendo suas 
atividades profissionais, identificou mais três âncoras. 
De acordo com Schein (1993), só após o contato com as exigências e o ambiente 
organizacional é que eles puderam ter consciência de certas necessidades, valores e talentos. 
Os motivos e valores que haviam manifestado antes da graduação não ajudariam a prever com 
exatidão as carreiras posteriores. As exigências do ambiente organizacional e as expectativas 
pessoais provocaram encontros e desencontros entre suas necessidades, valores e aptidões, 
que só foram vivenciados após alguns anos de experiência profissional. 
Para dar continuidade aos seus estudos e avaliar mais detalhadamente as âncoras de 
carreiras, Edgar Schein construiu um inventário. O inventário permite identificar a âncora de 
carreira predominante, que revela os valores pessoais, dos quais as pessoas não abrem mão. 
Dessa forma, o inventário tem como objetivo uma avaliação das inclinações profissionais 
(competências) de cada indivíduo, indicando o seu perfil. 
Schein (1993) classifica as âncoras de carreiras como: Aptidão técnico-funcional, 
Aptidão administrativa geral, Autonomia/independência, Segurança/Estabilidade, 
Criatividade empreendedora, Vontade de Servir/Dedicação a uma causa, Puro desafio e Estilo 
de Vida. 
 
 
33 
- Aptidão técnico-funcional: Esta âncora é organizada ao redor de um 
determinado conjunto de conhecimento técnicos e funcionais que permitem às pessoas 
desenvolverem e/ou trabalharem em projetos desafiadores em termos técnicos. As pessoas 
com esse tipo de âncora de carreira têm preferência pela especialização, ou seja, atuam 
buscando desenvolver ao máximo uma determinada

Outros materiais

Perguntas Recentes