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LIBERDADE DE EXPRESSÃO E BIOGRAFIAS NÃO AUTORIZADAS: UMA SUCINTA 
ANÁLISE DA ADI 4.815 E QUESTÕES AFINS 
 
 
Luis Fernando Alencar Arrais do Carmo1 
 
 
RESUMO 
O cerne do presente trabalho consiste em analisar o conflito entre princípios constitucionais, a partir 
do julgamento da questão da liberdade de expressão e biografias não autorizadas. Para tanto, também 
é primordial considerar-se as questões conexas à temática, tais como, a garantia da liberdade de 
expressão nas constituições brasileiras, a existência ou não de direitos absolutos e a fundamentação 
jurídica usada no julgamento pelos ministros do STF. 
 
Palavras-chave: Liberdade de expressão. Direito de informação. Direitos fundamentais. 
 
ABSTRACT 
The core of this paper is to analyze the conflict between constitutional principles, from the judgment 
of the issue of freedom of expression and unauthorized biographies. Therefore, it is also important to 
consider the issues related to the subject, such as the guarantee of freedom of expression in Brazilian 
constitutions, the existence or not of absolute rights and the legal basis used in the judgment by the 
ministers of the Supreme Court. 
 
Keywords: Freedom of expression. Right to information. Fundamental rights. 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
A história mostra que os direitos não são dados de antemão, mas, sim, conquistados. Assim, 
por exemplo, o direito à liberdade de expressão, lato sensu, foi conquistado a duras penas, com muitos 
conflitos e até mesmo com derramamento de sangue. Hodiernamente, esse direito está garantido por 
uma série de tratados sobre os direitos humanos globais e regionais, assim como sob o direito 
consuetudinário internacional. Ressalta-se que esse processo de aquisição da liberdade de expressão 
foi marcado por avanços e retrocessos. 
No contexto brasileiro, o art. 5º, da CRFB/88, justamente consagra os direitos e garantias 
fundamentais, que são entendidos como direitos básicos individuais, sociais, políticos e jurídicos. 
Precisamente o inciso IX do supracitado artigo assegura a liberdade de expressão à atividade 
 
1 Discente do 5º período do curso de Direito da Universidade Ceuma. 
intelectual, artística, científica e de comunicação, sendo que tal garantia independe de qualquer tipo 
de reprimenda ou permissão por parte do Estado ou de qualquer indivíduo. Com isso se quer dizer 
que, pelo menos, no plano formal essa garantia se encontra em sintonia fina com o Estado 
Democrático de Direito. 
 No tocante a uma conceituação do direito à liberdade de expressão, é mister analisar-se o 
entendimento do professor Ingo Sarlet, para quem: 
“ a liberdade de expressão consiste, mais precisamente, na liberdade de exprimir opiniões, ou 
seja, juízos de valor a respeito de fatos, ideias, portanto, juízos de valor sobre opiniões de terceiros, 
devendo o seu conceito, da perspectiva constitucional, ser compreendido em sentido amplo, de forma 
inclusiva. Importa acrescentar, que além da proteção do conteúdo, ou seja, do objeto da expressão, tam-
bém estão protegidos os meios de expressão, cuidando-se, em qualquer caso, de uma noção aberta, 
portanto inclusiva de novas modalidades, como é o caso da comunicação eletrônica, o que tanta com-
plexidade embutiu em termos tecnológicos, mas também implica tantos desafios jurídicos, inclusive a 
querela em torno do assim chamado direito ao esquecimento na internet [..]”. 
É importante compreender que o direito constitucional à liberdade de expressão não é um 
convite à arbitrariedade. O indivíduo não pode a seu bel prazer expressar aquilo que bem pensa. É 
necessário ter cautela e respeitar incondicionalmente o próximo. Com isso se quer dizer que a pessoa 
não pode invocar o direito em tela para atentar contra a honra de outrem. Seja imputando falsamente 
a alguém um fato criminoso (calúnia), seja ofendendo a dignidade de outro (injúria), ou imputando 
fato ofensivo à reputação de outrem (difamação). 
A temática, objeto do presente estudo, já foi produto de julgamento pelo STF, em uma ADIN, 
de nº 4815, proposta pela Associação Nacional dos Editores de Livros (ANEL), que tinha por objeto 
o pedido de inconstitucionalidade parcial, ou seja, sem redução de texto, dos arts. 20 e 21, do CC/2002, 
uma vez que o conteúdo desses artigos poderia ser interpretado como uma forma de censura prévia 
aos biógrafos e, consequentemente, a alguns dos direitos e garantias do art. 5º, da CRFB/88, tais como 
a liberdade de expressão, de pensamento e do direito à informação. Os arts. 20 e 21, CC, permitem a 
proibição de obras que atinjam a honra de alguém e dão poder a juízes para “adotar as providências 
necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a essa norma”. Esses dispositivos motivaram 
uma série de liminares contra biografias sem autorização prévia. 
A redação do art. 20, CC, prevê que para se configurar a violação da imagem da pessoa, é 
necessário que a divulgação não autorizada da imagem atinja a honra, a boa fama ou a respeitabilidade. 
In verbis: 
“Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, 
a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da 
imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que 
couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. 
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção 
o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.” 
2. ADI 4.815 
No julgamento dessa Ação Direta de Inconstitucionalidade, o Supremo Tribunal Federal 
deparou-se mais uma vez com o conflito entre o bloco da liberdade de imprensa e o bloco do direito 
à imagem, à honra, à intimidade e à vida privada. A ANEL ajuizou essa ADI, requerendo uma 
interpretação conforme a Constituição, com o fito de permitir a confecção e a publicação de biografias 
sem a prévia autorização do biografado ou dos seus responsáveis. 
Pode-se afirmar que com esse julgado houve uma afirmação da tendência de privilegiar a 
liberdade de expressão, de criação artística e de produção científica em detrimento à intimidade, 
privacidade, honra e imagem, levando em consideração que o indivíduo possui o direito de tomar 
conhecimento acerca dos fatos relativos não só às condutas do governo e das autoridades, a fim de 
que possam exercer um juízo crítico e livre sobre as práticas estatais, mas também à vida das 
personagens públicas, devido à sua importância para a história e cultura da sociedade. 
Houve uma intensa discussão em torno da autorização para publicação de biografias. Um dos 
casos mais notórios de aplicação da previsão dos arts. 20 e 21, CC, aconteceu em 2007, quando 
Roberto Carlos conseguiu proibir a circulação da biografia “Roberto Carlos em Detalhes”, escrita por 
Paulo Cesar Araújo, publicada pela editora Planeta, que teve que recolher toda a tiragem das livrarias. 
A ação ajuizada pela ANEL apresentou argumento no sentido de que certos indivíduos, por 
suas posições ocupadas na sociedade, sofreriam maior exposição às críticas do que as pessoas com 
menor notoriedade. Assim, para a parte autora: 
“[...] as pessoas cuja trajetória pessoal, profissional, artística, esportiva ou política, haja tomado 
dimensão pública, gozam de uma esfera de privacidade e intimidade naturalmente mais estreita. Sua 
história de vida passa a confundir-se com a história coletiva, na medida da sua inserção em eventos de 
interesse público. Daí que exigir a prévia autorização do biografado (ou de seus familiares, em caso de 
pessoa falecida) importa consagrar uma verdadeira censura privadaà liberdade de expressão dos autores, 
historiadores e artistas em geral, e ao direito à informação de todos os cidadãos”. 
Alguns artísticas aderiram ao posicionamento de Roberto Carlos, valendo-se do argumento de 
que biografias não autorizadas não trazem prejuízos somente à privacidade, mas também há grandes 
dificuldades em conseguir reparar, através de ações judiciais, os danos posteriores à publicação das 
biografias. Já os biógrafos, por sua vez, advogam que o veto defendido por artistas impediria a 
circulação de obras sobre personagens históricos. Os autores citam como exemplo a impossibilidade 
de se escrever – sem interferências – um texto sobre generais da ditadura ou sobre políticos. 
A Advocacia-Geral da União (AGU), que representa a União em processos judiciais, foi a 
favor da exigência da autorização prévia para publicação de biografias. Para tanto, levantou o fato de 
é comum que biografias exponham "detalhes íntimos" da vida do biografado, o que pode gerar 
"comoção ou curiosidade na opinião pública", além de “retorno financeiro para o autor”. 
Participaram do julgamento, na condição de amici curiae o Instituto Amigo, o Instituto 
Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), o Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp) e o 
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. 
O causídico que representou o Instituto Amigo defendeu que a intimidade e informação são 
dois direitos com igual status constitucional. No entanto, o direito constitucional de petição, que é a 
garantia constitucional de todo cidadão pleitear ao Judiciário, diante de possível lesão ou ameaça a 
direito, também está em voga. Acrescentou, ainda, que a ADI prevê que o direito do biógrafo deve 
ser quase absoluto e que o biografado não pode analisar caso a caso quando se sentir ofendido na sua 
dignidade. Por outro lado, o advogado defendeu o direito de a pessoa que se sentir a sua dignidade 
afetada, que de alguma forma foi injuriada, possa acionar o Judiciário, não por meio de uma decisão 
prévia, mas depois de a obra ser publicada. 
O IHGB, por sua vez, além de sair em defesa do princípio da liberdade de expressão, defendeu 
também, invocando o art. 206, CRFB/88, o princípio da liberdade de pesquisa acadêmica, que 
salvaguarda a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber. 
Desse modo, esse Instituto se posicionou favorável à não exigência de autorização para a publicação 
de biografias. 
No mesmo sentido, O Conselho Federal da OAB realçou o choque entre direitos fundamentais 
presente na matéria, uma vez que o art. 5, IX, da CRFB/88, trata da liberdade de expressão e artística, 
e o inciso X, deste mesmo artigo, refere-se à inviolabilidade da imagem, da honra e da intimidade das 
pessoas. Nesse diapasão, sob o entendimento da OAB, a própria Constituição traz o balanceamento 
da questão quando esclarece que para o direito à liberdade de expressão há consequente garantia da 
vedação da censura. Por outro lado, quando a Constituição assegura o direito fundamental a 
intimidade e a imagem, ela traz a garantia da indenização. Assim, nas palavras do represente do 
Conselho: “nos casos de calúnia, de ofensas a honra, injúria, difamação, a solução será a indenização, 
mas certamente, não poderá qualquer censor delimitar qual a matéria que será objeto de uma biografia, 
se a matéria relevante ou irrelevante, todos os fatos devem ter relevância para o biógrafo que está 
exercendo o direto constitucional a liberdade de expressão.” 
Já o IASP defendeu a procedência parcial da ação para que se confira interpretação conforme 
a Constituição aos dispositivos do Código Civil, no sentido se dispensar a prévia autorização para 
publicação de biografias de caráter cultural e histórico, desde que não se considere essa circunstância 
uma exceção à regra da responsabilidade civil, que poderá ser aplicada, sempre que couber, no caso 
concreto. “Não se pode hipertrofiar a liberdade de expressão à custa do atrofiamento dos valores da 
pessoa humana”, pontuou a defesa. 
3. HISTÓRICO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS 
Ao fazer-se um apanhado histórico acerca da temática “ liberdade de expressão”, no contexto 
brasileiro, constata-se uma grande contradição, uma vez que há um nítido distanciamento entre 
daquilo que está previsto na Lei e a realidade fática. 
Nesse sentido, o Ministro Barroso leciona que: 
“a liberdade de expressão foi consagrada em todas as Constituições brasileiras, em letra de forma e 
linguagem solene. Nada obstante isso, sua história tem sido acidentada, marcada pelo desencontro entre 
o discurso oficial e o comportamento das autoridades públicas. A constatação não chega a ser 
surpreendente e se insere na ambigüidade típica da história brasileira, uma crônica da distância entre 
intenção e gesto [...]”. 
A primeira constituição brasileira, de 1824, cuja origem era outorgada, já assegurava, em seu 
art. 179, inciso IV, a liberdade de expressão do pensamento, inclusive pela imprensa, independente 
de censura. Contudo, não se deve ser tão inocente a ponto de acreditar que em uma conjuntura 
marcada pelos privilégios da nobreza, pelo voto censitário e o pelo regime escravocrata, haveria no 
plano da realidade fática, uma proteção efetiva à liberdade de expressão. 
A ausência de efetividade não foi um atributo somente da constituição do período regencial. 
A Carta de 1891, atinente ao tema, também não foi capaz de garantir na prática o previsto no texto 
legal, sendo que ainda lamentavelmente foi acrescentado a vedação do anonimato. No seu art. 72, 
parágrafo 12, havia a seguinte descrição: “ em qualquer assunto é livre a manifestação do pensamento 
pela imprensa, ou pela tribuna, sem dependência de censura, respondendo cada um pelos abusos que 
cometer, nos casos e pela forma que a lei determinar. Não é permitido o anonimato”. 
Em 1934, a Constituição, em seu art. 113, inciso IX, introduziu expressamente a possibilidade 
de censura prévia aos espetáculos e diversões públicas. Veja-se: 
“em qualquer assunto é livre a manifestação do pensamento, sem dependência de censura, salvo quanto 
a espetáculos e diversões públicas, respondendo cada um pelos abusos que cometer, nos casos e pela 
forma que a lei determinar. Não é permitido o anonimato. É assegurado o direito de resposta. A 
publicação de livros e periódicos independe de licença do poder público. Não será, porém, tolerada 
propaganda de guerra ou de processos violentos para subverter a ordem política ou social”. 
Com o golpe à democracia, por meio do Estado Novo, a outorga da Constituição de 1937, que 
foi inspirada no modelo fascista , com seu autoritarismo, representou um rigoroso sistema de censura 
prévia à liberdade de expressão, abrangendo a imprensa, espetáculos e diversões públicas. 
A Constituição de 1946, após a abolição do estado totalitário, e consequente redemocratização, 
teve como inspiração o Texto de 1934, acrescentando a vedação ao preconceito de raça ou de classe. 
O seu art. 141, parágrafo 5º, previa: 
“É livre a manifestação do pensamento, sem que dependa de censura, salvo quanto a espetáculos e 
diversões públicas, respondendo cada um, nos casos e na forma que a lei preceituar, pelos abusos que 
cometer. Não é permitido o anonimato. É assegurado o direito de resposta. A publicação de livros e 
periódicos não dependerá de licença do poder público. Não será, porém, tolerada propaganda de guerra, 
de processos violentos para subverter a ordem política e social, ou de preconceitos de raça ou de classe. ” 
Na Constituição de 1967 e Emenda Constitucional de 1969, respectivamente em seu art. 150 
e parágrafos, e 153 e parágrafos, explicitam que é livre a manifestação de pensamento, de convicção 
política ou filosófica,bem como a prestação de informação independentemente de censura, salvo 
quanto a diversões e espetáculos públicos, respondendo cada um, nos termos da lei, pelos abusos que 
cometer. Era assegurado o direito de resposta. Ressalte-se que tal garantia podia ser compreendida 
como um engodo, à medida que se fazia presente uma gritante insinceridade, pois mesmo enunciando 
a liberdade de manifestação do pensamento, por outro lado, por meio de leis, decretos-lei específicos, 
e a discricionariedade desmedida de quem estava a serviço da ditadura, anunciavam que não seria 
tolerada a subversão da ordem ou as publicações contrárias à moral e aos bons costumes. 
A liberdade de expressão é um direito fundamental consagrado na Constituição Federal de 
1988, no capítulo que trata dos Direitos e Garantias fundamentais e funciona, como falado 
anteriormente, como um verdadeiro termômetro no Estado Democrático. 
4. HÁ DIREITOS ABSOLUTOS? 
Há uma gama de direitos fundamentais que estão elencados de forma expressa ou tácita 
nas normas legais. Assim, pode ocorrer em alguns casos concretos, conflitos entre direitos e/ou 
princípios. Sempre que isso ocorrer, é primordial fazer-se um sopesamento, a fim de analisar qual 
que deve prevalecer. 
Quando os conflitos das normas são entre textos de hierarquia diferentes, como, por 
exemplo, entre a Constituição e uma lei, a possível solução é menos complexa. Contudo, quando 
se inserem questões formalmente da mesma relevância, a análise será muito mais complicada e, 
muitas vezes, de solução imprevisível. 
A grande questão, objeto da ADI 4.815, foi o conflito entre o direito à privacidade e de 
zelar pela intimidade, de um lado, e do outro a liberdade de expressão, porque todos eles são 
direitos constitucionais fundamentais. A Suprema Corte deixou claro que não há de se estabelecer 
uma posição hierárquica de direito fundamentais, mas sim um juízo de ponderação. 
Para ALEXY (2008), quando se estiver diante de uma colisão entre direitos fundamentais, 
primeiramente, para solucioná-la utiliza-se da adequação do meio, posteriormente, utiliza-se a 
necessidade desse meio, e em seguida, se ainda não solucionada a colisão, a ponderação. Quanto às 
colisões de princípios, ALEXY (2008) entende que estes devem ser solucionadas de maneira 
totalmente distinta, qual seja: 
“Se dois princípios colidem – o que ocorre, por exemplo, quando algo é proibido e, de acordo com o 
outro, permitido -, um dos princípios terá que ceder. Isso não significa, contudo, nem que o princípio 
cedente deva ser declarado inválido, nem que nele deverá ser introduzida uma cláusula de exceção. ” 
Já DWORKIN (2002) entende que o conflito aparente entre princípios é um conflito entre 
normas jurídicas e, como tal, deve ser resolvido mediante o reconhecimento do caráter deontológico 
dos princípios, tendo em vista o caso concreto e considerando o direito em sua integridade 
Lecionando sobre a ponderação, dispõe MARMELSTEIN: 
“a ponderação é uma técnica de decisão empregada para solucionar conflitos normativos que envolvam 
valores ou opções políticas, em relação aos quais as técnicas tradicionais de hermenêutica não se 
mostram suficientes. É justamente o que ocorre com a colisão de normas constitucionais, pois, nesse 
caso, não se pode adotar nem o critério hierárquico, nem o cronológico, nem a especialidade para 
resolver uma antinomia de valores. ” 
Acerca do questionamento sobre a existência de direito absoluto, parece-se a arrazoado o 
posicionamento da professa Cláudia Maria Gonçalves2, para quem não há direitos absolutos, salvo o 
de não ser torturado. Tal pensamento está em consonância com o magistério de Norberto Bobbio. 
5. VOTAÇÃO DA ADI 4.815 
Por unanimidade, o Plenário do Supremo Tribunal Federal julgou procedente a Ação Direta 
de Inconstitucionalidade (ADI) 4815 e declarou inexigível a autorização prévia para a publicação de 
biografias. Seguindo o voto da relatora, ministra Cármen Lúcia, a decisão dá interpretação conforme 
a Constituição da República aos artigos 20 e 21 do Código Civil, em consonância com os direitos 
fundamentais à liberdade de expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, 
independentemente de censura ou licença de pessoa biografada, relativamente a obras biográficas 
literárias ou audiovisuais (ou de seus familiares, em caso de pessoas falecidas). 
A relatoria do julgamento foi atribuída à Ministra Carmen Lúcia, que em seu denso voto 
de 119 páginas, de forma clara fez resgate da discussão histórica do tema ao longo do tempo, a 
evolução das normas nacionais, as normas estrangeiras e internacionais existentes, para concluir, 
precisa e sucintamente com base em nosso texto constitucional vigente, que a censura não é 
possível e que questões relacionadas a violações da honra podem ser objeto de reparação pelo 
ofendido após eventual infração, caso haja. Abaixo, encontra-se parte do rico voto da relatora: 
“A censura é, com frequência, lembrada em relação ao ilegítimo e perverso atua ilegítimo do Estado. 
Prática comum em regimes autoritários ou totalitários, não é, contudo, exclusividade do Estado. Mas a 
censura permeia as relações sociais, propaga-se nas circunstâncias próprias da vida. A censura recorta a 
história, reinventa o experimentado, pessoal ou coletivamente, omite fatos que poderiam explicitar a 
vida de pessoa ou de povo em diferentes momentos e locais. Censura é repressão e opressão. Restringe 
a informação, limita o acesso ao conhecimento, obstrui o livre expressar o pensado e o 
sentido. Democracia deveria escrever censura com s em seu início: semsura[...] ” 
Merece destaque também o voto do ministro Luis Roberto Barroso, que de modo conciso e 
didático, destacou o princípio da unicidade constitucional, através do qual, dentro da mesma norma, 
as previsões não possuem pesos diferentes. Desse modo, a análise, em caso de colisão, segundo o 
entendimento do Ministro, deve se basear em ponderação e concessões recíprocas, preservando o 
máximo possível dos direitos em disputa. No tocante aos artigos 20 e 21 do Código Civil, Barroso 
pontuou que os mesmos “produziram uma hierarquização fixa entre direitos constitucionais. Isto viola 
 
2 Pós-Doutora em Direito Pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; Profª da UFMA; Procuradora do 
Estado do Maranhão. Ex-Procuradora Federal. Ex-Advogada da União. 
o princípio da unicidade e produz um resultado inconstitucional, que é o de um direito 
invariavelmente prevalecer sobre outro. ” 
O Ministro Decano, Celso de Mello, enfatizou a necessidade de reconhecer a possibilidade de 
acionar o Judiciário após a publicação da biografia, quando houver ofensa aos direitos à proteção da 
honra. Para tanto, ele enumera algumas possibilidades, como o direito de resposta, responsabilização 
civil e penal. Realçou também que é preciso haver limites na liberdade de expressão, proibida a 
incitação ao ódio público contra qualquer pessoa. Além disso, citou o estabelecido no artigo 13 da 
Convenção Americana Sobre Direitos Humanos, como parâmetro objetivo que deve guiar o Judiciário 
em casos de abusos na liberdade de expressão, de que deve-se proibir toda propaganda a favor da 
guerra, bem como toda apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitação à 
discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência. 
No seu voto, a Ministra Rosa Weber manifestou seu entendimento de que controlar as 
biografias implica tentar controlar ou apagar a história, e a autorização prévia constitui uma forma de 
censura, incompatível com o estado democrático de direito. Para ela, “a biografia é sempre uma 
versão, e sobre uma vida pode haver várias versões”. 
O ministro Marco Auréliodisse que a censura judicial é uma das piores que pode haver. E 
destacou que havendo conflito entre o direito individual e coletivo, “dá-se primazia ao interesse 
coletivo”, antes de afirmar que é leitor de biografias não autorizadas. 
Foi assinalado pelo Ministro Dias Toffoli que obrigar uma pessoa a obter previamente 
autorização para lançar uma obra pode levar à obstrução de estudo e análise de História. O mesmo 
afirmou que “a Corte está afastando a ideia de censura, que, no Estado Democrático de Direito, é 
inaceitável”. Ele ponderou, no entanto, que a decisão tomada no julgamento não autoriza o pleno uso 
da imagem das pessoas de maneira absoluta por quem quer que seja, uma vez que “há a possibilidade, 
sim, de intervenção judicial no que diz respeito aos abusos, às inverdades manifestas, aos prejuízos 
que ocorram a uma dada pessoa”. 
Objetivamente, o Ministro Luiz Fux destacou que a notoriedade do biografado é adquirida 
pela comunhão de sentimentos públicos de admiração e enaltecimento do trabalho, constituindo um 
fato histórico que revela a importância de informar e ser informado. Em seu entendimento, são poucas 
as pessoas biografadas, e, na medida em que cresce a notoriedade, reduz-se a esfera da privacidade 
da pessoa. No caso das biografias, é necessária uma proteção intensa à liberdade de informação, como 
direito fundamental. 
O Ministro Ricardo Lewandowski, à época presidente da Corte, parabenizou o Tribunal, 
afirmando que este vive um momento histórico ao reafirmar a tese de que não é possível que haja 
censura ou se exija autorização prévia para a produção e publicação de biografias. Pontuou que a 
regra estabelecida com o julgamento é de que a censura prévia está afastada, com plena liberdade de 
expressão artística, científica, histórica e literária, desde que não se ofendam os direitos 
constitucionais dos biografados. 
Durante a explanação de seu voto, o Ministro Gilmar Mendes, salientou que fazer com que a 
publicação de biografia dependa de prévia autorização traz sério dano para a liberdade de 
comunicação. Ele destacou também a necessidade de se assentar, caso o biografado entenda que seus 
direitos foram violados publicação de obra não autorizadas, a reparação poderá ser efetivada de outras 
formas além da indenização, tais como a publicação de ressalva ou nova edição com correção. 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Não há dúvida de que a liberdade de expressão está entre as mais estimadas garantias 
constitucionais, sendo consectário do direito à manifestação do pensamento, a liberdade de expressão 
é de conteúdo abrangente, instrumento essencial para a democracia, na medida em que permite que a 
vontade popular seja formada a partir do confronto de opiniões, em que todos os cidadãos, dos mais 
variados grupos sociais, devem poder participar, falando, ouvindo, enfim, colaborando da melhor 
forma que entenderem. 
Como consequência do julgamento ora comentado, O Supremo Tribunal Federal mais uma 
vez sinalizou que o comportamento social esperado, no campo da democracia, é o prestígio à 
liberdade de expressão, de modo que sempre que esse valor de dignidade constitucional estiver 
em aparente colisão com outros direitos fundamentais, a prevalência por ele é de rigor. Como 
bem disse o Ministro Barroso: A liberdade de expressão não é uma garantia de verdade nem de 
Justiça; é garantia da democracia. 
Conclui-se, ressaltando que o direito conclamado pelos defensores da não exigência de 
autorização para a edição de biografias não autorizadas é a liberdade de expressão. No direito 
brasileiro, foi mostrado que a Liberdade de Expressão esteve presente desde a primeira constituição, 
a imperial de 1824. Também foi contemplada na Constituição Republicana de 1891, bem como nas 
constituições de 1934 e 1937, na de 1946 e inclusive na de 1967 – com a emenda de 1969 – e por fim, 
restou prestigiada como direito fundamental na Constituição Federal de 1988. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 4815, proposta pela Associação Nacional dos Edi-
tores de Livros (ANEL), em junho de 2012. Relatora Ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha. Petição 
Inicial, p.2. Disponível em: . <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/audienciaspublicas/anexo/pagina-
dor.pdf>. Acesso em: 02 de junho de 2017. 
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. São 
Paulo: Malheiros, 2008. 
BRASIL. Constituição (1824). Constituição Brasileira, Brasília, DF, Senado, 2001. 
______. Constituição (1891). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, Brasília, DF, 
Senado, 2001. 
 ______. Constituição (1934). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, Brasília, DF, 
Senado, 2001. 
 ______. Constituição (1937). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, Brasília, DF, 
Senado, 2001. 
______. Constituição (1946). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, Brasília, DF, 
Senado, 2001. 
______. Constituição (1967). Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Senado, 
2001. 
______. Constituição (1969). Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Senado, 
2001. 
______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Senado, 
2001. 
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução e notas por Nelson Boeira. São Paulo: 
Martins Fontes, 2002. 
GONÇALVES, Cláudia Maria da Costa. Direitos fundamentais sociais: releitura de uma constitui-
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