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Apostila de Missiologia (Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição)

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SEMINÁRIO PRESBITERIANO 
“REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO” 
 
 
 
MISSIOLOGIAMISSIOLOGIAMISSIOLOGIAMISSIOLOGIA 
 
“Declare sua glória entre as nações” 
Salmo 96:3 
 
"Deus é o Senhor Soberano das Missões" 
John Eliot 
 
“Deus não pode ser invocado por ninguém, exceto por aqueles 
que conheceram sua misericórdia por meio do Evangelho” 
João Calvino 
 
 
 
 
 
 
 
 GILDÁSIO JESUS B. DOS REIS 
2006 
 
 2 
O ESTUDO DA MISSIOLOGIA 
 
QQQQuando olhamos para a Igreja Evangélica Brasileira e o movimento missionário atual, 
percebemos como ao longo dos anos teologia e missão tem andado por caminhos 
diferentes, completamente divorciados. Trata-se de uma dicotomia que precisa ser 
corrigida. Nós precisamos das duas: Precisamos da teologia, pois ela nos dá o 
embasamento para a tarefa missionária, e é especialmente importante por causa da 
dependência que a igreja tem dela para medir os nossos esforços com o padrão divino. E 
precisamos da missiologia pois ela é o meio pelo qual Deus faz nascer a Igreja, ela é 
resultado da ação não somente de Deus ao enviar seu Filho ao mundo como também do 
esforço de irmãos que divulgam o Evangelho de Cristo. 
 
Missiologia é a soma de duas palavras: do latim, “missione” significando função ou 
poder que se confere a alguém para fazer algo, encargo, incumbência; e do grego, 
“logia”, que significa estudo, conhecimento. Portanto, podemos definir Missiologia 
como a ciência que estuda os diferentes aspectos da missão que Deus deu ao homem. 
Carlos Del Pino, em seu artigo "Missiologia e Educação Teológica", diz que a “nossa educação 
teológica não tem se preocupado com o aspecto missiológico e missionário na formação dos 
nossos alunos"1, reforçando o fato de que existe, mesmo que inconsciente, uma tentativa de 
divorciar a Missiologia da Teologia. 
Esta dicotomia trás algumas implicações para a vida da igreja: 
1) Dificuldades para identificar de maneira global a "obra de Deus", que acaba sendo 
confundida com a manutenção do status quo, dando a entender que o Reino de Deus2 
está contido em uma estrutura eclesiástica. 
2) As prioridades ministeriais são via de regra, voltadas para dentro, a fim de satisfazer 
todas as necessidades que foram criadas “em nome de Deus” dentro das estruturas 
eclesiásticas, em prejuízo da missão integral3. 
3) O treinamento dos líderes sempre se torna diferenciado, pastores e missionários não 
tem a mesma excelência em seu preparo acadêmico. 
Com o objetivo de romper com este dualismo entre teologia e missiologia, vamos neste curso 
abordar o tema sob 5 perspectivas: 
I. Perspectiva Teológica: Estudaremos a conceituação da tarefa missionária da Igreja 
e os fundamentos teológicos, abordando os diversos pressupostos que sustentam 
uma teologia reformada de missões. 
II. Perspectiva Cultural: É praticamente impossível transmitir uma mensagem do 
evangelho que faça sentido em situações transculturais sem que seus comunicadores 
 
1
 PINO, Carlos Del. Capacitando para Missões Transculturais; Revista Missiológica da Associação de Professores de 
Missões no Brasil, Vol.1, n.2; 1995 
2
 O Cristo que a Igreja reconhece como Senhor é o Senhor de todo universo. Nesta afirmação de seu senhorio 
universal, a Igreja encontra a base para sua missão. Cristo foi coroado como Rei, e sua soberania se estende sobre a 
totalidade da criação. Como tal, ele comissiona os seus discípulos a fazerem discípulos de todas as nações (Mt 28.18-
20) 
3
 O conceito de missão integral propõe um modelo d missão que vai além da experiência religiosa pessoal para incluir 
também auxílio aos pobres e marginalizados. 
 3 
conheçam os receptores da mensagem em seu ambiente cultural e histórico e sem 
que conheçam a si mesmos. Portanto, nossa proposta aqui objetiva mostrar a 
importância em se determinar os pontos de tensão cultural a partir de uma 
abordagem natural (não crítica) dos costumes, cosmologias e cosmovisões comuns 
em diferentes povos. 
III. Perspectiva Urbana: Nesta parte do curso, estudaremos as cidades e seus desafios 
para as missões; desafiando os alunos a desenvolver uma estratégia para o 
ministério urbano, focalizando os desafios sociais e espirituais que o ambiente 
provoca. Examina diversos modelos de ministérios urbanos, inclusive através de 
estudos de campo, e fornece critérios para a elaboração de um ministério bíblico de 
impacto na cidade. 
IV. Perspectiva Bíblica: Nosso objetivo aqui é estudar de maneira panorâmica, as 
bases bíbicas do Antigo e Novo Testamentos de Missões. A matéria apresenta a 
Bíblia como o relato da "história da salvação" e como inspirada por Deus para o 
desempenho da Igreja no mundo. 
V. Perspectiva Histórica: Analisaremos o desenvolvimento e a expansão da fé cristã 
ao longo dos séculos, compreendendo os seus principais personagens, métodos e 
povos alcançados. 
Rev. Gildásio Reis 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4 
MISSIOLOGIA 
UMA PERSPECTIVA 
 TEOLÓGICA-REFORMADA 
 
“Não existe uma só polegada, em todo o domínio de nossa vida humana, da 
qual Cristo, que é soberano de tudo, não declare: é minha” 
Kuiper 
 
I. Conceituando a Missão 
AAAA questão da definição e conceituação da missão, há muito tem sido uma das questões 
mais discutidas no estudo da missiologia. Nem sempre tem havido consenso sobre o que se deve 
entender por missões. O que é missão? Qual é a sua natureza? Quais os objetivos das missões 
cristãs? A considerar os diferentes pressupostos teológicos, uma gama muito grande de 
respostas pode ser dada a estas questões. 
Não obstante, este ser um assunto controvertido, ele é também muito importante 
para a igreja e para os cristãos individuais. Como pode a igreja ser o que deve ser e 
fazer o que deve fazer se não tiver uma clara compreensão acerca do seu propósito na 
sociedade e no mundo? 
 
Desde o começo da História da Igreja muitas derivações de termos têm 
aparecido nas traduções latinas procedentes do verbo grego ‘apostolein’, significando ‘a 
arte de exercer o apostolado, o ofício de um apóstolo’. As palavras mais usadas são: 
Missio e Missiones. A terminologia ‘Missio’ somente veio a aparecer no século XVI 
quando as ordens de monge Jesuítas e Carmelitas enviaram ao novo mundo de então 
centenas de missionários. Inácio de Loyola e Jacob Loyonez consistentemente 
empregaram o termo ‘Missio’. Eles, os jesuitas foram os primeiros a utilizarem a 
terminologia “Missão”, como a propagação da fé Cristã entre os povos não-cristãos, ou 
seja, a disseminação da fé entre os povos não-católicos (os protestantes foram vistos 
como indivíduos a serem alcançados). Este sentido estava intimamente associado com a 
expansão colonial do mundo ocidental aos demais povos (atualmente chamado de 
terceiro mundo).4 
 
Desde meados do século XX, vários sentidos têm sido aplicados ao termo 
“Missão”, alguns mais estreitos, outros, mais amplos. É importante que iniciemos nosso 
curso de missiologia dando alguns conceitos de missão. 
 
1.1. DEFINIÇÕES GENERALIZADAS DE MISSÃO 
 
 Em sua obra Mission Theology: An Introduction,5 o missiólogo Karl Muller apresenta 
uma lista com os seguintes de conceitos: 
 
1. Missão é o envio de missionários para um designado território; 
 
4
 Dr. Antônio José, op cit. 
5
 Karl Muller. Mission Theology: An Introduction (Nettetal, Germany: Eteyler Verlag, 1987), 31-34. (citadas por Dr. 
Antônio José do Nascimento Filho, material utilizado no curso de mestrado em Missiologia no CPPGAJ em 2001) 
 5 
2. Missão tem a ver com as atividades realizadas por tais missionários; 
3. Missão é a área geográfica aonde os missionários realizam seusministérios; 
4. Missão é a agência missionária responsável pela logística e pelo envio dos missionários 
aos seus respectivos campos; 
5. Missão é a propagação do evangelho aos povos não alcançados; 
6. Missão é o centro do qual os missionários irradiam o evangelho; 
7. Missão é uma série de serviços religiosos com o propósito de despertar vocações 
missionárias; 
8. Missão é a propagação da fé Cristã; 
9. Missão é a expansão do reino de Deus; 
10. Missão é a conversão dos povos pagãos; 
11. Missão é a plantação de novas igrejas. 
 
Dr. Antônio José nos informa que até o século XVI, o termo “Missão”, foi usado 
exclusivamente com referência à doutrina trinitária, isto é, ao papel da trindade na história da 
redenção.6 O envio do filho pelo Pai, e por sua vez, o envio do Espírito Santo pelo Pai e pelo 
Filho, cuja interpretação missiológica deu origem à doutrina chamada na história de “Filioque”.7 
Esta interpretação, contanto que aceita como doutrina básica da Igreja Cristã, foi um dos 
motivos da cisão do Cristianismo medieval no ano de 1054. 
 
 
1.2. UMA DEFINIÇÃO DE MISSÃO 
 
Em seu sentido mais amplo, a missão é tudo o que a igreja faz a serviço do Reino de Deus 
(Missões no plural). Em sentido mais restrito, contudo, a missão refere-se à atividade 
missionária, a pregação do evangelho entre povos e culturas em cujo meio ele não é conhecido 
(Missão no singular). A seguir, duas definições: 
 
J.H. Bavinck define assim: 
 
Missões é aquela atividade da igreja, essencialmente nada mais do que a atividade de Cristo, 
realizada por meio da igreja, pela qual a igreja, neste período intermediário, chama os povos da 
terra ao arrependimento e à fé em Cristo, de modo que se tornem seus discípulos e, pelo batismo, 
sejam incorporados a comunhão daqueles que esperam a vinda do Reino8 
 
Carlos Del Pino, em artigo publicado diz que “a missão da igreja não pode ser algo 
independente de Deus e de Cristo, como se a igreja pudesse realizá-la por si só”.9 É exatamente 
este o ponto da definição de Bavinck quando ele diz que “Missões é aquela atividade da igreja, 
essencialmente nada mais do que a atividade de Cristo”10 
 
 
6
 Dr. Antônio José do Nascimento Filho, Op Cit., p. 24 
7
 A Igreja Cristã tem uma declaração histórica sobre o Espírito Santo, estabelecida no Concílio de Toledo (589 DC). 
O credo que emanou daquele concílio dizia que o Espírito Santo "procede tanto do Pai como do Filho". Longe de 
estabelecer uma subordinação em essência, a declaração apenas reflete o ensinamento bíblico que na administração 
das interações entre Deus e o Homem, cada pessoa da Trindade cumpre um papel específico. No caso do Espírito 
Santo, Ele procede do Pai e do Filho e testemunha de Cristo-não fala de si próprio. Este é o critério primário de 
reconhecimento do trabalho do Espírito - As ações supostamente realizadas pelo Espírito apontam para Cristo, ou 
para os agentes humanos? Os supostos porta-vozes do Espírito falam de Cristo, ou falam de si mesmos ou do próprio 
Espírito? A grande maioria das maravilhas e fenômenos contemporâneos atribuídos ao Espírito Santo não passa por 
este crivo. O credo do Concílio de Toledo, apenas expandia e particularizava a doutrina já exposta no Credo Niceno. 
O Concílio de Nicéia havia indicado a "processão do Pai", para o Espírito Santo. Concílio de Toledo (que para alguns 
não foi um concílio, mas um mero Sínodo - perdendo, portanto em autoridade) ampliou, indicando a procedência 
também do Filho (Jesus Cristo) para o Espírito Santo. Essa expressão "e do Filho" foi grafada com a palavra latina 
filioque. 
8
 J.H. Bavinck, An Introduction to the Science of Missions - citada por R.B.Kuiper in: Evangelização Teocêntrica, 
São Paulo, SP: Ed. PES, 1976 p.5 
9
 Cf. Fides Reformata, 5/01/2000 in: O Apostolado de Cristo e a Missão da Igreja 
10
 J.H. Bavinck, Op Cit., p. 5 
 6 
Bosch11 nos oferece também uma definição de missão: 
 
A missão constitui um ministério multifacetado em termos de testemunho e serviço, justiça, cura, 
reconciliação, paz, evangelização, comunhão, implantação de igrejas, contextualização, 
etc..Inlcusive o intento de arrolar algunas dimensões da missão, porèm está repleto de perigo, 
porque de novo sugere que nos é possível definir o que é infinito. Quem quer que sejamos, 
espreita-nos a tentação de enclausurar a Missio Dei nos estreitos confins de nossas próprias 
predileções, voltando, necesariamente, à unilateralidade e ao reducionismo”12 
 
Labieno Palmeira dá sua definição de missões: 
 
Fazer missões é procurar estar em sintonia com Deus, empenhando-se ao 
máximo para ver o que Deus vê, ouvir o que Deus ouve e conhecer como Deus 
conhece, e não apenas isto, é estar disponível para descer onde Deus quer 
descer, livrar aqueles que Deus deseja libertar e fazer subir aqueles que Deus 
deseja levar para a terra que mana leite e mel13 
 
1.3. O Conceito de Missões na Confissão de Fé de Westminster. 
 
 A Confissão de Fé de Westminster, no seu capítulo XXXV, que trata do “DO AMOR 
DE DEUS E DAS MISSÕES, assim prescreve: 
 
 I. Em seu amor infinito e perfeito - e tendo provido no pacto da graça, pela mediação e 
sacrifício do Senhor Jesus Cristo, um caminho de vida e salvação suficiente e adaptado a toda 
a raça humana decaída como está - Deus determinou que a todos os homens esta salvação de 
graça seja anunciada no Evangelho. (Ref. Jo.3:16; I Tim.4:10; Mc.16:15).-A Universalidade 
do Evangelho (Inclusivista) 
 
 II. No Evangelho Deus proclama o seu amor ao mundo, revela clara e plenamente o único 
caminho da salvação, assegura vida eterna a todos quantos verdadeiramente se arrependem e 
crêem em Cristo, e ordena que esta salvação seja anunciada a todos os homens, a fim de que 
conheçam a misericórdia oferecida e, pela ação do Seu Espírito, a aceitem como dádiva da 
graça. ( ef. Jo.3:16 e 14:6; At.4:12; I Jo.5:12; Mc.16:15; Ef.2:4,8,9.) - A Necessidade da Fé 
Consciente, ou seja, há uma posição restritivista quanto ao destino daqueles que nunca 
ouviram falar de Jesus. 
 
 III. As Escrituras nos asseguram que os que ouvem o Evangelho e aceitam imediatamente 
os seus misericordiosos oferecimentos, gozam os eternos benefícios da salvação: porém, os 
que continuam impenitentes e incrédulos agravam a sua falta e são os únicos culpados pela 
sua perdição. ( Ref. Jo.5:24 e 3:18.) - A certeza do Sucesso na Pregação 
 
O ponto aqui é o seguinte: Como pode a igreja em geral, e o cristão individual, estar segura de 
que não está assumindo uma obra que é intrinsecamente impossível de ser realizada? W.G.T. 
Shedd, D.D. (1820 – 1894) diz que “a pregação do evangelho encontra sua justificação, sua 
sabedoria, e seu triunfo, somente na atitude e relação com o infinito e todo-poderoso Deus 
que a sustenta”14 
 
 Sobre a certeza do sucesso da Igreja na pregação, Kuiper assim se expressa: 
 
11
 David Bosch serviu como missionário numa universidade da África do Sul até 1971, falecendo aos 63 anos. 
12
 BOSCH, David J. Missão Transformadora – Mudanças de paradigma na teologia da Missão. São Leopoldo, RS. 
Ed. Sinodal. 2002. 
13
 PALMEIRA FILHO, Labieno Moura. O Caráter Missionário de Deus. Goiânia – Go.: Série Nasce, 2001. p. 62. 
(O autor é pastor presbiteriano e missionário da Junta de Missões Estrangeira da Igreja Presbiteriana do Brasil, e está 
atuando como missionário em Moçambique) 
14
 W.G.T. Shedd, O Sucesso Certo do Evangelismo – extraído www.monergismo.com; capturado em 21/11/2003 
 7 
 
A fé salvadora não é dom do evangelista ao seu ouvinte não salvo; "é dom de Deus" (Efésios 
2:8). Nenhum evangelista jamais deu fé em Cristo a uma única alma. Ela é produzida nos 
corações humanos pelo Espírito Santo, pois "ninguém pode dizer: Jesus é oSenhor" senão 
pelo Espírito Santo" (1 Coríntios 12:3). Nenhum pecador jamais foi convertido por um 
evangelista; o autor da conversão é Deus15 
 
IV. A Comissão por Jesus Cristo: Visto não haver outro caminho de salvação a não ser o 
revelado no Evangelho e visto que, conforme o usual método de graça divinamente 
estabelecido, a fé vem pelo ouvido que atende à Palavra de Deus, Cristo comissionou a sua 
Igreja para ir por todo o mundo e ensinar a todas as nações. Todos os crentes, portanto, têm 
por obrigação sustentar as ordenanças religiosas onde já estiverem estabelecidas e contribuir, 
por meio de suas orações e ofertas e por seus esforços, para a dilatação do Reino de Cristo por 
todo o mundo. ( Ref. Jo.14:6; At.4:12; Rom.10:17; Mt.28:19,20; I Cor.4:2; II Cor.9:6,7,10. ) 
 
1.4. O CONCEITO DE MISSÕES EM JOÃO CALVINO. 
 
Veremos um pouco mais adiante e de maneira mais detalhada, a visão que o reformador tinha de 
missões. Por hora, basta apenas uma síntese do seu pensamento missionário. Uma crítica que 
tem sido levantada à Calvino e à outros reformadores, é que os mesmos não possuíam uma 
visão missionária. 
 
Veja o que Gustav Warneck escreveu: 
 
Nós perdemos com os Reformadores não apenas a ação missionária, mas mesmo a idéia de 
missões... [em parte] porque perspectivas teológicas fundamentais deles evitaram que dessem a 
suas atividades, e mesmo a seus pensamentos, uma direção missionária16 
 
Missiólogos mais recentes, como Ralph D. Winter, perpetua o errro de Warneck. Ele afirma: 
 
A despeito do fato de que os protestantes ganharam no fronte político, e, em grande medida, 
alcançaram a capacidade de reformular sua própria tradição cristã, eles nem mesmo falaram sobre 
missões, e aquele período terminou com a expansão católica européia nos sete mares, tanto política 
como religiosa.17 
Mas o que realmente querem estes críticos dizer quando afirmam desinteresse dos reformadores 
por missões? Qual conceito tinham eles de missões e por qual padrão estavam julgado os 
reformadores? 
É certo que Calvino não escreveu, entre suas muitas obras teológicas, nenhum tratado sobre 
missões, mas é certo também que ninguém pode afirmar que ele tenha escrito algo contra a idéia 
de missões. O ponto que precisa ser ressaltado aqui é que se Calvino não escreveu 
especificamente um tratado sobre missões, isso não significa dizer que ele não possuía visão 
missionária. 
Entre os Reformadores, nenhum tem falado com mais clareza do que João Calvino a respeito de 
toda a questão do alcance da mensagem da fé cristã. Calvino apela repetidas vezes aos crentes a 
mostrarem interesse por seu próximo descrente. No contexto da época (século XVI), descrentes 
eram as pessoas simples do rebanho católico ou aquele que se livrara da dominação romana, 
 
15
 KUIPER, R.B.. Evangelização Teocêntrica, São Paulo, SP: Ed. PES, 1976 p.179 
16
 Gustav Warneck, History of Protestant Missions, trans. G. Robinson (Edinburgh: Oliphant Anderson & Ferrier, 
1906), 9, citado em Fred H. Klooster, “Missions—The Heidelberg Catechism and Calvin,” Calvin Theological 
Journal 7 (Nov. 1972): 182. 
17
 Ralph D. Winter, "The Kingdom Strikes Back: The Ten Epochs of Redemptive History," em Perspectives on the 
World Christian Movement, eds. Ralph D. Winter e Steven C. Hawthorne (Pasadena: William Carey Library, 1981), 
153. Minha tradução. 
 8 
mas não aderira à Reforma. As admoestações de Calvino são aplicáveis a todas as situações em 
que o crente se torna vizinho de um descrente. Em um sermão sobre 1 Timóteo 2.5,6, Segundo 
comenta Forbes, Calvino declara: “Quando vemos homens destruindo-se, não tendo Deus sido 
tão gracioso para juntá-los a nós pela fé do evangelho, devemos apiedar-nos deles e esforçar-
nos para trazê-los ao caminho reto.”18 
 
Veja ainda a visão missionária de Calvino em suas palavras lembradas por Forbes: 
 
Nosso Senhor Jesus Cristo foi feito um como nós, e sofreu a morte para que pudesse tornar-se 
um advogado e mediador entre Deus e nós, e abrir um caminho pelo qual possamos chegar a 
Deus. Aqueles que não se empenham em trazer seu próximo e descrentes ao caminho da 
salvação mostram abertamente que não têm em conta a honra de Deus, e que tentam diminuir o 
imenso poder de seu império, e estabelecem limites para que Ele não possa governar todo o 
mundo, de igual modo obscurecem a virtude e morte de nosso Senhor Jesus Cristo e diminuem a 
dignidade dada a Ele pelo Pai.19 
 
Em um sermão baseado em I Timóteo 2.3-5, Calvino demonstra a preocupação que os cristãos 
precisam ter com os descrentes. Conforme Forbes, Calvino assim afirma: 
Portanto, podemos estar cada vez mais certos de que Deus nos aceita e fortalece dentre seus filhos, 
se nos empenharmos em trazer aqueles que estão afastados dele. Confortemo-nos e tenhamos 
coragem neste chamado: embora haja nestes tempos um grande desamparo, e embora pareçamos 
ser miseráveis criaturas completamente arraigadas e condenadas, ainda assim devemos labutar 
tanto quanto possível para atrair aqueles que estão afastados da salvação. E, acima de todas as 
coisas, oremos a Deus por eles, esperando pacientemente que Ele se digne mostrar boa vontade 
para com eles, assim como tem mostrado para conosco.20 
 
Calvino ensinou com firmeza que a Salvação é dom de Deus somente para os seus eleitos. Não 
obstante, isto não o impede de insistir para que os membros da igreja procurem trazer um 
grande número de pessoas a Cristo. Parker, elucidando o pensamento de Calvino sobre a igreja, 
registra a seguinte declaração de Calvino em um sermão sobre Isaías 53.12: 
 
Se desejamos pertencer à igreja e ser reconhecidos como rebanho de Deus, devemos admitir que 
isto ocorre porque Jesus Cristo é o nosso Redentor. Não receemos ir a Ele em grande número, e 
cada um de nós traga seu próximo, considerando que Ele é suficiente para salvar a todos.21 
 
Calvino entendia que os cristãos têm a grande responsabilidade de espalhar as Boas Novas do 
Evangelho. Ele escreve: “porque é nossa obrigação proclamar a bondade de Deus para todas as 
nações... a obra não pode ser escondida em um canto, mas proclamada em todos os lugares”22. 
Deus poderia ter escolhido outros meios, no entanto, ele escolheu “empregar a ação de homens” 
para a pregação do Evangelho.23 
 
II. CONCEITUANDO A EVANGELIZAÇÃO 
 
 No debate contemporâneo entre missão e evangelização, a maioria dos missiólogos 
sustentam a visão que evangelização é um indispensável componente da missão da igreja. 
Missão, dizem eles, inclui tudo o que a igreja é chamada por Deus para fazer no mundo visando 
 
18
 J. Forbe, The Mystery of Godliness and Other Sermons (Grand Rapids, Michigan: Eerdmans Publishing House, 
1950), 199. 
19
 Ibid., 200. 
20
 Ibid., 110. 
21
 T. H. L. Parker, Sermons on Isaiah’s Profecy of the Passion and Death of Christ (London, England: Lames Clarck 
and Co. Ltd., 1956), 144. 
22
 Calvino, João. Comentário sobre Isaías 12:5, em Calvin's Commentaries, vol. 7, Isaías 1-32, 403. 
23
 Calvino, João. Comentário sobre Isaías 2:3, em Charles Chaney, “The Missionary Dynamic in the Theology of 
John Calvin,” 28. 
 9 
a manifestação de sua glória. Evangelização refere-se ao específico processo de espalhar as boas 
novas acerca de Jesus Cristo como a salvação de Deus aos povos.24 
 
 O missiólogo J. D. Douglas em seu livro Let the Earth Hear His Voice apresenta-nos a 
definição do pacto de Lausanne (1974) sobre evangelização: 
 
Evangelizar é espalhar as boas novas que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e 
ressuscitou da morte segundo as Escrituras, e que agora, ele concede perdão dos 
pecados e o Dom do Espírito para todos que se arrependem e crêem. Portanto, 
evangelização é a proclamação do Cristo bíblico e históricocomo Salvador e Senhor, 
com o propósito de persuadir as pessoas a vir a Ele pessoalmente e assim ser 
reconciliado com Deus. Jesus continua ainda convidando a todos para seguí-lo, negar a 
si mesmos, tomar a sua cruz e identificar a si mesmos com a comunidade dos remidos. 
O resultado do evangelismo inclui obediência a Cristo, incorporação na vida da igreja, e 
responsável serviço para o mundo.25 
 
Orlando Costas, conhecido teólogo latino-americano, afirma: 
 
Evangelizar é participar de uma ação transformadora, isto é, as boas-novas da salvação. 
Neste sentido, a evangelização não é um conceito, mas sim uma tarefa dinâmica, 
encarnada primeiro na vida e ação salvífica de Jesus Cristo. Portanto, ela não pode ser 
reduzida a uma fórmula verbal. Evangelizar é reproduzir pelo poder do Espírito Santo a 
salvação que foi revelada em Jesus Cristo. 26 
 
John Stott, em sua obra The Biblical Basis of Evangelism, comenta: 
 
O tema central dos evangelhos e das cartas apostólicas é a natureza e o significado de 
Jesus Cristo. Ele é o Deus encarnado, o Messias esperado, o Senhor do universo. 
Através dele Deus tem pessoalmente entrado na história e provido salvação27 
 
III. OS MOTIVOS PARA MISSÕES 
 
Roger Greenway nos ajuda a entender por que devemos fazer missões?28 
A. Motivos errados: 
 Devemos admitir que sempre houve pessoas que ingressaram no trabalho do Senhor por 
razões equivocadas. Até os missionários que têm os motivos corretos podem cometer erros. At 
13.13, At 15.37-40 e 2Tm 4.10. 
 
 Podem existir motivos errados escondidos nas mentes dos mais sinceros missionários. 
 
1. O desejo de ser admirdado e louvado por outros 
2. A busca por “auto-realização”, sem levar em consideração o esvaziar-se a si 
mesmo(Fp 2.5-7); 
 
24
 Bavinck não vê razões para diferenciar estes dois termos. (Cf. Evangelização teocêntrica, p. 5) 
825 J. D. Douglas, Let the Earth Hear His Voice (Minneapolis, Minnesota: World Wide Publications, 1974), 4. 
26
 Orlando Costas. Liberating News (Grand Rapids, Michigan: William B. Eerdmans Publishing Company, 1989), p. 
133 (Orlando E. Costas (1942-1987) nasceu em Porto Rico e faleceu nos Estados Unidos, vitimado por um câncer, 
aos 45 anos de idade. Era pastor e teólogo batista. Graduou-se doutor em teologia e missiologia nos Estados Unidos. 
Foi reitor e professor do Seminário Bíblico Latino-Americano de Costa Rica; fundou o Centro Evangélico Latino-
Americano de Estudos Pastorais (CELEP), em 1973, em San José, Costa Rica. Atuou como administrador da 
faculdade do Eastern Baptist Theological Seminary, na Filadélfia, onde também foi professor de missiologia e diretor 
de estudos hispânicos) 
27
 John Stott, The Biblical Basis of Evangelism (Minneapolis, Minnesota: World Wide Publications, 1975), 65. 
28
 GREENWAY, Roger . Ide e Fazei Discípulos. São Paulo,SP: Ed. Cultura Cristã. 2001. p.30-34 
 10 
3. A busca por aventura e excitação; 
4. A ambição em expandir a glória e influência de uma igreja ou denominação em 
particular, ou mesmo de um país; 
5. A fuga das situações desagradáveis do lar; 
6. A esperança de sucesso profissional após um curto período de serviço missionário. 
7. A culpa e o anseio pela paz com Deus por meio do serviço missionário. 
 
B. Motivos corretos 
 
 Os motivos corretos para missões são ensinados na Palavra de Deus e aplicados nos 
corações dos crentes por meio do Espírito Santo. 
 
1. O desejo de que Deus seja adorado e sua glória conhecida entre todos os povos da 
terra: A glória de Deus diz respeito a tudo o que foi revelado sobre ele: seu nome, sua 
santidade, seu poder, seu amor por meio de Jesus Cristo, sua misericórdia, sua grsaça e 
sua justiça. 
 
Entretanto, mais de três bilhões de pessoas no mundo não aodram ao verdadeiro Deus. 
Este pensamento é que inspira os missionários! Eles sentem uma divina compulsão em 
pregar o evangelho 1Co 9.16. 
 
2. O desejo de obedecer a Deus por amor e gratidão, por meio do cumprimento da 
Comissão de Cristo: “Ide fazei discípulos de todas as nações”. (Mt 28.19): O amor 
genuíno por Deus produz obediência à sua Palavra cf.: Jo 14.15; A obediência cristã 
toma forma e o povo de Deus é ungido com o Espírito Santo a servi-lo numa variedade 
de ministérios 1Co 12.4,5; Ef 3.10. 
 
3. O desejo ardente de usar todos os meios legítimos para salvar os perdidos e ganhar não-
crentes para a fé em Cristo: A paixão missionária pela glória de Deus é acompanhada 
pela paixão pelas pessoas que, por ignorãncia e descrença, estão morrendo em seus 
pecados. 
 
4. A preocupação de que as igrejas cresçam e se nultipliquem e de que o reino de 
Cristo seja estendido por meio de palavras e ações que proclamem a compaixõ e a 
justiça de Cristo a um mundo de sofrimento e injustiça. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 11 
II. O PROPÓSITO DA MISSÃO: 
 A GLÓRIA DE DEUS 
______________________________ 
 
“Deus é o Senhor soberano das missões” 
John Eliot (Missionário entre os índios americanos -1690) 
Introdução 
Tendo já conceituado a Missão, precisamos agora tratar da questão sobre a a prioridade ou 
principal missão da igreja.29 Qual é a Missão principal e última da Igreja? Muitos missiólogos 
afirmam que a prioridade última da igreja é evangelizar e fazer missões ao redor do mundo30. 
Quem não ouviu a famosa frase atribuída a Alexandre Duff: “A Igreja que não evangeliza não é 
evangélica”31?. Dizer que a tarefa principal da igreja é evangelizar não encontra respaldo nas 
Escrituras e óbviamente, também não encontra eco na teologia reformada de missões. Se por 
“prioridade” queremos dizer “o alvo último” da igreja, nossa resposta deve ser “não”. Como 
reformados entendemos que a obra missionária não é o alvo último da igreja. 
Martyn Lloyd-Jones assim se expressa: 
O objetivo supremo desta obra é glorificar a Deus. Esse é o ponto central. Esse ;é o objetivo 
que deve dominar e sobrepujar todos os demais. O primeiro objetivo da pregação do 
evangelho não é salvar almas; É GLORIFICAR A DEUS. Não se tolerará que nenhuma 
outra coisa, por melhor que seja nem por mais nobre, usurpe esse primeiro lugar. 32 
Neste ponto de nosso curso de missiologia, vamos ver á luz da Palavra de Deus, que é o culto a 
Deus e não a obra missionária, deve ser a preocupação principal da igreja do Senhor. Conforme 
vemos nos argumentos de John Piper, “o desafio missionário existe e persiste porque o culto 
pleno a Deus ainda não existe”.33 O culto é o alvo último da igreja. O culto a Deus deve ter 
prioridade na igreja, não a obra missionária, porque Deus é último, e não o ser humano. 
Quando esta era terminar e representantes de toda raça, tribo e nação se dobrarem diante 
do Cordeiro de Deus, a obra missionária não mais exisitirá na igreja. Mas existirá o louvor 
e a adoração. Permanecerá na igreja o culto. ( Paixão de Deus por sua própria glória : 
Isaías 48:9-11 ). O homem natural busca a sua própria glória, mas Deus, a sua.34 
A adoração é o combustível e a meta das missões. É a meta das missões porque nelas 
simplesmente procuramos levar as nações ao júbilo inflamado da glória de Deus. O alvo 
das missões é a alegria dos povos na grandiosidade de Deus. “Reina o Senhor. Regozije-se 
a terra, alegrem-se as muitas ilhas” (Sl 97.1). “Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os 
povos todos. Alegrem-se e exultem as gentes” (Sl 67.3-4). Quando a chama da adoração 
arder com o calor da verdadeira excelência de Deus, a luz das missões brilhará para os 
 
29
 Este capítulo faz parte de um artigo do Dr. C. Timóteo Carriker, adaptado por mim para ser utilizado no Curso de 
Missiologia no JMC. As idéias principais que se seguem são grandemente fruto da leitura recente que o Dr.Timóteo 
fez do livro de John Piper, Alegrem-se os Povos! A Supremacia de Deus em Missões. (Livro este que está sendo 
resenhado pelos alunos do curso de missiologia doJMC) 
30
 Apenas para citar um: Charles Van Engen in: Povo Missionário, Povo de Deus, Edições Vida Nova, São Paulo, 
1996 
31
 Cf. www.editoraaleluia.com.br/estudos_biblicos/estudos_1-50/est16.htm 
32
 Texto extraido do site: http://www.geocities.com/Athens/Delphi/7162/ . Acesso em 12/11/2003 
33
 PIPER, John. Alegrem-se os Povos – A Supremacia de Deus em Missões. São Paulo, SP ( Editora Cultura Cristã: 
2001 ) p. 13 
34
 Idem, p.13 
 12 
povos mais remotos da terra.35 ( Ef 1:4-6; cf 12-14; Sl 106:7,8; Rm 9:17; Ex. 14:4,17,18; 
Ez 36:22,23,32)36 
Por mais que queiramos afirmar a prioridade da obra missionária, creio que uma análise honesta 
da revelação bíblica leve à conclusão que o culto é o fim último da igreja e o desejo máximo de 
Deus para toda a humanidade. A primeira pergunta do Catecismo de Westminster diz: “Qual é 
o fim principal do ser humano?” E a resposta acertada é: “O fim principal do ser humano é 
glorificar a Deus e gozá-Lo para sempre.” É dentro desta perspectiva reformada e bíblica 
maior da prioridade última da glória de Deus que nossa reflexão a respeito da obra missionária 
se encontra. 
Missões começam e terminam na adoração. Há alguns pontos a serem destacados com 
relação a isso: 
I. O Amor de Deus por Ele mesmo é a Base para o nosso amor. 
 
A ordem bíblica da evangelização dos povos, precisa ser vista no contexto do deleite 
divino. Não podemos nos esquecer que o motivo por trás de todas as ações deve 
objetivar agradar a Deus (Sl 115:3; Is. 48:9-11). Deus tem prazer nele mesmo. Esta 
última afirmação por nos soar um tanto estranha, mas vamos buscar entender o que isso 
significa. Deus nos ensina que nosso objetivo supremo deve ser amá-lo e glorificá-lo 
para sempre, como, então, isso poderia ser diferente para ele mesmo? O fundamento 
para nosso deleite em ver Deus glorificado é seu próprio deleite em ser glorificado. 
Deus é central e supremo em todas as suas afeições. Não há rivais para a soberania de 
Deus em seu próprio coração. Deus não é um idólatra.37 
 
Isso tudo pode nos parecer um tanto confuso, talvez porque nunca tenhamos parado para 
pensar desse modo. O coração mais apaixonado por Deus em todo o universo é o 
coração do próprio Deus. Essa verdade sela a convicção de que adoração é o 
combustível e o objetivo de missões. O amor de Deus por si mesmo é justo, pois ele é 
justo, é reto, é amor. Podemos ver de modo claro essa paixão da qual estamos falando 
em Isaías 48.9-11: 
 
Por amor do meu nome, retardarei a minha ira e por causa da minha honra me 
conterei para contigo, para que te não venha a exterminar. Eis que te acrisolei, mas 
disso não resultou prata; provei-te na fornalha da aflição. Por amor de mim, por 
amor de mim, é que faço isto; porque como seria profanado o meu nome? A minha 
glória, não a dou a outrem. 
 
As expressões desse texto deixam claro que Deus agiu “por amor do seu nome”, por 
amor de si mesmo ele não exterminou o povo de Israel. É isso, também, o que 
demonstra uma série de outros textos. Deus escolheu seu povo para sua glória (Ef 1.4-
6); nos criou para sua glória (Is 43.6-7); libertou Israel do Egito para sua glória (Sl 
106.7-8); Jesus disse que responde às orações para que o nome de Deus seja glorificado 
(Jo 14.13); Jesus nos acolheu para a glória de Deus (Rm 15.7); o plano de Deus é encher 
a terra com o conhecimento da glória do Senhor (Hc 2.14). Esses e tantos outros textos 
da palavra de Deus não deixam dúvida de que Deus ama a si mesmo, e esse deve ser 
também o nosso objetivo e nossa motivação para missões. Por esse motivo é que... 
 
35
 Idem, p. 13 
36
 Idem, p.14 
37
 Piper, op cit., p. 17 
 13 
II. A Centralidade de Deus na Vida da Igreja 
 
Quando as pessoas não estão maravilhadas pela grandiosidade de Deus, como poderão 
ser enviadas para proclamar a mensagem: “grande é o SENHOR e mui digno de ser 
louvado, temível mais que todos os deuses” (Sl 96.4)? É essencial que em missões haja 
centralidade de Deus na vida da igreja. 
A paixão por Deus no culto precede a oferta de Deus na pregação. Não podemos pregar 
com convicção aquilo que não estimamos com paixão. “Quando a chama do culto 
queima com o calor da verdadeira dignidade de Deus, a luz da obra missionária brilhará 
até os povos mais distantes da terra”38 Quando a paixão por Deus está fraca, o zelo por 
missões certamente será fraco também. As igrejas que não exaltam a majestade e a 
beleza de Deus dificilmente poderão acender um desejo afervescente para “anunciar 
entre as nações a sua glória” (Salmo 96.3). O zelo pela glória de Deus no culto é a 
grande força motivadora para a obra missionária. 
John Piper, cita o seguinte pronunciamento de Andrew Murray há mais que cem anos: 
Enquanto buscamos a Deus sobre por que, com tantos milhões de cristãos, o verdadeiro exército 
de Deus que está combatendo os exércitos da escuridão é tão pequeno, a única resposta é C falta 
de coragem e entusiasmo. O entusiasmo pelo reino de Deus está faltando. E isto é porque há tão 
pouco entusiasmo pelo Rei. 
Ninguém poderá se dispor à causa missionária se não experimentar a magnificiência de 
Cristo (Apocalipse 15.3-4; cf. Salmos 9.11; 18.49; 45.17; 57.9; 96.10; 105.1; 108.3; e 
Isaías: 12.4; 49.6; 55.5) 
Quero acrescentar ao que Piper e Carriker já disseram que, Calvino também tem este 
foco em sua teologia de missões. Para ele tudo na vida deve ser vivido para a glória de 
Deus.39 Para Calvino, o fator que deveria motivar as missões mundiais era a glória de 
Deus. 
 
Charles Chaney escreve sobre Calvino: 
 
o fato de que a glória de Deus era o motivo primordial nas primeiras missões 
protestantes e isto ter se tornado, mais tarde, uma parte vital do pensamento e 
atividade missionárias, pode ser traçado diretamente em direção à teologia de 
Calvino.40 
 
Precisamos nos voltar para o Todo-Poderoso e buscar a sua glorificação em primeiro 
lugar. Deus deve estar no centro de toda e qualquer atividade da igreja. Missões não são 
o primeiro e o último, Deus o é. Essa verdade é a vida da inspiração e da perseverança 
missionária. O missionário William Carey, chamado de “Pai das missões modernas”, foi 
enviado para a Índia em 1793 e expressou assim essa conexão: 
 
 
38
 PIPER, John. Op Cit., p.12 
39
 J. van den Berg, “Calvin's Missionary Message: Some Remarks About the Relation Between Calvinism and 
Missions.” Evangelical Quarterly 22 (Jul. 1950): 177. 
40
 Charles Chaney, “The Missionary Dynamic in the Theology of John Calvin,” Reformed Review 17 (Mar. 1964): 
36-37. See also Samuel Zwemer, “Calvinism and the Missionary Enterprise,” Theology Today 7 (Jul. 1950): 211. 
 
 14 
Quando eu deixei a Inglaterra minha esperança na conversão da Índia era muito forte, 
mas, em meio a tantos obstáculos, ela poderia morrer a não ser que fosse sustentada por 
Deus: Eu tenho a Deus e sua palavra é verdadeira. Apesar de as superstições dos pagãos 
serem milhares de vezes mais fortes do que eles e o exemplo dos europeus milhares de 
vezes pior; embora eu tenha sido abandonado e perseguido por todos, ainda assim esta é 
minha Fé, firmada na certeza da palavra, que se elevará acima de todos os obstáculos e 
superará cada provação. A causa de Deus irá triunfar41 
 
William Carey e milhares como ele têm sido movidos pela visão de um grande e 
triunfante Deus. Isso significa ter Deus no centro da vida. A centralidade de Deus deve 
ser evidente na vida da igreja e isso é motivação para realização de missões. 
III. A glorificação de Deus é o alvo de missões 
O culto é o alvo da obra missionária simplesmenteporque nosso propósito é levar as nações a 
regozijarem-se em Deus e glorificá-Lo acima de tudo. O alvo da obra missionária é a alegria dos 
povos na grandeza de Deus (Salmo 97.1; 67.3-4; cf. 47.1; 66.1; 72. 11, 17; 86.9; 102.15; 117.1; 
e Isaías 25.6-9; 52.15; 56.7; 66.18-19. 
Penso que o culto a Deus como o alvo da obra missionária já se tornou patente como decorrente 
de toda a nossa reflexão até este momento. Mas há um aspecto desta verdade que precisamos 
explorar mais. É o seguinte: O culto a Deus como alvo da obra missionária ajuda a entender a 
própria definição da obra missionária. Pois a obra missionária enfatiza a prioridade de alcançar 
povos, ou etnias não alcançadas. Isto se evidencia na repetida descrição bíblica da tarefa 
missionária em termos de etnias (Mateus 24.14; 28.18-20; Romanos 15.19-21). 
Na Bíblia, a frase, pa,nta ta. e;qnh significa “todas as nações” ou “todas as etnias”. A palavra 
na forma singular, εθνοσ de fato, sempre se refere a coletividade dum povo ou duma nação. 
Nunca se refere a indivíduos gentílicos. O mesmo é geralmente verdade em relação a εεεεθθθθνοσνοσνοσνοσ,,,, na 
forma plural. A frase pa,nta ta. e;qnhpa,nta ta. e;qnhpa,nta ta. e;qnhpa,nta ta. e;qnh quase sempre denota esta referência coletiva na Bíblia, 
também. Que a estratégia bíblica seja de alcançar especialmente as etnias não alcançadas é 
claro em Romanos 15.19-21. Para muitos cristãos, talvez até a maioria, esta estratégia não 
parece muito lógica. Antes alcançar todos os indivíduos ao nosso alcance e semelhantes 
culturalmente a nós, que procurar alcançar representantes de etnias que podem ser geografica ou 
culturalmente distantes. Parece uma questão de mordomia de esforços.42 
Conclusão: A obra missionária começa e termina com o culto prestado à glória de Deus. 
Começa, porque somente o culto genuíno e profundo pode motivar adequadamente a igreja para 
assumir sua vocação missionária. E termina, porque o alvo último e o fim principal de toda 
humanidade é glorificar a Deus e gozá-Lo para sempre. E na obra missionária, procuramos levar 
as nações à mesma alegria e exaltação que carateriza o nosso culto a Deus. Portanto, quando 
afirmamos que a obra missionária é a prioridade penúltima na igreja não estamos diminuindo a 
sua importância. Estamos meramente fazendo o que devemos, maximizando a tarefa de 
glorificar a Deus e gozá-Lo para sempre. E assim, enxergamos a verdadeira importância da obra 
missionária, certamente acima de outras atividades na igreja, isto é estender e diversificar, e 
assim intensificar o culto que glorifica e goza Deus entre todas as nações da terra (Apocalipse 
5.9-10; 7.9-10). 
 
 
41
 Citado em Alegre-se os Povos de John Piper, Editora Cultura Cristã, a ser lançado. 
42
 PIPER, John. Alegrem-se os Povos – A Supremacia de Deus em Missões. São Paulo, SP ( Editora Cultura Cristã: 
2001 ) p. 184 
 15 
III. A NATUREZA DA TAREFA 
MISSIONÁRIA 
_________________________ 
 
“Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, e todos os povos o louvem” Rm 15.11 
Qual é a tarefa das missões cristãs?43 Se toda a raça humana está sob condenação por causa do 
pecado e excluídas da vida eterna (Ef 2.2-3, 12; 4.17; 5.6) e se invocar a Jesus é sua única 
esperança para a comunhão eterna e jubilosa com Deus, então podemos entender que se 
amamos estas pessoas, devemos fazer missões? Amor pelos perdidos é uma elevada e 
sublime motivação para a obra missionária. Sem isso perdemos a doce humildade de 
repartir um tesouro que recebemos de graça. Mas a compaixão pelas pessoas não pode 
ser separada do amor a Deus. John Piper nos fornece um motivo adicional do porquê o 
amor aos perdidos não pode ser o nosso combustível em missões. Ele afirma que é 
impossível amar verdadeiramente aos “perdidos”, pois não conseguimos cultivar um 
amor profundo por alguém que conhecemos somente por meio de fotos ou quando 
colocados, de um modo mais geral, como uma nação ou um povo, ou algo tão vago 
como “todos os perdidos”.44 
 
Vejamos então o que a Escritura nos ensina sobre a natureza da obra missionária: 
 
1) Territórios Não-Alcançados ou Povos Não-Alcançados ? 
 
Desde 197445, a tarefa das missões tem sido focalizada crescentemente na evangelização 
de povos não-alcançados46 em oposição à evangelização de territórios não-alcançados. 
Naquele ano, no Congresso de Evangelização Mundial de Lausanne, Ralph Winter 
acusou o empreendimento missionário ocidental do que ele chamou de “cegueira dos 
povos”. Desde aquele tempo, ele e outros têm pressionado incessantemente a 
focalização do “grupo de pessoas” no planejamento da maioria das igrejas e 
organizações similares voltadas para as missões. A “verdade destrutiva” que ele revelou 
em Lausanne foi esta: apesar de o evangelho ter chegado a todos os países do mundo, 
quatro de cada cinco não-cristãos estão ainda excluídos da pregação do evangelho 
devido não a barreiras geográficas, mas a barreiras culturais e lingüísticas. 
 
Por que esse fato não mais é amplamente conhecido? Receio que toda nossa exultação 
pelo fato de todos os países terem sido transpostos permitiu que muitos supusessem 
que todas as culturas também foram alcançadas. Esse mal-entendido é uma doença tão 
disseminada que merece um nome especial. Vamos chamá-la “cegueira dos povos”, 
isto é, cegueira para a existência de povos separados dentro de países – uma cegueira, 
posso acrescentar, que parece mais predominante nos Estados Unidos e entre os 
missionários norte-americanos do que em qualquer outro47 
 
 
43
 O presente capítulo foi adaptado da obra de John Piper - Alegrem-se os Povos – A Supremacia de Deus em 
Missões. São Paulo, SP ( Editora Cultura Cristã: 2001 ) pp. 177 a 230. 
44
 Piper, Op Cit., p. 178 
45
 Neste ano foi realizado o Congresso Mundial de Evangelização em Lausane na Suíça. 
46
 A definição de “povos não-alcançados” é: grupos de pessoas que não possuem entre si um movimento cristão 
atuante e/ou números suficientes de cristãos com recursos adequados para evangelizar o restante do grupo ( Winter 
em Missões Transculturais – Uma Perspectiva Estratégica. São Paulo, SP Ed Mundo Cristão. 1987 p.712 
47
 WINTER, RALPH. The New Macedônia: A Revolutinary New Era in Mission Begins, em Ralph Winter e Steven 
Hawthorne, eds.; Perspectives on the World Missions Movement ( Pasadena: William Carey Library, 1981, p. 302 
 16 
A mensagem de Winter serviu como um alerta para a igreja de Cristo, reorientando seu 
pensamento para que as missões fossem vistas como a tarefa de evangelização dos povos não-
alcançados e não meramente como a tarefa de evangelização de mais territórios. 
Extraordinariamente, nos 15 anos seguintes, o empreendimento missionário respondeu a esse 
chamado. Em 1989, Winter foi capaz de escrever: “Agora que o conceito de Povos Não-
Alcançados foi aceito amplamente, é possível elaborar planos imediatamente... com muito 
maior confiança e precisão”.48 
 
Definição de Povos não-alcançados: 
 
O chamado de Deus para missões não pode ser definido em termos de atingir outras culturas 
para aumentar o número de indivíduos salvos. Antes, a vontade de Deus para missões é que 
cada grupo de pessoas seja alcançado com o testemunho de Cristo, e que as pessoas sejam 
chamadas, em seu nome, de todas as nações. Assim é demonstrada a soberania de Deus entre 
todas as nações. Somos comissionados para cumprir essa tarefa. 
 
Se a tarefa de missões é alcançar todos os grupos de pessoas não-alcançados do mundo, 
necessitamos ter idéia do que significa “alcançado”, de modo que as pessoas chamadas para a 
tarefa missionária da igreja conheçam quais os grupos de pessoas a que devem se dirigir e quais 
deixar. Paulo deve ter tido alguma idéia do que significava “alcançado”, quando disse em 
Romanos 15.23: “ ...nãotendo já campo de atividade nestas regiões”. Ele deve ter entendido o 
que significava completar a tarefa missionária, quando afirmou em Romanos 15.19: “desde 
Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo”. Ele sabia 
que sua obra estava concluída naquela região. Eis por que ele dirigiu-se à Espanha. O Encontro 
dos Povos Não-Alcançados de 1982, a que nos referimos anteriormente, definiu “não-
alcançados” desta forma: Um grupo de pessoas não-alcançadas é “um grupo de pessoas 
dentro do qual não há comunidade nativa de crentes cristãos capazes de evangelizá-los”. 
Assim, um grupo seria alcançado quando os esforços da missão tiverem estabelecido uma igreja 
nativa que tenha força e recurso para evangelizar o restante do grupo. (Ap 5:9; 7:9; 10:11; 
11:9; 13:7; 14:6; 17:15) 
fulh/j: descendentes físicos 
glw,sshj: comunicação idiomática49. 
laou/: grupo etnico50. 24 mil grupos étnicos – 8 mil ainda não alcançados. 
e;qnouj: entidade política, fronteiras geográficas 
 
 
 
 
 
 
48
 RALPH WINTER, Unreached Peoples: Recent Developments in the Concept, Missions Frontiers, Agosto-
setembro, 1989, p. 18 
49 Ronaldo Lidório diz que convivemos hoje com 6528 línguas vivas. 336 possuem a Bíblia completa, 928 o Novo 
Testamento completo e 918 grandes porções bíblicas, ou seja a Palavra está expressivamente presente em 2212 
línguas. Deixa-nos com mais de 4.000 línguas, minoritárias e faladas por apenas 6% da população mundial, sem nada 
da Palavra de Deus. Entretanto tudo isto acontece em um mundo onde 1 bilhão e meio de pessoas, segundo a ONU, 
não sabe ler ou escrever. Não poderiam ler a Palavra mesmo se a tivessem em sua própria língua 
http://www.monergismo.com/textos/missoes/restaurando_lidorio.htm ). Na Índia com 940 milhões de habitantes tem 
17 línguas oficiais e mais de 400 castas relacionadas. Ronaldo Lidório afirma que só em Gana, África entre os 
Konkombas há 23 dialetos diferentes. (Cf. Lidório em O Desafio Continua, p. 43) 
50Segundo a Word Mission International há no mundo hoje 2.227 povos que desconhecem totalmente o evangelho de 
Jesus em suas vidas.Mas não apenas esses; há outros 4000 povos que possuem igreja, testemunhos, alguma 
conversão, mas que não possuem uma igreja forte suficiente para comunicar o evangelho ao restante daquela própria 
etnia; temos perante nós um desafio étnico. Dentre as 258 tribos indígenas brasileiras, eu falo isso com muita 
vergonha e constrangimento em meu coração, há hoje 103 tribos em nosso país, na nossa circunferência nacional, 
totalmente não alcançadas pelo evangelho de Jesus e sem presença missionária. E 40 destas tribos estão com as portas 
abertas para alguém que lhes fale de Jesus, mas não há. Estão na espera de uma igreja que, muitas vezes, nunca envia 
ou ora por um missionário. (cf. http://www.mhorizontes.org.br/Docs/transparencias/11-tarefainacabada.pdf) 
 17 
II. A Esperança do Antigo Testamento: Todas as Famílias Serão Abençoadas 
 
Essa é uma promessa presente no Antigo Testamento. Na verdade, o Antigo Testamento 
está repleto de promessas e expectativas de que Deus será, um dia, adorado por nações 
de todo o mundo. Fundamental para a visão missionária do Novo Testamento foi a 
promessa que Deus fez a Abraão em Gênesis 12.1-3: 
 
Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu 
pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei urna grande nação, e te abençoarei, 
e te engrandecerei o nome. Sê tu urna bênção! Abençoarei os que te abençoarem e 
amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da 
terra. 
 
Essa promessa de benção universal às “famílias” da terra51 é essencialmente repetida em 
Gênesis 18.18; 22.18; 26.4 e 28.14. Em 12.3 e 28.14 a frase hebraica para “todas as famílias” 
(kol mishpahot) é traduzida no grego do Antigo Testamento por pasai hai phulai. A palavra 
phulai significa “tribos” em muitos contextos. Porém mishpaha pode ser, e usualmente é, menor 
que uma tribo. Por exemplo, quando Acã pecou, Israel é investigado em ordem decrescente de 
tamanho: primeiro por tribo, em seguida por mishpaha (família) e por fim por pessoa (Js 7.14). 
 
Assim, a bênção de Abraão decorre do propósito divino de alcançar eqüitativamente pequenos 
agrupamentos de pessoas. Não precisamos definir esses grupos com precisão para sentir o 
impacto dessa promessa. 
 
A palavra hebraica para o termo "família" dá a idéia de uma tenda, um grupo não de 
muitas pessoas. Podemos, por meio disso, afirmar que a promessa de alcançar cada 
tribo, povo ou nação já está presente no Antigo Testamento. O evangelho não é apenas 
para as grandes nações, mas para os pequenos grupos de pessoas também, como as 
tribos. Isso deixa claro que nosso empenho evangelístico deve ser muito maior, pois 
temos o mandamento de alcançar não somente as nações, mas os pequenos grupos que 
as formam. 
 
O que podemos concluir de Gênesis 12.3 e de seu uso no Novo Testamento é que o 
propósito de Deus para o mundo é a bênção de Abraão, ou seja, que a salvação 
alcançada por Jesus Cristo, a semente de Abraão, possa alcançar todos os grupos étnicos 
do mundo. Isso acontecerá quando as pessoas de cada grupo colocarem sua fé em Jesus 
Cristo e tornarem-se "filhas de Abraão" e "herdeiros da promessa" (Gl 3.7,29). 
 
Há vários textos que expressam a esperança de que todas as nações louvem ao Senhor: 
 
"Seja Deus gracioso para conosco, e nos abençoe, e faça resplandecer sobre nós o rosto; para que 
se conheça na terra o teu caminho e, em todas as nações, a tua salvação. Louvem-te os povos, ó 
Deus; louvem-te os povos todos. Alegrem-se e exultem as gentes, pois julgas os povos com 
equidade e guias na terra as nações. Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos todos" (Sl 
67.1-5). 
 
"E todos os reis se prostrem perante ele; todas as nações o sirvam" (Sl 72.11). 
"Subsista para sempre o seu nome e prospere enquanto resplandecer o sol; nele sejam 
abençoados todos os homens, e as nações lhe chamem bem-aventurado" (Sl 72.17). 
Há outros textos que expressam a esperança das nações, anunciando os planos do salmista em 
fazer sua parte para tornar a grandeza de Deus conhecida entre elas: 
 
51
 Ver a exposição de Gn. 12 feita por Gerard Van Groningen. In: Revelação Messiânica no Velho Testamento. 
Campinas, SP: Ed. Luz Para o Caminho. 1995 p.123-132 
 18 
“Glorificar-te-ei, pois, entre os gentios, ó SENHOR, e cantarei louvores ao teu nome” (Sl 18.49). 
"Render-te-ei graças entre os povos; cantar-te-ei louvores entre as nações" (Sl 57.9). 
"Render-te-ei graças entre os povos, ó SENHOR! Cantar-te-ei louvores entre as nações" (Sl 
108.3). 
 
Esses textos deixam clara a responsabilidade do povo de Deus em proclamar a sua 
glória entre as nações. O povo de Deus deve ser canal de bênção para todas as 
famílias.52 
 
III. A Prioridade de Paulo por Povos Não-Alcançados. 
 
Isso é notavelmente confirmado em Romanos 15. Aqui se torna evidente que Paulo via o seu 
chamado especificamente missionário para alcançar cada vez mais grupos de pessoas e não 
apenas mais e mais indivíduos gentios. 
 
Em Romanos 15.8-9 Paulo afirma o duplo propósito para a vinda de Cristo: “Digo, pois, que 
Cristo foi constituído ministro da circuncisão [isto é, tornou-se encarnado como um judeu], em 
prol da verdade de Deu, para [1] confirmar as promessas feitas aos nossos pais; e para que [2] 
os gentios (ta ethne) glorifiquem a Deus por causa da sua misericórdia”. Portanto, o primeiro 
propósito para a vinda de Cristo foi provar que Deus é verdadeiro e fiel em manter, por 
exemplo, as promessas feitas a Abraão. E o segundo, foi para que as nações pudessem glorificar 
a Deus por sua misericórdia. 
 
Esses dois propósitos sobrepõem-se,uma vez que, claramente, uma das promessas feitas aos 
patriarcas foi que a bênção de Abraão viria a “todas as famílias da terra”. Isso está em perfeita 
harmonia com o que vimos na esperança do Antigo Testamento. Israel é abençoado para que as 
nações possam ser abençoadas (Sl 67). De igual modo, Cristo vem a Israel para que as nações 
possam receber misericórdia e dar glória a Deus. 
 
IV. A Visão de João sobre a Tarefa Missionária. 
 
A visão da tarefa missionária nos escritos do apóstolo João confirma que a percepção de Paulo 
sobre a esperança do Antigo Testamento de alcançar todos os povos não era única entre os 
apóstolos. O que transparece do Apocalipse e do Evangelho de João é uma visão que admite a 
tarefa missionária principal de alcançar grupos de pessoas, não apenas indivíduos gentios. 
 
O texto decisivo é Apocalipse 5.8-10. João teve um vislumbre do clímax da redenção com a 
adoração de pessoas redimidas diante do trono de Deus. A composição daquele grupo é 
essencial. 
 
Os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos... entoavam novo cântico, dizendo: “Digno 
és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste 
para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação, e para o nosso Deus os 
constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra”. 
 
A visão missionária por trás dessa cena é que a tarefa da igreja é reunir os redimidos de todos os 
povos, língua, tribos e nações (fulh/j kai. glw,sshj kai. laou/ kai. e;qnouj ). Todos os povos 
devem ser alcançados porque Deus designou pessoas a crerem no evangelho, as quais ele 
redimiu pela morte de seu Filho. O desígnio da redenção prescreve o desígnio da estratégia da 
missão. E o desígnio da redenção ( a redenção de Cristo, versículo 9) é universal, pois se 
estende a todos os povos, e definitivo, uma vez que efetivamente redime alguns de cada um 
 
52
 É esclarecedor o estudo exegético feito por Piper com u uso Singular e Plural de Ethnos no Novo Testamento ( ver 
Piper pp. 85-188 ) e o Uso de Pantha Ta Ethne ( ver Piper pp. 188 a 191 ) 
 19 
desses povos. Portanto, a tarefa missionária é reunir os redimidos de todos os povos por meio da 
pregação do evangelho. ( João 10:16; 11;51,52, Ap 5:9 ) 
V. Uma Casa de Oração para Todas as Nações. 
 
Outro indicador do modo como Jesus imaginava os propósitos missionários universais de Deus 
vem de Marcos 11.17. Quando Jesus limpa o templo, ele cita Isaías 56.7: 
 
Não está escrito: “A minha casa será chamada cada de oração para todas as nações (pa/sin toi/j pa/sin toi/j pa/sin toi/j pa/sin toi/j 
e;qnesine;qnesine;qnesine;qnesin)”? 
 
A razão disso ser importante para nós é que ela mostra Jesus buscando no Antigo Testamento 
(exatamente como ele faz em Lucas 24.45-47) para interpretar os propósitos universais de 
Deus. Ele cita Isaías 56.7, que, em hebraico, diz explicitamente: “A minha casa será chamada 
casa de oração para todos os povos ( kol ha’ ammim). 
 
 “Assim está escrito” no VT - Sl 22:27 cf. At 1:8; Lc 24:47 
 
O significado de grupo de pessoas é inconfundível. A posição de Isaías não é que todo indivíduo 
gentio tinha o direito de permanecer na presença de Deus, mas que haja convertidos de “todos 
os povos” que entrarão no templo para adorar. O fato de Jesus estar familiarizado com essa 
esperança do Antigo Testamento e ter baseado suas expectativas universais referindo-se a ela 
(Mc 11.17; Lc 24.45-47), sugere que devemos interpretar sua “Grande Comissão” nesta mesma 
direção – a mesma que encontramos nos escritos de Paulo e João. 
 
VI. Como a Diversidade Magnífica a Glória de Deus. 
 
O grande objetivo de Deus é sustentar e demonstrar a glória de seu nome para o regozijo 
de seu povo entre todas as nações. A questão agora é: "Por que Deus mantém o objetivo 
de mostrar sua glória por meio da obra missionária entre todas as pessoas do mundo. 
Corno o objetivo missionário serve melhor ao propósito de Deus?" Refletindo 
bib1icamente sobre o assunto, quatro respostas emergem: 
 
 1. Primeiro, há uma beleza e poder no louvor que vem da unidade na diversidade, 
que é maior do que aquele vindo da unidade exclusiva. O Salmo 96.3-4 conecta a evangelização 
das pessoas com a qualidade de louvor de que Deus é merecedor. “Anunciai entre as nações a 
sua glória, entre todos os povos, as suas maravilhas. Porque grande é o Senhor e muito digno de 
ser louvado, temível mais que todos os deuses”. Observe a palavra “porque”. A grandeza 
extraordinária do louvor que o Senhor deve receber é a base e o ímpeto da nossa missão. 
 
 2. segundo, a fama, grandeza e valor de um objeto de beleza aumenta em proporção à 
diversidade daqueles que reconhecem sua beleza. Se uma obra de arte é considerada excelente 
por um grupo de pessoas pequeno e de mesma opinião e por ninguém mais, a arte com toda 
certeza não é verdadeiramente grande. Suas qualidades são tais que não alcançam as 
profundezas universais de nossos corações, mas apenas as tendências provinciais. Porém, se 
uma obra de arte continua ganhando cada vez mais admiradores, não somente através de 
culturas mas também de décadas e séculos, então sua grandeza é irresistivelmente manifesta. 
 
 Assim, quando Paulo diz: “Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, e todos os povos o 
louvem” (Rm 15.11), ele está expondo que há alguma coisa acerca de Deus que é tão 
universalmente digna de louvor, tão profundamente bela, tão compreensivelmente valiosa e tão 
profundamente satisfatória que ele encontrará admiradores apaixonados em todo grupo diverso 
de pessoas no mundo. A sua verdadeira grandeza será manifesta na amplitude da diversidade 
daqueles que percebem e apreciam a sua beleza. Sua excelência será mostrada para ser mais alta 
e mais profunda que as preferências limitadas que nos fazem felizes a maior parte do tempo. 
 20 
Seu apelo será para as mais profundas, mais elevadas e mais amplas capacidades da alma 
humana. Portanto, a diversidade da fonte de admiração testificará a sua incomparável glória. 
 3. Terceiro, a força, a sabedoria e amor de um líder são magnificados em proporção à 
diversidade de pessoas que ele pode inspirar para segui-lo com alegria. Se você pode liderar 
somente um grupo pequeno e uniforme de pessoas, suas qualidades de liderança não são tão 
grandes como as que teria se pudesse conquistar seguidores de um grande grupo de pessoas 
muito diferentes. 
 
 O entendimento de Paulo do que está acontecendo em sua obra missionária entre as 
nações é que Cristo está demonstrando sua grandeza, conquistando obediência de todos os 
povos do mundo: “Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que 
Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência, por palavra e por obras” 
magnificada à medida que cada vez mais pessoas diferentes decidem seguir a cristo. É a 
grandeza de Cristo. Ele está mostrando-se superior a todos os outros líderes. 
 
 4. Por focalizar todos os grupos de pessoas no mundo, Deus eliminou o orgulho 
etnocêntrico e recolocou todos os povos sob sua livre graça, em vez de qualquer característica 
que possam ter. 
 
Conclusão: O objetivo de Deus em toda a história é sustentar e demonstrar sua glória 
para o regozijo dos redimidos de cada tribo, povo, língua e nação. Seu objetivo é a 
alegria de seu povo, porque “Deus é mais glorificado em nós quando nós estamos mais 
satisfeitos nele”. A maior boa-nova em todo o mundo é que o objetivo de Deus é ser 
glorificado, e o objetivo do homem estar satisfeito não são probabilidades, mas verdades 
da Palavra de Deus. 
 
A igreja deve engajar-se com o Senhor da glória em sua causa. É nosso grande 
privilégio alcançar com ele, no maior movimento da história, a reunião dos eleitos "de 
toda tribo, língua, povo e nação" até que se complete o número doseleitos e todo Israel 
seja salvo, e o Filho do homem desça com poder e grande glória, como Rei dos reis e 
Senhor dos senhores, e a terra esteja cheia de sua glória, assim como as águas cobrem o 
mar para sempre e sempre. Então, a soberania de Cristo será manifesta a todos, e ele 
entregará o Reino a Deus, o Pai, e Deus será tudo em todos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 21 
 
IV. A NECESSIDADE DAS MISSÕES 
____________________________ 
 
Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe 
nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que 
sejamos salvos. At 4:12 
 
Questão para debate: Há pessoas devotas em outras religiões, as quais coinfiam humildemente 
na graça de Deus que conhecem por meio da Revelação geral (Rm 1:19-21) e assim recebem a 
salvação eterna? As Pessoas Devem Ouvir o Evangelho de Jesus Cristo para Serem Salvas?53 
 
Quem nunca fez uma destas perguntas: “os que jamais ouviram o Evangelho estão perdidos?”; 
ou então “os índios vão ser salvos?”. Em nossas classes de escolas dominicais, ou nas 
conversas sobre evangelismo e missões, sempre surgem dúvidas como essas. Normalmente 
nossas respostas são muito evasivas, se é que temos alguma. Não refletimos sequer nas 
implicações que elas possam vir a ter. Teólogos, pastores e seminaristas fazem a mesma 
indagação e procuram investigar o assunto sob uma perspectiva bíblica, teológica e filosófica. 
 
Três pontos de vista sobre o destino dos não-evangelizados54. 
 
1) Inclusivismo: Alguns teólogos acreditam que mesmo aquelas pessoas que nunca 
ouviram o evangelho podem ser salvas. Se, através da criação – revelação geral – 
vierem a crer em Deus, ainda que não conheçam a Jesus, serão redimidas de seus 
pecados. Dizem que qualquer religião pode ser um instrumento útil para aproximar a 
pessoa de Deus. Isso é chamado de “inclusivismo”, porque Deus inclui todos em sua 
graça, antes de excluí-las no julgamento. Mas a fundamentação bíblica desse ponto de 
vista é muito questionável. 
 
Este posicionamento é fruto da ambiência pós-moderna e do mundo globalizado. Ricardo 
Barbosa explica este ponto: 
 
Vivemos o risco de um novo modelo de intolerância. Afirmar a centralidade da obra de Cristo já 
pode ser visto como preconceito.Uma das contradições da cultura pós-moderna e globalizada é 
sua capacidade de romper fronteiras e preconceitos, tornando-a mais inclusiva e, ao mesmo 
tempo, criar outras fronteiras e preconceitos, tornando-a extremamente exclusiva e violenta. Nas 
últimas décadas, a civilização ocidental tem feito um enorme esforço para diminuir as distâncias 
entre as raças, romper com os preconceitos e a discriminação sociais e criar uma sociedade 
menos violenta e mais aberta à inclusão das minorias55 
 
O que o chamado inclusivismo defende é que uma tolerância perigosa para o cristianismo. 
Como bem afirmou James Houston, o que ele chamou de uma nova forma de fundamentalismo, 
o da “democracia liberal”, que impõe sobre nós a obrigação de aceitar e admirar tudo aquilo que 
contraria princípios e valores que fazem parte da consciência cristã. Esta tolerância oriunda do 
cenário globalizado, também agora está questionando a questão da centralidade da morte e 
ressurreição de Cristo para a vida e a necessidade das pessoas ouvirem sobre Cristo para serem 
salvas. Imagino que, mais cedo do que pensamos, enfrentaremos uma forte resistência à 
afirmação bíblica de que Jesus é “o caminho”, “a verdade”, “a vida”, de que ele é “o único 
Senhor”, de que “não há salvação fora dele” e de que ele é o “único que pode perdoar nossos 
 
53
 Texto extraído e adaptado do livro de John Piper – Alegrem-se os Povos: A Supremacia de Deus em Missões, São 
Paulo, SP: Ed. Cultura Cristã. 2001. pp. 124-176 
54
 Sobre este tema há um livro que sugiro seja consultado por aqueles que queiram aprofundar um pouco mais esta 
três posições: Donald E. Price, org. Que Será dos Que Nunca Ouviram? São Paulo, SP: Ed. Vida Nova. 2004. 
55
 Cf. http://www.monergismo.com/textos/pos_modernismo/pos_modernidade_singularidade_cristo.htm capturado 
em 27/01/2006. 
 22 
pecados”. Todas essas afirmações são, por si, uma agressão ao espírito “democrático” da 
sociedade pós-moderna. Como vamos ver no terceiro ponto de vista sobre a necessidade de se 
ouvir sobre Jesus, afirmar a exclusividade de Cristo implica na negação e rejeição de qualquer 
outro nome que possa nos reconciliar com Deus, e isso soa como um preconceito, uma forma de 
discriminação inaceitável. Afirmar que a Bíblia é a Palavra de Deus e que só ela traz a revelação 
do propósito redentor de Jesus é também uma afirmação que pode ser considerada 
preconceituosa, uma vez que nega todas as outras formas de revelação. 
 
2) Perseverança Divina: Outros dizem que ninguém será salvo com base no 
conhecimento que possam ter de Deus através da natureza. No entanto, chegam ao 
absurdo de afirmar que, logo após a morte, aqueles que nunca ouviram o Evangelho 
terão uma oportunidade de dizer “sim” ou “não” a Jesus. Deus concederá a todos os 
homens a chance de ouvir o evangelho e optar, ou não, pela redenção trazida por Jesus. 
Tomam por base alguns textos difíceis de 1 Pedro (como o cap. 3: 18ss). Dão ao seu 
ponto de vista o nome de “perseverança divina” ou “evangelismo post-mortem” 
 
 3) Exclusivismo (restritivismo):56 Há também os teólogos que ensinam não haver 
qualquer oportunidade de salvação para o homem, se não existir conhecimento de 
Cristo e uma resposta pessoal e consciente ao seu chamado. Essa posição é 
conhecida como “exclusivismo”; às vezes também “restritivismo”. Para que alguém 
seja salvo, é fundamental ouvir o Evangelho nesta vida e fazer uma decisão por Jesus. 
Essa é a interpretação que mais parece se afinar ao ensino geral das Escrituras 
Sagradas. 
 
 Essas três opiniões têm alguns pontos interessantes de semelhança bem como 
diferenças. Como já foi observado, todas as três afirmam que a salvação em Jesus é a 
palavra final bem como a singularidade dessa salvação. O restritivismo e o inclusivismo 
concordam, numa posição contrária à defendida pela perseverança divina, que nosso 
destino já está selado no momento da morte e que não existe nenhuma oportunidade de 
salvação após ela. O restritivismo e a perseverança divina concordam, contrariamente 
ao inclusivismo, que o conhecimento da mensagem do evangelho é uma condição 
necessária para a salvação. Mas discordam sobre se a mensagem deve ser apresentada 
por um agente humano antes da morte. O inclusivismo diverge das duas outras opiniões 
ao sustentar que Deus concede salvação mesmo onde o Evangelho é desconhecido. O 
inclusivismo e a perseverança divina afirmam que Deus, em Jesus Cristo, torna a 
salvação disponível a todas as pessoas que já viveram, ao passo que o restritivismo nega 
isso. 
 
 Deve-se observar que há outras opiniões quanto ao destino dos não-
evangelizados que não estamos discutindo aqui. Podem ser resumidas assim: 
 
• Alguns advogam um completo agnosticismo, dizendo que nós não temos 
informação bíblica suficiente para justificar uma conclusão sobre o assunto. 
 
• Alguns teólogos católicos romanos propõem uma versão da evangelização post-
mortem chamada de teoria da opção final. Eles crêem que Cristo encontra todas 
as pessoas no momento em que estão morrendo – não depois da morte – dando-
lhes uma oportunidade de conversão. 
 
 
56
 Cf. Artigo de Ronald Nash “Restritivismo” 
 23 
• Alguns, como John R. W. Stott, são otimistas de que Deus irá salvar a grande 
maioria da raça humana, muito embora eles não saibam como Deus irá realizar 
isso. Isto é, eles se recusam a tomar uma posição quanto ao método que Deususa para salvar os não-evangelizados, embora afirmem que Ele o faz. 
 
• Outros, como J. I. Packer, têm uma posição mais pessimista, asseverando que, 
embora talvez seja possível que Deus proveja um meio de salvação para alguns 
dos não-evangelizados, o melhor é permanecer negando essa possibilidade. Isto 
é, pode ser que Deus o faça, mas não temos razão para pensar que Ele o fará. 
 
Pontos de Vista Sobre o Destino dos Não-Evangelizados 
 
Restritivismo Inclusivismo Perseverança Divina ou Evangelismo 
Post-mortem 
Definição: 
Deus não provê salvação para 
aqueles que não ouvem acerca de 
Jesus e, conseqüentemente, não 
crêem nEle antes da morte. 
 
Definição: 
Os não-evangelizados podem vir a ser 
salvos, se responderem a Deus em fé, 
baseados na revelação que possuem. 
Definição: 
Os não-evangelizados recebem uma 
oportunidade de crer em Jesus depois 
da morte. 
Textos-chaves: 
Jo 14.6 
At 4.12 
1Jo 5.11-12 
 
Textos-chaves: 
Jo 12.32 
At 10.43 
1Tm 4.10 
Textos-chaves: 
Jo 3.18 
1Pe 3.18 – 4.6 
Representantes: 
Agostinho 
João Calvino 
Jonathan Edwards 
Carl Henry 
R. C. Sproul 
Ronald Nash 
Representantes: 
Justino Mártir 
John Wesley 
C. S. Lewis 
Clark Pinnock 
Wolfhart Pannenberg 
John Sanders 
Representantes: 
Clemente de Alexandria 
George MacDonald 
Donald Bloesch 
George Lindbeck 
Stephen Davis 
Gabriel Fackre 
 
OBS: Todos os representantes mencionados desses pontos de vista concordam que Jesus é único Salvador. 
 
A supremacia de Deus nas missões é confirmada biblicamente pela afirmação da supremacia de 
seu Filho, Jesus Cristo. É uma verdade surpreendente do Novo Testamento que, desde a 
encarnação do Filho de Deus, toda fé salvadora deve, dali por diante, se fixar nele. Isso nem 
sempre foi verdade, por isso aqueles tempos eram chamados “tempos da ignorância” (At 17.30). 
Mas agora é e Cristo tornou-se o centro consciente da missão da igreja. O objetivo das missões é 
levar “graça e apostolado por amor do seu nome, para a obediência por fé, entre todos os 
gentios” (Rm 1.5). Isso é mais uma coisa nova que ocorreu com a vinda de Cristo. A vontade de 
Deus é glorificar seu Filho, fazendo-o foco consciente de toda a fé salvadora. 
 
1. Há Necessidade de Consciência da Fé em Cristo? 
 
Poderia alguma pessoa ser salva sem que tivesse sido evangelizada e tivesse consciência de ter 
obtido salvação cm Cristo Jesus? Alguns evangélicos afirmam somente que não sabem 
responder a essa pergunta, enquanto outros dizem que Cristo é o único meio de salvação, mas 
que salva alguns que nunca ouviram dele por meio de uma fé que não tem a Cristo como foco 
consciente. Será, então, realmente necessário que as pessoas ouçam de Cristo para que sejam 
salvas? 
 
Esse tipo de pensamento elimina a idéia de urgência na evangelização. Se as pessoas podem ser 
salvas sem que tenham ouvido de Cristo, por que sair por aí evangelizando, fazendo missões? 
Deus salvará aqueles que quer de um modo ou de outro. Mas não é isso o que nos ensina a 
Palavra de Deus. 
 24 
 
Haverá um inferno de tormento consciente para aqueles que possuem uma fé cujo foco não seja 
o Senhor Jesus Cristo. Veja o que diz Daniel 12.2: "Muitos dos que dormem no pó da terra 
ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno". Apren demos 
ainda que haverá um castigo eterno: “A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua 
eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em logo inextinguível" (Mt 3.12); 
"...se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar corta-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida 
manco ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno" (Mt 
18.8). O fogo é eterno, sem fim. Não há como negar sua existência. 
O inferno é uma terrível realidade. Por quê? Porque os infinitos horrores do inferno têm o 
objetivo de demonstrar o infinito valor da glória de Deus, a qual eles rejeitaram. A compreensão 
bíblica da justiça do inferno é um claro testemunho de que o pecado deixou de glorificar a Deus. 
Se não houver fé consciente no Senhor Jesus, o resultado será o castigo eterno. 
 
2. A Necessidade da Redenção de Cristo para a Salvação. 
 
Há pessoas que podem ser salvas de outras maneiras do que pela eficácia da obra de Cristo? As 
outras religiões e as provisões que elas oferecem são suficientes para levar as pessoas à 
felicidade eterna com Deus? Os seguintes textos bíblicos levam-nos a crer que a redenção de 
Cristo é necessária para a salvação de todo aquele que é salvo. Não há salvação fora daquela que 
Cristo conquistou com sua morte e ressurreição. 
 
 Se pela ofensa de um, e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que 
recebem a abundancia da graça e o dom da justiça, reinarão em vida por meio de um 
só, a saber, Jesus Cristo. Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos 
os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre 
todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como pela desobediência de 
um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência 
de um só muitos se tornarão justos. ( Rm 5:17-19 ) 
 
O aspecto fundamental aqui é a universidade da obra de Cristo, ou seja, não se limita 
meramente aos judeus. A obra de Cristo, o segundo Adão, corresponde à obra do primeiro 
Adão. Assim como o pecado de Adão leva à condenação de toda a humanidade que se uniu a ele 
como seu cabeça, assim a obediência a Cristo conduz à justiça de toda a humanidade que está 
unida a ele como seu cabeça – “os que recebem a abundância da graça” (v. 17). A obra de Cristo 
na obediência da cruz é retratada como a resposta divina para a condição de toda a raça humana. 
( Cf.: I Co 15:21-23; I Tm 2:5; Ap 5:9-10; At 4:12; Rm 3:23-25 ) 
 
4. “Abaixo do Céu não Existe Nenhum Outro Nome”, Atos 4.12 
 
 A razão dessa mensagem salvar é que ela proclama o nome que salva-o de Jesus. 
Pedro disse que Deus visitou os gentios “a fim de construir dentre eles um povo para o seu 
nome” (At 15.14). É evidente, pois, que a proclamação pela qual Deus escolhe um povo para o 
seu nome seria a mensagem que depende do nome do seu Filho Jesus. 
 
 Isso é, na verdade, o que vimos na pregação de Pedro na casa de Cornélio. O sermão 
atinge seu clímax com estas palavras sobre Jesus: “Por meio de seu nome, todo aquele que nele 
crê recebe remissão de pecados” (At 10.43). A necessidade implícita de ouvir a aceitar o nome 
de Jesus que vemos na história de Cornélio é tornada explicita em Atos 4.12, no clímax de outro 
sermão de Pedro, desta vez perante os líderes judeus em Jerusalém. 
 
 A situação por trás dessa famosa declaração é que o Jesus ressurreto curou um 
homem por meio de Pedro e João. O homem era coxo de nascença, mas se levantou e correu 
pelo Templo louvando a Deus. Juntou-se uma multidão e Pedro pregou. Sua mensagem tornou 
 25 
evidente que o que estava em jogo aqui não era meramente um fenômeno religioso. Aquilo dizia 
respeito a qualquer um no mundo. 
 
 Então, de acordo com Atos 4.1, os sacerdotes, o capitão do templo e os saduceus 
vieram e prenderam Pedro e João, colocando-os em um cárcere até o dia seguinte. Na manhã 
seguinte as autoridades, os anciãos e os escribas reuniram-se e interrogaram Pedro e João. No 
curso do interrogatório, Pedro expôs a implicação do senhorio universal de Jesus: “Não há 
salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os 
homens, pelo qual importa que sejamos salvos”. 
 
 Precisamos sentir a força dessa alegação universal atentando para as várias expressões 
muito seriamente. A razão de não haver salvação em nenhum outro é que “abaixo do céu não 
existe nenhum outro nome (não apenas nenhum outro nome em Israel, mas nenhum outro nome 
abaixo do céu, incluindo o céu sobre a Grécia,

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