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A fenomenologia da violencia domestica contra a criança busca de alternativas para a prevenção da violencia Damiana Lacerda

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FACULDADES INTEGRADAS DO EXTREMO SUL DA BAHIA 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DAMIANA GOMES LACERDA 
 
 
 
 
 
 
 
 
A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A CRIANÇA: BUSCA DE 
ALTERNATIVAS PARA A PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Eunápolis - Bahia 
2017 
DAMIANA GOMES LACERDA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A CRIANÇA: BUSCA DE 
ALTERNATIVAS PARA A PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso de graduação 
apresentado à Faculdades Integradas do Extremo Sul 
da Bahia, como requisito para obtenção do grau em 
Bacharel em Direito. 
 
 
Orientadora: Prof. Msc. Thaís Prestes Veras 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Eunápolis - Bahia 
2017 
DAMIANA GOMES LACERDA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A CRIANÇA: BUSCA DE 
ALTERNATIVAS PARA A PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA 
 
 
Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado à Faculdades Integradas 
do Extremo Sul da Bahia, como requisito para obtenção do grau em Bacharel em 
Direito. 
 
 Aprovada em ______ de _______________ de ______. 
 
Banca Examinadora: 
 
______________________________________________ 
Prof. Msc. Orientadora: Tais Prestes Veras 
 
 
______________________________________________ 
Professor (a) examinador (a) 
 
 
______________________________________________ 
Professor (a) examinador (a) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais e minha irmã que sempre estiveram ao meu lado, 
me apoiando em todos os momentos. 
À minha tia Aurita por ter me incentivado a continuar sempre. 
À todas as pessoas que fazem parte da minha vida e foram 
minhas inspirações. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente a Deus pela força, coragem e resiliência que me sustentou 
durante toda a caminhada para a conclusão desse sonho e colocou anjos na minha 
vida quando mais precisei de ajuda. 
 
À minha orientadora, professora Msc. Thaís Prestes Veras, por ter aceitado meu 
projeto e colaborado nessa caminhada, me ajudando a crescer e ampliando os meus 
horizontes. 
 
Aos meus pais, Maria Dajuda e Joaquim, que dedicaram parte de suas vidas com 
minha criação e educação. E que hoje, continuam a fornecer apoio e carinho 
incondicionais. Obrigada por tudo! 
 
Agradeço também a Daniele, minha irmã que com seu jeito de ser esteve ao meu lado 
nas horas em que precisei. 
 
A minha tia Aurita, que confiou na minha capacidade de continuar e que nessa 
jornada me incentivou a manter o foco independente das dificuldades que eu 
encontrasse em meu caminho, pela dedicação, inúmeros conselhos e carinho 
destinados a mim. 
 
As crianças da minha vida, que indiretamente me incentivaram a fazer esse trabalho 
com um tema visando a proteção delas. 
 
Aos meus amigos, por aguentarem minhas oscilações de humor, pelos momentos de 
descontração nesse período de TCC e pelo apoio e crença que tiveram em mim. 
 
Aos colegas pelas partilhas e pelo companheirismo durante essa aventura em busca 
do saber. 
 
Ao Projeto Ampare, na pessoa do Pastor Edgar, por todo o apoio e colaboração para 
realização da minha pesquisa. 
 
A todos, muito obrigada! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Não existe revelação mais nítida da alma de uma 
sociedade do que a forma como esta trata as suas 
crianças.” 
 
 Nelson Mandela 
RESUMO 
O presente trabalho pauta-se numa busca de alternativa para a prevenção e redução 
de danos da violência contra as crianças, na qual analisa as leis acerca da proteção 
da criança, sobretudo no que tange aos seus direitos. Desta feita, é importante 
evidenciar o que é violência no âmbito familiar, o que é o âmbito familiar, a cronologia 
e importância das garantias em nossa legislação e os mecanismos contemporâneos 
de combate a violência doméstica infantil. O problema em questão consiste em 
investigar: “O que está sendo implantado a fim de reduzir e prevenir a Violência 
Intrafamiliar Infantil?”. O objetivo geral é analisar a violência intrafamiliar contra a 
criança e a prevenção e diminuição da Violência Infantil no núcleo familiar, praticada 
pelos pais e responsáveis dos menores tendo como objeto de pesquisa as doutrinas 
e teses. E como objetivos específicos: Verificar o que diz a legislação, sobre 
elementos que garantem que o menor não sofra Violência Infantil; Analisar como o 
Estado está buscando a erradicação da violência contra criança; Relacionar os 
conceitos jurídicos que conceituam a Violência Infantil; Definir juridicamente a 
responsabilidade da família como um dever a ser exercido pelos responsáveis pelo 
menor; e por fim apresentar os principais órgãos jurídicos e pacificadores que atuam 
no combate, prevenção e diminuição da violência infantil. A proposta de pesquisa aqui 
apresentada, será baseada na construção doutrinária e normativa. A pesquisa 
bibliográfica utilizada são artigos jurídicos, doutrinários, revistas jurídicas, normas 
constitucionais e infraconstitucionais e apesar de não ser um trabalho com pesquisa 
de campo, para demonstrar o que está sendo implantado na região, foi realizada uma 
entrevista com o Projeto Ampare. 
 
Palavras-Chaves: Criança; Violência Infantil; Afirmação de Direito; Violência 
intrafamiliar; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS 
 
 
AMPARE Projeto de Abrigamento Infantil 
ART Artigo 
CAP’s Centro de Atenção Psicosocial 
CC Código Civil 
CF Constituição Federal 
CP Código Penal 
DSD Depoimento Sem Dano 
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente 
ONU Organização das Nações Unidas 
PL Projeto de Lei 
PSF Posto de Saúde da Família 
PT Partido do Trabalhadores 
RS Rio Grande do Sul 
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9 
1. LEITURA INTERDISCIPLINAR DA INFÂNCIA .................................................... 10 
1.1 CONCEITO DE INFÂNCIA .................................................................................. 10 
1.2 DAS IDADES PARA O ORDENAMENTO JURÍDICO ......................................... 13 
2. DA VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS................................................................. 15 
2.1 PODER FAMILIAR .............................................................................................. 15 
2.2 DOS MAUS TRATOS E FORMAS DE VIOLÊNCIA ............................................ 20 
2.2.1 Violência Física .............................................................................................. 22 
2.2.2 Violência Sexual Intrafamiliar ........................................................................ 23 
2.2.3 Violência Psicológica ..................................................................................... 24 
2.2.4 Negligência ..................................................................................................... 26 
3. CRONOLOGIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO REFERENTE A INFÂNCIA .... 27 
3.1 CRONOLOGIA DA LEI ........................................................................................ 27 
3.2 ECA E O NOVO PARADIGMA DA PROTEÇÃO INTEGRAL .............................. 29 
3.3 ASPECTOS CONSTITUCIONALISTAS.............................................................. 31 
3.4 LEI DA MENINO BERNARDO ............................................................................ 32 
4.0 QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS REFERENTES A CRIANÇAS VITIMADAS
 .................................................................................................................................. 34 
4.1 DEPOIMENTO SEM DANO ................................................................................ 34 
4.2 PROJETO AMPARE ........................................................................................... 36 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 39 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 40 
ANEXO I.................................................................................................................... 48 
 
9 
 
INTRODUÇÃO 
 
O presente tema despertou interesse, uma vez que as violências familiares 
contra crianças são tão frequentes e devastadoras. A situação, além de comovente, 
desafia a busca de alternativas para prevenir e auxiliar as vítimas. Percebe-se que é 
um tema sobre o qual não há uma verdade imutável. Considerando que o ECA- 
Estatuto da Criança e do Adolescente preconiza a proteção em rede e que toda a 
sociedade faz parte dessa rede, tanto os cidadãos como o Estado não devem deixar 
passar desapercebidas as situações que rompem com os direitos das crianças. O não 
enfrentamento tanto teórico quanto prático da violência intrafamiliar contribui com a 
naturalização da violência que por vezes acontece por motivos fúteis 
A proposta de pesquisa aqui apresentada, será baseada na construção 
doutrinária, jurisprudencial e normativa, sendo analisada a fenomenologia da violência 
doméstica contra a criança. A pesquisa bibliográfica utilizada são artigos jurídicos, 
doutrinários, revistas jurídicas, jurisprudência, normas constitucionais e 
infraconstitucionais e entrevista com o Projeto Ampare, que serão os métodos de 
procedimentos específicos do trabalho em questão. 
A organização da escrita deste trabalho monográfico busca no primeiro capítulo 
fazer uma leitura interdisciplinar da temática infância, com foco na concepção dos 
termos “infância” e “criança” e nas idades para o ordenamento jurídico. 
No capítulo dois será feita uma análise sobre a fenomenologia da violência 
contra criança, por meio da conceituação e histórico do instituto do poder familiar e a 
naturalização dos maus tratos em muitas famílias e de quais maneiras elas se 
manifestam 
O terceiro capítulo traz toda a cronologia do ordenamento jurídico referente a 
criança, desde o Estado sem legislação no que refere ao tema, até o advento da 
constituição cidadã, do Estatuto da criança e do Adolescente e da Lei da Palmada. 
O capítulo final encerra o presente trabalho, trazendo as questões 
contemporâneas referentes as crianças vitimadas com enfoque no projeto do 
Depoimento Especial – Depoimento Sem Dano – e no Projeto Ampare, que acolhe 
crianças que tiveram seus direitos desrespeitados. 
10 
 
A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A CRIANÇA: BUSCA DE 
ALTERNATIVAS PARA A PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA 
 
1. LEITURA INTERDISCIPLINAR DA INFÂNCIA 
 
1.1 CONCEITO DE INFÂNCIA 
 
Para Kramer (1996) apesar da figura da criança existir desde o início da 
humanidade, a noção de infância é “produto de evolução da história das sociedades, 
e o olhar sobre a criança e sua valorização na sociedade não ocorreram sempre da 
mesma maneira, mas, sim, de acordo com a organização de cada sociedade e as 
estruturas econômicas e sociais em vigor”. 
O conceito do termo criança assim como conhecemos hoje, “sujeitos, credores 
de direito” (AMARO, 2014), é decorrente de uma evolução histórica que acompanha 
as condições socioculturais, econômicas, geográficas e até mesmo as 
idiossincrasssias individuais. Consequentemente é errôneo acreditar que as crianças 
da atualidade são idênticas as do século passado e que serão exatamente 
semelhantes às que virão nos séculos seguintes. 
Segundo o historiador Ariès (1981) "na sociedade medieval a criança a partir do 
momento em que passava a agir sem solicitude de sua mãe, ingressava na sociedade 
dos adultos e não se distinguia mais destes". Na visão deste, até a Idade Média e 
durante ela não existia o sentimento de infância, as crianças eram vistas e tratadas 
como adultos em miniaturas que desempenhavam alguns dos papeis e 
comportamentos dos adultos, não havia uma distinção do que era adequado e 
inadequado para as crianças. 
Contrapondo a ideologia de Ariès, Heywood (2004) defende que mesmo que as 
crianças como tais não recebessem tempo e atenção, havia uma ideia de infância 
presente na Idade Medieval. Ao mesmo tempo apresenta a tese de que a Igreja já se 
preocupava com a educação de crianças, colocadas ao serviço do monastério. Já no 
século XII, assegura o estudioso, é possível encontramos indícios de um investimento 
social e psicológico nas crianças. Nos séculos XVI e XVII já existia uma consciência 
de que as percepções de uma criança eram diferentes das dos adultos. 
11 
 
A transição de adulto em miniatura na Idade Média para a criança cidadã na 
Contemporaneidade, se deu por meio de muitas lutas e percalços, mesmo na primeira 
idade as crianças recebiam afeto e cuidados superficiais, que poderiam ser facilmente 
substituídos: 
Contudo, um sentimento superficial da criança a que chamei de 
‘paparicação’ era reservado à criancinha em seus primeiros anos de 
vida, enquanto ela ainda era uma coisinha engraçadinha. As pessoas 
se divertiam com as crianças pequenas como um animalzinho, um 
macaquinho impudico. Se ela morresse então, como muitas vezes 
acontecia, alguns podiam ficar desolados, mas a regra geral era não 
fazer muito caso, pois outra criança logo a substituiria. A criança não 
chegava a sair de uma espécie de anonimato. (ARIÈS, 2006) 
 
Quando não eram vistos como mini adultos, as crianças eram vistas como 
espelhos que absorvem os reflexos dos adultos e depois quando se tornam adultos 
refletem os que lhes foram ensinados quando pequenos, assim como leciona Caldeira 
“no lugar de procurar entender e aceitar as diferenças e semelhanças das crianças, a 
originalidade de seu pensamento, pensava-se nelas como páginas em branco a serem 
preenchidas preparadas para a vida adulta”. 
A Idade Moderna se difere dos períodos subsequentes em relação à criança, 
com a introdução da escolarização no século XVIII que altera, e muito, o conceito de 
infância existente no mundo, o que não significa uma melhora imediata dessa sua 
condição. A criança, antes esquecida, agora é lembrada, mas ainda de maneira 
distinta às suas necessidades, inerentes a sua condição de ser em desenvolvimento. 
(VERONESE, 2013) 
Porém, com o estopim da Revolução Industrial o sentimento de infância 
retrocedeu, e a criança passou a ser vista com outros olhares, que visavam explora-
las nas fábricas por serem mãos de obras com baixo custo. Além da exploração 
ressurge a desigualdade social, pois os filhos de burguesas mantiveram o status de 
criança, enquanto os de baixa renda eram obrigados a trabalharem para ajudar no 
sustento da família, não tendo tempo para diversão e lazer. Seus direitos básicos 
como ser criança lhe é tirado, sobrando os deveres de pessoas adultas. 
A criança ganha outra dimensão. Anteriormente desprezada e 
insignificante, passa a ser concebida como uma produtiva força de 
trabalho. Pela sua natureza minoritária e frágil, é largamente explorada 
nas frentes de trabalho, sendo submetida a jornadas intensivas com 
12 
 
remunerações significativamente inferioresàs dos homens. 
(HABERMANS, apud VERONESE, 2013) 
 
O sentimento de infância ressurgiu aos poucos e timidamente entre os anos de 
1850 a 1950, porém, foi na década de 50 que houve um grande salto no que diz 
respeito à infância e no desenvolvimento das ciências humanas, bem como um grande 
interesse na compreensão dessa fase da vida humana chamada “infância”. Assim, as 
crianças pouco a pouco foram retiradas das fábricas e novamente inseridas em 
contextos que promovem a aprendizagem sistematizada, pois a escola é lugar ideal 
para estes atos e propósitos. 
Com a consolidação do protótipo de família em fins do século XIX, a 
responsabilidade dos genitores passou a assegurar mais 
responsabilidade com o bem estar da criança, garantindo os direitos 
que lhes assistem e maiores cuidado físicos. A noção de infância, 
agora, passa pelo crivo dos conceitos técnicos e científicos. Essa 
analise e respaldada e analisada a luz da Psicologia da Sociologia, da 
Medicina, dentre outros campos do saber, passando a emitir um 
parecer cientifico a respeito dessa fase da vida humana, adquirindo 
estas constatações uma maior respeitabilidade frente à sociedade. 
(CORDEIRO; COELHO, 2007) 
 
A sociedade contemporânea desenvolveu uma concepção de infância instituída 
tanto pelo Estado moderno quanto pelas teorias psicológicas do desenvolvimento, em 
que a criança é vista como um “ainda não’. Esta moratória infantil remete a criança 
para o lugar de objeto em um processo macrossocial encaminhado a uma futura 
sociedade ideal. Nos últimos anos, tem surgido uma preocupação com a participação 
da criança nos programas e intervenções psicossociais. Efetivar essa participação 
implica um outro modo de conceitualização da infância, em que a criança é 
potencializada como agente de instituição e transformação da sociedade em que está 
inserida (ANDRADE, 1998). 
Hoje, a criança é vista como um valor em si, amada, desejada, protegida, e é 
considerada no tempo presente, e não mais como uma promessa para o futuro 
(BELLONI, 2009), mas até conquistarem o status de titulares de direitos e obrigações 
próprios da condição de pessoa em peculiar condição de desenvolvimento que 
ostentam, deram-se muitas lutas e debates. (SARAIVA, 2009) 
O como a infância é entendida atualmente é mostrado no Referencial Curricular 
Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998), que vem afirmar que “a criança 
13 
 
como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização 
familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um 
determinado momento histórico”. 
 
1.2 DAS IDADES PARA O ORDENAMENTO JURÍDICO 
 
O século XX foi o cenário mais importante para a infância brasileira no que se 
refere à legislação, pois surgiram três leis essenciais que buscaram atender à 
realidade da infância brasileira: o Código de Menores de 1927, o Código de Menores 
de 1979 e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990. 
Josiane Petry Veronese fazendo um estudo dos conceitos de Áries, faz uma 
divisão das idades de um ser humano na Idade Média: 
A divisão das idades fica evidente na baixa Idade Média, período em 
que monges eruditos criam um conceito próprio. A primeira idade é a 
infância, oriunda da palavra francesa enfant (não falante), é a idade 
em que crescem os dentes, indo do nascimento até aproximadamente 
os sete anos de idade. A segunda é denominada de pueritia, não muito 
diferente da primeira, na maioria das vezes confundida com ela, vai 
dos sete até os quatorze anos. A terceira idade é a adolescência, cuja 
característica é o seu rápido crescimento, considerada uma idade de 
desenvolvimento e de procriação, compreende dos quatorze até os 
vinte e oito anos, podendo estender-se até os 30 ou 35 anos. A quarta 
é a juventude, “meio das idades”, fase em que a pessoa se encontra 
na plenitude de suas forças, rompendo de vez com a infância, essa 
idade dura até os quarenta e cinco ou cinquenta anos de idade. Depois 
se segue a senectude e, por último, a velhice, a qual dura até os 
setenta anos (ARIÈS apud VERONESE, 2013) 
 
O Código da República, Decreto nº. 847, de 11 de outubro de 1890, foi o primeiro 
da República e que além da idade adotava a Teoria da Ação com Discernimento, mas: 
(...) declarou a irresponsabilidade de pleno direito dos menores de 9 
anos; ordenou que os menores de 9 a 14 anos que agissem com 
discernimento fossem recolhidos a estabelecimento disciplinar 
industrial pelo tempo que o juiz determinasse, não podendo exceder à 
idade de 17 anos; tornou obrigatório e não apenas facultativo que se 
impusessem aos maiores de 14 anos e menores de 17 anos as penas 
de cumplicidade e manteve a atenuante da menoridade. (PEREIRA, 
1996) 
 
14 
 
Atualmente a legislação traduz o conceito de criança e adolescência 
cronologicamente, para o Estatuto da Criança e do Adolescente, instituído pela Lei no 
8.069/90, “criança e a pessoa que possui idade inferior a 12 anos completos e os 
adolescentes se enquadram na faixa etária entre 12 e 18 anos de idade”, ressaltando, 
no Parágrafo Único de seu art. 2º, que “nos casos expressos em lei, aplica-se 
excepcionalmente este Estatuto as pessoas entre 18 e 21 anos de idade.” (BRASIL, 
1990) 
Para Digiácomo (2017) o conceito de criança para o ECA é legal e estritamente 
objetivo, sendo certo que outras ciências, como a psicologia e a pedagogia, podem 
adotar parâmetros etários diversos. 
De acordo com a Convenção Internacional dos Direitos da Criança de 1989: 
“criança e todo ser humano menor de 18 anos”. 
Na área internacional, por exemplo, toda pessoa com idade inferior a 
18 (dezoito) anos é considerada criança, e esta é uma das diretrizes, 
ideologicamente, orientada pela centralidade da pessoa humana 
como núcleo irredutível de preocupação de toda norma jurídico-legal. 
(RAMIDOFF, 2009) 
 
Independentemente da idade cronológica utilizada para distingui-los, “tanto 
criança quanto adolescente são indivíduos com condições de receber cuidados 
pessoais.” (COSTA, 1993) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
2. DA VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS 
 
2.1 PODER FAMILIAR 
 
Poder familiar é a nova designação adotada pelo código civil de 2002, para se 
referir ao que era conhecido como pátrio poder, termo advindo do direito romano: pater 
protesta: poder absoluto e inquestionável auferido ao chefe da organização familiar 
de governar os filhos da maneira que ele quisesse. 
No sistema primitivo, o poder de gerir a entidade familiar era conferido 
exclusivamente ao “varão”, este tinha todo o domínio sobre a vida dos filhos e da 
esposa. Dentre os direitos, o pai tinha a permissão de vender, expor, matar ou trocar 
os filhos. Este tinha mais direitos dos que deveres. Já os filhos não poderiam 
expressar as suas vontades, pois eram vistos como bens do chefe de família. 
(VERONESE, 2005) 
Mesmo após a vigência do código civil de 1916 continuou a existir a integral 
autonomia dos pais (em especial do pai) sobre a vida dos filhos, assim com leciona 
Dias (2016): 
O Código Civil de 1916 assegurava o pátrio poder exclusivamente ao 
marido como cabeça do casal, chefe da sociedade conjugal. Na sua 
falta ou impedimento é que a chefia da sociedade conjugal passava à 
mulher, que assumia o exercício do pátrio poder dos filhos. Tão 
perversa era a discriminação que, vindo a viúva a casar novamente, 
perdia o pátrio poder com relação aos filhos, independentemente da 
idade dos mesmos. Só quando enviuvava novamente é que 
recuperava o pátrio poder (CC/1916 393). O Estatuto da Mulher 
Casada (L 4.121/62), ao alterar o Código Civil de 1916, assegurou o 
pátrio poder a ambos os pais, que era exercido pelo marido com a 
colaboração da mulher. No caso de divergênciaentre os genitores, 
prevalecia a vontade do pai, podendo a mãe socorrer-se da justiça. 
 
Sob a égide do Código Civil de 1916, a figura materna tinha apena o poder de 
colaboração na gerencia dos filhos, o “pátrio poder” ainda era exclusivo da figura 
paterna. A mulher só poderia exercer esse direito na falta ou impedimento do marido. 
Esse cenário de autoridade paterna exacerbada só começou a ganhar novos 
contornos a partir da Lei 4.121/1962 (Estatuto da Mulher Casada), que delegou a 
execução do pátrio poder ao pai e a mãe. Mas mesmo assim, de maneira velada, o 
16 
 
pai ainda detinha a superioridade nas decisões, pois em divergência com a mãe, 
predominava o desejo dele, restando a ela procurar apoio no judiciário. 
A grande alteração nessas relações ocorreu com a promulgação da Constituição 
Federal de 1988, que que em seu artigo 5º concedeu tratamento isonômico ao homem 
e à mulher. Ao assegurar-lhes iguais direitos e deveres referentes à sociedade 
conjugal (CF 226 § 5.º), outorgou a ambos o desempenho do poder familiar com 
relação aos filhos comuns. (DIAS, 2016) 
Para Trindade e Bahiano (2006) com a linha evolutiva de novos modelos de 
relacionamento, a Constituição Federal de 1988 veio ampliar o conceito de família, 
legitimando as diversas formas de uniões existentes no Brasil a noção de chefia 
familiar (pátrio poder) foi abolida e determinada a igualdade de direitos e deveres para 
homens e mulheres, abrindo as portas, pela primeira vez, à concepção da criança 
como sujeito particular de direitos a partir da doutrina da proteção integral. 
Em 1990 no contexto de evolução das relações familiares, a legislação nacional 
foi alterada com a publicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 
8.069/1990), “que acolheu o direito da criança e do adolescente de serem criados e 
educados no seio da família (art. 19) e estabeleceu os deveres dos pais em relação 
aos filhos menores” (TRINDADE e BAHIANO, 2006). Com relação ao pátrio poder, o 
artigo 21 do ECA dispõe que: 
O pátrio poder será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e 
pela mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurada a 
qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à 
autoridade judiciária competente para a solução da divergência. 
(BRASIL, 1990) 
 
Com o advento do ECA, a noção de domínio foi substituída por proteção, os pais 
adquiriram deveres em relação a educação e criação dos filhos, a maioria dos direitos 
que os pais tinham foram suprimidos, assim com a soberania paterna que ainda 
estava implícita, e caso descumprissem com essas obrigações, estariam violando 
preceitos constitucionais. 
Para Kumpel (2015), apesar das alterações normativas, contudo, não 
modificaram o nomen juris do instituto, o que ocorreu apenas com o advento do 
Código Civil de 2002. Ainda assim, já era reconhecida pela doutrina a necessidade 
de mudar o termo, sendo utilizado de forma conjunta às expressões "pátrio poder", 
17 
 
"poder parental", "pátrio dever", dentre outros.”. Essa alteração terminológica teve 
por objetivo acompanhar o disposto na Constituição Federal, no sentido de igualar 
homens e mulheres ao mesmo patamar, retirando a terminologia pátrio, por ser referir 
ao pai e incluindo “familiar”, para englobar ambos. 
Porém, apesar dessa mudança, o assunto ainda recebe muitas críticas, tendo 
em vista que a expressão “poder” permanece, assim como preconiza Rodrigues 
(2004) “pecou gravemente ao se preocupar mais em retirar da expressão a palavra 
"pátrio" do que incluir o seu real conteúdo, que, antes de um poder, representa 
obrigação dos pais, e não da família, como o nome sugere”. 
Poder familiar nas atuais legislações nada mais é do que a gama de direito e 
deveres inerentes aos pais (pai e mãe), quanto aos seus filhos. Dessa maneira 
Gonçalves (2012) doutrina que o poder familiar “é representado por um conjunto de 
regras que englobam direitos e deveres atribuídos aos pais, no tocante à pessoa e 
aos bens dos menores”. 
Na mesma linha Nader (2010) conceitua “Poder familiar é o instituto de ordem 
pública que atribui aos pais a função de criar, prover a educação de filhos menores 
não emancipados e administrar seus eventuais bens” 
Rosa (2015) esclarece que poder familiar é “um caminho de mão dupla, pois 
impõe deveres e reconhece direitos, não se podendo ignorar que ser exercício se 
concentra, exclusivamente, no interesse do filho.” 
 Diante dos conceitos absorve-se que poder familiar é pautado principalmente 
em deveres e funções dos pais com a melhor criação dos filhos que são crianças ou 
adolescentes. Deveres que são enumerados na Constituição Federal de 1988, no 
Estatuto da Criança e do Adolescente e no Código Civil de 2002. 
O art. 227, da C.F., dispõe que é dever da família, da sociedade e do 
Estado, assegurar à criança e ao adolescente, com prioridade 
máxima, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, 
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e 
à convivência familiar e comunitária, além de salvaguardá-los de toda 
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade 
e opressão. (VERONESE, 1994) 
 
Já o Código Civil menciona os seguintes deveres e direitos dos pais e filhos: 
 
18 
 
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua 
situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste 
em, quanto aos filhos: 
I - dirigir-lhes a criação e a educação; 
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 
1.584; 
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; 
IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao 
exterior; 
V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua 
residência permanente para outro Município; 
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o 
outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o 
poder familiar; 
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) 
anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos 
em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; 
VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; 
IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios 
de sua idade e condição. (BRASIL, 2002) 
 
Nota-se que a Constituição atribuiu responsabilidades apenas aos pais, sendo 
os filhos os únicos titulares dos direitos, já o Código conferiu direitos e deveres tanto 
para os pais quanto para os filhos. Apesar de terem redações diferentes, a finalidade 
das legislações vigentes é una, proteger os menores e zelar pelo princípio da Proteção 
Integral, seja ela física, mental, espiritual, moral ou social. 
Assim como ensina Dias (2016) a autoridade familiar faz parte do estado das 
pessoas e por isso não pode ser alienado nem renunciado, delegado ou 
substabelecido: 
O poder familiar é irrenunciável, intransferível, inalienável e 
imprescritível. Decorre tanto da paternidade natural como da filiação 
legal e da socioafetiva. As obrigações que dele fluem são 
personalíssimas. Como os pais não podem renunciar aos filhos, os 
encargos que derivam da paternidade também não podem ser 
transferidos ou alienados. Nula é a renúncia ao poder familiar, sendo 
possível somente delegar a terceiros o seu exercício, 
preferencialmente a um membro da família. É crime entregar filho a 
pessoa inidônea (CP 245). 
 
Além das características supramencionadas, outra peculiaridade desse instituto 
é que ele não é exclusivo para os pais biológicos, é aplicado também nas relações 
19 
 
advindas de adoção ou de socioafetividade. E qualquer ato que viole as suascaracterísticas são considerados nulos. 
O poder familiar poderá cessar pela extinção, suspensão ou perda. A extinção 
pode se dá por três vias: por fato natural (Art. 1.635, inc, I e III CC/02); por ato 
voluntário (Art. 1.635, inc, II e IV CC/02) e por sentença judicial (Art. 1.635, V CC/02); 
Conforme o Código Civil as hipóteses de exclusão são: 
Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar: 
I - pela morte dos pais ou do filho; 
II - pela emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único; 
III - pela maioridade; 
IV - pela adoção; 
V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638. (BRASIL, 2002) 
 
Já as hipóteses de suspensão não são claras e enumeradas pelo Código Civil, 
mas mesmo assim há previsão no artigo 1.637: 
Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos 
deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao 
juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a 
medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus 
haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha. 
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder 
familiar ao pai ou à mãe condenados por sentença irrecorrível, em 
virtude de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão. (BRASIL, 
2002) 
 
Diferentemente da exclusão, a suspensão é a alternativa menos gravosa de 
perda de poder, tanto que tem pode ser sujeita a revisão: 
A suspensão ou destituição do poder familiar constituem, assim, 
sanções aplicadas aos pais pela infração ao dever genérico de 
exercerem o poder parental de acordo com regras estabelecidas pelo 
legislador, e visam atender ao maior interesse do menor. A nosso ver, 
tais sanções têm menos um intuito punitivo aos pais do que o de 
preservar o interesse dos filhos, afastando-os da nociva influência 
daqueles. (RODRIGUES, 2004) 
 
Essa suspensão pode ocorrer em relação a um único filho, deixando os outros 
com os pais, ou em relação à toda prole. Ela pode ser parcial ou total. Na parcial o 
20 
 
pai ou a mãe é privado de alguns direitos, já na suspensão total o pai ou a mãe é 
privado de todos os direitos que decorrem do poder familiar. (LÔBO, 2009) 
Como caracteriza Dias (2016) perda do poder familiar “é uma sanção imposta 
por sentença judicial, enquanto a extinção ocorre pela morte, emancipação ou 
extinção do sujeito passivo. Assim, há impropriedade terminológica na lei que utiliza 
indistintamente as duas expressões. A perda do poder familiar é sanção de maior 
alcance e corresponde à infringência de um dever mais relevante, sendo medida 
imperativa, e não facultativa.” 
Dispõe o artigo 1638 do Código Civil: 
Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que 
I - castigar imoderadamente o filho; 
II - deixar o filho em abandono; 
III - Praticar atos contrários à moral e os bons costumes; 
IV - Incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo. (BRASIL, 
2002) 
 
A perda do poder familiar, visa a proteção das crianças e adolescentes que estão 
em situação de risco. As causas de destituição “decorre de faltas graves, que 
configuram inclusive ilícitos penais.” (GONÇALVES, 2012) 
 
2.2 DOS MAUS TRATOS E FORMAS DE VIOLÊNCIA 
 
Atualmente vivemos numa sociedade permeada por violência e maus tratos 
contra crianças, diariamente os meios de comunicações transmitem um bombardeio 
de casos violentos, mas esse fenômeno não é uma consequência do corpo social 
contemporâneo. (HAYECK, 2009) 
Veronese e Costa (2006) num exercício de conceituação, explicam que: 
A palavra violência vem do termo latino vis, que significa força. Assim, 
violência é abuso da força, usar de violência é agir sobre alguém ou 
fazê-lo agir contra sua vontade, empregando a força ou a intimidação. 
É forçar, obrigar. É também brutalidade: força brutal para submeter 
alguém. É sevícia e mau-trato, quando se trata de violência psíquica e 
moral. É cólera, fúria, irascibilidade, quando se trata de uma 
disposição natural à expressão brutal dos sentimentos. É furor, 
quando significa o caráter daquilo que produz efeitos brutais. Tem se 
21 
 
como seus contrários a calma, a doçura, a medida, a temperança e a 
paz 
 
A violência infantil brasileira surgiu junto com o descobrimento do Brasil, pois 
quando os colonizadores se instalaram na colônia, os nativos não aplicavam castigos 
físicos em suas crianças, mas com a chegada dos Jesuítas, que acreditavam que o 
melhor caminho para a educação era por meio da violência, foi implantado castigos 
físicos e psicológicos. (DOURADO; FERNANDEZ, 1989). 
Quando se fala em família é recorrente imaginar uma instituição tida como 
sagrada, protegida pela privacidade. Essa instituição é o primeiro referencial para o 
desenvolvimento da criança, é nela que a criança aprende a amar, a odiar, a competir, 
a lutar e a defender-se. Mas é também na família que as maiores violências contra a 
infância são praticadas: 
A violência doméstica é um fenômeno complexo em que suas causas 
são múltiplas e de difícil definição, suas consequências são 
devastadoras para as crianças e adolescentes, definidas como ações 
hostis: A violência doméstica contra crianças e adolescentes 
representam todo o ato ou omissão praticados por pais, parentes ou 
responsáveis contra crianças e adolescentes que, sendo capaz de 
causar dano sexual e psicológico á vitima; implica de um lado uma 
transgressão do poder/dever de proteção do adulto e de outro uma 
coisificação da infância, isto é uma negação do direito que as crianças 
e adolescentes tem de ser tratados como sujeitos e pessoas em 
condições peculiares de desenvolvimento. (GUERRA, 1998) 
 
Nessa mesma linha Amaro (2015) considera mau-trato ou abuso como todo tipo 
de: 
Negligência, tortura, pressão psicológica, coação, humilhação, punição cruel, 
privação de liberdade, trabalho infantil perigoso, ilegal ou insalubre, 
estimulação sexual, exploração sexual (prostituição infantil), realização ou 
tentativa de penetrações sexuais (oral, anal ou genital). 
 
A relação entre um adulto e uma criança amplamente desproporcional, trata-se 
de pessoas com diferentes circunstancias e diferentes poderes. Nesse contexto como 
bem afirma Souza (2002), “a violência contra crianças é sempre uma covardia. O 
maltrato, em qualquer forma, é sempre um abuso de poder do mais forte contra o mais 
fraco. Afinal, a criança é (sempre mais) frágil, em seu desenvolvimento, e totalmente 
dependente.” 
22 
 
Não há como definir ao certo a causa e ocorrência da violência dentro do grupo 
familiar, tendo em vista que pode ser influenciada não apenas pelas características 
de cada membro, como também a estrutura familiar. (Assembleia Geral das Nações 
Unidas, 2006) 
As consequências da violência intrafamiliar podem se manifestar de várias 
maneiras, influência o psicológico e o físico da criança: 
Algumas crianças ficam paralisadas, perplexas diante da violência 
sofrida. Outras reagem, emitindo sinais de sintomas: tristeza profunda, 
enurese noturna, roubo, pânico, conduta oposta a sua habitual (apatia 
ou agitação, medo ou agressividade), irritabilidade, instabilidade 
emocional, isolamento dos colegas e amigos, indisposição excessiva 
diante de atividades de sua preferência e regressão na escola 
(AMARO apud AMARO, 2014) 
 
Violência intrafamiliar infantil é tida por muitos, como agressão física,” sabe-se 
que os maus tratos á infância refere-se não só a violência física” (AMARO, 2014) 
podendo ser definida em quatro âmbitos diferentes: violência física, psicológica, 
sexual e negligência. Apesar da possibilidade de elenca-las, é impossível de ordená-
las em grau de gravidade, pois não existe violência mais e menos gravosa, 
independente da tipologia elas geram efeitos e sofrimentos em iguaisníveis de dor, 
para Pires e Miyazaki (2005) “definir diferentes tipos de violência ou maus-tratos é 
apenas uma forma didática de compreender o problema, que muitas vezes ocorre de 
forma dinâmica e simultânea”. 
Já Ruth Gauer (1999) aborda a violência, qualificando-a de outras formas: “a 
institucional, como uma característica do Estado; anômica, como delinquência; banal, 
como algo inerente à sociedade; interna, aquela que desagrega todo um sistema de 
sentidos e de valores no palco universal; a violência que decorre da fome, chaga social 
que macula a sociedade contemporânea”. 
 
 2.2.1 Violência Física 
O conceito de violência física foi sofrendo alterações ao longo do tempo, e se 
moldando ao contexto social de cada época. Mas sempre teve a conotação de impor 
autoridade e medo através da força, mesmo que as vezes disfarçada como proteção 
e meio de educação. 
23 
 
 
Corresponde ao uso de força física no relacionamento com a criança 
ou o adolescente por parte de seus pais ou por quem exerce 
autoridade no âmbito familiar. Esta relação de força baseia-se no 
poder disciplinador do adulto e na desigualdade adulto-criança. 
(BRASIL, 1993) 
 
Deste modo entende-se que qualquer tentativa ou consumação de impor dor e 
sofrimento físico na criança por meio de força, instrumentos ou tipo de armas que 
possam causar lesões internas e/ou externas é considerada violência física. 
O grau da violência física varia consideravelmente, de beliscões e tapas até 
agressões que conduzem à morte. As agressões mais frequentes incluem tapas, 
beliscões, chineladas, puxões de orelha, chutes, cintadas, murros, queimaduras com 
água quente, brasa de cigarro e ferro elétrico, intoxicação com psicofármacos, 
sufocação, mutilação e espancamentos. (BACKES DL, 1999) 
Segundo dados apresentados pela Unicef (2015), a violência física acontece 
com regularidade no ambiente familiar, embasada no discurso de correção e punição 
contra a criança. Assim, dentre os motivos mais recorrentes de violência física que 
ocorre com os menores, aponta-se: a crença dos pais de que a punição corporal dos 
filhos é um método educativo e uma forma de demonstrar amor, zelo e cuidado; os 
pais e responsáveis enxergam a criança como um objeto de sua propriedade e não 
como um sujeito de direitos; a baixa resistência ao stress do agressor que projeta seu 
cansaço e problemas pessoais nos filhos e demais dependentes como exemplos de 
problemas pessoais, o desemprego, dívidas, desentendimento conjugal, o uso 
indevido de drogas e o abuso de álcool, reproduzir nos filhos o mesmo quadro 
vitimizador da sua própria violência e frustrações, fanatismo religioso, problemas 
psicológicos, psiquiátricos etc. 
Toda agressão, por mais singular e esporádica que seja é injustificada e sempre 
deixa consequências prejudiciais, pois violência física afeta o ser total da criança. 
 
2.2.2 Violência Sexual Intrafamiliar 
24 
 
Talvez uma das formas mais brutais, a violência sexual é uma violação de 
direitos, uma rede que envolver poder/autoridade e sexo, gerando medo e pânico na 
criança. É qualquer tipo de ato abusivo a sexualidade do menor. 
Veronese (2012) explica: 
O conceito de violência sexual deve ser entendido de forma ampla, 
para que se possa abarcar o problema em todas as suas dimensões 
e em toda a sua realidade. O abuso sexual deve ser compreendido 
como um ato que circunscreve entre uma multiplicidade de condutas 
aparentemente “insignificantes”, que vão desde um simples manuseio 
até praticas sexuais, impostas e não consentidas, incluindo ou não a 
penetração coital, como, por exemplo, atos humilhantes como 
penetração de objetos, sadomasoquismo, etc. Dessa forma, o “abuso 
sexual” é o envolvimento de uma criança imatura em seu 
desenvolvimento em atividades sexuais que ela não compreende 
verdadeiramente, para as quais não está apta à dar seu 
consentimento informado, ou que violam os tabus sociais e familiares. 
 
Fica claro que a violência sexual não é uma prática única, nela podendo se inserir 
a violência física e a psicológica, fazendo com que exista dinâmica que gera uma sorte 
de “enfeitiçamento” que mantém a criança vitimizada como que “seqüestrada” e 
envolvida em uma armadilha da qual não pode e nem sabe como se livrar. 
(FURNISSS, PERRONE e NANNINI, apud FALEIROS e FALEIROS, 2008) 
Segundo Pfeiffer (2005) o agressor aproveita da confiança que tem com a 
criança ou adolescente para se aproximar e agir de forma que a vítima acha 
inicialmente que é demonstração de carinho e de interesse. O jovem se sente 
privilegiado pela atenção recebida. Com o aumento dos atos abusivos, que se tornam 
mais frequentes e violentos, a criança se sente insegura e em dúvida. Ao perceber 
que a criança está despertando para o significado do abuso, o agressor vira o jogo, 
colocando a culpa nela por ter aceitado seus carinhos. 
O abuso sexual incestuoso geralmente espelha uma dinâmica familiar 
desestabilizada e, veladamente ou não, envolve as outras pessoas da unidade 
familiar, de uma maneira ou outra, não apenas o abusador e a vítima. O abuso deve 
ser avaliado de forma mais ampla, olhando outros aspectos afetivos da família 
(COHEN, 1993) 
 
2.2.3 Violência Psicológica 
25 
 
A violência psicológica está presente em todos as outras formas de violência, 
por não deixar marcas físicas é mais difícil de ser identificada. 
Forma de violência muito mascarada em suas intenções, pois não 
deixa marcas físicas. Geralmente acompanha todos os outros tipos de 
violência, tendo em vista o fato de a vítima ser coisificada por outrem, 
quando os seus direitos são violados. Esta ocorre quando um adulto 
deprecia constantemente a criança ou o adolescente bloqueia seus 
esforços de auto-aceitação e causa-lhe grande sofrimento mental. 
Ameaças de abandono, condutas de rejeição, atitudes de 
depreciação, discriminação desrespeito, punição exageradas, 
submissão da criança ou do adolescente a situações vexatórias e que 
tolhem a liberdade de expressão, sobrecarregam a criança ou 
adolescente com responsabilidade que não são dele. (ROLIM apud 
ORGANIZAÇÃO TERRA DOS HOMENS, 2000) 
 
Trindade (2013), adotou o mesmo conceito de violência psicológica descrita na 
Lei Maria da Penha: 
a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe 
cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe 
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar 
ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, 
mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, 
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, 
chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir 
ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e 
à autodeterminação; 
 
Souza (2001) aponta que geralmente os pais e ou/responsáveis usam de 
artimanhas para depreciar a criança, através de castigos, de imposição, de medo 
como ("dorme, senão a bruxa te pega"), ameaças que não serão cumpridas, porém 
que vem a desproteger a criança. É importante que as pessoas que lidam com 
crianças ainda em tenra idade, passem para ela o sentimento de ser amada, pois este 
sentimento é a base para o desenvolvimento sadio. 
Não é raro que a vítima tenha uma imagem deteriorada de si mesma, 
com baixa estima ou depressão. Pode tornar-se também 
extremamente ansiosa ou negligente consigo, apresentando 
comportamentos de desatenção, alucinatórios e estranhos, vindo até 
a perder a pulsão de vida e a energia que caracterizam uma criança. 
Às vezes, a violência psicológica pode levar ao suicídio, quando as 
exigências ou o abandono se tornam insuportáveis. Como uma forma 
de crueldade mental, pode estar associada ou combinada com a 
violênciasexual e com a violência física. (FALEIROS; FALEIROS, 
2008) 
 
26 
 
Apesar de ser uma violência que não deixa marcas no corpo, deixa no 
psicológico, podendo ir de uma criança tímida a um suicida. 
 
2.2.4 Negligência 
Diferentemente de outra forma de violência, essa não ocorre por uma ação, esse 
tipo é decorrente de uma omissão. A violência por negligência relaciona-se ao 
abandono, ou seja, quando o outro, pelo descuido, pelo desamor, rompe o laço 
amoroso mostrando o desejo de destruição. 
Segundo Veronese (2006), define-se a negligência como sendo: 
A omissão dos responsáveis em garantir cuidados e satisfação das 
necessidades da criança e adolescente sejam elas primárias, 
secundárias, terciárias. Cada um dos níveis de necessidades não 
satisfeitos determina sérias consequências no desenvolvimento da 
criança e adolescente. Não é considerado negligência a omissão 
resultante de situações que fogem ao controle da família. 
 
Berlini (2014) aponta outro fator caracterizado como negligência é a rejeição, 
que pode começar até antes da criança nascer, mesmo que embora muitos casos 
decorram da falta de condições financeiras e problemas sociais, a negligência precoce 
decorre muito mais da rejeição que o pai ou a mãe sente com relação à criança ou 
adolescente, agindo dessa forma como maneira de vingar a existência indesejada 
daquele filho. 
A negligência é um tipo de indiferença (intencional ou não) pelas necessidades 
interiores e exteriores da criança. 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
3. CRONOLOGIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO REFERENTE A INFÂNCIA 
 
3.1 CRONOLOGIA DA LEI 
 
Soares (2005) alega que a tarefa de atribuir direitos à criança tem sido um longo 
e, muitas vezes, tortuoso caminho, quer devido à lenta consciencialização da 
sociedade acerca de tal necessidade, quer devido às dificuldades que se colocam à 
interpretação e aplicação de direitos para as crianças em contextos culturais diversos 
e em épocas históricas distintas. 
As marcas iniciais que dizem respeito ao sentimento infantil aconteceram no fim 
do século XVI e, especialmente no século XVII, todavia de uma maneira mais 
imperceptível e catastrófica. A criança era vista por muitos de famílias ricas como o 
centro das atenções e lhes sendo permitido tudo que quisesse fazer e quando pobres, 
passavam pelo completo desprezo. Após este contexto, no final do século XIX e início 
do XX foi que houve o surgimento de programas oficiais assistencialistas ao menor 
(ROBERTI JUNIOR, 2012). 
É a partir do século XVI que se iniciam as mudanças mais significativas, que 
viriam a alterar a posição e estatuto das crianças relativamente aos adultos. Atitudes 
associadas à sobrevivência, proteção e educação das crianças, que, gradualmente se 
foram fortalecendo durante os séculos XVII e XVIII, começaram a permitir delinear um 
espaço social especial destinado às crianças, no qual é já possível salvaguardar 
algumas das suas necessidades e direitos. (SOARES, 1997) 
A condição da criança, como prioridade absoluta e sujeito de direitos, é 
proclamada com a Declaração Universal dos Direitos da Criança em 1959, que no 
sétimo de seus princípios estabelece: 
A criança tem direito a receber educação escolar, a qual será gratuita 
e obrigatória, ao menos nas etapas elementares. Dar-se-á à criança 
uma educação que favoreça sua cultura geral e lhe permita – em 
condições de igualdade de oportunidades – desenvolver suas aptidões 
e sua individualidade, seu senso de responsabilidade social e moral. 
Chegando a ser um membro útil à sociedade. 
 
28 
 
Bastos (2012) informa que só alguns anos mais tarde, especificamente em 1989, 
e sob influência da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, da 
Declaração Universal dos Direitos da Criança de 1959, das Regras de Beijing, das 
Diretrizes de Riad, dos Princípios Sociais e Jurídicos Aplicáveis à Proteção e Bem-
Estar das Crianças, com Especial Referência à Adoção e Colocação Familiar nos 
Planos Nacional e Internacional e da Declaração sobre Proteção de Mulheres e 
Crianças em Situação de Emergência ou de Conflito Armado, a Organização das 
Nações Unidas aprovou a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da 
Criança (ONU, 1989), consagrando direitos relativos à infância que até então não 
eram considerados, e compreendendo as crianças e adolescentes como pessoas em 
processo de desenvolvimento. 
O Brasil ratificou a Convenção logo em 1989, momento em que o país tratava de 
remover o entulho autoritário de anos de ditadura militar, acolhendo-a com grande 
entusiasmo. O cumprimento integral das disposições da Convenção exigiria uma ação 
integrada e integradora por parte do Estado e da sociedade civil, tanto no âmbito das 
políticas sociais universais, como no dos programas dirigidos aos grupos vulneráveis; 
tanto no campo de uma ação codificadora destinada à adequação das leis nacionais 
aos preceitos da Convenção, quanto no de uma ação concreta de políticas sociais. 
(MARCÍLIO, 1998) 
Consoante Quadros citando Shecaira, a Convenção é o tratado de direitos 
humanos que teve a mais rápida e ampla aceitação da história e que, por seu caráter 
de norma internacional, obrigou os Estados a observarem suas disposições e 
assegurarem a sua aplicação a toda criança sujeita a sua jurisdição, promovendo as 
ações necessárias para garantir sua proteção e adaptarem sua legislação. 
(SHECAIRA, apud QUADROS, 2008) 
Ademais, por ser pautada no conceito do interesse superior da 
criança, engloba todo o elenco dos direitos humanos e reconhece à 
criança direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais, o que 
faz com que a criança abandone seu papel anterior passivo e passe a 
assumir um papel ativo, transformando-se num verdadeiro sujeito de 
direitos. (SHECAIRA, apud QUADROS, 2008) 
 
Em 2010 a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, lançou 
um livro (Direitos humanos de crianças e adolescentes: 20 anos do Estatuto) 
comemorativo aos 20 anos de existência do Estatuto da Criança e do Adolescente, no 
29 
 
qual foi traçada uma linha do tempo com os principais documentos e marcos 
internacionais e nacionais que regulam a proteção e promoção desses direitos infanto-
juvenis. 
No entendimento Shecaira (2008) e Sposato (2006) as legislações brasileiras 
sobre a temática da infância e da juventude podem ser divididas em três fases: a 
primeira, de caráter penal indiferenciado, a segunda, de caráter tutelar e, finalmente a 
terceira, garantista (ou protetiva), que está expressa no Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
 
3.2 ECA E O NOVO PARADIGMA DA PROTEÇÃO INTEGRAL 
 
Para acompanhar todo o contexto protetivo e garantista dos direitos da criança 
na nova ordem constitucional, imperativo se fez a revisão da legislação 
infraconstitucional, a qual deveria encontrar-se adequada aos princípios da dignidade 
da pessoa humana, da prioridade absoluta à infância e do interesse maior da criança. 
Desse modo, em 13 de julho de 1990, foi promulgado o Estatuto da Criança e do 
Adolescente (Lei nº 8.069), que elevou as crianças e os adolescentes à condição de 
sujeitos de direitos. A partir de então, “a violação dos direitos fundamentais das 
crianças e adolescentes acarreta na negação da própria dignidade da pessoa 
humana” (AZAMBUJA, 2011, p.49). 
O Estatuto da Criança e do Adolescente reconheceu como criança todo ser de 
até 12 anos. Estabeleceu direitos as crianças e adolescentes e determinou dever de 
cuidado não apenas por parte dos familiares, mas do Estado e de toda sociedade, 
mais do que nunca evidenciou a importância da infância e do desenvolvimento da 
criança e do jovem e do resguardo que todos devemos ter para protegê-los.Seribeli (2008) analisa que o Estatuto gerou mudanças relevantes na gestão 
política no que concerne ao atendimento da infância e do adolescente. Seus 
dispositivos foram formulados para coibir a prática de violência em suas diferentes e 
insifilizatórias variações, por meio da prevenção, da fiscalização e até mesmo para 
situações de extrema gravidade – o afastamento das crianças do ambiente 
30 
 
ameaçador. É nesse sentido que agem os Conselhos Tutelares – órgão criado pelo 
Estatuto da Criança e do Adolescente. 
Apesar de ainda ter muito a acrescentar nessa seara, o caráter garantista do 
Estatuto da Criança e do Adolescente, é de opinião da maioria, assim como preconiza 
a própria UNICEF (2015) “o então novo marco legal traduziu os princípios da 
Convenção sobre os Direitos da Criança, de 1989, e serviu de referência para a 
América Latina por sua coerência com os direitos humanos, com o respeito ao 
desenvolvimento de crianças e adolescentes e pelo compromisso em tratar a infância 
com prioridade absoluta.” 
O Estatuto da Criança e do Adolescente ainda prevê que, caso haja suspeição 
ou ainda que seja confirmado maus-tratos, faz-se obrigatória a denúncia ao Conselho 
Tutelar a respeito da localização, sem detrimento de distintas providências judiciais. 
Em caso de não haver Conselho Tutelar, a denúncia poderá ser realizada à 
Promotoria de Justiça de Defesa da Infância e da Juventude e à Vara da Infância e da 
Juventude. (CORDEIRO, 2006) 
O ECA tem a composição de três garantias assim com a dispõe Saraiva (2003), 
sendo elas: 
a) O Sistema Primário, que dá conta das Políticas Públicas de 
Atendimento a crianças e adolescentes (especialmente os arts. 4º e 
85/87); 
b) O Sistema Secundário, que trata das medidas de proteção 
dirigidas a crianças e adolescentes em situação de risco pessoal ou 
social, não autores de atos infracionais, de natureza preventiva, ou 
seja, crianças e adolescentes enquanto vítimas, enquanto violados em 
seus direitos fundamentais (especialmente arts. 98 e 101); 
c) O Sistema Terciário, que trata das medidas socioeducativas, 
aplicáveis a adolescentes em conflito com a Lei, autores de atos 
infracionais, ou seja, quando passam à condição de vitimizadores 
(especialmente os arts. 103 e 112). 
 
Deste modo, o Estatuto da Criança e do Adolescente foi criado embasado na 
doutrina da proteção integral, elencada no art. 1º do ECA, em que afirma: “esta Lei 
dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente”. Isto é, baseando-se no 
princípio do melhor interesse da criança, o Estado brasileiro tem o dever de garantir 
as necessidades da pessoa em desenvolvimento, velando por seu direito à vida, 
saúde, educação, convivência, lazer, liberdade, profissionalização entre outros: 
31 
 
A proteção integral se baseia, fundamentalmente, no princípio do 
melhor interesse da criança, critério consagrado no direito comparado 
e revelado nas expressões the best interest of the child do direito norte-
americano e no kindswohl do direito germânico. Trata-se da chamada 
regra de ouro do Direito do Menor, atual Direito da Criança e do 
Adolescente, acolhida na jurisprudência de diferentes países. Pode-se 
proclamar que os interesses da criança e do adolescente, 
considerados como sujeitos de direitos, são superiores porque a 
família, a sociedade e o Estado, todos estão compelidos a protegê-los, 
tendo em conta a sua peculiar condição de pessoa em formação e 
desenvolvimento. (COSTA, 2004) 
 
O ECA para Amaro (2014), garante as crianças e adolescentes o 
reconhecimento dos direitos e garantias sociais, mediante os quais passam a ser 
atendidos e respeitados, não mais como clientes, menores ou objetos de tutela, mas 
como sujeitos, credores de direito. 
 
3.3 ASPECTOS CONSTITUCIONALISTAS 
 
A Constituição brasileira foi responsável pela redemocratização do Brasil e 
apresentou muitos avanços – em termos políticos e na perspectiva de direitos – na 
vida social do país; conseguiu consagrar novas formas de democracia direta, com 
atuação/ participação popular; garantiu autonomia aos municípios; e reconheceu 
novos sujeitos de direitos. (LIMA e VERONESE, 2012) 
Somente com a Constituição de 1988, a Doutrina da Proteção Integral 
consagrou-se no ordenamento jurídico brasileiro e contempla uma nova forma de 
proteção compartilhada entre a família, o Estado e a sociedade, o que elucida o artigo 
227 da nossa Carta Magna, nos seguintes termos: 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à 
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito 
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à 
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à 
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda 
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade 
e opressão. (BRASIL, 1988) 
 
Ao analisar o referido artigo, percebe-se que é dever de todos – família, 
sociedade e Estado – assegurar à criança e ao adolescente – o direito à vida, à saúde, 
32 
 
à educação, à alimentação, dentre outros, além de ser obrigação de todos – família, 
sociedade e Estado – de colocá-las a salvo de toda forma de discriminação e 
exploração especificamente. Assim, as crianças não podem ser exploradas, devendo 
ser protegidas de toda forma de discriminação e maus-tratos: 
A Constituição de 1988 posicionou a crianças e o adolescente à 
condição de titulares autônomos de interesses juridicamente 
tuteláveis, assegurando-lhes, com absoluta prioridade em atenção à 
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, direitos 
fundamentais, como vida, saúde, educação, dentre outros. 
(CABRERA, 2006) 
 
Acerca dessa nova teoria jurídico-protetiva transdisciplinar, Ramidoff (2007) 
afirma que é extremamente necessário que haja um reordenamento estratégico no 
campo das políticas públicas capazes de incluir as crianças, os adolescentes e suas 
famílias no alcance da real satisfação dos seus direitos fundamentais. 
Em síntese, no que tange à infância e a juventude, a igualdade será atingida por 
meio do tratamento diferenciado, reconhecendo-se a peculiar condição de pessoa em 
desenvolvimento ao se aplicar a regra de se “tratar desigualmente os desiguais, na 
medida de sua desigualdade” que permite compensar as desigualdades; ou seja, às 
crianças e adolescentes não se pode aplicar as medidas cabíveis aos adultos. 
(SHECAIRA, 2008) 
 
3.4 LEI DA MENINO BERNARDO 
 
A Lei n. 13.010/14 que recebeu a alcunha de “Lei da Palmada”, mas foi 
sancionada com o nome de Lei Menino Bernardo, alterou a Lei n. 8.069, de 13 de 
julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), para estabelecer o direito da 
criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos 
ou de tratamento cruel ou degradante, e altera a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 
1996 (Lei de Diretrizes e Base da Educação). 
 
 
33 
 
Ao analisar a lei em comento, percebe-se que o seu teor não distingue muito do 
que já era adotado pelo Estatuto da Criança e do adolescente, a nova legislação tem 
apenas o caráter complementar, visando trazer maior conscientização aos cidadãos - 
Estado, pais e sociedade - acerca da necessidade urgente de guardar e respeitar as 
crianças e adolescentes. A lei da palmada aprofunda mais a concepção de violência 
doméstica contra criança, ao tipificar o castigo físico – considerado moderado e aceito 
pela sociedade, também como violação dos direitos da infância. 
A deputada Teresa Surita, relatora do projeto da Lei da Palmada, em entrevista 
à Revista Crescer, esclarece a necessidade de sua criação: 
Essa é uma lei educativa. O nosso objetivo maior é a mudança dos 
valores da sociedadeporque o Brasil tem a cultura do bater. Na 
década de 50, as crianças e adolescentes apanharam muito. Existia a 
palmatória na escola, o castigo de ajoelhar no milho, que, felizmente, 
foram se transformando. Hoje, a família não admite que ninguém bata. 
A babá não pode bater nem a escola, mas os pais querem ter esse 
direito porque acham que a surra ou a palmada vão educar, mas já 
está comprovado de que bater não educa. Não existe palmada 
pedagógica. Quando você agride uma criança, está causando medo, 
não reflexão, muito menos educação. Se você for em qualquer pronto-
socorro ou em delegacias, vai se deparar com casos de violência em 
crianças. Em casos como esses, os pais agressores serão 
encaminhados para assistência psicológica e psiquiátrica. [...] Essa 
preocupação cabe ao Estado porque têm crianças que morrem por 
maus-tratos e agressão. Mas tudo começa com a palmada. A maioria 
dos Conselhos Tutelares não dá continuidade para casos de violência. 
Nós estamos trabalhando na reeducação da sociedade, na mudança 
de cultura. 
 
Estima-se uma mudança cultural através de denúncias de violência contra o 
infante, contando com testemunhos de terceiros, como vizinhos, parentes, 
funcionários, assistentes sociais que certifiquem o castigo corporal e que tenham 
intenção de denunciar o responsável ao Conselho Tutelar. Ressalta-se que as 
punições de casos de violência mais grave já estão abarcados no Código Penal e no 
próprio ECA, haja vista, que o propósito da lei em comento é a elaboração de 
campanhas educativas destinadas a conscientizar o público sobre a ilicitude do uso 
da violência contra criança e adolescente, ainda que sob a alegação de propósitos 
pedagógicos. (QUADROS, 2015) 
 
34 
 
4.0 QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS REFERENTES A CRIANÇAS 
VITIMADAS 
 
4.1 DEPOIMENTO SEM DANO 
 
O chamado Depoimento Especial, também conhecido como Depoimento Sem 
Dano (DSD) é um projeto do Rio Grande do Sul, que posteriormente foi transformado 
em projeto de lei (PL 7.524/2006), pela deputada Maria do Rosário, PT/RS e no dia 
04 de abril de 2017 (lei nº 13.431) foi sancionado pelo presidente Michel Temer. 
O sistema de escuta judicial, chamado “Depoimento Sem Dano”, trabalha com a 
Polícia, o Ministério Público, a Defensoria Pública, o Poder Judiciário e com um serviço 
técnico especializado, que faz a ouvida da criança/adolescente em um espaço próprio, 
protegido e especialmente projetado para o delicado momento do depoimento infanto-
juvenil. O trabalho dessas pessoas é esclarecer se fatos investigados pela justiça 
ocorreram ou não, no que eles se constituem, se são ou não reprováveis ao olhar da 
lei, bem como quem os praticou. O DSD é comprometido em dar efetividade ao direito 
que toda criança/adolescente tem de esclarecer ao sistema de justiça, com suas 
próprias palavras, fatos que lhe dizem respeito - Convenção Internacional dos Direitos 
da Criança, art. 12 -, valorizando este momento, tornando adequada e positiva a 
intervenção judicial. (JUNIOR E CEZAR, 2009) 
Um dos grandes defensores desse método de depoimento é Trindade (2011), 
que acredita que apesar do sistema ter leis de proteção à criança as executam de 
maneira que a revitimize: 
A doutrina da proteção integral é plenamente incompatível com 
instrumentos jurídicos que visem a revitimização da criança e do 
adolescente. Ainda que não se tenham dados rigorosamente confiável 
a respeito, não é raro que uma criança, pretensamente vítima de 
abuso, seja ouvida diversas vezes sobre o mesmo fato: pelo Conselho 
Tutelar, pelo serviço de orientação da Escola, pela Delegacia de 
Polícia, pelo Ministério Público, pelas avaliações psicológicas e 
periciais e, finalmente, em juízo. 
A multiplicidade dessas oitivas, sem dúvida nenhuma fragiliza a prova, 
revitimizando a criança e favorecendo a absolvição pelas contradições 
existentes entre os múltiplos depoimentos. O programa do 
Depoimento com Redução de Dano, ainda que passível de muitas 
35 
 
críticas, tem sido uma das alternativas apresentadas para diminuir o 
sofrimento da vítima. 
 
A fim de diminuir o número de oitivas e incorrer em fragilização da prova e 
revitimização da criança, o depoimento, desse modo, é dividido de forma dinâmica em 
três etapas que consistem exatamente no acolhimento inicial, no depoimento ou 
inquirição e no acolhimento final e encaminhamentos. (FURNISS, 1993) 
Por conta da impossibilidade de desprezo dos princípios norteadores do 
processo penal, considera-se que o projeto Depoimento Sem Dano “não introduz um 
novo procedimento na justiça brasileira, já que apenas modifica a forma de conduzir 
a inquirição de crianças”. Acerca do procedimento Leite (2008), demonstra que: 
Iniciada a audiência, o depoimento transcorre de acordo com a 
normativa processual, ou seja, primeiramente o Juiz faz as perguntas 
e, em seguida, as partes formulam as perguntas, as quais, uma vez 
deferidas pelo Juiz, são por este formuladas ao depoente. Neste caso, 
o juiz o faz indiretamente, já que dirige as perguntas ao profissional 
que está com um ponto de escuta e este, por sua vez, repassa à 
vítima, adequando-a ao vocabulário desta, o que [...] se torna possível 
pela capacitação técnica. 
 
No mesmo seguimento, Jorge Trindade (2009), apresenta a dinâmica do 
Depoimento Especial: 
Para os profissionais do direito que têm a missão de julgar, pode ficar 
a dúvida se os sinais percebidos – as provas – são mesmo indicadores 
suficientes do abuso. A questão, de fato, é muito complexa e, como já 
referido, envolve segredos e violações. Na produção da prova, que 
dificilmente é material, torna-se claro que o recurso ao uso da 
avaliação psicológica é fundamental, pois ela viabiliza um 
conhecimento mais abrangente da violência e suas repercussões na 
criança. Os psicólogos têm um conhecimento específico que 
possibilita encaminhar de forma adequada os procedimentos que 
envolvem a criança vítima de abuso. Eles também podem contribuir 
para o exame da credibilidade do depoimento, evitando que a criança 
tenha que ser ouvida muitas vezes e em diferentes esferas (delegacia 
policial, conselho tutelar, Ministério Público e Juízo). Ademais, é útil, 
nesses casos, avaliar o abusador e estimar a sua capacidade de 
reincidir ou de se recuperar. 
 
A inovação trazida à tona pela lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017 é a 
operacionalização da coleta do depoimento, visto que passaria a ser realizado por 
técnicos com formações diferenciadas, não diretamente pelo Juiz ou demais 
36 
 
operadores do direito. Em prosseguimento, (LUMATTI, 2012) afirma que o 
Depoimento Sem Dano emerge com a função de minimizar os efeitos traumáticos da 
“exposição e repetição demasiada da criança e adolescente aos trâmites judiciais 
necessários à condenação do agressor”. 
 
4.2 PROJETO AMPARE 
 
O Ampare é uma instituição de abrigamento infantil, não governamental mantido 
exclusivamente por meio de doações, que acolhe, cuida e educa crianças e 
adolescentes com idades de 0 a 18 anos. Teve sua origem no ano de 2011, no 
Município de Santa Cruz Cabrália – Bahia, quando o pastor Otto Saffran foi procurado 
pelo Poder Judiciário do Município de Porto Seguro - Bahia, mais precisamente a Vara 
da infância e da Juventude, para suprir uma demanda de acolhimento de várias 
crianças e adolescentes que se encontravam em um abrigo irregular que fora fechado 
devido a ocorrência de um incêndio, nas dependências do mesmo. 
A finalidade da instituição é prestar serviços de acolhimento provisório, no 
modelo “abrigo institucional”, para crianças e adolescentes de ambos os sexos, de 0 
a 18 anos, afastados do convívio familiar por meio de medida protetiva de abrigo (ECA 
Art. 101). De acordo, com o Pastor Edgar, responsável pela Unidade de PortoSeguro, 
os objetivos do Ampare são: 
• Prestar serviços de acolhimento a crianças e adolescentes de 0 
a 18 anos, em situação de abandono ou cujas famílias ou 
responsáveis encontrem-se temporariamente impossibilitados de 
cumprir as suas funções de cuidado e proteção até que sejam 
viabilizados retorno à família de origem prioritariamente ou, na 
impossibilidade, à família substituta; 
• Assegurar as crianças e adolescentes os seus direitos 
estabelecidos nos art. 90 a 94 da Lei 8.069/90 – Estatuto da Criança 
e Adolescente; 
• Promover e estimular o desenvolvimento do pleno exercício da 
cidadania, bem como resgate socioeconômico dos segurados 
excluídos da sociedade. 
 
Atualmente, em 2017, o projeto conta com duas unidades de atendimento 
localizadas uma no Município de Porto Seguro e a outra em Santa Cruz Cabrália, com 
estrutura para atender até vinte crianças e adolescentes cada. Atualmente são 
37 
 
atendidas 3 crianças e 9 adolescentes em Porto Seguro e 7 crianças e 8 adolescentes 
em Santa Cruz Cabrália. 
O acompanhamento das crianças e adolescentes é iniciado logo no ato de 
recebimento da criança/adolescente, onde é observada a demanda com relação à 
alimentação, existência traços de violência sofrida, e verificada também a condição 
de saúde da mesma, em seguida é gerado um Plano Individual de Atendimento onde 
constarão todos os dados fornecidos pela porta de entrada do mesmo (Conselho 
Tutela ou Vara da Infância), em seguida é feita a matrícula escolar na rede pública da 
localidade, colocada todas as vacinas em dia, atendimento feito pelo PSF (Posto de 
Saúde da Família) local, e em casos necessários atendimento feito pelo CAP’s IA do 
Município. 
Durante os anos de funcionamento a instituição já recebeu tanto, casos de 
crianças que foram entregues pelos familiares para adoção, quanto casos de vítimas 
da violência intrafamiliar que teve intervenção estatal para resguardar os seus direitos, 
de acordo com o responsável pelo Ampare de Porto Seguro normalmente as crianças 
que são entregues voluntariamente já foram maltratadas. Além desses, existem 
também casos de falecimento dos genitores, porém em menor número. 
O tempo de abrigamento está relacionado à possibilidade ou não de reintegração 
à família de origem ou família extensa ou ainda família substituta (adoção), sendo o 
tempo de acordo com resolução judicial, existem casos no Ampare que a criança 
completou a maioridade e continuou no abrigo como voluntário. 
Quase todos os acolhidos sofreram a total quebra de direitos através de todos 
os tipos de violência, apesar de receber crianças que sofreram diversas formas de 
maus-tratos, os casos de violência sexual existem em menor escala. No passado teve 
o caso de duas irmãs, uma de oito anos e outra de nove, que eram vendidas como 
prostitutas para que os pais pudessem satisfazer seus vícios, hoje estas meninas já 
se encontram adotadas e vivem em uma família feliz e bem estruturada, esqueceram 
seu passado e vivem uma vida normal. Também, existem os casos de algumas 
crianças que chegaram desenganadas pela medicina, se recuperaram e estão em 
lares adotivos e vivem bem. Um dos casos mais chocantes que o Ampare já 
presenciou foi de uma criança de apenas seis meses chegou com uma costela 
quebrada, órgãos internos machucados, desnutrição em último grau, o médico que o 
38 
 
atendeu lhe deu apenas cinco dias de vida, hoje ele tem três anos. Em suma, todos 
os casos de atendimento da instituição têm um histórico de violência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A presente pesquisa analisou a fenomenologia da violência doméstica contra 
criança, tendo como foco principal o estudo da legislação, em especial a brasileira, no 
que tange a prevenção e redução a pratica da violência infantil por meio da Proteção 
Integral à criança vítima de todos os tipos de violência demonstrando que é 
perfeitamente possível preservar os direitos e garantias fundamentais asseguradas a 
criança. 
 
É notável que a legislação no ordenamento jurídico brasileiro em prol da proteção 
da criança, já teve significativos avanços. A noção de criança objeto foi perdendo 
lugar, no decorrer dos últimos séculos, para a concepção de criança, sujeito de direitos 
e que tem todas as suas garantias resguardadas nos diplomas legais. 
Salienta-se que a mudança principal no que diz respeito ao assunto, ocorreu com 
o advento da constituição Federal de 1988, que foi de grande relevância no 
ordenamento jurídico, que anteriormente, tinha como enfoque o abandono e 
isolamento das crianças, não havia garantia aos direitos fundamentais. Essa alteração 
de concepção ao olhar para a infância, veio com a Constituição cidadã e 
posteriormente o Estatuto da Criança e do adolescente, que também adotou a 
Proteção Integral, que melhor garante a efetivação dos direitos das crianças e 
adolescentes. 
A pesquisa também demonstrou que tanto em âmbito nacional quanto regional, 
estão sempre surgindo mecanismos coibidores de violência, que buscam proteger as 
crianças em situações de maus-tratos e amparar e resguardar aquelas que sofreram 
algum tipo de violência. 
Para que esse fenômeno da violência seja removido, é necessário que todos os 
setores da sociedade, mobilizem-se, com um objetivo, que supere o individualizado. 
Toda a sociedade deve está comprometida em promover e empreender uma mudança 
cultural em médio e longo prazo. Os princípios de uma educação saudável e não 
violenta devem ser cada vez mais incentivados e disseminados. 
 
40 
 
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