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PREPARO CAVITÁRIO PARA RESTAURAÇÕES ESTÉTICAS INDIRETAS Marco Antônio Masioli Marcelo Massaroni Peçanha Bianca M. Vimercati Milko Villarroel 8 o INTRODUÇÃO As restaurações indiretas têm sido uma possibilidade de tratamento do elemento dental, sobretudo quando existe uma grande perda de estrutura. Desde sua intro- dução, a técnica de preparo para esse tipo de restauração sofreu modificações, com o intuito de se adequar aos no- vos materiais, sempre levando em consideração a preser- vação do dente e a longevidade do conjunto dente-restau- ração. O preparo para restaurações indiretas deve fornecer espessura ideal para que o material restaurador desempe- nhe bem o seu papel tanto no quesito estético como fun- cional. Assim, o preparo dental deve ter características que se ajustem a cada caso. A estética tem se tornado essencial na sociedade mo- derna, fazendo desse quesito, antes delegado a um segun- do plano, um dos fundamentos que regem o tratamento odontológico atualmente. Com isso, novos materiais têm sido desenvolvidos visando a melhorias nas propriedades ópticas e mecânicas desses tipos de restaurações.1,2 A busca por materiais que devolvessem estética e na- turalidade fez com que os metais perdessem espaço para materiais que permitem a mimetização da estrutura den- tal. Por esse motivo, os metais têm sido utilizados basica- mente como infraestrutura para restaurações metaloce- râmicas. Os materiais resinosos e, principalmente, os cerâmicos têm sido considerados os materiais de escolha para restaurações indiretas.1,3,4 A escolha do material e o adequado preparo dental são fatores decisivos para o sucesso das restaurações in- diretas. O desgaste excessivo do elemento dental inter- fere diretamente sobre a retenção da restauração e na saúde pulpar. Contudo, o desgaste insuficiente poderá gerar sobrecontornos, problemas estéticos e periodon- tais.5 Diversos princípios devem ser levados em conside- ração para se proporcionar um adequado comporta- mento biomecânico dessas restaurações diante das forças mastigatórias e para que danos excessivos não sejam gerados às estruturas remanescentes. Os princí- pios biológicos visam a conduzir os preparos de forma a trazer o menor prejuízo possível ao órgão dental e ao tecido periodontal. Os princípios mecânicos garantem a retenção e a estabilidade da restauração mediante os es- forços mastigatórios sem que ela frature ou deforme. Além disso, considerações estéticas devem ser realiza- das quando necessário. 6,7 Capitulo_08.indd 149 16/09/2013 10:16:58 150 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar PRINCÍPIOS BIOLÓGICOS E MECÂNICOS Princípios biológicos O princípio de todo tratamento restaurador deve es- tar relacionado à preservação do dente e de estruturas adjacentes, embora os desgastes dentais com finalidade protética apresentem potencial de dano às estruturas en- volvidas. Em vista disso, é necessário atentar-se para a conservação da estrutura dental, a preservação da saúde pulpar e a conservação e manutenção da saúde dos teci- dos adjacentes.6,7 Conservação da estrutura dental A preservação da estrutura dental deve ser um dos pi- lares de todo tratamento restaurador. Durante o preparo dos dentes com finalidade protética, é importante que seja realizado o menor desgaste possível, porém, quando se trata de restaurações indiretas, determinado desgaste é requerido e, muitas vezes, faz-se necessário sacrificar a estrutura dental sadia, já que os materiais restauradores indiretos exigem espessuras adequadas.8 O desgaste insu- ficiente pode gerar sobrecontornos, além de diminuir a capacidade do material de resistir aos esforços mastigató- rios, levando ao fracasso prematuro do tratamento e, consequentemente, a prejuízos das estruturas dentais envolvidas. O excesso de desgaste pode gerar prejuízos à retenção da restauração, danos à polpa e perda de resis- tência do remanescente dental. Preservação da saúde pulpar Durante o preparo do dente, é evidente que, quanto menos estrutura for removida, melhor será o prognóstico para a saúde da polpa. O contato da broca com a superfí- cie do dente gera calor, que pode ocasionar danos reversí- veis ou irreversíveis à polpa. Para evitar danos pulpares pelo excesso de calor, é necessária a refrigeração abun- dante durante todo o procedimento de desgaste. Além disso, o uso de brocas novas contribui para diminuir os danos causados ao órgão pulpar pelo preparo dental, pois, com o tempo, esses instrumentos passam a apresen- tar perda da superfície diamantada ou suas lâminas fi- cam danificadas, levando a sua ineficácia.6 Devemos observar ainda que, quanto maior a exten- são do preparo, maior será o desgaste do dente. Assim, é fácil reconhecer que preparos parciais tendem a ser mais conservadores do que os totais, os quais devem ser em- pregados sempre que houver possibilidade. Conservação e manutenção da saúde dos tecidos adjacentes Durante o preparo dental, deve-se ter em mente a pre- servação e a saúde dos tecidos adjacentes ao dente que está sendo preparado. Esse cuidado visa a evitar danos causados pelo contato da broca com os dentes adjacentes, os tecidos de suporte e a gengiva marginal, bem como pela localização e pela adaptação inadequadas das mar- gens da restauração.9 O preparo deve acompanhar o contorno gengival nas faces vestibular, lingual ou palatina e proximal, evitando, assim, desgastes excessivos nessas regiões, e não se esten- der mais do que 0,5 mm para o interior do sulco gengival, respeitando o limite do espaço biológico. As margens dos preparos dentais para restaurações indiretas podem estar localizadas acima (supragengival), abaixo (subgengival) ou no nível gengival. Como critérios de seleção do tipo de margem a ser utilizada em um pre- paro, deve-se considerar a integridade dos tecidos circun- dantes, a capacidade de confecção de uma margem contí- nua e lisa, a utilização de materiais compatíveis com o tecido gengival e a demanda estética do paciente.10 Do ponto de vista periodontal, as margens supragen- givais seriam as mais favoráveis, pois possibilitam me- lhor controle da higienização e do biofilme, facilitam os procedimentos de moldagem e possuem menor potencial de irritação aos tecidos adjacentes.9 Porém, para preen- cher os quesitos mecânicos e estéticos, as margens comu- mente são levadas subgengivalmente. Além disso, as pa- redes axiais e cervicais devem sempre se apresentar lisas e regulares de maneira que permitam uma adequada moldagem e adaptação da restauração, mantendo, assim, uma integridade marginal adequada. Princípios mecânicos Os princípios mecânicos são aqueles que dizem res- peito à estabilidade da prótese após a cimentação, sem deformações e/ou fraturas. Para tal, alguns requisitos de- vem ser observados com o intuito de garantir o sucesso do tratamento restaurador. Retenção e estabilidade A retenção e a estabilidade são características que vi- sam a contribuir para a manutenção da prótese sobre o preparo após a cimentação, garantindo resistência ao des- locamento quando submetida a esforços. Podemos consi- derar a resistência da peça como retenção ao deslocamento no sentido axial, ao longo do eixo do preparo, e a estabili- dade da resistência da peça ao deslocamento lateral ou oblíquo. Um preparo com retenção ideal é aquele que per- mite adequada inserção da prótese no estágio pré-cimenta- ção e no ato da cimentação e que, ao mesmo tempo, impe- de deslocamentos durante a função mastigatória.11 Dessa forma, os preparos devem apresentar ligeira ex- pulsividade, o suficiente para promover um eixo de inser- ção da peça e adequado escoamento do cimento. O exces- so de expulsividade prejudica a retenção da restauração.12 Entre as características que influenciam diretamente a retenção, pode-sedestacar a altura e a forma do preparo, assim como as técnicas de cimentação. Capitulo_08.indd 150 16/09/2013 10:16:58 Preparo Cavitário para Restaurações Estéticas Indiretas o 151 o Figura 8.1 Paredes axiais com menor con- vergência. o Figura 8.2 Paredes axiais com maior conver- gência. o Figura 8.3 Sulcos de orientação. Altura e forma do preparo A adequada retenção e estabilidade do preparo devem impedir movimentos rotacionais que podem culminar com o fracasso das restaurações indiretas.13 Quanto maiores a altura do dente e o paralelismo entre as paredes do preparo, maior será a retenção. Por isso, dentes curtos possuem menores valores de retenção, o que requer que as paredes do preparo sejam mais paralelas. Em vista dis- so, podemos considerar difícil estabelecer uma inclina- ção ideal, podendo o ângulo de convergência oclusal en- tre as paredes variar entre 6° e 10°, pois este dependerá das condições específicas de cada preparo. O ângulo de convergência para dentes com coroas curtas deve variar de 2° a 6° (Figura 8.1), enquanto, em coroas regulares e longas, pode dispor de uma região cervical que apresenta essa inclinação (chamada de primeira inclinação) e de uma segunda inclinação, próxima ao terço incisal (ou oclusal), que apresenta uma inclinação maior, podendo chegar a 10° (Figura 8.2). Essa segunda inclinação, em co- roas longas, é importante para diminuir a pressão hidros- tática que será exercida sobre o cimento no momento da cimentação, a qual pode dificultar o ato da cimentação ou, até mesmo, levar a uma cimentação sem o completo assentamento da prótese ao dente.12 Em situações em que as condições ideais de retenção e estabilidade não podem ser naturalmente obtidas, a con- fecção de canaletas e sulcos de orientação, feitos nas faces vestibular e lingual ou distal e mesial do preparo, na mes- ma direção que a trajetória de inserção da prótese, é um recurso que favorece a retenção, pois os sulcos reduzem a quantidade de trajetórias potenciais de deslocamento. Embora os sulcos de orientação melhorem a retenção e a estabilidade da peça, é importante lembrar que, quan- to mais irregular o preparo, mais difícil o ajuste da res- tauração. Em dentes naturais, a presença de sulcos de orientação contraria o princípio de preservação da estru- tura dental (Figura 8.3). Além disso, o aumento da área de superfície do preparo pode se dar estendendo a mar- gem do preparo subgengivalmente. Pelo exposto, deve-se considerar que dentes com co- roas clínicas muito curtas podem necessitar de retenções adicionais para promover adequada estabilidade das res- taurações, como canaletas ou sulcos em suas faces. Con- tudo, dentes com coroas clínicas muito longas podem apresentar preparos com maior expulsividade das pare- des axiais no sentido cérvico-oclusal. Esses procedimen- tos possibilitam a promoção de resistência apropriada à remoção, bem como estabilidade durante o movimento de rotação da peça. Ao mesmo tempo, permitem adequa- do escoamento do cimento sobre o preparo.14 Características da cimentação O agente cimentante é essencial na fixação de uma restauração indireta, além das características de retenção e estabilidade mencionadas anteriormente. A retenção ficcional do conjunto preparo/cimento/restauração é de suma importância e alguns fatores próprios do mecanis- mo de cimentação interferem na capacidade retentiva da restauração, como a aspereza da superfície e a espessura da película cimentante.15 A aspereza da superfície está relacionada ao acaba- mento adequado do preparo e, embora uma superfície extremamente rugosa nos pareça vantajosa, ela impediria uma moldagem adequada durante as etapas de confecção da restauração. Outra característica essencial na rugosi- dade superficial é que, quanto mais lisas as superfícies opostas se apresentassem, maior seria o contato entre Capitulo_08.indd 151 16/09/2013 10:17:00 152 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar elas. Isso nos faz entender que um adequado acabamento é de extrema importância para o sucesso do tratamento. Além disso, a película de cimento formada entre a restau- ração e o dente deve ter a menor espessura possível. Pelí- culas maiores tendem a ser mais frágeis por apresentarem mais falhas internas e por ficarem mais expostas no meio oral, o que favorece sua dissolução e a recidiva de cárie.14 CONSIDERAÇÕES SOBRE PREPARO CAVITÁRIO PARA RESTAURAÇÕES ESTÉTICAS INDIRETAS As necessidades funcional e estética definem o mate- rial restaurador, o qual, por sua vez, orienta a forma do preparo, a quantidade de desgaste, a forma do término cervical e o tipo de cimentação. Assim, a escolha do ma- terial restaurador tem papel fundamental na arquitetura do preparo. Várias são as classificações que tentam englobar to- dos os tipos de materiais restauradores estéticos utiliza- dos na técnica indireta. Aqui, elas se restringirão às ce- râmicas pobres em sílicas, às ricas em sílica e às resinas indiretas. Cerâmicas pobres em sílica As cerâmicas pobres em sílica apresentam alta resis- tência mecânica, mas propriedades ópticas limitadas, sendo indicadas, geralmente, para a confecção de infraes- truturas que serão recobertas por cerâmicas com melho- res propriedades ópticas. Em virtude da redução ou au- sência de uma matriz vítrea (sílica), outra característica marcante desse tipo de cerâmica é sua falta de adesão aos cimentos resinosos convencionais. As cerâmicas aqui classificadas são reforçadas por alumina ou zircônia e possibilitam a confecção de próte- ses unitárias (coroas) e próteses parciais fixas (pontes fi- xas) sem o uso de metal.16-18 Como exemplo desse sistema, podemos citar: Procera® (Nobel Biocare); In-Ceram® (VITA); e Lava™ (3M ESPE). Cerâmicas ricas em sílica As cerâmicas ricas em sílica apresentam baixa ou re- gular resistência mecânica e boas propriedades ópticas, além de possibilitar adesão aos cimentos resinosos, por meio de condicionamento ácido. Esse condicionamento proporciona a dissolução parcial da matriz vítrea, crian- do microrretenções que aumentam a capacidade de re- tenção micromecânica pelo cimento resinoso. Além dis- so, essa possibilidade de união química oferecida pela presença da sílica permite que sejam alcançados altos valores de resistência mecânica após cimentação adesiva à estrutura dental. Podem ser indicadas para restaurações unitárias (in- lay, onlay, facetas e coroas) de maneira geral. As cerâmi- cas aqui classificadas são as feldspáticas convencionais e as feldspáticas reforçadas com leucita e dissilicato de lí- tio.19-21 Como exemplo desses sistemas, podemos citar, Empress 1, 2 e E-max (Ivoclar-Vivadent). Características peculiares Os princípios mecânicos e biológicos relacionados an- teriormente devem ser levados em consideração indepen- dentemente do tipo de material restaurador utilizado, sendo que os preparos para restaurações estéticas indire- tas têm características peculiares, as quais serão aqui abordadas.3,22,23 É importante ressaltar que o preparo dental deve levar em conta as características do trabalho finalizado (enceramento diagnóstico), e não o posiciona- mento dental pré-tratamento, conferindo, assim, espes- sura adequada ao material restaurador. Restaurações com espessura uniforme Os preparos para restaurações estéticas indiretas de- vem proporcionar espessuras uniformes ao material restaurador. Áreas muito finas deixam o material res- taurador muito frágil e áreas muito espessas podem se contrair demasiadamente, principalmente nas restaura- ções cerâmicas, acarretando trincas e fraturas no mate- rial. De modo geral, indicam-se espessuras uniformes entre 1,5 e 2 mm, embora essa espessura possa variar de acordo com cada caso. Como exemplo, podemos citar os laminados cerâmicos e as resinaspara os dentes ante- riores que, mesmo com espessuras bem menores do que as citadas anteriormente, conseguem exercer sua função após a cimentação. Expulsividade das paredes do preparo Quanto mais paralelas as paredes do preparo, maio- res serão o atrito gerado e a dificuldade de assentamento das restaurações nas etapas de prova e cimentação. Por essas características, somadas à maior possibilidade de fratura dos materiais cerâmicos quando comparados aos metais, os preparos para restaurações estéticas indi- retas tendem a ser ligeiramente mais expulsivos. Quan- do se trata de restaurações passíveis de cimentação ade- siva, como acontece com as cerâmicas ricas em sílica e com as resinas indiretas, esses preparos tendem a ser ainda mais expulsivos.23-25 Paredes planas e ângulos arredondados Os materiais cerâmicos e resinosos necessitam de pre- paros com conformação que propiciem neutralização das forças mastigatórias. Para tal, as paredes devem ser as mais regulares e planas possíveis e todos os ângulos inter- nos, arredondados. Esses cuidados permitem uma distri- buição uniforme das forças sobre a restauração, reduzin- do a indução de trincas e o risco de fratura. Capitulo_08.indd 152 16/09/2013 10:17:00 Preparo Cavitário para Restaurações Estéticas Indiretas o 153 Términos cervicais O tipo de término ou margem cervical pode implicar maior ou menor desgaste da estrutura dental. A localiza- ção da margem do preparo depende das necessidades de retenção, estética e também do tipo de material do qual será confeccionada a restauração. Em vista disso, quanto maior for a extensão em dire- ção apical de um preparo, maiores serão a sua retenção e resistência e, algumas vezes, melhor será o desempenho estético da restauração. As margens da restauração devem sempre estar loca- lizadas fora do ponto de contato e apresentar espessura adequada para permitir a aplicação do material, a fim de evitar sobrecontornos e promover resistência adequada ao material restaurador na região. As restaurações indiretas em resina composta e, prin- cipalmente, em cerâmicas necessitam dessa determinada uniformidade de espessura do material para que possam resistir à manipulação antes da cimentação, bem como aos esforços mastigatórios após a cimentação. As margens externas dessas restaurações devem apre- sentar ângulo cavo-superficial em 90°, fornecendo resis- tência ao material restaurador sem reduzir a resistência do elemento dental preparado, evitando, assim, ângulos agudos, pois esses permitem que o material restaurador permaneça em pequena espessura e apresente-se frágil. Além disso, internamente, esse material deve se apresen- tar uniforme a arredondado. Nesse contexto, os términos em chanfro profundo e ombro arredondado são os mais indicados para esse tipo de restauração.26,27 O chanfro profundo representa o desenho de 1/4 de circunferência de grande diâmetro, enquanto o ombro arredondado é caracterizado pelo arredondamento inter- no do ângulo de 90° estabelecido entre as paredes axiais e cervical do preparo (Figuras 8.4 e 8.5). Após o estabelecimento da arquitetura do preparo e da escolha do término, definem-se o diâmetro e a forma das pontas diamantadas utilizadas. A escolha adequada das pontas facilita todo o trabalho de preparo dental, já que formas e diâmetros inadequados podem gerar difi- culdades e até impossibilitar a confecção de um preparo adequado. Tipos de preparos para as restaurações indiretas As restaurações indiretas podem ser classificadas em parciais e totais. As parciais são chamadas de inlay, onlay e facetas, de acordo com as faces envolvidas dos elemen- tos dentais. Nas restaurações do tipo inlay, ocorre o envolvimen- to das faces oclusal e proximais, porém não o de cúspi- des. Quando há o envolvimento de cúspides, chamamos esse tipo de restauração de onlay – indicada em situa- ções em que há o comprometimento dessas faces no re- manescente. As restaurações do tipo faceta são assim chamadas quando há o envolvimento das faces vestibulares, incisais e/ou proximais, normalmente confeccionadas para den- tes anteriores. Elas estão indicadas quando há mínima perda de estrutura dentária envolvendo parte do rema- nescente, ou mesmo para pequenas alterações de forma e de cor. Entre os materiais estéticos utilizados para con- fecção desses tipos de restaurações, destacamos as cerâ- micas ricas em sílica e as resinas compostas indiretas. As restaurações totais são caracterizadas pelo envol- vimento de todas as faces do elemento dental. Essas res- taurações estão indicadas quando há extensa perda de estrutura dentária envolvendo total ou parcialmente o remanescente e quando há necessidade de modificação de dentes com grandes alterações de forma e de cor. Entre os materiais estéticos utilizados para confecção desses ti- pos de restaurações, destacamos as cerâmicas ricas e po- bres em sílica. A seguir, será descrito um protocolo de confecção para cada tipo de preparo (Figuras 8.6 a 8.8). o Figura 8.4 Término em chanfro. o Figura 8.5 Término em ombro. Capitulo_08.indd 153 16/09/2013 10:17:01 154 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar Protocolo de preparo para restaurações estéticas indiretas Inlay em cerâmica pura o Figura 8.6 A e B Elemento dental hígido. C Realização de desgaste acompanhando a orientação do sulco principal, com profundidade e extensão mínima de 1,5 mm com broca troncocônica (2131). D Com a mesma broca utilizada para a confecção da caixa oclusal, faz-se a extensão de cerca de 1,0 mm para cervical na região proximal. E e F Acabamento do preparo com as mesmas brocas diamantadas de granulação fina ou multilaminadas em baixa rotação (2131F). G Aspecto final do preparo. A B D F G E C Capitulo_08.indd 154 16/09/2013 10:17:08 Preparo Cavitário para Restaurações Estéticas Indiretas o 155 Onlay em cerâmica pura o Figura 8.7 A e B Elemento dental hígido. C e D Confecção de sulcos de orientação na superfície oclusal acompanhando a inclinação da anatomia oclusal, com cerca de 1,5 mm de profundidade (2143). E Sulcos oclusais confeccionados. F e G União dos sulcos de orientação na superfície oclusal mantendo a profundidade preestabelecida (2143). H Aspecto do elemento dental após o desgaste oclusal. I Confecção da caixa oclusal (2131). J Aspecto da caixa oclusal. K e L Desgaste de aproximadamente 1,5 mm do terço oclusal na superfície vestibular e lingual (2131). M e N Aspecto do preparo antes do acabamento. O, P, Q, R e S Acabamento do preparo com brocas diaman- tadas de granulação fina ou multilaminadas em baixa rotação. T e U Aspecto final do preparo. A B D H L P T F J N R G K O S E I M Q C U Capitulo_08.indd 155 16/09/2013 10:17:24 156 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar o Figura 8.8 A e B Elemento dental hígido. C Confecção de sulco de orientação cervical do preparo em vestibular e lingual (palatina) (1014) 1 a 2 mm supra- gengival, seguindo a curvatura da região cervical. Nas faces vestibular e lingual (palatina), a profundidade se aproxima de 1,0 mm. D Aspecto após a confecção de sulco de orientação cervical. E, F, G e H Confecção de sulcos de orientação nas superfícies axiais (2143) com aproximadamente 1,5 mm de profundidade, na face vestibular, mantendo-se duas inclinações: com menor inclinação no terço médio-cervical; e com maior inclinação terço médio-oclusal e aspecto do sulco de orientação confeccionado na face vestibular. I e J Confecção de sulcos de orientação nas superfícies axiais (2143) com aproximadamente 1,5 mm de profundidade, na face palatina, mantendo-se duas inclinações: com menor inclinação no terço Coroa total em cerâmica pura A B D HF J M P G K N E I L OC Capitulo_08.indd 156 16/09/2013 10:17:37 Preparo Cavitário para Restaurações Estéticas Indiretas o 157 médio-cervical; e com maior inclinação terço médio-oclusal. K e L Confecção do sulco de orientação da superfície oclusal com profundidade de aproximadamente 1,5 mm de profundidade com a ponta diamantada (2143), acompanhando o formato da anatomia oclusal. M Confecção do desgaste proximal (slice) (3203). N, O, P, Q, R e S União dos sulcos de orientação de uma das metades do preparo mantendo-se a profundidade e a orientação preestabelecidas (2143). T Metade do preparo confeccionado. U Aspecto do preparo após a união de todos os sulcos. V, W, X, Y, Z e A’ Acabamento do preparo utilizando pontas diamantadas de granulação fina ou multilaminadas compatíveis com a forma do preparo em baixa rotação. Nessa fase, caso necessário, dá-se o preparo intrassulcular. B’ e C’ Aspecto final do preparo. V Z R T XU Y Q A’ W C’ S B’ Capitulo_08.indd 157 16/09/2013 10:17:46 158 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar o CASO CLÍNICO DE FACETA INDIRETA EM CERÂMICA o Figura 8.9 A, B, C, D, E, F e G Caso clínico inicial. Observam-se restaurações extensas deficientes. H Confecção de sulcos de orientação na face vestibular. I Inserção do fio retrator para facilitar o posicionamento do preparo intrassucular sem danos aos tecidos moles. J Aspecto dos elementos dentais após a inserção do fio retrator, a confecção das canaletas vestibulares e a remoção da restauração deficiente. K, L e M Acabamento do prepa- ro utilizando-se discos de lixa em baixa rotação. N Acabamento do preparo por meio de instrumento manual. O Aspecto final dos preparos. P, Q, R e S Procedimento de cimentação adesiva. T e U Aspecto final após cimentação. A B D H F J M G K N E I L C R T P U Q O S Capitulo_08.indd 158 16/09/2013 10:17:57 Preparo Cavitário para Restaurações Estéticas Indiretas o 159 o CONSIDERAÇÕES FINAIS As restaurações indiretas devem ser consideradas op- ção de escolha no tratamento de dentes com grandes per- das de estrutura. Entretanto, diversos cuidados precisam ser observados para que não ocorra dano excessivo ao re- manescente dental e às estruturas adjacentes, e também para que se proporcione desgaste suficiente para acomoda- ção do material restaurador de forma que o máximo de suas propriedades ópticas e mecânicas possa ser alcançado. As resinas compostas e as cerâmicas puras ou associadas com metal têm sido os materiais mais utilizados para con- fecção desse tipo de restauração, proporcionando resultados adequados tanto do ponto de vista funcional como estético. As possibilidades de utilização desses materiais são diversas e, com isso, faz-se necessário o conhecimento das características específicas de cada um, quanto à sua composição e ao seu processo de cimentação, o que in- fluenciará diretamente em suas propriedades mecânicas diante de cada situação clínica. A execução das restaurações indiretas está relaciona- da a um adequado planejamento, que deve envolver a es- colha do material e do preparo biomecânico do elemento dental, além do acompanhamento das etapas laborato- riais e da cimentação, desde as restaurações indiretas mais conservadoras, como as facetas laminadas minima- mente invasivas, até as mais extensas. Por fim, para o sucesso clínico e a longevidade das res- taurações indiretas, é necessário que o cirurgião-dentista cause o mínimo de dano ao remanescente dental e aos te- cidos subjacentes, compreenda e domine as propriedades físico-químicas dos materiais, a fim de relacioná-las com as indicações e limitações de uso desse material, respeitan- do as exigências estéticas e as diversas características e as- pirações do paciente, sem comprometer a estabilidade e a longevidade desse tipo de restauração. o REFERÊNCIAS 1. Magne P. Composite resins and bonded porcelain: the postamalgam era? J Calif Dent Assoc. 2006;34(2):135-47. 2. 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Capitulo_08.indd 159 16/09/2013 10:17:57 ALTERNATIVAS CLÍNICAS PARA MINIMIZAR A DEGRADAÇÃO DA INTERFACE DE UNIÃO À DENTINA Alessandra Reis Issis V. Luque Martinez Viviane Hass Alessandro D. Loguercio 9 o INTRODUÇÃO Os sistemas adesivos contemporâneos interagem com o substrato dentário por meio de estratégias de união di- ferentes: (1) abordagem convencional, que requer a prévia remoção da smear layer; e (2) abordagem autocondicio- nante, em que a smear layer é mantida como parte do substrato de união. Essas duas estratégias adesivas po- dem, ainda, ser classificadas de acordo com o número de passos (por exemplo, de 1 a 3) necessários para conseguir a união das resinas compostas aos substratos dentários.1 Os sistemas adesivos convencionais requerem uma etapa de condicionamento ácido prévio separada. Assim, um ácido inorgânico (geralmente ácido fosfórico 30 a 40%) é aplicado no substrato dental e, em seguida, lavado. Essa etapa é seguida pelo tratamento com um primer, em que monômeros resinosos hidrofílicos (por exemplo, HEMA) são aplicados no substrato dental para torná-lo propenso a receber uma mistura de monômeros resino- sos relativamente mais hidrofóbicos, a fim de completar o procedimento de adesão. Essa sequência de eventos exemplifica a aplicação de um procedimento de três pas- sos. Os adesivos convencionais simplificados combinam o primer e o adesivo em um único passo de aplicação. Por sua vez, os sistemas adesivos autocondicionantes não requerem a etapa prévia de condicionamento separa- da. Esse tipo de abordagem utiliza monômeros ácidos não laváveis que simultaneamente condicionam e se in- filtram na dentina. O procedimento de união com os ade- sivos autocondicionantes pode ser realizado a partir de duas possibilidades: o primer/condicionador pode estar separado do adesivo ou combinado com ele para permitir um passo de aplicação única. Ainda há a possibilidade de o sistema adesivo empregar dois frascos de primer (no caso dos adesivos autocondicionantes de dois passos) ou de adesivo (autocondicionantes de um passo) que devem ser misturados antes da aplicação (Figura 9.1). As primeiras gerações de adesivos dentais eram relati- vamente hidrofóbicas, o que requeria substratos secos para se obter a união. A maioria dos referidos adesivos era utili- zada sobre a smear layer que cobria a dentina, mas as suas formulações não continham monômeros funcionais áci- dos, de modo que não podiam penetrar a smear layer para infiltrar a dentina mineralizada subjacente. Como conse- quência, os valores de resistência de união produzidos eram muito baixos.2 Modificações nas formulações dos sistemas adesivos, por meio da inclusão de monômeros mais hidrofílicos e monômeros resinosos ácidos, com o Capitulo_09.indd 161 16/09/2013 10:15:50 162 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar uso de solventes, tornaram as soluções adesivas mais com- patíveis com a superfície dentinária úmida, que, por sua vez, produziram melhorias significativas e imediatas na eficácia adesiva dos sistemas adesivos mais atuais.3 Embora a incorporação de monômeros resinosos áci- dos e hidrofílicos tenha melhorado substancialmente a adesão inicial dos adesivos convencionais e autocondicio- nantes contemporâneos com o substrato dentinário in- trinsicamente úmido, cada vez mais têm sido citados po- tenciais problemas associados com essa formulação hidrofílica. Vários estudos laboratoriais e ex in vivo têm reportado uma significativa queda nos valores de resis- tência de união após investigações de curto e longo pra- zos4-13 (Figura 9.2). Perdas dramáticas da efetividade de alguns sistemas adesivos, em termos de perda de retenção e aumento de casos de descoloração marginal, foram também registradas quando avaliadas clinicamente em lesões cervicais não cariosas.14,15 Essa problemática mudou o foco das investigações a respeito da avaliação dos mecanismos de envelhecimento envolvidos na degradação das interfaces de união,16,17 bem como de algumas abordagens clínicas possíveis para prevenir ou mesmo minimizar a degradação das interfa- ces de união produzidas com adesivos simplificados. As- sim, o objetivo deste capítulo é discutir sobre alguns dos fatores que integram o processo de degradação da cama- da híbrida e as alternativas clínicas apresentadas na lite- ratura para melhorar a resistência das interfaces adesivas diante do processo de degradação. Algumas considera- ções em relação às modificações na composição dos siste- mas adesivos serão também abordadas neste trabalho. FATORES ENVOLVIDOS NO ENVELHECIMENTO DAS INTERFACES DE UNIÃO À DENTINA A camada híbrida é formada pela mistura da matriz orgânica dentinária, por cristais residuais de hidroxiapa- tita, monômeros resinosos e solventes.3 A partir disso, parece bastante natural hipotetizar que a estabilidade da interface adesiva depende da impregnação resinosa ade- quada e da conversão dos monômeros resinosos dentro do substrato dentinário mineralizado/desmineralizado a fim de fornecer uma adequada retenção e selamento den- tinário. Além disso, é evidente que a estabilidade da ca- mada híbrida depende fundamentalmente da resistência o Figura 9.2 Resistência de união resina-dentina de um adesivo convencional de dois passos à base de etanol. Faz-se referência à aplicação em denti- na seca (0 µl de água), úmida (2,5 µl de água) e muito úmida, ou seja, molhada (4 µl de água) nos períodos de avaliação imediato e de dois anos. Foram observadas diferenças significativas nos períodos imediato e de dois anos quando o adesivo foi aplicado sobre a super- fície dentinária úmida. Fonte: Adaptada de Reis e colaboradores.18 o Figura 9.1 Fotomicrografias eletrônicas de varredura que mostram a diferença na espessura da camada híbrida produzida por um A adesivo autocondicionante e um B adesivo convencional. Fonte: Imagens gentilmente cedidas pelo Prof. Jorge Perdigão da Universidade de Minnessota, Estados Unidos. 0 10 20 30 40 Dentina seca Re si st ên ci a ad es iv a (M Pa ) Dentina úmida Dentina molhada Grau de umidade Imediato 24 meses A B Capitulo_09.indd 162 16/09/2013 10:15:51 Alternativas Clínicas para Minimizar a Degradação da Interface de União à Dentina o 163 intrínseca dos seus componentes individuais contra os fenômenos de degradação.1,16,19 Um dos primeiros trabalhos sobre a durabilidade a longo prazo da interface adesiva in vivo, publicado em 1999,13 demonstrou que materiais resinosos foram extraí- dos a partir da interface resina/dentina ao longo do tem- po e que a camada híbrida tornou-se mais porosa. Mais tarde, Hashimoto e colaboradores10 avaliaram restaura- ções de resina composta colocadas em dentes decíduos após exfoliação (ex in vivo) por meio de microscopia ele- trônica de varredura. Os autores observaram também que grande parte da camada híbrida havia desaparecido ao longo dos três anos de uso clínico. Eles atribuíram isso à perda de material resinoso e à degradação de fibrilas de colágeno dentro da camada híbrida. Posteriormente, vá- rios estudos laboratoriais relataram diminuição da resis- tência da união à dentina quando espécimes para micro- tração foram armazenados em água destilada ou saliva artificial por períodos de 3 meses a 10 anos,4-10,12 o que confirmou os resultados previamente observados por Sano e colaboradores13 e Hashimoto e colaboradores10 (Figura 9.3). O mecanismo exato responsável pela degradação da camada híbrida à interface de união ainda não foi com- pletamente compreendido.16,20,21 No entanto, acredita-se que a primeira fase da biodegradação envolve a extração daresina infiltrada na matriz dentinária por meio de es- paços de tamanho nanométricos cheios de água dentro da camada híbrida e pelo ataque enzimático das fibrilas colágenas expostas, levando à sua depleção.19,22 Degradação da parte resinosa Uma revisão recente da literatura demonstrou que os monômeros dentários mais populares são polímeros he- teroátomos, cujas bases estruturais contêm carbono e oxigênio ou nitrogênio.23 Além disso, eles apresentam grupos hidroliticamente sensíveis, como éster, uretano, hidroxila, grupos carboxílicos e fosfatos.24 Pesquisas la- boratoriais prévias detectaram que muitas das formula- ções adesivas comerciais simplificadas são altamente propensas à sorção de água.25-28 A extensão e a taxa de sorção de água dependem da densidade da cadeia poli- mérica, da quantidade de ligações hidrogênicas e das in- terações polares, em outras palavras, da hidrofilicidade do adesivo.27,29,30 Outrossim, a retenção de solventes e/ou água antes da polimerização compromete a integridade da interface de união. Yiu e colaboradores31 elaboraram formulações ex- perimentais de adesivos por meio da mistura de comonô- meros puros de diferentes hidrofilicidades com quanti- dades fixas de solvente e água. A porcentagem de solvente retido em misturas de adesivos à base de acetona e à base de etanol ampliou significativamente com o aumento da hidrofilicidade dos adesivos (variando de 4,9 para 13,2%).31 Essa situação piorou quando a água (simulada na técnica de adesão úmida ou a inerente umidade denti- nária) foi adicionada a essas formulações, o que resultou em um aumento maior na retenção de água/solvente nes- sas misturas adesivas solvatadas (de 26,4 a 41,6%), mesmo utilizando tempos de evaporação de 3 a 12 vezes mais elevados (30 a 120 s) do que aqueles normalmente reco- mendados pelos fabricantes dos sistemas adesivos.31 Retidos no interior do adesivo, o solvente orgânico e a água podem comprometer seriamente a integridade es- trutural da camada híbrida. O aumento da concentração de acetona em adesivos de passo único ocasionou a dimi- nuição na resistência de união por microtração, com ma- nifestações morfológicas de fendas e lacunas interfaciais nas interfaces de união.32 A presença de água remanes- cente antes da polimerização pode também interferir na polimerização do sistema resinoso, deixando monôme- ros residuais não reagidos, que são mais suscetíveis à lixi- viação nessas regiões particulares. Outro aspecto de- monstrado foi de que, adicionando 0,2 mL ou mais de água por mL de comonômeros, diminui-se a conversão do adesivo de 53,5 para 25%.33 Embora protocolos que apontem para a evaporação do solvente possam ser recomendados pela maioria dos fabricantes dos sistemas adesivos comerciais, sabe-se que a eliminação completa do solvente é crítica, senão impos- sível, especialmente a partir de misturas altamente hidró- filas, como as usadas clinicamente.31,34,35 Além disso, os solventes residuais voláteis diluídos no adesivo podem o Figura 9.3 Microfotografias de MEV (microscópio eletrônico de varredura) da in- terface de união de um sistema adesivo auntocondicionante no perío- do imediato, A e após 6 meses, B, e de um sistema adesivo conven- cional no período imediato, C e após 6 meses, D. Observa-se como a infiltração do nitrato de prata na camada híbrida (caixas) aumenta ao longo do tempo (B e D) e se estende dentro da camada adesiva (setas). Fonte: Cedida pelos autores. A B C D Capitulo_09.indd 163 16/09/2013 10:15:51 164 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar evitar a aproximação entre monômeros reativos penden- tes, dificultando a reação de ligação cruzada dentro da camada híbrida.36-38 Assim, em vez de alcançar a densida- de macromolecular ideal de empacotamento, a espinha dorsal do polímero pode ter seu espaço livre aumentado em um nível diretamente relacionado à quantidade de solvente orgânico presente durante a polimerização. Consequentemente, isso afeta a resistência máxima à tra- ção do adesivo em si,36 e, como resultado, a resistência de união à dentina.39-41 Sabe-se que a camada adesiva formada por adesivos simplificados convencionais e autocondicionantes é alta- mente permeável, provavelmente em virtude das concen- trações relativamente mais elevadas de monômeros hi- drofílicos e solventes.42 Como adesivos parcialmente polimerizados são mais permeáveis ao movimento dos fluidos,30 eles podem acelerar a absorção de água e com- prometer a integridade ao longo do tempo da união ade- sivo-resina. A fácil passagem de água no interior das camadas adesiva e híbrida enfraquece o polímero pela dilatação da rede e reduz as forças de fricção entre as cadeias polimé- ricas.24,43 Após o processo de relaxamento, monômeros que não reagiram e estão fragilmente presos na rede poli- mérica são liberados para o ambiente, criando novos ca- nais de penetração de água; por isso, a água se difunde ainda mais na malha polimérica. A liberação dos monô- meros residuais e de baixo peso molecular também pro- voca um aumento na porosidade no interior da camada híbrida,10,13 o que reduz ainda mais a resistência coesiva dos adesivos simplificados,44 bem como do seu módulo de elasticidade.29 Essas são consideradas as principais ra- zões para a degradação da parte polimérica dentro da ca- mada híbrida, contribuindo para a redução da resistência de união dos adesivos dentinários ao longo do tempo.16 Quanto mais hidrofílico o material, maior é a sua taxa de absorção de água e da degradação hidrolítica resultan- te.16,27,29,45 Como relatado por Breschi e colaboradores,16 independentemente da estratégia adesiva utilizada (con- vencional ou autocondicionante), a combinação de mo- nômeros resinosos hidrofílicos e iônicos na formulação do adesivo, em especial nos simplificados (sistemas con- vencionais de dois passos e autocondicionantes de um passo), sem a utilização de uma camada de resina hidrofó- bica não solvatada, remete à criação de camadas híbridas que são permeáveis à água, não apenas à umidade do am- biente bucal, mas também ao fluxo de líquido provenien- te dos túbulos dentinários.46-48 Essa é a razão pela qual as interfaces adesivas produ- zidas com adesivos simplificados são consideradas mem- branas semipermeáveis.2,49,50 De fato, um estudo recente revelou que, dependendo do grau de hidrofilia (por exemplo, a mais elevada, mais propensa), adesivos denti- nários podem permitir não apenas a passagem de água, mas também ser permeados por partículas com um peso molecular relativamente elevado.51 Tal permeabilidade de solutos das resinas à base de metacrilato explica a mobili- dade e a difusão de fluoretos das matrizes resinosas cons- tituídas por compostos que contêm fluoretos.52 Similar- mente, a clorexidina pode ser lentamente liberada a partir de resinas UDMA-TEGDMA, já que pode ser permeada por meio da matriz resinosa.53 O aumento da permeabilidade dos adesivos simplifi- cados contemporâneos à água é facilmente evidenciado quando eles são utilizados para selar preparos coronários em dentina vital profunda in vivo antes de se realizar uma impressão com uma silicona para as restaurações indiretas.2,50,54 Após a aplicação desses adesivos em pre- paros coronários vitais e a remoção da camada inibida pelo oxigênio nas impressões desses preparos coronários “selados”, foi obtida a moldagem com o material de im- pressão à base de silicona de baixa viscosidade. As impres- sões foram vazadas com resina epóxica para produzir ré- plicas dos preparos coronários para serem examinadas por microscopia eletrônica de varredura. A utilização de ade- sivos simplificados não proporcionou um selamento her- mético quando foram aplicados em dentina vital profun- da, o que foi evidenciado pela transudação de fluido dentinário através dos adesivos polimerizadospor for- mar gotas de fluido ao longo da superfície do adesivo55,56 (Figura 9.4). Esses movimentos de água no interior da camada adesiva podem ser conduzidos por gradientes de pressão osmótica em virtude das elevadas concentrações de íons inorgânicos dissolvidos e monômeros resinosos hidrofílicos na camada adesiva, resultando na formação de bolhas de água.46,47,56 Essa passagem de água foi também revelada por estu- dos a respeito da permeabilidade da interface de união por meio de um marcador detectável por microscopia eletrônica, tal como a solução de nitrato de prata, o qual traça vias de difusão cheias de água em toda a interface de união, frequentemente chamadas de “árvores de água” (water-trees). Esses canais de água são observados na su- perfície da camada híbrida e se estendem dentro da ca- mada adesiva (Figura 9.5).50 Desse modo, não somente a água a partir do ambiente oral é responsável pela degradação hidrolítica das inter- faces adesivo-dentina, mas também aquela extraída da dentina, em virtude do gradiente osmótico criado pelos íons dissolvidos dentro da camada inibida pelo oxigênio desses adesivos polimerizados.50 Como consequência, as moléculas de água absorvidas que tentam passar através do adesivo podem ficar presas na interface, interferindo, assim, na adesão com as resinas compostas,2,57 que aca- bam também contribuindo para a baixa longevidade das interfaces adesivo-dentina. Em resumo, os fatores responsáveis pela degradação da parte resinosa são: a hidrofilicidade dos adesivos resi- Capitulo_09.indd 164 16/09/2013 10:15:51 Alternativas Clínicas para Minimizar a Degradação da Interface de União à Dentina o 165 nosos; o aprisionamento de água/solvente dentro do ade- sivo polimerizado, que impede a formação de ligações cruzadas entre as cadeias poliméricas e o adequado grau de conversão; e a plastificação do polímero pela absorção de água a partir tanto do ambiente oral quanto da denti- na subjacente. Degradação das fibrilas colágenas Nakabayashi e colaboradores58 definiram a camada híbrida como uma estrutura formada nos tecidos dentais duros pela desmineralização da superfície e subsuperfí- cie, seguida pela infiltração de monômeros e subsequente polimerização. Idealmente, os monômeros resinosos de- veriam penetrar totalmente na malha de dentina desmi- neralizada produzida pelo ácido quando adesivos con- vencionais são empregados. Entretanto, vários estudos mais recentes demonstraram que a penetração de adesivo é sempre menor do que a extensão da desmineralização da dentina.59-61 De acordo com dois recentes estudos,62,63 isso também pode acontecer com os sistemas adesivos autocondicionantes. Por meio da espectroscopia de micro-Raman,60,64,65 a extensão da penetração de adesivos foi calculada dentro da interface adesiva. No primeiro micrômetro da inter- face, ao redor de 68% da concentração de BisGMA do adesivo convencional penetra na dentina desminerali- zada,60 o que possivelmente ocorre em decorrência da insolubilidade do Bis-GMA em dentina saturada de água. Outros estudos confirmam, por análise de imu- no-histoquímica, que a maioria das fibrilas colágenas na parte inferior da camada híbrida não é totalmente encapsulada pelos monômeros resinosos,66 com uma marcação intensa das fibrilas colágenas por antianticor- pos de colágeno tipo I.17,66 Essa discrepância entre a desmineralização e a infil- tração dos monômeros resulta em zonas incompletamen- te infiltradas ao longo da parte inferior da camada híbri- da, as quais contêm fibrilas colágenas expostas, mesmo imediatamente após a adesão. Essa evidência foi inicial- mente demonstrada por Sano e colaboradores,67 que a chamaram de nanoinfiltração para diferenciar de mi- croinfiltração, pois, nesse caso, havia sinais de infiltra- ção, mas não de falta de selamento da interface. A eluição da resina a partir de hidrogéis poliméricos hidroliticamente instáveis dentro da camada híbrida27,29 pode continuar acontecendo por meio dos canais de na- o Figura 9.4 Teste de permeabilidade de um sistema adesivo autocondicionante de um passo. Foi aplicada uma camada de adesivo sob a su- perfície de um disco de dentina enquanto era simulada a pressão pulpar no equipa- mento. Transcorridos 5 minutos da fotoativa- ção, observam-se gotas de fluido ao longo da superfície do adesivo pela transudação de fluido por meio do adesivo polimerizado. Fonte: Cedida pelos autores. o Figura 9.5 Microfotografias de MEV (microscópio eletrô- nico de varredura) da interface de união de um sistema adesivo auntocondicionante por um período de 6 meses. Nota-se a infiltração do nitrato de prata a partir da camada híbrida que se estende dentro da camada adesiva evidenciando os canais de água (water trees) (setas). Fonte: Cedida pelos autores. Capitulo_09.indd 165 16/09/2013 10:15:53 166 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar noinfiltração durante o envelhecimento, produzindo uma exposição contínua de fibrilas de colágeno. Esse fato torna as matrizes de colágeno infiltradas com monômeros resinosos mais suscetíveis ao ataque de enzimas proteolíticas. Recentemente, foi demonstrado que as mesmas enzimas envolvidas na decomposição das matrizes de colágeno durante a patogênese da cárie den- tária68,69 e a doença periodontal70 também têm papel im- portante na degradação das interfaces de união adesivo- -dentina.71 Por meio de ensaio da atividade colagenolítica em pó de dentina mineralizada usando marcador de fluo- rescência de colágeno tipo I de pele bovina, Pashley e co- laboradores71 demonstraram uma atividade intrínseca colagenolítica na dentina humana mineralizada. Os auto- res especulam que tal atividade proteolítica poderia ser exercida por metaloproteinases (MMPs dentinárias), que, naquela ocasião, já haviam demonstrado ser potencial- mente expressas no complexo dentino-pulpar.68,72,73 As metaloproteínases da matriz (MMPs) são uma fa- mília de enzimas Zn+2 e Ca+2 dependentes que são compo- nentes endógenos importantes em muitos processos bio- lógicos e patológicos em virtude de sua capacidade de degradar quase todos os componentes da matriz extrace- lular.74 Na Odontologia, tem sido dado considerável in- teresse à detecção, distribuição e função das MMPs en- dógenas nos tecidos dentais.75,76 Várias MMPs foram identificadas dentro de compartimentos do complexo dentino-pulpar. Na matriz dentinária, foram detectados pelo menos quatro tipos de MMPs: a estromelisina-1 (MMP-3);77,78 a colagenase (MMP-8)79; e as gelatinases A e B (MMP-2 e MMP-9, respectivamente).80,81 A descrição do envolvimento das MMPs na degrada- ção da matriz dentinária desmineralizada foi inicialmente descrita no estudo de Tjäderhane e colaboradores,68 que, por meio de análises Western blot, utilizaram anticorpos MMP específicos para identificar as MMPs em cárie den- tal humana. Foram encontradas as MMP-2, MMP-8 e MMP-9 humanas em lesões dentinárias desmineraliza- das. As experiências desse estudo forneceram a evidência crítica de que, na cárie dentária, os ácidos bacterianos são necessários para a remoção de minerais, bem como para a ativação subsequente de MMPs hospedeiras, mas as bac- térias, por si só, não podem causar a degradação da matriz dentinária. Com isso, assumiu-se que, após a desmine- ralização, as MMPs hospedeiras ativadas seriam res- ponsáveis por destruir a matriz dentinária e colaborar decisivamente na progressão da lesão de cárie.68 Mais recentemente, como mencionado anteriormente, Pashley e colaboradores71 começaram a discutir sobre o provável envolvimento de MMPs na degradação das fibrilas de co- lágeno expostas dentro da camada híbrida. Pensa-se que a liberação e a subsequente ativação dessas enzimas endó- genas durante os procedimentos de adesão dentiná- ria71,82-84 podem ser responsáveispelo completo desapare- cimento de porções da camada híbrida de interfaces de união adesivo-dentina que foram armazenadas por 4 anos em água.7 Mais recentemente, outro grupo de proteases foi iden- tificado em dentina humana hígida e cariada, as quais fazem parte das proteases de cisteína.85,86 As proteases de cisteína humanas são as mais conhecidas e expressas a partir das catepsinas lisossomais B, H, e L e dipeptidil peptidase I (DPP I). Nos estudos de Nascimento e colaboradores85 e Ter- sariol e colaboradores,86 foi também investigada a poten- cial correlação entre as MMPs e as atividades da cisteína catepsina na dentina sadia e cariada, respectivamente. Os resultados mostraram que as atividades das MMPs e da catepsina cisteína expressam uma forte e significati- va correlação entre a dentina sadia e a cariada, embora as atividades em lesões de cárie fossem aproximada- mente 10 vezes superiores àquelas em dentina intacta. Em conclusão, esses dados indicam que a atividade co- lagenolítica/gelatinolítica da dentina pode não ocorrer somente em virtude da presença das MMPs, mas tam- bém da atividade da cisteína catepsina. Embora o condicionamento com ácido fosfórico pos- sa inibir a atividade colagenolítica/gelatinolítica da denti- na,71,82 a aplicação de sistemas adesivos simplificados con- vencionais82 e autocondicionantes83 podem reativar as atividades enzimáticas endógenas na dentina que foram previamente inativadas para um patamar até mesmo su- perior àquele da atividade original da dentina minerali- zada não tratada.82 No entanto, parece haver algumas exceções. Estudos recentes têm demonstrado que alguns adesivos autocon- dicionantes suaves ou de pH leve87,88 e alguns monômeros de sistemas adesivos simplificados, como TEGDMA, HEMA e metacrilatos de amônio quaternário, também conseguem inibir a atividade das MMPs.89-91 Tendo em conta todos os diferentes aspectos demons- trados a respeito da degradação das fibrilas de colágeno, é possível sintetizar que seus fatores responsáveis são: a pe- netração incompleta dos monômeros resinosos em toda a profundidade da desmineralização produzida pelo ácido fosfórico ou alguns adesivos autocondicionantes, em espe- cial os mais acídicos; a exposição contínua das fibrilas co- lágenas em virtude da degradação da rede de polímeros; a ativação das MMPs (envolvidas na degradação dos compo- nentes orgânicos da camada híbrida) pelos sistemas adesi- vos; a atividade das proteases, como as catepsinas. COMO MELHORAR A ESTABILIDADE DA UNIÃO RESINA-DENTINA Com base na discussão anterior, pode-se supor que a qualidade da interface de união depende da qualidade da camada híbrida, isto é, da impregnação adequada do Capitulo_09.indd 166 16/09/2013 10:15:53 Alternativas Clínicas para Minimizar a Degradação da Interface de União à Dentina o 167 substrato a fim de encapsular totalmente as fibrilas colá- genas expostas na dentina e, também, da qualidade do polímero formado após os procedimentos adesivos. Vários estudos têm centrado suas investigações na avaliação de algumas modificações no padrão dos proto- colos clínicos, a fim de obter interfaces de união com me- nor propensão à degradação. Todas essas abordagens clí- nicas concentram-se em melhorar: (1) a impregnação do adesivo em dentina desmineralizada e mineralizada; (2) a resistência do polímero formado pelos sistemas adesivos; e (3) a resistência das fibrilas colágenas à degradação en- zimática. Obviamente, existem algumas abordagens clí- nicas que possam melhorar a durabilidade da adesão por dois ou até três desses mecanismos, no entanto, por mo- tivos didáticos, as técnicas serão classificadas em uma dessas abordagens citadas. Melhorar a impregnação do adesivo em dentina desmineralizada e mineralizada A utilização da aplicação com fricção vigorosa tem sido investigada com o intuito de se aumentar a durabilidade de união à dentina de adesivos autocondicionantes e con- vencionais simplificados usados em dentina úmida e seca18,92 (Figura 9.6). Como já mencionado, a aplicação dos sistemas adesivos conforme as recomendações dos fabri- cantes ocasiona uma difusão limitada na malha de denti- na desmineralizada e mineralizada.60,64,93 Dessa maneira, ao aplicar o adesivo com fricção, ocorre uma pressão me- cânica que comprime a matriz de colágeno, colapsando-a como uma esponja. À medida que a pressão é aliviada, o colágeno comprimido se expande e a solução de adesivo pode ser arrastada para a malha de colágeno previamente colapsada.18,94 Além disso, é provável que a aplicação com fricção vigorosa possa aumentar a evaporação de solven- tes. Embora essa técnica não altere a natureza do adesivo (hidrofilicidade), podem ser esperadas modificações na topologia da cadeia de polímeros, permitindo um am- biente mais propício para o aumento do grau de ligações cruzadas no polimérico. Uma avaliação clínica recente indicou que essa abordagem clínica conseguiu melhorar o desempenho de um sistema adesivo simplificado conven- cional em lesões cervicais não cariosas.95 Essa mesma abordagem clínica mostrou também um aumento da durabilidade das interfaces adesivas produzi- das com adesivos autocondicionantes, quando aplicados à dentina96,97 (Figura 9.7). Nesse caso, a agitação de um sistema adesivo autocondicionante de um passo colabora no transporte de monômeros resinosos acídicos para a parte basal da dentina condicionada produzindo uma desmineralização mais agressiva, facilitando a difusão dos monômeros e promovendo melhor interação com a smear layer e a dentina subjacente.96-98 As desvantagens dessa técnica são: interpretação do operador de aplicação vigorosa; e necessidade de microa- o Figura 9.6 Resistência de união resina-dentina de um adesivo convencional de dois passos à base de etanol em diferentes modos de aplicação nos períodos de avaliação imediato e de 1 ano. Não foram observadas diferenças significativas nos períodos imediato e de 1 ano quando o adesivo foi friccionado vigorosamente sobre a superfície dentinária. Fonte: Adaptada de Reis e colaboradores.18 o Figura 9.7 Resistência de união resina-dentina de adesivos autocondicionantes de um passo sob diferentes formas de aplicação nos períodos ime- diato e de 6 meses. A aplicação ativa melhorou a resistência de união inicial e diminuiu a degradação da interface de união. Fonte: Adaptada de Amaral e colaboradores.97 0 10 20 30 40 Sem fricção Re si st ên ci a à m ic ro tra çã o (M Pa ) Leve fricção Vigorosa fricção Modo de aplicação do adesivo Imediato 1 ano 50 0 10 20 30 40 Inativa (pH ácido) Re si st ên ci a ad es iv a (M Pa ) Ativa (pH ácido) Inativa (pH suave) Ativa (pH suave) Modo de aplicação do adesivo Imediato 6 meses 50 plicadores mais rígidos. Pincéis ou microaplicadores que se deformam facilmente sob pressão não devem ser utilizados. Igualmente, o operador deverá aplicar o ade- sivo usando um microaplicador rígido e fazendo uma pressão igual a que ele poderia exercer sobre a superfície da dentina (Figura 9.8). Capitulo_09.indd 167 16/09/2013 10:15:53 168 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar A aplicação de múltiplas camadas de adesivos é outra técnica que pode ser utilizada. Hashimoto e colaborado- res99 demonstraram que a resistência de união imediata aumentou com a aplicação de até quatro camadas de ade- sivo, bem como a ocorrência de uma diminuição da na- noinfiltração de adesivos convencionais simplificados. A aplicação de várias camadas aumenta a capacidade de penetração na dentina desmineralizada, seja pelo aumen- to de monômeros disponíveis para a infiltração, seja pelo aumento do tempo de aplicação, uma vez que significará também mais tempo para a evaporaçãode solventes, como será discutido adiante. Da mesma forma que para os adesivos convencionais, Ito e colaboradores100 concluíram que, aplicando mais ca- madas de adesivos simplificados autocondicionantes, a resistência e a qualidade da adesão na dentina podem me- lhorar. Embora a redução da longevidade de união adesi- vo-dentina não pudesse ser impedida por essa aborda- gem clínica, as taxas de degradação dos adesivos simplificados autocondicionantes após 6 meses de arma- zenamento em água foram menos pronunciadas do que nas interfaces de união aplicadas segundo as instruções dos fabricantes (Figura 9.9).101 A lógica por trás do bom desempenho dessa técnica é que, como as primeiras camadas do adesivo autocondicio- nante iniciam o condicionamento do substrato dentinário, este pode tornar-se rapidamente tamponado pelos cristais de hidroxiapatita,102 de modo que as camadas adicionais de mo- nômeros ácidos não polimerizados possam melhorar a capa- cidade de condicionamento desses adesivos, pelo aumento da concentração dos reagentes ácidos. Simultaneamente a esse processo, pode ocorrer maior capacidade de impregnação do adesivo pelo fornecimento adicional de monômeros resino- sos, conforme a hipótese de Ito e colaboradores.100 Infeliz- mente, a literatura carece de informações sobre a longevida- de dessa técnica para adesivos convencionais – nenhum o Figura 9.9 Resistência de união à dentina de um adesivo autocondicionante de um passo aplicado segundo as instruções do fabricante e após a duplicação do número de camadas de adesivo nos períodos imediato e de 6 meses. Foram observados maiores valores de resistência de união nos períodos imediato e de 6 meses quando o número de camadas adesivas foi duplicado. Fonte: Adaptada de Reis e colaboradores.101 o Figura 9.8 Observe, na sequência horizontal de fotos A, que, uma vez feita a aplicação vigorosa do adesivo com um microaplicador muito flexível, este se deforma facilmente sob a pressão exercida. Quando utilizado um mi- croplicador rígido (sequência de fotos horizontal B), isso não acontece, o que permite a realização efetiva da técnica. Fonte: Cedida pelos autores. 0 10 20 30 40 Instruções do fabricante Re si st ên ci a à m ic ro tra çã o (M Pa ) Dupla aplicação Modo de aplicação do adesivo Imediato 6 meses 50 A B Capitulo_09.indd 168 16/09/2013 10:15:55 Alternativas Clínicas para Minimizar a Degradação da Interface de União à Dentina o 169 estudo clínico, até o momento, abordou essa questão. A prin- cipal desvantagem desse protocolo clínico é que ele vai contra a necessidade clínica de protocolos de rápida aplicação, já que é necessária a aplicação de várias camadas de adesivo. Como a impregnação da dentina desmineralizada e a evaporação do solvente parecem ser processos dependen- tes do tempo, um protocolo de fotoativação tardia pode garantir melhor penetração dos monômeros resinosos e, associadamente, uma taxa maior de evaporação dos sol- ventes101,103 (Figura 9.10). Reis e colaboradores,101 por exemplo, aplicaram dois sistemas adesivos convencionais simplificados conforme indicação do fabricante sobre su- perfícies oclusais planificadas de dentina. O procedimen- to de ativação pela luz foi realizado imediatamente após a aplicação, ou seja, cerca de 40 segundos após o início da aplicação ou após períodos que variaram de 90 a 300 se- gundos. Os autores demonstraram que, além do aumento na resistência de união imediata, uma adesão mais estável à dentina foi alcançada mesmo após 3 anos de armazena- mento em água para os tempos prolongados de aplicação (Figura 9.11). Este é, provavelmente, o resultado de uma o Figura 9.10 Observa-se uma gota de adesivo após o gotejamento, A, e depois de 5 minutos, B, em que é possível notar a evaporação dos solventes. Isso também acontece quando o adesivo é aplicado clinicamente (C e D). Fonte: Cedida pelos autores. o Figura 9.11 Resistência de união à dentina de um adesivo convencional à base de etanol aplicado segundo as instruções do fabricante (40 s) e após a polimerização tardia. Foram observados altos valores de resistência de união imediata e estabilidade da união aos 6 meses quanto maior o tempo de permanência na interface de união antes da polimerização. Fonte: Adaptada de Reis e colaboradores.101 0 10 20 30 40 40 Re si st ên ci a à m ic ro tra çã o (M Pa ) 90 150 300 Tempos de aplicação prolongados (s) Imediato 6 meses 50 A C B D Capitulo_09.indd 169 16/09/2013 10:15:57 170 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar melhor infiltração do adesivo e consequente redução da permeabilidade à água por meio da interface de união.104 Para o adesivo autocondicionante, o aumento do tempo de aplicação também mostrou a melhora dos valores de resistência de união,105,106 embora a durabilidade desse protocolo após os desafios do envelhecimento em labora- tório e em ensaios clínicos para as duas estratégias de união não tenha sido avaliada até agora. Melhorar a resistência do polímero formado pelos sistemas adesivos Uma forma de reduzir a hidrofilicidade dos adesivos simplificados é colocar uma camada adicional de um adesivo hidrofóbico (Bond) sobre o adesivo simplificado polimerizado. A utilização de uma camada hidrofóbica sobre um sistema adesivo autocondicionante de um passo ou convencional de dois passos leva a uma camada adesi- va mais espessa e mais uniforme, com concentrações mais baixas de água e solventes retidos, e à significativa redução da taxa de fluxo de fluido pela interface de união107,108 (Figura 9.12). Essa técnica também pode eliminar a incompatibili- dade dos adesivos autocondicionantes simplificados com compósitos autopolimerizáveis.108-110 Sistemas adesivos que utilizam um Bond (convencional de três passos e au- tocondicionante de dois passos) mostram maior grau de polimerização e menor permeabilidade à água.42,111 Assim, utilizando essa técnica, o frasco do adesivo simplificado seria convertido em um primer (do sistema convencional de 3 passos, por exemplo), o qual seria, ain- da, diluído pelos monômeros hidrofóbicos contidos na superfície da camada do Bond, aumentando a concentra- ção relativa de monômeros hidrofóbicos na camada ade- siva e diminuindo a concentração de solventes retidos, já que o Bond é geralmente composto de monômeros hidró- fobos não solvatados.16 Consequentemente, uma interface resina-dentina mais estável seria produzida ao longo do tempo, como previamente demonstrado para adesivos convencionais e autocondicionantes simplificados.112,113 Então, um adesivo simplificado é transformado em um adesivo em que se faz necessária a aplicação de mais de um frasco e, consequentemente, em adesivo que requer múltiplas camadas. Contudo, o adesivo simplificado pode ser fotoativado antes da aplicação do Bond, ao con- trário do uso de um primer, que, em geral, não é fotoati- vado com um Bond. Essa fotoativação do adesivo e do Bond têm permitido a formação de camadas híbridas mais densamente compactadas pela provável redução da concentração de monômeros que não reagiram entre as camadas (Figura 9.13). Recentemente, dois ensaios clínicos randomizados avaliaram a inclusão de um Bond em adesivos simplifica- dos. Para os adesivos autocondicionantes, as taxas de re- tenção de Clearfil S3 Bond (Kuraray) e Gluma iBond™ o Figura 9.12 Fluxo de fluidos (%) por meio da interface resina-dentina após a aplicação do adesivo de dois passos segundo as instruções do fabri- cante ou com uma camada de adesivo hidrofóbico extra. Foi obser- vado um fluxo de fluido significativamente menor com a aplicação do Bond para todos os adesivos. Fonte: Adaptada de Andrade e Silva e colaboradores.107 0 1020 30 40 À base de etanol Fl ux o de fl ui do s (% ) À base de etanol/água À base de acetona Sistemas adesivos Instruções do fabricante Revestimento hidrofóbico 50 Inside (Heraeus Kulzer), aplicados de acordo com as ins- truções do fabricante em lesões cervicais não cariosas, foram de 80 e 73,3%, respectivamente. Após a aplicação de uma camada hidrofóbica não solvatada, essas taxas aumentaram para 96,7 e 86,7%, respectivamente, sendo esta a evidência clínica do sucesso dessa abordagem.114 Para os adesivos convencionais, o All Bond 3® foi utiliza- do nas versões simplificada (2 passos) e completa (3 pas- sos). Após 24 meses, as taxas de retenção foram de 90 e 97%. Novamente, não é possível negar que a desvantagem principal desse protocolo clínico está no tempo mais de- morado para a sua realização. A partir do princípio de que a permeabilidade da resi- na e a eluição dos monômeros se relacionam com a sub- polimerização dos sistemas adesivos, dois estudos recen- tes42,111 propuseram prolongar tempos de fotoativação. Os estudos demonstraram que aumentar os tempos de fotoa- tivação dos adesivos simplificados além do tempo reco- mendado pelos fabricantes resultou em interfaces de união com elevado grau de conversão e permeabilidade reduzida,42,111 o que também demonstrou melhoria do de- sempenho desses sistemas adesivos quando submetidos a testes de resistência de união.115-117 A elevada densidade de energia (produzida pelos tempos de exposição mais lon- gos) melhora a formação de radicais livres, que iniciam a polimerização.118 Além disso, o calor gerado pelos apare- Capitulo_09.indd 170 16/09/2013 10:15:57 Alternativas Clínicas para Minimizar a Degradação da Interface de União à Dentina o 171 lhos fotopolimerizadores,119,120 principalmente em tempos de exposição prolongados, pode aumentar os níveis de evaporação dos solventes.121 Isso pode fornecer o meio para a formação de um polímero de elevado peso mole- cular e com grande quantidade de ligações cruzadas.121 Estudos recentes têm demonstrado que, embora essa abordagem clínica não pudesse impedir a degradação das interfaces de união, a extensão da degradação foi signifi- cativamente menor para adesivos convencionais de dois passos114 e para os autocondicionates de um passo122 quando os tempos de fotopolimerização foram prolonga- dos (Figura 9.14). Infelizmente, essa abordagem ainda não foi clinica- mente testada. Além disso, não é possível negar que re- quer mais tempo para ser realizada clinicamente e pode ser afetada pela intensidade do aparelho fotoativador. Como o solvente e o seu aprisionamento têm um pa- pel fundamental na conformação de um polímero com elevada ligação cruzada, foi recentemente investigado o uso de uma corrente de ar quente (60°C) para a evapora- ção do solvente a fim de tentar melhorar esse proble- ma.123-125 Essa abordagem mostrou um aumento da resis- tência de união à dentina em adesivos convencionais simplificados tanto imediatamente como após 6 meses de avaliação,125 provavelmente em virtude da elevação da evaporação do solvente124 (Figuras 9.15 e 9.16) e, conse- quentemente, de uma maior ligação cruzada polimérica. Os benefícios dessa técnica devem ser testados em adesi- o Figura 9.13 Microscopia eletrônica de varredura que mostra a variação da espessura da camada de adesivo formada quando se aplica um adesivo hidrofóbico sobre o adesivo simplificado. A: adesivo SEM camada hidrófoba; B: adesivo COM camada hidrófoba. Fonte: Cedida pelos autores. o Figura 9.14 Resistência de união à dentina de um adesivo convencional de dois passos à base de etanol fotopolimerizado segundo as instruções do fabricante (10 s) e após tempos de exposição prolongados. A resistên- cia de união obtida em 6 meses após 40 segundos de exposição à luz foi similar ao grupo imediato para o tempo de 10 segundos. Fonte: Adaptada de Reis e colaboradores.116 0 10 20 30 40 10 Re si st ên ci a à m ic ro tra çã o (M Pa ) 20 40 Tempos de polimerização (s) Imediato 6 meses 50 60 70 A B Capitulo_09.indd 171 16/09/2013 10:15:58 172 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar vos autocondicionantes, bem como o protocolo ser ava- liado clinicamente. Uma desvantagem evidente desse procedimento é que exige dispositivos especiais para a produção de corrente de ar quente. Vários estudos recentes têm se centrado sobre a influên- cia do preaquecimento em relação às propriedades da re- sina composta.126,127 O preaquecimento da resina compos- ta pode aumentar a conversão do monômero, bem como melhorar a mobilidade molecular e a frequência de coli- são de monômeros reativos, ocasionando, consequente- mente, maior reticulação do polímero formado.128 Considerando-se que os sistemas adesivos são com- postos principalmente de monômeros, uma elevação na temperatura por meio do preaquecimento dos sistemas adesivos poderia aumentar a adesão à dentina – essa téc- nica tem sido investigada recentemente para os sistemas adesivos convencionais e autocondicionantes.129-132 No entanto, ao contrário das expectativas anteriores, essa abordagem não melhorou a resistência de união à dentina produzida por sistemas adesivos convencionais130 e autocondicionantes132 nem no tempo imediato e, tão pouco, no longo prazo.130 É provável que o aquecimento do adesivo possa alterar a estabilidade dos monômeros para adesivos convencionais e autocondicionantes, de tal maneira que põe em perigo a sua eficácia de união.129,131 Uma questão importante que deve ser mencionada é o efeito no tecido pulpar da alta temperatura produzida pela utilização do ar quente durante a evaporação do sol- vente, dos tempos prolongados de exposição à luz ou de adesivos preaquecidos.133 O mecanismo mais amplamen- te aceito de hipersensibilidade dentinária é a teoria hidro- dinâmica proposta por Brännström e colaboradores,134 pela qual o fluxo de fluidos dentro dos túbulos dentiná- rios é alterado (aumentado ou alterado direcionalmente) por estímulos térmicos, táteis ou químicos perto da su- perfície exposta dos túbulos. Essa alteração levaria à esti- mulação das fibras A-d em torno dos odontoblastos, o que causa sensibilidade dentinária. Já foi demonstrado que o aumento de temperatura produzido pelas unidades fotopolimerizadoras135,136 afeta negativamente o metabo- lismo das células subjacentes em cultura de células simi- lares a odontoblastos.137 Por conseguinte, a utilização dessas três últimas abordagens sobre os efeitos na polpa em cavidades superficiais, médias e profundas deve ser avaliada em futuras investigações. Como mencionado anteriormente, o gradiente de- crescente da difusão do monômero resinoso na dentina condicionada por ácido resulta em zonas incompleta- mente infiltradas ao longo da parte inferior da camada híbrida, principalmente pelos monômeros mais hidrofó- bicos, como Bis-GMA.60 Isso ocorre, provavelmente, em virtude da insolubilidade do Bis-GMA em dentina satura- da de água. Se o etanol é usado para substituir a lavagem com água para a aplicação em dentina desmineralizada, é possível infiltrar sistemas adesivos relativamente hidrofó- bicos, como uma associação de Bis-GMA/TEGDMA den- tro da dentina desmineralizada, para criar uma camada híbrida também mais hidrofóbica.138,139 Assim, a técnica de adesão úmida com etanol (ethanol-wet bonding) per- o Figura 9.15 Perda de massa (%) em função de diferentes métodos de evaporação de solvente (300 s) para um sistema adesivo convencional de dois passos à base de etanol. O uso do jato de ar quente favoreceu a evaporação do solvente. Fonte: Adaptada de Klein-Júnior e colaboradores.124 0 10 20 30 40 0 20 60 120 180 240 300 Pe rd a de m as sa ( % )
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